Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Comunique-se

MÍDIA & POLÍTICA
Sérgio Matsuura

Alessandro Molon critica ‘seleção’ de candidatos pela imprensa, 25/08

‘O candidato a prefeito do Rio pelo PT, Alessandro Molon, reclamou da cobertura da imprensa na campanha eleitoral deste ano. Segundo ele, sua candidatura está sendo preterida por alguns veículos de comunicação que ‘estão preocupados em dar mais espaço para quem está na frente nas pesquisas eleitorais’.

‘Essa forma de cobrir as eleições eu não acho positiva. Eu acho que a tarefa do jornalismo é, sobretudo, divulgar aquilo que está acontecendo (…) e não fazer uma seleção daqueles que devem ou não aparecer’, afirma.

A falta de discussão programática também preocupa o candidato. Molon espera que a cobertura do dia-a-dia da campanha seja substituída pela análise das propostas para a resolução dos problemas da cidade.

Caso seja eleito, Molon diz que terá um relacionamento ‘olho no olho’ com a imprensa. ‘É assim que o governante deve lidar com a imprensa e com a população como um todo’.’

 

 

Sérgio Matsuura

Marcelo Crivella reclama de perseguição de ‘setores da mídia’, 21/08

‘‘A imprensa exerce no país um sagrado direito e dever que é controlar as exorbitâncias do poder’. É dessa maneira que o senador e candidato à Prefeitura do Rio pelo PRB, Marcelo Crivella, define a relação entre a imprensa e a política.

Apesar de tecer elogios à atuação da mídia, Crivella não poupa críticas a alguns veículos de comunicação, mais especificamente ao O Globo. Ele afirma que existe ‘uma perseguição um tanto implacável’ do jornal contra a sua candidatura.

‘Eu faço um apelo, não é para toda a imprensa, é um pequeno setor, para que consiga harmonizar entre os impulsos da liberdade com os imperativos da ordem. Harmonizar o direito de liberdade de imprensa com outro direito, que até o antecede, que é o direito à dignidade humana’, diz.

O senador também defende uma cobertura mais ampla, que contemple todos os candidatos. Em sua opinião, existe uma falta de espaço nos jornais por causa da venda de anúncios para o ‘poder econômico’.

‘Isso não é bom para a democracia. Todos os candidatos são legitimamente indicados pelos seus partidos e merecem ter o mesmo espaço. Aliás, é isso que diz a lei’.

Como todo candidato, Crivella fez promessas para os jornalistas. Disse que, sempre que possível, irá prestigiar todos os veículos de imprensa, dos jornais de bairro às grandes redes de TV.

‘Podem ter certeza que o prefeito do Rio será o maior entusiasta do desenvolvimento da imprensa do Rio de Janeiro’, promete.

(*) Essa é a primeira de uma série de matérias que o Comunique-se publica sobre os candidatos a prefeito do Rio, São Paulo e Porto Alegre.’

 

 

Comunique-se

Comunique-se publica série com visão de candidatos sobre a cobertura eleitoral, 21/08

‘‘Não pode haver uma disputa eleitoral sem a apresentação das idéias e dos perfis dos candidatos. Então, cabe aos veículos de comunicação divulgar para o eleitor essas informações’. É dessa maneira que o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, define o papel da imprensa na cobertura de uma campanha política.

Entretanto, alguns candidatos se sentem desprestigiados e, por representações e processos, pedem maior isonomia na cobertura. Azêdo não concorda com as críticas e defende a atuação da imprensa.

‘Eu acho que é impossível colocar todos os candidatos. O meio de comunicação tem que fazer uma seleção de acordo com o nível de representatividade deles’, defende.

Esse é um dos pontos que serão abordados na série que o Comunique-se publica a partir desta sexta-feira (22/08). Mudando o foco da relação candidato/eleitor para fonte/jornalista, as reportagens mostrarão como alguns possíveis futuros prefeitos enxergam a cobertura das campanhas e o relacionamento de políticos com a imprensa.

Com críticas e sugestões, candidatos às Prefeituras do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre mostrarão suas opiniões sobre jornalismo e jornalistas.’

 

 

Antonio Brasil

O papel do ‘cinismo’ no jornalismo e na política do Brasil

‘Este é uma das principais e mais polêmicas questões discutidas pela jornalista, professora e pesquisadora Carolina Matos em seu novo livro ‘Jornalismo e Política Democrática no Brasil’ (ver aqui) a ser lançado nesta quarta (20), às 19h, aqui no Rio, na Livraria Travessa do Shopping Leblon.

Temos a tendência de ignorar o quão ‘cínico’ ainda somos, principalmente no que diz respeito às nossas relações com o poder. Qualquer poder. Confundimos profissionalismo, objetividade e imparcialidade com os interesses maiores do patrão, os proprietários das empresas jornalísticas e muitas vezes, os donos dos fatos e das notícias. Os donos da verdade.

Mas para pesquisadoras otimistas como Carolina Matos’…não se pode dizer que esse cinismo é a mesma coisa que a apatia identificada por críticos dos países desenvolvidos, e de fato ele é diferente disso em muitos aspectos. Sem dúvida o jornalismo brasileiros nos anos 90 conseguiu embarcar em ataques mais agressivos contra políticos. Isso, porém, foi muito mais uma conseqüência direta da liberdade recém-adquirida da imprensa, além do desejo de muito brasileiros de verem mais ética na política e no governo’.

Em sua essência, ‘Jornalismo e Política Democrática no Brasil’ investiga as transformações da sociedade e da política nas últimas três décadas e a atuação da imprensa nacional em quatro momentos-chave da história do País: as Diretas Já, as eleições de 1989, o Plano Real e o governo FHC e a disputa presidencial de 2002.

Carolina argumenta que ‘ainda como a consolidação da ideologia do profissionalismo nos anos 90 foi importante para a mídia brasileira, que havia se aliado ao regime militar e produzido reportagens no geral oficiais durante todos os anos da ditadura (1964-1985)’.

