Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Copa do Mundo é
censurada na Somália


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Segunda-feira, 12 de junho de 2006


COPA 2006
O Globo


Islâmicos censuram Copa do Mundo


‘MOGADÍSCIO. A milícia islâmica que, há uma semana, tomou o poder na capital da Somália, Mogadíscio, após meses de intensa batalha com clãs rivais, cortou a energia elétrica de vários estabelecimentos para impedir que os somalis assistam à Copa do Mundo, provocando ameaças de protestos da população.


A União de Tribunais Islâmicos começou no sábado a dissolver reuniões de pessoas que desejavam ver as partidas de futebol. Uma interpretação rígida das leis islâmicas considera imorais filmes e programas de televisão ocidentais.


– Quando os islâmicos assumiram o controle da nossa cidade, pensamos que havia chegado a liberdade. Mas agora nos impedem de ver a Copa – queixou-se Adam Hashi-Ali, um adolescente em Mogadíscio.


A medida autoritária foi tomada apesar de o líder da milícia islâmica, o xeque Sharif Jeque Ahmed, ter afirmado que não instituiria um regime nos moldes do Talibã, que vigorou no Afeganistão até o fim de 2001, quando foi destituído pelos Estados Unidos.


Ahmed também negou, no sábado, acusações dos Estados Unidos de que seu grupo dá refúgio a terroristas.


– Os temores americanos são baseados numa idéia equivocada. Os Tribunais Islâmicos não acolhem terroristas estrangeiros – assegurou o líder de 41 anos.


Ele acrescentou que não quer impor a sharia (lei islâmica).


A União de Tribunais Islâmicos, liderada por Ahmed, é uma frágil aliança de grupos de diferentes clãs muçulmanos moderados e radicais.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de junho de 2006


COPA 2006
Daniel Piza


Saúde, dinheiro, história


‘Muitos fatores transformaram a Copa do Mundo. Dinheiro, por exemplo; a Alemanha gastou para sediar esta Copa nada menos do que 40 vezes o que gastara em 1974. O número de times saltou, o alcance de público pela TV é muito maior, o consumo de produtos circula em outro patamar.


Dentro de campo, uma mudança clara é a velocidade do jogo; os atletas correm o dobro de distância. Parreira, na coletiva de ontem, disse que esta já é a ‘Copa da saúde’, pois os primeiros jogos mostraram notável intensidade física, além de uso mais freqüente de cruzamentos, dos lances pelo alto, uma vez que jogadores de 2 metros eram impensáveis até há pouco tempo.


Mas todos vêem a força da tradição. Cafu e Parreira citaram seis donos de taças como favoritos (Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, Inglaterra e França), acrescentando Portugal e Holanda. Com apenas três dias de Copa, é possível dizer que os azarões apareceram menos do que no mesmo período de 2002. Alemanha, Argentina e Inglaterra venceram. A Holanda, mesmo com elenco muito jovem, bateu ontem a Sérvia e Montenegro com um gol do craque Robben no começo. E Portugal, depois de duas rápidas ligações com Pauleta nos primeiros cinco minutos, equacionou o curso restante da partida contra Angola.


Mesmo num confronto entre México e Irã foi possível ver a diferença que a história faz. Acho que o México até se assustou um pouco com o bom toque e a boa disposição dos iranianos; só conseguiu destravar a defesa na segunda metade do segundo tempo. Poucos minutos antes, na própria intermediária, um jogador do Irã tinha espaço para dominar a bola e sair jogando – mas preferiu dar um chutão para cima e para fora, o que denunciou seu estado psíquico. Ou então repare no gol de Portugal: Figo demonstrou a importância de combinar boa forma e experiência ao enganar o zagueiro adversário com uma meia-lua. Com muitos passes errados, Angola não foi capaz de traduzir resistência em resultado.


Ainda estamos com um pé nas especulações, porque são apenas os primeiros jogos e Brasil, Itália e França nem sequer entraram em campo.


Logo, também não dá para saber ainda se é o solo europeu que está revigorando o tronco da tradição ou se desta vez as seleções de ponta, acauteladas depois dos tropeços de 2002, tiveram mais cuidado com os aspectos físico e emocional. É verdade que há nivelamento maior hoje em dia, até porque muitos jogadores do exterior atuam nos campeonatos europeus. Mas ainda não chegou o tempo em que o suor não evoque glórias.’


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Nova novela das 9 já rende polêmica


‘Era de se esperar: ao pedir licença à prefeitura do Rio para gravar cenas de um arrastão na praia do Leblon para Páginas da Vida, próxima novela das 9, a Globo enfrentou a resistência de César Maia. Bingo, faturou daí a primeira polêmica em torno de um folhetim que nem estreou. A seqüência, gravada sexta-feira, será tratada, segundo o jornal O Globo, como ação isolada de um grupo. Foi a sutileza que o autor Manoel Carlos promoveu para conseguir a bênção do prefeito que, afinal, teme pela imagem turística do Rio. E, no caso da ficção, ele até pode controlar seus efeitos.’


