Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Comunique-se

OESP / PERFIL
Breno Castro Alves e Miriam Abreu

Perfil: O Estado de São Paulo, 17/03/06

‘Nome: O Estado de São Paulo

Data de fundação: Janeiro de 1875

Local de fundação: São Paulo (SP)

Fundadores: Sociedade Comanditária de Francisco Rangel Pestana e Americo de Campos. Adicionalmente, muitos outros participaram da empreitada captaneada pela Sociedade. Francisco Glicério, Jorge Tibiriça, Martinho Prado e José Maria Lisboa são alguns dos nomes que ajudaram a fundar o jornal.

Saiba Mais:

Os 2.025 exemplares da primeira edição de A Província de São Paulo saíram da gráfica no dia 04 de janeiro de 1875 e foram distribuídos pela capital paulista. Hoje, 131 anos após sua fundação, o jornal mudou de nome – hoje é conhecido como O Estado de São Paulo – e fechou o ano de 2005 vendendo 230,9 mil unidades diárias, em média, em todo o País.

Fundado por um grupo de republicanos, o jornal defendia idéias liberais, como a abolição da escravatura e a queda da monarquia e se propôs a ser um órgão independente, sem nenhum compromisso partidário. Em 1888, Júlio Mesquita conquistou o cargo de diretor-gerente, dando início ao comando do jornal por sua família.

Após a assinatura da Lei Áurea, também em 1888, que tornou os escravos livres, o jornal passou a defender ainda mais fortemente a instituição da República, o que efetivamente ocorreu dia 15 de novembro de 1889. A manchete do dia seguinte foi ‘Viva a República’, que ocupou toda a primeira página do periódico e concluía o maior objetivo do jornal. Após essas duas vitórias, A Província de S. Paulo anunciou que mudaria seu nome para O Estado de S. Paulo, o que só ocorreu efetivamente no 1º dia de 1890, a pedido de colecionadores que não gostariam de armazenar dois logotipos diferentes no mesmo ano. A tiragem da edição foi de 6.000 cópias.

A terra, o homem, a luta

O primeiro salto nos números de venda do jornal ocorreu apenas com a publicação de matérias especiais enviadas por Euclides da Cunha, repórter enviado pelo jornal para cobrir a Guerra de Canudos.

As imagens impactantes relatadas pelo escritor – por exemplo, ‘Um jagunço degolado não verte uma xícara de sangue’ e ‘O fanático morto não pesa mais que uma criança’ – elevaram as vendas para 18.448 já na edição de 08/03/1897 e tornar Euclides a estrela do Estado naquele momento. Da experiência, o escritor escreveu sua obra mais famosa, ‘Os Sertões’, que funde ampla pesquisa, literatura e relato jornalístico.

Monteiro Lobato, outro escritor importante para a literatura brasileira, escreveu para o periódico a partir do final da segunda década do século XX. Em sua estréia, Lobato escreveu um artigo sobre a situação dos trabalhadores rurais e outro em que retratava a figura do Jeca Tatu.

Repressão e censura

No dia 15/03/1927, faleceu Julio Mesquita. Nestor Pestana e Julio de Mesquita Filho assumiram os cargos de diretor do jornal. Em 1932, na Revolução Constitucionalista de São Paulo, Mesquita Filho e seu irmão, Francisco Mesquita, lutaram contra o governo Vargas. Com a instauração de sua ditadura, o Estado Novo, os dois irmãos foram exilados e, em 1940, a redação foi ocupada por soldados.

Por cinco anos o jornal ficou sob intervenção do governo federal, e por isso esse período não é considerado como parte da história do jornal. Apenas em 1945, com a queda de Getúlio Vargas, o jornal retornou para as mãos da família Mesquita, que, em sua primeira edição de volta ao comando, repetiu o número 21.650, o mesmo da primeira edição feita sob ocupação da ditadura.

O Jornal da Tarde, inicialmente vespertino, foi lançado em 1966, inovador pela ousadia da apresentação gráfica e com uma linha editorial marcada pela irreverência de estilo e pela exclusividade de suas reportagens. Em 1969, faleceu Julio de Mesquita Filho e seu filho, Julio de Mesquita Neto, assumiu a direção do Estadão. Seu irmão, Ruy Mesquita, tinha as rédeas da redação do Jornal da Tarde.

Foi neste período que a repressão do regime militar se intensificou, principalmente devido ao AI – 5, publicado em 1968 e que ampliava largamente os poderes do governo central. Esse período foi menos agressivo para o jornal do que a censura de Vargas, mas mesmo assim por diversas vezes O Estado de S. Paulo teve matérias barradas antes da publicação. Em seu lugar, a já histórica fórmula de publicar trechos dos Lusíadas, de Camões, foi adotada. No Jornal da Tarde, receitas de bolo e de doces entravam no lugar das matérias cortadas.

Novos tempos

Em 1996, faleceu o terceiro Julio de Mesquita a comandar o jornal. Ruy Mesquita assumiu o cargo que ocupa até hoje. Nos primeiros anos do século XXI, o Estadão passou por uma profunda reestruturação gráfica para tentar acompanhar os novos tempos e não perder mercado diante dos desafios que surgiram.

Não deu certo. Dos 399 mil exemplares vendidos por dia, em média, em 2000, o jornal foi perdendo público progressivamente: 341,3 mil em 2001; 268,4 mil em 2002; 253,4 mil em 2003, 233,5 mil em 2004 e 230,9 mil no ano passado. Sobre esse quadro desalentador, Sandro Vaia, diretor do jornal, afirma que ‘é uma crise pela qual a imprensa escrita atravessa em todo o mundo, com raras exceções. No Brasil, esses números são inflados por um fenômeno muito simples: as bases de comparação de tiragem foram muito distorcidas em função de um período de circulação artificialmente inflada por promoções que nada tinham a ver com o produto, no final dos anos 90, período da febre dos anabolizantes’.

Para reverter o quadro, Sandro Vaia defende que ‘aprimorar a qualidade, para nós, é a única forma de combater a queda na circulação’.

Carlos Chaparro, professor aposentado de jornalismo da ECA/USP e colunista deste Comunique-se, acredita que a qualidade do jornal cresceu com a última reforma, em pontos como a diversidade das abordagens, maior aprofundamento e qualidade dos textos e na capacidade de gerar polêmicas saudáveis. Porém o professor aponta uma característica como sua maior crítica ao jornal: os editoriais. ‘Penso que ele não se renovou nesse aspecto, pois os editoriais são pesados, parece que fazem parte de um tempo que já passou. São, na minha opinião, exageradamente fiéis a uma coerência de princípios que evidentemente já está superada em muitos aspectos. O jornal percebeu isso do ponto de vista da reportagem, mas não dos editoriais’, conclui.

