Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Comunique-se

VIOLÊNCIA
Milton Coelho da Graça

Na balança do chefe coragem e prudência, 6/6

‘Até que nível de risco o diretor de redação e/ou editor-chefe devem aceitar que repórteres enfrentem para fazer uma matéria? Foi extenso, profundo e excelente o debate no programa de TV ‘Observatório de Imprensa’ sobre o inacreditável seqüestro e torturas sofridos por uma equipe do jornal carioca O DIA, mas infelizmente os participantes não incluíram essa importante questão.

Nos jornais e revistas onde trabalhei, foram muitas as idéias de pautas que incluíam sérios perigos para os repórteres. E a avaliação desses perigos sempre tem de ser rigorosa, porque, como diz o ditado popular, ‘pimenta nos olhos dos outros é refresco’, mas em jornalismo a pimenta é aceita como refresco por quem vai abrir o olho para ela.

Eu era chefe de redação de Quatro Rodas, quando Domingos Meirelles, hoje na Globo, propôs ir ao Paraguai, acompanhado por um bom ladrão de carros, e trazer de volta ao Brasil um carro furtado aqui e levado para aquele país. Domingos passou muitas horas me convencendo de que o risco era suportável e seu plano tinha forte chance de dar certo. Acabei topando, mas o sentimento de culpa só desapareceu quando Domingos apareceu de volta com um táxi-carrão e anunciando vitória. A consciência também se acalmou com o depoimento do motorista – um ex-lateral que havia jogado aqui pelo Flamengo – confirmando que o carro fôra ‘legalizado’ por um coronel corrupto do exército paraguaio.

Essa história é brincadeira de salão perto do que a turma de O DIA fez. Quem não é do Rio dificilmente conseguirá avaliar a coragem por eles demonstrada, topando viver na favela do Batan como se fossem moradores. A milícia criminosa, comandada por policiais e dominante na área, certamente inclui ampla rede de informantes, organizada à base de violência e temor.

Disposição para viver uma situação de risco e expô-la ao conhecimento da sociedade é um forte componente da alma da maioria dos nossos repórteres. As chefias têm obrigação de sempre comparar esse ímpeto profissional com uma realística medição do risco envolvido.

Cumprimento os companheiros repórteres pelo arrojo demonstrado, mas acho que a avaliação e a aprovação pelas chefias foram equivocadas.

A carta enviada à redação pela presidente de O DIA, Gigi Carvalho, elogia o trabalho dos profissionais, garante que eles estão recebendo ‘todo o apoio necessário e possível’, mas registra uma dúvida correta: ‘Cheguei a questionar se deveríamos estar lá … e fazer tudo o que foi feito…’

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’

Antonio Brasil

Quem vai ser o próximo Tim Lopes?, 2/6

‘Hoje, 2 de junho, é um dia muito especial para o jornalismo brasileiro. Há exatamente 6 anos morria o produtor de TV Tim Lopes. Por ironia do destino, estamos novamente diante de outro caso quase tão trágico: o seqüestro, tortura e humilhação de equipe do jornal O Dia.

Tim Lopes certamente merecia outro tipo de comemoração ou memória.

Há muitos anos escrevi um artigo sobre o tema: ‘Tim Lopes, a próxima vítima pode ser você’ (ver aqui).

Na época o artigo causou grande repercussão e teve muitas críticas. Ousava colocar em dúvida o ‘heroísmo’ de um tipo de jornalismo investigativo que obriga o jornalista a colocar sua vida em risco ou que o incentiva a mentir. Alertava para os dois lados da moeda. Tanto o risco profissional quanto o risco ético. Afinal quem e como se decide quem vai ser a próxima vítima das câmeras ou reportagens ocultas. Podemos colocar repórteres disfarçados em favelas dominadas por milícias, mas também podemos convencer jornalistas a gravarem clínicas de abortos, raves onde muitos jovens consomem drogas ou reuniões do partido comunista. Mera questão de época ou de definição de legalidade.

Hoje, pelo jeito, as coisas não mudaram muito.

Agora imagine a seguinte situação profissional: ambicioso editor-chefe de jornalismo de emissora líder em crise de audiência ou jornal sensacionalista em busca aumento de vendas chega na redação e pergunta aos repórteres: ‘Quem quer fazer uma grande matéria sobre tráfico de drogas, baile Funk com exploração de menores ou a atuação de milícias em favelas cariocas?’

Nenhuma surpresa. Todo os jornalistas presentes respondem com entusiasmo ‘Eu quero. Claro que quero’!

O editor-chefe prossegue: ‘Mas tem um problema. Você terá que morar alguns dias na favela, vai ter que se disfarçar, não pode dizer que é jornalista e que está a trabalho para a nossa empresa. Tudo bem? Você também terá que utilizar equipamento especial, câmera ou gravador escondido, mas vai valer a pena. É arriscado e perigoso, mas você terá a chance de ganhar prêmios, aumento de salário, prestígio profissional ou, na pior das hipóteses, terá a chance de manter seu emprego’. Quem topa?

Os olhares de dúvida agora se entrecruzam na redação. Todos avaliam os riscos e benefícios. Os mais velhos procuram disfarçar a falta de motivação. Os mais jovens, no entanto, vêem o risco como uma grande oportunidade, uma chance de sucesso profissional ou pelo menos, a possibilidade de garantir um emprego. Logo aparece alguém que diz: ‘Chefe, eu topo, eu topo’.

E lá se vai o jovem jornalista ao encontro do sucesso, da promessa de emprego ou da morte. Mera questão de sorte!

Jornalistas marrons

Conto esta história por uma boa razão. Tempos atrás, após um desses seminários sobre telejornalismo, tive uma discussão com um ex-editor-chefe de jornalismo de TV sobre câmeras ocultas. Na ocasião, demonstrei minha preocupação. Disse que era contra, antiético, ilegal e que achava perigoso. Afirmei que jamais utilizaria esse tipo de equipamento. A resposta do ex-editor-chefe veio de forma fulminante. ‘Então eu te demitiria’. Nunca esqueci esta frase.

Hoje, seis anos após a morte de Tim Lopes, mais uma vez, nos vemos diante do dilema dos jornalistas disfarçados.

Isso não é nenhuma novidade brasileira. É produto de uma época extremamente polêmica do jornalismo. Na virada do século XX, os jornais mais populares americanos faziam qualquer coisa para vender suas histórias. É uma época de grande sucesso de vendas, de muito progresso na linguagem jornalística e popularização do meio. Mas também é a época da degradação de princípios éticos e profissionais. O Yellow Journalism ou jornalismo marrom é produto desta vontade ou motivação de fazer jornalismo a qualquer custo. Ou seja, valia tudo para o repórter fazer sucesso e para o patrão vender jornal.

