Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

CASO ISABELLA NARDONI
Comunique-se

Audiência de telejornais cresce até 46% com cobertura do caso Isabella, 18/4

‘Daniel Castro, em sua coluna na Folha de S. Paulo, conta que a tragédia envolvendo a menina Isabella Nardoni, de cinco anos, morta em São Paulo em 06/04, colaborou para que a audiência de programas de TV crescesse até 46%. Ele cita o Brasil Urgente, da Band, como exemplo. O Jornal da Band chegou a atingir média de 7,5 pontos, um crescimento de 24%.

O Balanço Geral, da Record, registrou 25% de crescimento. A emissora, inclusive, deslocou 30 repórteres e produtores e 20 cinegrafistas para cobrir o caso.

Já a Globo, cuja equipe responsável pela cobertura é formada por 18 repórteres, oito produtores e 20 cinegrafistas, comemora um aumento de público de 9% para o Jornal Nacional, como o Jornal da Record, da emissora do bispo e empresário Edir Macedo.

Graças à cobertura do crime, na parte da manhã a Record assumiu a liderança.

A Band tinha de três a dez equipes (repórter e cinegrafista) se dedicando ao crime. Algumas vezes, chegou a ter mais cinco produtores. O SBT mobilizou quatro repórteres e sete cinegrafistas – em São Paulo há nove repórteres.’

TV PÚBLICA
Marcelo Tavela

Definida a comissão que analisará demissão de Luiz Lobo da TV Brasil, 18/4

‘O Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) já definiu os três componentes da comissão corregedora que analisará a demissão do ex-editor-chefe do Repórter Brasil, Luiz Lobo. O jornalista afirmou que há interferência do Palácio do Planalto na postura editorial da TV.

A comissão, formada por integrantes do conselho, terá como relator o advogado José Paulo Cavalcanti Filho, especialista em legislação de imprensa e presidente do Conselho de Comunicação Social do Congresso. Os demais integrantes são o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo e a diretora do Museu Goeldi, de Belém, Ima Célia Guimarães Vieira.

´A comissão está formada, mas o João Paulo é quem determinará o ritmo de trabalho. Eles começarão assistindo aos telejornais do período citado por Lobo e compararão com os de outras emissoras´, explica Luiz Gonzaga Belluzzo, diretor do conselho. O jornalista demitido e a diretora de jornalismo da EBC, Helena Chagas, serão ouvidos pela comissão.

Belluzzo espera que o trabalho da comissão esteja concluído até a próxima reunião do conselho, no dia 13/05. ´Mas não posso exigir. Caso contrário, convoco uma reunião extraordinária´, completa.

Os dois lados

Lobo disse, em entrevista à Folha de S. Paulo, que há um ´cuidado além do jornalístico` na TV Brasil. Afirmou que não pôde usar o termo ´dossiê` em reportagens sobre os dados reunidos pela Casa Civil sobre os gastos do governo anterior, e que teve que incluir a derrubada da CPMF em matéria sobre o orçamento da saúde. Lobo sustenta que Jaqueline Paiva, chefe dos telejornais e casada com um assessor do Planalto, alterava seus textos.

Helena Chagas diz que todas as alterações seguiram preceitos jornalísticos, e que o dossiê foi abordado todos os dias pelo Repórter Brasil. Jaqueline Paiva está processando Lobo, com apoio da EBC. A TV Brasil informa que Lobo foi demitido por se recusar a assinar o contrato de trabalho, e por chegar diversas vezes fora do horário.

Audiência na Câmara

A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados também aprovou requerimento para ouvir Lobo no início desta semana. Na véspera, o jornalista informou que não poderia comparecer, e a audiência acabou cancelada.

Uma nova data será marcada. Helena Chagas também será ouvida.’

TV CULTURA
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Líllian Witte Fibe estréia em junho à frente do Roda Viva, 18/4

‘Pela terceira vez, o Roda Viva, da TV Cultura, terá uma apresentadora. Líllian Witte Fibe estréia em junho à frente do programa, substituindo Carlos Eduardo Lins da Silva, novo ombudsman da Folha de S. Paulo. Até lá, algum profissional da Cultura ficará interinamente no cargo. Segundo a assessoria de imprensa do canal, o nome ainda não está definido.

Lillian contou ao Comunique-se que foi justamente o fato de nunca ter feito um programa como o Roda Viva que a fez aceitar o convite do presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, Paulo Markun. ´Recebi várias sondagens, mas nada que tenha me motivado profissionalmente. Sempre gostei de hardnews, mas fazer algo diferente vai ser ótimo´.

Lillian vinha se dedicando à sua agenda como freelancer. E confessa que pensou com carinho em deixar o ritmo mais calmo de lado para voltar à TV. ´Não estava nos meus planos, neste momento, voltar a fazer televisão. Estou feliz com a decisão´.

A experiência de Líllian na TV inclui Jornal do SBT, Jornal da Globo e Rede Bandeirantes. Fez comentários de economia nas rádios Excelsior e Bandeirantes AM. Em jornal, passou pela Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil. Foi diretora-responsável pelo noticiário multimídia do Portal Terra, o Jornal da Lílian. Também foi âncora do UOL News.

As outras apresentadoras do Roda Viva foram Roseli Tardelli e Mona Dorf.’

 

MÍDIA NA JUSTIÇA
Comunique-se

Paulo Henrique Amorim recorrerá contra Mainardi, 18/4

‘O jornalista Paulo Henrique Amorim anunciou em sua página, o Conversa Afiada, que vai recorrer a instâncias superiores contra a decisão da juíza Michele Pupullin, do TJ-SP. A magistrada absolveu Diogo Mainardi, colunista de Veja, de processo movido por Amorim na esfera criminal. Outro processo, na área civil, teve a causa ganha por Mainardi na primeira instância.

As ações são motivadas por coluna de Mainardi, publicada em 06/09/06, em que é afirmado que Amorim está na fase descendente de sua carreira, e que o iG o contratou por R$ 80 mil oriundos de fundos de pensão de empresas públicas. Amorim diz que juntará o rompimento do iG ao processo para derrubar o nexo causal.