Para a autora, ‘o profissionalismo resultou nos jornalistas influenciando e mediando o debate público durante a cobertura das eleições presidenciais, combinando técnicas jornalísticas com estratégias para levantar alguns assuntos para a discussão política. Os jornalistas agiram de forma heróica em alguns casos, usando a militância na luta contra a opressão do Estado, como ocorreu durante as Diretas-Já, ou endossando ainda uma leitura mais coerente da notícia, capaz de refletir as disputas políticas, como aconteceu durante as eleições de 2002e, em menor grau, também em 1994’.

Militante ou Cão de guarda

Sobre a comunicação pública, Carolina concorda com as posições do jornalista e acadêmico Eugênio Bucci ao citar a ausência de uma cultura democrática nos seus recursos. ‘O que existe é uma apropriação por aqueles que ocupam posições nas instituições públicas que focam na atividade comunicacional…Assim, temos uma mídia pública que possui no geral uma tradição não democrática, com exceções aqui e ali, mas com uma enorme necessidade de mudança’.

No livro, originalmente escrito como tese de doutorado na Universidade de Londres, Matos sugere, ainda, a criação de outro sistema midiático, capaz de equilibrar melhor a mídia comercial com a pública. Outra questão discutida na obra diz respeito à fortificação das rotinas do jornalismo liberal na imprensa comercial, preservando as práticas jornalísticas das pressões políticas e econômicas tanto internas como externas.

Os estudos de caso publicados no livro de Carolina Matos revelam que a imprensa brasileira não esteve meramente sujeita aos desejos e interesses dos donos e acionistas, mas que ela foi usada por jornalistas representantes da sociedade civil e outros como instrumentos para a mudança política e social e também para o avanço da ideologia do liberalismo econômico.

Para ela, ‘as transformações ocorreram devido a uma série de razões, com o jornalismo se beneficiando tanto da militância política (positiva) a favor dos valores da democracia universal, como do profissionalismo e da objetividade’.

Em sua pesquisa sobre a história recente do conturbado jornalismo brasileiro, Carolina Matos também analisa a situação atual dos principais representantes da nossa grande mídia: ‘Veículos como a Folha de S. Paulo, o Jornal do Brasil e, em menor grau, O Globo e a revista Isto É flertaram mais com a esquerda e incluíram maiores públicos de posições distintas na sua arena do que foi o caso, por exemplo, de Veja e Estadão’.

Para a autora, no atual quadro político brasileiro, ‘o regime da objetividade não deveria receber a culpa pela atual insatisfação com a política. Ao contrário talvez das práticas mais consumistas de países saturados pela mídia, como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, no Brasil as aflições com a cidadania são ainda formuladas nas páginas da mídia e meio à ênfase colocada também nas técnicas de entretenimento na política. Tudo e todos se tornam instrumentos de marketing’.

A maximização da reportagem política agressiva, da função de ‘cão de guarda’ e das críticas às autoridades pode ser vista como armas democráticas jornalísticas importantes para sociedades que até recentemente eram altamente submissas em relação ao governo.

História do futuro

De qualquer maneira, o discurso politizado dos jornalistas, muitas vezes com simpatias pela esquerda, não se reflete necessariamente nas matérias publicadas pelos jornais. Em última instância, o patrão, seja ele o governo ou o empresário, tem sempre a razão.

Mas em contrapartida, tudo indica que o público midiático contemporâneo também ficou bem mais crítico. Hoje eles querem que a grande imprensa se dirija a eles mais como consumidores e cidadãos e menos como vítimas ingênuas e inocentes dos grandes poderes políticos e econômicos.

Dessa forma, o livro de Carolina procura ‘dissecar’ o papel da imprensa e dos jornalistas nas transformações políticas e sociais que ocorreram no Brasil nas últimas décadas. Mas de forma otimista, procura valorizar uma série de melhorias no desempenho da mídia nos últimos anos e aponta para confrontos por causa de interesses econômicos e políticos específicos como os grandes vilões.

Para a autora, ‘apesar de todas as suas falhas, no entanto, a mídia hoje consegue dar aos brasileiros informação mais sofisticada, analítica e crítica em comparação ao que fazia antes, com uma representação da política feita de forma menos partidária’. Será mesmo?

Mais adiante, a jornalista confirma sua visão positiva do futuro: ‘a mídia brasileira hoje está melhor do que esteve no passado sob vários aspectos, apesar de certo empobrecimento do debate que também ocorreu nestes últimos anos e da tendência ainda existe de massificação da notícia e de pressões políticas e econômicas’.

Erros novos e mais histórias

Estes serão alguns dos temas polêmicos e relevantes a serem abordados durante a mesa de debate que antecede o lançamento do livro de Carolina Matos.

A mediação será feita pela jornalista e colunista de O Globo Cora Rónai com a participação do professor da USP e ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins e Silva. Tive o privilégio de ser convidado para o debate. Espero comentar o livro de Carolina Matos e aproveitar a oportunidade para relembrar minha participação na campanha pelas Diretas Já.

Estive no primeiro e polêmico comício da praça da Sé em São Paulo. Na época, trabalhava para uma agência internacional de notícias como correspondente estrangeiro em meu próprio país. Era uma situação tensa e delicada. Tentava mostrar ao mundo que o Brasil estava mudando.

Mas ao tentar transmitir para o exterior a matéria sobre o início da campanha das Diretas já, a maior campanha política popular do Brasil, fui informado pelos funcionários da Globo de São Paulo de que isso não seria possível. Eles não poderiam transmitir uma matéria que poderia criar problemas com os militares e que ‘denegria a imagem do Brasil no exterior’. Quem diria! Um dia conto mais essa história!

Diante de nova campanha eleitoral, é importante contar com boas pesquisas sobre a nossa história recente como esta de Carolina Matos.

Se não for por nada, para evitar cometer os mesmos erros do passado. Temos a obrigação de tentar cometer somente… erros novos.

