Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Credores não querem Tanure na Varig

A recusa dos credores da Varig, reunidos em assembléia na segunda-feira, da proposta do grupo Docas, de Nelson Tanure, de compra das ações da Fundação Ruben Berta, controladora da companhia aérea, manteve nas primeiras páginas de todos os grandes jornais brasileiros o polêmico empresário baiano que arrenda o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, ‘descartada a proposta de Tanure, os credores decidiram aprovar o plano de recuperação elaborado pela administração da companhia aérea’. No entanto, informa a Folha, ‘ainda existem dúvidas, no entanto, sobre a validade da assembléia. A administradora judicial da Varig, a consultoria Deloitte, deu início à assembléia seis horas depois do previsto em razão de uma batalha jurídica travada no STJ’.


Além da novela envolvendo Tanure e a Varig, há dois interessantes artigos na Folha de terça-feira: um de Carlos Heitor Cony, sobre a ascensão do ex-governador Orestes Quércia em pesquisa do instituto Datafolha sobre a eleição em São Paulo e a reação contrária da mídia à candidatura do peemedebista (iniciada, aliás, no próprio jornal para o qual Cony escreve); o outro, de Clóvis Rossi, maravilhado com o fato de poder escrever seu artigo a bordo de um avião.


No tocante à crise política, a colunista Helena Chagas aponta, ao final de seu artigo no Globo, a possibilidade de Lula perder apoio no empresariado se insistir em aparecer com o presidente venezuelano Hugo Chávez e ficar batendo na tecla de que há um movimento da mídia contra a sua reeleição.


Leia abaixo os textos de terça-feira, 20/12, selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 20 de dezembro de 2005


TANURE & VARIG
Janaina Lage


Credor da Varig rejeita proposta de Tanure


‘Os credores da Varig rejeitaram em assembléia ontem a proposta do grupo Docas, do empresário Nelson Tanure, de compra das ações da FRB-Par (Fundação Ruben Berta Participações), controladora da companhia aérea.


Descartada a proposta de Tanure, os credores decidiram aprovar o plano de recuperação elaborado pela administração da companhia aérea. Ainda existem dúvidas, no entanto, sobre a validade da assembléia. A administradora judicial da Varig, a consultoria Deloitte, deu início à assembléia seis horas depois do previsto em razão de uma batalha jurídica travada no STJ (Superior Tribunal de Justiça) entre advogados do grupo Varig. A assembléia começou por volta das 15h, apesar de o STJ ter decidido manter uma liminar que suspendia a reunião.


O grupo Docas vai tentar anular o efeito da assembléia.


Segundo o presidente da Varig, Marcelo Bottini, a empresa decidirá como tratar o assunto só depois que o administrador judicial for comunicado. ‘A princípio, pelas informações que tenho aqui, a assembléia está válida, mas não se sabe o dia de amanhã.’


Credores de peso nas contas da Varig vetaram a proposta de transferência do controle da FRB-Par à Docas, como Infraero, Aerus (fundo de pensão) e Boeing. A proposta foi vetada por 100% dos votos de trabalhadores e de credores com e sem garantias. Os índices de abstenção, no entanto, foram altos: entre os trabalhadores, de 42,9%; entre os credores com garantia, de 6,1%, e, entre os credores sem garantias, de 32,4%.


A proposta aprovada pelos credores prevê a conversão de dívidas em cotas de FIPs (fundos de investimento e participações).


O plano econômico-financeiro prevê a criação de quatro FIPs. O FIP-Controle receberá um aporte de todas as ações das devedoras e terá como administrador um banco comercial de primeira linha e um gestor escolhido pelas três classes de credores. Esse fundo terá participações em todos os demais FIPs-Créditos constituídos. Os fundos de créditos serão criados e regulados por credores que decidirem participar.


O atual presidente da Varig exercerá o papel de gestor interino para criar a estrutura dos FIPs e garantir a implementação da recuperação nos moldes do plano.


O plano operacional prevê que a Varig chegue ao final de 2006 com 75 aeronaves na frota. Do total, 69 estariam em operação. Hoje, a frota é de 75 aviões, mas apenas 58 estão voando. ‘Ocorrerão substituições, algumas empresas de leasing podem não querer trabalhar conosco’, afirmou Bottini.