Naqueles tempos, alguns repórteres já se disfarçavam para viver outras vidas e entrar em áreas ou instituições proibidas. Géraldine Muhman em seu livro ‘Une histoire politique du Journalisme’ descreve o trabalho de uma repórter pioneira no gênero: Nellie Bly (1864-1922). Ela ficaria famosa por se disfarçar de ‘maluca’e denunciar as condições precárias dos manicômios americanos. Foi responsável pela onda de stunt journalism, um jornalismo de impacto, acrobático e performático. Uma busca da verdade e de denúncias a qualquer custo.

Esta prática jornalística permitiria ao repórter inclusive mentir ou quebrar a lei em suas matérias sensacionais. Para esses jornalistas, os fins sempre justificaram os meios. O stunt journalism era um jornalismo de resultados. No final, a sociedade perdoaria os crimes dos jornalistas. Falsidade ideológica, se passar por outra pessoa, por exemplo, é crime previsto em lei no Brasil. Afinal, substituímos o olhar do público, das autoridades pelo olhar e investigação jornalística. As motivações do yellow journalim se confundiam com os projetos dos stunt journalists e geraram em nosso país o jornalismo e jornalista marrons.

Infelizmente, a história tende a se repetir sem a mínima consideração ou imaginação. Mas também podemos aprender suas lições e evitar novas tragédias. Bom jornalismo investigativo em TV ou jornal requer muito trabalho, tempo, bons profissionais, treinamento adequado e planos de segurança. Não podem ser produto de atos intempestivos. O jornalismo investigativo é uma arma poderosa. O problema é que a próxima vítima pode ser…você!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

P2P
Bruno Rodrigues

Nosso longo adeus às locadoras, 3/6

‘Algumas promessas da internet demoram tanto para acontecer, que acabam se transformando em lenda. Uma delas diz respeito ao fim definitivo do DVD.

De quatro, cinco anos para cá, com a popularização dos softwares peer-to-peer – nome bonito para os programas de compartilhamento de arquivos -, o que não era sólido passou a se esvair no ar, a começar pela música.

Deu no que deu. A indústria fonográfica teve que baixar a guarda aos poucos (não tente confirmar isso com nenhuma gravadora, dirão de pés juntos que não), e lentamente o hábito de baixar músicas pela internet tornou-se tão popular quanto… Bem, quanto comprar um CD.

E os filmes? A questão era muito mais complexa e desde o início os estúdios de Hollywood, já escaldados com o inferno astral pelo qual as gravadoras estavam passando, decidiram abrir duas frentes pesadas: primeiro, um feroz ‘não’ à pirataria; depois, um estudo profundo e silencioso de como a indústria do filme poderia sobreviver neste cenário de arquivos que escorrem pelos dedos.

Uma novíssima tecnologia 3D para atrair público às salas de cinema, do tipo que nunca se viu, é uma das apostas tanto das Disney quanto da DreamWorks. Muitos dizem que este será o grande motivo para fazer os espectadores desistirem de fazer download de um filme em casa, pois de nada adiantaria – a experiência do ‘novo’ 3D só será possível no escurinho do cinema.

No meio do caminho, estão as locadoras. ‘Ruídos’ entre os estúdios e o público, elas não terão a mesma sorte que outro setor que padece do mesmo mal, as cadeias de cinema, que – pelo menos até agora – parecem ter garantido sua sobrevivência.

No Brasil, redes de locadoras, nem mesmo a Blockbuster, jamais decolaram. Misto de modelo de negócio quase familiar – quando de fato não o são, pela pouca necessidade de investimento inicial – com comércio de visão estreitíssima – em que itens como treinamento, atendimento e qualidade nunca saíram do terreno da boa intenção – as locadoras mais incomodam que ajudam. Como cliente de pelo menos três delas, sinto-me quase refém das lojinhas quando quero pegar, hoje mesmo, um lançamento badalado e tenho que aceitar ‘entrar na fila’, pedir para ‘reservar’ ou até ‘ficar ligando’ para ver se alguém devolveu uma cópia. Lamentável.

Na semana passada, a Blockbuster anunciou que começará a disponibilizar em algumas de suas filiais dos EUA quiosques para que os clientes possam fazer download de filmes, em poucos segundos, para aparelhos portáteis como o iPod ou o iPhone. Nada de disquinhos, o esquema é pá-pum, mesmo.

Outro personagem de peso do setor, a Netflix, que libertou, há alguns anos, os americanos de outra maldição das locadoras, as diárias – paga-se uma mensalidade e ponto final – já anunciou que o mercado de locação tem apenas cinco anos de vida pela frente. Até lá, a empresa terá partido para o campo do download via site.

A Amazon.com, que não é boba nem nada, já anunciou que estuda seriamente o mercado de filmes baixados via internet, seguindo o que tem feito de dois anos para cá, quando entrou pesado no negócios de download de e-books e músicas.

Por aqui, a Blockbuster – cuja marca, no Brasil, foi comprada pelas Americanas – procura não perder o passo, e pelo site da empresa pode-se perceber que a idéia é tentar de tudo, desde o recém-lançado serviço nos moldes da NetFlix (que no país também existe através do NetMovies) até o download de filmes – enfim!

Se eu fico triste com o crepúsculo das locadoras? Sinceramente, não. Nunca me senti paparicado ou cliente especial em nenhuma delas, grande ou pequena. Minha sensação é a de que sempre estão me fazendo um favor em alugar um filme, por mais que eu pague por ele.

Pare e pense: daqui a poucos anos, quando fizer parte do dia-a-dia alugar e comprar filmes pela internet, como você irá lembrar de quando dependíamos de algum outro cliente ‘devolver cópias’ de filmes para alugá-los?

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início no dia 17/06, no Rio de Janeiro.

Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica!

As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

O sanduíche mais barato do mundo, 5/6

‘Dormi entre assassinos,

o pensamento atirado

perto do horizonte.

(Celso Japiassu in Enlace)

O sanduíche mais barato do mundo

O considerado Nilton Corazza, jornalista, coordenador de Comunicação da Roland Brasil em São Paulo, despachou dessa cidade de grandes tramóias políticas:

Assim que li o título da matéria em questão achei por bem dividir esta pérola:

INTERNET GRATUITA PODE CUSTAR MENOS QUE UM SANDUÍCHE

A afirmação é do prefeito de Sud Mennucci, Celso Junqueira, que participou de debate sobre políticas públicas de inclusão digital na Fecomercio

O texto foi postado no portal MaxPress. (http://www.maxpressnet.com.br/imagens/clear_pixel.gif)

Janistraquis adorou, ó Corazza, embora não tenha encontrado o endereço acima, porém mesmo assim perpetrou comentário com seu linguajar enfeitado e antigo como chapéu de cangaceiro:

‘Considerado, o que espanta é o preço do sanduíche, o qual, certamente de pão-de-bico de ontonte com um punhado de raspa de joá, não deve valer nem mesmo um tostão de mel coado…’.