E para analisar o verdadeiro papel da TV em nossas eleições, aproveito para recomendar o artigo publicado pela FSP, ‘TV impulsiona, mas não garante vitória nas eleições’, aqui. Tudo a ver.

Aguardo a presença de todos no debate e lançamento do excelente livro da nossa colega Carolina Matos. Sua trajetória de grande sucesso como ex-aluna, com muito orgulho, jornalista, professora e pesquisadora da prestigiosa London School of Economics na Inglaterra, confirma a maturidade do jornalismo político e dos estudos brasileiros sobre jornalismo.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

 

MÍDIA & CONVERGÊNCIA
Comunique-se

Revista Brasileiros ganha site no iG e investe na convergência de mídias

‘O site da Revista Brasileiros estreou esta semana no portal iG e o objetivo da parceria é obter mais interatividade com os leitores. A página na internet tem todos os números lançados desde o ano passado e possui conteúdo multimídia, com fotos, vídeos e áudios.

‘Nossa idéia com o site é mergulhar nesse mundo maravilhoso da convergência de mídias. Hoje você lê um texto e lembra de uma música, ou de um vídeo, ou de um filme. Lê uma notícia e lembra de uma outra. Escuta uma música e lembra de um texto. As ligações são quase automáticas. O site da Brasileiros vai atrás dessas conexões’, disse o diretor de redação, Hélio Campos Mello.’

 

 

MERCADO EDITORIAL
Marianna Senderowicz

RBS venderá 15% de seu capital a gestora de fundos, 22/08

‘A RBS Comunicações está negociando a venda de cerca de 15% de seu capital à Gávea Investimentos, gestora de fundos de private equity. O negócio deve ser finalizado oficialmente até 30/09, segundo comunicado oficial da assessoria de imprensa do grupo.

A RBS, que possui 21 emissoras de TV, 26 de rádio e oito jornais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, ainda não dá detalhes do acordo. ‘Estima-se que até 30/09 todas as tratativas estejam concluídas, quando então maiores detalhes serão divulgados’, diz nota emitida pela empresa.

A negociação foi antecipada na coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo, de 21/08, motivo pelo qual a RBS apenas confirma o fato, sem conceder entrevistas.

A Gávea Investimentos, que possui escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo, tem sob sua gestão um patrimônio de aproximadamente U$ 7,6 bilhões. Entre os sócios da companhia está Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.’

 

 

7° CONGRESSO BRASILEIRO DE JORNAIS
Milton Coelho Graça

O que faltou no congresso da ANJ, 22/08

‘Nos quase 50 anos de profissão, fui criando uma diretiva de trabalho e de chefia: a excelência deve ser implacavelmente perseguida, mas, além disso, o sucesso de uma revista ou jornal exige a conciliação de dois objetivos aparentemente contraditórios – o leitor deve sempre encontrar aquilo que espera e do jeito que já aprovou, mas ao mesmo tempo deve e quer sempre ser surpreendido por uma inovação.

Essa mesma regra de ouro foi enunciada agora como novidade, no 7° Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional dos Jornais.

Eu não a inventei, fui aprendendo com (a ordem é aleatória) Samuel Wainer, Pompeu de Souza, Justino Martins, Alessandro Porro, Zuenir Ventura, Evandro Carlos de Andrade, Roberto Civita, Henrique Caban, Mino Carta, Roberto Muller, Roberto Marinho, Paulo Patarra, Múcio Borges da Fonseca, Moacir Werneck de Araújo, Luís Carta – enfim, um supertimaço de mestres que tive a sorte de ir acumulando. Também, é óbvio, buscando manter-me atualizado com os avanços na imprensa mundial, da mesma forma como outros nossos editores e chefes de redação, que trilharam o mesmo caminho de aprendizagem.

O que deixa qualquer um espantado é que tenham sido convidados para falar no Congresso o ministro Miguel Jorge, que há anos deixou a direção de redação do Estadão para se tornar executivo da Volkswagen e, portanto, uma presença só compreensível como caso explícito de relações públicas com o governo; John Wilpers, da empresa de consultoria Innovation, que veio nos explicar por que os blogueiros podem ser ser boas (e gratuitas) fontes de informação para os jornais (não era mais fácil chamar José Dirceu ou Cesar Maia?); Earl Wilkinson, em cuja palestra todos aprenderam que não devem oferecer páginas demais aos leitores (desde a década de 80 O GLOBO limita a 18 o número de páginas editoriais mais o segundo caderno) e a revista VEJA estabeleceu esse limite em 64 desde a década de 60; Javier Errea, grande designer é certo, mas não disse qualquer novidade aos editores de arte de nossos jornais.

Agora, acreditem: ninguém se lembrou de convidar para falar a seus companheiros donos de jornais o autor do maior sucesso editorial do Brasil nos últimos anos – Vittorio Medioli, dono do diário SUPERNOTÍCIA, que, com mais de 300 mil exemplares vendidos diariamente, briga hoje com FOLHA e EXTRA para ser o mais vendido do país. E não tem circulação nacional, só em Minas.

Medioli, um italiano que chegou ao Brasil em 1972 com 25 anos, naturalizou-se e tornou-se um dos maiores empreendedores do país. Elegeu-se quatro vezes deputado federal (de 1990 a 2006) e, segundo ele mesmo declarou a Comunique-se, ‘cansado de ver os jornais locais dizerem inverdades’, lançou o jornal O TEMPO, que nunca ameaçou a liderança do veterano ESTADO DE MINAS, mas, também segundo Medioli, ‘ajudou a melhorar muito o nível da imprensa mineira’.

Aprendendo com os próprios erros e convencido de que o problema maior da nossa imprensa era o elitismo e de que havia um enorme público de renda baixa interessado em ter acesso a informação, lançou em 2002 o SUPERNOTÍCIA, a 25 centavos o exemplar. E, desde 2004, sob a direção de Teodomiro Braga, o jornal tornou-se um dos recentes fenômenos editoriais do mundo.