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O maior jogo na TV


‘Um dos maiores jogos de tabuleiro de todos os tempos vai virar reality show. O magnata Donald Trump, criador do formato O Aprendiz, anunciou que levará para a TV uma versão de Monopoly, conhecido aqui como Banco Imobiliário.


Segundo a revista inglesa Variety, Trump está tocando o projeto ao lado do mestre dos reality shows americanos, R.J. Cutler, criador de The War Room e American High.


Na adaptação do jogo fica claro que o maior objetivo é lucrar o máximo no competitivo mundo dos negócios imobiliários, e que, para isso, os competidores terão de ser capacitados profissionalmente, assim como em O Aprendiz, reality show conduzido por Trump.


O empresário tem domínio total sobre esse terreno, pois foi no mercado imobiliário que ele começou a fazer fortuna.


Lançado em 1933, Monopoly já vendeu mais de 250 milhões de unidades no mundo. No Brasil, a venda do jogo respondeu a quase 10% da receita da Estrela em 2003. Para conceber o reality, Trump fechou acordo com a Hasbro, criadora do jogo.


Resta saber se o magnata se envolverá só com a criação do programa, ou se também tomará a frente como apresentador.’


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João Gordo sai do estúdio e vai à casa dos artistas


‘João Gordo estava cansado de só ficar em estúdio. Somado a isso, queria voltar a exercitar seu lado entrevistador boquirrota e não só apresentar as atrações nonsense de seu Gordo Freak Show. O programa de entrevistas Gordo a Go-Go chegou ao fim após mais 300 edições. Segundo ele, o motivo teria sido a falta de entrevistados, sobretudo conhecidos, que aceitassem o desafio de sentar em seu sofá. ‘Tem gente que não vai porque tem medo’, alega. João sugeriu à direção da MTV, então, um novo formato: se os entrevistados não querem ir até seu programa, seu programa vai até eles. A direção acatou. Daí surgiu o Gordo Visita, que estréia hoje na emissora, com nove episódios já engatilhados.


Isso não significa que as dificuldades para conseguir boas entrevistas diminuíram. Muitos declinaram do convite, conta João. Ele acabou contando com a colaboração dos amigos e daqueles que não têm receio de sua artilharia pesada. O primeiro a abrir a casa é o ator Paulinho Vilhena. E como João Gordo é daquele tipo de entrevistador que diz tudo sem meias-palavras, ele cita a longa lista de beldades com as quais Vilhena já se envolveu. O ator fala então de seu namoro com a cantora Sandy, na época em que faziam um programa na Globo. ‘Naquela fase, ela foi importante. Foi o primeiro sentimento forte’, declara o ator, que fala ainda a fama de encrenqueiro.


Os próximos programas trazem nomes como a roqueira Pitty, o chef de cozinha Alex Atala, o apresentador Ronnie Von, a ex-BBB Sabrina Sato, o sambista Zeca Pagodinho. Na entrevista com Zeca, João tasca logo de início: ‘Você tem cara de preguiçoso.’ Zeca confirma a pecha e lembra de que Gil, que é baiano (e baiano tem fama de preguiçoso), já o chamou assim.


Quem mais João gostaria de visitar? ‘Imagina fazer um programa na casa do Monteiro Lobato? E o Grande Otelo?’, faz graça. OK, mas falando sério… ‘Queria muito entrevistar o Hermeto Pascoal, o cara do Chaves.’ Se Gordo Visita vai além dos nove programas, ele não sabe responder, mas põe fé que sim, já que o resultado teria agradado à direção. (SERVIÇO)Serviço Gordo Visita. MTV. 2.ª, 22 h (reprise 5.ª, 0h30, sáb., 22h30)’


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de junho de 2006


COPA 2006
Alcino Leite Neto


Namorada de Ronaldo critica culto ao futebol e às celebridades


‘Boliche, e não futebol foi o tema do desfile da grife TNG, para a qual a modelo Raica, 23, namorada do atacante Ronaldo, desfilou ontem, no encerramento do Fashion Rio.


A modelo fez três entradas na passarela. Em todas houve referências a Ronaldo, com o número 9, do atacante, estampado na roupa, e também à Copa do Mundo, com aplique das seis estrelas que indicam o hexacampeonato -título que o Brasil busca conseguir na Alemanha a partir de amanhã, quando faz sua estréia, enfrentando a seleção da Croácia.


Raica falou à Folha minutos antes de entrar na passarela. A top diz que não gosta de futebol e nem sabe o que é ‘lei de impedição’, como se referiu à regra do impedimento.


‘Marias-chuteiras’


‘Não sei nem o nome de todos os jogadores. Acho que futebol é coisa de homem. Mulher prefere conversar sobre cabeleireiro.’ Para ela, as únicas moças que gostam de futebol são as ‘marias-chuteiras’.


Raica diz que ainda não sabe se acompanhará algum jogo do Brasil na Alemanha. ‘Tenho meus compromissos profissionais. Só irei se tiver uma brecha de agenda. Minha carreira vem antes’, afirma.


