Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Sério traumatismo, 28/09/06

“Deixei a tristeza de lado

  a família ao largo

e me atirei ao rio

(Talis Andrade in Sertões de Dentro e de Fora)

Sério traumatismo

O considerado Aristeu Nóbrega, advogado em São Paulo, enviou recorte da Folha Ilustrada, na qual se lê este ‘olho’ — Para que se possa falar em civilização, Roma precisa ser apagada de nossa memória coletiva; a cavalgar tal ‘olho’, como densa sobrancelha, equilibrava-se o título Rola delenda est. Aristeu confessa que ficou ‘meio envergonhado’ quando divisou tal e fescenina, digamos, singularidade:

‘Acho que o redator tentou parafrasear a célebre sentença de Marco Pórcio Catão, que encerrava seus discursos no Senado romano a clamar Delenda Carthago est, que significa ‘Cartago deve ser destruída’. O resultado mostra, porém, que o jornalista estava pensando mesmo era noutra coisa…’.

Janistraquis, que nunca foi chegado em assuntos dissolutos, garante que quando o contribuinte começa a confundir Roma com rola é porque já sofreu efeitos dalgum passaralho e está traumatizado até hoje.

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A gente sabe

Mais misterioso do que Éder Xavier, candidato ao governo de São Paulo, Janistraquis esgueirou-se e se aproximou:

‘Considerado, agora só podem prender a gente em flagrante; será que devemos aproveitar e contar como foi que o tal dossiê chegou à revista Istoé?’.

Apesar do refresco da legislação eleitoral, acho melhor manter estratégico silêncio. Afinal, o que pode fazer um colunista de salário-mínimo contra conhecido político e empresário que joga fora um milhão e setecentos mil reais?!?!

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Craque de peso

Janistraquis está convencido de que não adianta o Flamengo escalar Luizão se o jogo for às quatro da tarde:

‘Considerado, soube de fonte bem informada que o centroavante dedica-se atualmente a impor-se rigoroso regime alimentar e não há estômago que consiga digerir, até o meio da tarde, as duas feijoadas do almoço, sem contar as sobremesas…’.

É mesmo, principalmente porque às quatro horas o rapaz ainda pede substituição para poder lanchar em paz no vestiário. Um flamenguista amigo nosso utilizou até distanciômetro para avaliar o peso do craque e concluiu: juntas, as duas bochechas, mais a barriga e a bunda, somam 82 quilos e quebrados.

Meu secretário acha que Luizão só vai render alguma coisa se o jogo for às dez da noite, porque nesse horário o comensal estará a meio caminho entre o jantar e a ceia.

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Viva Lula!!!

Petistas em geral, de moçoilas apaixonadas pelos bigodões de Mercadante àqueles barbados de militância feroz e rancorosa, elegem mais um ídolo nesta véspera de reeleição. Trata-se de Gilson Caroni Filho, professor de Sociologia da Facha, autor de celebrado artigo em que aponta a má-vontade de jornais e telejornais na edição de fatos e discursos. Leia no Observatório da Imprensa.

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Premiado

O considerado Mario T. Gagliardi lia as chamadas do Comunique-se quando deparou com este título deveras encorajador: Mino Carta recebe Premiado na Itália. Impressionado com a sorte desse Mestre do jornalismo, Gagliardi enviou-lhe efusivos cumprimentos:

O considerado sabe que não é todo dia que se encontra um ganhador do Grande Prêmio da loteria, ainda mais noutro país!!!

De fato, ‘premiado’ é o apelido do bilhete, porém mais tarde o portal corrigiu o erro e o leitor, ao verificar que o Mestre havia recebido mesmo um, com perdão da palavra, galardão,mergulhou num Adriático de desencanto.

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De burrice

Do deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara, em artigo na Folha de S. Paulo:

‘(…) O episódio do dossiê tem sido usado de maneira leviana contra Lula. Se alguns erraram, que sejam punidos, mas não se deve envolver o presidente da República: por que ele iria usar tal expediente se as pesquisas o apontam como vitorioso no primeiro turno?’

Janistraquis, que não nasceu ontem nem anteontem, suspirou:

‘Considerado, Chinaglia acha que somos burros. Ora, ao assumir o poder em 2002, o PT imaginou criar um Reich de Mil Anos e Lula fez sua parte. Porém, com a reeleição dele, o partido precisará de alguém para sucedê-lo em 2010 e não aparece vivalma no horizonte próximo ou distante. Então, o jeito é investir em Mercadante porque este, se derrotar Serra, terá um cacife deveras espetacular nas próximas eleições, né não? Isso tudo por apenas R$ 1.700.000,00?!?!?! Valeu a pena tentar…’.

É, Chinaglia acha que a gente é burro.

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Egoísmo coletivo

O considerado Francisco Sérgio Bocamino Rodrigues, advogado em Campinas, que certamente passou com louvor no exame da OAB, despacha lá de seus domínios:

Estou de volta com uma pérola que a Folha publicou hoje, 21 de setembro de 2006, na página D3 esporte.Trata-se de uma manchete intituladaPalmeiras encampa egoísmo coletivo.

Logo abaixo, está escrito: ‘Para brecar fase irregular, atacante Marcinho defende o individualismo como arma para derrotar o Santa Cruz em PE’.

Não consegui assimilar o tal ‘egoísmo coletivo’ e fui ao dicionário para ver se egoísmo tinha outro sentido, que não o conhecido pela maioria das pessoas, e o Aurélio nos ensina que:

‘Egoísmo. S.m 1. Amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios. 2. Exclusivismo que faz o indivíduo referir tudo a si mesmo:egocentrismo.[Antôn. (nessas acepç.): altruísmo] 3. Filáucia, orgulho, presunção. [Cf. egotismo.]’