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Morte ao suicídio!

O considerado José Truda Júnior, que vive num minarete nos altos do friorento bairro de Santa Tereza, bem pertinho do céu e do sonho das Olimpíadas/2016, envia o resultado de suas mais recentes pesquisas sobre o comportamento da imprensa:

A palavra suicídio, que abriu a coluna passada, continua a fazer vítimas nas grandes, médias e pequenas redações. Foi o que mais se viu no noticiário sobre o gesto extremo do tenente Fernando Neves Braz, que meteu uma bala no crânio depois de descoberto como assíduo freguês de uma rede de pedofilia.

Campeões de audiência foram o surradíssimo ‘cometeu suicídio’ e o redundante ‘se suicidou’. Parece que com honrosíssimas exceções os redatores andam brigados com as boas e velhas ‘matou-se’ ou ‘deu um tiro’ (na cabeça, coração, ouvido, olho, céu-da-boca, sovaco…)!

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Mestres da ignorância

Sob o assustador título Educação — Professores não sabem o básico, a Veja informou:

Um levantamento recente feito com base no desempenho de 260.000 professores em concursos públicos de quatro das maiores redes de ensino do país – Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo – traz dados preocupantes sobre a educação brasileira. De acordo com a pesquisa, 73% deles foram reprovados em testes básicos das áreas em que pretendiam lecionar, entre elas matemática, português e física.

O péssimo desempenho destes milhares de professores é alvo de uma reportagem de VEJA desta semana, que revela que quase todos já dão aula em escolas públicas ou particulares. Para piorar, boa parte dos 27% restantes, esses aprovados, passou raspando. O número de notas vermelhas é recorde. Em Pernambuco, por exemplo, no exame para recrutar professores de matemática, apenas 0,8% dos candidatos conseguiram responder a questões elementares de geometria e álgebra – 34 dos 4.352 candidatos que se inscreveram.

O colunista recordou matéria que fez nos anos 70 para Istoé, por sugestão do considerado Zé Hamilton Ribeiro, a qual denunciava a espetacular ignorância dos professores de matemática do segundo grau nas escolas de São Paulo; na ocasião, o professor Shigueo Watanabe, da USP, ensinava as quatro operações a um grupo de envergonhados que pelo menos se interessavam em aprender.

Nos últimos 30 anos, vê-se, o panorama continua o mesmo ou piorou.

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Globo Rural

Como não ignora o considerado leitor, há muitos anos a coluna elegeu Globo Rural o melhor programa da televisão brasileira; ótimos apresentadores e repórteres, belas imagens que informam, ensinam, divertem. Pois Janistraquis descobriu outra qualidade:

‘Considerado, a gente assiste ao Globo Rural de enxeridos que somos, pois o programa é feito para quem planta, cria e vende, e aqui no sítio não fazemos nada disso por absoluta incompetência e falta de recurso. Todavia, é sempre bom o telespectador leigo ficar esperto, porque ali apresentadores e repórteres sorriem quando anunciam aumento de preços e se algum entrevistado não reclama de nada é sinal de que o consumidor está mesmo ferrado.’

Pura verdade; alegria de quem vende quase sempre é o desespero de quem compra…

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Sem água

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a escroqueria oficial é possível enxergar centuriões palacianos a distribuir dinheiro e cargos para exumar a CPMF, pois Roldão, que já não suporta mais a ignorância dos jornalistas quando mencionam números, especialmente dimensões, encontrou mais esta nas páginas do Correio Braziliense, a vazar sob o título Caesb deixa um milhão sem água:

Ao explicar a troca de válvulas na estação de tratamento de água em Taguatinga Sul, o jornal diz que duas válvulas de 1,2mm de diâmetro (microscópicas, portanto) vão ser trocadas por quatro novas, duas com 800mm de circunferência e duas com 400mm. Além da confusão com os tamanhos, usa o termo circunferência como sinônimo de diâmetro.

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Celso Japiassu

Leia no Blogstraquis a íntegra de Enlace, cujo fragmento encima esta coluna e que faz parte do livro Dezessete Poemas Noturnos, a respeito do qual escreveu Fabio Lucas, maior crítico literário do Brasil:

O poeta, ao longo de uma experiência verbal que remonta a 1965, com O texto e a palha, é senhor de uma linguagem sóbria, regida por atributos que a singularizam. O produto final se caracteriza pela densidade, pela elegância e pelo persistente traço evocativo.

Conheça Uma coisa e outra, o site do poeta.

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Metendo o pau

Frase de Millôr Fernandes que viaja na internet e causa horror a obscurantistas em geral:

Na minha geração os únicos que escaparam do Comunismo, do Fascismo e da Igreja foram os sexualmente ativos, que tinham mais o que fazer.

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A ‘Porção Tabajara’

Janistraquis, que em tempos idos teve na zona do baixíssimo meretrício de João Pessoa (aquela da Rua Silva Jardim) uma namorada com a cara, o corpanzil e o temperamento da índia Tuíra Caiapó, essa que está a fim de capar alguém a golpes de facão, pois Janistraquis tenta convencer o colunista a incorporar sem mais delongas sua ‘Porção Tabajara’, sob o argumento de que somente os indígenas, depois dos corruptos, é evidente, têm carta branca para cometer toda sorte de barbaridades e depois sair a rebolar nos desfiles de carnaval.

Nesses mais de vinte anos de coluna o leitor inteligente e culto já percebeu que Japiassu não é propriamente um sobrenome europeu; um antepassado do colunista foi, modéstia à parte, importante Cacique da Nação Tabajara, guerreiro destemido que raptou a mulher de certo invasor holandês e com ela teve monumental filharada. É história verídica que mereceu destaque na Grande Enciclopédia da Mauritssatd dos Armadores das Índias Ocidentais (Real Biblioteca de Amsterdã, edição única, 1667.).

Prometi a meu assistente que vou pensar no assunto porque tal revelação, se trabalhada por um marqueteiro competente como Duda Mendonça, por exemplo, abriria para este romancista as portas do Prêmio Nobel de Literatura. Afinal, para regozijo dos politicamente corretos do mundo inteiro, não existe outro índio tabajara que seja jornalista e escritor e ainda por cima ruivo e de tão profusa barba.

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PQP!!!!!!!!!!!!!