Leia a íntegra do Esclarecimento IV, escrito por Amorim

ESCLARECIMENTO IV

Meus advogados decidiram recorrer à instância superior da decisão de uma juíza que deu ganho de causa a Diogo Mainardi, na ação que movo contra ele no Crime. Mainardi, um ´colunista sela´, como diz o Luis Nassif, disse em sua coluna da Veja que eu escrevia a soldo dos Fundos de pensão, do PT e de Luiz Gushiken, enquanto trabalhei no iG. Meus advogados ajuntaram ao processo a notificação do iG que rompia o meu contrato e, por obra de Caio T. (´T` de Tartufo) Costa, me tirava fisicamente do ar. Meus advogados argumentaram que aquela notificação derrubava o ´nexo causal` do ´colunista cela´. A juíza considerou que aquilo era, apenas, uma ´questão de estilo` de Mainardi. Uma instância superior reavaliará essa decisão. Ou seja, Mainardi ainda pode dormir atrás das grades.’

HOMENAGEM
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Lula sanciona a Ordem do Mérito das Comunicações Jornalista Roberto Marinho, 18/4

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou na quarta-feira (15/04) a troca da denominação da Ordem do Mérito das Comunicações para Ordem do Mérito das Comunicações Jornalista Roberto Marinho. A lei 11.655 foi publicada ontem no Diário Oficial.

A comenda foi criada em 1982 por decreto do então presidente João Baptista Figueiredo para homenagear personalidades de destaque do setor. Já a proposta para o complemento no nome foi lançada pelo senador Marco Maciel (DEM-PE) em 2004, pouco depois da morte do jornalista.’

COMEÇANDO CEDO
Carla Soares Martin

Colégio de São Paulo dá aula de jornalismo no Ensino Médio, 18/4

‘Com um MP3 numa mão e duas folhas de caderno com as rebarbas de papel na outra, a estudante Amanda Fechter, de 16 anos, sobe correndo as escadas para a sala, onde vai participar de uma aula de Comunicação e Jornalismo. Finge que não, mas está ansiosa para relatar aos colegas seus três textos – feitos à caneta – que o blog a ser criado pela turma vai divulgar. A aula faz parte da grade curricular do Colégio Friburgo, na Zona Sul de São Paulo. A escola particular oferece aulas de jornalismo, cinema e tevê para o 1º e 2º ano do Ensino Médio.

Tudo começou em 2006, quando o jornalista Francisco Ucha, hoje responsável pelo Departamento de Comunicação do colégio, foi convidado para dar aula de Jornalismo no Programa de Formação para o Trabalho e Cidadania (PFTC), uma espécie de aula complementar. As aulas são de 50 minutos por semana.

A proposta segue a metodologia da escola, explica a coordenadora pedagógica Iracy Garcia Rossi, de apresentar uma profissão aos alunos, mas também de exercitar a escrita – sensibilizar os alunos para as ´questões` da sociedade.

´Qualquer profissional hoje em dia precisa de uma boa forma de se comunicar´, justifica Iracy. E complementa: ´O jornalismo também sensibiliza para que o aluno conheça a realidade, as diferenças sociais, de atuar de forma contributiva´.

Primeira aula

Logo no primeiro dia de aula, Ucha lançou aos alunos: ´Sabem o que é expediente?` Perguntou, conta, porque adorava, quando criança, olhar quem tinha feito o jornal. ´Expediente de trabalho?´, um deles respondeu.

O jornalista enfrentou um pouco de dificuldade de falar de jornalismo. Muitos não queriam escrever um ´jornalzinho do colégio´, como explica Milena Barbosa de Campos Whitaker, hoje com 17 anos. Daí, Ucha usou uma isca: por que você não escreve sobre o que gosta? Milena aprovou. ´Escrevo melhor do que falo e uni as duas coisas: minha paixão pela música e meu talento por redação´, diz.

O texto da aluna, ´A música de nossas vidas´, saiu no jornal Pára Tudo!, feito pelos alunos em 2006. Lá, escreve: ´Para muitos, música é apenas um som para curtir, escutar, cantar, dançar.` Mas para ela é diferente: ´Eu a vejo como uma inspiração de vida, uma forma de expressão dos nossos pensamentos para o mundo, uma forma de reflexão sobre muitas coisas´.

Chaves versus jornalismo

Mesmo sem saber que o seriado Chaves tomou na semana passada o lugar o Aqui Agora, o aluno Thiago Bertholino Rodrigues, de 15 anos, solta na aula desta terça (15/04): ´Chaves é cultura´. Defende o humorístico, com o qual Ucha concorda: ´Chaves tem história, é crítica social´.

Thiago está gostando das aulas de comunicação. Comenta que assiste ao Jornal Nacional, na companhia dos pais, e faz sua análise: ´É interessante, dinâmico e dá notícias do mundo todo´.

Na sala ao lado…

Na sala do 1º ano, lá está o jornalista Marcos Stefano dando aula sobre Introdução ao Jornalismo. Fala das rotativas, do linotipo, de Gay Talese. Encontra eco na fala de Beatriz de Campos Buccolo, de 15 anos. ´Qual é a diferença de um texto escrito de um texto jornalístico?` Beatriz responde:´Um texto jornalístico precisa comprovar, falar com pessoas para diferentes opiniões´.

Escritora desde os sete anos, a estudante adorou a oportunidade de estudar Jornalismo na escola. Quer seguir profissão. ´Tenho muita coisa para falar´, explicar. ´Quero mostrar que o mundo não tem que ser quadrado, como muita gente pensa´, diz, à altura de seu tênis all star.’

BLOGOSFERA
Comunique-se

Jornalistas brasileiros usam blogs para contar experiências no exterior, 18/4

‘Num país distante, com língua e sociedade diferentes, o blog é uma opção para o jornalista se aproximar do seu idioma nativo e compartilhar com seus leitores as experiências de lidar com uma nova cultura.

Foi assim que o blog do freelancer, Richard Amante, há quase um ano na China, ficou conhecido. Amante na China traz posts sobre a experiência do jornalista no país, além da Mongólia. ´Só fiz divulgação para os meus amigos. Hoje tenho acessos do mundo inteiro, recebo mensagens diariamente, e quem quer vir pra China encontra no blog um espaço pra tirar dúvidas e se preparar melhor a viagem´, relata.

A partir da próxima semana, Amante deve lançar outro blog, o Amante em Pequim, parte do trabalho que faz como freelancer para o SporTV e Globoesporte.com.

Para Amante, a liberdade de expressão na China, que sempre esteve atrelada aos blogs, é algo frágil. Conta que a cobertura é muito limitada no país. ´A internet é muito censurada. Sites e blogs saem do ar a todo instante sem explicação nenhuma. Revistas são distribuídas com páginas arrancadas, canais de TV são bloqueados, mas já me disseram que foi pior´, relata.

