Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Comunique-se

MÍDIA & POLÍTICA
Carla Soares Martin

MP de Minas Gerais tira site do ar por denúncias a procurador de Justiça

‘O Ministério Público Estadual de Minas Gerais tirou do ar nesta quinta-feira (15/08) o site Novo Jornal, por difamação a autoridades estaduais e federais, entre elas, o próprio procurador-geral de Justiça de Minas, Jarbas Soares.

Além de proibir o acesso ao site, o MP mudou a home, colocando uma mensagem da Promotoria Especial de Combate aos Crimes Cibernéticos, com o logo do Ministério Público.

O site fazia uma campanha contra o procurador Jarbas Soares, aproveitando um emblema do MP: ‘O que você tem a ver com a corrupção?’. O Novo Jornal acrescentava depois da pergunta o nome do procurador.

‘Nós estamos cobrando do procurador que desempenhe seu papel. Reconhecemos que as matérias são polêmicas, mas queremos que o Ministério Público ‘desengavete’ denúncias que chegaram a Minas sobre o mensalão’, afirmou o diretor-responsável pelo site, Marco Aurélio Flores Caroni.

Além da justificativa de difamação, o MP disse que o site não teria um responsável. Caroni defende-se, explica que, na ausência de um jornalista responsável, quem responde pelo site é seu diretor.

A medida é uma liminar. Ainda não houve o julgamento de mérito da suspensão do site e o inquérito corre em segredo de Justiça.’

 

IMPRENSA & JUSTIÇA
Carla Soares Martin

Gilmar Mendes critica exibição de presos na mídia, 15/08

‘O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, criticou nesta quinta-feira (14/08) a exibição de presos por parte da mídia. ‘A exposição de presos viola a idéia da presunção de inocência, viola a idéia da dignidade da pessoa humana’, afirmou o ministro, segundo a assessoria de imprensa.

Para que o tema seja discutido no Supremo, contudo, um caso concreto, como a do habeas-corpus de um pedreiro no caso da limitação do uso das algemas, precisa chegar ao STF.

A assessoria de imprensa do ministro informa que Mendes é contra a exploração de imagens de presos desde quando era procurador da República, quando alertou supostos excessos cometidos pelo extinto programa Aqui Agora.’

 

OLIMPÍADAS DE PEQUIM
Maurício Savarese

Globo celebra transmissão pioneira do vôlei de praia nos Jogos Olímpicos, 15/08

‘São várias as redes de TV que recebem a responsabilidade de transmitir para o resto do mundo as imagens de um esporte durante as Olimpíadas. Os Jogos de Pequim pela primeira vez contam com uma empresa brasileira, a Rede Globo, nesse destacado papel, nas transmissões do vôlei de praia.

‘O convite surgiu porque a Globo é a que melhor transmite o circuito mundial de vôlei de praia no mundo. Foi natural mesmo’, disse ao Comunique-se um dos responsáveis pelo trabalho da Globo, que levou mais de 120 funcionários para a capital chinesa.

A principal transmissora dos Jogos Olímpicos é a norte-americana NBC, que levou mais de 2 mil profissionais para Pequim. Mas a natação, esporte da principal estrela das competições até agora, tem imagens transmitidas por uma TV australiana. O torneio de beisebol é transmitido pela rede estatal cubana.

‘O Comitê Olímpico Internacional só nos pediu uma coisa: uma transmissão reta e direta. Por isso não inventamos nada aqui em Pequim, estamos fazendo um trabalho tranqüilo e que, por isso, nos deixou bastante satisfeitos com a resposta até agora’, afirmou o funcionário da Globo, que pediu para não ser identificado.

Outro funcionário da empresa carioca afirmou que ‘existe uma nuvenzinha de dúvida’ sobre se o trabalho prosseguirá após os Jogos de Pequim porque a Record comprou os direitos de transmissão das Olímpiadas de 2012, em Londres.

‘A decisão de quem transmite eventos picados é do COI, mas não dá para ignorar que eles podem mudar de idéia se não nós não tivermos os direitos de transmissão para o Brasil’, afirmou.

Produtor da rede alemã ZDF, que também transmite vários eventos olímpicos, o jornalista alemão Erich Wagner diz que acompanhou parte do trabalho da Globo no vôlei de praia e viu melhorias em relação aos Jogos de Atenas, em 2004. ‘Os brasileiros parecem ter uma visão de quadra melhor e isso se reflete na transmissão. Antes as imagens chegavam um pouco quebradas, a bola sumia do vídeo e estava claro que podia melhorar. Pelo que vi, melhorou bem’, comentou.

Para ele, a TV brasileira também poderia competir pelas transmissões de vôlei de quadra, o que os funcionários da Globo não descartaram para o futuro. ‘O vôlei de praia é uma porta de entrada muito boa. A decisão é sempre do COI, mas se vier para o nosso lado, acho que será bem-vinda’, disse um deles.’

 

Antonio Brasil

Assistir às Olimpíadas pela TV é muito chato!, 11/08

‘Que me perdoem os ‘fanáticos’, mas com a exceção de poucos e raros momentos, assistir às Olimpíadas pela TV é um programa muito, muito chato. Sei que tem gente que adora ficar horas durante as madrugadas insones assistindo a intermináveis eliminatórias de natação, dezenas de lutas estranhas e esquisitas ou partidas de qualquer coisa entre Letônia e Estônia. Mas eu confesso que não consigo. Bem que tentei. É muito, muito chato.

Ainda mais com esse fuso horário ingrato que nos separa ainda mais das China. Prefiro o conforto e a comodidade dos ‘melhores momentos’. Pelo menos, são mais curtos.

Creio que o maior problema da cobertura ao vivo de olimpíadas, ao contrário da cobertura da Copa do Mundo pela TV, por exemplo, é o excesso! Excesso de tudo.