‘Ex libris’

O selo presente até hoje nas páginas iniciais do periódico, que apresenta um cavaleiro com uma corneta vendendo jornais no centro de São Paulo, é uma referência ao francês Bernard Gregoire. No dia 23/01/1876, Gregoire surpreendeu os moradores da cidade ao passar em seu cavalo vagarosamente pelas ruas, tocando seu instrumento estridente, anunciando e vendendo a edição do dia de A Província por 40 réis.

O jornal foi ridicularizado por seus concorrentes, que julgavam o entregador francês quase como um bufão, mas a tática foi efetiva e Gregoire ganhou credibilidade numa cidade com pouco mais de duas dezenas de milhares de pessoas. Esse sucesso foi arrebanhado pelo jornal, que até este dia usa o selo ‘ex libris’ retratando o francês em seu ofício. ‘Ex libris’ significa ‘dos livros de’ e é uma etiqueta ou selo utilizado para identificar algo que pertence a biblioteca de determinada pessoa ou, como no caso, empresa.

Memória Familiar

O acervo histórico dos Mesquita, contando com mais de 10 mil livros, fica dentro da própria redação do jornal. Júlio Mesquita, o primeiro do clã a dirigir o jornal, foi quem começou a coleção. Em suas estantes, estão presentes raridades como o Memórias para a História da Capitania de S. Vicente, de 1797, impresso na ‘Typographia da Academia’, de Lisboa e escrito por Frei Gaspar da Madre de Deus.

Além de livros, o acervo conta também com uma parte da correspondência pessoal da família, mantida com centenas de personalidades e que refletem a realidade brasileira e do jornal no período em quer foram escritas. Por exemplo, a conclusão de uma carta recebida por Júlio de Mesquita Filho sobre a luta contra a ditadura de Vargas, em 1940, é a seguinte: ‘O portador o transmitirá pessoalmente mais detalhes sobre nossos planos e projetos, que pensamos realizar nesse estado visando à queda do tirano que elevaram ao poder já há dez infelizes e desastrosos anos’.’



MERCADO EDITORIAL
Milton Coelho da Graça

Nassif e Danuza para leitores de O Dia, 17/03/06

‘O lançamento do novo O Dia, que pretenderá concorrer diretamente com O Globo pelo chamado mercado leitor de qualidade, foi adiado para abril. E duas novas contratações já estão acertadas: Luís Nassif e Danuza Leão, através da Agência Folha.

José Dirceu já com aviso prévio?

Um ex-assinante do JB (que pediu para não ser identificado) me informa que decidiu cancelar sua assinatura do jornal em protesto pela contratação do ex-deputado José Dirceu como colunista. O funcionário do Serviço de Atendimento ao Assinante, ao receber por telefone o pedido de cancelamento, fez um apelo em contrário, garantindo que o novo colaborador não vai ficar muito tempo no jornal. Se non è vero, è ben trovato.’



JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Comparar ou não comparar?, 14/03/03

‘Olá, amigos. Não tem jeito: se Ronaldinho Gaúcho fizer o que se espera dele na Copa do Mundo da Alemanha, ele entrará no patamar de monstros sagrados do futebol do quilate de Garrincha e Maradona. Pensei nisso quando vi a atuação do craque diante do Arsenal, na última rodada da Liga dos Campeões da Europa.

Se temos as imagens românticas de Garrincha pelo Botafogo e pela Seleção Brasileira, e se os alçamos à condição de maiores craques do futebol em todos os tempos depois de Pelé, como será que analisaremos Ronaldinho Gaúcho? É certo que ele não tem a aura de mito intocável de Garrincha e também não tem ainda o endeusamento que Maradona possui. Tanto o gênio das pernas tortas quanto o endiabrado canhoto argentino tiveram carreiras com início, meio e fim, e glórias consolidadas e históricas.

Ronaldinho certamente ainda tem mais duas Copas do Mundo, pelo menos, pela frente, e poderá fazer milagres como os que vem fazendo no Barcelona e já fez pelo Paris St. Germain e pelo Grêmio por muitos anos. Portanto, o que lhe falta?

Uma coisa apenas: protagonizar uma Copa do Mundo. Menos genial que o xará gaúcho, outro Ronaldo, o Nazário, protagonizou com maestria a de 2002, sendo craque, artilheiro e personagem. Barba, cabelo e bigode feitos de forma incontestável e soberana. Marcou para sempre. A Ronaldinho Gaúcho, a meu ver, falta isso. Protagonizar.

Mas, mesmo que ele o faça, será que devemos compará-lo a Garrincha e a Maradona? Seria injusto com ele? Ou com os mais velhos? Épocas distintas, futebol distinto, cifras distintas, mídia distinta… tudo diferente.

Compará-los seria como dizer que Michelângelo era melhor que Leonardo da Vinci ou que Mozart era melhor que Beethoven. Estilos e tempos diferentes, na bola como na arte, influenciam o que gira em torno dos gênios, e os ajuda a trilhar caminhos diferentes e a ter atos distintos, ainda que com o mesmo objetivo.

Talvez a única coisa que possamos comparar seja o dom de fazer as pessoas sorrirem. O dom de alegrar as platéias favoráveis e contrárias.

Isso, seja no tempo que for, os une. Na genialidade e no lampejo cada vez mais constantes destes craques reside a sua semelhança. E a nós, da imprensa, cabe buscar outras, ainda que não existam e tenham de ser criadas.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Obra de craques, 16/03/06

‘Montados em gigantescas bestas

eles vêm de longe

para uma longa infame

sangüenta permanência

(Talis Andrade in Sertões de Dentro e de Fora)

Obra de craques

Quando é possível reunir o melhor editor-artista gráfico e o melhor redator, o resultado pode ser admirado no livro que a Aprazível Edições acaba de lançar. Sabe-se que no futebol quem se desloca recebe e quem pede tem preferência e assim Leonel Kaz imaginou a jogada e João Máximo resolveu o problema lá na frente, como em campo faziam Zizinho e Ademir, Didi e Garrincha, Gérson e Pelé e tantos e tantos craques.

Brasil, um século de futebol – Arte e Magia, que Leonel concebeu e João Máximo escreveu, é a mais espetacular obra que a bibliografia dessa paixão aguardava há décadas. É a história de uma habilidade cinco vezes campeã do mundo, ilustrada com fotografias raras que pedem um Maracanã de adjetivos. A coluna recomenda às pessoas de bom gosto.