Ela prefere não se envolver na polêmica entre Ronaldo e o presidente Lula. ‘Não sei direito o que aconteceu. O que foi que o Lula disse mesmo?’.


Em videoconferência com a delegação brasileira, na quinta passada, o presidente perguntou ao técnico Carlos Alberto Parreira se Ronaldo, ausente ao encontro, estava gordo.


Ao saber do comentário, Ronaldo afirmou: ‘Assim como dizem que eu estou gordo, dizem que o presidente bebe pra caramba. Tanto é mentira que ele bebe pra caramba, como é mentira que eu estou gordo’.


Mesmo evitando envolver-se na discussão, que o presidente e o jogador já deram por encerrada, Raica afirmou ter simpatia por Lula da Silva. ‘Ele parece ser um cara bacana’, diz.


Para Raica, ‘é bobagem as pessoas falarem tanto sobre futebol e celebridades’. Ela acha que ‘as pessoas deveriam se preocupar com assuntos mais sérios, como corrupção’.


Ao fim do desfile da TNG, que encerrou também a maratona do Fashion Rio, Raica estendeu a bandeira do Brasil, ao lado dos estilistas da grife.’


ELEIÇÕES 20006
Carlos Heitor Cony


Pinga e chuchu


‘RIO DE JANEIRO – O pessoal que trabalha na mídia está sendo lembrado de algumas das disposições da complicadíssima Lei Eleitoral que vigorará para o próximo pleito e cujo chute inicial será no primeiro dia de julho. Como todos os outros profissionais da mídia, recebi as instruções que deverão me guiar nos comentários que aqui fizer, não apenas no jornal, mas no rádio e na TV. São recomendações óbvias, como a de não manifestar preferência por determinado candidato.


No meu caso pessoal, a advertência é desnecessária, não tenho preferência por qualquer candidato, não votarei em nenhum deles, sejam quais forem os que se apresentarem até a hora da onça beber água. Não defendo o voto nulo para os outros, não defendo o voto nulo nem para mim mesmo. Apenas não voto um direito meu do qual não abdico.


Nas instruções há um exagero, digamos, politicamente correto. Pede ‘cuidado com os adjetivos e ironias’. Fica difícil deixar de adjetivar os candidatos, que são substantivos e na maioria das vezes merecem ser adjetivados para o bem ou para o mal. Quanto à ironia, será impossível a um cronista, articulista ou colunista (eu me considero cronista, e não colunista) passar três meses de grande agitação na seara política sem pingar alguma gozação -motivo haverá, e muitos. Os candidatos terão uma exibição na mídia que ocupará o espaço que agora damos aos jogadores da seleção nacional.


Em eleição passada, uma candidata processou uma jornalista que a chamou de ‘quatrocentona’. Não vejo ofensa alguma na classificação. Fico em dúvida se poderemos lembrar que um candidato elogiou o chuchu e outro é chegado a uma pinga de boa procedência.


Tá certo. Não rolarão adjetivos e ironias na cobertura da campanha. Mas dinheiro suspeito rolará, como sempre.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Toda mídia


‘Quem decide


No UOL, o Portal Imprensa anuncia que Franklin Martins volta hoje à cena. ‘Jornal da Band’, Band News, rádio Bandeirantes, rádio Band News: ele vai estar em toda parte. Antes, surgiu ontem no Blog do Noblat, no link para um debate. Dele, respondendo a uma pergunta sobre Globo e as eleições:


– Não tenho a menor dúvida de que os acionistas das empresas de mídia preferem o Alckmin.


Dele também, no site Mídia & Política, ligado à UnB:


– A mídia influencia, mas quem decide é o eleitor. Se dependesse da mídia, Lula não estaria liderando. Aliás, não sei nem se teria sido eleito em 2002.


Sobre sua saída, a resposta é ‘perguntem à Globo’.


JAMAIS


Dentre os telejornais, o ‘Jornal Nacional’ não noticiou a videoconferência de Lula com a seleção, na quinta. Sexta, foi manchete:


– Ronaldo se irrita com pergunta do presidente Lula.


O jogador mandou ver, ‘todo mundo diz que ele bebe’.


Mas não, segundo a Globo, Ronaldo ‘não quis ofender o presidente’. Pelo jeito, não bastou e sábado lá estava ele falando ‘com exclusividade a Fátima Bernardes’:


– Eu jamais quis ofender o presidente Lula.


Culpou ‘os jornalistas’.


ÍDOLOS


O esforço concentrado de Ronaldo e Globo chegou à família do atacante.


Seus pais surgiram no treino para ‘photo-op’. E o pai até exagerou, pelo que noticiaram as páginas iniciais do UOL à Globo.com:


– Estava em Munique, não acompanhei o noticiário. Mas o Lula é uma grande personalidade, o admiro muito. Votei e voto de novo nele.


Aliás, garantiu, ‘o Ronaldo também vota no Lula’. E tem mais, ‘o Lula é um grande presidente’. E mais:


– Ele é um ídolo brasileiro.