Paris na Linha, o blog de Elói Silveira, conta as experiências do jornalista na capital francesa. Elói já trabalhou no UOL Esporte, Gazeta Esportiva, Tenisbrasil e agora é freelancer da área esportiva e de revistas de viagem.

´Acho que todo jornalista é, naturalmente, um aficionado por escrever, então ter um blog de assuntos diversos pode ser importante para que ele quebre a seriedade de sua profissão, explorar temas diferentes e que às vezes ficavam guardados no fundo da pasta de idéias da cabeça´, afirma ele.

A jornalista Manoela Maia trocou Maceió por Nova York e atualmente posta o NYC Week, e conta detalhes da imigração e da adaptação no novo país, além de histórias curiosas da cidade. ´Estou muito feliz porque tenho recebido muitos elogios. Algumas pessoas estão me incentivando a escrever um livro´, conta ela.

Blogs e carreira

Muitos jornalistas afirmam que os blogs podem ajudar a se projetar na carreira. Leila Couceiro, que atualmente vive na Califórnia, e posta no Stuck in Sac, acredita que as empresas de comunicação estão atentas aos blogs e que a audiência deles pode atrair propostas de trabalho na mídia.

´Eles percebem que o autor tem possibilidade de atrair audiência para o seu veículo. Além disso, pessoas que não estão empregadas em nenhum veículo de destaque, e conseguem fazer um nome na blogosfera, muitas vezes acabam ganhando convites para trabalhos frilas ou mesmo empregos tradicionais na mídia´, afirma Leila.

Elói Silveira também vê os blogs como uma boa opção para encontrar novas oportunidades na carreira. ´E´, sem dúvida, um dos melhores cartões de visita que você pode ter´.

O estímulo

Amante afirma que começou a escrever para relatar suas experiências na China e na Mongólia. Para ele, o blog possibilita a publicação de material que não foi veiculado nos veículos tradicionais, além de contado com o público. ´O blog é uma ferramenta que coloca o jornalista mais perto do leitor, é onde ele tem um retorno mais efetivo e imediato sobre o que publicou. Também serve pra mostrar que o nosso trabalho é maior que aquilo que aparece na mídia´, afirma.

´No meu caso especi´fico, o blog serve muito para que eu mantenha ´contato` com a escrita. Como moro na França e estudo a nova li´ngua desde que cheguei, é natural que deixe de lado um pouco o português para me dedicar ao francês, então o blog acaba sendo uma forma de exercitar meu texto´, afirma Elói Silveira.

Já Leila começou a escrever em blogs em 2004, por conta da mobilização gerada pelos blogs de política americanos, cobrindo a disputa entre Kerry e Bush. ´O fenômeno que ocorreu, a partir de 2004, é que milhões de pessoas passaram a usar os blogs como fonte diária de informação, leitura, debate, expressão. O blog deu mais poder ao cidadão comum, jornalista ou não, de influenciar a opinião pública´, conta ela.

Manoela criou seu blog de uma forma bem espontânea, para informar a família e os amigos das novidades. ´Criei o blog porque sentia a necessidade de compartilhar as experiências vividas aqui em Nova York. No início mandava e-mails enormes para minha família como forma de diminuir as saudades e também para contar as novidades. Então os textos foram ficando interessantes e eu resolvi criar o blog´, conta ela. ‘

PRISÃO DE CABRINI
Carla Soares Martin

Cabrini: ´Trabalharei com o mesmo empenho´, 17/4

‘O jornalista Roberto Cabrini, libertado às 20h40min desta quinta-feira (17/04) graças ao habeas corpus concedido pela Justiça do Estado de São Paulo, disse que ´trabalhará com o mesmo empenho´, ao se referir à suposta armação que teria caído ao tentar receber DVDs que comprovariam uma entrevista feita com o líder do PCC, Marcos Camacho, o Marcola, em 2006.

Cabrini estava preso desde a noite de terça-feira (15/04), quando a polícia diz ter encontrado cocaína em seu carro no Jardim Herculano (Zona Sul de São Paulo). Junto com o jornalista, estava Nadir Dias da Silva. Cabrini diz que o encontro se deu para pegar os DVDs, enquanto Nadir comenta que estava no carro para devolver um pen drive no qual mostra o jornalista consumindo cocaína.

´Há uma série de coisas sobre as quais não estou feliz´, afirmou Cabrini, no momento da soltura, sem enunciar quais seriam elas.

O jornalista reiterou também que Nadir, que estava em sua companhia, era uma fonte.

A juíza Maria Fernanda Belli, do DIPO (Departamento de Inquéritos Policiais), da cidade de São Paulo, concedeu o habeas corpus ao jornalista. Ele responderá ao inquérito em liberdade.’

 

Milton Coelho da Graça

A Globo e a prisão de Cabrini, 18/4

‘Perguntei a um jornalista da TV Record o que o pessoal de sua redação havia achado do ´capricho` com que o Jornal Nacional e o Jornal do Globo noticiaram a prisão de Roberto Cabrini. Resposta enigmática: ´Todo mundo gostou. Pena não terem noticiado com o mesmo empenho as razões do afastamento de Glória Maria do Fantástico.

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A Record e a prisão de Cabrini

A Record apoiou sem vacilação seu recém-contratado Cabrini, afirmando que ele estava em missão jornalística. Cabrini também deu essa explicação à polícia e se diz vítima de ´armação` – hipótese bastante possível diante da natureza do programa que pretende fazer – reportagem investigativa. Cabrini também declarou à policia não ser usuário de drogas, mesmo sabendo que isso poderia agravar a acusação. Fico com ele e o juiz que o soltou até alguém provar que estamos errados.

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Bucci, Radiobrás e TV Brasil

A Radiobrás foi criada como empresa de comunicação do governo federal, tendo como herança inicial a Voz do Brasil, criada no Estado Novo. Eugênio Bucci, em seu interessante livro ´Brasília 19 horas´, revela completa inocência política ao afirmar que aceitou o convite para presidir a empresa com uma orientação de ´imparcialidade, apartidarismo e objetividade´. ´O crivo para as matérias mudou: o jornalismo para o interesse do cidadão tornou-se a prioridade´.