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2513/07, originário do Senado, que concede incentivo fiscal a empresas que prorrogarem a licença-maternidade por 60 dias. Com essa prorrogação, a licença pode chegar a seis meses.

Hermes Gomes de Mattos, empresário paulistano, fez as contas e garantiu que qualquer empresa teria prejuízo excepcional se contratasse uma empregada como Michelle Duggar, americana de 41 anos de idade, grávida do 18º filho:

‘Já pensou você ter uma secretária assim? Em 18 partos, a criatura ganharia nove anos de licença-maternidade!!!’.

Janistraquis desconfia que o Projeto de Lei aprovado na Comissão da Câmara não merece incondicional apoio dos industriais e comerciantes do Brasil.

Leia no Blogstraquis a história da fenomenal parideira americana.

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Nota dez

Você já imaginou dormir e acordar 20 anos depois, como aconteceu com Rip van Winkle, aquele personagem do mais famoso conto do escritor americano Washington Irving, publicado em 1819? Pois Sérgio Augusto, melhor jornalista cultural do Brasil, imaginou; o personagem dele adormece por apenas algumas semanas e, quando desperta, eis que depara com a CPMF e outros males redivivos.

Leia no Blogstraquis o artigo intitulado Entre um bocejo e outro, publicado originalmente no caderno Aliás, do Estadão.

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Errei, sim!

ELOGIO A BORGES — Um inspirado articulista de O Globo escreveu, na capa do Segundo Caderno: ‘Sete anos depois de sua morte, em 1986, aos 86 anos, o escritor argentino Jorge Luís Borges ainda é cultuado em todo o

mundo como o maior nome da literatura latinoamericana do século XX’.

Sete anos depois… ainda é cultuado. Sete míseros anos! Janistraquis considerou o texto altamente ofensivo ao gênio de Borges: ‘Considerado, minha vingança é que o articulista já estava esquecido e superado sete anos antes de nascer!’

E afastou-se a declamar: ‘Sete anos de pastor Jacó serviu a Labão, pai de Raquel, serrana bela…’, da lavra de outro cujo talento o mundo cultua desde o século XVI. (agosto de 1993)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

 

IMPRENSA
Eduardo Ribeiro

Reflexões sobre os nossos 200 anos, 4/6

‘O Brasil já pode se orgulhar de ter uma imprensa com mais de 200 anos de vida. Tivemos poucas comemorações, é certo, mas no último domingo, dia 01/06, o Brasil assoprou as velinhas de 200 anos de imprensa, relembrando ainda que timidamente o nascimento, em Londres, do Correio Braziliense, fundado por Hipólito José da Costa.

Valendo-se dessa efeméride, esta coluna aproveitou para fazer uma reflexão sobre quem somos, de onde viemos e para onde iremos, de tal modo a podermos, 200 anos à frente, ainda ostentar saúde para continuar sendo uma força importante da sociedade. E para isso ouviu 14 dos mais renomados nomes do jornalismo brasileiro, entre eles o presidente do grupo Abril, Roberto Civita, o presidente da Traffic, J.Háwilla, e nomes incontestáveis de nosso jornalismo como Luís Nassif, Ricardo Kotscho, o professor Manuel Carlos Chaparro, meu colega de Comunique-se, e o agora escritor em tempo integral Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808.

A todos eles fizemos duas perguntas: 1) A imprensa brasileira cumpriu com dignidade o seu papel ao longo desses seus 200 anos de vida? Quais foram as suas maiores virtudes e os seus maiores pecados ao longo desses dois séculos? e 2) Que desafios se colocam para que ela continue forte, representativa e influente?

Vejam o que eles nos disseram e tirem suas próprias conclusões:

‘Nunca é demais repetir que a imprensa chegou por aqui com enorme atraso, o que certamente influiu para que tivéssemos retardado o nosso desenvolvimento como país livre. Além disso, chegou a imprensa, em 1808, mas não a liberdade de imprensa. Da Impressão Régia, de cujo prelo saiu o primeiro jornal impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro (10 de setembro de 1808), nada saía sem a autorização de uma junta incumbida de cuidar para que ‘nada se imprimisse contra a religião, o governo e os bons costumes’. A censura prevaleceria por longo tempo, com breves hiatos de liberdade, mesmo depois da Independência. Já em 1823 jornais foram proibidos de circular. Entre outras alegações, a de que ‘insultavam’ os militares. Apesar disso, a crítica foi possível. Mesmo quando não se teve acesso à tecnologia de impressão vinda na bagagem de Dom João VI. O primeiro periódico surgido em São Paulo, O Paulista, por Antonio de Azevedo Marques, era escrito a mão. Só em 1827 apareceria o primeiro jornal impresso, O Farol Paulistano, e, em 1929, o Observador Constitucional, de Libero Badaró, que terminou sendo assassinado por causa das críticas que fazia ao poder imperial. A censura, contudo, não impediu que a imprensa desempenhasse um papel importante em momentos decisivos de nossa História, como na Abolição e no movimento republicano, com o surgimento de grandes jornais como A Província de S.Paulo (depois O Estado de S.Paulo). Mas a República nascente não tardou a recorrer à censura. E mais violentamente ela se faria com o Estado Novo de Vargas e, não muito depois, sob a ditadura militar de 1964. A grande virtude da nossa imprensa, nesses 200 anos, foi contribuir, nos momentos de liberdade, para o avanço da democracia no País. E, mesmo sob censura, a luta de alguns veículos – grande jornais ou pequenos pasquins – pela liberdade de expressão. O grande paradoxo, e portanto grande pecado, foi o apoio que alguns (a maioria, na verdade) desses veículos deram ao golpe de 64. Mesmo que, na maioria dos casos, viessem a se arrepender amargamente…’

‘É inegável que tivemos um grande avanço na imprensa brasileira, nos últimos anos. O papel que terminou desempenhando para apressar a queda da ditadura militar foi da maior importância. A apropriação das novas tecnologias tem contribuído, sem dúvida, para a democartização da informação. Mas, ao mesmo tempo, veículos de comunicação de massa, à frente a televisão, não vêem a informação senão como espetáculo. E na mídia impressa há o que se pode chamar de praga do denuncismo, de um jornalismo editorializado que desconhece limites. Lançam-se versões, sem o menor esforço de apuração, e depois corre-se para colher a repercussão. Isso pode dar resultados imediatos, mas a longo prazo pode desmoralizar um veículo. Para ser forte e influente é preciso um mínimo de respeito à verdade da informação. Não basta enrolar-se na bandeira da liberdade de imprensa… ‘

Audálio Dantas – presidente da Representação São Paulo e vice-presidente nacional da ABI – Associação Brasileira de Imprensa

‘Entendendo-se por ‘imprensa’ o conjunto das grandes publicações do sudeste e do sul do Brasil, cumpriu. A maior virtude foi saber lutar pela liberdade, pela democracia e pela busca da verdade. Os maiores defeitos são congênitos: como mostra o livro 1808, do jornalista Laurentino Gomes, Hipólito da Costa dependia do governo imperial para sobreviver e viveu longe do Brasil real. Esses traços estão no DNA da imprensa brasileira.’