De acordo com o plano, a companhia passará de uma margem operacional negativa de 4,6% em 2005 para um patamar positivo de 8,6% em 2010.


O presidente da Varig destacou que, mesmo sem o apoio de um investidor, a companhia conseguiu recuperar três aviões e até o final do mês mais três voltarão a operar. Ele enfatizou, no entanto, que novos investidores são bem-vindos e citou os nomes da TAP e do fundo norte-americano Mattlin Patterson, que já manifestaram interesse em participar da recuperação da companhia.


Nova York


O presidente da Varig informou que a companhia vai levar a Nova York, em audiência amanhã, parte do pagamento das dívidas com as empresas de leasing. Segundo Bottini, a dívida que vence amanhã é de US$ 44 milhões. Do total, a Varig pretende pagar US$ 20 milhões. Os recursos serão obtidos via troca de recebíveis.


A Justiça americana estabeleceu pré-requisitos para a Varig, como a aprovação do plano de recuperação dos credores, o aumento do número de aeronaves em operação, a melhor elaboração do plano de contingência e o pagamento das empresas de leasing.


‘Não é só dinheiro, é uma série de coisas. Os credores querem ver em Nova York que somos capazes de sair da situação que estamos hoje’, disse. O resultado da audiência nos EUA é decisivo para o futuro da companhia. A Justiça americana havia estendido o prazo de proteção da Varig até o dia 21, impedindo que as aeronaves da companhia fossem arrestadas a pedido das empresas de leasing.’


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Liminar tenta proibir assembléia


‘Uma liminar do presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Edson Vidigal, proibiu a realização da assembléia de credores do grupo Varig, ontem, no Rio, mas ela aconteceu independentemente da decisão.


Vidigal ordenou a suspensão da assembléia anteontem à noite, a pedido de dois advogados que atuavam em nome das empresas Varig, da Nordeste e da Rio Sul -José Saraiva e Sérgio Mazzillo.


Na tentativa de cassá-la, outros advogados da Varig pediram ontem de manhã a desistência da ação, dizendo que os dois colegas que entraram com o primeiro recurso não estavam autorizados a representá-la.


Elas não obtiveram êxito. No início da tarde, Vidigal aceitou o pedido de desistência, mas disse que essa decisão não podia retroagir, mantendo os atos anteriores, inclusive a liminar que proibiu a assembléia.


‘Registro, por oportuno, que o advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa. Sendo assim, eventual discussão quanto à ocorrência de patrocínio infiel ou coisa que o valha há de ser resolvida em vias processuais’, disse o ministro.


No pedido de liminar, apresentado no domingo, Saraiva e Mazzillo argumentaram que a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, autorizando a realização da assembléia, criaria o risco de quebra das empresas aéreas.


A assessoria de imprensa do STJ informou que a secretaria da Corte Especial enviou comunicado à Fundação Rubem Berta, controladora da Varig, entre 8h30 e 8h50, por meio de fax e telex.


Em tese, a assembléia pode ser anulada por contrariar a liminar. Para isso, quem tiver sido prejudicado pela sua realização poderá entrar com uma reclamação no STJ alegando o descumprimento da decisão judicial.’


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Proposta da Docas não vale, diz TAP


‘A TAP informou ontem que não considera válida a proposta de recompra das subsidiárias da Varig, VEM (engenharia e manutenção) e VarigLog (transporte de cargas). Segundo a estatal portuguesa, a proposta do grupo Docas, do empresário Nelson Tanure, não cumpre a maior parte das exigências determinadas pelo contrato fechado entre a TAP e a Varig em 9 de novembro.


A comunicação foi entregue ontem, último dia do prazo de sete dias fixado em contrato para a TAP se pronunciar sobre a proposta de recompra das empresas. A estatal tem o direito de preferência e poderia cobrir a oferta.


Segundo José Roberto Opice, advogado da TAP, a Aero-LB, sociedade de propósito específico criada pela TAP no Brasil para obter financiamento do BNDES para a compra das subsidiárias, deve receber US$ 74,4 milhões a título de ressarcimento referente ao custo da transação e à multa estipulada no contrato, de US$ 12,5 milhões.


