Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Direto da Redação

ELEIÇÕES 2006
Eliakim Araujo

Debate esvaziado, 26/10/06

‘No primeiro turno, o debate da Globo na véspera da eleição levou uma formidável vantagem sobre os anteriores – nas demais emissoras – em termos de prestígio (e audiência). Afinal, na semana que antecedeu o pleito foram divulgadas as fotos dos pacotes de dinheiro que deveriam comprar o célebre dossiê dos Vendoim, naquela jogada armada pelo delegado Bruno, da Polícia Federal, em conluio com alguns setores da mídia.

Isso fez com que todas as atenções se voltassem para o confronto final e decisivo. Com a ausência do presidente-candidato, Alckmin, Heloisa e Cristovam deitaram e rolaram. Sem defesa, com a Globo do mostrando a todo instante a cadeira vazia, Lula virou saco de pancadas. Quem ganhou foi o tucano que conseguiu reverter a tendência da eleição de Lula logo no primeiro turno, como previam unanimente as pesquisas de intenção de voto.

Neste segundo turno, entretanto, tudo indica que o debate da Globo, por ser o último, vai ser um fiasco. Digo isso depois de assistir ao debate da Record. Impressionante, parece um video-tape dos debates da Band e do SBT. O desgaste dos candidatos – que se transfere ao telespectador – é evidente. Eles não têm mais o que dizer, o que perguntar e o que responder. Não será o fato de ser o último e na Globo que vai modificar esse panorama. Ficou chato, para não dizer intragável assistir àquele ramerrão de mentiras e troca de acusações. Vejo apenas por dever profissional.

A monotonia que tomou conta desse desgastante final de campanha foi muito bem captada pelo jornal argentino El Clarin. Para o jornal, o país está ‘anestesiado por uma guerra que gera mais cansaço do que entusiasmo’. A diferença de mais de 20 pontos nas pesquisas entre Lula e Alckmin também contribui para esse desânimo, diz o jornal, e a votação do dia 29 ‘parece mais uma sondagem para determinar qual será a vantagem do ganhador, mas não há muitas dúvidas sobre quem levará a vitória’. O Clarin encheu a bola de Alckmin, afirmando que ele demonstrou ser ‘um político sólido e determinado (…) e que seu rótulo de insosso é apenas um estereótipo’.

Nesse cenário, qualquer enfrentamento entre os candidatos nessa reta final é chover no molhado. Uma enfadonha repetição de tudo que foi dito nos anteriores e o eleitor já sabe de cor e salteado. A não ser que haja algum acontecimento do tipo ‘nitroglicerina pura’ que jogue lixo no ventilador. Mas aparentemente isso é improvável, não só pela falta de tempo útil, como porque a oposição já gastou os últimos cartuchos.

De toda forma, se não houver surpresa, o país vai ter que conviver com o presidente Lula por mais quatro anos. Para alegria de uns e raiva de outros. E aí é que reside a grande dúvida: suportará ele o bombardeio dessa oposição raivosa, inconformada com a derrota que as urnas vão lhe impingir?

(*)Ancorou o primeiro canal internacional de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, da Manchete e do SBT e noticiarista da Rádio JB. Tem uma empresa de assessoria em jornalismo e marketing.’



LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Rui Martins

Quem censura não pode falar em moralização, 27/10/06

‘Berna (Suiça) – Eu bem que gostaria de participar dessa campanha de moralização, lançada no país pela grande media, jornais, rádios e televisão. Mas, talvez por viver no exterior, há certas coisas que não entendo, pois, segundo o que leio, me parece haver dois tipos de corrupção – a de direita, menos atacada por ser talvez considerada menos aviltante, e a corrupção de esquerda, intolerável para a grande maioria dos cronistas e editorialistas.

Incapaz de jogar fora recortes de jornal, artigos e mesmo rascunhos que se acumulam na minha mesa, encontrei no meio do meu arquivo uma coluna escrita há alguns meses, bem antes dos atuais escândalos e campanhas de moralização, que acabei não enviando para publicação. Ora, achei que essa coluna tinha ângulos atuais e poderia se integrar na atual campanha de combate à corrupção, ao escrever ontem um artigo para um jornal de Portugal, pois o governo suíço, com a preocupação de acabar com a imagem de um país Caverna de Ali Babá, está fazendo de tudo para devolver as contas e tesouros ali escondidos e me lembrei das contas de Paulo Maluf, cujos extratos foram enviados ao Brasil, e do processo que provavelmente será arquivado por falta de provas (!).

