Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Decreto encerra a disputa
sobre padrão de TV Digital


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Sexta-feira, 30 de junho de 2006


TV DIGITAL
Mônica Tavares e Patrícia Duarte


Lula assina decreto que cria a TV digital no país


‘BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem o decreto criando o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), que usa como base o padrão japonês de transmissão (ISDB), mas incorpora inovações tecnológicas desenvolvidas por centros brasileiros de pesquisa. Em sete anos, a TV digital aberta atingirá todos os lares do Brasil. Esta nova televisão vai permitir ao consumidor ter imagem e som de cinema (alta definição), sem ruídos ou fantasmas, na poltrona de casa, no carro ou no ônibus (mobilidade), no celular (portabilidade), e com a possibilidade de interagir com as emissoras, escolhendo programas, serviços, respondendo a pesquisas ou fazendo compras (interatividade).


Também será possível, de acordo com a escolha da emissora, que um canal transmita, com definição padrão (mas superior à atual), até quatro programas ao mesmo tempo (multiprogramação). A tecnologia começa a ser implantada em 18 meses nas capitais e no Distrito Federal e terá que estar funcionando em todo o país em sete anos. Em dez anos o sistema analógico será desligado. Nesse período, o telespectador – para usufruir os benefícios – comprará um conversor de sinal ou um aparelho de TV já preparado para a tecnologia.


– A TV digital não é apenas um sistema que melhora a transmissão e a captação do sinal de TV. Ela é, ao mesmo tempo, uma fabulosa síntese tecnológica, um poderoso fenômeno econômico e um forte avanço democrático. Da maneira que decidimos implantá-la no Brasil, será também um grande vetor de desenvolvimento, geração de empregos e ampliação de renda, com benefícios para todos os setores da sociedade – disse Lula.


Em solenidade no Palácio do Planalto, com a participação de representantes da indústria, das emissoras de TV e do governo japonês, Lula destacou o papel das universidades na pesquisa e no desenvolvimento do SBTVD-T. Para ele, o sistema não é do governo, mas do Estado, e nos próximos dez anos não haverá apenas uma revolução da TV, mas da relação da população com a informação.


– Dotando a TV aberta das ferramentas digitais adequadas, a população terá, gratuitamente, todas as vantagens desta nova tecnologia, hoje reservadas a assinantes dos serviços – disse Roberto Franco, representante das emissoras de TV.


Lula disse que o sistema permitirá amplo acesso à cultura. Participaram ainda do evento os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).


– Se a gente pudesse fazer uma tomografia de todo o processo, a palavra que iria aparecer seria ‘democracia tecnológica’, porque não tivemos preocupação de ouvir apenas parceiros, nós tivemos o compromisso de ouvir todos, sem distinção, que tinham um palpite ou um conhecimento a dar – afirmou Lula, cujo discurso foi reforçado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa.


O ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, afirmou que a digitalização é importante para seu país – o setor é parte da política governamental, pois contribui para o desenvolvimento. Os japoneses vão investir no Brasil para a criação de uma indústria de semicondutores ( chips de computadores). O compromisso foi assumido no acordo assinado pelos dois países, divulgado ontem. A idéia é que fabricantes brasileiras e japonesas participem do projeto. O governo do Brasil oferecerá estímulos para a criação de joint-ventures e o do Japão, incentivos à retomada dos investimentos nipônicos na indústria eletrônica no país, para a produção de aparelhos e componentes como telas de cristal líquido e de plasma.


O documento não traz valores ou investimentos previstos. Mas há a garantia de que o BNDES e o JBIC, banco de fomento japonês, concederão financiamento ao setor de radiodifusão e à indústria. O governo avaliou também os padrões europeu e americano.


O prazo de dez anos para o setor se adequar à tecnologia foi considerado satisfatório:


– O processo vai ser um esforço combinado de radiodifusores, produtores e governo do Japão e do Brasil – disse a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.


O decreto traz regras que as emissoras terão que seguir, como a devolução do canal analógico depois de dez anos. Haverá concessão de canais comerciais. A partir de julho de 2013, as concessões serão em tecnologia digital. Foi decidida ainda a criação de quatro canais públicos: Executivo, Educação, Cultura e Cidadania. Cada um poderá transmitir até quatro programas ao mesmo tempo.


As emissoras terão que apresentar o projeto de viabilidade técnica de transmissão do sinal digital em seis meses. O Ministério das Comunicações vai elaborar um cronograma que decidirá as primeiras cidades que terão a TV digital. As transmissões devem começar em 2007, em São Paulo.’


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Regulamentação terá outras etapas


‘BRASÍLIA. A assinatura do decreto presidencial implantando o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T) significa apenas o começo da regulamentação do novo serviço. Ainda precisam ser tomadas decisões importantes, que passarão inclusive pelo Congresso. O modelo de negócios, por exemplo, é um deles, e decidirá entre outros itens como o recurso tecnológico será utilizado, a implantação da interatividade e a exploração de conteúdo (o que vai definir se operadoras de telefonia podem entrar no ramo).


Também deverá ser discutida uma proposta de Lei Geral de Comunicação de Massa, para regular o setor e substituir a principal legislação da área, que é muito antiga – o Código Brasileiro de Televisão, de 1962.


Uma das decisões mais importantes terá que ser tomada nos próximos 60 dias pelo Ministério das Comunicações, conforme o decreto assinado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Será estabelecido o cronograma de implantação da TV digital nos próximos sete anos.


Cronograma de implantação decidirá custos de emissoras


O cronograma é que vai estabelecer quais são os desembolsos a serem feitos pelas emissoras. Há no país cinco mil transmissores analógicos que precisam ser trocados por equipamentos digitais.


O Ministério das Comunicações terá ainda que assinar contratos com as emissoras e retransmissoras de TV do país para que elas possam usar o novo canal, além do que possuem. Para fazer ao mesmo tempo transmissões digitais e analógicas, elas precisarão de dois canais. As emissoras, por seu lado, têm prazo de seis meses para elaborar o projeto de viabilidade técnica para a implantação da TV digital.


O decreto prevê ainda a criação de um fórum, com a participação de representantes dos radiodifusores, da indústria e dos pesquisadores. Eles é que vão assessorar na formação de políticas e assuntos técnicos referentes à aprovação de inovações tecnológicas, especificações, desenvolvimento e implantação do sistema brasileiro de TV Digital.’


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Governo financiará compra de conversor de TV


‘BRASÍLIA. O governo vai conceder incentivos fiscais e linhas de crédito para facilitar a compra dos conversores para TV Digital por parte dos consumidores finais. Isso porque a indústria já adianta que os preços, sobretudo nos primeiros meses de lançamento, não devem ser os mais atrativos. Alguns já falam entre R$ 200 e R$ 400 a unidade mais simples, ou seja, apenas para a conversão de imagens de digitais para analógicas, sem mecanismos de interatividade.


A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu que as medidas do governo terão objetivo de garantir ‘preço extremamente acessível à população’.


– O governo está cogitando fazer toda desoneração fiscal necessária – afirmou Dilma, após participar da solenidade de lançamento do sistema de TV Digital no Brasil.


Idéia é ter prestações de até R$ 10 por mês


A ministra adiantou ainda que estão sendo preparadas medidas para criar linhas de financiamento para o consumidor final adquirir os conversores. Ela, no entanto, não deu mais detalhes de como seriam esses créditos. No governo, a idéia é levar os preços desses aparelhos para algo entre R$ 80 e R$ 100 a unidade e, segundo informou ontem o ministro das Comunicações, Hélio Costa, com prestações de R$ 8 a R$ 10 mensais.


O movimento que o governo quer fazer é parecido com o do programa Computador para Todos, lançado no fim do ano passado e pelo qual foram isentos de impostos os fabricantes das máquinas e liberados recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para financiamento.


Em um ano mercado deve ter televisores digitais


A indústria dá sinais de que quer incentivos. O presidente da Semp Toshiba, Afonso Hennel, argumentou ontem que a carga tributária é um dos fatores mais importantes na formação de preços dos equipamentos. Segundo suas contas, os conversores mais simples deverão sair entre R$ 200 e R$ 400 para o consumidor final.


– Com o tempo, os preços tendem a recuar com escala de produção maior – avaliou Hennel, para quem os conversores estarão no mercado em aproximadamente seis meses.


A troca de tecnologia da TV brasileira vai movimentar cerca de US$ 88 bilhões na indústria de eletroeletrônicos nos próximos dez anos, estima o presidente da Gradiente, Eugênio Staub, que comemorou o fato de, com a decisão do governo, haver a possibilidade de desenvolvimento de tecnologia nacional. Para ele, em 12 a 15 meses os primeiros aparelhos digitais estarão no mercado.


Os próximos passos, dizem os empresários, são os que decidirão os detalhes tecnológicos dos aparelhos. Na avaliação do presidente da Samsung, Benjamin Sicsú, o produto final (a TV propriamente dita) deverá estar disponível para o consumidor final em um ano.


