Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Daniel Castro

‘Programa sobre automóveis da Globo, o ‘Auto Esporte’ exibe merchandising embutido em reportagens. O programa dominical fala de carros, competições e manutenção de veículos.

Em boletim distribuído ao mercado publicitário neste mês, a Globo oferece ‘oportunidades diferenciadas de exposição de marcas por meio de ações de merchandising’ no programa. Diz que isso apresenta ‘um alto poder persuasivo’, porque ‘acontece no momento de maior atenção do telespectador, está integrado ao assunto e não quebra a linearidade da matéria’. No jargão jornalístico, matéria é reportagem.

O boletim traz relatos de três anunciantes do ‘Auto Esporte’. Uma executiva da Peugeot fala que o escolheu para divulgar um lançamento. A italiana Maserati revela que contratou o programa para a cobertura de um torneio. Já a Mitsubishi diz que o ‘Auto Esporte’ ‘tem sido uma mídia de divulgação da resistência e qualidade dos nossos carros, por meio das cenas exibidas na TV’.

A Globo afirma que o ‘Auto Esporte’ não é um ‘programa jornalístico, mas de entretenimento’. Não é feito pela Central Globo de Jornalismo, mas por uma produtora independente (a GW). Diz que o programa não oferece a anunciantes ‘matérias pagas’, mas ‘oportunidades comerciais para atender à peculiaridade da publicidade no mercado e nas competições automobilísticas’.

OUTRO CANAL

Apagador 1 Em entrevista ao jornal ‘O Globo’ na semana passada, Glória Perez, autora de ‘América’, contou que Sol (Deborah Secco) vai se casar com Ed (Caco Ciocler) e conseguirá o ‘green card’, o que lhe dará o direito de viver legalmente nos EUA.

Apagador 2 Mas Glória não explicou como Sol vai conseguir se legalizar nos Estados Unidos se é uma fugitiva da Justiça, uma vez que foi presa com drogas assim que chegou ao país.

Turnê A atriz Bianca Rinaldi embarca amanhã para a Venezuela, onde divulgará a estréia, em rede local, da novela ‘A Escrava Isaura’, da Record, da qual foi protagonista. Até o final do ano, Bianca fará promoções da trama em Portugal, Chile, Índia, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Argentina, segundo a Record.

Disputa 1 Agência de marketing esportivo que rompeu acordo com a Rede TV! em setembro do ano passado, a Top Sports publica hoje anúncio em que ‘alerta ao mercado’ que a emissora ‘vem comercializando de forma ilegal a Liga dos Campeões da Uefa’.

Disputa 2 Desde o ano passado, Rede TV! e Top Sports disputam na Justiça os direitos do campeonato de futebol europeu. Segundo a Top Sports, o direito foi reconhecido como dela. A Rede TV! argumenta que assinou contrato diretamente com a Uefa.’



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‘Zorro vira cabeleireiro em novela da Globo ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/05

‘Um Zorro decadente, sem o vigor e a virilidade do herói dos filmes e seriados americanos, será personagem da próxima novela das sete da Globo, ‘Bang-Bang’.

O autor Mário Prata decidiu colocar o herói na trama porque ‘Bang-Bang’ será um faroeste, ambientada em uma cidade como as dos filmes de Velho Oeste. A lenda de Zorro incorporada pela indústria de entretenimento americano se passa em uma Califórnia dominada pela Espanha. Zorro era don Diego de la Vega, rico herdeiro que, ao voltar dos estudos na Espanha, se depara com injustiças e resolve se transformar num vingador mascarado, um Robin Hood do Velho Oeste.

Mas o Zorro de ‘Bang-Bang’ será bem diferente do criado em 1919 por Johnston McCulley. Para não ter problemas com direitos autorais, Prata o chamará de Zorroh. Seu parceiro, o índio Tonto, será Tontô. Zorroh será interpretado por Ney Latorraca, e Tontô, por Ernani Moraes. ‘A história não será igual à do seriado. Zorroh vem da lenda que existe até hoje no México’, diz Prata.

Na novela, segundo o autor, Zorroh e Tontô já não terão mais idade para aventuras heróicas. ‘O Zorroh já está velho. O máximo que ele faz é desafiar algum aventureiro para uma luta de espadas. O Zorroh será barbeiro, ou cabeleireiro, e o Tontô, um manicure que usa uma pena na cabeça, que serve de antena para captar maus fluidos’, revela Prata.