Janistraquis acha, ó Francisco Sérgio, que o redator do jornal foi assaltado por repentina e grave crise de filáucia…

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Há 27 anos…

Extraído do site Vidanet:

‘Sou preguiçoso para ler. Quando muito, leio o prefácio, deixo para depois e acabo não lendo’ (Lula, em entrevista no ano de 1979).

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Mestre Talis

Leia no Blogstraquis, você e todos os que não têm preguiça de ler, a íntegra do Poema da Entrega, nascido da generosa lavra de Talis Andrade e cujo excerto encima esta coluna.

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De fanatismo

Os considerados Thaís Medrado Ribeiro e Leonardo Riquel, de São Paulo; Manfredo Lupo, do Rio, e Mariana Feijó, de Porto Alegre, enviam a mesma notícia publicada na Folha Online:

Crackers voltam a invadir página do PT e publicam mensagens de protesto

O site oficial do PT foi invadido novamente nesta segunda-feira. No domingo, a página do diretório do partido em São Paulo já ficou parte do dia fora do ar, depois da invasão de supostos eleitores descontentes com a gestão petista.

Hoje, assim como no domingo, no lugar do conteúdo original os invasores publicaram críticas ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. Foram invadidas a página do PT nacional e de São Paulo.

‘Não vote em corruptos, vote 45’, diz o cabeçalho da página do diretório nacional do PT.

O termo cracker é utilizado para aqueles que, como os hackers, têm grande conhecimento de informática. Os crackers, porém, utilizam suas técnicas para promover invasões.

Os leitores desancam nosso inatacável presidente e dizem mais ou menos o mesmo a respeito da ‘invasão’, ou seja, é coisa inventada pelo próprio PT, pelo seguinte: só visitam o site petista os partidários xiitas e, pelo menos teoricamente, seria perda de tempo tentar convencer um fanático a votar no PSDB.

Faz sentido.

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Choque da gota

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de onde se pode ver o presidente a preparar seu próprio churrasco, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando percebeu que um dos redatores do jornal havia enfiado os dedos numa tomada de 220 volts:

‘Lia-se à página 7, edição do dia 24 último: ‘Valdebran Carlos da Silva Padilha… é empresário e engenheiro elétrico’. Então, cuidado com o curto-circuito e os choques violentos, pois o homem é elétrico! Pensei que fosse eletricista…’.    

Janistraquis está convencido, ó Roldão, de que a falha do redator é menos perigosa do que meter a mão em cumbuca ou em buraco de tatu. Todavia, como vivemos num país de m…

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Alhos & bugalhos

Repórter da TV Vanguarda, afiliada da Globo no Vale do Paraíba, foi às ruas e perguntou aos que passavam: ‘Sabe o que é quociente eleitoral?’. Quem conseguiu responder declarou, com cívico entusiasmo: ‘É quando a pessoa escolhe bem em quem vai votar!’

Mais otimista do que beneficiário do Fome Zero, Janistraquis foi benevolente com a necedade sufragista:

‘Pois é, considerado, confundem quociente eleitoral com consciência eleitoral, mas nem tudo está perdido nesta trôpega Democracia; afinal, a troca de uma coisa pela outra revela que o eleitor pelo menos leva a eleição a sério.’

Concordo.

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Nota dez

O considerado Fernando Canzian escreveu em sua pensata na Folha Online:

O Brasil de Lula apareceu mal na foto nos principais jornais europeus na semana passada. A tramóia da compra do dossiê e o grande novelo do mensalão foram puxados por quase todos os grandes diários. No britânico ‘Financial Times’ e no espanhol ‘El País’, o brasileiro mereceu páginas inteiras. No ‘International Herald Tribune’, destaque no alto da página dois. O ‘escândalo do Watergate tropical’ estava em toda parte (…).

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo intitulado Encolheram o presidente e conheça os motivos que levaram a imprensa internacional a se decepcionar com o candidato-reeleito.

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Errei, sim!

‘VIDA FÁCIL – Chapéu é, na gíria das redações, aquele antetítulo ou rubrica que nos ajuda a identificar o assunto da matéria. Às vezes, miseravelmente, o redator troca o chapéu e a coisa sai assim, como se viu no Estadão. Título: Martins ganha o primeiro turno da Unicamp. Chapéu: Prostituição. Meu secretário zombou: ‘Considerado, estão querendo dizer que José Martins Filho seria um reitor de vida fácil…’. (maio de 1994)”



ELEIÇÕES 2006
Eleno Mendonca

Movimentações ilícitas, 25/09/06

“Você já experimentou ir ao banco e tentar sacar, na boca do caixa, R$ 10 mil? Certamente, se você for conhecido, levará um bom tempo. O funcionário vai avisar ao gerente, que vai pedir para você esperar do lado pelo menos uma meia hora. E se a importância for maior, digamos, R$ 50 mil. Bem, aí o gerente vai dizer que você deveria ter avisado antes, um dia pelo menos, e provavelmente vai te pedir para voltar depois. São as normas dos bancos para melhorar a própria segurança e evitar que as pessoas façam saques exagerados, afinal é interesse da instituição que você permaneça com o maior numerário possível aplicado. Quando você tira muito dinheiro é sinal que pode emagrecer a conta a ponto de deixar de ser cliente.

Mas vamos supor que você não está comprando um tereno ou imóvel ou carro e que tenha ganhado na loteria e esteja cheio da grana. Suponha que você queira tirar quantias gordas mesmo, do tipo R$ 300 mil, R$ 500 mil, R$ 1 milhão. Quem dera. Pois saiba, que tanto quem tirou os R$ 10 mil quanto o que tirou essa bolada vão para um relatório do gerente e segue direto para o Banco Central, para o Coaf – que é o Conselho de Controle das Atividades Financeiras. Cabe ao Coaf reunir esses saques digamos estranhos para depois investigar por si próprio ou estar pronto a responder a perguntas caso sobre esses recursos pairem alguma dúvida. Cabe ao Coaf dizer das origens, cobrar o sacador sobre o fato se esses recursos estão declarados à Receita Federal etc etc.