Segundo Sicsú, apenas o custo dos aparelhos para a indústria é de US$ 33 (cerca de R$ 70). Mas o preço final ao consumidor será bem mais salgado devido à carga tributária, ao gasto com transporte e ao lucro do revendedor, entre outras despesas.’


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Emissoras: prioridade será a alta resolução


‘BRASÍLIA. Com a definição do padrão japonês como a ferramenta do Sistema Brasileiro de TV Digital, o modelo de negócios dos canais comerciais de televisão deverá priorizar a implantação no país de dois recursos tecnológicos: a alta definição (qualidade de cinema na maioria dos programas) e a mobilidade, que permite assistir aos programas dentro de ônibus, carros e trens. Os principais executivos das emissoras do país participaram ontem da solenidade de assinatura do decreto que instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão Digital.


– A nossa aposta, da Rede Globo, é que a televisão do futuro será em alta definição. Porque a qualidade de imagem vai ser fundamental para o futuro da TV aberta – afirmou João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.


Marinho disse que a empresa vai começar transmitindo alguns programas em alta definição e aos poucos ampliará a programação em nova tecnologia. Ele lembrou que a série ‘Hoje é dia de Maria’ foi produzida em alta definição. Mas não fixou prazo para o início das transmissões digitais. As primeiras cidades beneficiadas serão São Paulo e Rio de Janeiro.


O presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), José Inácio Pizzani, também defendeu a alta definição e a mobilidade. A avaliação dos radiodifusores é que a escolha entre ter mais canais (multiprogramação em definição padrão) e transmitir em alta definição é do operador e depende, entre outros fatores, do mercado publicitário.


Para o presidente do Grupo Bandeirantes, João Carlos Saad, que também defende a alta definição, o mercado publicitário não vai se multiplicar por causa da nova tecnologia e isso aumenta as dificuldades para a implantação de multiprogramação (quatro programas ao mesmo tempo em um mesmo canal). Ele disse que a Bandeirantes vai priorizar a alta definição.


Fabricantes de equipamentos ainda não estão prontos


Saad disse ainda que o governo foi corajoso ao optar pelo padrão japonês, que traz mais inovações, e defendeu que o prazo dado para a adaptação das TVs é suficiente, mas que elas vão ‘apanhar no começo’.


Para João Roberto Marinho, o prazo de sete anos para que as transmissões digitais cheguem a todo o país é ‘apertado’, mas disse que a Globo fará o possível para cumpri-lo.


– O nosso arranque será mais difícil porque os fabricantes (de equipamentos) ainda não estão prontos, mas estamos na ponta (da tecnologia) – afirmou Marinho, acrescentando que o volume de investimentos necessários ainda está sendo calculado pela empresa.


Segundo o diretor-executivo do SBT, Guilherme Stoliar, os custos de adequação à nova tecnologia devem ficar na casa dos US$ 30 milhões. Para tanto, ele adiantou que precisará de financiamentos.’


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Copa do Mundo ‘contamina’ solenidade no Planalto


‘BRASÍLIA. Nem mesmo em um evento de tecnologia ontem, sobre TV Digital, o clima de Copa do Mundo deixou de estar presente no Palácio do Planalto. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e até mesmo o ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, que entrou na brincadeira, fizeram analogias com o futebol para uma platéia formada por empresários, pesquisadores e membros dos dois governos.


Costa, falando em japonês, saudou a comitiva daquele país dizendo boas-vindas e se desculpando pela derrota por 4 a 1 do Japão contra o Brasil na semana passada, ainda na primeira rodada da Copa do Mundo. E comemorou a escolha do padrão japonês de TV digital.


– Marcamos um gol de placa – afirmou Costa.


Arrancando risadas da platéia, o ministro acabou dando o pontapé inicial para que todos falassem em futebol. Takenaka devolveu a provocação em seguida, durante seu discurso.


– Na Copa, o Japão perdeu para o Brasil, mas na relação digital, é vencer e vencer – afirmou ele.


Famoso amante do futebol, Lula também usou a Copa do Mundo para exaltar a escolha do sistema digital japonês para a TV brasileira. Chegou até mesmo a dizer que, com as relações mais estreitas, torcia para que os dois países participassem de uma final de Copa do Mundo. O Japão participou apenas de três Copas e, neste ano, não conseguiu ir além da primeira fase.


– Quem sabe, já com TV digital instalada na casa de todo mundo, nós vamos assistir um dia ao Japão ser campeão do mundo ou disputar uma final com o Brasil numa Copa do Mundo – disse Lula.’


COPA 2006
Luiz Garcia


A Copa dos doentes


‘Houve tempo em que todo brasileiro era especialista em falar mal do juiz. Este ano, a ênfase é outra; talvez devido à quantidade de especialistas que não se cansam de dissecar a Copa na TV e nos jornais, parece que a população nacional – 90% dos machos e boa parte das fêmeas – deixou de lado os sopradores de apito: agora, somos sapientes comentaristas de técnicas, artes e até sutilezas psicológicas do futebol mundial. É melhor do que ficar remoendo as desventuras nacionais, pelo menos enquanto durar a festa e – oremos, irmãos – até o apito final e a chegada triunfal dos últimos heróis de nossa geração.


Deus, que lê nossos jornais religiosamente, como tudo que Ele faz, bem sabe quanto precisamos de ídolos merecedores de razoável respeito.


Justificam-se, portanto, essas semanas monomaníacas. Mas há limites. Alguns deles estão sendo absurdamente desrespeitados.


Há quem não pode deixar de trabalhar, com Copa ou sem Copa. Nos serviços médicos, por exemplo. No entanto, verificando apenas a situação do Rio, descobrem-se abusos e exageros. Todas as consultas no Hospital dos Servidores do Estado (HSE) foram canceladas em dias de jogos do Brasil. Idem nos postos de saúde e ambulatórios de hospitais públicos da cidade. Os doentes que não suportam voltar para casa e rezar têm a opção de buscar socorro nas emergências – que, nesses dias ficam, claro, superlotadas. Se o atendimento é o que se sabe em tempos normais, faça-se uma idéia de a quantas tem andado nesses dias.


Na terça-feira em que jogamos contra Gana, o HSE dispunha apenas de médicos de plantão. E um cartaz informava que não haveria consultas depois de 11 horas. Afinal, médicos, enfermeiros etc. também são brasileiros e, na visão oficial, seria crueldade extrema negar-lhes a visão maravilhosa daquele gol de Ronaldo no comecinho do jogo.


Foi decretado, pelo visto, que, quando a bola correr na Alemanha, todos os funcionários da área de saúde que não estejam de plantão serão – automática e miraculosamente – desnecessários. Mais de mil consultas, segundo foi informado a um vereador, foram remarcadas. Idem no Getúlio Vargas, que é estadual. Imagine-se o aluvião de pacientes depois da Copa.


Hospitais municipais como Souza Aguiar e Miguel Couto mantiveram o atendimento de emergência, mas suspenderam consultas nos ambulatórios. A ninguém ocorreu que consultas em hospitais públicos podem não ser assuntos de vida ou morte mas são direitos do cidadão, com ou sem Copa do Mundo.


A Secretaria municipal de Saúde justificou o adiamento de consultas alegando que os pacientes costumam faltar em dias de jogos do Brasil.


Pode ser. Mas só falta quem não precisa. Quem está passando mal, principalmente cidadãos idosos e com dificuldade de se locomover, provavelmente receberia como graça dos Céus um dia de ambulatório vazio e atendimento rápido.


Se possível, com uns gols do Ronaldo – mas logo depois de resolvido o problema de saúde.’


Antonio Maria Filho


Adriano, enfim, ataca


‘Adriano quebrou o silêncio. Magoado com as críticas da imprensa brasileira, ele não dava entrevistas desde que foi sacado do time no jogo contra o Japão. Ontem, Adriano conversou com os jornalistas estrangeiros e fez duras críticas à imprensa brasileira.


– Tem mais de um ano que eles (os jornalistas) querem me tirar do time. Só sabem bater e distorcer o que eu falo – queixou-se.


Para ele, o fato de ter marcado dois gols nestas quatro partidas não é levado em consideração. O atacante desabafou com os jornalistas estrangeiros:


– Fico triste porque tenho sido muito criticado e acho que não mereço. Tenho me esforçado ao máximo.


Adriano evitou as entrevistas após dar uma polêmica declaração de que preferia jogar com Robinho no ataque. Segundo Adriano, seu estilo de jogo combina mais com o do ex-jogador do Santos do que com o do Fenômeno. Diante da repercussão negativa entre os próprios colegas da seleção, Adriano atribuiu o problema aos jornalistas. Ele não teria falado de suas preferências.


– Desde a Copa América, eles (os jornalistas brasileiros) vêm batendo na tecla de que eu tenho que sair do time porque é por minha causa que o time não joga bem. Não sei por que isso acontece. Mas não é justo pelo que lutei para chegar a ser titular da seleção brasileira. Eles vão se dar mal porque quem ri por último ri melhor – disse Adriano.