OUTRO CANAL

Não Ana Paula Padrão tentou tirar Carlos Dornelles da Globo e levá-lo para o SBT como repórter especial do telejornal que ela apresentará a partir do final de julho ou início de agosto. Mas o salário oferecido pelo SBT era menor do que o que ele já ganha.

Sensualidade Com o contrato com a Record vencendo em outubro, Raul Gil mandou seu filho se insinuar para o SBT e a Band. Mas o apresentador preferido do presidente Lula, aparentemente, não quer deixar a Record. Quer apenas renovar contrato no mínimo nas mesmas bases salariais atuais, em torno de R$ 1 milhão por mês.

Celebridade 1 A menina Eduarda Emerick, que é cega de verdade e entrou em ‘América’ como amiga de Flor (Bruna Marquezini), tem sido abordada nas ruas por pessoas que pedem autógrafos.

Celebridade 2 Mas isso é complicado para Eduarda, que foi alfabetizada e só sabe ler e escrever em braile. Insistir em obter autógrafos da garota só reforça o quanto a sociedade está despreparada para lidar com deficientes.

Produção Ex-autora da Globo, Ana Maria Moretzsohn entregou à Band quatro sinopses de novelas. Uma delas poderá ser dirigida por Herval Rossano em 2006. Ana Maria, que estava na ‘geladeira’ na Globo, onde fez ‘Estrela-Guia’, preferiu não renovar com a emissora e esnobou a Record. Na Band, só ganhará se escrever.’



BAIXARIA NA TV

Marcelo Bartolomei

‘Redes revidam ataque de campanha ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/05

‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania. Dois anos depois de criado, o slogan da campanha liderada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados é colocado em xeque pelos principais representantes da TV brasileira, programas que dão mais audiência e faturamento às emissoras.É o caso de João Kléber, o apresentador-símbolo dessa geração que explora a sexualidade na tela. Seus programas, ‘Tarde Quente’ e ‘Eu Vi na TV’, dividem o primeiro lugar no ranking da baixaria, divulgado no início da semana passada.

‘Há alguns anos procurei a organização da campanha para me informar sobre os critérios do ranking, mas percebi que se pretende interferir na liberdade de criação e de expressão artística, como que querendo impor ao telespectador o que ele deve ou não assistir. Ao que parece, a grande inovação tecnológica chamada controle remoto não chegou ao conhecimento de alguns’, diz Kléber à Folha.

A Globo, apontada no ranking com três programas -as novelas ‘Senhora do Destino’, ‘América’ e ‘A Lua me Disse’- tenta desqualificar o levantamento. Por meio da Central Globo de Comunicação, divulgou que ‘o universo das pessoas que se manifestam é tão inexpressivo que chega a ser consagrador para a Globo em termos de qualidade’. No mesmo comunicado, alega que ‘por ser a mais vista, é natural que seja uma das mais citadas’. ‘Já recomendamos à comissão que busque mecanismos para obter resultados mais legítimos e representativos.’

Para Ricardo de Barros, 34, diretor do ‘Pânico na TV!’ (4º lugar no ranking), há preocupação com o humor ácido, mesmo não acreditando que a campanha possa servir como referência. ‘Nós modificamos o programa desde que ele começou. É difícil fazer humor sendo politicamente correto. Quando a pessoa assiste a um programa é porque gosta do jeito que são feitas as brincadeiras’, afirma. Segundo ele, o fim do quadro ‘A Hora da Morte’, uma cópia de ‘Jackass’, é exemplo de evolução no programa.

Resultados

O objetivo da campanha é promover reflexão. Desde que foi criada, em novembro de 2002, levou ao Ministério Público representações contra os programas e apresentadores mais citados. Até o início deste mês, a campanha recebeu 17.415 denúncias, a maioria criticando a violência, o apelo sexual e avaliando que o horário dos programas seria impróprio.

Preocupada com a ética na TV, uma série de entidades se filiou à campanha e levou aos anunciantes a proposta de boicote à baixaria. Mas nem sempre a proposta é bem acolhida. O Santander/Banespa, que patrocina ‘América’, discorda do ranking. ‘A empresa não patrocina programas de baixaria e não reconhece a novela como baixaria’, diz a assessoria de imprensa do banco.