GOOOOOOAAAALL!!


Acima, o guia da ‘Wired’; abaixo, um dos sites indicados


O site Medinalia saiu do ar, o Live Footy está sai não sai. Mas a transmissão em ‘streaming’ dos jogos da Copa, pela internet, não pára -e ganhou até manual da ‘Wired’, intitulado ‘Soccer, anyone?’, alguma coisa como ‘quem quer futebol?’. Mas a bíblia da rede avisa:


– As fontes são quase exclusivamente pirateadas por hackers da China e direcionadas por servidores em Israel.


Ou seja, a locução é nas línguas mais indecifráveis:


– Ainda assim, é bastante evidente o que significa ‘Gooooooaaaall!!’.


A GRANDE ESPERANÇA


Era mais uma convenção em Las Vegas, nos EUA. Mas estavam lá para a cobertura ‘Washington Post’, ‘New York Times’, até a estrela dos colunistas, Maureen Dowd. Era o YearlyKos, encontro de blogueiros liderado pelo mais influente deles, o ultraliberal Markos Moulitsas, 34, do Daily Kos. E foi um desfile de democratas.


O blog liberal The Huffington Post proclamou, no fim, que ‘os blogs são o novo ‘talk radio’. (Foi no rádio, com vozes conservadoras como Rush Limbaugh, que começou a onda que levou os republicanos ao poder.) ‘WP’, ‘NYT’ e outros, pela cobertura, concordam.’


REVISTA TERESA
Noemi Jaffe


‘Teresa’ tem edição dedicada a enigmas de Machado de Assis


‘‘João amava Teresa que amava Raimundo.’ ‘A primeira vez que eu fitei Teresa.’ ‘A primeira vez que eu vi Teresa.’ ‘São José deu a mão de esposo a Teresa.’ ‘D. Tereza acreditou.’ Cadê Teresa? Ela está novamente aqui. ‘Teresa’, que significa ‘natural da terra’, é também uma Revista de Literatura Brasileira, publicada pela USP, Editora 34 e Imprensa Oficial do Estado, e chega aos números 6 e 7, organizada por Hélio de Seixas Guimarães e dedicada a Machado de Assis. São mais de 500 páginas destinadas ao ‘bruxo do Cosme Velho’, o ‘grande lascivo do nada’. Dois anos antes do 100º aniversário de sua morte e milhares de páginas depois, o que mais há para ser dito sobre Machado? Ainda há muito. Não se pode nem se deve, sob pena de grande estrago, decifrar os mistérios machadianos. Aproximar-se deles é simplesmente aumentar a voltagem de luz que nos permite enxergar o tamanho do enigma. Mas continuam se aproximando e ‘descobrindo a fenda necessária’ Alfredo Bosi, Alcides Villaça, João Adolfo Hansen, Sergio Paulo Rouanet, Boris Schnaiderman e outros, vasculhando os olhos enviesados, as máscaras, as dissimulações e a constatação insuportável de que somos muito mais definidos pelas contingências do que pelas convicções, muitas vezes chegando a nomear a conveniência como uma antiga certeza. Essa proximidade do centenário da morte de Machado coincide com os 50 anos da publicação de ‘Grande Sertão: Veredas’. Machado e Rosa são os dois maiores autores da literatura brasileira. Mas, para além das datas e da grandeza, como relacionar os dois? Só mesmo por oposição complementar, porque, apesar de contrários, os dois estão sempre certos. O próprio conto de Machado, ‘A Igreja do Diabo’, parece antever, mesmo que por ironia -essa companheira triste do bruxo- a dialética que se esconde no gume machadiano. Diante do Diabo, perplexo porque os humanos insistiam em ‘cometer’ o bem, após ter sido oficializado o mal, diz Deus: ‘Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana’. Onde só parece existir inocência, Machado sempre desvenda uma malícia escondida; até mesmo a malícia da própria inocência, porque para ele não há mal maior do que ser inocente. Guimarães Rosa, ao contrário, descobre uma brecha de inocência onde só se vê a hipocrisia. Talvez o Deus de Machado, que só compreende o desejo de generosidade humano como uma negação ao mal legalizado, não tenha compreendido a generosidade gratuita que Rosa via. Não é à toa que o mineiro, como nos conta Cony, dizia que Machado não fazia nada mais do que ‘uma desoladora dissecação do egoísmo, e, o que é pior, da mais desprezível forma de egoísmo: o egoísmo dos introvertidos inteligentes’. O fato é que nós, na volúpia da inteligência, somos uma caravana de egoístas. Mas é fato também (e talvez os fatos aqui sejam o que menos interessa) que nós, nessa marcha do nada, topamos todos os dias, ‘nas horinhas de descuido’, com uma canção antiga, um olhar absorto, uma atenção inesperada.


NOEMI JAFFE é escritora e professora de literatura, autora de ‘Folha Explica Macunaíma’ (Publifolha) e ‘Todas as Coisas Pequenas’ (Hedra)


TERESA Editora: Imprensa Oficial do Estado e Editora 34 Quanto: R$ 35 (510 págs.)’