O advogado explica que o grupo Docas se comprometeu a pagar apenas US$ 62 milhões, o equivalente ao valor da oferta da estatal. ‘A TAP vai esperar o que a Varig vai decidir: ou aceita que as ações fiquem com a Aero-LB ou aceita a proposta do [fundo americano] Mattlin Patterson’, disse.


Depois de ter iniciado as transações com a TAP, a Varig colocou as duas subsidiárias em leilão. Durante o período de leilão, duas propostas foram apresentadas: a do grupo Docas e a do fundo norte-americano Mattlin Patterson, de US$ 77 milhões, que já havia manifestado interesse em comprar a própria Varig. A aérea escolheu a proposta de Tanure.


Além do ressarcimento, a TAP questiona também a origem dos recursos da proposta do grupo Docas. ‘A sugestão de recompra não comprova a disponibilidade dos recursos financeiros necessários a honrar a proposta’, afirma a nota divulgada pela estatal.’


QUÉRCIA DE VOLTA
Carlos Heitor Cony


O incerto e o duvidoso


‘Leitores indignados estão mandando e-mails truculentos às Redações e aos colunistas estupefatos diante da pesquisa que apontou Orestes Quércia na liderança de votos para a próxima sucessão em São Paulo.


É evidente que os entendidos darão as explicações necessárias. E a mídia, em sua quase totalidade, esclarecerá o eleitorado sobre a malignidade do ex-governador, que pertence à raça maldita da política nacional, acusado de improbidade administrativa, enriquecimento ilícito, só não sendo suspeito de ter matado o Lineu daquela novela que tanto sucesso fez.


Num primeiro momento, a explicação é primária: descrente da política em si, desesperada pela falta de soluções para seus problemas mais imediatos, grande parte do eleitorado sofre o ataque de amnésia ou se entrega à nostalgia do tempo que passou, que só foi bom porque já passou.


Serve também para explicar fenômenos equivalentes em outras regiões do país, quando o ruim de ontem ameaça ser melhor do que o ruim do presente. Mas será só isso?


No caso específico de Quércia, há muito que ele curte uma sombra que se aproxima do ostracismo, não detém cargos públicos, sua influência não vai além da liderança de algumas parcelas do PMDB, partido do qual se originou a vice-vestal da nossa política, o PSDB, uma vez que a vestal titular era o PT.


Acontece que nem os tucanos nem os petistas, que tiveram o poder, corresponderam ao que deles se esperava, satisfazendo plenamente o eleitorado, que de uma forma ou outra, voltou-se não exatamente para o partido, mas para seus caciques, um deles sendo Quércia.


Será difícil para ele manter a liderança na preferência dos paulistas mais esclarecidos. Todas as bocas de fogo, dos partidos e da mídia, estarão voltadas contra a sua possível candidatura ao governo de São Paulo. Os eleitores deram seu recado: não estão satisfeitos e preferem o incerto pelo duvidoso.’


GRAMPO NOS EUA
Iuri Dantas


Bush diz que espionagem ilegal continuará


‘O governo americano vai continuar a espionagem de moradores dos EUA que mantêm contatos suspeitos no exterior e quanto menos se discutir isso publicamente, melhor. Foi esse o tom adotado pelo presidente George W. Bush em entrevista coletiva de final de ano, ontem, na Casa Branca. O republicano deixou claro que iniciou uma investigação para saber quem vazou para a imprensa a existência do programa.


‘Há um processo em curso no Departamento da Justiça sobre vazamentos, e presumo que o processo esteja avançando. Minha opinião pessoal é que foi um ato vergonhoso para alguém revelar esse programa tão importante em um tempo de guerra. O fato de de estarmos discutindo esse programa ajuda o inimigo’, disse.


Na entrevista, o presidente americano voltou à ofensiva contra as críticas recebidas por sua gestão desde sexta-feira, quando o ‘New York Times’ revelou que moradores dos EUA -residentes ou turistas- têm suas comunicações monitoradas pela NSA (Agência de Segurança Nacional) sem autorização da Justiça.