Medioli me disse que mantém as melhores relações com outros donos de jornais, mas pasmem: nunca nenhum dono ou diretor de jornal lhe pediu informações sobre esse fenômeno nem a ANJ pediu que ele falasse durante um de seus congressos.

Enquanto Medioli vem construindo seu vitorioso (sem trocadilho) império mineiro, agora com gráfica moderníssima – duas rotativas e capacidade para imprimir um milhão de exemplares por dia – foram muitas as bobagens cometidas por nossas empresas jornalísticas, com a ‘ajuda’ de assessorias internacionais.

Só a Infoglobo conseguiu fazer duas: o lançamento de ÉPOCA e a compra do DIÁRIO DE SÃO PAULO, enquanto FOLHA e ESTADÃO ainda patinam com seus filhotes populares. No caso de ÉPOCA, chamaram um time de especialistas para formular um projeto copiado da revista alemã FOCUS, criada por empresários alemães que odeiam a SPIEGEL. O DIÁRIO DE SÃO PAULO também ainda está muito longe de suas metas iniciais.

Mesmo assim ninguém sentiu a ausência de Vittorio Medioli no 7º Congresso de Jornais Brasileiros.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

 

MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

Semana rica em novidades, 20/08

‘Mas antes de chegar a elas, a nota triste é que exatamente oito anos atrás, neste mesmo dia 20 de agosto do ano 2000, Pimenta Neves assassinou a queima roupa e sem qualquer chance de defesa Sandra Gomide, sua ex-namorada e que foi sua subordinada no jornal O Estado de S.Paulo, ali atuando como repórter. Réu confesso, ele foi condenado em primeira instância a 19 anos de prisão, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu a atenuante da confissão espontânea e reduziu a pena para 18 anos.

Como o caso está no STJ por um dos já incontáveis recursos da defesa de Pimenta, no último dia 5/8 a ministra Maria Thereza de Assis de Moura votou pela redução de três anos de sua pena, mas não aceitou o pedido para anular o Tribunal de Júri. O julgamento foi interrompido pelo pedido de vista do ministro Og Fernandes. De recurso em recurso e graças a inúmeras medidas protelatórias, Pimenta segue livre e já quase ninguém mais acredita que venha a ser um dia preso, até porque a idade passa a ser grande aliada na prescrição da pena. Longe das grades, mas com vida reclusa, Pimenta é a prova viva de que fazer justiça neste País é um dos maiores desafios que se apresenta para as futuras gerações.

Mas vamos falar de coisas boas. São várias as novidades que a edição impressa deste Jornalistas&Cia registrou na edição que está circulando por redações, agências e áreas de comunicação corporativa de grandes redações, nesta quarta-feira (20/8).

Uma delas foi a dança das cadeiras que movimentou na última semana o Jornalismo da Globo em São Paulo. Rosane Baptista, depois de cinco anos coordenando o Jornal Nacional, está assumindo a Chefia da Globonews. No lugar dela, como editor-executivo do JN em São Paulo, entra Ricardo Villela, até então ocupando o mesmo cargo no Jornal da Globo; e para o lugar dele, chega Jorge Sacramento, que era o coordenador do Jornal da Globo em Brasília. Paulo Roberto Amaral, editor-chefe do SPTV 2ª edição, está sendo transferido para o Jornal Hoje, ali ocupando o cargo de editor-executivo. E a editora-executiva do JH, Lúcia Leão, é a nova editora-chefe do SPTV 2ª. edição.

Outra novidade que merece registro é o lançamento do primeiro jornal de Economia de Angola, o Jornal de Economia & Finanças, por uma equipe brasileira liderada por Antonio Alberto Prado e integrada por João Fellet, Ferdinando Casagrande, Francisco de Paulo Araújo, Mayra Melo (designer) e Greg Salibian (fotógrafo). Prado dedicou-se nos últimos anos à atividade da Comunicação Corporativa, mas sua biografia é também marcada por um longo período passado em redações, sobretudo no jornal O Estado de S.Paulo, do qual foi correspondente no Exterior, e revista Visão.

A edição especial de lançamento foi apresentada a mais de 500 convidados em cerimônia realizada nesta terça-feira (19/8), no mais tradicional local de eventos de Luanda, o Cine Tropical, casarão do período colonial que foi o principal ponto de encontro da então elite portuguesa. Já apelidado de JE, o jornal é um tablóide semanal de 40 páginas, com cores nas capas, de propriedade das Edições Novembro, empresa controlada pelo Ministério da Comunicação Social de Angola, que edita também o Jornal de Angola (único diário do país) e o Jornal de Desporto. A editora tem planos para lançar, ainda, uma revista de notícias. Além de ajudar a criar o projeto, a missão dos profissionais brasileiros é apoiar a preparação de quadros de jornalistas locais que assumirão a publicação.

O jornal é fruto do grande crescimento da economia angolana, que atinge taxas recordes de 25% ao ano, bombeada pelas rendas da produção de petróleo – com 2 milhões de barris/dia, está nos calcanhares da Nigéria para se tornar o maior produtor da África Austral. O JE refletirá os investimentos que se fazem no país e introduzirá novos temas na cobertura jornalística, como empreendedorismo, desenvolvimento sustentável, objetivos do milênio, responsabilidade social e estimulará campanhas públicas que envolvam empresas. A redação está instalada num edifício no centro de Luanda, próxima à Agência Angolana de Notícias (Angop).

Quero também destacar uma série de mudanças na área de Comunicação Corporativa, uma das que mais crescem em nosso mercado. Vamos a elas.

BM&FBOVESPA – Na Nova Bolsa, instituição nascida da fusão de BM&F e Bovespa, a área de Comunicação foi inteiramente reestruturada. Alcides Ferreira, que comandava a Comunicação da BM&F, foi confirmado diretor de Comunicação da nova organização, ficando sob sua responsabilidade as atividades de relacionamento com imprensa, marketing, internet, televisão, editoração e programas de popularização do mercado. Na nova estrutura, Izalco Sardenberg, que assessorava o presidente da Bovespa, Rubens Magliano, passou a assessorar o presidente do Conselho de Administração, Gilberto Mifano; e Fátima Lopes, que contabilizava 20 anos de BM&F, assumiu a Gerência de Imprensa. Bianca Deo, que coordenou por seis anos a assessoria de imprensa da Bovespa, deixou a casa e após período de descanso deverá retomar suas atividades.