Adriano confessou estar decepcionado pelas críticas que tem recebido. Ronaldinho Gaúcho foi outro que deu entrevista para os jornalistas estrangeiros. O craque brasileiro se disse ainda mais motivado para enfrentar a França amanhã porque atuou no Paris Saint Germain.


Seleção já está em Frankfurt


Na mesma entrevista, os jornalistas estrangeiros quiseram saber do lateral Roberto Carlos por que Ronaldinho Gaúcho não mostra na seleção brasileira o brilho que exibe no Barcelona. O lateral saiu em socorro do companheiro.


– Ele apenas é mais acionado e aparece mais no Barcelona, que tem três estrelas, enquanto no Brasil são 23. Mas é grande jogador, tanto que tem sido premiado como melhor do mundo – disse Roberto Carlos.


Os jogadores viajaram ontem à noite para Frankfurt, local do jogo de amanhã. Eles estão hospedados no Sheraton Grande Hotel, que tem um andar reservado para a delegação. Na noite de quarta-feira, no Castelo Lerbach, foi recolhida uma gota de sangue de cada um para controle do desgaste muscular. Esse controle é feito através da dosagem do CPK, que é uma enzima muscular, o que permite à comissão técnica estabelecer um planejamento adequado da carga de treinamento.’


COTAS EM DEBATE
Demétrio Weber


Intelectuais lançam manifesto contra cotas


‘BRASÍLIA. Um grupo de 114 intelectuais, artistas e ativistas do movimento negro, entre eles o cantor e compositor Caetano Veloso, o poeta Ferreira Gullar e a professora Yvonne Maggie, lançou ontem manifesto contra o projeto de lei que institui a política de cotas nas universidades federais e o que cria o Estatuto da Igualdade Racial, com reserva de vagas para negros no ensino superior e no serviço público. Cinco dos signatários entregaram o documento aos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).


Intitulado ‘Carta Pública ao Congresso Nacional – Todos têm direitos iguais na República democrática’, o texto pede aos parlamentares que rejeitem os dois projetos. O argumento é que a adoção de políticas específicas para negros pode acirrar conflitos raciais ao dar status jurídico ao conceito de raça, além de não atacar o problema estrutural da desigualdade no país, que é a falta de acesso universal à educação de qualidade.


Aldo disse ter restrições ao modelo de cotas raciais adotado nos Estados Unidos, com reserva de vagas para negros tal qual prevê o Estatuto da Igualdade Racial e, em menor escala, ao projeto de cotas nas universidades federais proposto pelo MEC, que reserva 50% das vagas para alunos da escola pública, com subcota para negros e índios.


Pré-vestibulares para os pobres


O manifesto é assinado pelo ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Simon Schwartzman e pela ex-secretária de Política Educacional do Ministério da Educação Eunice Durham, ambos no governo Fernando Henrique. Eunice é favorável à criação de cursos pré-vestibulares para a população pobre.


– Políticas contra a pobreza são necessárias e incluem necessariamente a população não-branca. Mas não se trata somente de abrir espaço e sim de dar oportunidades de estudo e trabalho a quem necessita. O que explica a pobreza de grande parte da população não-branca no Brasil não é a discriminação, mas a falta de oportunidades, que afeta também um grande número de brancos, e que não podem ser discriminados – disse Schwartzman em entrevista por e-mail.


– A universidade não é prêmio para a injustiça passada. Não se repara injustiça premiando descendentes de quem foi vítima da injustiça – disse Eunice.


Autor do projeto do Estatuto da Igualdade Racial, o senador Paulo Paim (PT-RS) disse que a proposta tem o objetivo de reparar a população negra pelo sofrimento e pela falta de oportunidades decorrentes da escravidão. Paim afirmou que ainda são raros os negros que ocupam cargos na direção de empresas ou instituições bancárias:


– Esse é um manifesto da elite, pois dar espaço aos negros não interessa. Hoje temos política de cotas para mulheres nos partidos políticos e ninguém reclama.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 30 de junho de 2006


COTAS EM DEBATE
Rosa Costa e Roldão Arruda


Intelectuais assinam manifesto contra Estatuto da Igualdade Racial


‘O debate sobre a promoção da igualdade racial ganhou ontem nova amplitude. À tarde, no gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ele e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), receberam um documento que se opõe de forma veemente aos projetos de lei de cotas raciais e do Estatuto da Igualdade Racial, que tramitam no Congresso.


Entregue pela antropóloga Yvonne Maggie, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pelo militante negro José Carlos Miranda, do Movimento Negro Socialista, o texto é assinado por 114 pessoas, a maioria pesquisadores acadêmicos. Eles argumentam que, em vez de acabar com a discriminação, os projetos podem acentuá-la. ‘Corremos o risco de dividir a Nação brasileira entre brancos e negros’, disse a antropóloga, durante a conversa com os parlamentares.


Entre os signatários do documento figuram alguns dos mais respeitados nomes nos departamentos de ciência política e antropologia das universidades brasileiras, como Gilberto Velho, Eunice Durhan, Luiz Werneck Vianna, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Oliveiros Ferreira, Wanderley Guilherme dos Santos, além de artistas como Caetano Veloso, Ferreira Gullar e Zelito Viana. Na opinião deles, o estatuto passará a definir os direitos da pessoa com base na cor da pele, pela raça, prática ‘cujas tentativas já foram dolorosamente condenadas pela história’.


Para Yvonne Maggie, a melhor forma de combater o racismo é eliminar o conceito de raça e encontrar outras formas de inclusão, como o aumento do número de vagas nas universidades públicas. O manifesto sustenta que ‘a adoção de identidades raciais não deve ser imposta e regulada pelo Estado’. Defende, ainda, que ‘políticas dirigidas a grupos sociais estanques em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem até produzir efeito contrário, dando respaldo legal ao conceito de raça e possibilitando o acirramento do conflito e da intolerância’.


O texto conclui da seguinte maneira: ‘A verdade amplamente reconhecida é que o principal caminho para o combate à exclusão social é a construção de serviços públicos universais de qualidade nos setores de educação, saúde e previdência e em especial a criação de empregos. Estas metas só poderão ser alcançadas pelo esforço comum de cidadãos de todos os tons de pele contra privilégios odiosos que limitam o alcance do princípio republicano da igualdade política e jurídica.’


Renan concordou que serão necessárias mais discussões sobre os projetos das cotas e do estatuto ‘para evitar que provoquem novas divisões na sociedade’. Aldo disse que é preciso entender melhor como se dá a prática de racismo no Brasil para a adoção de políticas adaptadas à realidade nacional.


A ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, criticou o documento. Em entrevista ao Estado, afirmou que, embora se diga que somos todos iguais perante a lei, com os mesmos direitos, isso não ocorre no cotidiano dos brasileiros. ‘Há estudos de acadêmicos respeitados, como os de Fulvia Rosenberg, da Fundação Carlos Chagas, segundo os quais erramos quando dizemos evasão escolar em relação à população negra, porque na verdade os negros são expulsos dos bancos escolares’, disse.


A ministra lembrou, também, que estão sendo discutidas medidas emergenciais, que não devem permanecer ao longo da história. ‘É para atender a uma situação marcada por disparidades e desigualdades. Haverá um dia em que não necessitaremos mais dessas leis.’


As considerações dos acadêmicos, segundo Matilde, são bem-vindas e ajudam a enriquecer o debate. ‘Não podem impedir, no entanto, a execução de uma agenda do poder público, nem se sobrepor à análise do nosso cotidiano, no qual, em pleno século 21, as populações negras e indígenas estão excluídas dos bens e serviços públicos.’


Para a ministra, não existe divergência entre ela e os intelectuais sobre conceitos relacionados à questão racial. As divergências referem-se à forma de combate às desigualdades. ‘Não se combate a exclusão apenas com políticas de universalização dos serviços. São necessárias ações afirmativas em situações emergenciais.’


A idéia do documento com a assinatura de um conjunto de intelectuais, artistas e representantes do movimento negro surgiu a partir da publicação de artigos isolados em jornais e publicações acadêmicas. Teve rápida adesão. Segundo o cientista político Luiz Werneck Vianna, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o tema ainda não foi devidamente discutido. ‘Estamos diante da possibilidade de vermos aprovados um projeto que pode deixar um rastro muito triste na história do País, uma cunha racial’, disse ele.’


TV DIGITAL
Gerusa Marques


Governo assina decreto e diz que TV digital chega a SP em 8 meses


‘A cidade de São Paulo será a primeira a ter televisão digital no Brasil, no prazo de seis a oito meses. A previsão foi feita ontem pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, após cerimônia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto com as regras de implantação da TV digital no País. Depois de seis meses de negociações intensas, também foi assinado ontem o termo de compromisso, entre os governos do Brasil e do Japão, oficializando a escolha do padrão japonês de TV digital.


Apesar da previsão do ministro, o decreto estabelece prazo de até um ano e meio, após a aprovação dos projetos das emissoras para a digitalização de suas redes, para que elas comecem a transmitir comercialmente em sinal digital. No caso de São Paulo, porém, Costa explicou que já vêm sendo feitos testes do novo sistema, o que facilita a implantação. A indústria também prevê prazo semelhante para que os televisores digitais cheguem às prateleiras das lojas. Segundo o presidente da Gradiente, Eugênio Staub, isso deve acontecer dentro de 12 a 15 meses. A TV digital deverá movimentar cerca de US$ 88 bilhões entre os fabricantes de produtos eletrônicos nos próximos dez anos.