A espionagem começou em 2002, com a prisão de Abu Zubaydah, suspeito de terrorismo, no Paquistão. Em seu poder foram encontrados números de telefones e e-mails de pessoas que viviam nos Estados Unidos. O governo resolveu, então, iniciar o monitoramento desses dados sem revelar à Justiça, mas com o acompanhamento do Congresso.


‘Sabemos que uma conversa telefônica de dois minutos entre alguém ligado à Al Qaeda aqui e um operador no exterior por levar diretamente à perda de milhares de vidas. Para salvar vidas americanas, precisamos conseguir agir rapidamente e detectar essas conversas para que consigamos prevenir novos ataques’, disse Bush.


Depois de evitar confirmar o assunto na sexta-feira, Bush admitiu no sábado, durante seu programa semanal de rádio, que deu as autorizações. Anteontem, foi a vez da secretária de Estado, Condoleezza Rice, defender na TV a atitude do governo como forma de ‘salvar vidas’. Ontem, o secretário da Justiça, Alberto Gonzales, também foi à TV para vender a idéia de que as interceptações ocorreram com base legal.


‘Há muitas pessoas, muitos advogados no governo que aconselharam o presidente que ele possui uma autoridade inerente, como comandante-em-chefe sob a Constituição, para conduzir esse tipo de inteligência sobre nosso inimigo’, afirmou Gonzales à rede de TV CNN.


Mesmo assim, líderes democratas e republicanos no Congresso questionam a espionagem e devem iniciar audiências e investigações sobre o tema. Associações de liberdades civis também prometem questionar na Justiça se Bush possui tal autoridade.


Ontem, o presidente americano voltou a assegurar que não cometeu nenhuma ilegalidade. ‘Eu jurei proteger as leis. Tenho a autoridade legal para fazer isto? A resposta é sim, sem dúvida.’


A crítica de líderes no Congresso resulta de uma crise de credibilidade política da gestão Bush, depois de um acúmulo de erros, como a ajuda a vítimas do furacão Katrina, a existência de prisões secretas da CIA (Agência Central de Inteligência), entre outros, culminando na espionagem doméstica. O resultado prático foi a paralisação da agenda no Congresso.


Ontem, a Câmara aprovou em caráter final uma lei que proíbe a prática de tortura contra prisioneiros sob custódia dos EUA.’


JORNALISMO & TECNOLOGIA
Clóvis Rossi


Diário do novo velho mundo


‘A BORDO DO VÔO 739 – Que mundo esse, hein? Comecei na profissão enviando reportagens por telefone quando fora da sede -ainda por cima depois de conseguir que uma telefonista completasse a ligação (inexistiam DDD e DDI).


Agora, em algumas companhias aéreas, a internet está disponível a bordo. Nas companhias brasileiras não. Aliás, nem nos vôos da Lufthansa a partir do Brasil, a não ser duas horas depois de iniciado. Já na Ásia, a telinha de bordo mostra o Himalaia lá embaixo e, não obstante, posso ler a Folha na minha poltrona. Quando criança, o Himalaia era inatingível. Agora, é o Brasil.


Numa das lojinhas de eletrônicos do aeroporto de Hong Kong, cruzo com um garotinho que deve ter a idade de meu neto (12 anos). Olha alguns desses objetos para mim esotéricos, corre para a calculadora em cima do balcão, faz a conversão para dólares norte-americanos e desiste da compra.


Pergunto de onde ele é. ‘Sou paquistanês’, responde, e emenda rápido: ‘Mas vivo na América’.


‘América’ é pronunciada como se fosse uma nova pele, como se fosse um vencedor, apesar de sua velha pele marrom-terra, como é típico nos sul-asiáticos, e do preconceito que a persegue, assim como outras peles não-brancas.


A ‘América’ pode ter e tem mil pecados, cometeu uma e mil barbaridades em tantos países, mas é sempre sinônimo de terra de oportunidades. A delegação norte-americana na Conferência de Hong Kong era, aliás, uma evidência física: Karan Bahtia, da mesma cor e traços fisionômicos do menino do aeroporto, era uma das caras que se apresentava à mídia, ao contrário das demais delegações, puramente autóctones.


Sem falar que outra face era a de Susan Schwab, rara voz feminina na linha de frente de um mundo ainda escandalosamente masculino.