‘O maior desafio é livrar-se dessas marcas trazidas do berço.’

Augusto Nunes – diretor Editorial da CBM

‘O termo dignidade possivelmente seja exagerado para caracterizar o trabalho da imprensa ao longo de seus dois séculos de existência. Digamos que tenha sido eficiente na missão de informar e interpretar as molduras política, social e econômica. Vale lembrar que a imprensa chegou tarde ao nosso país. Teve papel transcendental no desmonte do Império e instalação da República. Desempenhou papel de destaque na construção da identidade nacional. Abriu consciências e contribuiu para a edificação dos eixos centrais da cultura, da política e das instituições. Acompanhou os ciclos políticos e cobriu os eventos institucionais. Contribuiu para construir e desconstruir perfis de governantes. Foi duramente castigada por ocasião da ditadura do Estado Novo getulista. Como foi sufocada nos anos de chumbo abertos pela ditadura de 64. Resistiu às intempéries. Sobreviveu. É claro que não podemos glorificá-la de maneira plena. Temos um sistema midiático ainda muito concentrado. O poder emissor está nas mãos de poucos grupos. Temos uma imprensa regional ainda muito debilitada, principalmente em regiões mais pobres, onde grupos econômicos agem de maneira a influenciar o fluxo informativo. Ademais, nossa mídia eletrônica – principalmente TV – tem como foco o divertimento, deixando para trás os eixos noticiosos. Percebe-se certa influência sobre a mídia eletrônica, mesmo sendo ela concessão do Estado. Sob o aspecto da estética, não fazemos feio. Os jornais brasileiros integraram-se ao espírito de modernidade. Sob o aspecto da linguagem, estamos defasados. Os textos ainda são precários. Falta-lhes densidade. Criatividade.’

‘Desafios que se apresentam: 1) fortalecer as mídias regionais, atenuando a influência dos poderes político e econômico; 2) desconcentrar a propriedade dos meios; 3) ampliar os espaços de cobertura, contemplando com mais espaço e intensidade a realidade regional; 4). ampliar as faixas de leitores da mídia jornalística impressa; 5) melhorar a capacitação da mão-de-obra jornalística, dando ao corpo de jornalistas formação adequada a esses tempos de competitividade, globalização e quebra das fronteiras nacionais; 6) ampliar os eixos da conectividade, estabelecendo maior participação dos ouvintes e leitores; significa reforçar o eixo da comunicação ascendente, da sociedade em direção às mídias, para contrabalançar o fluxo descendente, ou seja, do poder político e institucional para a sociedade; 7) incentivar a base de pequenos e médios jornais das comunidades do interior do país; 8) melhorar a qualidade dos textos jornalísticos; há escassez de grandes repórteres: 9) melhorar o sistema de mando nas redações – precisamos de cabeças mais sistêmicas, generalistas; e 10) expandir o jornalismo investigativo-crítico. Ainda padecemos de um jornalismo muito obediente ao oficialismo de fontes governamentais.’

Gaudêncio Torquato – consultor de comunicação e de marketing político

‘Acho que cumpriu. Sua maior virtude: Independência. Seu maior pecado: Independência.’

‘Desafios: Independência, ética e determinação.’

J. Hawilla – presidente da Traffic (TV TEM e rede de jornais Bom Dia)

‘A imprensa brasileira, além de tardia (chegou ao nosso país três séculos depois do seu aparecimento na Europa), manteve-se elitista (destinando-se a uma parcela reduzida da população). Apesar disso, vem demonstrado capacidade de atualização, assimilando novas tecnologias e rotinas de trabalho forâneas. Nesse sentido operacional, vem progredindo continuamente.’

‘Seu maior desafio é a democratização: tornar-se popular e servir a toda a sociedade. Ampliar tiragens, usar linguagem coloquial e pautar assuntos de interesse do cidadão comum constituem tarefas inadiáveis.’

José Marques de Melo – escritor e acadêmico de Jornalismo

‘A imprensa brasileira nasceu em 1808, ano da chegada da família real portuguesa ao Brasil, com a mesma feição que teria nos duzentos anos seguintes: corajosa em alguns aspectos, subserviente e corrompida em outros, mas nem sempre honesta e transparente nos seus propósitos na relação com os leitores. Para fugir à censura, o Correio Braziliense foi lançado em Londres em junho de 1808. A Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal publicado em território nacional, começou a circular no dia 10 de setembro de 1808, impresso em máquinas trazidas ainda encaixotadas da Inglaterra por Antonio Araújo de Azevedo, o Conde da Barca. Com uma ressalva: só imprimia notícias favoráveis ao governo. O fundador do Correio, Hipólito José da Costa, acreditava numa constituição equilibrada e justa, num congresso forte, em liberdade de imprensa e religião, no respeito pelos direitos individuais. O mesmo Hipólito que defendia a liberdade de expressão e idéias liberais acabaria, porém, inaugurando o sistema de relações promíscuas entre imprensa e governo no Brasil. Por um acordo secreto, D. João começou a subsidiar Hipólito na Inglaterra e a garantir a compra de um determinado número de exemplares do Correio, com o objetivo de prevenir qualquer radicalização nas opiniões expressas no jornal. Hipólito era, portanto, um editor independente perante os leitores mas que, nos bastidores, gostava de um dinheiro público. O Correio, que não apoiou a Independência brasileira, deixou de circular em dezembro de 1822. Hipólito foi nomeado pelo imperador Pedro I agente diplomático do Brasil em Londres, cargo que envolvia o pagamento de uma nova pensão pelos cofres públicos. O historiador Oliveira Lima, ao avaliar essa relação secreta, dizia que Hipólito José da Costa, ‘se não foi propriamente venal, não foi todavia incorruptível, pois se prestava a moderar seus arrancos de linguagem a troco de considerações, de distinções e mesmo de patrocínio oficial’. A Gazeta do Rio de Janeiro, ao contrário, não precisava esconder nada: era escancaradamente favorável ao governo. Como se veria nos duzentos anos seguintes, a imprensa nascida em 1808 funcionaria como um espelho da sociedade brasileira ainda em formação, com seus defeitos e virtudes.’

