Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Daniel Hessel Teich

‘O mercado dos televisores está passando por uma revolução, a maior desde que os primeiros aparelhos coloridos começaram a chegar ao mercado, há mais de 30 anos. Os responsáveis por essa reviravolta são aquelas telas enormes e fininhas feitas de plasma e cristal líquido (LCD), com imagem perfeita. Os futurólogos da tecnologia prevêem que a velha e confiável TV de tubo, grandalhona e desajeitada está com os dias contados. Ou melhor, anos contados, já que as novas TVs ainda demorarão para ter preço acessível. Os preços dessas jóias da tecnologia chegam a R$ 40 mil.

Como já aconteceu na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos, o mercado brasileiro de televisores começa a assistir a uma guerra em que os fabricantes procuram garantir a sua fatia no bolo desses aparelhos elegantes. Estima-se que em 2005 o mercado de TVs de última geração, conhecidas pelo nome de flat panel, renderá cerca de R$ 180 milhões, o triplo dos R$ 60 milhões do ano passado. Isso significa vendas de aproximadamente 30 mil aparelhos contra cerca de 10 mil no ano passado.

Tais números são um copo no mar de 7,3 milhões de televisores vendidos no País, mas esse é um mercado em que ninguém quer ficar de fora. Mesmo porque os preços dos produtos vêm caindo a uma média de 25% ao ano. Na disputa, estão gigantes como Philips, Philco, Semp Toshiba, Sony, Sharp e Panasonic e as novatas coreanas LG e Samsung, donas de uma agilidade e agressividade assombrosas. O que está em jogo é a demarcação de território numa disputa que se estenderá pelas próximas décadas.

No último Consumer Electronic Show (CES) de Las Vegas, em janeiro, 70 fabricantes exibiram TVs desse tipo. ‘É o princípio de um ciclo onde todos querem garantir seu lugar. Foi assim com as câmeras digitais e outros produtos novos. Mas apenas poucos gigantes sobreviverão’, diz Eduardo Mello, diretor de vendas e marketing da coreana Samsung, uma das maiores fabricantes de TVs flat panel do mundo.

Em visita ao Brasil no ano passado, o presidente mundial da Philips, Gerard Kleisterlee, disse ao Estado que esse tipo de aparelho é crucial para o futuro da empresa. A Philips acaba de lançar na Europa e deve trazer para o Brasil ainda esse ano um aparelho de pendurar na parede em que se aperta um botão e a tela se transforma num espelho. ‘São inovações tão extraordinárias quanto as fitas cassetes e os CDs’, disse ele. Na Europa, a TV dublê de espelho custa 4 mil. No Brasil, deve equipar hotéis de luxo.

RIVAIS

As TVs flat panel se dividem em dois tipos: plasma e cristal líquido. O que muda em cada uma é a substância usada para transmitir a imagem. A princípio, as duas tecnologias eram complementares. O cristal líquido era usado para telas pequenas e o plasma para as grandonas. Hoje a evolução da tecnologia tornou-as rivais. Até mesmo as desvantagens que uma e outra tecnologia apresentava hoje estão praticamente resolvidas.

As TVs de plasma, por exemplo, apesar das imagens espetaculares e dos preços estratosféricos, duravam um terço de uma TV comum. Também manchavam caso alguma imagem fixa ficasse muito tempo na tela, como é o caso dos logotipos das emissoras de TV. Outro problema era o consumo de energia, altíssimo.

Os fabricantes hoje fazem TVs que duram praticamente o mesmo que as de tubo e consomem menos energia. Também oferecem sistemas que deslocam ligeiramente os logotipos de lugar para que nunca fiquem estáticos e marquem a tela.

‘Muitos desses problemas, comuns em uma tecnologia tão nova, hoje são ap enas mitos’, diz Caio Catto, gerente de produto e marketing de televisores da Philips. ‘Essas deficiências já estão superadas.’

Os produtos estão se sobrepondo de tal forma que já se discute qual tecnologia prevalecerá e qual entrará para o limbo das invenções inúteis, na companhia de coisas como o sistema de vídeo Betamax e o videodisco. Cautelosos, os fabricantes mantêm os pés nas duas canoas e oferecem os dois produtos, variando apenas o tamanho.

‘Hoje o mercado brasileiro de flat panel se divide em 40% para as telas de plasma e 60% para as de cristal líquido. Isso acontece porque as TVs de cristal líquido são menores e conseqüentemente são mais baratas’, diz Mello, da Samsung.

As tendências para o futuro ainda são polêmicas. Os fabricantes defendem que plasma e LCD vão conviver por um bom tempo. Eric Bl?ch, diretor comercial da rede de lojas Fnac, que vende esse produtos desde 1999, aposta que o LCD vai vencer. ‘O cristal líquido ficará mais barato e será usado em telas cada vez maiores’, avalia.’