Pensando bem, eletrônicos à parte, talvez o mundo não tenha mudado tanto assim.’


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Câmara dos EUA fixa conversão até 2009


‘A Câmara norte-americana aprovou ontem legislação que determina que as emissoras de televisão façam a conversão para sinais digitais até fevereiro de 2009, liberando emissões para serviços emergenciais. A provisão da TV digital é parte de uma lei orçamentária que deveria seguir para o Senado ainda ontem e que forneceria cerca de US$ 1,5 bilhão em subsídios para manter aparelhos de TV mais antigos funcionando. O prazo até 2009 busca assegurar que todas as emissoras -incluindo a CBS e a Fox- mudem completamente para o sistema digital e retornem suas emissões analógicas para o governo federal, que as redirecionará para a polícia local, para os bombeiros e para as companhias de telefone celular.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Arrasada, Hebe teme ser censurada no SBT


‘Para reduzir a resistência de Hebe Camargo à mudança de seu programa das segundas para os sábados, o SBT argumentou com a apresentadora que ela reforçará a emissora nesse dia da semana, aumentando sua média diária.


Há três semanas, o SBT não ganha da Record no horário nobre (18h/24h) dos sábados. No último, perdeu de sete pontos a quatro. O ‘Charme’, de Adriane Galisteu, foi humilhado ao ficar atrás de um comercial de 15 minutos do Unibanco, na Record.


A esperança dos executivos do SBT é que Hebe consiga médias de pelo menos seis pontos. Ela ficou arrasada com a mudança, segundo pessoas próximas, e teme sofrer censura. Aos sábados, às 22h30, já a partir do dia 7, seu programa terá de ser gravado. E eventuais críticas a Silvio Santos, que vêm incomodando o dono do SBT, poderão ser suprimidas.


As mudanças no SBT não vão parar em Hebe Camargo. Um estudo feito recentemente mostra que todos os programas de auditório tem baixa lucratividade.


É grande a insatisfação com a audiência do ‘Domingo Legal’. Anteontem, o programa deu só nove pontos (a meta é 15) e, pela primeira vez, a Record bateu o SBT das 18h às 24h num domingo, com média de 12 a 11.


Com o contrato vencendo em abril, Gugu Liberato resolveu encurtar suas férias. No dia 8, seu programa já será ao vivo. O normal, em janeiro, é ser gravado.


OUTRO CANAL


Fumaça Substituta de ‘Belíssima’, ‘Páginas da Vida’ só estréia em julho, mas a direção da Globo já negocia com seu autor, Manoel Carlos, uma boa frente de capítulos. Teme que a novela já entre no ar em ritmo de correria nas gravações. Manoel Carlos, se pudesse, só escreveria o capítulo de hoje após ver o de ontem.


Pacote A Globo seleciona ‘lugares bonitos’ de São Paulo para uma nova leva de gravações de ‘stock shots’ (tomadas de paisagens) de ‘Belíssima’. Para deixar a novela mais paulistana, a Globo está abrindo mão de um de seus princípios comerciais: liberou a exibição de tomadas em que apareçam marcas de empresas.


Manchete O SBT acaba de reformular seu site. Agora, a página de entrada imita a versão on line de um jornal impresso. A principal notícia da ‘edição’ da semana é um anúncio classificado: há vaga para diretor comercial. Outra ‘notícia’ é um desmentido de meras especulações: ‘Ratinho diz que fica no SBT’.


Blog A notícia publicada aqui ontem, sobre a queda de audiência do ‘Jornal Nacional’, gerou um grande número de e-mails à coluna. Resumidamente, os leitores analisam que o ‘JN’ não perdeu ibope apenas por causa da queda das novelas das sete. Alguns apontam para uma eventual crise de credibilidade do telejornal. Outros, para um cansaço do noticiário político provocado pela impunidade.’


