Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Débora Pinho

‘Com uma língua ferina que dispara farpas incandescentes em todas as direções e provoca a ira dos desafetos com igual intensidade, o apresentador da TV Bandeirantes, Jorge Kajuru, tem 109 processos nas costas em quatro estados — Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Goiás, ele tem até uma condenação definitiva por crime contra a honra.

Com base nas freqüentes notícias sobre ações judiciais contra Kajuru, a revista Consultor Jurídico resolveu pesquisar o número de processos existentes contra alguns dos mais populares jornalistas e radialistas esportivos. Foram pesquisadas as fichas de Jorge Kajuru, Milton Neves, Juca Kfouri, José Trajano e Galvão Bueno. A pesquisa abarcou processos relacionados à atividade profissional dos comunicadores, no Fórum de Pinheiros em São Paulo, no período de 25 anos.

No time de pesquisados, Juca Kfouri, apresentador de programas na TV Cultura e na Rádio CBN, já enfrentou mais de 80 ações por calúnia, injúria e difamação desde 1981. Ele é réu em processos movidos pelo técnico do Santos Vanderlei Luxemburgo, pelo ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, pelo presidente da Fifa, Joseph Blater, entre outros autores. As entidades dirigidas por seus adversários também o processam.

Kajuru tem mais de 30 ações criminais em São Paulo. Em 2003, ele foi acionado mais de 20 vezes, de acordo com os dados do Fórum de Pinheiros. Em 2004, o apresentador da TV Bandeirantes mantém a liderança: já foi processado criminalmente cinco vezes, enquanto Kfouri somou apenas mais uma ação à sua coleção. Trajano, Galvão Bueno e Milton Neves não foram acionados no mesmo período.

Kajuru é processado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, pelo presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi, pelo empresário de Goiás, Jaime Câmara Júnior, e pela apresentadora da Rede TV, Luciana Giminez, entre outros.

O apresentador da TV Bandeirantes conta em seu currículo com uma condenação definitiva em ação movida pelo governador de Goiás. Condenado a cumprir pena de 1 ano e 6 meses em regime aberto por crime contra a honra, perdeu a primariedade.

Milton Neves, da TV Record, é quem mais leva os colegas aos tribunais, entre os cinco nomes pesquisados. Seu maior rival é justamente Jorge Kajuru. Neves tem mais de 10 queixas-crime contra o colega e ainda o processa na área cível.

Neves também já entrou com ações contra os jornalistas José Trajano, da ESPN Brasil, Silvio Luiz, da Band Esportes, José Luís Datena, da Bandeirantes, e Roberto Avallone, da Rede TV. Na sua mira ainda está o presidente do Vasco, Eurico Miranda.

José Trajano, da ESPN Brasil, responde somente a ações ajuizadas por Milton Neves. O locutor da Rede Globo, Galvão Bueno, é só simpatia: não é processado por ninguém.

Bate-bola

Questionado pela revista Consultor Jurídico sobre a avalanche de processos que responde na Justiça, Kajuru afirma que ‘virou mania’ processá-lo. Ele já acostumou receber notícias de que está sendo acionado judicialmente e fica ‘aborrecido’ de ter de gastar dinheiro com advogados. ‘Pago R$ 27 mil por mês para advogados’, conta. O valor é referente aos processos ajuizados na Justiça antes de ele entrar na TV Bandeirantes. Seu contrato agora prevê assistência jurídica.

Ele disse que é acionado constantemente por causa do seu jeito crítico. Kajuru nunca processou ninguém. ‘Eu critico e me defendo com argumentos no espaço que tenho na imprensa’.

Perguntado sobre o fato de Milton Neves ser o recordista de processos contra os colegas, Kajuru mais uma vez não economiza palavras. ‘O Milton Neves é desprezível e acha que é Deus. A Justiça tem assuntos mais importantes para julgar do que analisar brigas de jornalistas’, disse.