‘Uma das características mais curiosas do mundo atual é que toda pessoa com acesso a um computador se julga no direito de ser produtora de conteúdo. Num planeta em que todos produzem conteúdo, que papel sobra para os jornalistas e editores? A boa novidade é que em nenhum outro momento da história da humanidade a função dos jornalistas foi tão essencial. As pessoas estão afogadas em informação, mas poucas sabem lidar com ela. Ao contrário, o excesso de informação criou um nível de ansiedade sem precedente nas pessoas. Nesse novo mundo, acho que cabe aos jornalistas três funções básicas: ser editor; ser curador da informação e antecipar tendências e necessidades. Editar é ajudar as pessoas a se orientar nesse oceano de informação. É, portanto, separar o joio do trigo. Cabe aos jornalistas separar o relevante do que é inútil ou não confiável. Num mundo digital em que todos podem produzir conteúdo, cabe aos jornalistas apontar o que é confiável e o que não é. Esse papel de curadoria, ligada ao senso de ética e responsabilidade social da profissão do jornalista, nunca foi tão importante. As pessoas precisam aprender a confiar no que lêem, vêem, ouvem ou consomem.’

Laurentino Gomes – escritor, autor de 1808

‘Maiores momentos: Campanha da Abolição e Campanhas das Diretas. Os maiores pecados: as tentativas de derruba de presidentes eleitos em 1954, 1960, ao longo dos anos 90 e em 2005.’

‘Desafios: apego aos princípios jornalísticos básicos, que foram totalmente atropelados nos últimos 15 anos pelo jornalismo-espetáculo.’

Luís Nassif – diretor da Agência Dinheiro Vivo

‘A imprensa brasileira já nasceu combativa. E ousada. O Correio, de Londres, abertamente lutava pela independência. Ocupava espaço que aqui inexistia. Uma combatividade que permeou por estes 200 anos, enfrentando o arbítrio e expressa em símbolos-maiores da resistência em diversos períodos de força, como o Correio da Manhã, O Estado de S.Paulo, o Jornal do Brasil, o Pasquim e os nanicos dos anos 80, que de nanicos, quando muito, só tinham a forma. Não foi unânime, sempre houve os que por conta de interesses pessoais ou econômicos se colocaram ao lado da força, do poder. Seja qual fosse o poder. Seja em que ideologia militasse. Faz parte do jogo, felizmente, não foram a regra. Em tempos de democracia, de liberdades consolidadas, a imprensa tem novos desafios, redefinindo papéis. Fiscalizar sempre – mas sem o denuncismo fácil como tantas vezes se viu –, com responsabilidade acima de tudo. Ser útil, não ter vergonha de prestar serviço. Ter a capacidade de responder às necessidades de um leitor em transformação, em um país que se transforma, num mundo que se reinventa, tecnologicamente, culturalmente e socialmente. Ser como um porta voz deste cidadão é o único caminho.’

Luiz Fernando Gomes – editor-chefe do Lance

‘A história desses 200 anos da imprensa brasileira poderia ser escrita pelos dois vieses da grande contradição que condiciona o nosso jornalismo, desde o Correio Brasiliense: haveria uma história a contar pela perspectiva do ideal que vincula o jornalismo aos valores humanistas da liberdade, da justiça e da dignidade humana, ideal que pressupõe a capacidade da independência – e haveria belos momentos e belos exemplos a recortar, em todos os períodos desses 200 anos; e outra história seria contada, se a perspectiva assumida fosse a das razões econômicas e financeiras da sobrevivência dos jornais – e essa seria uma história de um jornalismo fortemente dependente do poder político e do poder econômico. Talvez o melhor símbolo dessa contradição seja o próprio Correio Braziliense, que foi, em sua época e nas suas circunstâncias, um baluarte das mais avançadas idéias e ideais, com conteúdos de indiscutível qualidade intelectual, mas que talvez só tenha sobrevivido, como empreendimento, graças à ajuda financeira de D. João VI, que jamais foi criticado ou contrariado pelo jornal, e o usava para controlar as cortes. Nos limites das circunstâncias de cada época e de cada momento histórico, e de um modo geral, a imprensa brasileira sempre oscilou em movimentos de sobrevivência, entre as razões dos ideais e as pressões de quem a financiava. Com momentos e experiências de esplendor e progresso nos períodos de liberdade, e momentos de heroísmo nos períodos de ditadura – e penso, no último caso, nas glórias e sacrifícios da imprensa alternativa, nos anos mais duros do regime militar. Quanto às principais virtudes, elas se manifestam, principalmente, na capacidade de evoluir tecnicamente, na convergência das três grandes vertentes da linguagem jornalística: texto, desenho gráfico e fotografia. O padrão técnico da imprensa de hoje sintetiza, de forma exuberante, essa vocação histórica do nosso jornalismo impresso, é tão bom tecnicamente quanto precário, no aspecto ético. Acrescente-se, a isso, uma outra vocação, a de dar consistência empresarial aos empreendimentos, que é hoje um dos traços mais fortes do jornalismo brasileiro.’

‘Vejo principalmente três grandes desafios, que se colocam de maneiras diferentes, mas convergentes, a jornalistas, empresários do jornalismo e fontes usuárias do jornalismo: 1) Informar e elucidar com veracidade e clareza; 2) Criar capacidades novas, nas formas de pensar e fazer jornalismo, para responder eficazmente às crescentes demandas sociais de dizer e saber, numa sociedade marcada cada vez mais pelas práticas de democracia participativa; e 3) Consolidar, nas razões de ser e fazer, ideários conectados ao projeto da Nação brasileira, sintetizado no artigo V da Constituição.’

Manuel Carlos Chaparro – escritor e acadêmico de Jornalismo

‘Sim, a imprensa brasileira cumpriu com dignidade seu papel ao longo desses 200 anos de vida. Sob muitos aspectos, foi melhor que o Brasil neste período: mais dinâmica, mais inovadora, mais moderna. Sempre teve no leitor um vigilante severo, e isso a obrigou a respeitar o ‘mercado’. Jornais e revistas que de alguma forma ‘ofenderam’ o leitor, ao fazer um jornalismo de conteúdo e ética duvidosos, foram para o cemitério em grande número. A imprensa brasileira vive sob um regime positivo de darwinismo: sobrevivem e florescem aqueles que fazem os melhores conteúdos, qualquer que seja a plataforma.’