FSP CONTESTADA
Painel do Leitor


Funaro


‘‘Com referência a reportagem ‘Mesmo convocado, Funaro não depõe na CPI’ (Brasil, 18/12), vimos esclarecer que o senhor Lúcio Bolonha Funaro não é sobrinho do ex- ministro Dilson Funaro, sendo certo que, se existir algum parentesco, ele é de fato muito longínquo. Outrossim gostaríamos de acrescentar que nunca a família do ex- ministro Dilson Funaro teve contato pessoal direto ou indireto com o mencionado senhor Lúcio Bolonha Funaro. Entendemos, por uma questão de honra ilibada da vida pública e privada do ex-ministro Dilson Funaro, que é importante que tal fato venha a conhecimento público a fim de manter a integridade pessoal da nossa família.’ Jorge Eduardo Suplicy Funaro, em nome da família de Dilson Funaro (São Paulo, SP) Nota da Redação – Leia abaixo a seção ‘Erramos’.’


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O Globo


Terça-feira, 20 de dezembro de 2005


CRISE POLÍTICA
Helena Chagas


Lula no cardápio


‘Geraldo Alckmin agrada aos empresários com seu perfil de gerente e estilo de executivo. José Serra, embora considerado muito à esquerda pelo capital financeiro, tem apoios importantes no setor produtivo. Boa parte do empresariado, porém, ainda não debandou rumo a uma candidatura de oposição. Por quê? Porque, apesar dos pesares, ainda aposta na economia de Lula.


O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, por exemplo, identifica sinais de retomada no crescimento da economia nessa reta final de 2005 e acha que isso já terá impacto no primeiro trimestre do ano eleitoral. Apesar da queda de 1,2% no terceiro trimestre e das estimativas de que este ano o crescimento da economia vai ficar empacado em torno dos 2,5%, a aposta do setor é de que, no ano que vem, o PIB vai bater os 4%.


– A indústria vai ter um nível de crescimento bem melhor, e a economia como um todo vai crescer. Em março, já será perceptível essa retomada. As previsões são de que a economia mundial vai continuar bem, e no Brasil as taxas de juros vão cair. Alguns setores, como a construção civil, devem começar a responder melhor. As exportações vão muito bem. Os gastos da própria eleição vão puxar a economia. O que foi perdido lá atrás não se recupera mais, mas os números voltam a indicar crescimento a partir de agora – afirma Monteiro, que é deputado pelo PTB de Pernambuco.


É por aí que se vê que os números da última pesquisa do Ibope, patrocinada e apresentada pela CNI, não chegam a impressionar tanto assim. É certo que o crescimento das opções de oposição tucana, Serra e Alckmin, entusiasma alguns setores das elites. Mas poucos consideram que Lula está morto para a eleição de 2006. Mantida a política econômica e, sobretudo, se resultados positivos voltarem mesmo a aparecer antes da eleição de outubro, o pragmatismo de muitos indicará que não há razão para mudar.


– Quando o empresário olha para o próprio negócio, vê que foi razoavelmente e conclui que foi feliz nos últimos anos, pensa duas vezes antes de querer mudanças – afirma o presidente da CNI.


Monteiro lembra que no governo do torneiro mecânico do PT as entidades de representação empresarial tiveram ótima interlocução com o Planalto. Além de criar conselhos e fóruns de discussão com espaço para participação do setor produtivo, Lula esteve sete vezes na CNI e se reuniu duas vezes com as federações da indústria.


Companheiro de partido de Roberto Jefferson, responsável pela crise que golpeou o governo Lula e fez o quadro eleitoral virar de ponta-cabeça, Armando Monteiro acha que as investigações da CPI não comprovaram maiores ligações entre o PT e desvios de dinheiro público.


– Que houve corrupção houve, como há em qualquer governo, em diversos órgãos. Mas não há nada provando que isso esteja ligado a um esquema organizado de financiamento do PT, assim como não há provas de que José Dirceu comandou algum esquema de pagamento – defende.


É com um olho no gato e outro na frigideira que o empresariado ainda está em compasso de espera para 2006. O presidente da CNI não descarta as opções tucanas e até manifesta certa tranqüilidade com o fato de os três principais nomes da corrida sucessória neste momento se situarem mais ou menos no mesmo espectro e terem um nível mínimo de concordância em relação a muitos temas, inclusive relacionados à economia. Nesse sentido, considera necessário que Lula seja candidato à reeleição:


– Para perder ou para ganhar, é importante ter Lula no cardápio eleitoral. Se ele não concorrer, embaralha-se tudo, abre-se um vazio, aparecem outros candidatos e há o risco de alguém de perfil populista conquistar o eleitorado mais inorgânico com discursos demagógicos.