Mas deixo a vocês a decisão de ler ou não, o artigo abaixo, que, mesmo remanejado, tem gosto de pão amanhecido.

….. Li faz algum tempo uma entrevista da diretora da CBN e do Sistema Globo de Rádio, informando sua intenção de editar um documento sobre os pontos altos da CBN, para comemorar seus 15 anos de existência.

Num arroubo de generosidade, lembrou de Celso de Freitas, o ex-chefe da redação de São Paulo. Não me lembro se falou também em Maria Lydia. Parece que ambos foram sacrificados em nome da racionalização da empresa. Prática hoje bastante comum em todo mundo, recomendada pelos neocolonialistas em Davos, e que justifica a política dos baixos salários e das demissões periódicas.

Já que existe generosidade na empresa CBN e que seus aficionados poderão ouvir e se lembrar de Celso de Freitas em alguns momentos importantes da história da conversão da Rádio Excelsior de São Paulo na cabeça da rede nacional CBN, imagino também que sobrarão alguns minutos na restrospectiva CBN para este jornalista.

Mesmo se não hesitou em destacar em artigos, e-mail, livro e crônicas pela Internet, a versão lançada, no Correio da Paraíba, pelo colega Carlos Aranha de uma relação de causa e efeito entre sua demissão por telefone e um interêsse da CBN, em 2002, de evitar uma campanha contra as contas secretas suíças de Paulo Maluf, então candidato a governador de São Paulo.

De acordo com Carlos Aranha, corajoso jornalista, meus boletins falando em primeira mão das contas de Maluf não agradavam à direção da empresa, hoje reconvertida em vibrante denunciadora da corrupção.

Em todo caso, em fevereiro de 2002, impedir ao correspondente de Genebra de continuar falando sobre as contas de Maluf, dando número de processo e transmitindo depoimentos da polícia federal suíça, consistia em ajudar eleitoralmente o candidato a governador. Transformar em brincadeira a farsa malufista do ‘não tenho dinheiro na Suíça’ era uma esperta maneira de esvaziar as denúncias e transformar tudo numa piada sem maiores consequências. O resultado é a enorme votação dada a Maluf, que praticamente encerra o processo contra ele aberto, responsável mesmo por sua prisão, apesar das provas de suas contas bancárias enviadas pela Suíça. Tanto trabalho do juiz Sílvio Marques e da justiça suíça, para nada.

Outro jornalista, Luiz Carlos Guedes, num artigo publicado em seu site (www.riototal.com.br), explicava, na época, porque a empresa protegia Maluf – porquê se o homem fôsse eleito governador, isso ajudaria um plano de transferência para São Paulo de muitas atividades da empresa. Salvei esse artigo, que poderei enviar aos interessados.

Por isso, já que a CBN se tornou arauto da luta contra a corrupção, gostaria de ver incluído no documento comemorativo dos seus 15 anos, trechos dos meus fatídicos 22 boletins sobre as contas de Maluf, reunidos atualmente no livro Dinheiro Sujo da Corrupção. E, assim, a empresa poderá continuar sem rabo-curto sua atual campanha pela moralização da política brasileira.

Só não deixarei de entregar à FENAJ a carta na qual considero a BBC e a RFI praticantes de dumping salarial contra jornalistas brasileiros, fornecendo boletins informativos gratuitos a rádios comerciais como CBN e outras tantas. Boletins que permitiram à CBN e outras enxugar suas despesas. Decisão que, em nome da atual campanha pela moralização da vida política brasileira, deveria ser revista..

Sem se falar na questão de defesa nacional. Porque não me parece correto uma rádio comercial do pêso de CBN e outras viverem de boletins estrangeiros gratuitos da BBC e RFI, cujo conteúdo não deve ser isento de outras intenções. Porquê nem o Foreign Office e nem o Quai d´Orsay devem gastar milhões de libras e euros com o serviço brasileiro da BBC e da RFI por amor dos nossos filhinhos.

(*) Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Escreveu O Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre a Suíça e Maluf. Vive em Berna, Suíça, onde é correspondente do Expresso, de Lisboa.’



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