A campanha comemora resultados. A Casas Bahia, uma das empresas brasileiras que mais investem na TV, aderiu à campanha, comprometendo-se a não ‘financiar’ a baixaria a partir deste ano, a partir do término dos contratos. O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, viu seu programa ser atacado por críticas. Hoje, adota tom mais leve, em que satiriza o país, conversa com o público sobre os acontecimentos do dia e distribui prêmios.

Influenciada ou não, outra que aderiu à campanha contra a baixaria foi a Record, que tirou do ar, no início do mês, a edição nacional do ‘Cidade Alerta’.

Segundo o deputado federal Orlando Fantazzini, 46, já não se vêem mais tão explicitamente na TV aberta cenas de exposição do corpo humano nos programas de domingo à tarde. Ele é um dos pilares da campanha, que, em 2004, lançou um dia contra a baixaria, quando estimulou os telespectadores a desligar o aparelho no dia 17/10, um domingo, obtendo 14% menos audiência que o normal.

‘Se o ranking é tão insignificante, por que eles mudam tanto os programas?’, questiona, avisando que, neste ano, no segundo domingo de outubro, vai incentivar os telespectadores a um novo protesto. A idéia é transformar a campanha da Câmara dos Deputados numa ONG cuja intenção é discutir com a sociedade projetos de lei que possam regulamentar uma espécie de código de ética para as TVs. ‘Há um debate na sociedade sobre o conteúdo da TV. Aos poucos, conseguimos alterar muita coisa. É um processo cultural que não muda num estalar de dedos’, diz o deputado.’



TUDO A VER

Bia Abramo

‘‘Tudo a Ver’ tem jornalismo de variedades ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/05

‘É possível fazer jornalismo de variedades decente na TV? Deveria ser: a televisão parece ser, por excelência, o veículo para que se combine jornalismo sério e entretenimento sem prejuízo para nenhum dos lados. O próprio modo meio descompromissado que assistimos à TV -distraídos pelos barulhos da casa e fazendo outras coisas- cai bem para esse tipo de jornalismo.

É a aposta, há anos, do ‘Fantástico’, mas é curioso que outras experiências não se consolidem. ‘Tudo a Ver’, programa de Paulo Henrique Amorim na Record, é a exceção mais recente.

Até chegarem os telejornais da noite, a televisão dá o pior de si à tarde: programas de fofocas que se limitam a rapinar o trabalho alheio, mundo-cão, reprises intermináveis de filmes juvenis etc. ‘Tudo a Ver’ aproveitou essa brecha e criou uma espécie de revista eletrônica que combina jornalismo sério e assuntos leves com eficiência. A diversidade tem seu papel, evidentemente. Um tanto de futilidade e irrelevância convivem com a política econômica comentada por Amorim, o espaço para a denúnica pontual das mazelas da cidade sucede matérias sobre estilo de vida e bem-estar, os problemas do cotidiano de gente comum estão lá, assim como a vida das celebridades. É claro que essa opção editorial pela variedade comporta riscos, mas também é uma aposta que pode apontar para uma maneira de combater tanto a superficialidade extrema dos programas de fofoca como a brutalidade dos programas mundo-cão.

O pulo do gato é a cobertura de Paulo Henrique Amorim, que ancora, apresenta, comenta, faz piadas e ‘implica’ com a co-apresentadora Patricia Maldonado. A idéia da variedade na pauta traduz-se em descontração (mas verdadeira, não afetada) no modo de apresentar, numa certa leveza da edição e no ar de conversa interessante. Interesse, aliás, é a palavra-chave de ‘Tudo a Ver’: a aparente banalidade de alguns temas e reportagens cresce com o olhar despreconceituoso que o programa consegue oferecer.

Fundamentais, nesse sentido, são os colaboradores e ‘colunistas’. Uma matéria sobre o que as crianças fazem na hora do recreio poderia ser uma bobagem, mas apresentada pelo repórter-criança Rafael fica simpática e curiosa. Na outra ponta etária, Dona Vera trata dos assuntos relativos à terceira idade com espírito investigativo e uma generosidade sem a menor condescendência. Seu quadro é um dos melhores achados do programa.

Há ainda o cardápio clássico de programas ‘femininos’ -gastronomia, estilo, fofocas etc.-, mas que, de alguma forma, também recebem um tratamento jornalístico que deixa os tais assuntos com uma cara um pouco menos fortuita e, diga-se de passagem, menos à reboque dos esquemas de ‘divulgação’ que dominam a pauta da maiorias dos programas femininos.’