Wal-Mart – No Grupo Wal-Mart, Daniela de Fiori, vice-presidente de Assuntos Corporativos, área que engloba Comunicação, Relações de Governo, Sustentabilidade e Responsabilidade Social, promoveu diversas mudanças na equipe de Comunicação. Silene Chiconini, que antes estava à frente da comunicação da DuPont para o Cone Sul, assumiu como diretora de Comunicação. Na equipe dela, Luiz Herrisson foi promovido a diretor de Assuntos Corporativos Nordeste e Estratégia de Comunicação, permanecendo em Recife (PE) para gerenciar a equipe da região, com o suporte local da gerente de Comunicação Patrícia Noblat e, em São Paulo, da gerente de Estratégia de Comunicação Wilma Loures, ambas também recém-promovidas. A equipe de Comunicação na Região Sul continua sob a responsabilidade da gerente Regional Maria Isabel Jaekel. Na equipe de imprensa da sede da empresa, Simone Cardoso assume como gerente de Relacionamento com a Imprensa Nacional e Cristina Cassis, que vem da equipe de imprensa do Pão de Açúcar, chega para reforçar o time. A equipe conta ainda com o suporte externo da CDN. Gabriela Scheinberg, então coordenadora de Imprensa, assume agora como coordenadora de Comunicação Externa. A Comunicação Interna continua sob a responsabilidade de Vinícius Azambuja, que conta com o apoio da coordenadora de Comunicação Ana Carolina Garcia e da analista de Comunicação Juliane Serra.

MZ Consult – Geraldo Majella (ex-Bovespa) assumiu o comando da área de Relações com a Mídia da MZ Consult, empresa onde estava havia um ano. Entra no lugar de Mariela Castro, que de lá saiu no mês passado. O objetivo, segundo diz ele, é oferecer aos clientes um projeto de comunicação completo além da área de RI, como assessoria de imprensa, media training, apoio nas divulgações de resultados, contato com os jornalistas, websites etc. Tudo isso com o foco na área financeira, principal diferencial da consultoria.

Burson-Marsteller – Cely Carmo acaba de assumir a Gerência de Estratégia de Mídias Digitais da Burson-Marsteller, integrando o time regional de Prática Digital, liderado em Miami por Felix Leander. Cely será responsável por adequar à realidade do mercado brasileiro as metodologias de comunicação digital e relacionamento com a mídia social desenvolvidas mundialmente pela B-M. Ela acumula nove anos de experiência em comunicação na web, tendo atuado em agências como CDN Interativa e Máquina Web.

Andreoli – Depois de seis meses na Andreoli MS&L, como diretor de contas como OHL Brasil e Hospital Albert Einstein, João Caminoto está deixando a agência. Antes, ele foi correspondente do Grupo Estado em Londres por oito anos e teve passagens por Veja, Folha, BBC e Jovem Pan. Caminoto vai definir seus passos profissionais nas próximas semanas.

Centro Paula Souza – Áurea Lopes deixou a Assessoria de Comunicação do Centro Paula Souza e começou como editora-executiva da revista A Rede, da Momento Editorial, na vaga anteriormente ocupada por Verônica Couto, que deixou a empresa. Paralelamente, assumiu a direção da recém-criada Bit Social, organização que passará a ser responsável pela edição da revista A Rede e que tem, entre seus objetivos, estimular o uso das tecnologias de informação e comunicação em iniciativas de inclusão social. A vaga de Áurea, no Centro Paula Souza, foi ocupada por Gleise Santa Clara (ex-Estadão, Máquina da Notícia e Fundação Bienal de São Paulo), que já há alguns meses está de volta a São Paulo, após um ano morando e atuando profissionalmente em Eunápolis, perto de Porto Seguro, na Bahia. Lá esteve à frente da equipe da RP1 que atendia a Veracel, fábrica de celulose controlada pela Aracruz Celulose e pelo conglomerado sueco-finlandês Stora Enso Treasury Amsterdam BV. O novo e-mail dela é gleise@centropaulasouza.sp.gov.br e o telefone 11-3327-3144.

Llorente & Cuenca – Depois de 21 anos de redação, com passagens por Folha de S.Paulo, Veja e Época, onde durante os últimos cinco anos editou uma das principais colunas políticas do País, Thomas Traumann está migrando para a área de consultoria. Aceitou convite da espanhola Llorente & Cuenca e vai dirigir o escritório brasileiro que a empresa está abrindo no Rio – o sétimo na América Latina dos nove que a companhia mantém fora da Espanha; além de Madri e Barcelona, está presente na Cidade do México, Panamá, Bogotá, Lima, Quito e Buenos Aires. Especializada em comunicação estratégica, a Llorente & Cuenca chega ao País com o objetivo de ser uma referência na área, conforme palavras do próprio Traumman: ‘Nosso diferencial será o de oferecer avaliações de conjunturas políticas e econômicas que permitam aos clientes ter uma visão precisa das oportunidades do mercado brasileiro e latino-americano’. Estão entre os clientes atendidos as multinacionais espanholas Repsol, Telefónica, gasNatural e OHL, além de contas regionais de grupos como a GlaxoSmithKline, KPMG, HP, Microsoft, Odebrecht, Mabe, BAT, Bimbo e Monsanto. O escritório, que será inaugurado na próxima semana, fica à rua da Assembléia, 10, sala 1801. O telefone é 21-3797-6400.