Muito louvável tornar realidade essas idéias? Ele mesmo responde no livro, após sair da Radiobrás: ´Para que o jornalismo seja viável, o governo deve ser mantido a quilômetros de distância da redação.´

Acompanhei o esforço de Bucci, até porque, como superintendente de Jornalismo da TVE sob a presidência de Walter Clark, procurei também seguir os princípios de ´imparcialidade, apartidarismo e objetividade` também seguidos como editor-chefe e diretor de redação de vários jornais e revistas editados por empresas privadas. Fui também diretor de jornalismo na TV-Corcovado (depois integrada à Record) e pedi demissão no exato momento em que o proprietário me pediu para adiar o lançamento do jornal da noite ´porque queria ver antes e ter certeza de que não iria perder a concessão por causa do jornalismo´.

Mas, diferentemente de Bucci, nunca também deixei de entender que, no mundo inteiro, a comunicação é organizada pelos interesses dominantes na sociedade e segundo um outro princípio: ´para que o jornalismo seja viável, o patrão – seja o governo, seja a empresa privada – não aceita ser mantido à distância´.

Leio O GLOBO desde 1935 (fui alfabetizado muito cedo porque meus pais eram analfabetos, queriam acompanhar a guerra civil espanhola e torcer pela vitória do general Franco), trabalhei lá quase dez anos, até hoje sou assinante do jornal. Mas quase nunca li os editoriais, nem mesmo quando editava o jornal. Roberto Marinho falava comigo quase todas as noites para saber como estava a primeira página e aí se dava o acerto entre a idéia de fazer o melhor jornal possível para o leitor sem ferir os interesses do dono. Nunca foi uma relação fácil, mas acredito firmemente que esse seja o único caminho possível para conciliar duas vontades, freqüentemente conflitantes.

Sociedade e jornalistas podem e devem criar mecanismos de vigilância sobre os princípios que devem reger a comunicação em todos os meios – inclusive a internet. Confiar apenas em auto-regulamentação – como os donos da televisão e do rádio conseguiram em nosso país – é prejudicial para todos, até para as próprias empresas(mas isso é outra discussão, que não cabe neste artigo).

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’

QUESTÃO
Bruno Rodrigues

Jornalismo é redação ou apuração?, 16/4

‘A questão é antiga, e separa o joio do trigo, quem vive do passado de quem enxerga o futuro: Jornalismo, afinal, é redação ou apuração?

Sempre esbarro nesta questão – e olhe que minha área é a mídia digital! Mas há tempos já deu para perceber que a eterna questão das redações esfumaçadas sobrevive e chegou à era do Jornalismo Online. Infelizmente.

Papo vai, papo vem, em toda entrevista que fazem comigo – como a do novo portal Newwws.com.br (vale uma lida depois) – citam o Jornalismo como sinônimo de redação. Eu respiro fundo e corrijo a observação.

Para mim, é de uma profunda pobreza de espírito associar – diretamente, é claro – a atividade jornalística à redação. E é perigoso, também.

Não é todo mundo que escreve (e é publicado) que é jornalista. Alguma novidade até aí? Nenhuma. Mas, bem sabemos, esta é uma questão tão batida quanto mal-resolvida. E, portanto, tremendamente escorregadia.

Não há um redator empresarial, por exemplo, que não tenha passado pela clássica situação em que um gerente qualquer diz à queima-roupa que ´se tivesse tempo, escreveria uma matéria´. Engolimos essa e outras mais, e vamos em frente.

Se ele poderia escrever? É claro que sim. Digo escrever, redigir. Mas pára por aí. Mesmo assim, poderia até sair um texto razoável. É exceção? Ah, sim, claro que é – mas longe de ser impossível um gerente produzir um bom texto.

Muito cuidado com o que valorizamos em nossas atividades! Um jornalista não é jornalista porque ele tem um bom texto.

Como eu disse à Newwws:

´(…) É o cúmulo, em pleno século 21, continuarmos a associar Jornalismo a ´saber português´. (…) Assim como outros conhecimentos básicos, o ´saber a língua` é essencial. Mas este é o feijão-com-arroz da atividade. O que faz do jornalista um profissional único é a capacidade de apuração; este, sim, é o conhecimento e a técnica que se aprende e desenvolve, e aquele que tem poder de transformar a sociedade. Se o jornalista continuar a focar apenas na redação, esta será uma atividade sem futuro (…)´.

Complementando que eu disse, Jornalismo é páreo, sim, para Medicina ou Direito, desde que o profissional assuma que o principal em sua profissão é o talento e a técnica da Apuração (coloquemos em letra maiúscula, mesmo, ela merece).

Não acredito na sobrevivência do Jornalismo como ´fabriqunha de textos´. O texto jornalístico é a conseqüência, o pôr no papel o que foi apurado. E ponto final. O que faz do jornalista um profissional único e fundamental é a apuração. Estilo? Talento? Claro que são importantes, amigos, mas não vamos cair na armadilha do olhar para o umbigo, sempre.

Esta mesma visão eu tenho do Jornalismo Online que, para mim, é um conjunto de novas ferramentas para se apurar e divulgar uma informação. Definitivamente, Jornalismo Online não é sinônimo de Webwriting, minha área de pesquisa e dedicação diária. Texto deste lado, apuração do outro, seja na mídia impressa ou na digital. São como pai e filho, sempre respeitando a hierarquia, cada um sabendo o seu lugar.

Às vezes, penso que falta ao jornalista pensar em quão especial ele é. Seria uma questão de ego ou de bolso?

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Pronto: finalmente meu curso ´Webwriting` retornará a São Paulo, via JumpEducation, onde serei responsável pelo primeiro módulo do treinamento ´Gestão da Informação Digital´. Farei dobradinha com o amigo Guilhermo Reis, que irá ministrar o módulo ´Arquitetura da Informação´. O curso acontecerá nos dias 16 e 17/05; para mais informações, basta ligar para 0xx 11 5012-5939 ou enviar um e-mail para amagalhaes@jumpeducation.com.br.

