Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eleno Mendonça

‘Todo início de ano é a mesma coisa. Os jornais ouvem os principais economistas do País e fazem a tradicional matéria das previsões. Crescimento, inflação, balança, câmbio estão entre as apostas. O que poucos fazem, depois, é checar se essas previsões deram certo. Neste ano, particularmente, os erros foram enormes e vejam que a crise política até aqui interferiu muito pouco, ou quase nada, nesses indicadores.

Erraram e erraram feio os nossos especialistas. Previam câmbio de quase R$ 3,00 e está na faixa de R$ 2,20. Falavam de crescimento no mínimo igual ao do ano passado, se der 2,5% é muito. A inflação iria a quase 7%, está na faixa dos 5,5% e por aí vai. É bem verdade que a taxa de juro maluca do Banco Central desmonta qualquer previsão, mas não se pode admitir erros tão grandes.

Fico imaginando as empresas que pagam por consultorias e aconselhamentos a esse respeito. E olha que não são poucas e pagam muito bem.

Bom, mas a verdade é que num país como o Brasil é complicado mesmo fazer qualquer prognóstico sobre qualquer coisa. Quem diria, há oito meses, que o PT se veria no meio de uma crise de corrupção desse tamanho e que o presidente Lula estivesse nessa crise de credibilidade? Afinal, o PT era o símbolo da moralidade, da moral e dos bons costumes. Outro dia vi uma entrevista do deputado Vicentinho. Ele dizia que sempre imaginou estar naquele momento discutindo reforma trabalhista ou política e que jamais imaginaria estar no olho do furacão. Vicentinho é uma das pessoas mais honestas e diretas que conheci. Se ele, que está e sempre esteve dentro da vida do PT não sabia de nada, imaginem os analistas?

Por isso é preciso sempre, como jornalista, ler e desconfiar. Não se pode comprar tudo ao preço que é vendido. Assim, quando você observar algum ‘especialista’ ditando regras, cuidado. Além, de todas as ponderações que ele colocar, coloque as suas e tire você mesmo suas conclusões. Antes, porém, lembre-se, estamos no País do improvável, onde, como diria Lucas Silva e Silva naquele famoso seriado da TV Cultura, ‘ tudo pode acontecer’.’

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‘Um País que anda, apesar de tudo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 9/08/05

‘Muitas pessoas se perguntam no Brasil e, principalmente, no exterior, por que motivos em meio a tanta corrupção, a tanta crise política, a economia, pelo menos no momento, caminha bem. A mídia se limita a retratar essa realidade, mas não se aprofunda nem no que pode ser o futuro dessa crise política na economia nem com as reais causas dessa aparente estabilidade.

Muitos falam em blindagem, como se isso fosse assim fácil e possível. Eu prefiro acreditar na dinâmica das coisas. Acho que os empresários e a população em geral chegam num ponto em que passam a ignorar tudo isso. Antes, porém, e estamos vivendo isso, suspendem projetos que envolvam mais dinheiro e comprometem fases da vida, seja da pessoa física ou jurídica. Isso resulta em paralisia em mercados importantes, como o imobiliário, da construção. Nas empresas, investimentos são suspensos. O reflexo de tudo isso virá no médio prazo, com menos emprego, ou pelo menos com oferta de vagas numa velocidade bem menor que o ritmo ou que o desejado. Isso tudo, evidentemente, reflete no todo e prejudica sim a taxa de crescimento.

Bem, se isso não é afetar a economia, ou se os que discordam acharem que estou sendo excessivamente pessimista, poderão então concluir que nada disso irá acontecer e que todos os indicadores continuarão bons. Supondo isso, então seria também plausível imaginar que país poderia ser o Brasil sem esse mar de lamas? Ou seja, se é possível continuar crescendo, sem essa crise daríamos verdadeiros saltos então.

Há uma teoria na economia que, independente dos governos e suas crises, chega um momento em que é impossível esperar pelo lado oficial. Talvez isso explique o fato de que, mesmo sem nenhuma mudança radicalm alguns mandatos, no Brasil e fora, revelam países de economia crescente e sólida. Chega um ponto em que o empresário investe e encara o risco e as pessoas não podem, simplesmente, adiar sonhos de consumo a vida toda. Esse fenômeno responde pela contramão entre fatos políticos e econômicos.