Embratel – Luiz Freitas deixou a Gerência de Imprensa da Embratel na última 6ª.feira (15/8). Claudia Janot permanece como coordenadora da área, com apoio da Planin (11-2138-8900), que faz assessoria para a empresa em âmbito nacional, com a sócia Angélica Consiglio na direção e Ana Carolina Alves no atendimento. Freitas entrou para a Embratel há cerca de 30 anos, como assessor de Imprensa, de saída da sucursal Rio da Gazeta Mercantil, substituindo Ricardo Boechat, então na coluna de Ibrahim Sued. Até 2004, acumulou a Gerência de Publicidade e Imprensa da Embratel, que ainda era estatal. Com a privatização e o desmembramento da área, passou a gerente de Imprensa. Há dez anos, lançou o Prêmio Imprensa Embratel (premio@arfoc.org.br), em cuja coordenação permanece, também como responsável pela produção do evento. Os telefones do Prêmio, agora com sua base na Arfoc, são os mesmos 21-2121-2601 ou final 05. Para comemorar os dez anos do concurso, está programada uma festa especial, no dia 8 de outubro.

CNI – A CNI – Confederação Nacional da Indústria contratou Aguinaldo Nogueira Lima para assumir a Gerência de Jornalismo do Unicom, que engloba Sistema CNI, Sesi, Senai e Instituto Euvaldo Lodi. Aguinaldo atuava até recentemente na Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, onde respondia por Mídia Nacional. Passou por diversos veículos – entre outros, as sucursais de Época, O Globo, Folha de S.Paulo e Jornal de Brasília – e acompanhou por três anos Dilma Rousseff nos ministérios de Minas e Energia e Casa Civil. Sua chegada à CNI, segundo o gerente-executivo da Confederação, Marcus Barros Pinto, no cargo há três anos, visa reestruturar a Gerência de Conteúdo, integrando as áreas de Comunicação e Internet. Além de Aguinaldo, também foram contratados Luís Roberto Marinho, vindo da Agência Estado, incumbido de acompanhar os assuntos de interesse da indústria brasileira em discussão no Congresso Nacional; e Ana Maria Curado, ex-Agência Sebrae, que assumiu a Gerência de Relações Públicas da Unicom. Outra novidade por lá é a estréia da Agência CNI (www.agenciacni.org.br), uma fonte com informações produzidas pela entidade que também tem por objetivo integrar os sistemas de rádio e tevê da Confederação – à frente da agência está Verene Wolke.

Estágios – Por fim, destaco a abertura de estágio para estudantes de Comunicação nas Organizações Globo. Na Infoglobo, responsável pelos jornais e revistas da Globo, estão abertas as inscrições para o programa de estágio Boa Chance. Este ano, com o objetivo de capacitar para o trabalho em diversas mídias, a oferta de vagas foi unificada para estudantes de Jornalismo, Comunicação Visual, Desenho Industrial e Gráfico, nas áreas de texto, fotografia, arte e diagramação dos jornais O Globo, Extra, Expresso e no Globo Online. Nívia Carvalho, coordenadora de Treinamento e Desenvolvimento da Redação, observa que, no último ano, 86% dos estagiários conquistaram vagas de trainées. As inscrições podem ser feitas nos sites www.oglobo.com.br e www.jornalextraonline.com.br.

Universitários que estejam cursando o 6º ou o 7º período, preferencialmente de Comunicação Social, e que tenham experiência ou cursos na área de captação de imagens, podem se inscrever para o Programa de Desenvolvimento de Repórter Cinematográfico da TV Globo. O estágio tem duração de seis meses, podendo ser prorrogado. São aceitas inscrições até 29/8, pelo www.redeglobo.com.br/bancodetalentos.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

 

DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro

Faces e facetas de um jornalismo em crise (1), 19/08

‘Se bem o entendi (coisa nada fácil…), Charles Sanders Peirce pensou e deixou escrito que só a experiência alcança e revela a verdade, no mundo das relações inteligentes, e não apenas entre humanos. Se transportarmos a assertiva peirceana para este nosso espaço público de reflexões sobre jornalismo, precisamos, no mínimo, utilizá-la como sinal de alerta. Porque as crenças que sustentam as nossas ‘verdades’ sobre o jornalismo estão em crise. E estão em crise porque vêm muito mais de verdades prontas, conservadas no tempo como dogmas intocáveis, do que da observação atenta da experiência jornalística vivida no jornalismo real, em suas mutações, e tal como ele se realiza e existe hoje, no mundo falante dos conflitos, criados e enfrentados com as artes do viver e do sobreviver.

E me lembrei de Peirce porque passei, nos últimos dias, por duas experiências que me levaram à decisão de escrever sobre o assunto de certa forma anunciado no parágrafo inicial.

Aparentemente, foram experiências isoladas, vividas em dias e locais diferentes e sem nexos de significação entre si. A verdade, porém, é que elas se relacionam e se complementam no mesmo contexto.

Uma das experiências (e dela falarei hoje, deixando a outra, de natureza mais acadêmica, para a próxima semana) foi a de participar, como jurado, de etapa final de um prêmio de ‘cases’ da área de comunicação empresarial, na categoria de relacionamento com a imprensa. Se preferirem uma simplificação, ‘cases’ de assessoria de imprensa.

Mas os conceitos de relacionamento com a imprensa vão bem além do que comumente se entende por assessoria de imprensa. O cerne dos ‘cases’ relacionamento com a imprensa está no esforço criativo de gerar conteúdos com relevância jornalística, e na criação de ambientes de ‘parceria’ com jornalistas e redações, para a decorrente divulgação.

Com ou sem press-release. Mas com estratégias de marketing e táticas jornalísticas bem articuladas, para a ocupação da pauta jornalística. Nos casos mais sofisticados, também com gordas verbas, competência profissional multidiscipinar, gerenciamento sofisticado e resultados surpreendentes, ainda burramente avaliados por medições de espaço e/ou tempo ocupados.

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Principais revelações dessa experiência, e aviso que a ordem, pelo menos por enquanto, não tem sentido hierárquico valorativo:

1) As fontes delimitaram, assumiram e desenvolveram a competência de gerar e pautar conteúdos jornalísticos em todas as mídias – e o fazem com vigor, recursos e criatividade. As fontes, profissionalizadas, geram os fatos e a notícia, a materialidade e os conteúdos da atualidade.