ASCHER POR ASCHER
Nelson Ascher


Trinta anos depois


‘Há 30 anos (três décadas? três decênios, seis lustros? não, sinônimo nenhum maquia, misericordioso, a cronologia nua e crua) publiquei, pela primeira vez, um artigo. Mal havia entrado (ou entrado mal) na universidade e, convertidos em ameaçadores veteranos, antigos colegas de escola resolveram me convocar para encher uma página em branco do jornal do Centro Acadêmico. Todos, então, queriam falar sobre política, enquanto eu concordara em dar à publicação um ar mais sério (ou, pelo menos, um aspecto mais variado) com alguma amenidade literária.


Embora não recorde como era o texto (nem o vi mais), lembro que a tarefa não me parecia demasiado penosa. Tratava-se apenas de compor algo similar a uma redação (algo, aliás, que, recém-introduzido no vestibular, baixara minha média final, e isto não por ter sido uma composição ousada, de vanguarda, além da compreensão dos examinadores, mas porque era ruim mesmo). Podendo escolher o tema, optei pelo meu escritor favorito: Jorge Luis Borges.


Eu descobrira acidentalmente o argentino três anos antes quando, ao acampar com amigos, um levara consigo o último volume (número 50) de uma coleção de clássicos da literatura universal que os pais dele haviam adquirido.


Abrindo a caixa às pressas, ele pegou o livro de cima: ‘Ficções’. Após terminar os meus, ataquei avidamente os alheios. Lendo Borges na adolescência, sem me preparar por meio do estudo dos estruturalistas franceses, dos mais avançados críticos e mais profundos hermeneutas, não me ocorreu notar que estava diante de um monstro sagrado, considerado complexíssimo e impenetrável. Li-o e me diverti. Inocentemente.


Em seguida, parti em busca de suas demais obras e, como a maioria não fora traduzida para o português, comprei-as em espanhol e inglês, línguas que exigiam e também recompensavam meu esforço suplementar. Tampouco tomara conhecimento de que o autor andava envolvido em polêmicas políticas, e nada em seus contos o indicava.


Demorou para que eu entendesse que, em tempos politizados como aqueles, escrever apoliticamente era, por definição, criminosamente ‘alienado’.


Bom, lá fui eu, disposto a convidar meus eventuais milhares de leitores aos prazeres oferecido pelo escritor. Até onde chega minha memória, enfatizei-os apontando (não nessas palavras) tanto o caráter lúdico de suas narrativas quanto a inventividade que um cego era capaz de mostrar, malgrado vivesse dentro de sua biblioteca, cercado, sobretudo, pela memória de tomos previamente lidos. Foi o que bastou.


Nem sequer tive tempo de desfrutar a satisfação de examinar minhas mal-traçadas devidamente compostas (com meus erros e os da revisão) numa página impressa, satisfação esta que, antes de aparecer o processador de texto, estava reservada para poucos.


Pois, há seis lustros (três decênios etc.), isso era tão raro, tão pouco acessível a qualquer mortal, quanto para um não-artista seria, quando inexistiam filmadoras digitais baratas, ver-se na telinha ou na telona. O jornal acabara de sair do forno e meus colegas (militantes, informados e organizados) já me olhavam obliquamente, de longe, como se eu fosse radiativo.


A seus olhos, independentemente de minhas posições de esquerda (como as de quase todo mundo num ambiente e idade semelhantes), eu me tornara suspeito, perigoso, quem sabe um agente do ‘lado escuro da força’. E, não obstante outros, generosos e compreensivos, explicarem-me pacientemente que Borges recebera uma medalha qualquer do ditador chileno e coisa e tal, que um intelectual não podia se dar ao luxo de ser neutro ou de se ausentar da batalha final pela libertação da humanidade, pela redenção do ser humano, pela anistia ampla, geral e irrestrita, por salários mais altos para os faxineiros do Centro Acadêmico e pela distribuição gratuita de jujuba para todos, eu, ainda assim, continuava achando excelentes os seus contos.


De minha parte, persuadi-los a deixar às vezes de lado ou relativizar um pouco seu ‘compromisso com a revolução’ foi um exercício igualmente malsucedido. E, convenhamos, com tantos títulos na fila de espera, qualquer desculpa para não ler alguns era boa. Minha impressão, 30 anos (três décadas etc.) mais tarde e inumeráveis (por preguiça de contá-los) artigos depois, é a de que, desde então, nada de significativo se alterou. Com sorte, no entanto, posso estar enganado.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Famosos terão dança surpresa no ‘Faustão’


‘Maior sucesso do ‘Domingão do Faustão’ nos últimos anos, o quadro ‘Dança dos Famosos’ trará uma novidade para seus participantes. Os quatro finalistas da atual edição (no momento, há sete candidatos na disputa) terão que dançar de improviso, sem os tradicionais ensaios durante a semana.


No quadro, celebridades que não dominam a dança se apresentam com um coreógrafo. A cada semana, há um ritmo novo, e um deles é eliminado.