CONSUMIDORES


O detalhamento das regras estabelecidas no decreto ainda virá, até o fim de agosto, por portarias do Ministério das Comunicações, mas o governo já adiantou que quer incentivar a produção de conversores de sinais digitais em analógicos a preços compatíveis com a renda da população.


Esse conversor é uma caixinha que permitirá ao telespectador continuar usando o televisor que atualmente tem em casa, que funciona no sistema analógico.


Costa previu que a versão mais simples do conversor pode custar ao consumidor de R$ 80 a R$ 100. ‘Queremos fazer com que essa caixinha chegue a todo brasileiro a preços razoáveis’, afirmou. Ele cogitou a possibilidade de esse aparelho ser financiado em prestações de R$ 8,00 a R$ 10,00 e de haver até algum tipo de subvenção.


A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, reforçou as afirmações de Costa ao revelar que o governo estuda inclusive reduzir a carga tributária sobre os conversores. ‘O governo está cogitando tratar essa questão do terminal de acesso, como esse é um bem de interesse da população brasileira, e fazer toda a desoneração fiscal necessária’, afirmou.


O decreto presidencial prevê que a TV digital aberta continuará sendo gratuita e passará a permitir a recepção de sinais em aparelhos portáteis, como celulares, e em movimento, como em TVs instaladas em ônibus, táxis e barcos. O Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T) permitirá a transmissão tanto em alta definição, com som estéreo e imagem cristalina, como em definição-padrão, que tem qualidade ligeiramente menor, mas permite a veiculação simultânea de até quatro programas em um mesmo canal.


O vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, disse que a TV Globo vai adotar o sistema de alta definição de imagens. ‘Nós acreditamos que a televisão aberta, no futuro, será toda em alta definição. A aposta da Rede Globo é que a qualidade da imagem é um atrativo fundamental da televisão, principalmente em um canal aberto’, afirmou, após a cerimônia no Palácio do Planalto.


O ministro Hélio Costa, que se empenhou pessoalmente para emplacar o padrão japonês, estava entusiasmado em seu discurso. Brincou com o ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, sobre a vitória da seleção brasileira sobre o Japão na Copa do Mundo, falando em japonês. E usou de uma analogia futebolística para dizer que o presidente Lula ‘marcou um gol de placa’.


Costa e Takenaka assinaram o acordo que estabelece cooperação técnica, eletrônica e de formação de mão-de-obra. Segundo o documento, até o fim de julho será criado um grupo de trabalho, formado por técnicos dos dois governos, para discutir o desenvolvimento da indústria eletrônica no País. Em tese, seria o primeiro passo para trazer uma fábrica de semicondutores para o Brasil.’


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Acordo marca o fim de uma longa briga pelo mercado


‘A assinatura do decreto que oficializa a adoção do padrão japonês de TV digital no Brasil, em detrimento dos padrões europeu e americano, marca o fim de uma longa disputa que envolveu empresas, governos e muitos interesses. As conversas, na verdade, começaram em meados da década de 90, quando os Estados Unidos já tinham estudos adiantados para a transição dos sinais analógicos para digitais. No meio das discussões pela adoção de um padrão internacional, o Brasil chegou a estudar um sistema nacional. Foram criados vários grupos de estudos e investidos mais de R$ 40 milhões em pesquisas. No final, o governo acabou optando por tentar a inclusão de alguns avanços dos cientistas daqui no sistema que virá do Japão.


A briga entre americanos, europeus e japoneses pelo mercado brasileiro foi recheada de muitas promessas. O governo queria uma fábrica de semicondutores, e todos disseram que iriam estudar o investimento. Mas ninguém o assegurou. Segundo o governo, pesou na escolha do padrão japonês o fato de permitir que as imagens possam ser transmitidas aos celulares e a aparelhos em movimento, coisa que os outros sistemas não garantiam. Para os críticos da escolha, porém, o que pesou mesmo foi o fato de o modelo ser o preferido das emissoras de TV.’


Lisandra Paraguassú


Acordo fortalece política industrial, diz Lula


‘O presidente Lula elogiou ontem o seu governo por ter tomado a iniciativa de resolver a questão da TV digital e aproveitar para ‘fortalecer uma política industrial e tecnológica no País’.


Apesar de o acordo com o Japão, assinado ontem, prever apenas incentivos para desenvolvimento de tecnologias, Lula afirmou que a parceria vai ajudar o País a recuperar o tempo perdido na área de tecnologia. ‘Quando assumimos o governo, encontramos a discussão sobre a TV digital num beco sem saída. Apenas se discutia, de maneira vaga e superficial, qual dos três padrões existentes no mundo o Brasil deveria adotar’, afirmou o presidente na cerimônia em que foi assinado o acordo com os japoneses para a implantação da TV digital.


‘Não se cogitava a hipótese de aproveitar essa oportunidade única para fortalecer uma política industrial e tecnológica voltada para a ampliação do conhecimento, a produção de bens inovadores e a transformação de novos investimentos’, acrescentou.Além do padrão japonês, o Brasil vinha estudando as tecnologias da Europa e dos Estados Unidos.


APOIO À INDÚSTRIA


Apesar das tentativas do governo de garantir, em troca da adoção do padrão japonês, a construção de uma fábrica de semicondutores no Brasil, o acordo final não tem essa garantia. Diz apenas que o Japão apoiará o desenvolvimento da indústria. Ficou para os empresários japoneses a decisão de construir no Brasil ou fazer associações com empresas brasileiras.


Lula, no entanto, disse que seu governo mudou a realidade e o acordo vai permitir ao País ‘recuperar uma grave lacuna do passado’. De acordo com o presidente, na década de 90, mais de duas dezenas de fábricas de componentes de semicondutores deixaram o País e se mudaram para a Ásia.


‘Aqui, ficamos com a montagem de kits importados já prontos, apenas agregando o custo de mão-de-obra barata. Colocamo-nos fora do mercado global’, afirmou. ‘O acordo que hoje assinamos com o Japão nos ajudará a recuperar esse tempo perdido na indústria de semicondutores e de avançar ainda mais na área de software.’


O presidente afirmou, ainda, que o sistema brasileiro de TV digital vai ser um vetor de desenvolvimento econômico e permitirá mais acesso a serviços e bens culturais para a população mais pobre.


A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, disse que os europeus e americanos sempre foram informados de que o governo preferia o padrão japonês. ‘Em vários momentos alertamos sobre nossa preferência.’ Segundo Dilma, o padrão japonês é o mais robusto, com mais capacidade de chegar a todos os televisores do País.’


Renato Cruz


Uma vitória do radiodifusor que só está ministro


‘Em abril, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, visitou a sede da emissora de televisão NHK, em Tóquio. ‘Eu sou radiodifusor e estou ministro’, afirmou Costa, na ocasião, destacando sua trajetória profissional. Acionista de uma rádio em Barbacena (MG), sua cidade natal, Costa foi repórter do programa Fantástico e chefe da sucursal da Rede Globo nos Estados Unidos, antes de ingressar na política.


A assinatura do acordo com os japoneses ontem foi uma vitória de Costa. Enquanto outros integrantes do governo negaram em várias ocasiões que a escolha tivesse sido feita, a postura de Costa foi consistente: pouco depois de assumir a pasta, passou a defender abertamente o padrão japonês, o preferido das emissoras de televisão. Inicialmente, a tecnologia era defendida pelas grandes, como a Rede Globo, mas em janeiro fechou-se um consenso com todas as empresas em torno do ISDB-T japonês. Ele permite que as emissoras façam transmissões para celulares, mantendo o modelo de negócios atual.


Em fevereiro, ao receber a comissária para Sociedade de Informação e Mídia da União Européia, Viviane Reding, chegou a chamar de mentiroso um documento que comparava os três padrões internacionais, mostrando irritação. Posteriormente, chamou a proposta européia de ‘blefe’.


O fato é que nunca um ministro das Comunicações, na última década, foi tão querido pelos radiodifusores. Ano passado, durante evento de rádio e televisão, o presidente do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad, elogiou publicamente o ministro: ‘Cumprimento o ministro por sua postura correta, voltada ao setor, que não foi ouvido durante este governo e foi mal ouvido no governo passado.’


Costa chegou ao Ministério com uma missão: digitalizar a radiodifusão impedindo ao máximo a entrada das operadoras de telecomunicações neste mercado. As operadoras de telecomunicações são multinacionais com receita dezenas de vezes maior que a das empresas nacionais de comunicação. No jogo da TV digital, viu-se o embate entre o poder político das emissoras de TV e o poder econômico das operadoras.