Neves devolve a bola. ‘Eu não sou desprezível. Ele não é desprezível. Ninguém é desprezível. Precisamos nos respeitar porque somos formadores de opinião. Eu somente entro na Justiça em último caso’.

Kajuru também criticou autores de ações indenizatórias por danos morais. ‘Se eu pagar o valor [fixado na Justiça] vai resolver o problema da honra?’, questiona.

Juca Kfouri lembrou que, no seu caso, grande parte das ações que responde na Justiça é referente a uma série de acusações feitas pela revista Placar, na década de 80, sobre a ‘Máfia da Loteria Esportiva’. Na época, ele dirigia a publicação da Editora Abril.

‘Pessoas que não aceitam críticas recorrem à Justiça na tentativa de intimidar a imprensa’, diz o apresentador da CBN. As pessoas a que Kfouri se refere são, em sua maioria, dirigentes esportivos. Os cartolas são o alvo preferencial do inconformismo do jornalista. ‘Os processos são um resultado da linha combativa de jornalismo que o Juca adotou’, diz José Trajano, diretor e apresentador da ESPN Brasil.

Para Trajano muitos assuntos irrelevantes que são levados aos tribunais poderiam ser resolvidos com uma boa conversa. Milton Neves rebate o argumento. ‘Por que ele não conversou comigo antes de falar os absurdos que falou na TV a respeito de quem ele não conhece? Por que o ranço gratuito?’, questiona. Para Neves, ‘ele é um ótimo jornalista — um dos melhores do país. Então para que fazer o que fez? Ganhou o quê? Ganhou uma condenação criminal por injúria’.

Para o apresentador da ESPN, ‘Kajuru fala muito mas sem intenção de ofender. Os mal entendidos poderiam ser resolvidos com o diálogo’, afirma. Para ele, em muitos casos, a vaidade é que leva os processos em frente. ‘Milton Neves criou a cultura do processo’, afirma.

Por oposição à atitude de Neves, Trajano elogia o fair-play de Galvão Bueno: ‘Se o Galvão fosse o Milton Neves, já teria processado mais de duas mil pessoas’, compara. Motivos não faltam. Por ocupar o microfone com maior audiência do jornalismo esportivo do país, Bueno está sempre na berlinda. Na Internet é alvo de inúmeros sites ‘eu odeio Galvão Bueno’.’

Os conflitos de Milton Neves com seus colegas de profissão são resultado de visões diferentes sobre o ofício que exercem. Para boa parte dos colegas, Neves confunde a função de comunicador com a de vendedor e transforma seus programas em um bazar em que todo merchandising é permitido. Neves se defende: "Jornalista não pode fazer propaganda? Onde está escrito isso? Tem lei? Qual o número dela?"


E acrescenta: ‘Sou só um apresentador e não o manda-chuva da Record, Jovem Pan e do merchandising. Não existe `TV Milton Neves´ ou `Rádio Milton Neves´. Sou só funcionário da Record e Jovem Pan com direitos e obrigações como qualquer outro e, comercial e publicitariamente. E eu não tenho nenhum poder de veto ou de imposição de qualquer anunciante. Apenas divulgo – como outros apresentadores das emissoras – os produtos de anunciantes cujos espaços foram adquiridos ou comercializados no mercado pelos departamentos comerciais dos referidos veículos’.


Perguntado sobre o fato de ser o recordista em acionar os colegas, o apresentador da TV Record responde: ‘Problema deles, não meu. Mas isso não é motivo de orgulho. Não pode ser. E há quem sustente que eu gosto de processar por vaidade. Pode?’


Ele enumerou as dificuldades para acionar os colegas na Justiça por injúria, calúnia e difamação: manter empresa de gravação atenta, pagar por isso, pagar advogados caros e agüentar horas intermináveis de audiências em vários Fóruns. ‘Dentre meus defeitos não está o de ser masoquista. Processo é um saco. Para todo mundo. Mas um preço ínfimo perto do preço da honra’, afirmou. O apresentador da Record fez questão de ressaltar que ele próprio paga seus advogados e não ‘choraminga pelo departamento jurídico da empresa’ onde trabalha.