De vez em quando, em raros momentos somos contemplados com alguma emoção e boas imagens. Mas no geral, o que assistimos é um desfile de esportes que não rendem boas imagens para a TV. Bem que os técnicos e especialistas se esforçam para colocar câmeras em todos os lugares. Mas o milagre da multiplicação das câmeras nem sempre funciona. Ás vezes atrapalha. Peca pelo excesso, pela confusão de imagens. O telespectador acaba confuso e não consegue acompanhar nada. É o excesso de eventos e de imagens.

Mas o que mais atrapalha é o excesso de bobagens proferidas pelos apresentadores e comentaristas. É o inevitável e famigerado Febeaol, Festival de Besteiras que Assola as Olimpíadas.

Poder do silêncio

A transmissão pela TV da cerimônia de abertura foi um suplício. Um festival de abobrinhas, informações inúteis e desinteressantes sobre os países participantes. E um show de palavras inúteis para descrever o que as imagens já estavam mostrando.

O maior problema é que esses comentários inúteis e repetitivos tendem a ser tão longos quanto essas cerimônias. Um show de boas imagens poluídas pela redundância jornalística.

Nossos apresentadores e comentaristas deveriam acreditar mais no poder do silêncio. Explico. Não se trata de desligar o som da TV. Mas acreditar no poder do som ambiente dessas cerimônias ou dos eventos esportivos transmitidos pelas TVs.

Nossos apresentadores e comentaristas deveriam acreditar mais no poder de ‘ficarem calados’ para evitar dizer bobagens e redundâncias.

Parece que todos são incitados ou obrigados por seus diretores a falarem o tempo todo.

Até hoje ainda não aprenderam que o ‘som’ dos estádios e o ‘silêncio’ dos comentários contribuem para a transmissão de boas imagens. A TV deveria acreditar mais no poder dessas imagens e na riqueza do som direto para descrever a emoção do momento.

Aqui entre nós, todos esses apresentadores e comentaristas deveriam ser obrigados a assistir e ouvir suas próprias transmissões para avaliar o nosso sacrifício. Tenho certeza de que ficariam chocados.

Sei que é difícil, quase impossível, mas deveriam se esforçar para falar… menos. Deveriam valorizar seus comentários com a humildade do silêncio. Ter a coragem de dizer: não sei ou não tenho mais nada a perguntar. Nada mais sábio!

Mal-estar entre apresentadores

Até hoje ainda me lembro da longa transmissão ao vivo pela Globo do cortejo com o corpo de Ayrton Senna pelas ruas de São Paulo. Foram horas e horas de muita emoção, boas imagens e bobagens infindáveis proferidas pelos narradores do evento.

Mas em determinado momento o William Bonner, um dos apresentadores encarregados da transmissão ao vivo, teve a coragem de reconhecer o desastre e declarar que não tinha mais nada a dizer. Segundo Bonner, as imagens já estavam mostrando tudo e ele preferia ficar em silêncio. Foi uma enorme e bem-vinda surpresa na transmissão de eventos ao vivo pela TV.

A lição deveria ter sido aprendida e repetida na transmissão das Olimpíadas de 2008.

Se não fosse por nada, para evitar situações embaraçosas como essa citada na Folha de SP (ver aqui).

‘Galvão se estranha com Sonia Bridi na Olimpíada. Quem viu a transmissão ao vivo da emissora, em Pequim, pôde notar um certo mal-estar entre Galvão Bueno e Sônia Bridi. Eles se atropelavam o tempo todo. Eram frases inteiras ditas umas em cima das outras. Depois, no ‘Jornal Hoje’, Galvão segurou o braço de Sônia para poder falar.’

Perceberam? É o velho problema da vaidade e do excesso. O excesso de tudo na cobertura das Olimpíadas pela TV!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

Comunique-se

Site chinês retira do ar reportagem que envolve ginasta em escândalo, 15/08

‘O escândalo envolvendo a atleta de ginástica olímpica chinesa He Kexin chegou à imprensa. A versão online do jornal China Daily publicou uma reportagem dizendo que a atleta tem apenas 14 anos. Para participar dos Jogos Olímpicos, a idade mínima é de 16 anos.

De acordo com a sites americanos, a reportagem foi modificada e a idade foi alterada para 16 anos. Entretanto, página original ficou guardada no arquivo do Google.

Nesta sexta-feira (15/08) a reportagem não pôde ser acessada.’

 

MERCADO EDITORIAL / EUA
Milton Coelho Graça

Alerta sinistro lá fora: mil demissões, 15/08

‘Gannet, a maior empresa jornalística dos Estados Unidos (e também com jornais na Grã-Bretanha), com dezenas de jornais regionais e 20 mil funcionários, anunciou nesta quinta-feira, 14/8, um corte de 600 demissões imediatas, podendo o passaralho total chegar a mil, com aposentadorias precoces, demissões voluntárias e não-preenchimento de vagas.

Mas o comunicado da empresa teve o cuidado de explicar que seu carro-chefe, o diário USA Today não será atingido pelo terremoto, esclarecendo sua tristeza pelas demissões, inevitáveis ‘pela crescente queda nas receitas de circulação e publicidade’, mas que poderão se repetir ‘se esse declínio continuar’.

A Newsquest, subsidiária britânica da Gannet (17 diários, 300 outras publicações semanais, circulação total semanal superior a 10 milhões de exemplares, 7800 empregados), já havia anunciado uma queda de 19% na receita de anúncios classificados em junho, em comparação com os números do ano anterior.

Não há análise ainda sobre o quanto esses problemas da Gannett se devem a problemas específicos da empresa e da indústria jornalística, ou à situação geral da economia nos Estados Unidos e na Europa, que apresenta indícios de recessão próxima, afetando o poder de compra de anunciantes e leitores.