Em 2005, já assumiu a pasta batendo nas operadoras. Ele reclamou do custo da assinatura básica do telefone fixo: ‘Não se pode cobrar R$ 40 por um telefone que fica parado em casa’. E propôs a criação do telefone social, que ainda não saiu do papel. Poucos meses depois, disse que as teles não poderiam distribuir vídeo: ‘Por serem empresas de capital estrangeiro em sua maioria, estas empresas não podem transmitir imagens seqüenciadas na terceira ou quarta gerações da telefonia celular’, afirmou, em setembro de 2005, à revista Tela Viva.


Ele conseguiu até acrescentar aos novos contratos de concessão de telefonia fixa, assinados ano passado, uma referência ao artigo da Constituição que limita em 30% o capital estrangeiro nas empresas de comunicação social, para evitar que elas distribuíssem programação de TV.’


Gerusa Marques


Fábrica de semicondutores ainda não está garantida


‘Durante as negociações para definição do padrão da TV digital, o governo havia apresentado uma condição: europeus, americanos ou japoneses deveriam se comprometer a instalar uma fábrica de semicondutores no Brasil. Os acordos assinados ontem com o governo japonês mostram, porém, que o investimento não está garantido.


Segundo o governo, será um criado um grupo de trabalho para discutir a indústria eletrônica. Segundo Hélio Costa, o intercâmbio tecnológico e a formação de pessoal são os primeiros passos para a instalação da fábrica, que poderia levar até cinco anos. ‘O importante é que começamos o processo que pode ser de longo ou de médio prazo’, afirmou o ministro.


Não há garantia, porém, de que a fabrica será construída. Num documento chamado Declaração de Intenções, empresas privadas japonesas se dispõem a cooperar para a modernização da indústria brasileira e dizem que ‘envidarão esforços para acelerar o estudo sobre a possibilidade de investimento futuro na área da indústria eletrônica, incluindo a de semicondutores’.


O termo de compromisso assinado entre os governos do Brasil e do Japão também não assegura a implantação da fábrica. ‘O governo do Japão cooperará com o governo do Brasil na elaboração, por parte do Brasil, de um plano estratégico para o desenvolvimento da indústria de semicondutores, com vistas a investimentos japoneses no Brasil’, diz o documento.’


***


Europeus atacam decisão


‘Os europeus competiram até o fim com os japoneses na disputa pelo padrão de TV digital que seria adotado no Brasil. Eles consideram que a adoção do sistema japonês trará prejuízos para o País. ‘O Brasil corre o sério risco de ficar isolado no mundo, sem competitividade para exportar, dado que não terá ganho de escala para obter preço competitivo’, apontou a Coalizão DVB, que reúne empresas européias, em comunicado. ‘Mesmo a América do Sul não deverá seguir o Brasil. A Argentina já anunciou que optará por DVB ou ATSC, como noticiado por ocasião da recente visita da Ministra Dilma Rousseff a esse país. Os outros países da região deverão seguir essa opção.’


Eles destacaram que sua tecnologia, o DVB-T, foi adotada por mais de 100 países em todo o mundo, enquanto o ISDB-T, do Japão, só está em uso no seu país de origem. ‘O Japão já deixou claro que não vai absorver a tecnologia brasileira no seu pais de origem e portanto o padrão nipo-brasileiro vai ser só adotado no Brasil’, afirmou a Coalizão DVB, respondendo a uma defesa dos japoneses de sua tecnologia.


‘A decisão pelo padrão japonês ou nipo-brasileiro caracteriza-se por ser um cheque em branco para a prática de preços altos, não existindo quaisquer mecanismos que assegurem preços equivalentes àqueles praticados na maioria dos países que implantaram a TV digital, com base no padrão DVB-T’, disseram os europeus.


Em março, o governo já havia manifestado a preferência pelo padrão japonês, o preferido dos radiodifusores. O governo então começou a negociar com os detentores das tecnologias uma fábrica de semicondutores, mas não conseguiu um compromisso firme de nenhum deles. Nem mesmo dos japoneses. Dessa forma, prevaleceu a tendência inicial. Os europeus chegaram a acenar com a fábrica, mas não chegaram a um acordo sobre o assunto. Os americanos nem sequer tentaram atender à exigência.


Os americanos se disseram ‘desapontados’ com a decisão do governo. Na visão deles, se o Brasil adotasse sua tecnologia, seria possível implementá-la em todas as Américas. O ATSC americano já é usado, além dos Estados Unidos, no México, Canadá e países da América Central. Um argumento forte dos americanos era esse mercado de exportação.’


Marina Guimarães


Argentinos vêem isolamento


‘A escolha pela tecnologia japonesa para a TV digital (ISDB) ‘isola o Brasil dos demais países do Mercosul’, na opinião do gerente técnico de um dos principais canais de televisão da Argentina, Canal 13, o engenheiro Eduardo Bayo. Segundo ele, ‘será pouco provável que nosso país ou os outros vizinhos acompanhem o Brasil em seu sistema’ nipo-brasileiro. Segundo ele, na Argentina e no Chile as normas que estão sendo consideradas são as americana e européia.


A opinião de Bayo é semelhante à do embaixador argentino no Brasil, Juan Pablo Lohlé, que recentemente publicou um artigo afirmando que ‘se cada um optar por uma norma, estaremos mostrando uma visão diluída de nosso processo de integração.’ Na Argentina, o sistema japonês parece não ter grandes defensores. O Canal 13 transmite os jogos da Copa da Mundo pelo sistema digital dos Estados Unidos (ATSC), assim como sua concorrente Telefe.


Com a maioria de seu capital argentino, o Canal 13 vem utilizando a norma americana desde 1998, quando o governo de Carlos Menem determinou, por decreto, que essa seria a tecnologia da TV digital argentina. A Telefe, do Grupo Telefónica, da Espanha, também havia adotado o sistema americano em suas transmissões digitais.


Mas em outubro, quando o governo Kirchner decidiu rever o assunto e revogar o decreto, a Telefe recebeu a ordem de converter seu sistema ao europeu (DVB). Agora, as duas principais emissoras de TV aberta do país defendem sistemas diferentes. Nenhuma delas optaria pelo japonês, afirma Bayo.


‘Temos uma proposta do sistema japonês puro, mas seus custos são mais altos e não nos interessam. Muito menos uma proposta de um sistema misturado, como o que parece propor o Brasil’, disse o engenheiro do 13.


O ministério de Planejamento e a chefia de Gabinete da Presidência criaram uma comissão para avaliar as três propostas recebidas para a implantação da TV digital no país.’


Dante Chinni


Convergência de mídias em debate


‘Nas últimas semanas, nas duas costas dos Estados Unidos, o grande e contínuo debate sobre a consolidação da mídia deu alguns largos passos – em direções opostas. Na semana passada, em Washington, a Federal Communications Commission, (Comissão Federal de Comunicações), FCC, anunciou que, mais uma vez, está disposta a reexaminar e quase certamente afrouxar as normas relativas à propriedade de mídia do país. A questão é até que ponto elas serão afrouxadas.


O anúncio da FCC surge três anos após as mudanças de amplo alcance na norma que permitiu às empresas terem mais veículos – eletrônicos e impressos – em cada local e permitiu que todas as redes atingissem uma porcentagem maior do público telespectador. Essas mudanças foram tão impactantes que o Congresso reverteu muitas delas e os tribunais federais as descartaram e solicitaram que a FCC começasse de novo.


A revisão na norma é exigida por lei – um reconhecimento de que a tecnologia mudou o cenário da mídia. Mas os críticos temem que o afrouxamento exagerado das normas venha em detrimento da democracia.


Estão preocupados com o fato de que um número muito pequeno de proprietários restrinja o número de vozes disponíveis para os consumidores e resulte naquilo que aqueles que odeiam a mídia mais desprezam – uma grande força monolítica controlada por umas poucas pessoas ricas. É claro que a maioria dos proprietários rejeita essas insinuações.


Primeiramente, dizem, a internet impede que essas grandes empresas de mídia se tornem demasiadamente poderosas. Há milhares de vozes por aí. Qualquer um que tenha um computador e uma conexão de banda larga pode cobrir as notícias – um argumento sólido, na teoria, mas ignora realidades incômodas, tais como a comparação entre o número de pessoas que prestam atenção a cada um desses milhares de pequenas vozes com o número de pessoas que ouve as poucas grandes vozes.


Em segundo lugar, argumentam os proprietários, isso tudo vem para servir melhor o consumidor. O que é melhor para os consumidores: um grupo fragmentado de pequenas organizações noticiosas, escasso de recursos, ou um número menor de grandes empresas que podem gastar contratando a melhor equipe, comprando os melhores equipamentos e fazendo melhores reportagens? Será que a resposta não é óbvia? Mas a melhor pergunta talvez seja o que é melhor para essas grandes empresas, o que nos leva às notícias vindas da outra costa na semana passada.


Em Los Angeles, uma empresa que era uma ‘garota-propaganda’ do argumento ‘mídia maior é mídia melhor’, a Tribune Company, está em dificuldades. Lá, membros da família Chandler, dona do Los Angeles Times há mais de 100 anos, estão procurando alguém que compre ao menos alguns de seus veículos de mídia, se não todos, por causa do mau desempenho econômico.