Ele questiona: ‘Por que caluniam tanto?’. E responde: ‘Além de inveja, há má informação. Sofrem muito mais pelo imaginário do que pelo real’. Milton Neves faz ainda outros questionamentos: ‘Adianta dar um tiro na cara do xinguista — que é a mistura de xingador com jornalista –, e matá-lo? Isso não pioraria ainda mais a situação?". Felizmente prefere a via dos tribunais, embora contribua para atravancar ainda mais a Justiça com picuinhas.




Marcelo Russio

‘Andando para trás’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 31/05/04

‘Olá, amigos. Na coluna desta segunda-feira do colega Fernando Calazans, no Globo, está o retrato de uma parte da imprensa esportiva: a que se sujeita às convocações de entrevistas coletivas de jogadores, dirigentes etc… Não é de hoje que temos uma imprensa dividida, entre repórteres sérios, que vão atrás da notícia e buscam trabalhar de forma responsável e correta, e outra, minoria, que se sujeita aos caprichos de jogadores e dirigentes, dando-os notoriedade e colocando-os em contato com o grande público.

Essa notoriedade, em alguns casos, é paga com um jantar, brindes ou entrevistas exclusivas, nas quais as celebridades mais uma vez não são incomodadas com perguntas que não estejam bajulando-as ou expondo o seu lado bom.

Calazans aborda criticamente a entrevista coletiva convocada por Marcelinho Carioca e pelo presidente do Vasco, Eurico Miranda, para dizer que o jogador estaria transferindo-se para a França. Nela, o presidente vascaíno ironizava perguntas de radialistas. Radialistas estes que estavam lá justamente para cobrir, como bem diz o Calazans, como ‘cordeirinhos’ a convocação de entrevista feita por Marcelinho e pelo dirigente.

Será que esse panorama é definitivo? Será que estamos caminhando não para uma postura mais positiva por parte dos nossos repórteres, mas sim para uma postura negativa, submissa e omissa diante de eventos como a coletiva de Marcelinho, que nada acrescentou ao público?

Espero que não.

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Estive acompanhando ontem o programa ‘Show de bola’, comandado pelo Jorge Kajuru. E também o ‘Terceiro Tempo’, capitaneado pelo Milton Neves. Ambos tratam de futebol, ambos levam convidados, mas o ‘Show de bola’ se mostrou muito mais eficiente na sua proposta. Entrevista um convidado, mostra gols, analisa a rodada e pronto. Sem platéia, sem claque e sem membros do debate que queiram fazer teatro pra quem vai lá assistir e só quer aplaudir os ataques histéricos de alguns debatedores.

O ‘Terceiro Tempo’ possui mais gente discutindo os assuntos, mas as discussões não engrenam. São interrompidas a cada três minutos para que se anuncie algo, e depois, quando são retomadas, já estão menos acaloradas ou o fio da meada é meio que perdido.

É bem interessante a proposta da Band em estar, aos poucos, investindo novamente em esporte. O programa ‘Show de bola’ e, no caso do último domingo, a transmissão das 500 Milhas de Indianápolis (que foi inacreditavelmente interrompida durante a chuva para que entrasse um daqueles programas que se aproveitam de dramas pessoais) e algumas iniciativas por enquanto pontuais mostram que o canal ainda tem tempo de aproveitar a sua marca de ‘O canal do esporte’ conquistada com o ‘Show do Esporte’ para emplacar uma programação voltada para este segmento.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Risco de besteira’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/06/04

‘Amigo do colunista desde o tempo em que Martha Suplicy tomava champã sem nenhuma dor na consciência, o engenheiro Aldin Queirós, ou simplesmente Odin, hoje aposentado em Arraial do Cabo, escreveu:

‘Caríssimo, sem mais nem menos parei de receber os boletins do Comunique-se, que traziam notícias do Jornal da ImprenÇa. Aproveitando o assunto, saberia o amigo me dizer qual a razão de os locutores da Rede Globo ultimamente falarem que ‘a vítima não corre risco de morte’, em substituição ao já tradicional ‘não corre risco de vida’?’