Vamos torcer para que se confirmem as previsões otimistas de nosso ministro Mantega (cuja bola de cristal não é das mais confiáveis), com 5% de crescimento do país e sem respingos por aqui da crise externa. Mas é bom ficar de olho no horizonte. Passaralho é bicho traiçoeiro.

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Fontes são boas mas sem acordo

Fonte A (do Estadão): ‘Não há a menor hipótese de que o jornal seja vendido a O Globo ou qualquer outro interessado. A divisão da família Mesquita é incontornável.’

Fonte B (de O Globo): ‘A conversa entre os Marinho e os Mesquita continua. É forte a resistência dos irmãos Rui e Rodrigo a qualquer negócio, mas não é incontornável.’

Quem gosta menos de crítica ou curiosidade jornalística? Político, juiz ou dono de jornal?

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O império Google quer mais. E assusta

O Google amplia cada vez mais sua ação açambarcadora de verbas publicitárias. Depois do YouTube e do Blogger, lançou há menos de um mês o Knol, uma espécie de enciclopédia aberta a colaborações de qualquer pessoa, mas com pequena diferença em relação à Wikipedia: só o autor inicial do verbete pode depois mexer nele. E, se tiver grande consulta, o Google se dispõe a vender publicidade no verbete (da mesma forma como faz com o YouTube), com o autor levando uma parte do dinheiro.

A questão é que existem dezenas de empresas na internet vendendo publicidade nas mais diversas áreas. Sua rentabilidade depende do respeito sem qualquer suspeita à regra fundamental na apresentação de qualquer tema solicitado ao Google: o site com o maior número de consultas tem o primeiro lugar na apresentação e a lista (freqüentemente interminável) vai até o fim seguindo o mesmo critério.

Ninguém até hoje contestou que o Google esteja seguindo rigorosamente esse compromisso. Mas quem garante que os verbetes do Knol não comecem a estar sempre entre os três primeiros de qualquer assunto solicitado? Isso já está acontecendo, poucos dias após o lançamento do Knol. Ninguém até agora reclama ou duvida da integridade do Googlemas, mesmo com máxima confiança em integridade, a questão existe e assusta.

O New York Times publicou grande matéria (11/8, página C1) sobre o perigo de, digamos, concorrência desleal (o NYT não menciona essa expressão), que poderia prejudicar todos os sites dedicados a fornecer informações desejadas pelo público — sites de mídia, portanto, semelhantes a jornais gratuitos especializados – que os autores dos verbetes tenham colocado na nova ‘enciclopédia’, criada pelo Google.

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Voltei a escrever em papel. Graças à web!

Estou escrevendo uma coluna todas as quintas-feiras no jornal goiano Diário da Manhã – acessível em www.dm.com.br.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

CAMPANHA SALARIAL
Marianna Senderowicz

Jornalistas rejeitam proposta patronal de reajuste, 14/08

‘Participantes da Assembléia Geral realizada nesta quinta-feira (14/08) na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SJPRS) rejeitaram a proposta patronal de reajuste salarial, que sugeria acréscimo de 6,64% (INPC) mais 1% para o piso de Porto Alegre e mais 2% para o interior. Os sindicatos das empresas proprietárias de jornais e de radiodifusão também propuseram uma cláusula chamada de ‘Acordo compensatório de horas de trabalho’, rejeitada por unanimidade pelos jornalistas.

Pela proposta patronal, o piso da capital chegaria a R$ 1.314 e somaria R$ 1.087,73 no interior. Os profissionais aprovaram uma contraproposta que prevê aumentos reais de 1,5% para capital e 3% para outras cidades (assim, os pisos ficariam em R$ 1.320,51 e R$ 1.098,39, respectivamente). Não há previsão de novo encontro para discutir o dissídio.’

 

JORNALISMO INVESTIGATIVO
Rubens Ferreira Marujo

Quarta matéria da série, 15/08

‘Eduardo Ribeiro traz a quarta matéria escrita pelo jornalista Rubens Ferreira Marujo, que viveu na rua depois de perder emprego, família, enfim, tudo que tinha. Agora, ele voltou a trabalhar e viver com dignididade e está escrevendo para Diário do Comércio, onde o texto abaixo e os outros que vêm sendo reproduzidos no Comunique-se foram publicados. Não perca na segunda-feira (18/08), a quinta matérie da série.

‘Dias atrás recebi um e-mail me informando que o ‘Palácio de Versalhes’ foi fechado. Era de um amigo, muito espirituoso, que se referia à desativação do albergue São Francisco.

Então lembrei do primeiro dia que passei lá. Cheguei no final da tarde, com duas sacolas de plástico nas mãos, contendo duas camisetas, um desodorante, escova e pasta de dente. Era tudo o que sobrou do meu patrimônio. Sentia uma forte angústia e um dos monitores foi logo me avisando: ‘o senhor tome muito cuidado com as suas coisas, porque aqui se rouba de tudo.’

Verdade. Lá dentro do albergue eles roubam tudo o que conseguem, inclusive cuecas e escova de dentes. O que fazem não sei, mas o resto da mercadoria roubada vai virar negócio nas ‘feiras do rolo’, que acontecem na praça da Sé.

Fiquei sabendo que havia mais dois jornalistas lá. Um deles, aliás, é fotógrafo, já fez várias capas de livros, revistas e CDs. O outro foi redator e repórter em dois grandes jornais de São Paulo. Um deles disse: ‘tem um outro fotógrafo que trabalhou durante muito tempo numa das maiores agências de publicidade do País. Está morando ali na praça Pérola Byington, na Bela Vista.’

Fiquei chateado com o que acabara de ouvir e respondi: ‘então amanhã mesmo vou andar mais por aquela praça e arredores. Vou levar solidariedade a ele e, quem sabe, ele não se junta a nós?’ Meus esforços, infelizmente, não resultaram em nada. Na praça há uma grande concentração de moradores de rua, mas nunca consegui identificar o tal fotógrafo.