Tudo isso evita, ou deveria evitar, que haja lavagem de dinheiro, que recursos deixem de ser declarados, que dinheiro seja usado em operações ilegais. Nos tempos da informática, do wireless, do IPod, é inadimíssível que um Banco Central, que um Coaf, não tenham isso na ponta da língua.

Porque estou fazendo esse rodeio? Bem, para mostrar o óbvio. A imprensa deve encostar no Coaf e no BC para pedir, ou melhor, exigir essas informações em nome da sociedade. Na reta final de um processo eleitoral é inadmissível que uma informação dessa importância fique de fora. Vamos esperar para que haja as eleições? Se fosse com você, certamente o Coaf já teria informado. A rapidez nas apurações não vale para determinadas situações? No caso do Caseiro Francenildo não se viu morosidade. Levantaram até o extrato do rapaz em poucos dias e, o que é pior, não foi preciso nem força policial.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Rádio Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.”



INTERNET
Bruno Rodrigues

E você, clica em banner?, 28/09/06

“Na web, há experiências que evoluem com o tempo. Acessar informações é cada vez mais fácil, o medo de ir às compras via computador deixou de causar medo, a comunicação entre pessoas tornou-se instantânea graças a MSN & cia.

Algumas experiências, contudo, pararam no tempo. É como se tivessem encontrado um beco sem saída e de lá estivessem observando o dia-a-dia da Rede evoluir. O mais crítico destes casos é a publicidade online.

Enquanto o usuário, de três anos para cá, descobriu que a informação que ele consome não é apenas o texto e a imagem, mas, também, o áudio dos mp3 players e o vídeo do You Tube, os produtos a que ele são apresentados continuam sendo sinalizados da mesma maneira: banner, banner, banner.

Descendente dos outdoors de rua, o banner começou promissor, no final dos anos 90, e aos poucos foi se aproveitando das novas tecnologias, com as do Flash, para se mostrar melhor. Ao mesmo tempo, multiplicava-se em formatos: dos full banners – que tomam a página de ponta a ponta – aos half banners – onde cabem dois banners no mesmo espaço de um full – chegou-se ao buttom – em formato de botão, ou quadrado – e há alguns anos ao banner sky – como diz o nome, um banner vertical, que toma conta da página de cima a baixo.

Foi neste ponto que banner e publicidade online estancaram. Há cinco anos, falou-se que o patrocínio de áreas de sites substituiria o banner, que estava desgastado. Não vingou, pois em pouco tempo descobriu-se que os anunciantes não tinham o mesmo retorno em vendas que o nosso ‘outdoor virtual’ gerava. Se o ‘formato matador’ era o banner, porque criar moda, então?

Enquanto as agências de publicidade investiam em criatividade para encobrir o óbvio, o usuário o expunha. Havia rejeição pelo banner, e essa realidade, sinalizada por pesquisadores web como Jakob Nielsen desde sempre, era ignorada.

É como se você chegasse faminto ao único restaurante da vizinhança na hora do almoço e a única opção fosse o prato que você menos gosta. O que fazer? Que venha ele. O usuário age assim: consome o banner como quem engole o que não gosta, já que é o que irá ‘alimenta-lo’ cominformações sobre produtos na internet.

Comportas abertas, provado que o usuário clica mas não gosta, surgiram os gremlins da publicidade online, pequenas aberrações que deixam a sutileza de lado para nos agarrar pelo pescoço: os anúncios em pop-up, ‘janelinhas’ que se abrem quando entramos em sites e portais, são como banners que não sabem o seu devido lugar, e se jogam na nossa frente. O raciocínio é: ‘se eu fosse banner, talvez o usuário não me visse, então vou me atirar no colo dele’. Mais recentemente surgiram banners apelidados de ‘intrusivos’, aqueles que bailam na tela até sumirem, e os seus pares, ‘círculos’ que tomam o monitor do computador e quase escondem o ‘x’ que pode fechá-los.

Não pense que o usuário web não clica nos banners e nos gremlins – esta é a grande questão. Há anos, institutos de pesquisa – como os americanos eMarketer e Pew Internet Life Survey -nos mostram que o usuário clica, e muito. Mas clica porque não há opção.

Não vale desanimar, porque há esperança. Com o surgimento de outros perfis de site, como os de relacionamento, em que o boca-a-boca é a regra, os publicitários já começaram a testar novas maneiras de expor marcas de seus anunciantes e vender produtos na web.

Um exemplo recente aconteceu no MySpace em julho, em que, para divulgar a estréia do filme ‘Clerks 2’ (‘O Balconista 2’, no Brasil), uma campanha feita através de posts anunciava que os primeiros 10.000 usuários que incluíssem o ‘perfil’ do filme entre sua listas de ‘amigos’ teriam os nomes listados nos créditos do filme, no cinema. Mais de 180.000 pessoas aderiram.

Entre os US$ 16 bi que os anunciantes irão gastar este ano em publicidade online, apenas US$ 280 mi são destinados a esta nova maneira que anunciar, diz a ‘BusinessWeek’. Mas é um início. Fato é que o marketing de relacionamento já vem sinalizando, há anos, que o ambiente online pede múltiplas ações de exposição de marca, e que o banner é apenas uma delas. Os especialistas afirmam que o banner pode e deve continuar a existir, mas que os gremlins precisam ser exterminados ou, no mínimo, ‘domesticados’, para que os usuários tenham com eles a mesma tolerância que têm com seus pares.

Moral da história: o usuário deseja e merece um farto buffet na hora do almoço – e aí quem, sabe, passa a ter real simpatia pelo prato que comia todo dia e não gostava.

