Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Direto da Redação

WEBJORNALISMO
Claudio Lessa

Censura na internet, 14/11/06

‘Desde que foi descoberto, Minas Gerais está onde sempre esteve. Easy, easy, boys and girls: de pai e mãe, minha família é mineira. Eu sei muito bem do que estou falando. O berço da hipocrisia nacional já nos deu, entre outras coisas, o cumprimento com a mão mole, o sorriso pela frente e a facada pelas costas, o Quinzinho Silvério dos Reis, e mais recentemente um exemplo do mais absoluto maquiavelismo político: um líder caloroso, que é só sorrisos para o candidato de seu partido, entrega – com a alma e a consciência enregeladas, como seu sobrenome – o seu cacife eleitoral de quase oitenta por cento da preferência popular nas mãos do adversário.

São de Minas Gerais as estórias sobre a origem e disseminação da mentalidade provinciana, a farta distribuição de cartórios, o mensalão, e de como administrar as rígidas ordens paternas de que as filhas estejam em casa nem um minuto depois dez da noite.

Agora, tudo se funde e Minas Gerais – que, realmente, não conseguiu jamais superar o trauma do surgimento do telefone, do rádio, da televisão e da máquina copiadora (faxes e computadores? Nem pensar!) – trama para impor ao resto do Brasil seu modo tacanho de encarar a internet.

O curioso nessa situação é que um dos pais do mensalão é o autor de um projeto que transforma – bem ao gosto dos mineiros – a internet num cartório. Para que todos os brasileiros possam usar uma rede mundial de computadores que não tem dono, o pobre senador Eduardo Azeredo de mentalidade seiscentista quer obrigar as pessoas a fazerem cadastros, preencherem fichas, darem nome completo, identidade, CPF. Falta o carimbo, mas essa pode ser uma jogada não-tão-seiscentista do pobre senador, assim: ele pode ter descoberto um nicho de mercado. Quem sabe ele e o pessoal da Gamecorp já não têm um projeto tecnológico de um mouse-carimbo? Isso poderia render milhões, e para variar, legalmente.

A ameaça mineira de complicar a vida do internauta sob alegação de que são cometidos crimes financeiros no sistema, e de acordo com a tabula rasa cartorial das cabeças pensantes de Minas Gerais, todos têm que pagar pelo crime de alguns poucos.

Acontece que, ainda que de namorico com regimes ditatoriais como o Irã, Cuba, China e Coréia do Norte, o Brasil – não se sabe até quando – é uma democracia, e a tentativa de se entupir uma rede que congrega milhões de usuários em dezenas de países só passa mesmo pela cabeça desses anões com espírito de porco autoritário – lá fora, porque ou não se aceita oposição a regimes como o do obsoleto Fidel Castro, ou não se permite o interesse por sexo ou religião fora daquilo que a autoridade prescreve; aqui, porque a zelite quer desesperadamente a manutenção do atraso, e a internet é a porta do futuro.

Muitos dizem que o comunismo começou a descer sua ladeira quando o mimeógrafo surgiu. Neste século 21, pelo menos até agora, quem tenta controlar a internet tem conseguido mais ou menos o mesmo que os cães conseguem quando latem e uivam para a Lua, ou o que os petistas conseguiram vociferando durante anos contra o FMI, outros organismos multilaterais e as multinacionais: nada.

(*) Âncora, repórter e editor. Trabalhou na Rede Globo, Radiobrás, Voz da América, Rede Manchete, Rádio JB e CBS Brasil. Foi correspondente na Casa Branca durante vários anos. Vive e trabalha atualmente em Brasília.’



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