Em 2000, a Tribune comprou a empresa controladora do Times, a Times Mirror, esperando obter vantagens com essas normas menos rígidas que a FCC estava, então, considerando. A Tribune recebeu ressalvas do governo em vários mercados onde a empresa tinha excesso de veículos – jornais e estações de TV – e esperava se converter num modelo de como a sinergia de uma grande empresa podia funcionar.


Mas simplesmente não foi dessa forma que os mercados encararam as coisas. O preço das ações da Tribune atualmente está mais baixo do que era em 2000. Suas receitas caíram. Um analista chamou a fusão de ‘um enorme fracasso’.


E a Tribune não foi a única empresa de mídia que encontrou menos que um sucesso estelar na promessa de crescimento e sinergia. Lembram-se de toda aquela empolgação em torno da fusão AOL Time/Warner em 2000? Ah, sim lá atrás, quando o mercado tecnológico estava irrefreável e a AOL parecia ter o perfeito sistema de distribuição para os conteúdos da Warner. Mas, é claro, os tempos mudam.


A verdade é que ainda não foi dado o veredicto sobre o argumento da mídia de que ‘maior é melhor’. Mas, no momento, parece certo dizer que maior não é necessariamente melhor. Talvez seja um argumento a ser analisado caso a caso. Talvez seja pelo fato de não termos avançado o suficiente na estrada para a grande convergência da mídia para que essas fusões funcionem – quando seu computador for seu aparelho de televisão e seu jornal. Quem sabe?


Até agora, a notícia mais importante do ano referente à propriedade na mídia não é uma história de consolidação, mas de fragmentação – a dissolução da cadeia de jornais Knight Ridder, na qual uma empresa, a McClatchy, apresentou-se e comprou todos os jornais e depois vendeu vários deles para diferentes compradores.


Há mais do que uma certa ironia em tudo isso. Durante anos, os jornalistas têm execrado o que aconteceu às salas de redação por causa das pressões do resultado final. Grandes empresas foram compradas por empresas maiores ainda, lamentam os jornalistas, e muitas vezes os novos donos, com poucos laços com a cidade natal ou a história dos veículos, reduziram o número de funcionários para atingir altas margens.


Em última análise, seja o que fizer a FCC, talvez seja preciso que se coloquem freios nas compras da grande mídia não pela FCC, nem por salas de redação desgostosas e nem por cidadãos enfurecidos, mas pelas próprias empresas que vão decidir que, mesmo que pensem que ‘maior é melhor’, o árbitro decisivo – o resultado final – não está assim tão certo.


*Dante Chinni é membro sênior da Pew Project for Excellence in Journalism, de Washington’


COPA 2006
Keila Jimenez


Público ama e odeia Galvão


‘Galvão Bueno provoca sentimentos contraditórios nos telespectadores. Pelo menos é isso que aponta estudo realizado este mês pelo Instituto Qualibest, que faz pesquisas para o mercado publicitário.


Em uma enquete sobre a Copa com a participação de mais de 1.500 pessoas, Galvão aparece citado por 43% dos participantes como o melhor narrador da Copa, seguido por Cléber Machado, com 33% dos votos, Luciano do Valle, com 10% e Sylvio Luiz, com 6%. Na mesma pesquisa, na pergunta sobre qual seria o pior narrador, Galvão também lidera a votação, com 40% dos votos. Casagrande figura na enquete como o melhor comentarista, empatado com Arnaldo César Coelho e seguidos por Falcão. Os entrevistados revelam ainda hábitos televisivos durante a Copa.


Boa parte dos participantes, 38%, diz assistir aos jogos acompanhada de amigos do mesmo sexo. Outros 16% dizem assistir sozinhos, 22%, com maridos e esposas e 19%, com colegas de trabalho. A maioria dos entrevistados, 79%, prefere assistir aos jogos em casa e o horário predileto para tanto é a faixa das 16 horas.


Mesmo com o bombardeio de Copa nos noticiários e intervalos, 72% dos entrevistados dizem acompanhar debates e especiais sobre o mundial. Os melhores lances dos jogos fazem a atração predileta dos participantes. A seguir vêm as mesas-redondas e as peculiaridades dos lugares que servem de sede aos jogos.


Os treinos da seleção estão entre os assuntos da Copa que menos interessam ao público, assim com entrevistas com brasileiros que estão na Alemanha. Mesmo com tanta sede de Copa, 25% dos entrevistados acham que existe um exagero na cobertura, mas que só o mundial é capaz de unir os brasileiros. Ah, sim: 74% dos entrevistados acreditam que o Brasil será campeão.


Globo e Band multiplicam Copa digital


Já que o Brasil continua em campo, a TV Globo se animou em estender suas demonstrações de TV digital a mais dois pontos públicos: os shoppings Morumbi e Jardim Sul acabam de ganhar telão para receber imagem em HDTV, ou ‘Hiiiiigh Definition’, como gosta de dizer, em ritmo nipônico, o locutor Sylvio Luiz.


Por falar nele, a BandSports, que ao lado da TVA e da Gradiente exibe a Copa em alta definição no Shopping Iguatemi, faz sessão fechada a convidados para mostrar Argentina e Alemanha, hoje, em alta definição, na sede da Editora Abril.


entre- linhas


‘Até para ser corrupto é preciso competência.’ Sábia, essa Bia Falcão, que proferiu a dita frase na voz de Fernanda Montenegro no capítulo de Belíssima de anteontem.


Doutor em telenovela, Mauro Alencar terá seu texto acadêmico sobre futebol e telenovela publicado na revista mexicana Foreign Affairs. Ecos da Copa.


A compositora Marília Medalha acaba de enviar a Manoel Carlos algumas de suas novas criações. É candidata a uma vaga na concorrida trilha sonora de Páginas da Vida, próxima novela das 9 da Globo.


O boato que rolou na imprensa é falso. A RedeTV! não fará uma versão brasileira da atração Extreme Makeover. Na verdade, o TV Fama deverá acompanhar uma plástica facial da apresentadora Monique Evans. A cirurgia provavelmente será feita na clínica Santé e o telespectador poderá ver as consultas e a recuperação de Monique a partir de agosto.


A atriz Sônia Braga teve aulas com a artista plástica Sandra Guinle por causa de seu papel na próxima novela das 9, Páginas da Vida. Sandra Guinle cedeu mais de 50 esculturas de sua série Cenas da Infância para a trama de Manoel Carlos. Sônia pediu, nas primeiras aulas com a artista, uma argila especial. Mas depois percebeu que argila não causa alergia e fez duas esculturas no ateliê de sua mentora. Uma delas, em homenagem à Copa do Mundo.’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 30 de junho de 2006


TV DIGITAL
Iuri Dantas


Lula oficializa padrão japonês na TV digital


‘Doze anos após o início da discussão sobre o tema, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem decreto adotando o padrão japonês de TV digital para o Brasil, atendendo a pressão de empresas radiodifusoras e sem obter efetivamente as contrapartidas desejadas.


A transmissão do sinal analógico será desligada em no máximo dez anos. Nesse período, as emissoras e repetidoras terão prazos legais para migrar para o novo sistema e atingir todo o território nacional. Como a mudança implica custos ao consumidor, o governo admite desonerar os decodificadores ou mesmo subvencioná-los aos mais pobres. ‘O governo está cogitando, nessa questão do terminal de acesso, toda a desoneração tributária possível’, disse a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


Após uma hora e meia de atraso, Lula realizou cerimônia no Palácio do Planalto para a assinatura. A escolha do padrão japonês -em detrimento ao europeu e americano- foi antecipada pela Folha em março, mas o governo buscava contrapartidas, como a construção de fábricas e repasse tecnológico antes de formalizar a decisão.


No fim, as contrapartidas dos japoneses -os únicos a usarem o padrão ISDB- constaram só como promessas em um termo assinado por Brasília e Tóquio ontem. O texto segue, agora, para referendo do Congresso.


Os governos brasileiro e japonês criarão um grupo de trabalho conjunto para implementação do padrão. O cronograma prevê atendimento inicial a capitais dos Estados e DF.


A cerimônia foi marcada pelo rotineiro ufanismo de Lula e elogios à equipe oficial de negociações, pesquisadores envolvidos no caso e ao Japão.


‘Se a gente pudesse fazer uma tomografia de todo o processo, a palavra que iria aparecer seria ‘democracia tecnológica’, porque nós não tivemos preocupação de ouvir apenas parceiros, nós tivemos o compromisso de ouvir todos, sem distinção’, afirmou Lula, embora entidades do setor reclamem justamente de falta de transparência na escolha.


O ministro Hélio Costa (Comunicações), grande defensor do modelo japonês, fez troça com o ministro Heizo Takenaka (Comunicações). Falando em japonês, desculpou-se pela vitória de 4 a 1 do Brasil sobre o Japão na Copa. ‘O Japão perdeu para o Brasil, mas, na etapa de TV digital, vamos manter a relação de vencer e vencer’, respondeu Takenaka.


Em linhas gerais, a robustez do sinal do padrão japonês figura como principal diferença -ou vantagem, dependendo da avaliação- sobre os demais.