De todo modo, continuo achando que há nuvens cinzentas rondando. Afinal, mesmo partindo do pressuposto de que Lula não ouviu, não viu e nem falou nada, é difícil acreditar que ele continuará em campanha sem uma reação dos virtuais candidatos da oposição. Talvez por isso, em nome da estabilidade econômica, fosse conveniente ao presidente procurar viajar menos, trabalhar mais e tentar dar interesse e dedicação às coisas mais reais, em vez de optar pelo discurso, pelo ataque, pelo palanque. É bom lembrar que quem fala o que quer corre o risco de ouvir o que não quer. Ele não tem, por isso, de abdicar da condição de reelegível, mas apenas entender que o momento talvez não seja esse, que primeiro é preciso governar.’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

‘Boas oportunidades’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 10/08/05

‘A CNN International lançou na última 5ª.feira (4/8), em comemoração aos seus 25 anos de vida, o concurso cultural CNN – Jornalistas do Amanhã, destinado a estudantes de jornalismo com idades entre 19 e 25 anos, e que tem como objetivo incentivar futuros repórteres e jornalistas a escreverem com qualidade e responsabilidade. Para participar, os interessados deverão inscrever produzir e gravar em DVD uma matéria com até dois minutos de duração sobre o tema Meio Ambiente: pesquisa e preservação – A saúde da terra brasileira. O vencedor ganhará uma viagem para conhecer os estúdios da CNN, em Atlanta, além de ter o trabalho exibido na CNN International em pelo menos dois horários. Complicado? Sim, porque o regulamento é muito severo e exigente, mas não deixa de ser uma oportunidade de ouro. Os detalhes podem ser conferidos diretamente no site www.cnnjornalistasdoamanha.com.br, lembrando que o prazo de inscrição é até 7 de outubro.

Jornalistas&Cia separou uma outra oportunidade internacional, esta, porém, destinada a jornalistas profissionais em meio de carreira e que atuem, com contrato formal, no serviço público (pode ser Legislativo, Executivo ou Judiciário) ou em alguma organização do terceiro setor. Trata-se do Programa Hubert H. Humphrey, promovido pela Comissão Fulbright Brasil, que oferece aos que trabalham nas áreas de interesse do projeto bolsas de estudos para aperfeiçoamento profissional nos Estados Unidos. São 14 as atividades escolhidas pela Comissão para a concessão de bolsas, sendo uma delas o Jornalismo – infelizmente não para todo e qualquer jornalista, mas para aqueles que atuem em áreas como agricultura, saúde, planejamento familiar, nutrição e educação. A duração do programa é de 11 meses e são exigidos do candidato nível superior (preferencialmente mestrado), cidadania brasileira, mínimo de cinco anos de experiência, vínculo empregatício com organização do setor público ou terceiro setor, além de domínio da língua inglesa. O programa oferece benefícios como passagem, seguro-saúde, bolsa mensal etc e as inscrições vão até 1º de setembro. Os detalhes podem ser conferidos no www.fulbright.org.br, item Bolsas de Estudos/Bolsas para Brasileiros. Vale a pena conhecer melhor os detalhes, até porque de repente você conhecerá alguém de uma outra atividade para quem possa passar a dica. Fica aí a sugestão.

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E o blog do Noblat, hein!

Ex-colunista e editor do Jornal do Brasil e ex-diretor de Redação do Correio Braziliense, Ricardo Noblat é hoje um dos mais respeitados nomes da cobertura política do País e o blog que pilota, o www.noblat.com.br, acaba de ultrapassar a barreira de 1 milhão de visitantes/mês, tendo como destaque a crise política envolvendo o Congresso e o Governo Lula.