Enquanto isso, aqui no Rio, para quem quiser ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é só entrar em contato pelo e-mail extensao@facha.edu.br ou ligar para 0xx 21 2102-3200 (ramal 4) para obter mais informações sobre meu curso ´Webwriting & Arquitetura da Informação´.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ´Webwriting – Pensando o texto para mídia digital´, e de sua continuação, ´Webwriting – Redação e Informação para a web´. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ´Webwriting` do ´Dicionário de Comunicação´, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

O nariz do Cabrini

‘Eu sou de um tempo

distante, o chamado

tempo do onça…

(Psicografado por Carlos Alberto L. Andrade)

O nariz do Cabrini

Disseram por aí, e ainda publicaram, que Roberto Cabrini foi preso com papelotes de cocaína. Janistraquis aposta duas galinhas poedeiras e um galo carijó adquirido recentemente que o pó não era para consumo do portador:

´Considerado, quando conheci Cabrini, há muitos e muitos anos, ele ostentava um poderoso nariz adunco; mais tarde, trocou-o por este mais discreto que exibe até hoje. Ora, quem trata o nasal com tantos cuidados e carinhos não vai maltratá-lo com carreiras e cheiradas!´

Procede.

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Delmar Marques

A coluna lamenta profundamente a morte do considerado Delmar Marques, polêmico leitor que acalorava a área de comentários em inesquecíveis debates.

Delmar, profissional competente e intelectual de respeito, ficou a nos dever alguns de seus poemas para que fossem publicados aqui, como temos feito com inúmeros colegas nossos.

Trocamos mensagens, Delmar prometeu enviar os versos, porém adoeceu e surgiram outras prioridades.

Sempre haveremos de chorar a ausência do poeta.

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Tempo do onça

Leia no Blogstraquis a íntegra da preciosidade intitulada Bons Tempos, cujo excerto encima esta coluna. Quem a enviou foi o considerado Luís Carlos Ladeia, jornalista paulistano, o qual atesta a origem do ´fenômeno psíquico´.

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Húngaro botafoguense

O considerado Roberto Porto, que abriga sob as cãs a história do futebol brasileiro e hoje distribui talento no site Direto da Redação, festeja a mensagem recebida de um admirador, patrício do craque Ferenc Puskas, o qual lhe pede fotos do campeão carioca de 1961, do vice-campeão do Rio-São Paulo do mesmo ano e ainda do campeão do Rio-SP de 1966.

Quer dizer: o Dr. István Egresi, de Budapeste, é, assim como o radialista Fedor Kurepin, do Casaquistão, apaixonado pelo Botafogo e pretende comemorar em castiço propósito o título de campeão carioca deste ano, com uma vitória sobre o Fluminense e mais duas na final, contra o Flamengo.

Robertão torce para que o húngaro não seja um tremendo pé-frio…

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Ética na gaveta

Imprensa Histérica, Informação Prejudicada é título do livro do jornalista Alexandre Monteiro Barboza que a coluna recomenda a todos, principalmente estudantes de Comunicação. Trata-se de uma análise da cobertura de O Globo e Jornal do Brasil sobre o atentado que destruiu as torres gêmeas em 11 de setembro de 2001.

A pesquisa revela que os dois jornais quiseram sair na frente com a notícia, ´mas esqueceram o código de ética na gaveta e perderam de vista o dever da imprensa, que é mostrar todas as versões do fato e analisar os conflitos e as hipóteses.´.

Barboza esclarece que o livro, de 91 páginas, editado pelo Armazém Digital, procura analisar o posicionamento editorial, as fontes jornalísticas, as agências de notícias e o trabalho dos correspondentes.

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CPI neles!!!

O considerado Elpídio Cintra, advogado paulistano, leu no excelente Meio&Mensagem Online:

Secom vai contratar empresa de comunicação

A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República deverá publicar edital no próximo dia 29 para contratação da empresa de comunicação, imprensa e relações públicas, que vai atuar na divulgação das potencialidades do Brasil no exterior.

O objetivo é contar com uma estrutura de comunicação que atue para ´mostrar a institucionalidade do País´. Ou seja, atuar na promoção junto a possíveis investidores, de modo que possam direcionar seus recursos para os negócios no Brasil.

Cintra não apensou comentário algum, porém Janistraquis, que parou de beber, assim se manifestou, com a voz pastosa dos discursos presidenciais:

´Considerado, por que cargas d´água a Secretaria de Comunicação, repito, Comunicaçãããããão, precisa de uma assessoria de comunicação, repito, comunicaçããããããooooo?!?!?!´

Boa pauta para uma mini-CPI. No Senado, é claro.

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Bela frase

O considerado Bolívar Lamounier, o melhor entre os melhores cientistas políticos do Brasil, enviou aquela que ele considera (e nós também!) a mais representativa frase do atual e repugnante momento político:

´É tamanha a ânsia do governo em blindar a ministra Dilma Rousseff que ela poderá ser incluída no Programa de Proteção a Testemunhas.` Vic Pires, deputado (DEM-PA)

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Coisa de doido!

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre o preternatural é possível ver o povo a comer tanto, mas tanto, que a inflação foi pro espaço, pois Roldão lia o Correio Braziliense antes do almoço quando foi obrigado a engolir esta, publicada na editoria Mundo:

Estado festeja safra de investimentos

Por clientelismo ou pragmatismo, o fato é que Pernambuco vive um boom (sic) de investimentos. Suape terá planta (sic) de PTA (?) da Petroquímica Suape, um investimento de R$ 1 bilhão, em obras. A fábrica de POY (?), de R$ 544 milhões, está para ser iniciada.´

Roldão, mesmo com toda a experiência que a vida lhe deu, ficou impressionado:

O jornal, ao usar as abreviaturas PTA e POY, jargão na área petroquímica, mas ignoradas pelo grande público, cometeu duas charadas com seus leitores. Nem eu, que já fui químico, me lembro mais o que significam. E mais: em português, ´planta` não é (ainda) sinônimo de fábrica. Há muitos anos falamos e escrevemos ´usina´.

De todas essas abreviaturas, Janistraquis só conhece POY, que foi um grande goleiro do São Paulo (Poy, De Sordi e Mauro…)

Ao considerado leitor

Nas próximas colunas, é possível que o amigo encontre uma e outra notinha já publicada aqui. É que o computador sofreu um reboot e todo o trabalho do colunista ficou prejudicado; foi como se alguém metesse massa de pão no liquidificador e de lá extraísse uma sopa de letrinhas.

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Miss Brasil

Janistraquis, que apesar da velhice e da saúde precária ainda gosta de mulher, foi dar uma espiada nas candidatas a Miss Brasil e ficou abestalhado com a derrota daquela que seria, na opinião dele, ´pule de dez` no concurso de Miss Universo, a Miss Ceará, bela mocinha, cheia de vida, esfuziante e… surda-muda:

´Considerado, neste mundo politicamente correto, quem iria votar contra uma linda surda-muda que se comunica por sinais? Pois deixaram a menina em segundo lugar, o primeiro foi pruma gaúcha, muito bonita, sim, mas bonita como tantas e tantas outras, aqui e lá fora.´

Achei natural a derrota do silêncio num país onde se fala pelos cotovelos.