A dança surpresa será de algum ritmo já experimentado pelos participantes (como discoteca e merengue), mas a coreografia terá de ser inédita e ensaiada durante o programa.


A atual é a terceira edição do ‘Dança dos Famosos’. Na Globo, apesar da torcida do público por Nívea Maria e Stepan Nercessian, avalia-se que os favoritos ao título são Babi Xavier e Guilherme Berenguer.


Inspirado em formatos exibidos por TVs européias, o ‘Dança dos Famosos’ vem dando tanta audiência quanto o ‘Videocassetadas’ (o maior ibope do ‘Domingão’), por volta de 30 pontos na Grande SP.


A Globo já prepara uma nova edição do quadro, com 12 participantes, para o segundo semestre deste ano. Para o início de 2007, já se cogita uma versão só com crianças famosas.


O ‘Dança dos Famosos’, segundo a emissora, aumentou em 50% a procura por aulas de danças de salão nas academias do Rio de Janeiro e São Paulo.


MAIS PISTA


Um personagem de ‘Belíssima’ aparecerá fumando no capítulo de hoje. Será o segundo a fazer isso _o primeiro foi Valdete (Leona Cavalli), que, salvo reviravoltas, está morto. De acordo com o autor da novela, Silvio de Abreu, o misterioso personagem que manipula André (Marcello Antony) é fumante. Mas não acredite muito nisso. Pode ser pista falsa.


XUXA É DA GLOBO


A Globo Marcas, divisão de licenciamento da Globo, fechou acordo com Xuxa Meneghel e será representante exclusiva das marcas da apresentadora no Brasil. A Globo já licenciava produtos relacionados ao programa ‘TV Xuxa’. Agora, cuidará também das grifes Xuxa (para meninas de 6 a 12 anos) e Turma da Xuxinha (para meninos e meninas de até 6 anos).


‘FLORIBELLA’ NO PALCO


A Band vai transformar sua novela ‘Floribella’ em espetáculo musical. A duas primeiras apresentações serão em São Paulo em 2 de julho (em uma delas o público obterá ingressos por meio de sorteio de uma operadora de celular). Os shows, com o elenco, renderão um DVD e percorrerão o país.


DÚVIDA CRUEL


Apesar do sucesso comercial de ‘Floribella’ (que licencia de tênis a jogos), é pouco provável uma terceira edição. A Band estuda substitui-la por uma nova versão de ‘Chiquititas’.


REFORÇO NA CULTURAEx-editor dos telejornais de Boris Casoy na Record e no SBT, Dácio Nitrini começa hoje a dar expediente na TV Cultura. Irá chefiar a cobertura das eleições deste ano.’


Lucas Neves


‘Webisódios’ viram febre nos EUA


‘No novo endereço de Adrian Monk, as fobias e neuroses do aloprado detetive particular de San Francisco coabitam com e-mails, mensagens instantâneas e distrações digitais afins. É que as esquisitices do personagem-título da série cômica americana pularam da televisão para a internet, em programetes com duração entre um e dois minutos, filmados exclusivamente para o meio.


No primeiro episódio -cuja versão legendada já pode ser vista no site do Universal Channel, casa brasileira de ‘Monk’-, o personagem interpretado por Tony Shalhoub entra em parafuso quando o seu psicólogo tenta mudar a data da sessão seguinte.


As outras três ‘pílulas’ por enquanto só estão disponíveis na versão original (sem legendas), no site oficial da série (veja endereço no quadro ao lado).


A mais engraçada é a terceira, ‘Monk e o Exame de Sangue’, em que, antes de ser submetido ao procedimento, o detetive é deixado sozinho em um consultório por uma enfermeira. Ele decide ‘ajustar’ a posição dos objetos que há ali, o que inclui nivelar a altura de sangue em tubos com testes alheios. Preste atenção ao último quadro, quando um médico dá uma notícia bombástica a uma senhora de idade.


Quiçá para alívio do investigador obsessivo-compulsivo, a vizinhança digital ganhará novos inquilinos em breve: os engravatados da versão americana da comédia ‘The Office’ (exibida no Brasil no canal FX).


A NBC, emissora que transmite o programa nos EUA, oferecerá gratuitamente em seu site, a partir de 13 de julho, dez ‘webisódios’ de dois minutos. A trama girará em torno do sumiço de US$ 3 mil do departamento contábil da Dunder Mifflin, empresa de papel da Pennsylvania gerenciada pelo extravagante Michael Scott (Steve Carell, de ‘O Virgem de 40 Anos’). Mas quem responderá pelo humor nonsense nessa ‘webtemporada’ será o elenco coadjuvante, segundo informações preliminares.


A ‘corrida digital’ dos canais de televisão tem fundamentação científica: um levantamento divulgado no início deste ano por um instituto de pesquisa especializado em tecnologia revelou que, na média de 2005, os americanos dedicaram à internet as mesmas 14 horas semanais que consagraram ao zapping televisivo.