Jornalistas&Cia aproveitou para fazer um rápido ping-pong com ele, interessado em saber um pouco a fórmula do sucesso e (tão importante quanto) se ele está hoje conseguindo sobreviver desta atividade, já que se trata de um nicho de mercado e uma alternativa profissional que outros jornalistas podem pensar em trilhar. Acompanhe:

J&Cia – A que você atribui esse sucesso?

Noblat – Basicamente a três razões: 1. À própria crise política por que passa o governo. As pessoas estão interessadas em se informar e em se manter atualizadas dos fatos ao longo do dia. Os outros sites de notícias, que possuem estruturas maiores, também noticiam, mas os blogs, não só o meu, procuram atualizar as notícias de forma mais rápida, proporcionando maior velocidade no envio de informações; 2. Porque desde março, quando ele foi criado, tenho conseguido antecipar as notícias, e em alguns casos com furos importantes sobre o andamento da política e da crise atual; e 3. Porque o blog se preocupa não só com a veiculação das notícias, mas em interpretá-las e analisá-las, contextualizando-as sempre para o leitor, além de explicar o significado das notícias e o que se esconde por de trás delas.

J&Cia – Hoje você consegue sobreviver desta atividade?

Noblat – De março para cá fui contratado pelo iG, que hospeda o blog, mas antes disso trabalhava de graça. Atualmente o que recebo do meu trabalho dá para pagar algumas contas, não todas. Estou me dedicando exclusivamente a esse blog, e tentando viver de seu retorno.

J&Cia – Como tem sido a receptividade do projeto junto a eventuais anunciantes e patrocinadores?

Noblat – Não tenho participação alguma nessa parte, pois não misturo conteúdo com publicidade. Quem cuida da parte comercial dele é o próprio iG e uma empresa de Brasília chamada Digital Media Vox.

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Boa sorte para Ana Paula Padrão e equipe

E não poderia terminar a coluna desta semana sem desejar toda a sorte do mundo a Ana Paula Padrão e equipe, com os votos de vida longa para o SBT Brasil, que estréia na próxima segunda-feira (15/8), às 19h15. A chegada desse novo telejornal está sendo muito importante não só para o próprio jornalismo mas também para o mercado de trabalho. Quantos postos novos não foram abertos, por conta desse projeto, tanto lá mesmo no SBT, quanto nas demais emissoras?

Que a briga pela audiência esquente, pois isso será positivo para a qualidade de nossos telejornais e para o aprimoramento profissional.’



PLAYBOY, 30 ANOS
Ivan Carvalho Finotti

‘Betty coelha, nua sem pêlo’, copyright O Estado de S. Paulo, 14/08/05

‘É o paraíso segundo Hugh Hefner. Na segunda-feira, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi palco de uma recepção que contou com dezenas de celebridades. Celebridades de todos os tipos: famosas, semifamosas, ex-famosas e até celebridades anônimas. Mas seja lá qual for o grau de reconhecimento, nenhuma estava ali para admirar as 11 mil obras do museu carioca. Estavam ali para ser admiradas. Eram, afinal, algumas das 360 mulheres que foram capa e recheio da revista Playboy em seus 30 anos de existência no Brasil.

Estavam lá, entre outras, Christiane Torloni (que posou em março de 1983 e novembro de 1984), Suzana Vieira (abril de 1985), Dany Bananinha (março de 2001 e de 2004), Alcione Mazzeo (janeiro de 1980), Elba Ramalho (fevereiro de 1989), Lucinha Lins (agosto de 1984), Thaís do BBB (janeiro de 2003), Isis de Oliveira (agosto de 1983 e novembro de 1991), Núbia Ólive (junho de 1993), Yoná Magalhães (fevereiro de 1986), Isabel Filardis (novembro de 1996), Tássia Camargo (junho de 1982, junho de 1985 e dezembro de 1989), Mari Alexandre (abril de 1992), Monica Carvalho (maio de 1993 e julho de 2001), Luize Altenhofen (janeiro e dezembro de 2001), Sylvia Bandeira (abril de 1983), Terezinha Sodré (outubro de 1986), Kelly Key (dezembro de 2002), Diana Bouth (julho de 2005), Suzane Carvalho (outubro de 1982), Magda Cotrofe (maio de 1985, dezembro de 1986 e outubro de 1987), Solange Gomes (junho de 1996), Dominique Scudera (junho de 1995), Sandrinha do Caldeirão (setembro de 2004), Manuela do BBB (setembro de 2002), Grazi do BBB (este mês). É muita mulher; é o paraíso segundo Hugh Hefner.