Dias depois, um colega me contou que nos albergues da Prefeitura moram, aproximadamente, 138 pessoas com formação superior. Há arquitetos, jornalistas, engenheiros, advogados e um ou dois médicos, não me lembro bem.

Rotina – São 5 horas. No melhor do sono, as luzes do amplo dormitório com 400 albergados são ligadas. É hora de levantar. Mais um dia de luta. Lavava o rosto, escovava os dentes e ia tomar meu café. Depois, sentava numa espécie de degrau e ficava fumando. Fiz do meu adversário um grande aliado, enquanto estive ali. Fumava demais.

Ficava observando aquele grande movimento de homens sujos e maltrapilhos, que geralmente não falavam coisa com coisa. Muitos usavam muletas ou bengalas, com a perna ou os braços engessados. Não era difícil adivinhar o motivo: atropelados por causa da embriaguez.

Falava pouco e mais ouvia. Por isso, talvez, muitos sentavam ao meu lado e contavam os seus dramas. Para todos eu sempre tinha uma palavra de estímulo. Percebi que aqueles homens precisavam de atenção. E era tudo que não tinham ali. Em função disso e dos cigarros que doava, fiz muitos amigos.

Pouco antes das 7 horas já estava na rua. Passava na banca de jornal mais próxima, para ler as manchetes e as notícias de primeira página dos principais jornais. Eu era um maloqueiro bem informado. Quando ainda estava com sono, eu pegava um ônibus que fazia um roteiro bem distante e ia dormindo. Não foram poucas as vezes que acordei com o cobrador gritando: ‘Senhor! Ponto final do Terminal Santo Amaro. Queira descer, por favor!’

Eu acordava assustado e sem graça. Ainda cambaleando de sono, descia, subia a escada do terminal e pegava o ônibus de volta. Graças aos meus cabelos brancos eu não pagava passagem. Duas horas para ir e mais duas para voltar: eram quatro horas a menos na rua. Aí tentava almoçar.

Cultura – Em seguida, eu seguia para o Centro Cultural Caixa, que fica ao lado da Caixa Econômica Federal, na praça da Sé. Ali dava para ler jornais, revistas e usar a internet de graça por meia hora. Dava mais uma espiada nas notícias mais recentes e colocava meus e-mails em dia.

Às vezes, seguia para o Centro Cultural do Banco do Brasil ou para o Sesc na rua do Carmo. São excelentes opções para se ler. Ainda dava para tomar água mineral e usar um banheiro limpo. Eu e mais um grupo de dez albergados só usávamos o banheiro imundo do albergue para tomar banho e lavar o rosto. As necessidades fazíamos em banheiros públicos. Assim, também trocávamos dicas de bons banheiros.

Outro lugar que freqüentei muito foi a Câmara Municipal, bem em frente ao albergue. Era só atravessar a rua. Ia lá no primeiro andar tomar um cafezinho de graça. Muita gente ia lá. Os bules ficam em cima de um balcão e a gente mesmo se servia. Um dia perguntei para a copeira quantos cafés ela fazia por dia: ‘faço 80 quilos.’ Fiquei assustado com a resposta.

Espantalho – Depois voltava para a rua. Tinha de enfrentar a realidade. Como é duro ter de ficar na rua. Além da humilhação, o corpo fica todo dolorido. Meus pés doíam e, no final da tarde, inchavam. Andava todo desconjuntado de tanto sentar em superfícies duras. Quanta saudade de um sofá. Sentava em um degrau de uma porta qualquer e ficava pensando na vida, no meu passado. Com um tênis furado, que comprei por R$ 2 num bazar beneficente, uma calça jeans larga e uma camiseta suja, sentia-me um verdadeiro ‘espantalho’.

Numa tarde fazia muito calor. Entrei num bar e sentei num banquinho. Pedi um copo de água da torneira e o funcionário respondeu: ‘Escuta aqui meu senhor. Água da torneira aqui se toma em pé e do outro lado do balcão.’ Saí chateado e voltei a andar. Sentia uma vontade louca de tomar um cafezinho, mas não tinha um centavo no bolso. Então andava olhando para o chão na esperança de encontrar dinheiro.

Assim o tempo ia passando, e o final da tarde se aproximava. Hora de voltar para o albergue. Como consolação eu pensava que é melhor do que ficar na rua. Após o jantar, ficava conversando mais uma meia hora com alguém e ia dormir bastante exausto. Quando via alguém reclamando de gripe ou resfriado, dava comprimidos. Mas só dava para quem eu sabia que não bebia. Além disso, pedia que o companheiro fosse procurar um médico. Percebi que, quanto mais ajudava, as coisas ficavam melhores. Quando me revoltava, nada dava certo.

Uma noite, um colega veio me pedir um comprimido. Tremia muito e estava com febre. Dei um antigripal para ele, que foi pra cama descansar. Mais tarde perguntei como estava e tive como resposta: ‘melhorei um pouco, mas quando respiro dói muito.’ De cara pensei: está com pneumonia. Mas não falei nada. No dia seguinte pela manhã não o vi mais. Só reapareceu depois de uma semana. Foi internado com pneumonia mesmo e contou ter recebido tratamento de primeiro mundo, num pequeno hospital público da Prefeitura, chamado Glória.

Foi tão bem tratado que, ao receber alta pela manhã, as enfermeiras o convidaram para o almoço. Mas ele agradeceu e foi embora. Estava muito deprimido por ter deixado o hospital e voltado para o albergue.’