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Indignação

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, envia a coluna de Arnaldo Jabor, na qual o indignado autor escreve, entre outras imprecações:

(…) Ando com vontade de vomitar, diante de fatos como o daquelas vagabundas do MST destruindo 20 anos de pesquisas da Aracruz, com o suíno barbudo do Stédile dizendo que são heroínas, ele, criado pelos bispos ignorantes da Pastoral da Terra (aliás, ninguém vai prender esse cara?).

Leia no Blogstraquis a íntegra do texto arrasador.

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A fêmea é mais forte

O considerado Porfírio Castro, atilado garimpeiro do DF, envia autêntica jóia colhida na bateia do colunista do Correio Braziliense, Ari Cunha, que assim homenageou o Dia Internacional da Mulher:

Mulheres à parte

Silvio Caldas costumava dizer que ‘se Deus fez coisa melhor do que mulher, foi só para Ele’. Querida pela humanidade, a fêmea tomou caminhos impróprios. Antes esquentava a barriga no fogão e esfriava no tanque. Isso é deplorável. Jogou-se à luta e trabalha mais do que deveria. Ao tomar como insulto, fez dobrar sua responsabilidade nas profissões exercidas. Na defesa do valor próprio, tem mostrado o que a natureza já exemplificou: a fêmea é mais forte que o macho. Não satisfeita, a mulher queimou sutiãs, disputou lugar dos homens nos empregos, exaltou suas qualidades no trabalho. Enfrentou a concorrência.

Aos poucos, está tomando o lugar masculino, o que não é bom para ela. Mal sabe o mal que está fazendo a si própria. Os filhos já não têm o mesmo carinho na educação. Alguns, mais fracos, esquecem a obediência e se jogam contra os pais. Mas festejemos o Dia Internacional da Mulher. Pena que tenha nascido de lutas e dificuldades. Bem deveria ser numa primavera florida, cantante, alegre, esvoaçante, em vez de comemorar as lutas de morte e dificuldades. Há as que exaltam ser donas de seu corpo. Isso durante o banho, porque na reprodução não é dona se faltar cumplicidade. Mulher, olhe com carinho esse axioma e viva melhor.

Admirado, Janistraquis conseguiu dizer: ‘Considerado, Ari Cunha entende mais de mulher do que o falecido Jorginho Guinle!!!

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Louco pra dar

Título de mensagem que dormitava na quarentena:

Aúment ceu desenpénho sexuàl

Janistraquis está convencido de que um tarado analfabeto tenta um contato conosco. É pena que não tenhamos mais telefone, porque via Internet ele não entra aqui de jeito nenhum.

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Horário eleitoral

Menos de 24 horas depois que o PSDB escolheu seu candidato à presidência da República, o UOL deu na matéria de capa:

Lula tem 18 pontos de vantagem sobre Alckmin no 2º turno, mas poderia vencer já no 1º, diz Ibope.

Janistraquis ficou abestalhado com a velocidade do instituto, mas, veterano doutros e açodados favoritismos, resmungou:

‘Quero ver é quando começar o horário eleitoral gratuito…’

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Vida de jornalista

Escrevo este necessário desabafo no dia 13 de março, às 17 horas, o que significa que estamos há quase uma semana sem telefone aqui no Sítio Maravalha, para onde eu e minha mulher, a também jornalista Marcia Lobo, nos mudamos em agosto de 2001.

Leia no Observatório da Imprensa a íntegra do desabafo deste colunista.

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Coisa de doido

Deu na coluna do sempre divertido Ancelmo Gois:

Aliás…

Domingo, o vôo da Varig que vinha de Milão foi suspenso porque o avião, na hora do embarque, ainda estava em São Paulo.

É por essas e outras que Janistraquis não aceita jabás que incluam viagens à Europa.

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Maluf no pedaço

Deu no sempre bem informado blog do Josias de Souza:

Promotores preparam nova ação contra Maluf

A Promotoria de Nova York encontrou indícios de movimentações milionárias do ex-prefeito nos EUA.

Janistraquis leu, suspirou e comentou:

‘Considerado, essa interminável briga entre promotores daqui e d’alhures, mais o repórter César Tralli (leia-se Rede Globo), contra Paulo Maluf, já está enchendo o saco; afinal, acusam, acusam, exibem as tais ‘provas’ e o que se vê é o indigitado animadíssimo pra disputar as eleições ao governo de SP.’

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Coisa infernal!

Aterrador título da Folha de S. Paulo:

Mesmo sem tomar álcool, obeso pode contrair cirrose.

Janistraquis, que iniciou rigorosa dieta na qual só entram os destilados, espantou-se:

‘Caramba, considerado! O sujeito levar uma rasteira do fígado sem beber é uma das maiores perversidades da existência.’

É verdade. Pior do que isso, somente engordar comendo saladinha de alface…

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Maldito verbo!

O considerado leitor Édson Castiglione, de São Paulo, envia texto que flagrou no Meio&Mensagem Online:

Top Sports vai à Justiça contra Rede TV

Agência de marketing esportivo diz que emissora assinou contrato na qual se comprometia a ceder direitos da Liga dos Campeões em caso de rompimento.

(…) Leonardo Lenz César, sócio-diretor da Top Sports, diz que este acerto visava justamente proteger sua agência, que efetivamente fez o desembolso pelos direitos da UEFA até 2006. ‘São duas brigas. Essa primeira, da Liga dos Campeões, está definida em função do teor do contrato. A segunda, que pode levar mais tempo, é para discutir a rescisão. Esta, aliás, só ocorreu porque a Rede TV descumpriu uma série de pontos’, disse Lenz César. Procurado por telefone pela reportagem de MMOnline, Marcelo Carvalho não foi encontrado agora há tarde na Rede TV.

Castiglione adorou o final: agora há tarde na Rede TV: ‘Certamente, não havia tarde na emissora, somente manhã, noite, madrugada…’.

Janistraquis acha que o problema não é tão grave:

‘Considerado, o redator simplesmente ainda não foi apresentado ao verbo haver.’

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AQUI DF

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo terraço coberto de jussaras é possível ver os petistas a avaliar as possibilidades de Geraldo Alckmin, pois Roldão pegou o número um de AQUI DF, novo jornal de Brasília, leu-o de cabo a rabo, principalmente rabo, e o resultado o leitor pode encontrar no Blogstraquis, porque o texto é longo e exige espaço generoso.