(E, sob o título Turbinada, a sempre bem-informada Fabíola Reipert, do jornal Agora e da Folha Online, ainda fez as seguintes revelações sobre a vitoriosa:

A miss Rio Grande do Sul, Natália Anderle, que virou miss Brasil, tem também silicone no bumbum, além dos seios. A miss também retirou duas costelas para afinar a cintura, fez plástica no nariz, lipoaspiração, e usa dentes de porcelana.)

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Paraense errado

O considerado Marco Antonio Zanfra, assessor de imprensa do Detran de Santa Catarina, despacha de seu moderníssimo QG:

Desta vez, o Diário Catarinense se suplantou, ao publicar sob o título Catarinense morto pela polícia ganha estátua no RJ:

´O estudante catarinense Édson Luiz Lima Souto, morto por um militar no dia 28 de março de 1968, ganhou estátua ontem no Centro do Rio de Janeiro.´

Ora, nem é preciso ser conhecedor da história recente do Brasil para saber que o mártir do restaurante do Calabouço era paraense, nascido em Belém em 24 de fevereiro de 1950. Aliás, a ´repórter especial` do Diário poderia muito bem ter consultado o Google, para evitar o desconforto.

Não sei de onde a repórter tirou a informação errada, pois até o sotaque da mãe do estudante, ouvida na festa de inauguração, denunciava sua origem geograficamente muito acima de Santa Catarina.

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Flávio Prado na Pan

O considerado Jarbas Alexandrino, advogado em Bauru e torcedor do São Paulo, festejou a vitória de seu time contra o Deportivo Luqueño, quarta-feira, 2/4, no Morumbi, suado 1 a 0, gol do ´imperador` Adriano, e depois foi escutar a Jovem Pan, o que estragou sua festiva noite:

´Meu amigo, o que Flávio Prado criticou o imperador não é coisa de comentarista; o cara deve ser um tremendo invejoso, pois já o ouvi meter o pau em vários craque vencedores.´

Olhe, Alexandrino, Janistraquis e o colunista conhecem Flávio Prado há muitos anos e podem garantir que ele nunca teve nada de invejoso; é, isto sim, ri-go-ro-so.

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Nota dez

Nove entre dez leitores desta coluna votaram no artigo do considerado Francisco Weffort, publicado em O Globo, cujo segundo parágrafo acende o fogaréu:

É conhecida a ojeriza de Lula a qualquer controle sobre gastos. Evidentemente os dele, da companheirada do PT, dos sindicatos e do MST, sem esquecer um sem-número de ONGs sobre as quais pesam suspeitas clamorosas.

Leia no Blogstraquis a íntegra do texto deste brilhante sociólogo, ex-secretário-geral do PT e que também foi ministro da Cultura no governo de Fernando Henrique.

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Errei, sim!

´ESTILO GEISEL – O leitor Sérgio Armando Cruz Marcondes, de São Paulo, visitou Natal e trouxe esta preciosidade da Tribuna do Norte: ´O empresário Diran Ramos do Amaral, 49 anos, morreu ontem à tarde, na Casa de Saúde Dix-sept Rosado, onde já chegou sem vida ( … ).´

Janistraquis comentou: ´Considerado, aqui temos duas tragédias; uma, a morte do Diran, que era tão jovem; outra, o atentado violento contra o bom jornalismo´. É verdade; se o empresário ´já chegou sem vida` ao, com perdão da palavra, nosocômio, como poderia ter ali falecido?

Meu secretário escreveu ao nosso querido amigo Woden Madruga, grande colunista da Tribuna, pedindo que interceda junto à Redação. ´É preciso enquadrar o pessoa!!´, vociferou Janistraquis, bem ao estilo do ex-presidente Geisel. (julho de 1992)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ´Carta a Uma Paixão Definitiva´.’

DE MUDANÇA
Eduardo Ribeiro

Editora Abril perde Laurentino Gomes para a literatura, 16/4

‘Não chega a ser um fato incomum o jornalismo perder um de seus bons quadros para a literatura, como provam nomes hoje acima do bem e do mal, como Ruy Castro, Fernando Moraes, Ignacio de Loyola Brandão, todos do primeiro time de escritores brasileiros. A eles, a partir de agora, se junta Laurentino Gomes, paranaense que está há 22 anos na Editora Abril, onde construiu uma sólida carreira, sem contar um período menor que passou no Grupo Estado. Casado com a jornalista e psicóloga Mara Ziravello, ele vê agora sua filha, Camila Gomes, do primeiro casamento, dar os primeiros passos no jornalismo, possivelmente inspirada nos seus próprios passos. Querem saber o que ela pensa sobre ´ser jornalista´?

– É ser curioso, interessado. É ter uma vontade contínua de saber mais, de descobrir o mundo que nos rodeia, estar sempre disposto a aprender e passar adiante a informação de forma consciente.

Teria se inspirado no pai, por acaso?

Escritor de uma única obra, o best-seller ´1808´, que já rompeu a casa dos 300 mil exemplares vendidos no Brasil e dos 30 mil em Portugal, um feito histórico, Laurentino abandona a carreira e as redações para se dedicar exclusivamente à literatura, pela excepcional oportunidade que o destino lhe reservou. E o faz com a pretensão de escrever uma nova obra, de preferência de uma época próxima à do seu livro ´1808´, ou seja, entre a Conjuração Mineira, no final do Século 18, e a Independência, no começo do Século 19.

E não é dizer que ele larga qualquer emprego, não. Ele deixa a Superintendência de uma das mais fortes Unidades de Negócios da Abril, a II, responsável pelos resultados de núcleos, como Homem, Casa e Construção, Infantil, Celebridades, Motor Esportes e Turismo, entre outros. Mais do que isso, abre mão de salários e benefícios da maior editora de revistas do Hemisfério Sul, para viver de um ofício onde poucos se impuseram. Mas está consciente e certamente decidiu seguir à risca o que o poeta e compositor Geraldo Vandré recomendou no hino que marcou a resistência à ditadura militar, nos anos 1970, em seu Pra não dizer que não falei de flores, que também se conhece como Caminhando: ´Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!´

Laurentino falou com exclusividade a este Jornalistas&Cia, em entrevista reproduzida a seguir:

Jornalistas&Cia – Quando escreveu 1808 chegou a imaginar que ele seria o sucesso que foi?