2) Está em diluição o jornalismo simbolicamente representado pelo poder de arbítrio das redações tradicionais. O jornalismo, como processo e linguagem de socialização dos fatos que constroem e transformam a atualidade, transpôs os limites das redações, expandiu-se em ramificações complexas, alargou e fincou fronteiras nos espaços de gestação dos conteúdos. Definitivamente, as fontes são parte ativa e interessada do jornalismo.

3) No poder exercido de donas dos fatos e dos conteúdos, as fontes assimilaram as técnicas do fazer jornalístico e as constantes estéticas do sedutor discurso jornalístico. Isso é democraticamente bom, porque se trata de exercício competente do direito de dizer. Mas o jornalismo, como bem público, pode estar sendo colocado em risco. Sim, a exuberância produtiva das fontes pode estar colocando em risco a confiabilidade social da linguagem jornalística. E isso por quê? Porque as fontes não assumem, aliás rejeitam, os valores da Ética como razões de ser do jornalismo. Nas fontes, tal como elas trabalham em seu atual estado de euforia, as razões do marketing dão fundamento às ações jornalísticas, não as razões da Ética.

4) A verdade, porém, é que não interessa às fontes, menos ainda à sociedade, a destruição ou o enfraquecimento das redações como referencial de confiabilidade, na socialização dos conteúdos. As redações, símbolo e espaço do jornalismo confiável, tinham o poder de noticiar o que quisessem e como quisessem, e perderam esse poder. Graças às atuais tecnologias de difusão e à competência discursiva dos sujeitos sociais , a notícia corre solta no mundo, em redes universais, sem precisar passar pelas redações. Mas é preciso que a confiabilidade do aval das redações não se dilua na rotina da simples reprodução dos conteúdos gerados e embalados nas fontes, em função dos seus interesses particulares, legítimos. Por isso, em favor do interesse público ao qual o jornalismo se vincula de forma vital, as redações precisam descobrir e assumir novos espaços de poder, nos novos cenários do mundo novo. O mundo informacional de Manuel Castells.

E por aqui fico. Mas com a promessa de dar continuidade à conversa, no próximo texto.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Haja candidatos ao fantástico Museu do Cocô!!!

‘Eu canto porque

o instante existe e a

minha vida está completa.

(Cecília Meireles, jornalista e poeta.)

Haja candidatos ao fantástico Museu do Cocô!!!

O considerado Fausto Osoegawa, o mais brasileiro de todos os nisseis, veterano colaborador da coluna, envia notícia colhida no G1:

Museu japonês recebe exposição sobre cocô

O museu literário da cidade japonesa de Himeji recebe, até o dia 18 de maio, uma exposição sobre um tema curioso: fezes.

No evento, estão expostos dejetos de diversas espécies de animais, além de fotos de diversos bichos durante a ‘produção’.

As crianças – que compõem a maioria dos visitantes – são convidadas a manipular os diversos tipos de cocô.

Há uma sessão apenas para mamíferos africanos, que inclui uma coleção de fezes de zebras, elefantes, girafas e hipopótamos.

O museu oferece ainda uma seleção de livros sobre fezes. Há literatura sobre a importância das fezes, como elas são formadas e até ilustrações e fotos sobre diversos animais que se alimentam do cocô alheio. Um dos destaques é um folheto feito a partir de cocô de elefante.

Janistraquis adorou, Fausto, e revela projeto que bolou a propósito do catingante assunto:

‘Agora, considerado, já sabemos o que fazer com fracassadas obras de arte produzidas por falsos intelectuais brasileiros: sem nem mesmo pedir licença, haveremos de despachá-las pro Museu do Cocô.’

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Síndrome de Gabriela

O considerado Ricardo Brandau Quitete, jornalista em São José do Rio Preto (SP), envia notícia publicada na Folha Online, notícia que bem poderia ter dado lugar a outra, digamos, menos indistinta:

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE — Trajando biquínis, maiôs e roupas circenses, cerca de dez pessoas ocuparam ontem a praça Raul Soares, na região central de Belo Horizonte, para uma manifestação pelo banho de sol em público.

Brandau, que nunca tomou banho de sol protegido por roupas circenses, deixou fluir a indignada perplexidade:

Ainda se fossem cerca de 100, ou — vá lá — cerca de 50, mas ‘cerca de’ 10 pessoas é dose para mamute. Das duas, uma: ou o repórter tem uma preguiça enorme de contar ou, o pior, fugiu das aulas de matemática do primário (ou ensino fundamental, para os mais modernos).

‘Seu’ Frias deve ter dado (‘cerca de dez’) pulos de raiva lá no outro plano quando leu tal desfaçatez.

Janistraquis está convencido de que o autor do textinho foi criado nalguma fazenda mineira, padece da ‘Síndrome de Gabriela’ (‘eu nasci assim’, eu cresci assim’, ‘eu sou sempre assim’) e acha que cerca é somente aquela formada por mourões e arame farpado.

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Congratulações

Depois do vexame diante da Argentina, Janistraquis desligou a TV e anunciou:

‘Vou ali passar um telegrama de congratulações ao nosso grande líder Carlos Caetano Bledorn Verri, mais conhecido como Dunga’ – e, ao ritmo de Ronaldinho Gaúcho, dirigiu-se ao banheiro.

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Verdadeira dama

Ronaldinho Gaúcho foi tão elegante, gracioso, mimoso, delicado e meigo na partida contra a Argentina que Janistraquis perdeu inteiramente o respeito pela criatura e pespegou-lhe o prosônimo de ‘A Dama de Xangai’.

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Jornalista e poeta

A poesia de Cecília Meireles tece o veludo de divinos teares. Leia no Blogstraquis a íntegra de Motivo, cujo fragmento encima esta coluna. O poema integra o livro Viagem, composto entre 1929 e 1937.