Aguardemos, portanto! 

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.”



MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro

Mercado continua movimentado no ‘atacado’ e no ‘varejo’, 27/09/06

“O mercado editorial pode não estar num céu de brigadeiro, mas vive um momento favorável. Aliás, desde o fim da crise, em 2003, vivemos entre a estabilidade e o crescimento, com raras exceções.

Neste segundo semestre, por exemplo, vimos dar os primeiros passos o www.G1.com.br, novo portal da Rede Globo que abriu cem novos postos de trabalho entre São Paulo (maioria), Rio e Brasília. Está também em plena gestação a revista Época Negócios, mensal, com lançamento programado para o começo de 2007, com direito, penso eu, a pelo menos duas dezenas de novos empregos. E quase entrando em trabalho de parto, há uma revista, e das grandes, da Abril, segredo guardado a sete chaves, que se sabe ser um projeto com investimentos da ordem de U$ 20 milhões. Ou seja, é revista que certamente empregará também um número razoável de profissionais. E o que é melhor, com o padrão abril de salários.

No Rio, conforme informa a correspondente Cristina Vaz de Carvalho, o JB anuncia o lançamento para novembro da revista .TV (ponto tevê), editada por Rose Esquenazi (ex-revista Domingo). Além da pauta tradicional neste tipo de publicação, pretende apresentar uma visão crítica do que é veiculado, e estimular a polêmica. Vem com nomes de prestígio falando sobre o papel da tevê na cultura brasileira, perfis e making of das principais atrações. Em dezembro, chega o caderno de Economia, também aos domingos.

Mas não é só no atacado que o mercado se movimenta. Com os novos empreendimentos e mesmo com a expansão e reformulações dos projetos editoriais existentes, também o varejo está com uma boa movimentação. São promoções, transferências e, é claro, contratações em várias empresas jornalísticas.

O mesmo Jornal do Brasil, por exemplo, acertou a contratação de Mário Marona, para ser editor-executivo da edição de domingo. O cargo é novo no JB, que passa a dedicar uma atenção maior à dominical, nos moldes dos grandes jornais. Marona vai também coordenar (mas não editar) o noticiário de Economia, parte dele proveniente do próprio JB e parte da Gazeta Mercantil, função que já existe em São Paulo, mas é nova no Rio. Essas iniciativas fazem parte de um plano em três fases, que está sendo implantado na empresa: reunir, qualificar e ampliar. Na primeira fase, com todos juntos em um mesmo lugar, foi criado um padrão de trabalho. Atualmente, na fase dois, o jornal busca a qualificação. Foi por isso que foi buscar, por exemplo, Tales Faria para dirigir a sucursal de Brasília, Walter Diogo para a coluna Informe Econômico e, em breve, prepara mudanças na área de informática. Em janeiro de 2007, começa a terceira fase, quando finalmente estará pronta a obra que vai acrescer um andar ao prédio, para dar mais conforto à redação.

De IstoÉ saíram nos últimos dias o chefe da sucursal Rio, Ricardo Miranda, que aceitou convite para voltar a ser correspondente do Correio Brazilliense, na vaga aberta com a volta de Amaury Ribeiro Jr. para Brasília; e o repórter especial da sucursal Brasília, Eduardo Hollanda, que não está indo, por enquanto, para lugar algum, mas quis rescindir contrato com a Editora Três e vice-versa.

Em Exame, Cristiane Correa foi promovida a editora-executiva, passando a coordenar a área de Gestão da revista. Entra na vaga de Nélson Blecher, que está a caminho da Editora Globo para dirigir Época Negócios. Com seis anos de Exame, Cristiane passará a dividir a função de editora-executiva com o ex-chefe Maurício Lima. Outra novidade da revista é a chegada de Gustavo Poloni (ex-Veja e que recentemente deixou a equipe de Carlos Nascimento, no SBT), para a editoria de Internacional, na vaga de Denise Dweck, que foi para Veja. Poucos dias atrás, Exame perdeu o editor Cláudio Gradilone e foi buscar, para a vaga, Eduardo Salgado, ex-Veja e que estava editando Internacional no Estadão.

Marcelo Aguiar, que desde janeiro vinha respondendo pela editoria de Negócios de Época, deixa a revista nesta 6ª.feira (29/9) e no próximo dia 9/9 migra para o segmento de agências de comunicação: começa no escritório paulista da FSB, como diretor da empresa. Por enquanto, não está definida a substituição dele na revista.

Depois de quase dez anos de casa, Fabio Kadow deixou Carta Capital na última 6ª.feira (22/9) e já nesta 2ª começou na agência de publicidade novaS/B, contratado para atuar nas áreas de pesquisa e produção de internet e comunicação de interesse público. Também neste caso, não há definições sobre eventual substituição.

Andréa Barros (ex-Crescer) despede-se na próxima 6ª.feira (29/9) do caderno Aliás, do Estadão, e na próxima semana começa na Editora Bafisa, dirigida por seu pai, Flávio Barros Pinto, em sociedade com Ricardo Fischer (ambos ex-Abril e Globo). A Bafisa especializou-se em lançar no mercado projetos diferenciados, como o Resumão, focado nos vestibulares.

Reinaldo Canto, que editava o programa Olhar Digital da Rede TV, acaba de assumir como editor-chefe do programa, na vaga de Celso Góes, que deixou a emissora. O Olhar Digital trata de tecnologia em todas as atividades humanas.

Graziela Azevedo voltou ao Brasil, após temporada como correspondente da Globo em Nova York, reapresentando-se à Central Globo de Jornalismo em São Paulo. Com ela voltou o marido Thales Guaracy, que continua a se dedicar à literatura e está terminando um livro de ficção que começou a escrever em NY – seu quarto título -, que tem como pano de fundo a Coluna Prestes.