Leia também:

Da arrogância à humilhação, a volta da dignidade

O repórter que morou nas ruas de São Paulo conta o que viu e o que viveu

Sem lenço, sem documento e a rua como moradia

 

MEMÓRIA / JOEL SILVEIRA
Tiago Cordeiro

Perfil: Joel Silveira, 15/08

‘A fase da ‘grande reportagem’ ocorreu durante o Estado Novo com jornalistas como Edmar Morel, David Nasser e Samuel Wainer colocando o repórter como principal personagem do meio jornalístico. Nesse período, Joel Silveira se destacou como um repórter por vocação e de talento inegável para contar histórias. Essa aptidão começaria a ser reconhecida em 1943 com a reportagem ‘Grã-finos em São Paulo’, publicada pelo Diário da Noite. Matéria em que o sergipano, há 70 anos no Rio de Janeiro, narrou os bastidores dos salões de festas de tradicionais famílias paulistas.

‘Ele morria de inveja de um personagem que o Victor Hugo citava que era guilhotinado e minutos antes de morrer dizia ‘lamento morrer porque eu queria ver o resto’. Se ele pudesse fazer a cobertura da sua própria morte, ele faria’, afirma Geneton Moraes Neto, que se define como ‘um amigo e pupilo há vinte anos’ do jornalista. A pedido de Silveira não haverá velório, mas a cerimônia de cremação será às 14h, da quinta-feira (16/08), no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

Nesta quarta-feira, o jornalista morreu de causas naturais aos 88 anos. Segundo sua filha, Elizabeth Silveira, ele sofria de câncer de próstata, mas não quis se tratar para poder morrer em casa. Com passagens por jornais como O Estado de S. Paulo, Correio da Manhã, Última Hora e a revista Manchete, ele deixa como referência um padrão de qualidade nas reportagens que hoje deixou de ser comum.

Trincheiras

Durante a segunda guerra mundial, o jornalista emprestaria seu talento para a cobertura do conflito junto com a Força Expedicionária Brasileira (FEB), na Itália. Na época, houve a transição do trabalho de correspondentes de guerra dos militares para os civis.

‘A guerra que cobri era uma guerra aberta, senti o gosto no sangue. A que o Joel cobriu foi de trincheira, de acampamento. Ele escreveu sobre o cheiro da guerra. Um cheiro de óleo diesel e excremento humano’, descreve o correspondente José Hamilton Ribeiro, que esteve no Vietnã.

Ribeiro reitera que a imprensa nacional dá cada vez menos espaço para trabalhos como os de Silveira. ‘Como o repórter de grande profundidade que ele era, seu espaço foi cada vez mais asfixiado. Não é comum publicar grandes reportagens, à exceção, talvez, da Brasileiros’, opina.

Brasileiro & Brasileiros

‘A revista que a gente faz é pra gente como o Joel Silveira. Se a gente pudesse escolher um símbolo para a revista seria ele’, concorda o jornalista Ricardo Kotscho, diretor-adjunto da Brasileiros. ‘É um grande contador de histórias. De boas histórias’, revela Kotscho, usando o presente para o jornalista imortalizado por cerca de 40 livros.

Para Geneton, o fato de há duas décadas o jornalista não trabalhar regularmente em um jornal é triste para a história do jornalismo nacional. ‘É como se o Brasil estivesse abrindo mão de um talento raro, o Brasil não podia se dar a esse luxo’, protesta. ‘Podemos dizer que hoje morreu o maior repórter brasileiro’.’

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

TV ao vivo, na web? Deixa eu te contar uma coisa…

‘Amigos, eu tive uma visão. Não pensem que vi o futuro – enxerguei, mesmo, foi o passado. Triste visão, aliás.

Semana passada, ao chegar ao trabalho, o mundo só falava em Olimpíadas. Afinal, era o tão aguardado dia da abertura. Sem poder sair do lugar, agradeci aos deuses a existência da internet e lembrei de quantas vezes tive que ir para a minha casa para ver as indicações do Oscar ao vivo, por exemplo (cada louco com sua mania).

Feliz por viver uma ‘época extraordinária’ – como já dizia Walt Whitman -, saí em busca da transmissão ‘ao vivo, direto de Pequim, via web para todo o Brasil’! Chequei um site jornalístico. Nada. Outro. Zero. Comecei a me remexer na cadeira. Era eu, obviamente, que estava procurando nos lugares errados. Repassei, mentalmente, qual portal ou veículo jornalístico que poderia estar transmitindo o espetáculo do Ninho de Pássaro.

Credo. Não havia nada no Brasil. Irritado, fui em busca de um site estrangeiro. ‘Que vergonha, Brasil’, rosnava, indignado. Até que, em silêncio, fui percebendo que não

havia absolutamente nenhum grande site jornalístico ou portal de peso em língua inglesa, espanhola ou francesa que estivesse transmitindo a abertura. Nada, virtualmente nada.

CNN? Le Monde? El País? Esquece. Enquanto eu começava a me sentir rumo a uma época em que vídeo na Rede era apenas uma promessa, acabei esbarrando no ‘The New York Times’. Mil perdões por reproduzir em inglês, aqui, o que um dos blogueiros do nyt.com havia publicado naquela manhã, no mesmo instante em que eu entregava os pontos. É que copiei o post para ter a prova da ‘manhã em que a web errou’. Leia e segure o queixo:

‘NBC is not providing television coverage of the spectacular opening ceremony from the Bird’s Nest stadium in Beijing – in fact, you won’t be able to see it anywhere in North America until tonight. But you can follow all that happens here on the Times Olympic blog, LIVE, as it happens’.

Em suma, nem a NBC, que corre atrás de qualquer evento que aconteça – até reunião de condomínio, se deixar -, estava ignorando a transmissão da abertura. Assistir ao evento na íntegra? Só à noite, dizia o The New York Times. Ate lá, a opção era acompanhar pelos blogs.

Hâ? Como assim? ‘Ver’ um espetáculo via blog? Nem precisei checar o que o nyt.com tinha a oferecer. A Globo.com estava ‘transmitindo’, da forma mais constrangedora possível, a abertura. Algo como ‘Menina canta para a platéia’, ‘No telão circular, várias imagens da história da China’ ou ‘Suspenso no ar, atleta simula corrida’. Imagine um Twitter fora de contexto – foi isso.