Acontece, Odin, que como essa insidiosa e pertinaz moléstia não atingiu apenas a Globo, Janistraquis acha melhor transcrevermos este trecho esclarecedor do Instituto Gutenberg:

(…) A novidade das revisões intempestivas é ‘risco de morte’ por ‘risco de vida’. Nos jornais, principalmente na Folha de S.Paulo, ninguém corre ‘risco de vida’, frase de clareza solar, indicadora de que a pessoa está em perigo. Na nova ordem lingüística da imprensa, risco, só de morte. Não pensavam assim alguns artífices do idioma. Aluísio de Azevedo, em O cortiço, escreveu: ‘Delporto e Pompeo foram varridos pela febre amarela e três outros italianos estiveram em risco de vida.’ José de Alencar, em O guarani: ‘Não há dúvida, disse D. Antônio de Mariz, na sua cega dedicação por Cecília quis fazer-lhe a vontade com risco de vida.’

Tais revisões não deixam de ser purismo, ou, pior, uma tentativa de interpretar a língua ao pé da letra. Pelo andar da carruagem, a imprensa vai banir palavras ou expressões que perderam o sentido literal, como anemia (ausência de sangue), tirar a pressão (vai dizer que tal procedimento mataria o paciente…) ou alpinismo, que, como indica o étimo, era montanhismo exclusivo dos Alpes.

Quanto ao seu abandono pelo Comunique-se, fique tranqüilo, Odin; o pessoal vai ler a coluna e tomar as devidas providências.

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É tudo igual…

Nosso considerado Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna em Brasília, de cujo janelão principal é possível ver o presidente Lula a tentar embaixadas com uma bola de papel, lia A Gazeta, de Vitória (ES), quando deparou com o textinho, protegido pelo título EUA prendem ‘capitão gancho’ islâmico:

O líder radical islâmico de origem egípcia, Abu Hamzi al-Masri, foi indiciado ontem nos EUA por crimes relacionados ao terrorismo internacional horas depois de ter sido preso em Londres com base num pedido de extradição de Washington(…)

(…)Nos EUA, a acusação de tomada de reféns é passível de punição com pena de morte ou prisão perpétua e isso poderia complicar qualquer esforço de extraditar Masri da Grã-Bretanha – que aboliu a pena de morte.

Roldão, que não tem mais paciência a perder, como sabemos todos, balançou a cabeça em sinal de reprovação:

‘O título é bom, mas falso. Como se vê pelo texto, Masri foi preso na Inglaterra e sua eventual extradição para a terra de Tio Sam é duvidosa por questões legais.’

Janistraquis, que foi o primeiro a ler o despacho de Roldão, comentou: ‘Considerado, respeito a ira do nosso diretor em Brasília, porém depois da invasão do Iraque, Estados Unidos e Inglaterra são a mesma… a mesma coisa — pelo menos para o terrorismo internacional…’

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Explique-se, Brandão!

Mais perplexo do que a apresentadora Luciana Gimenez, Janistraquis leu a chamadinha da versão eletrônica do Meio & Mensagem:

Directv lança canal gay

[01/06 – 16:00] G Channel terá programação erótica ‘somente para os garotos’

A Directv apresenta na próxima sexta-feira, dia 4 de junho, seu primeiro canal exclusivo para o público gay masculino, para América Latina. O canal, que leva o nome G Channel, terá em sua programação filmes eróticos americanos e europeus. A novidade leva o slogan ‘ Style & entertainment just for boys’ (estilo e entretenimento somente para garotos). Seu realizadores são os mesmos responsáveis pela distribuição do canal Playboy TV. Os interessados poderão adquirir o produto em pay-per-view. As informações são do portal GLX.