Favorece, também, as emissoras de TV aberta, com grande tradição e força no Brasil, e impossibilita que a telefonia celular use parte do espectro para transmitir conteúdo. Ou seja, competir com as TVs abertas.


Brasil e Japão desenvolverão juntos o que vem sendo chamado de SBTVD-T (Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre). Trata-se do padrão japonês acrescido de inovações tecnológicas propostas pela academia brasileira, como formatos de compressão de vídeo.


As mudanças para o consumidor começam de oito meses a dois anos, segundo Costa. Até lá, deve chegar ao mercado o equipamento para decodificar o sinal digital para a TV, permitindo o uso do novo formato no atual aparelho. Custará de R$ 80 a R$ 100, na estimativa do governo. Para Marcelo Zuffo, da USP, serão vendidos cerca de 25 milhões de decodificadores em cinco anos, a custo médio de US$ 150 cada um.


O padrão digital de TV permite interatividade com a programação, portabilidade e melhor qualidade de som e imagem.’


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Quem ganha


‘Emissoras de TV aberta, maiores defensoras da robustez do padrão japonês. Tecnologicamente, o sinal é mais forte em cidades montanhosas -como o Rio de Janeiro- ou com grande número de edifícios -como São Paulo


O ministro Hélio Costa (Comunicações), que desde o começo das negociações era defensor do padrão japonês


Empresas japonesas, que repassarão a tecnologia ao Brasil


Quem perde


Defensores dos padrões norte-americano e europeu


Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação, por apoiar maior participação da sociedade, entrada de novos operadores e estímulo à produção regional


Companhias de telefonia, que tentavam obter parte do espectro de UHF e VHF para distribuir audiovisual pago’


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Derrotados criticam opção por japoneses


‘Ao unir critérios técnicos e políticos na escolha do padrão de TV digital, o governo federal determinou os flancos para as críticas que viriam a seguir. Do FNDC (Fórum Nacional para Democratização da Comunicação), a de que a decisão mantém o monopólio das emissoras de TV aberta na radiodifusão no país. Dos padrões europeu e americano, declarações de que o Brasil teria mais vantagens tecnológicas se a opção fosse outra.


‘Perdemos uma chance histórica, a TV digital manterá o status quo da radiodifusão no Brasil’, disse Celso Schröder, coordenador do FNDC.


O ATSC Fórum, que representa o padrão norte-americano, divulgou nota em que diz estar ‘desapontado’ com a opção pelo ISDB japonês. ‘Sustentamos a convicção de que o padrão ATSC oferece ao Brasil enormes vantagens tecnológicas e econômicas não igualadas por nenhum outro padrão.’


Já o consórcio representante do DVB europeu alertou em nota de que a escolha do padrão japonês representa ‘cheque em branco para a prática de preços altos’. O texto diz que os cidadãos de baixa renda não foram consultados pelo governo.’


Elvira Lobato


Implementação do novo sistema no país começa pela região metropolitana de SP


‘A implantação da televisão digital no Brasil começará pela região metropolitana de São Paulo, seguida do Rio de Janeiro, de acordo com informações prestadas ontem por dirigentes das emissoras de TV.


O cronograma de implantação em âmbito nacional será definido pelo governo em dois meses. O decreto que cria o SBTVD-T (Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre), assinado ontem pelo presidente Lula, determina, como antecipou ontem a Folha, prazo de sete anos para que se complete a cobertura digital em todo o território nacional.


O diretor de engenharia da Rede Globo, Fernando Bittencourt, disse que a empresa estará pronta para iniciar as transmissões em sinal digital em São Paulo no primeiro semestre de 2007, mas que o início das operações vai depender da velocidade com que a indústria conseguir colocar os produtos no mercado.


O empresário Eugênio Staub, presidente da Gradiente, disse que a previsão mais realista para início das vendas dos televisores digitais e das caixas de conversão de sinais é o último trimestre do ano que vem. Staub negou que a escolha do sistema japonês vá tornar o produto mais caro para o consumidor.


Como o Brasil é o único país a adotar a tecnologia japonesa, fora o Japão, fabricantes europeus afirmam que o Brasil pagará mais caro pela TV digital, por não haver ganho de escala. O sistema digital norte-americano, conhecido como ATSC, já foi adotado em quatro países (EUA, Canadá, México e Coréia do Sul), e o sistema europeu (DVB) já foi oficialmente escolhido por 99 países.


Sistema nacional


O sistema digital anunciado pelo governo vai incorporar soluções de software desenvolvidas por universidades públicas e privadas brasileiras e adotará um sistema de compressão de sinais diferente do usado no Japão. Os japoneses usam o sistema MPEG-2; o Brasil usará uma versão mais recente, também estrangeira, o Mpeg-4.


Por isso, os equipamentos para recepção da TV digital brasileira só funcionarão no Brasil, a menos que outros países latino-americanos decidam adotar o SBTVD-T.


O próximo passo será a criação de um fórum, com representantes de técnicos japoneses, da indústria nacional, dos radiodifusores e do governo para incorporar as inovações brasileiras ao padrão japonês.


A indústria eletroeletrônica e o governo calculam o impacto da implantação da TV digital em bilhões de reais. Segundo Staub, a indústria prevê que movimentará R$ 80 bilhões em negócios, num horizonte de dez anos. O Palácio do Planalto divulgou um número ainda maior: R$ 100 bilhões.


Staub diz que o cálculo da indústria se baseia na previsão da receita a ser gerada com a substituição de todos os televisores analógicos por digitais e ainda pela troca dos telefones celulares por aparelhos capazes de captar a programação da TV no visor, e pela receita com a venda dos novos produtos que chegarão ao mercado.’


***


Definição envolveu guerra de lobbies


‘A escolha do sistema de TV digital pelo governo brasileiro envolveu uma guerra de lobbies, em que se misturaram interesses políticos e de grupos econômicos. Lula foi acusado de favorecer as TVs de olho na reeleição.


Se não estivesse em campanha eleitoral, o presidente provavelmente teria postergado a decisão por mais tempo. Em 2002, o presidente FHC adiou a decisão por causa do período eleitoral. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, defendeu que Lula fizesse o mesmo.


A discussão da TV digital vinha se arrastando havia 12 anos, mas foi acelerada depois que o senador Hélio Costa (PMDB-MG), ex-repórter da Rede Globo e também radiodifusor, assumiu o Ministério das Comunicações, em julho de 2005, e tomou partido dos radiodifusores e do sistema japonês.


O que existiu por trás da guerra da TV digital? Sob uma capa de discussão técnica, houve uma queda-de-braço entre a radiodifusão e as empresas de telefonia. Venceram os radiodifusores, com a ajuda de parte do governo e do ano eleitoral.


O sistema japonês permite que os telefones celulares recebam a programação da TV aberta diretamente pelo ar, sem que os sinais passem pela rede das telefônicas. Esse detalhe técnico, aparentemente irrelevante, permite aos radiodifusores controlar a interação da TV com o celular e protege a radiodifusão da competição com as teles.


A convergência das mídias, e a invasão das empresas de telefonia em mercados que eram exclusivos da radiodifusão, está na base do conflito. O confronto entre os dois setores foi explicitado pelas subsidiárias das indústrias européias baseadas no Brasil, que acusaram Costa de defender o monopólio da radiodifusão.’


Robinson N. dos Santos


TV trará interatividade e maior resolução


‘Dez anos depois de estrear nos EUA e oito anos após o início dos testes pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo , a TV digital chega ao Brasil. Pelo menos no papel, já que será preciso um período de adaptação.


Desde o lançamento do primeiro aparelho doméstico, em 1939, a TV sempre foi uma via de mão única. Com a TV digital, a história será outra e bem mais interessante. Um dos recursos mais alardeados, a interatividade, permitirá que os espectadores possam responder aos programas e aos anúncios, enviando votos e fazendo compras que serão computadas e registradas on-line, como na internet.


Antes que isso aconteça, será preciso que as emissoras transmitam sinal digital e que as casas tenham sintonizadores digitais. São estimados dez anos até que os 46,7 milhões de domicílios que têm televisor no país (90% do total, segundo o IBGE) estejam prontos. Enquanto isso, a TV analógica continuará funcionando.


A interatividade vai exigir também que haja uma via de retorno de sinal que pode ser qualquer canal de conexão com a internet, como o telefone, o celular ou qualquer serviço de banda larga existente. Em tese, seria possível até que os aparelhos de TV viessem equipados com celulares internos para transmissão de dados.


É preciso lembrar que hoje nenhum aparelho, mesmo os mais modernos, está pronto para receber canais digitais. Só agora, com a decisão do governo, a indústria poderá vender sintonizadores digitais. Eles serão necessários enquanto a indústria não embutir os sintonizadores nas TVs novas.


A transmissão da TV aberta é feita por ondas eletromagnéticas, que carregam os sinais captados no estúdio. Essas ondas são emitidas por antenas potentes, situadas em locais estratégicos. Cada canal usa uma faixa de freqüência, também chamada de largura de banda, concedida pelo governo. No Brasil, ela tem 6 MHz.