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Telefônica

Nesta quinta-feira, 16/03, completamos nove dias sem telefone aqui no Maravalha. São 9h50 e somente agora, depois de tentativas iniciadas antes das 8, o computador recebeu a visita da Internet, via satélite. Com o telefone mudo, não podíamos sequer procurar ajuda e o jeito foi confiar na sorte. Então, vamos aplaudir a tecnologia nacional e dar vivas à Telefônica!!!

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Literatura e História

Leia no site Uma Coisa e Outra a entrevista que o poeta e jornalista paraibano Astier Basílio fez com este colunista e escritor. Assunto: o romance Quando Alegre Partiste e o comportamento das esquerdas em 1964.

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Nota dez

O Mestre Sérgio Augusto comenta ensaio de Karl Marx, intitulado Sobre o Suicídio, publicado em 1846 numa revista proletária alemã e que andou esquecido por quase um século. Até na Alemanha. A tradução brasileira é uma das atrações da Bienal do Livro. Leia no Blogstraquis o excelente texto publicado originalmente no Caderno 2 do Estadão.

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Errei, sim!

‘CANTA, ÂNGELA LEITE! – Do Erramos do Jornal da Tarde, de São Paulo: ‘Em matéria publicada no Divirta-se passado, as declarações atribuídas à cantora Ângela Maria são, na verdade, da gravadora e ecologista Ângela Leite’. Aliviado, Janistraquis enxergou um vaga-lume no fim do túnel: ‘Considerado, dentro dessa linha seria possível atribuir, patrioticamente, ao craque Leônidas da Silva, o Diamante Negro, algumas declarações indigenistas do general-ministro Leônidas Gonçalves.’

Não entendi e então meu secretário explicou melhor: ‘É que, num Erramos posterior, trocaríamos Leônidas da Silva por Leônidas da Selva…’. Considerei tortuoso demais o raciocínio de Janistraquis e ousei sugerir: ‘E que tal confundirmos Leônidas Gonçalves com Nélson Gonçalves?’. Meu secretário tomou boa nota.’’



COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
Eduardo Ribeiro

O caminho das agências de Comunicação, 15/03/06

‘Temos hoje, no Brasil, seguramente, mais de 1.000 agências de comunicação operando regularmente. Se alargarmos um pouco mais nossos critérios do que seja uma operação regular, esse número pode chegar quem sabe a 2.000 agências, aí considerando todos os profissionais com firma aberta e que atuam esporadicamente nesta área.

É um número excessivamente alto, mas curiosamente isso não tem sido decisivo para a sobrevivência da esmagadora maioria das empresas em atividade.

Aqui mesmo neste espaço, muito já falei de novas empresas, de conquistas de contas, de crescimento de faturamento etc., mas praticamente nunca falei de fechamento de empresas. Não porque não quisesse, mas sim porque realmente esse é um setor que consegue o milagre da sobrevivência, mesmo enfrentando esta forte e irracional competição que se trava no mercado.

Uma das conclusões a que podemos tirar desse quadro é tratar-se, o nosso, de um mercado efetivamente generoso, com lugar para todos: desde o pequenininho, que tem lá em seu escritório domiciliar um computador e uma linha telefônica (e nem por isso deixa de realizar um bom, quando não um excelente trabalho), até as médias e grandes do setor, hoje com faturamento se aproximando ou quem sabe ultrapassando os R$ 30 milhões por ano.

Realmente é incrível, mas praticamente não se têm no mercado notícias de falência ou de fechamento de agências de comunicação. O contrário, no entanto, é uma constante: a cada semana, uma ou duas agências são criadas e entram nesta roda viva da sobrevivência com muita disposição e vontade de vencer.

Uma segunda conclusão desse quadro é que com tantas agências e tanta necessidade de sobrevivência, vale pegar qualquer cliente e pelo preço que for possível pegar. Ou seja, até botequim especializado em coxinha com varizes e pé de moleque com frieira tem direito a ter lá sua assessoria de imprensa, com direito a emissão de pelo menos um press-release por semana e follow-up com as redações para tentar emplacar pelo menos uma notinha. Em outras palavras, esse é um mercado esquadrinhado de norte a sul, leste a oeste. Cada vez mais, só se ganha uma conta, quando alguém a perde ou quando o cliente resolve diversificar e dividir o atendimento.

Com tanta quantidade, a qualidade passa a ser um fator seletivo e é nesse quesito que as agências vão se diferenciando uma das outras, fazendo sua imagem e a imagem de seus clientes. Agência boa, com clientes e informações de qualidade, nunca passa em branco quando vai divulgar algo, porque tem um imenso crédito junto aos profissionais de redação. E isso foi recentemente demonstrado numa pesquisa feita em parceria pela Aberje com a revista imprensa e o site Maxpress, dando conta de que diminuiu significativamente o preconceito das redações contra as assessorias.

De olho nesse segmento, o próprio Comunique-se acaba de anunciar que vai produzir um ambicioso ranking do setor, com o objetivo de jogar luzes, onde até então só se vêem sombras. O último ranking do setor foi feito pela Gazeta Mercantil, já em meio à crise que quase a levou à falência. Era um ranking pouco confiável, cheio de falhas, mas ainda assim o único existente e por isso muito usado pelo mercado como referência. Agora isso deverá ser corrigido e com isso esse segmento vai finalmente poder se conhecer um pouco melhor, do mesmo modo que o mercado como um todo.

Bem, mas não era apenas isso que eu queria falar neste texto, cuja proposta, como destaquei no início e no próprio título, é exercitar a reflexão.

Ao olhar esse setor com olhos analíticos e desapaixonados, não é difícil enxergar que ele pode estar em vias de passar por uma profunda reorganização mercadológica, fruto de uma situação empresarial que priorizou, no geral, muito mais a figura do dono do que a da empresa. Houve uma profunda profissionalização no segmento, mas ele continuou majoritariamente integrado por empresas familiares, individualistas e que são a cara e a energia do dono. Se ele morrer, ficar doente ou quiser se desfazer da empresa, o negócio acaba junto. O mais grave é que a maioria desses empresários, já com mais passado do que futuro pela frente, simplesmente não conseguiu preparar herdeiros, não por culpa deles, obviamente, mas porque nessa atividade isso é assim mesmo. São poucas e podem ser contadas talvez nos dedos de uma mão as agências cujos donos conseguiram convencer seus filhos a entrarem no negócio, com a perspectiva de assumirem o comando. A esmagadora maioria nem sequer incentivou os filhos a entrarem para o negócio, pois tem plena consciência de que se trata de uma atividade muito desgastante e ainda com muitos problemas pela frente.