‘Os desafios para o futuro são os mesmos de sempre, adaptados às circunstâncias. A mídia digital terá uma presença formidável na sociedade, e as grandes empresas de mídia entenderam que o que parecia ser uma ameaça é, na verdade, uma grande oportunidade. Quem vai dominar o jornalismo digital é quem tiver marca, credibilidade e conteúdo — e estes são os ativos das grandes empresas de mídia. No caso das revistas, o que vai acontecer é uma espécie de ‘parceria’ entre o conteúdo impresso e o conteúdo digital. Na Editora Globo, os editores são instados a ter ‘um olho na revista e outro no site’, e esta é uma cultura nova que vem se enraizando entre nós rapidamente. As revistas vão para seus ‘territórios de vantagem competitiva’: o que os americanos chamam de great writing, textos de primeira qualidade, fotos incríveis, design arrojado, papel de qualidade. Enfim, um produto que você folheia com prazer ‘sensual’, e não raro coleciona. Os sites das revistas operam no regime do 24 por 7 — furos, rápida mobilidade de noticiário, o compromisso com o célebre lema da CNN, ‘aqui você é o primeiro a saber’, numa tradução livre. A marca das revistas será a combinação do conteúdo impresso e do conteúdo digital. No caso, por exemplo, de Época: a edição impressa é uma tarefa semanal nossa; a edição digital é uma tarefa de todo momento. Época é ambas.’

Paulo Nogueira – diretor Editorial da Editora Globo

‘Cumpriu com dignidade e louvor. Ajudou a escrever a história e fez parte dela. Aperfeiçoou-se juntamente com o desenvolvimento da sociedade. Foi uma janela de liberdade em períodos de opressão e censura, co-protagonizou a volta da democracia e é até hoje seu monitor vigilante. Esteve e está ao lado da população: fiscalizando os poderes, denunciando e expressando indignação diante de injustiças e imoralidades, ajudando a entender planos econômicos, esclarecendo a nova ordem social e econômica. Um País com uma imprensa livre, independente e de qualidade é um País melhor. E o Brasil pode hoje se orgulhar de ter órgãos de imprensa que se situam entre os melhores do mundo.’

‘Há duas frentes de desafio: a) varrem o mundo ventos renovados do individualismo, do hedonismo. As relações estão pautadas pela competição, bela busca da eficiência, do bem-estar pessoal e por uma forte dose de mercantilização. Com isso, o debate público, o interesse pelo coletivo e pelas políticas públicas, está ficando em segundo plano; b) as novas mídias digitais, que têm muito de notável e de positivo, em grande medida exacerbam a comunicação ‘individualizada’. A audiência vira emissora. Pessoas, especialmente os mais jovens, querem ter contato com quem pensa igual. Disso tudo deriva a grande missão para a geração que hoje edita notícias: tentar perpetuar os valores do jornalismo, os valores da edição, transpondo-os para as novas mídias. O cenário é mundial. Mas o Brasil não pode se permitir o azar de, justo na hora em que consolida sua democracia, sua economia e seu papel no cenário mundial, deixar de ter jornalismo legítimo. O Brasil precisa de uma imprensa forte – e reconhecida pela sociedade como tal – para bem seguir em frente.’

Ricardo Gandour – diretor de Conteúdo do Grupo Estado

‘Durante esses 200 anos, é difícil dizer se a imprensa cumpriu seu papel (que papel?), porque não sou tão velho assim nem estudioso da história da imprensa brasileira. Não dá para generalizar, porque a imprensa brasileira viveu muitos ciclos de altos e baixos, mais ou menos livre, mais ou menos atrelada a governos e grupos econômicos. Nos últimos 50 anos, pelo menos, tivemos muitas mudanças na linha editorial dos nossos principais jornais. Se pegarmos só os três maiores, Folha, Estadão e Globo, veremos que eles não tiveram uma história linear nem mesmo na defesa da democracia. Os três, por exemplo, apoiaram ostensivamente o golpe militar de 1964, para só anos mais tarde se engajarem, lentamente, na luta pela redemocratização do país.’

‘O principal desafio que se coloca para todos nós é como encarar a revolução provocada nas comunicações humanas pelo advento da internet, a maior desde a invenção da imprensa por Joseph Guttemberg, há mais de 500 anos. Ninguém sabe onde isso vai dar, mas uma coisa é certa: quaisquer que sejam as plataformas do futuro, não muda a natureza do nosso ofício, que é o de descobrir as novidades para contar e explicar o que está acontecendo, com a maior honestidade possível.’

Ricardo Kotscho – diretor da revista Brasileiros e colunista do iG

‘Para ser ‘forte, representativa e influente’, a imprensa deve continuar desempenhando seu papel de cão-de-guarda do País. Necessita – antes de tudo – do respeito à Constituição que lhe garante a liberdade tão fundamental para isso. Precisa também da indispensável vontade – não apenas dos jornalistas, mas também dos proprietários – para fazê-lo. Não menos importante, precisa da independência econômica que somente existe na medida em que não dependa do governo para o seu sustento básico. E isto exige, por sua vez, a competência, a concorrência e a publicidade que somente a livre iniciativa gera e estimula.’

Roberto Civita – presidente da Editora Abril

‘Foram 200 anos de idas e vindas, mais idas do que vindas, muita censura e pouca liberdade. Mas nos últimos 25 anos vivemos uma época de ouro, com o mais ‘longo’ período de liberdade de nossa história. Não apenas uma liberdade concedida, pois isso houve também na era de D. Pedro II, o mais democrata e ‘republicano’ de nossos governantes. Agora vivemos um regime realmente pleno de liberdade política e – mais importante – econômica, que é a mãe de todas as liberdades. Na grande imprensa brasileira, hoje, a participação do setor público na publicidade oscila entre 2% e 5%, para desespero dos governantes de plantão, que não têm mais meios de pressionar a imprensa de qualidade. Isso é inédito na nossa história, e raro no mundo.’

‘Temos grandes desafios. Consolidar a liberdade de imprensa, algo que, por exemplo, está na lei de um país como a Suécia desde 20 anos antes da Revolução Francesa. Garantir a pluralidade editorial. Enfrentar os desafios e oportunidades da revolução digital. E, sobretudo, investir em qualidade e em bons profissionais – é aí que a imprensa vai se diferenciar de seus reais, imaginários e potenciais concorrentes.’

Rodolfo Fernandes – diretor de Redação de O Globo

‘Cumpriu e cumpre com dignidade o seu papel social. Um imprensa livre e de qualidade é uma conquista da sociedade brasileira e deve ser comemorada por TODOS, não apenas pelos empresários. Acredito que o maior pecado original tenha sido, e de certa forma ainda é, a dependência excessiva e o vínculo com os interesses do Estado e, mais recentemente, do poder econômico.’

