Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Direto da Redação

ELEIÇÕES 2006
Eliakim Araújo

A guerra na internet, 20/07/2006

‘A campanha presidencial está nas ruas. Os candidatos percorrem o país em busca do voto, no único momento do processo de escolha democrática em que o pobre do eleitor ganha alguma importância. Certamente você já reparou na falsidade do aperto de mão que o candidato dirige ao desconfiado eleitor, sem que este tenha tomado a iniciativa de tamanha intimidade. Mas é assim mesmo. O eleitor que não é bobo sabe que aquele falso aperto de mão, fabricado para as câmeras de TV, não tem nenhum valor e nunca mais se repetirá.

Mas enquanto os candidatos se digladiam no corpo-a-corpo diário, mostrado nos telejornais televisivos, uma verdadeira guerra é travada na rede de computadores. A internet tornou-se hoje um poderoso veículo de divulgação de idéias, sérias algumas, outras nem tanto.

Nos últimos dias recebi várias mensagens contendo um texto da lavra de alguém que se apresenta como funcionário da Vice-Presidência de Finanças e Fiscal de um banco estrangeiro. Prefiro omitir o nome do banco e do articulista, cujo artigo caiu nas graças de um grupo que se auto-intitula ‘formadores de opinião dos menos esclarecidos que não tiveram a mesma sorte de estudar’.

Por aí já dá para desconfiar das intenções do grupo e de sua ideologia política. Atribuir à sorte o privilégio de estudar num país tão socialmente desigual desacredita as pessoas do grupo e o artigo que elas enaltecem.

O tal artigo do bancário (ou banqueiro?), que se diz ‘conhecedor da estratégia comunista’, tem como punctus dolens, aquele surrado argumento de que a rebelião nos presídios paulistas foi fomentada pelo governo petista de Brasília para desestabilizar a candidatura Alckmin, como se a manutenção da ordem em presídios estaduais fosse responsabilidade do governo federal.

Em todo caso, como estamos em plena campanha, certamente muitos leitores vão concordar com o argumento. Afinal, é preciso lançar mão de todos os recursos para fazer valer a vitória do nosso candidato.

Mas, como eu dizia, a internet é terreno fértil para todo tipo de propaganda eleitoral. De um grupo antagônico, recebi, em menor número, diga-se de passagem, mensagem com o objetivo de ‘recuperação da memória’. Nele, o articulista desconhecido relembra alguns feitos do governo Fernando Henrique Cardoso, numa nítida intenção de desestabilizar a já combalida candidatura do tucano Geraldo Alckmin.

Entre outras coisas, o texto destaca que o funcionalismo público não teve um centavo de um aumento durante os oito anos da era FHC e os militares tiveram apenas 28 por cento. Que as empresas estatais brasileiras foram privatizadas para pagar a dívida pública, que mesmo assim acabou aumentando em cinco vezes. Que a Vale do Rio Doce, uma empresa lucrativa e estratégica, foi entregue de mão beijada ao capital estrangeiro. Que para a aprovação da emenda da reeleição, parlamentares foram comprados (sic) por 200 mil reais. Que indicou para a presidência do Senado, por duas vezes, Jader Barbalho, mesmo depois de sua ligação com os escândalos no Banco da Amazônia e da polpuda verba destinada à criação de pererecas da mulher dele. Que criou o PROER, um mecanismo que ajudou a salvar bancos quebrados e enriquecer banqueiros desonestos, com o dinheiro do contribuinte. E por aí vai. Tem muito mais coisa, mas seria temerário e cansativo transcrevê-las neste espaço.

Como se vê, munição não falta. Enquanto a campanha esquenta nas ruas, na internet ela virou guerra. Para quem gosta, é um prato cheio.’



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo

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