Então, o que fazer?

Quem leu este artigo até aqui e é da área certamente já inferiu onde quero chegar.

Não sou nem nunca pretendi ser o dono da verdade. Modestamente, procuro externar meus pontos de vistas e refletir sobre esse nosso valioso e ao mesmo tempo complexo mercado. E penso que o grande mérito dessas mal traçadas linhas seja realmente a reflexão e o debate.

Na minha opinião, o mercado vai passar por um processo natural de depuração. Acredito mesmo que haverá, em cinco ou dez anos, um enxugamento no número de empresas, em decorrência de causas como as que listei. As empresas menos preparadas vão ter cada vez mais dificuldades de pegar bons contratos e as boas vão acabar se fortalecendo cada vez mais. Quanto mais profissionais forem, mais tenderão a crescer.

O cenário que vislumbro é o de que comece a acontecer no setor um processo de fusão e incorporação, tal qual em outros setores, com as empresas mais profissionalizadas absorvendo as demais. Uma primeira fusão, aliás, foi registrada recentemente entre a Serrano & Associados, de Luiz Roberto Serrano, e a Intersection, de Cacilda Nunes Casado. Ambos com as dificuldades naturais de empresas de pequeno porte resolveram somar esforços e estrutura para serem mais competitivos. É um dos modelos que, acredito, vá ocorrer. Um outro será a aquisição de agências, cujos donos, cansados ou doentes, querem se desfazer do negócio, sem ter para quem deixá-lo (vale, sobretudo para quem está já na faixa dos 60/65 anos). Também vamos ter pessoas que, embora mais jovem, estejam desencantadas e muito cansadas do estresse dessa atividade. Essas também não resistirão a uma boa proposta, sobretudo se puderem se livrar do ônus de administrar a empresa.

Para os ambiciosos, esta também será uma oportunidade inestimável. Quem tiver ‘café no bule’, como se diz na gíria, e intenção de crescer, vislumbrará múltiplas oportunidades de ampliar o negócio, fazendo com que ele fique cada vez mais profissional e empresarial e menos pessoal. Imagino também a entrada forte de sócios capitalistas, interessados em investir, os quais, aliás, já têm dado, aqui e ali, o ar da graça. E isso não será nada difícil, visto que boa parte desses investidores mantém relacionamento regular com a mídia e com profissionais de assessoria. Ao perceber que há, nesse setor, oportunidade de bons ganhos, os investimentos vão surgir naturalmente.

Há, no entanto, uma questão de fundo: como tudo é muito novo no segmento, não existe fórmula ou modelo para esses eventuais negócios (o que se vai efetivamente comprar ou fundir; qual a relação com quem está se desfazendo do negócio; compra-se com dinheiro ou com participação; e assim por diante). Nada, no entanto, que possa inibir um movimento na direção comentada.

Vejo esse cenário, caso isso de fato ocorra, como uma evolução natural de um setor que nasceu de forma desordenada e improvisada, lutou, cresceu, se desenvolveu, profissionalizou-se e agora, chegando à maioridade, busca encontrar o modelo de gestão empresarial mais adequado.

Chegar lá é apenas uma questão de tempo e perseverança. A menos que eu esteja redondamente equivocado.’



CRÍTICA & JORNALISMO
José Paulo Lanyi

O podre e o genial, 16/03/06

‘Há algumas semanas publiquei aqui um chamado contra a precipitação. Tomei como exemplo o trecho de uma reportagem da revista Época sob o título ‘Os críticos erraram feio’, que ora reproduzo:

‘2001, uma Odisséia no Espaço’, de Stanley Kubrick: ‘Um filme monumentalmente sem imaginação’ (Harper’s, 1969);

‘O Poderoso Chefão’, de Francis Ford Coppola: ‘Brando é prejudicado pela maquiagem sofrível. Al Pacino gagueja num papel que exige demais dele. A música surpreendentemente podre é de Nino Rota’ (The New Republic, 1972);

‘Psicose’, de Alfred Hitchcock: ‘Um Hitchcock de terceira classe. O reflexo de uma mente desagradável, má, sádica e pequena. Meramente um desses shows de TV, esticado para duas horas com a audição de subtramas sem sentido e detalhes realistas’ (Esquire, 1960);

‘O Mágico de Oz’, de Victor Fleming: ‘Nenhum traço de imaginação, bom gosto ou inventividade. Diria que é uma porcaria’ (The New Yorker, 1939)’.

Já me havia batido contra aqueles que, sem argumentação consistente, reduzem uma obra a adjetivos vagos, definitivos e de mau gosto, como ‘podre’ ou ‘porcaria’.

Pois bem. Agora é a vez do outro pólo.

Gostei muito deste raciocínio na apresentação de Beethoven para a coleção de música clássica da Folha de S. Paulo, texto de autoria do compositor e musicólogo Eduardo Rincón:

‘Se passássemos o olhar pelas biografias, comentários, críticas ou estudos sobre músicos e suas obras, veríamos com surpresa como a palavra ‘gênio’ e seus derivados inundam uma boa parte desses escritos, disseminados com uma generosidade completamente injustificada na maior parte dos casos. Adjetivar assim é uma mania utilizada em excesso, chegando às raias do louvor exagerado, fastidioso e, o que é pior, injustificável. A genialidade, infelizmente, é dom que raramente faz parte da produção humana de idéias, na arte em geral, e deveria guardar-se para aqueles escassos seres humanos que realmente a merecem. Se fizéssemos um inventário de personagens que habitam a história da música, veríamos que, dentre os milhares de bons músicos, compositores e intérpretes, muitos realizam um trabalho meritório, de qualidade, de expressão mais ou menos clara das idéias que expõem ou interpretam na escrita ou na leitura, e que por vezes atingem elevadas formas de expressão, mas são poucos, diria mesmo raros, os que transmitem uma visão pessoal, um ideal próprio e, na interpretação, uma compreensão que vai além do que está escrito, sendo capazes de revelar o que subsiste diante da quase sempre insuficiente forma de expressão desse sentimento’.

O meu ex-editor-chefe Ewaldo Arruda Oliveira me dizia, na época em que fui editor na CNT de São Paulo, que aprendera com um outro editor (é editor que não acaba mais, hehehe) a pesar os adjetivos na hora de escrever uma reportagem. Se não me falha a memória, Ewaldo trabalhara em um guia de bares e restaurantes. Desses em que você tem que dar uma nota de qualidade. Quando o Ewaldo classificou de, sei lá, excelente o serviço de um restaurante, o colega o alertou de que, se ele já havia dado a nota máxima, o que reservaria a outro restaurante, muito melhor?