E o risco de, nesse clima de radicalização política, o populismo acabar vindo do próprio Lula, que anda por aí fazendo campanha com Hugo Chávez a tiracolo e apontando semelhanças entre a imprensa e setores das elites da Venezuela e do Brasil?


– Se ele insistir nessa linha, vai assustar o empresariado – alerta Monteiro.


Claro está que Lula, desgastado com a crise e abandonado por parte da classe média que migrou para sua candidatura em 2002, ainda não perdeu completamente as elites. O jogo mal começou e muita água há de rolar. Mas o nome da ponte que ainda une, mesmo que por um fio, o governo do PT ao capital é economia. E tudo vai depender de três letrinhas: PIB.


Idéia fixa


A conjuntura política venezuelana tem sido uma idéia fixa para o presidente Lula. Em poucos dias, entre Montevidéu, à margem de um encontro do Mercosul, e Pernambuco, na solenidade de lançamento da pedra fundamental da refinaria em que a Petrobras e a estatal da Venezuela, a PDVSA, estarão associadas, o presidente fez paralelos inadequados entre a crise que enfrenta e situações peculiares do regime ‘bolivariano’ de Hugo Chávez.


Sintomaticamente o presidente da Venezuela estava presente nas duas demonstrações de excesso de retórica. Na primeira, Lula fez uma comparação desfocada entre a oposição brasileira e a venezuelana. Nada mais equivocado, pois, enquanto a frente que se opõe a Chávez chegou a patrocinar um golpe de Estado, a maioria dos oposicionistas brasileiros afasta a possibilidade de sequer encaminhar um pedido de impeachment contra Lula.


No mais recente destempero verbal, sexta-feira passada, Lula comparou a imprensa venezuelana à brasileira. A venezuelana enfrenta pressões e perseguições do Palácio de Miraflores que certamente constrangeriam o adversário mais feroz das redações abrigado no PT e cercanias. Lula se acha perseguido pela mídia, tanto quanto Chávez o seria em seu país – pelo menos no entender de Lula. Ora, a centelha da crise que aflige Lula, PT e aliados foram as denúncias de um líder da base do governo, deputado Roberto Jefferson. No mais, a imprensa se atém a publicar os resultados das investigações em andamento no Congresso, abrindo espaço para a defesa dos acusados. A repetição dessas acusações sem base na realidade começa a se transformar num cacoete revelador da busca incessante de um bode expiatório.’


TANURE & VARIG
Erica Ribeiro e Geralda Doca


Varig ignora STJ, aprova plano e rejeita Docas


‘Os credores da Varig aprovaram ontem o plano de recuperação judicial da companhia e votaram contra a entrada da Docas Investimentos na FRBPar, empresa de participações da Fundação Ruben Berta (FRB) que controla a companhia aérea. O resultado da assembléia, no entanto, não terá efeito, porque uma decisão inusitada na noite de domingo proferida pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, suspendeu sua realização.


Marcada para as 9h de ontem, a assembléia só começou de fato às 15h, depois que os representantes da consultoria Deloitte, administradores judiciais da Varig, decidiram iniciar a reunião.


– Procuramos checar as informações e estão removidos quaisquer obstáculos à realização da assembléia – garantiu Rogério Lessa, um dos administradores judiciais.


Plano prevê transformar dívidas em ações


Os credores votaram primeiro a rejeição à entrada da Docas na FRBPar e, em seguida, aprovaram o plano de recuperação que prevê uma frota de 75 aviões em operação até o fim de 2006 (hoje são 58), a criação de fundos de investimentos para transformar dívidas de credores em ações e o pagamento parcelado de débitos.


– Vamos ter redução de custos, mas, a princípio, não estão previstas demissões – disse o presidente da Varig, Marcelo Bottini.


Amanhã, advogados e executivos da Varig terão uma audiência na Corte de Falências de Nova York, que poderá suspender ou manter uma liminar que hoje garante que credores não retomem aviões da companhia. Mas Bottini disse que a Varig pagará mais US$ 20 milhões às empresas de leasing :


– Os credores querem ver em Nova York que somos capazes de sair dessa situação.