‘Não tenho dúvida de que o maior desafio colocado para a mídia nacional seja o compromisso estratégico com um projeto nacional que inclua um sistema democrático de comunicação, com um novo marco regulatório, desconcentração da propriedade e instrumentos democráticos de controle público. Para a Fenaj, também é essencial a adoção de medidas que efetivamente valorizem o trabalho dos jornalistas brasileiros. Uma pauta negligenciada com freqüência pelos donos da mídia nacional.’

Sérgio Murillo de Andrade – presidente da Fenaj

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Corrupção é crime, não imoralidade!, 2/6

‘Há quem coloque a corrupção no campo da imoralidade, como se fosse apenas uma questão de maus costumes. Pertence a essa moldura a leniência verbal do Presidente da República, quando, a propósito do mensalão, e com a maior cara de pau, nos disse que o PT apenas fez o que os outros sempre fizeram. Na mesma linha, temos também o eufemismo delubiano dos ‘recursos não contabilizados’, para disfarçar o crime eleitoral do’ Caixa Dois’. Mas corrupção é crime, está no campo da ilegalidade.

1. Ladrão nasce feito…

Neste domingo, em sua indispensável crônica na Folha de S. Paulo (p. E10), o notável Ferreira Gullar achou por bem escrever sobre corrupção. Talvez o poeta tenha sido motivado pelas ações da Polícia Federal e do Ministério Público, que, na caça a ladrões de dinheiro público, vêm revelando escândalo atrás de escândalo, em que figurões da política aparecem como protagonistas.

Com o alarido jornalístico feito, parece até que a corrupção cresceu, e muito, em relação a épocas e a governos anteriores. Ferreira Gullar não acredita nisso, e apresenta as suas boas razões para esse seu palpite. Para ele, o que existe são novos corruptos e formas mais refinadas de corrupção (e a isso, o poeta chama de neocorrupção).

Para tomar emprestado do poeta um parágrafo que me ajude como ponto de partida, transcrevo:

‘(…) Se de fato, como a arte, a corrupção não evolui, cumpre observar que, nestes últimos anos, ela nos tem revelado facetas inusitadas. E isso se deve, justiça seja feita, à indiscutível contribuição do PT, que, como se sabe,nasceu para mudar o Brasil. Se não mudou as relações de propriedade, instaurando o socialismo, inventou pelo menos uma nova maneira de apropriar-se do dinheiro público, ou de fazê-lo impunemente’.

Para sustentar o que diz, o poeta cita a fieira de casos em que o PT se envolveu, ou foi envolvido, com ‘artes’ de corrupção – do mensalão ao recente dossiê relacionado com o mau uso de cartões corporativos.

Talvez o poeta tenha sido um tanto injusto, ao atribuir ao PT todos os méritos de criatividade, em termos de roubo do dinheiro público. Afinal, os três últimos escândalos trazidos a público pela Polícia Federal e pelo Ministério Público têm como protagonistas políticos de outros partidos: Paulinho, do PDT; Garotinho e sua gente, do PMDB; e a turma do PSDB envolvida nas suspeitas do caso Alstom.

Mas o poeta tem plena razão quando escreve, concordando com Machado de Assis: ‘Não é a ocasião que faz o ladrão; a ocasião faz o furto; o ladrão já nasce feito’. Daí, a conclusão de que ‘o Brasil parece tão pródigo em corruptos quanto em craques de futebol’ – com um lamento quase poético: ‘Pena que aqueles prefiram continuar atuando no país’.

2. Roubar é crime!

A verdade é que, à semelhança dos sucessos alcançados no futebol, a experiência brasileira nas ‘artes’ políticas de roubar dinheiro público é surpreendentemente exuberante em todas e em cada uma das três vertentes abrangidas pelo conceito de corrupção: o favorecimento em troca de recompensas, por parte de funcionários públicos; o nepotismo, denominação dada à concessão de empregos e/ou contratos públicos não por mérito, mas pelas relações de parentesco; e o peculato, que vem a ser o desvio e a apropriação de dinheiro público, em proveito particular.

Há quem coloque a corrupção no campo da imoralidade, como se fosse apenas uma questão de maus costumes. Pertence a essa moldura a leniência verbal do Presidente da República, quando, a propósito do mensalão, e com a maior cara de pau, nos disse que o PT apenas fez o que os outros sempre fizeram. Na mesma linha, temos também o argumento delubiano dos ‘recursos não contabilizados’, eufemismo usado pelo então tesoureiro do PT, para disfarçar o crime eleitoral do ‘Caixa Dois’.

E o malandro do Delúbio até fez escola…

A despeito do lugar de honra ocupado pela corrupção no elenco histórico dos comportamentos políticos brasileiros, a corrupção pertence, sim, ao universo da ilegalidade. É crime. E como crime deve ser tratado, não apenas nas formas de repressão penal, mas também no espaço das convicções cívicas.

Cabe até dizer: o futuro da Nação reclama uma pedagogia familiar e escolar que ensine às nossas crianças que político corrupto e administrador corrupto, tanto quanto os corruptores, são sujeitos safados, indignos do convívio social democrático. E que, com o rigor da lei, devem ser investigados, julgados e postos a cadeia, se provada a culpa.

3. ‘Corrupção’, suavidade semântica

Para certos casos de roubo do dinheiro público, os termos ‘corrupto’ e ‘corrupção’ são até suaves, se tomados no seu significado conceitual.

Na ciência política, por corrupção se entende um certo conjunto de modos de influenciar decisões públicas, para delas tirar proveito.

A atividade do ‘lobby’, por exemplo, que, de forma avassaladora, se disseminou entre nós quase sem regulamentação, é uma atividade especializada em táticas de pressão sobre congressistas, peritos e membros importantes do poder executivo, tendo em vista futuros ganhos. Atua numa fronteira porosa entre o legal e o ilegal, com uma lógica que tem muito a ver com o conceito de corrupção. O mesmo se pode dizer desses financiamentos de campanhas eleitorais, por parte de organizações empresariais que estão de olho em futuros contratos públicos e em outras alternativas de ganhos.

Nos conceitos de corrupção se enquadram, também, os esquemas montados para obter acessos privilegiados a informações, para lucros futuros. E que lucros, às vezes!

Também estão no campo conceitual da corrupção as negociações sigilosas de bastidores que resultam em formatos convenientes de licitações, manipulação de decisões e formatação de leis. E corrupção é também o nome que pode ser dado aos acertos escusos que ajudam o corrupto a fugir a penas previstas em lei.

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Como se vê, nesses casos noticiados, o roubo do dinheiro público ultrapassa, em gravidade, os níveis conceituais do termo corrupção. É ladroeira, mesmo. E da grossa.

Infelizmente, em boa parte deles, ladroeira sacramentada nas urnas.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

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