É difícil classificar o trabalho, o nosso e de quem quer que seja. Ideal é adotar critérios, que, assim mesmo, podem funcionar bem em um ramo, mas não em outro, como nas artes, em que a estética tende a se guiar por impressões absolutamente pessoais- apesar de todo o arcabouço teórico que se possa apresentar.

A crítica exige um certo comedimento. Relevam-se os arroubos, mas devem sempre se justificar, contra ou a favor do analisado. Senão, vira ataque de inimigo… Ou elogio de mãe. Em ambos o casos, a verdade se enfraquece- ainda que esteja presente.’



DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro

Até Cristo foi usado…, 17/03/06

‘O XIS DA QUESTÃO – As imagens da faixa do Greenpeace, pendurada no braço do Cristo Redentor, sintetizaram, para o planeta, o discurso contido na espetacularidade dos fatos. É a manifestação e o sucesso de uma nova lógica na produção da atualidade. Lógica no cerne da qual está a definitiva incorporação da notícia à estrutura e à estratégia do acontecimento, como sua dimensão discursiva.

1. O fato e o discurso

Sob o ponto de vista da materialidade dos fatos, não há como negar: foi um quase fracasso, pelo menos sucesso de curto percurso, a ação dos ativistas do Greenpeace no alto do Corcovado. Quinta-feira passada, eles colocaram uma faixa de 400 metros quadrados no braço direito do Cristo Redentor. Mas os ‘heróis’ da ação logo foram detidos e a faixa retirada, pela polícia. Na dimensão discursiva, porém, a ação realizada pelos militantes do Greenpeace foi plenamente vitoriosa.

Por quê?

Porque as imagens do fato produzido, espalhadas de imediato pelo mundo, fizeram chegar à humanidade um grito ecológico de advertência, no momento em que representantes de 188 nações se preparavam para iniciar, em Curitiba, uma discussão sobre a perda da biodiversidade global.

Ao produzir o acontecimento, o Greenpeace gerou o conteúdo. Deu-lhe forma e atributos de notícia. E, para que nada fosse em vão, usou a linguagem e as estruturas formais do jornalismo para agir discursivamente no mundo e sobre o mundo.

A verdadeira ação realizada pela entidade foi a socialização do discurso. E para gerar a notícia, nem da observação jornalística precisaram. Os próprios produtores do acontecimento – como quase sempre acontece nas intervenções do Greenpeace – se encarregaram de filmar e fotografar a espetacular intervenção. A foto publicada pela Folha de S. Paulo, por exemplo, era de Ricardo Beliel, fotógrafo do Greenpeace.

As imagens sintetizaram e espalharam pelo planeta o discurso contido nos fatos. Correram mundo, pelas veias da rede universal da difusão instantânea. O que nos permite dizer que na notícia se concentrou a parte mais importante do acontecimento: a sua dimensão discursiva.

2. Acontecimento e notícia

A propósito da espetacular intervenção do Greenpeace na mais olhada paisagem do Rio de Janeiro, ocorre-me um episódio que a paciência dos leitores me permitirá contar.

Parece que foi ontem, mas já lá se vão 13 anos. Em 1993, tive uma divergência com um membro ilustre da minha banca de doutorado. Ele discordava de uma das propostas defendidas em minha tese, a de que a notícia faz parte do acontecimento. ‘Notícia é uma coisa, acontecimento, outra coisa’, dizia o professor, que admiro e estimo. A divergência, de ambos os lados respeitosa, mas acalorada, resultou em polêmica para mim inesquecível, porque me ajudou a amadurecer um conceito que, se na época podia ser tomado como novidade atrevida, hoje está mais do que comprovado.

Na sociedade e na atualidade em que a socialização do agir discursivo dos sujeitos sociais se dá, fundamentalmente, pela difusão jornalística, a Notícia faz parte do acontecimento, sim senhor.

O atrevimento do conceito implicava a recusa, por envelhecimento, do conceito de notícia com que eu própria trabalhava até então – um conceito criado pelo estudioso espanhol Martinez Albertos, o autor que no século XX, a meu ver, melhor lidou com as teorias do jornalismo, depois de Otto Groth.

Escreveu Albertos, em seu livro Curso General de Redacción Periodística: ‘Notícia é um fato verdadeiro, inédito e atual, de interesse geral, que se comunica a um público que possa considerar-se massivo, desde que haja sido recolhido, interpretado e valorado pelos sujeitos promotores que controlam o meio utilizado para a difusão’.

No entendimento de Albertos, com o qual concordei durante anos, não havia como conceber notícia fora do controle do jornalista. Pois isso não existe mais, e peço que me dispensem dos porquês, sobre os quais já escrevi várias vezes, aqui mesmo. Porém, para que não fique um vazio na argumentação, relembro duas frases da coluna da semana passada: ‘A revolução já fontes já eclodiu. E alcançou estágios de plena exuberância, com a manifestação diária da colocação dos mesmos conteúdos em todas as mídias’.

3. Nova lógica

Existe uma nova lógica na produção da atualidade, na qual o jornalismo passou a ter e a desempenhar papéis novos, ainda por estudar e debater. Papéis que os estudos e as idéias de Martinez Albertos não alcançaram. Para os autores de então, assim como para a arrogante cultura jornalística de sempre, as fontes não passavam de meros figurantes do processo.

Nos conceitos antigos, que ainda vigoram por aí, os jornalistas eram os únicos protagonistas da atualidade. Os outros, agrupados na categoria ‘fontes’, eram tidos como intervenientes sem importância, reduzidos a verbetes insignificantes em manuais de jornalismo. Mereciam, quando muito, a ‘honra’ de serem personagens nas histórias contadas.

Os jornalistas, esses, sim, se sentiam e adoravam ser tratados como senhores do mundo, avalistas de todas as verdades.

O acompanhamento atento dos noticiários, em qualquer dia e meio, nos revela que existe hoje uma nova lógica a ordenar a dinâmica do jornalismo. Uma lógica determinada pela incorporação da notícia à estrutura e à estratégia do acontecimento. Do que resulta o controle que os produtores dos acontecimentos exercem hoje sobre a notícia.

Sempre que posso, falo e escrevo sobre este tema, por acreditar que precisamos, com urgência, aprofundar uma nova discussão sobre o nosso ramo e o nosso trabalho, na era das redes universais. Um bom começo, penso, seria nos dispormos a um banho de humildade e lucidez, para a mudança de conceitos e atitudes, a partir da observação dos modos de produção do jornalismo real. Sem preconceitos.’