Evandro Spinelli, que no final de 2005 deixou a editoria de Política do Bom Dia Rio Preto para assumir a Agência Bom Dia, em Jundiaí, começou no Caderno Cotidiano da Folha de S.Paulo. Para a vaga dele na Agência foi Andréa Lavagnini, que em março havia saído do Bom Dia Rio Preto e estava frilando na TV Tem de Sorocaba, também pertencente ao grupo. Ainda no Bom Dia Rio Preto, no caderno Viva, registro para a saída de Daniel Martins, substituído por Harlem Félix, vindo de Votuporanga; e para a volta de Ayla Farias ao jornal, agora no caderno Aqui, ela que deixara o diário havia quatro meses, então no caderno Viva.

No Sul, a RBS concluiu as negociações com o empresário Moacir Thomazi e a partir de 1º/10 assume integralmente a gestão do jornal A Notícia, de Joinville (SC), passando a deter 96,7% das ações da empresa. Thomazi permanecerá até o final de fevereiro na organização, ajudando pessoalmente no processo de transição, que terá, pelo lado da RBS, Luiz Cardoso, atual gerente-executivo da RBS TV Joinville. O editor-chefe do jornal será Nílson Vargas, que já atuou em A Notícia nos períodos de 1988-89 e 1997-98, como editor de Economia e chefe de Reportagem. Na RBS, Vargas participou da implantação do Diário de Santa Maria e foi seu editor-chefe entre os anos de 2002 e 2006. A Notícia, fundada em fevereiro de 1923, conta, atualmente, com 437 colaboradores e tem uma tiragem média diária da ordem de 31 mil exemplares.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.”



Milton Coelho da Graça

E o homem vai tomando conta…, 27/09/06

“Nelson Tanure, proprietário do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, já fechou a compra da emissora CNT de televisão e está discutindo com Domingos Alzugaray o acerto final para assumir o controle de IstoÉ.

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Nossa imprensa fez boa campanha?

Acredito que sim e que, se o IBOPE e o Datafolha fizessem essa pergunta a todos os leitores de jornais, os números mostrariam grande aprovação.Todos os candidatos – favoritos ou azarões – tiveram correta cobertura pelos três maiores jornais nacionais e por um bom número de jornais regionais.E foram bem acompanhados nesse esforço por TV, emissoras de rádio ‘all news’ e novos personagens da comunicação que prometem crescer ainda mais em futuras eleições – sites como Congresso em Foco e blogs como os de Noblat e Fernando Rodrigues.

Mas a idéia da coluna não é distribuir elogios a coleguinhas, mas abrir um debate entre nós, profissionais, sobre como cada um avalia o trabalho do conjunto da mídia na cobertura eleitoral.

Há algum tempo, uns dois anos, li um artigo na revista American Editor, em que o autor, Tom Fielder, recomendava que a cobertura de uma eleição se inspirasse na editoria de esportes e buscasse, por exemplo, ouvir mais as preocupações e interesses dos leitores, da mesma forma como o pessoal do esporte está sempre sintonizado com as torcidas.

Acho que avançamos na busca de identificar e explicar os temas mais importantes paracada grande parcela do eleitorado.Mas terá sido o bastante?Esta eleição mostra, mais do que qualquer outra anterior, um aprofundamento de diferenças sociais e regionais que os números finais certamente confirmarão.Uma das principais tarefas do próximo governo será a de criar novas pontes de entendimento entre todos os brasileiros, condição básica para a unidade nacional em torno de um projeto que deixe para trás as quase três décadas de pífios índices de desenvolvimento econômico e social.

V. acha que a cobertura eleitoral demonstrou que a mídia poderá ter um papel essencial nesse esforço?

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O Globo abre o debate sobre tesão

O artigo de Ruth Aquino (‘Tesão e preconceito’), no O Globo desta quarta, 26/9, é imperdível. É um belo manifesto feminista sobre o direito da mulher – tanto quanto o do homem – a tranzar (o ‘z’ tira qualquer dúvida sobre a pronúncia) e gozar em público.E comprova o caráter amplo e democrático da página Op-Ed de O GLOBO, abrindo o debate sobre tesão na mesma página em que o cardeal também escreve.

Ruth afirma que ficou estarrecida vendo La Ciccarelli soterrada sob críticas, enquanto ‘a sociedade enxergou de maneira diferente’ o papel de Malzoni no feito sub-aquático. ‘Por que, então, Daniela teria que ser mais punida e achincalhada do que o namorado?’

Ruth deixa de lado o fato (pelo menos isso foi anunciado pela imprensa) que Malzoni foi demitido da Merryl Linch – o que, no mínimo, revela que a sociedade não foi assim tão discriminatória.  A comparação com as estripulias sexuais de Ronaldinho Gaúcho durante a Copa – nem públicas nem documentadas por nenhum paparazzo, mas reveladas por váriosmeios de divulgação – também soam como exagero de militância.

O final do artigo recorda a fantástica Leila Diniz e como ela estaria se comportando na mesma situação.Ruth lamenta a morte prematura de Leila, ‘antes de conseguir mudar essa mentalidade tosca que aplaude o tesão masculino e chama de vagabunda a mulher que expressa prazer’.  Apoteótico, mas certamente exagerado.Conheço poucos brasileiros que considerem ‘vagabunda’ uma mulher simplesmente por expressar seu prazer sexual.

Pô, Ruth, é claro que ainda existem – e fortes – preconceitos antifeministas em nosso país. Tá bem que a camisinha seja ignorada porque o casal já vem se apalpando desde junho.Mas, em defesa da igualdade de gêneros,tesão e gozo devem ser exibidos na praia e com movimentos preparatórios inequívocos antes do grand finale submarino?

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.”