Laurentino Gomes – Em trinta anos de carreira, esta foi a reportagem mais profunda e exaustiva que fiz. Durante dez anos, li ou pesquisei cerca de 150 livros para escrever 1808. Foi, portanto, um trabalho feito com muito carinho e dedicação, mas nem nos meus sonhos mais delirantes imaginei que o livro teria essa repercussão. Meu plano inicial, que considerava ambicioso, era vender 20 mil exemplares. Isso num mercado cuja venda média de livros não passa de 1.500 exemplares por título. Para minha grande surpresa, está há sete meses em primeiro lugar da categoria não-ficção e, na lista geral, à frente de O Segredo, um dos maiores fenômenos da literatura de auto-ajuda. Até agora já foram mais de 300 mil exemplares vendidos e a editora acredita que pode chegar a meio milhão até o final do ano, o que faria dele o livro de autor brasileiro na categoria não-ficção mais vendido em todos os tempos. Em Portugal, já está na sétima edição, com mais de 30 mil exemplares vendidos.

J&Cia – Você tem alguma explicação para esse sucesso?

Laurentino – Tenho duas hipóteses. A primeira é a linguagem jornalística do livro, muito acessível aos leitores comuns. É também um exemplo do poder mágico que o jornalismo exerce sobre os leitores. Nós, jornalistas, passamos a vida tentando pegar a veia do leitor. E, quando isso acontece, o resultado é poderoso. Foi o que ocorreu com 1808. As pessoas estão lendo uma boa reportagem e gostando. Simples assim. A segunda explicação tem a ver com o momento político do país. Minha sensação é que o Brasil ficou um país muito complicado de entender e, ao se interessar por livros de História, as pessoas estão fazendo a coisa correta, que é buscar no passado as explicações para o presente. A História serve para isso mesmo. Problemas como a corrupção, a desigualdade social, a criminalidade e a promiscuidade entre os negócios públicos e privados já estavam muito bem plantados nas raízes do Brasil em 1808. Sem estudar o que aconteceu aqui duzentos anos atrás é praticamente impossível entender o Brasil de hoje. Portanto, um livro de Historia que se torna um best-seller é uma boa notícia. Indica maturidade do mercado editorial brasileiro, que até há pouco tempo consumia, basicamente, literatura barata e livros de auto-ajuda.

J&Cia – Você sai da Abril para se dedicar exclusivamente à literatura? Tem contrato assinado com alguma editora?

Laurentino – Essa foi uma decisão muito difícil de tomar. Tenho 22 anos de Abril e estou, teoricamente, há dois anos e meio da minha aposentadoria. Tenho uma relação quase afetiva com essa empresa, onde apreendi quase tudo o que sei hoje no jornalismo, e onde tenho uma infinidade de amigos e profissionais que respeito e admiro. Mas acho que a vida oferece alternativas o tempo todo e não se deve fugir de uma boa oportunidade. 1808 mostrou que há uma nova vocação à minha espera lá fora. E não posso ignorá-la, sob pena de me arrepender mais tarde. Vou à luta, como sempre fiz na vida, sem medo, mas muito tranqüilo e seguro da decisão tomada.

J&Cia – Sua saída, nesse momento, tem a ver com o anúncio feito por Roberto Civita sobre as mudanças na cúpula da empresa?

Laurentino – Não, é apenas uma coincidência. Há mais de dois meses eu vinha negociando minha saída com o Jairo, meu chefe nos últimos quatro anos e novo presidente da Editora Abril a partir de janeiro de 2009. Ele me pediu paciência até que a mudança de estrutura se resolvesse. Eu não poderia sair sem dar ao Jairo segurança a respeito da minha sucessão como diretor-superintendente da área que dirigia. E essa segurança só foi possível depois das mudanças anunciadas por Roberto Civita na 2ª.feira. Fiquei muito feliz com a notícia de que minha sucessora será Elda Muller, uma jornalista e executiva que conta com a admiração dos colegas da Abril e, principalmente, com a legitimidade necessária para ocupar o cargo.

J&Cia – Pode adiantar para J&Cia o próximo título ou a idéia do próximo ou próximos projetos editoriais?

Laurentino – Tenho alguns projetos de livros, mas ainda não me decidi por nenhum deles. Gostaria que o próximo livro tratasse de eventos de uma época vizinha à de 1808, ou seja, entre a Conjuração Mineira, no final do Século 18, e a Independência, no começo do Século 19. Esse é um momento muito transformador na história de Portugal e do Brasil. Ainda não sei se vou me dedicar a um personagem específico, como Tirantes ou D. Pedro I, ou a um período inteiro da História, como fiz em 1808. Seja qual for a escolha, quero fazer com calma e muita pesquisa, para não perder a consistência. Não quero correr o risco de surfar na onda do sucesso do primeiro livro e fazer o segundo às pressas, de forma improvisada. Nesse caso, minha nova carreira estaria morta ainda antes de deixar o ninho.

J&Cia – Você ficou rico com 1808? Sua saída, além dos desafios de um novo e estimulante ofício, tem motivações financeiras?

Laurentino – Não fiquei rico, muito pelo contrário. Ao sair da Abril, onde tinha salário e benefícios bastante razoáveis, fico exposto a um certo risco do ponto de vista financeiro. Mas é um risco que está bem calculado e pactuado em casa, com a família. O dinheiro dos direitos autorais do 1808 me dá o fôlego financeiro de que preciso para pesquisar e escrever o segundo livro, num prazo que, imagino, seja de dois ou três anos. Nada além disso.

J&Cia – Que lições leva para a literatura, desses quase 30 anos de jornalismo, mais da metade deles vividos na Abril?