HUMOR & JORNALISMO
Cassio Politi

Repórter criticava bombeiros. Só que…, 17/03/06

‘A coluna desta semana abre espaço para um jornalista humorista contar o dia D de um jornalista. Ou, talvez humorista. A mescla improvável entre as duas atividades faz sucesso há mais de uma década. Por que não saber de um repórter-artista como foi sua cobertura inesquecível? Foi árdua, tensa e, enfim, cômica.

* * * * *

A ligação estava horrível. O repórter Valério Meinel tinha de berrar. O colega que recebia a matéria na sucursal do jornal O Estado de S.Paulo no Rio se esforçava para entender suas palavras. A notícia: um acidente de ônibus com muitas vítimas.

– Os bombeiros demoraram muito. Entendeu?! Os bom-bei-ros de-mo-ra-ram. Ok?! – berrava Meinel. Uma ligação telefônica no começo dos anos 70 estava muito longe da qualidade conferida pelos celulares.

O telefone ficava no canto. De frente para a parede, o repórter continuava ditando, aos berros, a reportagem para seu interlocutor.

– Os bombeiros estavam despreparados. A equipe que fez o atendimento trabalhou de forma confusa. Ok? Entendeu? Não… con-fu-sa! Estou falando dos bombeiros. Continuando… A falta de equipamento… hein? Não… Falta de equipamento dos homens responsáveis pelo resgate… res-ga-te…

Um homem tomou o telefone de sua mão com violência e, irritado, bateu o aparelho. Era o fim da ligação. Quando o jornalista se deu conta, estava cercado pelos tais ‘despreparados’ para fazer um resgate descente. Uma infeliz coincidência: os bombeiros tinham decidido parar para tomar um lanche justamente no mesmo posto escolhido pelos jornalistas. Começou ali o bate-boca.

Pit-stop

O ônibus estava a uns 60 quilômetros quando aconteceu o acidente. Maurício Menezes correu para lá. Faria a cobertura pelo jornal O Globo. A tarde foi cansativa. Morreram 26 pessoas. A conclusão do trabalho de resgate dos corpos se aproximou do horário de fechamento. No caminho de volta para o Rio, os colegas de imprensa decidiram parar em uma lanchonete de um posto. Meinel estava apressado. Trabalhava em uma sucursal e, por isso, precisava passar a matéria mais cedo.

A parada na lanchonete de um posto de gasolina na beira da estrada deveria ser rápida. ‘Estávamos todos sujos. O Valério usou o telefone do bar, que ficava sobre uma mesinha, e ligou a cobrar para a sucursal. Ele ficou de frente para a parede, com o telefone em um ouvido e o dedo no outro, para conseguir ouvir o interlocutor’, lembra Maurício. Lendo os rabiscos Meinel começou a passar a matéria para a redação, para o bar e para quem estivesse pela região. ‘Você deve fazer idéia de como eram ruins os telefones há 30 anos’.

Sujou!

Os colegas tomavam café no balcão do bar quando viram camionetes estacionar. Eram dos bombeiros. Meinel continuava de costas, compenetrado em sua narrativa. Mais enlameados ainda, os bombeiros vieram caminhando até o balcão. O Brasil vivia sob regime militar e os bombeiros, militares que são, eram naturalmente temidos.

‘Quando o Valério começou a falar dos bombeiros, a gente ficou assustado. Um olhou para a cara do outro. Tentamos avisá-lo, mas não deu. Havia uns dez deles, inclusive oficiais’. Começou a confusão. Um aparta daqui, outro empurra dali, um sujeito grita no meio do bolo, outro responde aos berros. A sucursal ficou sem entender nada.

A volta

Quando a turma do deixa-disso conseguiu acalmar os ânimos, alguém alertou para um perigo: os bombeiros já tinham ido embora, mas podiam muito bem armar uma emboscada para o repórter, que voltava para o Rio em seu fusquinha amarelo. Os carros de reportagem fizeram um comboio. Estávamos no período do governo militar e tínhamos medo de uma represália. Fizemos um comboio’. Resultado final: a reportagem saiu no Estadão, com as críticas feitas.

‘Quando a confusão começou, eu fiquei assustado. Depois que tudo acabou, tiramos o sarro. Ver o Valério no canto, berrando, metendo o pau nos bombeiros, com os caras ali, atrás dele, foi muito engraçado’, diverte-se Maurício.

* * * * *

* Maurício Menezes trocou o Jornalismo pelo teatro. Aqui vai em primeira mão: a peça Plantão de Notícias, que em junho faz aniversário de 15 anos, estréia dia 31/03 em São Paulo. O tema central: erros cometidos por jornalistas. Será no Teatro das Artes, dentro do Shopping Eldorado. O elenco da peça conta, além de Maurício, com artistas que começam a ganhar projeção nacional. Dois deles trabalham com Tol Cavalcante na Record: Márcio Fernandes e Pedro Manso (aquele que imita à perfeição Fausto Silva, Agnaldo Timóteo e outras celebridades).

* O fato de os bombeiros tenham reagido com truculência à notícia que era transmitida por telefone, é tão previsível quanto inaceitável. Mas o tempo se encarregou de mostrar que quem passava a notícia era um repórter brilhante. Valério Meinel, já falecido, venceu a categoria principal do Prêmio Esso em 1977, quando trabalhava em Veja. A reportagem ‘O assassínio de Cláudia Lessin Rodrigues’, assinada por ele e por Amicucci Gallo, apontava os suspeitos de matar uma jovem de classe média no Rio. Como pano de fundo, estava o estágio avançado de consumo e o tráfico de drogas na cidade, tolerado, segundo a matéria premiada, nas classes mais altas e nos meios artísticos.’



TELEVISÃO
Antonio Brasil

Falcão: um documentário fantástico, 20/03/06

‘‘Se eu morrer, nasce um outro que nem eu, pior

ou melhor. Se eu morrer, vou descansar,

é muito esculacho nessa vida’.

Quem não assistiu não sabe o que perdeu. O Fantástico deste domingo deu um banho de televisão. Exibiu um dos melhores e mais importantes documentários produzidos no Brasil. Dirigido pelo rapper MV Bill e Celso Athayde, ‘Falcão – Meninos do tráfico’ é um soco no estômago! O cineasta Cacá Diegues declarou que o documentário ‘foi um dos mais impressionantes que já tinha visto no cinema em toda a sua vida’. Concordo.