Meu secretário, fã do diretor de programação da Directv, Rogério Brandão, expeliu ligeiro muxoxo:

‘Considerado, eu desconfiava disso, depois que o Rogério deixou de responder às mensagens de cabras machos que nem nós…’

É mesmo; desde pequeno escuto advertências sobre o perigo das más companhias.

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O futuro do jornalismo

Nosso considerado José Truda Júnior lamentou esta notícia publicada em O Globo:

Em declarações à rádio Continental, o advogado de Maradona disse que o doutor Alfredo Cahe toma todas as decisões, mas sempre de acordo com as opiniões da família.

– A idéia deles é de que Diego fique 15 dias no Brasil e só depois, o destino definitivo seria definido – declarou.

Janistraquis leu e fez questão de enxertar humilde conceito à imortal frase de Luís Edgar de Andrade: ‘O futuro da TV está no rádio… e o do jornal também.’

É verdade. No rádio, o jornalismo terá seu destino definido definitivamente.

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De novo?!?!?!

Escornado na rede da varanda de sua mansão em Fortaleza, o diretor da sucursal desta coluna no Ceará, Celsinho Neto, lia exemplares da imprensa local quando deparou com mais uma provocação ao idioma pátrio. Leiam o despacho:

Não faz muito tempo o Diário do Nordeste nos ‘brindou’ com um novo verbo, eutanasiar. Pois não é que o jornal O Povo resolveu aderir a essa neologia, digamos, antalógica? Veja o que foi publicado:

(…)Pagando R$ 20,13 de taxa por ter deixado o cão na rua, Carvalho disse ter ficado triste não pelo valor, mas por ter visto o bicho, tão estimado e bem cuidado, preso num lugar úmido com vários outros animais, correndo risco de ser eutanasiado.

Celsinho meteu os pés da rede:

‘Eutanasiado… de novo?!?! Arriégua!! Agora, a imprensa cearense eutanasiou de vez nossa tão maltratada língua portuguesa.’

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Nota dez

O melhor texto da semana é de João Moreira Salles, que sempre vestiu a camiseta do Botafogo e escreve este verdadeiro ensaio sobre a desesperada alma do torcedor, ensaio emocionante como uma lição do catedrático Nílton Santos e espetacular como uma escapada de Garrincha.

(…)Mas não existe apenas um tipo de torcedor. São muitos. Sobre aquele que vai ao estádio somente quando o time está bem, desse não falemos. Mais lastimável, só o que mudou de clube. Na hierarquia das vilezas morais que rege o sistema ético do torcedor, nada pode ser mais baixo. Um amigo costuma dizer que conhece pessoas que trocaram de casa, de cidade, de emprego, de profissão, de família, de cidadania, de partido, de sexo – mas não de time, porque nesses casos o celerado se cala. De fato, não conheço ninguém que se sinta à vontade para confessar que um dia virou casaca. É impossível não associar ao fato a mácula da deslealdade(…)

Trata-se de rara obra-prima, que aguarda leitores/torcedores de bom gosto no site No Mínimo.

(A propósito, declarou Janistraquis: ‘Bom mesmo é torcer pela Seleção, considerado, pois acalma todas as neuroses, apesar de Juan e Roque Júnior; veja só: três arrancadas daquelas que lembraram Ademir Menezes, três pênaltis e quatro gols, porque o juiz mandou repetir a primeira cobrança. Resultado: Ronaldo fenônimo 3, Argentina 1.)

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Errei, sim!

‘CADEIRA FATAL – Título do jornal O Dia, de Teresina (PI): Eletricista morre de uma virada de cadeira na Vila Prof. Wall Ferraz. O texto informava: ‘Segundo testemunhas, Francisco do Nascimento caminhava tranqüilamente, no último dia 12, quando se desequilibrou e caiu, batendo com a cabeça na calçada’. Janistraquis, que é chegado numa reportagem policial, analisou: ‘Considerado, se o infeliz eletricista ia caminhando tranqüilamente, onde diabos se meteu a cadeira que virou?’. A dúvida é mais que procedente.’ (junho de 1992)’



LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva

‘Palavras estrangeiras’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 2/06/04

‘As francesas chegaram aos borbotões e logo tomaram assento entre as portuguesas. No século 19, quando chegaram ao apogeu, era elegante inserir palavras de uma língua estrangeira na conversação. As preferidas vinham da França. Pouco a pouco, entretanto, elas foram aportuguesadas.