As conclusões desse relatório vêm repercutindo para além do circuito comercial. Na cena alternativa dos ‘webisódios’ (sim, ela existe!), a percepção de que a supremacia da TV na difusão de conteúdo audiovisual pode estar com os dias contados movimenta amadores que têm boas idéias, mas pouco dinheiro.


É dessa arena que vem ‘Hero Envy’ (‘Inveja de Herói’), série escrita e atuada por uma turma de amigos fissurados em HQs de super-heróis, com trama baseada em um roteiro que nunca encontrou financiamento para se converter em longa-metragem. A produção caseira começou a ser rodada no ano passado e já gerou sete episódios de dez minutos.


Mensais, as histórias (que podem ser conferidas no site www.glintofhope.com) focalizam a rotina de dois amigos de longa data que dividem um apartamento alugado no interior do Massachusetts.


Na mesma linha, mas abrindo espaço à improvisação, há ‘The Eric and Ray Show’ (http://ericandrayshow.com), que registra o comportamento à la ‘Jackass’ de dois guris um tanto desajustados.


‘Mobisódios’


Os ‘webisódios’ já têm companhia na relação de corruptelas do formato tradicional da TV: são os ‘mobisódios’, feitos especialmente para celulares. O primeiro seriado a ser transplantado para o serviço de telefonia móvel foi ‘24 Horas’, no ano passado.


Liberados a conta-gotas (um por semana) para os fãs de 23 países -incluindo o Brasil-, 24 segmentos de um minuto acompanharam a investigação, por um agente da unidade anti-terrorismo da CIA, da morte de um oficial do governo. Mas quem esperava seguir a correria de um Jack Bauer (Kiefer Sutherland) ainda mais afoito (em com menos tempo!) para desmantelar conspirações e escapar da morte se decepcionou: ele foi substituído por um certo Martin Kail nas ‘aventuras móveis’.


Não é o que acontecerá no fim do ano, quando o megasucesso ‘Lost’ migra para os celulares americanos. Com duração entre dois e três minutos, os ‘mobisódios’ trarão os mesmos personagens da matriz televisiva. A direção de marketing da Disney (produtora da série) no Brasil informou já ter iniciado conversas com empresas de telefonia para distribuir o conteúdo no país. No entanto, não há previsão de lançamento.


Procuradas pela reportagem por meio de suas assessorias, as três maiores emissoras de TV (Globo, SBT e Record) disseram ainda não ter planos de gravar ‘webisódios’ ou ‘mobisódios’ de seus programas.’


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Série da BBC explica instintos humanos


‘É praxe nas grandes tragédias naturais: dias (às vezes, semanas) depois de terremotos, tornados, tsunamis e súbitas erupções vulcânicas, as equipes de resgate encontram meia dúzia de pessoas que conseguiram se salvar. Famintos, desidratados e possivelmente soterrados, como se safaram da morte? É a essa pergunta que o primeiro episódio da série ‘Instinto Humano’, que estréia hoje no GNT, tenta responder. ‘Nascido para Sobreviver’ é a primeira de quatro investigações da BBC acerca de pulsões intrinsecamente humanas, como o sexo e o desejo de vencer e superar barreiras. Mas nos concentremos por ora na mania de viver. O ‘cacoete’ vem de berço, segundo o apresentador, Robert Winston. Usando a única arma que possui para ser notado, o bebê ajusta o tom do choro segundo a urgência com que precisa ver atendida sua necessidade: quanto mais decibéis alcança a manha, mais ágil deve ser a intervenção adulta. Devotos da ‘junk food’, comemorai: Winston nos conta que a ‘queda’ por iguarias gordurosas e calóricas não é puramente gula, mas sobretudo um reflexo da dificuldade de nossos ancestrais em achar comida. Quando encontravam a ‘bóia’, fartavam-se de lipídios, os quais, armazenados, garantiriam a sobrevivência até o festim seguinte.’


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Almanaque Brasil de Cultura Popular


Junho de 2006


ENTREVISTA / ALBERTO DINES
Papo Cabeça Prá Pensar


‘Como você vê a contratação do ex-ministro José Dirceu para colunista do Jornal do Brasil?


O JB está decadente. Quem manda são pessoas que nunca tiveram nada a ver com jornalismo. Nos anos 1950, 1960, o Nascimento Brito também não era jornalista. Mas, por intuição e até por osmose, começou a adquirir alguns instintos que permitiram que o jornal tivesse o desenvolvimento que teve. No momento, as pessoas que comandam o JB são movidas por instintos de poder político e econômico. Grana mesmo. Não podemos ter o JB como referência.


Sobre a consciência crítica da sociedade: é possível separar o joio do trigo?


Identificar distorções e exageros na cobertura da imprensa?


Ainda não. Leva pelo menos uma geração até a sociedade se transformar num contrapoder da imprensa. Mas, de qualquer forma, comparando com o que acontecia há 30 anos, é uma evolução fantástica. Hoje até donos de jornais criticam certas posturas da imprensa.


Quais os principais defeitos?