De acordo com a assessoria de imprensa do STJ, a assembléia de credores não tem sustentação legal porque houve descumprimento da decisão de Vidigal. Ontem o ministro reiterou a decisão tomada no domingo de suspender a assembléia.


No entendimento do STJ, a assembléia só poderia acontecer se a Deloitte fizesse uma nova convocação da reunião dos credores, o que não aconteceu. Na liminar concedida por Vidigal no domingo, o ministro atendeu ao pedido dos advogados José Saraiva e Sérgio Mazzillo – que representam a Docas Investimentos e disseram ter procuração da Varig. Bottini afirmou que não passou qualquer procuração. Eles também pediram a recondução dos direitos políticos e administrativos à FRB, afastada da gestão da Varig, mas não foram atendidos.


Na manhã de ontem, Bottini entrou com recurso no STJ para retirar os advogados do processo e anular a decisão que suspendeu a assembléia. Vidigal confirmou a suspensão da assembléia, por causa da procuração. Segundo Bottini, os administradores judiciais terão agora que discutir o assunto com o STJ:


– O STJ tem que falar com o administrador judicial e depois vamos ver como tratamos o assunto. Pelas informações que tenho a assembléia está válida. Mas a gente nunca sabe o dia de amanhã.’


Agnes Dantas


Proposta ilegítima


‘A companhia aérea portuguesa TAP não reconheceu como legítima a proposta de recompra das subsidiárias VarigLog e VEM apresentada pela Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, à Fundação Ruben Berta (FRB), controladora da Varig. Ontem, quando venceu o prazo para a TAP se pronunciar sobre a proposta, a empresa afirmou, em comunicado, que ‘praticamente nenhuma das condições estabelecidas no contrato’ de recompra foi cumprida.


Há uma semana, a Docas ofereceu US$ 139 milhões pelas subsidiárias de manutenção e logística do Grupo Varig, proposta que superaria a oferta inicial de US$ 62 milhões apresentada dia 9 de novembro pela Aero-LB – formada pela TAP e por investidores do Brasil e de Macau. De acordo com a assessoria de imprensa da companhia portuguesa, uma das condições para a recompra era que fossem detalhadas as fontes dos recursos utilizados no processo, o que não aconteceu.


A TAP também suspendeu os repasses de recursos e o adiantamento dos US$ 40 milhões correspondentes a recebíveis da Varig em vendas de passagens por meio de cartão de crédito. A Docas não se pronunciou.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 20 de dezembro de 2005


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Cor do Pecado bate América


‘A Globo faz as contas do ano e anuncia que vendeu, só para a América Latina, mais de 30 produções nesta região dentro do calendário que agora se encerra. Segundo a Divisão de Negócios Internacionais da casa, foram vendidas mais de 10 mil horas de programação para 20 países do pedaço.


Entre os maiores sucessos do ano na região, o destaque foi para Da Cor do Pecado. Ainda de acordo com a Globo, a novela de João Emanuel Carneiro alcançou a liderança na Argentina, com o recorde de 40% de share no horário da tarde, e ficou entre os programas mais assistidos no Peru, na República Dominicana, na Venezuela e no Equador.


Normalmente, a novela mais bem-sucedida no exterior é aquela que aqui foi ao ar na faixa das 9, mas América não reproduziu, lá fora, os números registrados pelo Ibope no Brasil. Se a trama de Glória Perez já é superada por Da Cor do Pecado dentro da América Latina, onde em tese esse enredo encontraria mais identidade, imagine o fiasco que o romance de Tião-Sol-Ed encontrou em Portugal, país que costuma exibir todas as novelas produzidas pela Globo.


América, no entanto, não é caso assim tão isolado no atual contexto luso de novelas brasileiras. As produções da Globo já tiveram dias bem mais felizes naquele país. De dois anos para cá, vai se desenhando um interesse maior de seu telespectador por produções locais. Muito da mão-de-obra técnica que lá se utiliza nas telenovelas é importada do Brasil, mas as histórias e atores portugueses vêm ganhando valor maior entre a platéia.


Em contrapartida, a Globo abre novos territórios de exportação de suas novelas no Leste Europeu e continua se dando muito bem na Rússia.’


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