Soube, depois, que o Terra transmitiu a abertura com atraso de segundos e imagem inferior. Onde? Confesso que perdi – deve ter sido a depressão de estar revivendo o passado de forma tão cruel. Mas, peraí, o Terra furou todo mundo? Estranho.

Há sete, oito anos, quando eu explicava aos meus alunos e a empresas que a tão falada ‘convergência de mídias’ ainda demoraria a chegar, por conta da necessidade de popularização da banda larga e do upgrade necessário nas áquinas domésticas, não achei que me depararia com *isso* em pleno 2008.

Deixe-me entender, então: agora que temos como transmitir eventos ao vivo na web, a questão é se vale a pena? Afinal, não sejamos ingênuos em acreditar que ‘esqueceram’ de transmitir o que estava acontecendo em Pequim. Não valia a pena? Será que não havia público para tanto? Ou será que havia algum empecilho, algo como ‘a China não quer’? Se havia, porque não noticiaram nada? Mistério.

Desisti da internet naquela manhã. Soube por uma amiga que a webtv da empresa para onde trabalho estava retransmitindo a abertura via Globo. Passei o resto da manhã em frente ao computador, assistindo o evento ‘ao vivo, direto de Pequim’, fingindo que era pela web.

Que internet ‘muderna’!

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início no dia 09/09, no Rio de Janeiro. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

Até lá!

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

WEBJORNALISMO
Comunique-se

Livro reúne textos com temas como jornalismo cidadão, colaborativo e blogs, 15/08

‘O jornalista Mario Lima Cavalcanti, diretor do portal Jornalistas da Web, reuniu textos escritos por especialistas na comunicação, como Pollyana Ferrari, Raphael Perret e José Antonio Meira da Roca no livro ‘Eu, mídia – a era cidadã e o impacto da publicação pessoal no jornalismo’. O livro foi lançado na quarta-feira (13/08), no Rio de Janeiro.

Os leitores encontram textos como jornalismo cidadão, hipermídia, blogs, jornalismo colaborativo, redes sociais, comunidades virtuais, jornalismo participativo e digital.

‘Já era um plano lançar um livro sob a marca do Jornalistas da Web, e também é meu campo de pesquisa. Pretendemos lançar outros livros na área de marketing digital, de comunicação digital em geral’, conta Cavalcanti.

‘Eu, mídia – a era cidadã e o impacto da publicação pessoal no jornalismo’, organizado por Mário Lima Cavalcanti

Editora Opvs

Preço: R$ 25,00

104 páginas’

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

O dia em que a profissão virou nome próprio, 12/08

‘Memória e palavra

se completam uma na

outra, perseguindo sons

(Celso Japiassu in A Tarde e um Novo Dia)

O dia em que a profissão virou nome próprio

A triste notícia foi enviada à coluna por 64 leitores de quase todo o país e, para se ter uma idéia, deu até no Aquidauana News, evidentemente de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, cidade muito conhecida dos telespectadores da novela Pantanal:

‘Morreu no Rio de Janeiro Marchand Marcus Aurélio, marido da atriz Isadora Ribeiro.’

Segundo todos os depoimentos, marchand virou nome próprio originalmente nas páginas da revista Contigo! e se espalhou redações afora.

Laerte Peregrino Fonseca, comerciante em São Paulo, leu a notícia no portal Terra, no qual uma legenda de foto esclarecia:

‘Isadora Ribeiro e Merchand Marco Aurélio tinham uma filha’.

Laerte deixou cair o queixo:

‘Certamente o redator do Terra, mais instruído que os demais, achou melhor trocar Marchand por Merchand…’

O professor de jornalismo Álvaro Laranjeira tomou conhecimento do lamentável acontecimento em variadas fontes e agraciou o ‘texto’ com o TROFÉL IMPRENÇA da semana em seu blog, http://nomundodaluanews.blogspot.com

Janistraquis também ficou perplexo e recordou episódio ocorrido numa prestigiada Redação paulistana, quando uma gentil senhorinha saiu para fazer reportagem sobre culinária de luxo e se referiu a uma certa ‘Mostarda de Jó’. Não foi difícil descobrir que se tratava da mostarda (de) Dijon…

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Indignação mineira

Percorre a internet o nome de um inexistente bairro na cidade de Bela Vista de Minas, Puta Que Pariu, o que deixou indignado o considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte:

Pois é…a mentira foi cantada em prosa e verso por aí afora, mas quase nada se falou a respeito do último e, este sim, verdadeiro, resultado do Enade. Poucos dão importância às boas notícias

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes revelou:

— Um terço dos melhores cursos está em Minas Gerais;

— Apenas 25 cursos no país obtiveram nota máxima (5) e, desses, oito são de instituições mineiras, todas universidades federais do interior;

— Três desses cursos estão em Alfenas (Unifal-MG), três em Viçosa (UFV), um em Lavras (Ufla) e um em Uberaba (UTM);

— O Enade 2007 mediu a qualidade de 3.248 cursos em 16 áreas. Os 70 que tiveram os piores resultados (notas 1 e 2) no estado serão fiscalizados pelo MEC e terão mais exigências no processo de recredenciamento.

— Pelo novo indicador criado para avaliar cursos de graduação, dos 48 melhores, 13 estão em Minas.

(Confira em http://www.estaminas.com.br/em.html)

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O ataque do pedido

O considerado Marco Antonio Zanfra, assessor de imprensa do Detran de Santa Catarina, envia de seu refúgio ecológico na Praia da Joaquina:

Foi deflagrada a III Guerra Mundial, a julgar pelo título ‘EUA e Rússia se atacam’, estampado na página 17 do ‘Diário Catarinense’ deste sábado, 9 de agosto.