Alguns exemplos ilustram o que estou escrevendo. Tínhamos quebra-luz, mas quando chegou o abat-jour, nos finais do século 19, a luz posta na sala e ao lado da cama logo foi aportuguesada para abajur. No francês, seu significado literal é abater a luz. O português vinha usando o verbo quebrar. Em se tratando de luz, soa poética a expressão que usa o verbo quebrar para dizer que a luz do abajur diminui de intensidade e produz um jogo de sombras que têm o fim de ornamentar e tornar mais agradável e suave o ambiente.

Abat-jour estava na língua francesa desde o século 17. Levara cerca de duzentos anos para chegar ao Brasil. Bibelô demorou mais. Escrito beubelet no francês do século 12, seria alterado para bibelot no século 16.

Quase um milênio depois de sua primeira aparição no francês, bibelô designava, ao chegar ao Brasil no século 20, o pequeno objeto de enfeite posto sobre a mesa. Não tinha o valor da porcelana, dos finos objetos de ouro ou de prata, e por isso passou a designar também pessoas bonitas, delicadas, de gestos suaves, de boa aparência, mas preguiçosas ou desqualificadas profissionalmente, sem préstimo.

Já o bilhar viria mais alentado. Viera igualmente do francês, onde chegara na segunda metade do século 14 e levara quatro séculos para vir de Paris ao Rio. É provável que tenham sido as invasões romanas que levaram o latim billia a mudar de roupa na França e tornar-se billard, originalmente lasca de madeira, pau ou porrete, utilizado na caça e em forma de cajado pelo caminhante para defender-se de animais ferozes ou cães.

Nos finais do século 14 passou a denominar também pequenas toras de madeira que estão na origem do jogo, que consistia em empurrá-las com um porrete de um lado para outro, no chão.

Evoluindo, o bilhar veio a ser praticado sobre superfícies lisas, alcançando a mesa recoberta de feltro verde onde as bolas, movidas pelos tacos, deslizam silenciosamente, mesmo quando tocadas com força.

O bilhar prestou-se à metáfora presente na expressão ‘tirar o corpo fora’, nascida do francês reprendre ses billes, significando literalmente retirar as bolas, esquivá-las da batida do taco, ganhando o significado de evitar responsabilidades.

Também a sinuca, que é uma variedade do bilhar, jogada com oito bolas sobre uma mesa de seis caçapas, ensejou o surgimento de expressões como ‘sinuca de bico’, ‘estar pela bola sete’ e outras.

O número deve-se às sete bolas com valores crescentes agregados à cor de cada uma, começando pela de cor vermelha e terminando pela de cor preta, origem de outra expressão, ‘bola preta’, indicando recusa. As outras bolas têm as cores amarela, ou branca, verde, marrom, azul e rosa.

A sinuca de bico ocorre quando a bola jogadeira, de cor branca, pára à beira da caçapa, encostada a um dos bicos, deixando oculta a reta que a uniria à bola da vez, semelhando eclipse que pode ser total ou parcial.

Só sai da sinuca de bico o jogador exímio, capaz de manipular o taco de modo inventivo ao extremo. É a situação mais difícil do jogo e veio a consolidar-se como sinônimo de problema de resolução quase impossível. Também o futebol oferece expressões equivalentes, como ‘dar bola’, ‘bater bola’, ‘pisar na bola’ e ‘fazer o meio de campo’, entre outras.

Apesar de a invasão francesa liderar os estrangeirismos no século 20, também palavras procedentes do inglês, do alemão e do italiano encheram nossa casa.’