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Robson Caetano

O considerado jornalista e promotor de eventos Jarbas Aurélio Pimentel, de São Paulo, e a não menos considerada Cleonice Vieira Mendes, assessora de imprensa no Rio, escrevem sobre um mesmo personagem e são tão semelhantes as reprimendas que o colunista as resume assim:

Pelo menos para os telespectadores brasileiros, o maior recordista das Olimpíadas exerce o cargo de comentarista do canal de atletismo do Sportv; como é fantasticamente chato esse Robson Caetano, hein?!?!?! Fala demais para um portador de disfemia, não diz coisa com coisa, quer entender de tudo e não entende de nada…’.

E segue por aí afora o inclemente reparo ao desempenho do ex-atleta-transformado-em-comentarista, criação da Globo que nem sempre é aceita por sindicalistas e telespectadores comuns; afinal, não basta ‘ter estado lá’, para brilhar por cá.

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São Paulo ou Rio?

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo banheiro, em trepando-se nas bordas do vaso sanitário, vê-se Lula a criar o ministério da pesca e uma estatal de exploração de petróleo, para que não haja nenhum petista desempregado no país de todos, pois Roldão teve antigas notas recuperadas por Janistraquis e uma delas, do Correio Braziliense, vai aqui com data de 3 de fevereiro de 2004:

‘Crime – FALSA BLITZ EM SÃO PAULO – Quatro homens armados com pistolas e vestindo roupas (sic) da Polícia Civil fizeram uma falsa blitz ontem de madrugada em Campinho, zona oeste de São Paulo, roubaram um carro e foram perseguidos por policiais militares. Na fuga, atropelaram um aposentado de 80 anos, que morreu na hora. Os criminosos estavam na estrada Intendente Magalhães, por volta das 5h30, em um Monza roubado.’

Roldão fez o seguinte comentário:

Mesmo morando em Brasília há dez anos, ainda me lembro que a estrada Intendente Magalhães fica em Campinho, subúrbio da capital fluminense, o Rio de Janeiro. E as ‘roupas’ devem ser ‘fardas’, mesmo sendo apenas coletes sobre os trajes paisanos.

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Caymmi e a internet

Janistraquis sorvia um potpourri de cachaça, das recentemente enviadas por amigos gentis e atenciosos (Camilo Viana, Zé Alberto da Fonseca, Zé Truda), e com tal, digamos, coletânea, homenageamos Dorival Caymmi, este que se foi e consigo levou todos os saveiros da Bahia e também o derradeiro pedaço de nossa infância e juventude.

Algo, porém, incomodava o velho companheiro, apesar de literalmente mergulhado no justíssimo mister de embebedar-se:

‘Considerado por que, ao informar a morte do poeta de Itapoã, Amaralina e da Lagoa do Abaeté, aquele que brincou tantos carnavais em Maracangalha, por que a ‘imprensa on line’ fez questão de se referir ao ‘músico Dorival Caymmi’? Por acaso existem ou existiram muitos com o mesmo nome noutras e reconhecidas profissões? ‘

Nunca existiram, é claro, mas os redatores do chamado jornalismo moderno, os mesmos que migraram da mídia impressa e até já mataram Jesus Cristo na forca,esses nunca ouviram falar de Dorival Caymmi; portanto, também o leitor certamente nunca ouviu falar. Simples assim, como dizem por aí.

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Veludosas vozes

E por falar na morte do mestre que ao violão chamava o vento, leia, considerado e ilustre passageiro, esta carta publicada no Painel do Leitor da Folha de S. Paulo:

João Gilberto

‘Gostaria muito de saber o que fez João Gilberto nos últimos 50 anos em benefício da música brasileira?

Hoje ele é muito pior do que no início, quando apenas cantava mal.

Agora não canta, não sorri, não fala, não interage…

E vocês da mídia têm coragem de elogiar. E eu pergunto: o patrocínio de R$ 2 milhões também beneficia os críticos?’

AGNALDO TIMÓTEO, cantor (São Paulo, SP)

A opinião de Janistraquis é a mesma do remetente:

‘O tal de João Gilberto é o maior conto do vigário inventado no Brasil desde o bilhete premiado’, declarou esse que é fã de Caymmi, Francisco Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Nélson Gonçalves, entre alguns dos quais tão poucos ouviram falar.

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É pra esquecer!

Janistraquis, cujo espírito olímpico não está lá essas coisas, fez o balanço das decepções da quinta-feira:

‘É duro, considerado, é duro; se a seleção feminina de vôlei deu o esperado show, em contrapartida as meninas do futebol imitaram a seleção do Dunga; e recolheram-se as velas e Rodrigo Pessoa também não teve voz ativa pra comandar seu pangaré. Para completar, Galvão Bueno chamou Jadel Gregório de Jadel Rodrigues… Quer dizer, a coisa não esteve boa pra nós.’

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Nota dez

O considerado Augusto Nunes escreveu no Jornal do Brasil:

Há 13 anos a serviço do dono de uma frota de táxis, o paulistano João Rogério da Silva Alves, 36 anos, 15 dos quais casado com Maria Cavalcanti, é motorista de táxi há 13. Acorda sempre às 5h(…)Ganha por mês cerca de R$ 1.800, que se somam aos R$ 400 que a mulher consegue como diarista.

A renda familiar ultrapassa amplamente a fronteira, redefinida em 6 de agosto pela Fundação Getúlio Vargas, que separa a pobreza da classe média.

(…)No fim da corrida, ele resolve conferir a promoção: ‘Se entrei na classe média, vou usar o elevador social’, sorri. ‘Até hoje só pude usar o elevador de serviço’.

O país recriado pelos malabaristas da estatística é uma beleza. Pena que não se consiga enxergá-lo a olho nu.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que revela a verdade por trás da mentira oficial.

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Errei, sim!

‘FORMOU-SE O ANGU – Enevoado texto do Jornal da Tarde, de São Paulo: ‘(…) As lojas especializadas em livros usados, ou sebos, se aproveitam com livros raros ou baratos dos preços altos nos livros novos.’ (janeiro de 1994)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

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