Enquanto esperava o zunir dos mísseis intercontinentais e o fragor dos cogumelos incandescentes, li no texto sob a alarmante chamada que a notícia não era exatamente sobre a iminência de um novo conflito internacional de seqüelas imprevisíveis, mas sobre o ‘pedido’ dos Estados Unidos à Rússia para que suspendesse o ataque à província da Ossétia do Sul, na Georgia.

Zanfra observa que ocorreu ligeira confusão entre as palavras, algo bastante comum no chamado ‘jornalismo moderno’:

Contrariando o grau de sobressalto que o titulador quis dar à notícia, o texto diz que os EUA simplesmente pediram, através da secretária de Estado Condoleeza Rice, que a Rússia ‘cesse imediatamente os ataques aéreos e de mísseis e respeite a integridade territorial da Georgia.’ Que espécie de ‘ataque’ pode haver num pedido desses?

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Palavra obscena

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo varandão debruçado sobre a ignomínia observa-se um grupo de coveiros a enterrar algemas à porta da Polícia Federal, pois Roldão organizava a vasta correspondência quando teve a atenção despertada pela carta de um amigo, com o seguinte teor:

Estava lendo o Correio Braziliense e deparei com essa palavra (!?) em uma reportagem: FÔLDERES. Como não sou assinante, não vou escrever reclamando – mas, outra vez, apelo para a sua boa vontade. Dá para reclamar, nem que seja para eu me sentir um pouco melhor?

Puxa vida, não dá para escrever FOLHETOS? Infelizmente, pegaram o jornal da minha mesa e eu não me lembro qual reportagem era, mas é desta semana.

Nosso mestre encaminhou a carta à direção do jornal, com esta observação:

Endosso a reclamação deste amigo. É incrível como estamos perdendo nosso vocabulário vernáculo, por esnobação alienada, obrigando as pessoas a aprenderem novas palavras, estrangeiras, esquecendo as consagradas em nossa língua há séculos.

Pois é, Roldão, saiba que, embora tenha trabalhado em agência de propaganda, o colunista sempre abominou a palavra, por considerá-la altamente obscena; afinal, lembra aquilo…

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Porre espetacular?

O jornalista paulistano Luís Felipe Tonet procurava no portal G1 qualquer informação que não fosse sobre as Olimpíadas quando encontrou, sob o título Rússia diz ter atacado tropas da Geórgia na capital da Ossétia do Sul:

‘Posições do exército russo que estavam atirando em Tskhinvali e nas forças de paz foram suprimidas pela artilharia e por tanques do 58º Exército russo’, segundo o comandante russo Igor Konashenkov a uma TV russa.

Tão perplexo quanto o judoca João Derly, aquele que levou uma surra do português, Tonet desabafou:

‘Não entendi muito bem quem é que estava atirando em quem, mas, pelo visto, a coisa por lá está russa!’

Janistraquis também ficou confuso, ó Tonet:

‘Considerado, se a frase do comandante Igor está entre aspas, existe grande possibilidade de o homem ter dado a entrevista em meio a um porre espetacular; e também é difícil qualificar a situação naqueles lados; nosso colaborador acha que está russa, mas creio que está mesmo é ruça…’

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Dureza alemã

Janistraquis, que anda mais desorientado do que cachorro em padaria, passava os olhos cansados pelo UOL – Últimas Notícias e leu a manchete:

Alemão que dormiu nove anos em estação de trens é condenado.

Meu assistente ficou revoltado:

‘Caramba, considerado, o serviço social na Alemanha já foi melhor! Esse pobre comatoso dorme nove anos na estação, quando deveria estar num hospital!!!’

Fui conferir; na verdade, o alemão, identificado apenas como Mike K., como um personagem de Kafka, morou na estação durante os últimos nove anos. Tem 29 de idade, é viciado em cocaína e heroína, portador do vírus HIV e sofre de hepatite; não tem endereço fixo faz tempo e mendigava durante o dia na estação de Düsseldorf.

Janistraquis não deu o braço a torcer:

‘E então? Se fosse num país preocupado com as pessoas, um país realmente de todos, o sujeito estaria pelo menos inscrito no Bolsa Família!!!’

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Celso Japiassu

Leia no Blogstraquis a íntegra do Poema n° 2, o qual compõe a série ainda inédita A Tarde e um Novo Dia. O poeta, que sempre revisita o passado, evoca rotas em que nos perdemos para sempre na busca de um retorno.

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Carregando malas

Janistraquis enviou mensagem ao Cleber Machado oferecendo-se para carregar as malas desse excelente narrador esportivo na mudança da Globo para a Record.

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Coisa de mineiro

O considerado Mário Lúcio Marinho envia piadinha que é o retrato da ingenuidade mineira de tempos idos e vividos:

ANJOS CAIPIRAS

Dois caipiras de Dores do Indaiá foram assaltar a Igreja à noite.

O padre percebeu o barulho, acendeu as luzes e perguntou:

– Quem está aí ?- os dois caipiras ficaram calados.

Aí o padre perguntou de novo:

– Quem está aí?!?!

Um dos caipiras respondeu:

– Nóis é anjo.

Desconfiadíssimo, o padre desafia:

– Então por que não voam?!

Sem titubear, o outro caipira responde:

– Nóis é fiote!!!….

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Aos que chegam

A coluna informa aos novos (e inúmeros) credenciados deste Comunique-se que não existe nenhuma burocracia para se colaborar com o Jornal da ImprenÇa; a coluna aceita notícias consideradas ‘velhas’, porque besteira infelizmente não prescreve, e quem quiser manter o anonimato pode criar pseudônimo, pois este é, digamos, um território livre de preconceitos.

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Nota dez

Em entrevista à revista Língua Portuguesa, disse o mestre Deonísio da Silva:

As evidências mostram que no Brasil há muitos incompetentes em postos importantes, vítimas e cúmplices do que lhes acontece. Na mídia, eles se acotovelam e enterram jornais e revistas, patinando nas mesmas tiragens, enquanto nós fazemos a nossa parte, isto é, produzindo novos livros e leitores.