JORNALISMO & ASTROLOGIA
José Paulo Lanyi

Horóscopo de jornal, 27/09/06

“Foi há alguns anos. Eu dizia a uma senhora de origem humilde que horóscopo de jornal é uma bobagem.

Ela- Não é não. Funciona.

Eu- Não, não funciona…

Ela- Olha, menino, eu vou lhe contar uma coisa: teve um dia que eu li no meu signo que aquele dia eu ia ganhar flores. E sabe o que aconteceu?

Eu- Não.

Ela- Naquele dia o meu marido morreu [argumentou, triunfante].

[Pensei em lhe dizer que quem ganhara flores mesmo fora o marido dela, mas preferi ficar quieto]

Eu- Então a senhora quer me dizer que todas as pessoas do seu signo no mundo inteiro ganharam flores naquele dia?

Ela- Ah, isso eu não sei, mas comigo deu certo.

Isso me lembra uma outra história, que ouvi outro dia. A empregada de uma amiga minha garantia que o homem não havia pisado na Lua, pela simples razão de que ‘lá mora São Jorge’.

Superstição pode ser útil. Ajuda a segurar as pontas dos desvalidos e a amansar os povos. Pode divertir também, como explico adiante.

Horóscopo de jornal é uma febre nacional, talvez mundial. Muita gente lê porque acredita. Muita gente lê porque não acredita, mas… ‘vai saber’…

Tenho um bom conhecimento de astrologia, a mãe rejeitada da astronomia.

Embora não seja cientista, tampouco especializado nesse assunto a ponto de fazer pesquisas controladas, sei interpretar uma carta astrológica e, por mais que os anos passem, não consigo deixar de me espantar com o índice de acertos. Empirismo? Sim, creio que seja um bom primeiro passo para a busca posterior do entendimento de ‘por que isso funciona’.   

Por me auto-impor um raciocínio glacial, tenho, porém, as minhas reservas. Horóscopo de jornal, repito, é bobagem. Só serve para vender exemplares e disseminar a ignorância.

Explico: além de dividir a humanidade em 12 grupos e de querer impor a cada um desses grupos a mesmíssima experiência cotidiana em uma determinada faixa de tempo- o que é simplesmente ridículo-, para fazer as suas previsões o horóscopo diário de jornal (ou semanal de revista) trabalha com apenas uma das informações contidas em um mapa natal: a posição do Sol. O que isso significa?

Explico. Quando eu digo que você é de Áries, digo que, no exato instante do seu nascimento, o Sol transitava pelo signo de Áries. Astrologicamente, o Sol transita em Áries de 21 de março a 20 de abril. Se você nasceu nesse período, você tem o Sol em Áries. Logo, você é de Áries. O mesmo se dá em relação aos outros onze signos.

Todo astrólogo sabe que só se pode analisar a personalidade ou fazer previsões com base em um mapa que indique as posições do Sol e dos demais astros do nosso sistema: muito resumidamente, o Sol indica a personalidade essencial de cada um de nós; a Lua, as emoções; Mercúrio descreve como pensamos; Vênus, como sentimos, no campo dos afetos; Marte diz como agimos; Júpiter representa os nossos valores; Saturno, as nossas limitações e os nossos aprendizados; Urano nos mostra como e em que área da vida buscamos independência e originalidade; Netuno indica como reagimos a forças transcendentes, que fugiriam ao raciocínio terra-a-terra; Plutão é um foco de poder, de transformação e de regeneração em cada um de nós (antes que me perguntem: Plutão pode ter sido rebaixado pelos astrônomos, mas isso não importa, porque a energia continua lá).     

Por que nenhum sagitariano é igual a outro sagitariano? Porque ninguém é sagitariano puro. Exemplo: uma pessoa com Sol em Sagitário pode ter o ascendente em Capricórnio, a Lua em Leão, Mercúrio em Virgem e por aí vai. Depende do ‘mapa do céu’ no instante de nascimento. Essa configuração é individual, de acordo com o local e o horário exato do nascimento. Outro sagitariano pode ter o ascendente em Câncer, a Lua também em Câncer, Mercúrio em Escorpião… A análise do conjunto dessas e de outras informações numerosas e algo complexas, como a posição nas casas e os aspectos angulares entre os planetas, nos proporciona uma visão abrangente (nem por isso difusa) do comportamento dos seres humanos.

E os mapas idênticos de irmãos gêmeos? Rapidamente: vamos dizer que ambos tenham uma influência de Marte significativa no mapa natal. Ora, Marte indica coragem, agressividade, liderança, sangue frio nos momentos críticos, vocação para trabalhar sob circunstâncias hostis, vocação para trabalhar com sangue, metal, instrumentos cortantes. Se esses dois irmãos nasceram sob forte influência de Marte, podem, por exemplo, tornar-se cirurgiões, açougueiros, militares ou até mesmo assassinos. Todas essas atividades exigem a predisposição e o talento relacionados aos arquétipos que acabei de abordar. Essas inclinações são ‘represadas’, por exemplo, pelo meio em que se vive. E pela forma como cada uma dessas pessoas assimila as informações e as emoções com que depara vida afora (afinal, não estamos tratando de robôs). ‘Astra inclinant, non necessitant’, ou seja, os astros inclinam, não determinam. Sempre podemos interferir, até onde os nossos braços consigam alcançar.

Esses são apenas alguns subsídios para que se consiga entender por que um horóscopo de jornal não pode, lógica e astrologicamente, ser eficaz. Porque, repito, prognostica a mesmíssima experiência a 1/12 da humanidade, numa mesma faixa de tempo. Milhões de pessoas fariam e sentiriam as mesmas coisas diariamente, como um rebanho tocado pelas estrelas. Não faz sentido. Esse modelo também desconsidera a riqueza, a diversidade de informações que estão contidas no mapa individual e que permitem a verdadeira análise, levando-se em conta o objeto analisado: o ser humano, um bicho complexo.  