Nossa imprensa tem defeitos congênitos, atrapalham sua própria desenvoltura. Está ultraconcentrada. Isso é péssimo. Está corporativizada. As televisões são um pool: elas se detestam, gostariam de se apunhalar umas às outras, porém, sentam-se na mesma mesa para operar em favor de uma postura política e uma escolha tecnológica. Os jornais se reúnem em torno da ANJ [Associação Nacional de Jornais]. De forma geral, a mídia tem atitudes corporativas que tiram a necessária diversidade. Isso é preocupante.


Há alternativas?


Isso tem a ver com nosso passado de catequismo, da época da Colônia, em que a diversidade nunca foi buscada. O setor público não pode fazer muita coisa. Mas o pouco que poderia não faz. Não temos, por exemplo, televisão alternativa. Não há tevê pública no Brasil. Temos diferentes modelos de tevês estatais. Todas as emissoras não-privadas poderiam se reunir realmente, e tentar se apresentar como alternativa. Deveriam lutar por uma programação mais abrangente. Meu programa é apresentado e gerado pela TVE, mas também pela TV Cultura. Porém, nunca se conseguiu juntar esforços. Há ciúmes, interesses. Quem sofre é a qualidade do programa e a audiência.


A BBC é um modelo a perseguir?


A Inglaterra encontrou a saída com a BBC [British Broadcasting Corporation], próxima da perfeição. A taxa para o financiamento é recolhida pelo governo, mas repassada para uma corporação. O importante na equação é o orçamento. Se você tem orçamento independente, é independente. Há o modelo americano, o PBS [Public Broadcasting System], fundado por Fred Friendly, que foi retratado no filme Boa Noite, Boa Sorte. Resolveu estudar a criação da televisão pública, fez um projeto e conseguiu implantar. A cada dólar que ganham de doação, o governo é obrigado a dar outro. Assim eles arrecadam bastante, por meio de campanhas e também de empresas e instituições que os apóiam.


Dá para pensar num sistema desses para o Brasil?


Dá, mas é difícil, nossa legislação não permite. Eu não pretenderia juntar tudo. Não podemos juntar funcionário federal com funcionário de fundação estadual. O que dá para fazer é tentar reuni-los em objetivos comuns e trabalhar forte, cada um mantendo sua personalidade. Enquanto não fizermos isso, teremos uma mídia eletrônica disforme, capenga. Diria também tendenciosa.


Como a Internet pode colaborar na circulação de informações e na pulverização de diferentes pontos de vista?


A palavra pulverização é importante. Realmente, com a Internet, a informação vai ficar pulverizada. Porém, está faltando a criação de veículos. O jornal tem 400 anos. Mas o que aconteceu? É veículo periódico, que as pessoas recebiam e compartilhavam. A mídia digital é participativa, tem essa vantagem. Mas é também fragmentada e pulverizada. Um bom sítio, um bom blog tem lá sua audiência, mas não a audiência de um veículo.


Mesmo os mais populares ainda são manifestações individuais. O veículo é um conjunto de pessoas com um nome unificado e uma periodização. Jornalismo é periódico, como se fosse uma pulsação a cada hora, cada dia, cada semana, cada mês. A grandeza do jornalismo, da imprensa, é não ser individual. É um trabalho coletivo com um ritmo periódico e a noção de ser um pequeno universo. Caso contrário, torna-se uma experiência pessoal, que pode agradar mas, com o tempo, cansa.


A Internet foi muito importante na história do Observatório da Imprensa, não?


A mídia digital veio para ficar, trouxe aportes fantásticos. Sem dúvida, nós, do Observatório, somos frutos disso. Começou na segunda metade da década de 1990, na Unicamp. Era um laboratório. Fazíamos coisas interessantes, mas algo não conseguíamos: falar com a sociedade.


Quem tinha de fazer a observação da imprensa era a sociedade, não os especialistas. Pensamos: vamos fazer uma revista? Precisa de dinheiro, anunciante. Fizemos dois ou três fóruns. O primeiro, umas 300 pessoas. No último restavam só os debatedores. Um colega, Mauro Marinho, disse: ‘A Internet poderia ser uma opção, o governo tem aí um programa de utilização para fins sociais.’ O sítio do Observatório da Imprensa entrou no ar em abril de 1996. Pouco depois, o UOL nos fez um convite. Crescemos junto com o crescimento da Internet.


O programa de tevê veio logo?


O primeiro foi ao ar em 5 de maio de 1998. Somos um caso único de veículo originário da Internet que se converteu em veículo de massas. É transmitido para todo o Brasil. É interativo, e nosso público, altamente qualificado.


Os telespectadores participam, ao vivo, por telefone, fax, e-mail. Podem votar, pela Internet, em uma pesquisa sobre o tema do programa. Além de reportagens, tem a participação de convidados. Em maio de 2005, chegou ao rádio, com programa diário pela Cultura FM, de São Paulo; rádios MEC AM e FM, do Rio; e rádios Nacional AM e FM, de Brasília. Os áudios estão disponíveis no sítio do Observatório (www.teste.observatoriodaimprensa.com.br).’