Somos o maior mercado editorial da América do Sul. Foram os livros que nos tornaram leitores e depois assinantes de revistas, não o contrário. Eles esqueceram isso? Quando o jornal e a revista são bons, os leitores podem até migrar para a internet, para a edição eletrônica, mas sempre vão procurar o que precisam. E a imprensa precisa dar o que o leitor precisa; ou não precisa, mas quer.

Leia no Blogstraquis a íntegra da entrevista deverasmente notável.

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Errei, sim!

MAIS MAIORES – Página de Filmes na TV do jornal O Fluminense, de Niterói: ‘Morte em Veneza, produção italiana de 1971, dirigida por Lucchino Visconti, um dos mais maiores cineastas do seu país (…)’. Janistraquis se divertiu: ‘Considerado, um dos mais maiores diretores, louvado por um dos mais menores redatores…’. (dezembro de 1992/janeiro de 1993)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro

Pequena homenagem a uma grande repórter, 12/08

‘O XIS DA QUESTÃO – O jornalismo diário não se pode limitar à simples observação e reprodução dos fatos criados. É preciso que assuma, cada vez mais, o desafio do desvendamento e da explicação, mergulhando na vida real das pessoas e na verdade do mundo não noticiado. É o que Elvira Lobato faz e nos ensina a fazer.

Em favor do jornalismo, decidi homenagear, neste meu espaço, a repórter Elvira Lobato, da Folha de S. Paulo. Depois do ‘gol de placa’ marcado com a bela e corajosa reportagem sobre o DNA empresarial da Igreja Universal do Reino de Deus, Elvira volta à ribalta do melhor jornalismo com a matéria assinada domingo passado sobre a oficialmente denominada ‘classe média emergente’. Nesse trabalho fez, mais uma vez, o desvendamento de verdades escondidas sob a superfície organizada da atualidade – essa dos conteúdos gerados e controlados por fontes, em forma de acontecimentos, falas e/ou revelações com alto potencial de noticiabilidade.

Com criatividade, vigor, profissionalização e, em muitos casos, com o suporte de altos orçamentos, as fontes mantêm em permanente ebulição essa superfície organizada. E seduzem as redações, submetidas à tentação e também ao dever de nada perder do que aflora no emocionante cenário dos acontecimentos anunciados em pautas antecipadas.

Seduzidas pelos atributos jornalísticos dos acontecimentos e das falas que diariamente incham a pauta jornalística, as redações esquecem que, apesar das emoções e seduções que exibe, a tal superfície organizada revela apenas a aparência da atualidade.

Por isso, sempre que aparece alguém a empurrar o jornalismo para a busca das verdades ocultas, escondias sob a animação do que aflora na superfície, há que saudar quem o faz e aprender com o feito. Razão porque presto aqui minha homenagem a Elvira Lobato.

***

Com a reportagem de domingo passado, Elvira Lobato lembrou a alguns de nós, e ensinou a muitos de nós, que a verdade social da vida humana não está nas revelações estatísticas dos observadores oficiais ou oficiosos, por mais sérios e rigorosos que eles sejam. As estatísticas são importantes, mas não podem ser olhadas pelo jornalismo como verdades. Para nós, deveriam ser sempre, e apenas, indícios da verdade maior. E indícios frequentemente ambíguos, pois órgãos diferentes e metodologias diferentes produzem retratos também diferentes da realidade – como se os números tivessem tal poder.

Na semana passada, com base em resultados estatísticos de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, espalhou-se pelo Brasil um eufórico discurso, de fortes odores governistas, segundo o qual milhões de pobres haviam deixado de sê-lo, porque, de acordo com a metodologia usada, pertenciam agora à classe média. E lhes foi aplicado o lindo rótulo de ‘classe média emergente’.

Elvira Lobato, jornalista inquieta e prevenida, foi a campo para ver onde estavam, o que faziam, o que pensavam, como se divertiam, o que comiam e vestiam essas pessoas estatisticamente alçadas à classe média. Escolheu um dos recortes mais significativos das periferias urbanas onde, segundo a FGV, o fenômeno da festejada promoção social se dava: a Vila Kennedy, bairro de 200 mil habitantes, na zona oeste do Rio de Janeiro. E lá ouviu frases como estas, pronunciados por alguns dos verdadeiros protagonistas dessa história de ‘classe média emergente’:

‘A única roupa que comprei para mim este ano foi um vestido, de dez reais.’

‘Nunca fui a um cinema. Trabalho todos os dias, de segunda a segunda, e não tenho lazer.’

‘Dizerem que sou da classe média é uma piada. Porque dependo da ajuda financeira da minha mãe, que é gari.’

‘Fiquei revoltado quando vi a notícia na TV. A classificação que nos coloca na classe média é vazia e mentirosa.’

***

Claro que diagnósticos estatísticos são uma coisa, reportagens, outra. Mas em Elvira Lobato, e no seu trabalho, aprendemos pelo menos duas coisas que, se a lição for aprendida, podem aperfeiçoar o jornalismo, neste nosso mundo movido pela socialização de acontecimentos e falas de autoria interessada:

1) Nada se pode perder do que acontece na superfície organizada e controlada da atualidade. Porque o mundo gira movido por essa dinâmica. Mas esse é o mundo do discurso. Para desvendar a verdade das pessoas e da sua vida real é preciso romper a camada das aparências materializadas nos fatos noticiáveis e noticiados, criados e controlados por sujeitos interessados.

2) O jornalismo diário não se pode limitar à simples observação e reprodução dos fatos criados. É preciso que assuma, cada vez mais, o desafio do desvendamento e da explicação, mergulhando na vida real das pessoas e na verdade do mundo não noticiado. Para que também tenham voz os protagonistas silenciados pelo vigor dos discursos organizados.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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