A exibição do documentário também comprova que o Fantástico continua sendo o melhor programa da televisão brasileira (ver coluna ‘Após sacudida, Fantástico celebra 30 anos’, 6/05/03). Resgata a importância do meio televisivo para conscientizar o público e relembra os bons tempos do Globo Shell ou do Globo Repórter.

Segundo a divulgação, ‘o documentário é sobre os jovens patronos do tráfico de drogas, menores de idade que ficam na contenção, que ficam observando, vendo a ação da polícia, se ela entra na favela… o posto de ‘falcão’ na hierarquia do tráfico é só ocupado por moleques menores de 18 anos’.

Em entrevista à MTV em 2003, MV Bill explicou os objetivos do documentário: ‘A gente viajou por algumas capitais, fizemos várias comunidades do Rio… A idéia inicial era que o jovem expusesse seu pensamento sem precisar de um sociólogo ou antropólogo para falar por ele ou um narrador, como sempre acontece nos documentários’.

O filme do rapper MV Bill é muito mais do isso. Também é um atestado da incompetência do poder público e da nossa indiferença com um dos maiores problemas nacionais. Nas favelas brasileiras, estamos perdendo a guerra pela nossa infância, pelo nosso futuro.

Globo em ano eleitoral

O documentário deveria ter sido exibido pelo Fantástico em 2003. MV Bill declara que preferiu ‘um momento mais adequado’ para mostrar como vivem os jovens que trabalham no tráfico de drogas no Brasil. Talvez o rapper, a organização que representa, a Central Única das Favelas, e a Globo tenham decidido que agora – ano eleitoral – seja o momento mais adequado.

Em um dos breaks do Fantástico, MV Bill disse que o Brasil tinha chegado ao fundo do poço e que agora seria a hora de começar a fazer alguma coisa para ao menos diminuir esse problema tão grave. Pode ser.

A exibição de Falcão no Fantástico deste domingo e a publicação de extensas reportagens sobre prostituição infantil com ênfase nas promessas não cumpridas do governo Lula (ver aqui) também podem demonstrar que as empresas Globo finalmente decidiram entrar firme na campanha eleitoral. Não seria surpresa, nem a primeira vez!

Falcão na Voz do Brasil

De qualquer maneira, é inegável que o documentário sobre os meninos do tráfico é um instrumento político poderoso. Segue a linha de outro documentário de sucesso, ‘Crônica de uma guerra particular’, de Kátia Lund e Walter Salles, produzido em 1999. São filmes que privilegiam os depoimentos fortes e evitam as cenas de bang-bang.

Ambos deveriam ser assistidos por todos os brasileiros e exibidos em todas as nossas escolas. Para demonstrar a gravidade do tema e o realismo dos depoimentos, hoje, 15 dos principais personagens do filme estão mortos. A cena que mostra as crianças da favela brincando de traficantes – os heróis da comunidade – ‘justiçando’ violentamente um X-9 ou alcagüete comprova um sistema informal de educação e treinamento nas favelas brasileiras. Aproveito para sugerir que o documentário seja transmitido para todo o Brasil no horário da propaganda eleitoral obrigatória ou no lugar das sandices governistas da Voz do Brasil.

De qualquer maneira, ‘Falcão – Meninos do tráfico’ é antes de tudo um alerta, um convite à reflexão para todos os brasileiros. Principalmente para aqueles ingênuos ou desinformados que se recusam a reconhecer o estado de guerra civil nos grandes centros urbanos brasileiros. O documentário também comprova que o problema da violência se alastra de forma avassaladora por todo o País. O Rio de Janeiro sempre reverbera o melhor e o pior do Brasil.

Falcão tem a cara de um Brasil que insistimos em ignorar. Mas também demonstra o poder da TV para influenciar os eleitores em plena campanha presidencial.’



JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonça

A agricultura pede socorro

‘A agricultura mais uma vez está na corda bamba da economia. Como se fosse um setor não programável, como se todo ano, na mesma data, não tivesse plantio, colheita, venda da safra, transporte, a agricultura de novo foi mal planejada e o Brasil certamente vai perder com tudo isso. Os jornais mais influentes são tipicamente urbanos e agem como se houvesse apenas fábricas e shoppings. Aqui e acolá se vê uma matéria de agricultura, pecuária, mas tudo muito de vez em quando. Ontem, no Globo Rural, o ministro Roberto Rodrigues disse que é preciso para ‘ontem’ R$ 30 bilhões e deu a entender que a culpa era da área da Fazenda, que por sua vez ainda não tem, por falta de planejamento, o orçamento de 2006 aprovado. É bom lembrar que estamos em março.

Além de tudo isso, o agricultor tem de conviver com a questão da incerteza do clima e ainda não sabe se a operação tapa buraco será suficiente para suportar o transporte da safra. Falta dinheiro, portanto, do plantio à comercialização. Bem, daí não adianta o presidente apenas reclamar com os países mais ricos a questão do subsídio. É mais ou menos a comparação de condições entre o que exagera na atenção e o que deixa totalmente à sorte.

Isso não é culpa de Lula, nem de FHC. Os problemas do setor se arrastam há anos. Num momento em que todo o mundo compra e bem os produtos agrícolas do Brasil, uma espécie de compra que se renova, na medida em que tem de ser feita todos os anos, o Brasil sequer tem orçamento aprovado. Deveria, na minha opinião, haver interesse muito maior dos governantes. Também deveria haver maior empenho das chamadas bancadas ruralistas, que na maioria quer apenas o lado do bem bom, como no mês passado, quando tentaram anistiar vários devedores colocando bons e maus homens do campo na mesma cesta.

Fico imaginando que se houvesse cobrança e acompanhamento maior por parte da imprensa, várias perdas poderiam ser evitadas. Mais que isso, o nível de produtividade e as áreas plantadas poderiam ser ainda maiores. Com isso, haveria menos conflitos no campo, a reforma agrária tão sonhada poderia sair de forma planejada sem a necessidade de violência. Mas tudo no Brasil esbarra na falta de planejamento. De novo, teremos eleições, de novo novas promessas, de novo teremos de assistir às perdas na safra, aos prejuízos de muitos que dedicam a vida a plantar e tentar colher.

O ministro Roberto Rodrigues deu a entender, com seu ar passivo, de que a culpa é de Palocci. Quer saber ministro, a culpa é de todos nós que poderíamos pagar menos no supermercado, na feira, que poderíamos ter uma taxa de inflação menor, que poderíamos crescer de verdade, como todo país precisa.’



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo

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