TV DIGITAL
Silvana Guaiume

‘TV digital brasileira trabalha pela inclusão’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/2/05

‘É pouco provável que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assista à Copa do Mundo de futebol em 2006 no Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), como afirmou em agosto de 2003 o então ministro das Comunicações Miro Teixeira, quando o projeto foi lançado. ‘Não é impossível, mas o prazo é apertado demais’, disse o pesquisador Luís Geraldo Pedroso Meloni, da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Unicamp.

Dois consórcios criados a partir da Unicamp foram selecionados para desenvolver o aspecto mais nobre do SBTVD, a inclusão digital e as ferramentas necessárias para isso. Ontem, os dois consórcios deram início aos trabalhos em um workshop organizado na universidade.

Um consórcio entre a Unicamp, sete instituições de pesquisa, e as empresas Telefônica, Samsung e Linear irá desenvolver o Canal de Interatividade. Outro consórcio, em parceria com a empresa RCASoft Informática, de Campinas, e quatro instituições de pesquisa, trabalhará no Midleware – o conjunto de aplicativos, como o correio eletrônico, que poderá ser usado a partir do sistema operacional instalado na televisão digital.

Pelo menos 100 pesquisadores estarão envolvidos nos dois projetos que, juntos, receberão cerca de R$ 6,8 milhões em recursos do Ministério da Telecomunicações. A previsão é de que eles estejam concluídos entre 10 e 11 meses, conforme Meloni. ‘A comunidade acadêmica está muito animada com os trabalhos’, disse.’



AMERICAN IDOL
Bia Abramo

‘O circo da crueldade’, copyright Folha de S. Paulo, 6/2/05

‘Cá e lá, é tempo de ‘reality show’. Lá, atende pelo nome de ‘American Idol’ e começou no mês passado sua quarta temporada repetindo os espantosos índices de audiência das outras três. (Sobre cá, a coluna prometeu calar. E vai cumprir. Se bem que… Não, deixa para lá.)

‘American Idol’ é tão descarado que merece ser visto. Funciona assim: promete transformar você numa estrela da música no poderoso showbiz americano. Acorrem homens e mulheres jovens, vindos de todas as partes dos EUA, para disputar um lugar ao sol. Três jurados fixos, mais convidados, determinam a sorte do coitado até as etapas finais, depois o público é que decide.

‘American Idol’, exibido aqui pelo canal Sony quase sem atraso, explicita dois aspectos fundadores da máquina de produzir entretenimento. Em primeiro lugar, mostra como o aval do público é essencial para fabricar uma celebridade instantânea. Na contramão das teorias conspiratórias, que supõem a existência de mecanismos que operam de cima para baixo, impondo ao público gosto, forma etc., percebe-se como há trocas frenéticas e velocíssimas de expectativas, de concordâncias/discordâncias, de aprovações/desaprovações.

Uma hipótese: talvez os ‘reality shows’ sirvam como campo privilegiado de observação dessas interações entre público-produtores. Uma vez que se atenuam artificial e propositadamente as fronteiras produto/produtor/público, como num experimento de laboratório, talvez fiquem mais evidentes essas relações.

Em segundo lugar, há a situação teatralizada do julgamento especializado que envolve toda a produção cultural. Em ‘American Idol’, o júri é como um microcosmo do mundo pop anglo-americano. Há um inglês ranheta, exigente, caricaturando o mau humor europeu (mais artístico?) e a voracidade do mundo pop inglês, que avaliza (ou não) boa parte da música pop do mundo. Há uma estrela em decadência, simbolizando aqueles que já estão (ou estiveram) por dentro. Há um produtor negro -os negros entendem como ninguém de fabricar estrelas, Michael Jackson que o diga-, que dá a credibilidade da rua.

E eles julgam -e como! Num país latino, as reações dos jurados causariam briga de faca e derramamento sistemático de lágrimas. Eles explodem em riso, fazem gestos de enfado, pedem para parar, bufam, se torcem na cadeira, sapateiam -nem tentam ocultar seu desagrado.

É cruel -e, por isso, é tão engraçado-, mas, para além disso, faz parte do espetáculo espezinhar aqueles que almejam sem poder. Não lhes basta negar a passagem para a próxima etapa: aos ingênuos, tolos, equivocados é preciso ministrar um castigo, fazê-los passar pela humilhação.

There´s no business like the show business -não há negócio como o showbiz, de fato, e qualquer semelhança com o mundo corporativo, tão bem transformado em show em ‘O Aprendiz’, não é mera coincidência.’