O sistema analógico usa toda a capacidade da banda para a transmissão de sinais que, graças aos avanços tecnológicos, inclui cor, som estéreo (com recurso de segundo programa de áudio, ou SAP) e legenda.


O sinal digital, por sua vez, é codificado e compactado. Para as emissoras, isso ampliou as possibilidades de transmissão, já que, com os mesmos 6 MHz, é possível transmitir por mais canais (com qualidade variável, mas sempre melhor que o da TV analógica) ou por um único canal, em alta definição.


Uma grande diferença do sinal digital em relação ao analógico está nas condições de transmissão. Enquanto no analógico uma TV pode ‘pegar mal’, com chiados e fantasmas, no sistema digital a TV ‘ou pega ou não pega’. Se a recepção é ruim, a imagem desaparece.


A vantagem é que, ao receber o sinal digital, os decodificadores domésticos (ainda sem preço definido) compensam eventuais falhas, consertando a imagem antes que ela chegue ao vídeo. O resultado será uma recepção estável, com som e imagem no mínimo com qualidade comparável à de um DVD.


Outra promessa da TV digital, a alta resolução anima muita gente, mas será acessível para poucos. Isso porque os aparelhos compatíveis com resoluções HDTV (até 1.080 linhas) ainda são caros. Além disso, o recurso existe apenas nas TVs com 40 polegadas ou mais, que custam a partir de R$ 7.000.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Um radical, qualquer um


‘O ex-blog de Cesar Maia, que pauta a blogosfera tucano-pefelista, atravessou semanas com elogios a Felipe Calderón, candidato conservador no México.


Dizia ser modelo para Geraldo Alckmin, no ataque pessoal ao concorrente López Obrador. Mas há dias o ex-blogueiro parou. E o ‘Financial Times’ aponta ‘sensação crescente de que Obrador pode vencer’.


Para além das pesquisas, que trazem o esquerdista pouco à frente, o ‘FT’ cita um levantamento com investidores estrangeiros e mexicanos. No próximo domingo, para os primeiros, vence Obrador. Para os segundos, Calderón.


– O que move os investidores locais? É provável que seja simples desejo. Afinal, eles não gostam de Obrador.


E tome debate sobre ele ser um Hugo Chávez ou um Lula. Em outro texto, o ‘FT’ não chega a definir, mas dá frases dos últimos dias de Obrador:


– Não vamos aumentar a dívida pública… Não vamos aumentar impostos… [a empresários:] Nada temam.


As declarações ajudam a entender a nova edição da ‘Economist’, que chega perto de apoiar sua eleição no editorial ‘Mudança, por favor’.


Sublinhando que ‘a preocupação no México não é radicalismo, mas a falta de’, diz que com o atual, Vicente Fox, que apóia Calderón, as instituições pouco avançaram.


Fox não agiu, por exemplo, contra ‘o escandaloso quase-monopólio que fez de Carlos Slim, da Telmex, o terceiro homem mais rico do mundo’.


Em favor de Calderón, ‘ele quer reformas que o país precisa’. Mas ‘não será vigoroso na defesa do interesse público contra empresários que financiaram sua campanha’.


Sobra Obrador. E ‘há razões por que uma mudança para a esquerda seria boa’.


Dizendo que as dúvidas ‘não fazem dele uma versão mexicana de Hugo Chávez’, o editorial encerra com a defesa exaltada de mudanças:


– Revisão geral do Congresso, do sistema federativo e da polícia, para começar, e reformas na política de concorrência, de energia, trabalho… O México precisa de um radical para presidente.


ECOS


‘A TV digital vai representar uma conquista de qualidade’, proclamou William Bonner no ‘Jornal Nacional’


Dos telejornais da Globo, sobre o padrão japonês:


– A nova tecnologia é uma revolução na qualidade das transmissões. A TV do futuro… Com a TV digital, imagens e som são transmitidos em linguagem de computador de alta qualidade… Uma transmissão de alta qualidade. Além da imagem de cinema, o padrão japonês vai trazer outras vantagens… Todos os telespectadores serão beneficiados.


Hélio Costa falou. Lula, também. Na home da Globo. com, ‘Veja as vantagens do sistema com alta qualidade’.


VENDETTA!


Até o francês ‘Le Monde’ destacou, em título, que a ‘Imprensa brasileira conta ‘vingar’ a derrota de 98’.


Com dois dias sem jogos, as Globos não cobrem outra coisa. De um apresentador do SporTV para duas atrizes de novela, ontem, ‘dá sensação de ‘quero me vingar’?’. E uma das atrizes, ‘vendetta!’.


‘V’ DE VINGANÇA


No ‘JN’, o cronista Pedro Bial ironizou a resistência de Cafu e outros à palavra, editando supostas perguntas suas em meio a declarações dadas pelos jogadores:


– Ah, então pode chamar de trauma?… Marca, trauma não… A questão parece ser a palavra ‘v’. ‘V’ de vingança.


Se os jogadores resistem tanto, instruiu Bial por fim, com sarcasmo, ‘não quer dizer que o torcedor não possa encarar como vingança’.


AMOTINADOS


Após atacar mas logo ceder a Carlos Alberto Parreira, as Globos acham novo alvo.


Anteontem no SporTV, Milton Leite falava contra o capitão Cafu com o discurso -e a voz- no limite do ódio.


E ontem até Fátima Bernardes entrou no esforço de fixar a imagem de que Cafu foi ‘culpado’ pelas vaias à seleção no jogo contra Gana.


SOB SÍTIO


O Brasil não está sozinho na patriotada. A exemplo do ‘Le Monde’, o jornal inglês ‘The Guardian’ trouxe, em título, que ‘Scolari adiciona mentalidade de sítio, e Portugal se enraivece com imprensa’.


Era referência às entrevistas de jogadores e do treinador, com boicote e ataques aos jornais da Inglaterra, o adversário de hoje da seleção.


Por ‘mentalidade de sítio’, entenda-se ‘fechar o grupo’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo ‘esquarteja’ o final de ‘Belíssima’


‘O último capítulo de ‘Belíssima’ começou a ser gravado ontem envolto em suspense. Ao contrário do que sempre acontece, os atores não receberam o capítulo inteiro, com todas as falas de todos os personagens.


Para tentar manter o suspense sobre os dois grandes mistérios da trama policial de Silvio de Abreu (quem é o mandante de André e quem é o filho/a de Bia Falcão e Murat), a Globo ‘esquartejou’ o episódio 209, no ar na próxima sexta-feira.


Cada ator só está recebendo o texto com as falas e as descrições das cenas em que seu personagem está envolvido. As cenas decisivas só estão sendo entregues aos atores na véspera da gravação. E, mesmo assim, segundo o autor, foram escritos e serão gravados finais falsos para os principais desfechos.


Abreu revelou à Folha, entretanto, que três personagens irão morrer nos minutos finais da segunda novela mais vista de todos os tempos. Num desfecho óbvio, e cômico, Safira (Claudia Raia) irá se casar com Pascoal (Reynaldo Gianecchini), obrigada pelo pai, para que não fique malfalada na rua.


A Globo só irá divulgar à imprensa resumos até o capítulo de quarta-feira, em que o delegado Gilberto (Marcos Palmeira) irá incriminar Bia Falcão (Fernanda Montenegro) por armar a própria morte. No capítulo de quinta-feira, os desfechos começam a se desenrolar, mas o suspense permanecerá até o último episódio.


CARRINHO POR TRÁS 1 A Record quer tirar mais do que afiliadas do SBT no Nordeste. Está articulando um comitê de marketing semelhante ao SBT Nordeste, que divulga a programação regional para grandes anunciantes do Sudeste, o que gera significativa receita para as emissoras locais.


CARRINHO POR TRÁS 2 No SBT, fala-se que a Record garantiu um repasse mínimo mensal de R$ 400 mil para conseguir tirar dele as parceiras de Sergipe e Alagoas, neste mês.


CARRINHO POR TRÁS 3 Executivos da Record dizem que o repasse mínimo não chega a R$ 160 mil por mês. O SBT não garante mínimo. Paga afiliadas conforme a participação delas nas receitas de publicidade em rede nacional _em SE e AL, isso dá R$ 120 mil/mês.


SEIS POR MEIA DÚZIA Apresentado por Silvio Santos, o programa ‘Roda a Roda’, que vem sofrendo no Ibope, vai acabar no final de julho. Será substituído por outra atração que distribua prêmios aos clientes do Baú da Felicidade.


NINGUÉM MERECE Beto Marden, o apresentador pseudo-animado do ‘reality show’ ‘Ídolos’, do SBT, vai virar marca de produtos.


‘CRISTAL’ FRÁGIL Está ruim a maré para a novela ‘Cristal’. Além de não ter decolado no Ibope (está dando sete pontos, três a menos da meta), sofreu duas baixas nos bastidores: o ator Giulio Lopes teve um acidente vascular cerebral em cena e está internado _assim como o diretor de teledramaturgia do SBT, Herval Rossano, com pneumonia.’


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