Como já disse, a astrologia é a mãe da astronomia. Os cientistas repudiam a primeira. Usam como argumento um suposto flagrante da ilusão, depois que se descobriu que, ao contrário do que apregoava Ptolomeu, não era o Sol que girava em torno da Terra, mas o inverso, novo pensamento que seria consolidado por Copérnico. Com a morte do geocentrismo, tudo teria perdido a razão de ser, uma vez que a Terra e o homem não são mais o centro dos acontecimentos, acrescido do fato de que as constelações ‘teriam mudado de lugar’ sob o novo prisma (aspas deste colunista).

Esta é, a meu ver, uma conclusão reducionista. Uma edição recente da IstoÉ aborda a polêmica, em uma reportagem que destaca um curso de astrologia científica na Universidade de Brasília. Num dos trechos da matéria sob o título ‘A Astrologia Muda de Cara’, assinada por Julio Wiziack, os chamados astrólogos científicos apontam para uma possibilidade que explicaria o que hoje afigura um mistério para uns ou uma mera superstição para outros: ‘Algumas teorias dessa área sugerem que a transmissão de energia entre os corpos do Universo não se dá por vias tradicionais, mas, isso sim, por um sistema de coordenadas. Seria como se um satélite GPS recebesse um sinal emitido por um corpo na Terra e o retransmitisse para outra parte do espaço’. Um astrofísico inglês, Percy Seymour, admite uma hipótese sobre essa questão, diz a revista: ‘Sol, Lua, planetas, asteróides e estrelas emitiriam sinais magnéticos captados pelo sistema nervoso do homem’.

O tema é espinhoso e não se encerra neste meu artiguinho. Penso que, em vez de iludir o povo com horóscopos de jornal e de revista, a mídia deveria se pautar pelos estudos sérios sobre essa questão. Não se sabe por que a astrologia funciona. Mas funciona, esta é a minha conclusão fincada na observação. Não é científica, portanto, mas a verdade científica sempre tem um ponto de partida.

Uma indicação disso seria o conjunto de estudos do estatístico francês Michel Gauquelin, cujos resultados foram francamente favoráveis à astrologia. Ou os relatos insistentes sobre a eficácia de previsões por parte de gente aquinhoada como o astrônomo (e astrólogo) Johannes Kepler, que, conforme uma outra reportagem, na Superinteressante, assinada por Reinaldo José Lopes, ‘previu a morte de um nobre germânico em 1634. O sujeito foi assassinado no mesmo ano’. Outros gênios, como o físico Isaac Newton, também levaram tudo isso a sério. O historiador Suetônio relata uma série de predições do mundo romano que teriam acertado em cheio a data e até a hora da morte de alguns imperadores, entre outros eventos de significância.

Ao citar esses nomes não recorro à cavalaria do princípio da autoridade. Digo apenas que, a exemplo desses luminares, precisamos perder o preconceito e ao menos investigar. Ciência não combina com preconceito, embora a realidade tente nos mostrar o contrário.

A mídia poderia fazer a sua parte, como o fizeram, aliás, os dois veículos aqui mencionados. Outro exemplo: há alguns dias, a Folha Online publicou, com base em cartas natais, as chances dos principais candidatos a presidente nesta eleição. Os mapas foram analisados pela astróloga Barbara Abramo.

Deveria ser sempre assim. Mais debates apoiados em astrologia séria,ou ‘possível’ (como ponto de partida), menos perda de tempo com horóscopos absurdos, que, diz uma amiga minha, ‘pelo menos servem pra família brincar e bater papo sobre as previsões’. Uma espécie de ‘Almoço com as Estrelas’ (essa é tão velha quanto esta discussão, admito).

(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).”



CRÔNICA ESPORTIVA
Marcelo Russio

Repensando a imprensa esportiva, 26/09/06

“Olá, amigos.

Analisando alguns fatos na última semana, concluí a imprensa esportiva no Brasil precisa se reconstruir. Hoje somos uma turma de pessoas que amam o esporte e que trabalham naquilo que gostam. Logo, somos felizes por um lado, o de podermos estar em contato com o universo que nos fascina e no qual nos realizamos, ainda que como espectadores e contadores das histórias protagonizadas por aqueles que, de uma forma geral, não conseguimos ser.

Entretanto, este prazer que o esporte nos proporciona acaba nos deixando um pouco conformados com determinados problemas e situações contra as quais deveríamos lutar, reclamar e denunciar. As condições de trabalho da imprensa esportiva no Brasil são, acho, as piores possíveis. Não é raro nós nos amontoarmos em cima uns dos outros para ouvir as declarações de um atleta que está em uma zona mista de uma competição. Menos raro ainda é termos que lidar com entidades (clubes, confederações etc…) que nos vêem como inimigos, e não como parte de uma engrenagem que deveria fazer o clube colher o que ele planta por meio da sua administração.

Nossas entidades esportivas, hoje, ignoram a força que uma notícia tem para os seus ‘consumidores’, que são torcedores, que vão ou não a ginásios e estádios. A marca de um determinado esporte ou time pode ser, se bem trabalhada, exposta diariamente, a custo zero, em muitos veículos de comunicação. Basta, para isso, que esse clube seja noticiado de forma positiva. Alguns podem perguntar como isso é feito, e a resposta é simples: dando à imprensa a condição de trabalhar.

Nos clubes de futebol, que são o exemplo, a meu ver, mais clamoroso da falta de respeito com a imprensa, jogadores não têm em seus contratos cláusulas que os obriguem a conceder entrevistas à imprensa. Não digo que sejam obrigados a falar sempre que a imprensa quiser, pois isso iria contra a liberdade individual de cada atleta, mas que tivessem a obrigação de, já que recebem altas quantias por seus direitos de imagem, que representassem o clube diante das câmeras mais vezes do que acontece hoje em dia. É comum ver jogadores de futebol darem entrevistas após os treinos com uma má-vontade flagrante. Isso quando não fazem cara de poucos amigos ao serem convocados para as famigeradas coletivas.