Laurentino – Levo o que apreendi nas redações: o gosto e a paixão pela reportagem. Escrever um livro de História não é muito diferente de fazer uma matéria de capa de revista. Só exige mais tempo e profundidade na pesquisa. Mas a técnica de reportagem e edição é essencialmente a mesma. Além disso, é preciso entender as necessidades dos leitores, ser didático na linguagem, respeitar as fontes e, principalmente, ter uma curiosidade insaciável. Jornalista tem a obrigação de transformar um tema relevante num assunto atraente e sedutor para os leitores. É preciso ser o intérprete entre a linguagem especializada e, por vezes, inacessível dos especialistas, e os leitores comuns. É o que fiz em 1808 ao usar o vasto conhecimento acadêmico sobre o assunto como fonte para um livro de leitura fácil e agradável.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ´Fontes de Informação` e o livro ´Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia´. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Precisamos de um PAC da Ética, 15/4

‘– Se quisermos dar o salto de qualidade no plano ético, teremos passar a tratar como intoleráveis frases do tipo ´foi só uma tapioca, coisa de seis reais´, ´usei o cartão por engano´, ´fui mal orientado(a) pelos meus assessores´, ´não sabia do acontecido` e ´já devolvi o dinheiro aos cofres públicos` – esta, a mais odiosa de todas, por tem a pretensão de justificar a safadeza praticada lá atrás, depois de descoberta.

Articulando fragmentos…

É recorrente a avaliação de que o jornalismo de hoje oferece uma visão fragmentada da realidade, o que dificulta o entendimento da complexidade dos fatos e a atribuição de significados aos acontecimentos noticiados.

É um diagnóstico aceitável. Por isso, faz bem à educação do senso crítico de quem se informa em fragmentos fazer eventuais exercícios de recortar e reordenar o noticiário do dia, para elaborar contextos que lhe faltam.

Foi o que fiz, ontem (domingo) e hoje (segunda-feira). Vejam o resultado interessante a que cheguei, em sete matérias recortadas entre as principais notícias publicadas, a seguir listadas pelos títulos.

Dos jornais de domingo:

* ´CPI investiga mais de 100 membros do governo ligados a ONGs` – num dos casos, diz o subtítulo, a ONG recebeu R$ 2,3 milhões de secretaria comandada por um ex-dirigente seu.

* ´Justiça manda soltar 17 prefeitos e suspeitos de desvios` – e a soltura se deve apenas ao fato de o TRF da 1ª Região ter considerado que o corregedor-geral do Tribunal não tinha poder para decidir, sozinho, a prisão dos 50 suspeitos (os 17 prefeitos e mais 33 pessoas detidas na mesma operação da Polícia Federal).

* ´Oeiras do Pará se destaca na gestão irregular de verba federal, diz CGU` – e entre as irregularidades detectadas estão coisas como licitações viciadas, contratos e compras sem licitação, e concessão de Bolsas-Família a servidores municipais com salários de até mil e trezentos reais.

Dos jornais desta segunda-feira:

* ´Lucro do petróleo banca farra de contratações em municípios` – e no detalhamento fica-se sabendo que as 30 cidades do País que recebem royalties do petróleo gastam com pessoal três vezes mais que a média nacional. A prefeitura de Campos dos Goytacazes, por exemplo, gasta R$ 2 milhões por dia com servidores. Apesar disso, a cidade sente dramaticamente a falta de médicos e enfermeiros para enfrentar a epidemia de dengue, que já atingiu 3.300 pessoas este ano.

* ´Reitor na UnB renuncia ao cargo` – e leva consigo o peso de um escândalo de farra com o uso dos cartões corporativos. Ele conseguiu colocar a UnB na posição de líder no ranking de instituições federais em gastos com cartões. Além disso, gastou, em reformas e recheios do apartamento funcional que habitava, R$ 470 mil desviados do orçamento de uma fundação que se deveria ocupar apenas do fomento à pesquisa.

* ´Senadora decide amanhã se deixa CPI dos Cartões` – e a senadora, no caso, é a presidente da CPI, Marisa Serrano, que, se deixar esse cargo, o fará em protesto pelo boicote do governo às investigações. Uma situação que parece ter relação com cinco linhas escondidas no meio da coluna ´Painel´, na Folha de S. Paulo: ´A preocupação dos governistas, agora, é manter a oposição longe dos gastos pessoais de Lula e da primeira-dama Marisa Letícia´.

* ´TCU aponta viés político na seleção de ONGs` – e, entenda-se bem, os termos ´viés político` e ´seleção` se referem aos critérios, ou à falta de critérios adequados, para entregar dinheiro público a entidades e a pessoas que o usam por meios e para fins que pouco ou nada têm a ver com o bem público e a decência pública.

***

Claro que as leituras possíveis do cenário aí montado podem ser variadas, entre elas, inevitavelmente, as leituras interessadas. Afinal, não há como ignorar que no permeio de tudo isso há, em maior ou menor grau, a variável dos interesses partidários, e até pessoais, uns nos respaldos da situação, outros nas invejas da oposição, uns e outros de olho nas benesses do poder conquistado ou perdido.

A verdade, porém, é que tudo isso faz parte de um quadro deprimente de corrupção instituída e sedimentada. Há uma argumentação histórica, aqui plantada pelos colonizadores, que justifica e estimula as muitas formas de roubalheira, no Brasil desenvolvidas com inquestionável talento – e, neste caso, as culpas não podem ser atribuídas somente aos colonizadores, pois esta é uma Nação há quase 186 anos independente e dona de suas escolhas.

***

Bem que o País necessitaria, e com urgência, de um milagroso PAC da Ética. Um PAC que começasse por varrer dos costumes políticos, e da retórica vulgarizada por esses costumes, a tolerância (em casos recentes, tolerância até presidencial) com os pequenos peculatos. Se quisermos dar o salto de qualidade no plano ético, teremos passar a tratar como intoleráveis frases do tipo ´foi só uma tapioca, coisa de seis reais´, ´usei o cartão por engano´, ´fui mal orientado(a) pelos meus assessores´, ´não sabia do acontecido` e ´já devolvi o dinheiro aos cofres públicos` – esta, a mais odiosa de todas, por ter a pretensão de justificar a safadeza praticada lá atrás, depois de descoberta.

***

Para encerrar, permitam-me transcrever Eugênio Bucci, trazendo aqui pequeno trecho do livro de sua autoria (Em Brasília, 19 horas, Rio de Janeiro, Editora Record), lançado quinta-feira passada em São Paulo:

´Se um servidor federal de alto escalão consente que sua mulher vá até o cabeleireiro no automóvel do Estado que ele utiliza em serviço, conduzido por um motorista da repartição, ofende a lei (…). Se um diretor de escola pública dá preferência aos filhos de seus correligionários na distribuição de vagas, ofende antes de tudo a Constituição Federal´.

E eu acrescentaria: melhor seria, ainda, se a lei e a Constituição fossem objetivos, razões de ser do agir dos homens públicos, não balizamento obrigatório para os próprios comportamentos.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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