Quando as entidades esportivas perceberem que as suas imagens podem ser bem noticiadas a custo baixo, e que esta é a chave para que se comece a fazer um clube profissional e lucrativo, aproveitando-se o maior bem de qualquer clube, que é a sua torcida, creio que a imprensa esportiva, em geral, será melhor tratatada. Mas, para isso, e aí entra um mea culpa, é importante que saibamos reinvidicar, que sejamos unidos em torno de melhores condições de trabalho, e que não nos acomodemos e achemos que é isso mesmo, que essa é a realidade. Posso garantir que não é, e nem precisa ser. Basta querermos que não seja.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.”



TELEVISÃO
Antonio Brasil

TVs na internet criam associação e exigem seus direitos, 26/09/06

“As TVs tradicionais, abertas ou por assinatura, enfrentam sérios problemas. O modelo está desgastado e decadente. A qualidade da programação cai, a audiência diminui e a competição aumenta. Dados recentes divulgados pelo Instituo Datanexus mostram que cada vez mais a Internet está tomando o lugar da televisão no Brasil. O aparelho de TV se transforma em uma velha máquina que só utilizamos quando queremos ‘emburrecer’.

Segundo pesquisa divulgada pela Forrester Research, ‘os internautas norte-americanos que tem conexão de banda larga em suas casas, assistem, semanalmente, duas horas a menos de televisão do que aqueles desconectados’.

Mas como todo meio hegemônico, a TV tradicional faz de tudo para manter a liderança.

No passado recente, foram as promessas não cumpridas das TVs por assinatura. Agora, tentam adiar o fim inevitável com um modelo de TV digital que já nasce velho. Mais do mesmo em sistema digital.

O futuro do meio televisivo se dirige para a convergência de todas as mídias na Internet. Por enquanto, chamamos esses veículos experimentais de TVs na Internet, WebTV ou IPTVs (TVs baseadas no protocolo da Internet).Mas no futuro próximo, essas emissoras sequer lembrarão as TVs como a conhecemos. Essas novas mídias devem se tornar grandes portais, super sites ou algo ainda completamente inimaginável para os pesquisadores do meio.

ABRAWEBTV

A cada dia, surgem milhares de novas TVs na Internet em diversas partes do mundo. Aqui no Brasil, foram criadas centenas de novas emissoras nos últimos anos. O meio se consolida, principalmente no mundo corporativo, emprega muitos profissionais e apresenta resultados expressivos. Dados recentes indicam 60 milhões de visitas por mês para as TVs na rede.

Mas apesar do grande sucesso, essas novas emissoras também enfrentam dificuldades. Além dos problemas comuns às novas mídias, as TVs na Internet são prejudicadas por uma legislação atualizada e pelo poder político e econômico das TVs tradicionais. A luta entre as velhas capitanias hereditárias televisivas e as novas emissoras da rede só está começando.

Esta semana foi anunciada a criação da Associação Brasileira de WebTVs, a ABRAWEBTV. A iniciativa é do nosso colega Aldo Luchetti, diretor da ALLTV (ver aqui www.alltv.com.br),um dos pioneiros do meio no Brasil.

No ar ao vivo desde 2002 a AllTV se transformou em um laboratório de novos conteúdos, linguagens e formatos tanto para a programação televisiva como para os telejornais. O premio Esso de telejornalismo de 2005 reafirmou o sucesso do novo meio.

Além da AllTV, participam da ABRAWEBTV a Climatempo TV, Multidirector, Super 8 e a TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira na Internet.

Objetivos e conteúdo

Agora, Luchetti quer organizar as TVs na rede para garantir seus direitos e enfrentar o poder de associações tradicionais como a ABERT, a associação brasileira de emissoras de rádio e televisão e a ABTA, representante das TVs por assinatura.

O estatuto da nova entidade está em fase de elaboração e já indica objetivos importantes a destacar:

– Defender os direitos, prerrogativas e garantias legais da difusão de sinais televisivos através de IP (Internet Protocol), visando ao seu incremento e ao seu desenvolvimento, sempre sob a ótica da liberdade de informação, da livre iniciativa e da democracia.

– Promover a defesa dos interesses de seus associados, do consumidor em geral ou de outros interesses difusos ou coletivos relacionados ao setor de atuação da associação.

– Examinar as portarias, ordens, normas de serviços, e diretrizes das autoridades reguladoras do setor, adotando, em relação às mesmas, as medidas, judiciais ou administrativas, que reputar adequadas.

– Desenvolver atividades educativas, sociais e culturais.

Mais democrática

Além de se organizarem, as televisões na Internet precisam se dedicar a aprimorar um conteúdo diferenciado, específico para o meio. O objetivo é oferecer ao publico aquilo que a TV tradicional (aberta ou segmentada) não oferece. As pessoas querem ver na rede o que não conseguem ou não lhes é permitido ver na TV. É preciso pensar e refletir sobre esse novo meio.

Para isso, a ABRAWEBTV o pretende organizar em breve o primeiro congresso brasileiro de TVs na Internet com o apoio do Instituto de Estudos de TV do jornalista Nelson Hoineff.

O futuro das emissoras na Internet é promissor. O maior desafio, no entanto, é evitar cometer os mesmos erros das TVs tradicionais. Há muitos anos, elas também prometeram muito e cumpriram pouco.

Hoje, além de lutar por seus direitos, as novas TVs na Internet têm a obrigação de fazer uma televisão se não melhor, pelo menos mais democrática.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.”



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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