Mas faltou gente nesse paraíso. Faltou Betty Faria. Ela não é só mais uma atriz da Globo que virou coelhinha ao tirar a roupa nas páginas de Playboy. Betty Faria, moradora do Leblon, mãe de dois e avó de quatro, foi a mulher que abriu o caminho para todas essas aí em cima. Foi a primeira grande estrela do Brasil a aceitar posar nua para a revista, em agosto de 1978. Até então, a Playboy usava modelos desconhecidas do grande público. Tão desconhecidas que não tinham nem sobrenome. Apareciam na capa assim: Lívia, Claire, Neide, Lourênia, Darcy ou Suzie. De vez em quando os redatores estavam inspirados, buscavam apostos explicativos: Leila, a carioca, ou Bianca, a bailarina.

Por isso, quando Betty Faria aceitou fazer a Playboy, ajudou a catapultar a revista para outro nível. ‘As fotos ficaram muito bonitas, de muita categoria, muito chiques. É um momento da vida em que a mulher está sendo muito aplaudida, com sua vaidade à flor da pele. E acho que valeu ter registrado esse momento por diversas razões, até pelo fato de hoje poder dar esta entrevista sobre o assunto’, diz Betty coelha.

E a festa dos 30 anos? Por que não foi? ‘Uma amiga disse que ia ser engraçado. Ela foi, então não vou dizer quem é ela. Mas eu pensei ‘vai ser engraçado por quê?’, Gente, qual é a graça? Eu não estou mais nesse momento. É engraçado para quem está nesse momento. Está vivendo isso agora, está fazendo a foto. Eu não esnobei a festa, quero deixar claro. Não fui porque ia me sentir deslocada.’

Mas, Betty, não seria engraçado uma avó na festa da Playboy? ‘Ahahah, é verdade. Sei lá, talvez, talvez, eu não sei. Mas sei que ia ficar deslocada. Festa, em geral, eu gosto das que eu tenho mais em comum com as pessoas. Eu não ia conhecer ninguém lá, entende? Ia chegar lá e dizer ‘Opa, fui a primeira capa. E aí, tudo bem?’ Ahahah… Acho que seria mais interessante para os homens irem, com todas essas mulheres gostosonas.’

Quando Betty Faria resolveu posar para a Playboy, ela havia acabado de terminar um casamento atribulado com o diretor Daniel Filho. Estava até um tanto deprimida, conforme contou em fevereiro de 1982 na entrevistona da Playboy: ‘No auge do meu sucesso, eu me sentia velha, feia e mal-amada. Isso foi muito violento’.

Assim, Betty saiu do casamento e saiu na Playboy. Mas, hoje, ela não liga uma coisa à outra. ‘Não, não, não. Nenhuma separação é agradável. Algumas vêm a público e outras não. A minha veio por total falta de sabedoria e bom senso da minha parte. Acho que não tem nada a ver com isso o fato de ter posado nua. Mas o fato de não estar casada tem. Isso influi muito, porque você, não estando casada, tem mais liberdade de fazer esse tipo de coisa. Porque homem, quando gosta realmente, não fica contente. Seja nos anos 70, 80 ou em 2010. Só se tiver um fetiche que vejam a mulher dele assim.’

Em agosto de 1978, a Playboy estava em seu terceiro aniversário. Para comemorar a data, a equipe resolveu convidar uma estrela da Globo. ‘Betty Faria, finalmente, tirou a roupa – especialmente para esta festa!’, exclamava o editorial comemorativo. Na época, a Playboy tinha uma circulação de 175 mil exemplares. O recorde atual é da Feiticeira Joana Prado, com 1,1 milhão de exemplares vendidos em dezembro de 1999. A Feiticeira, aliás, também não foi à festa de segunda: casou com o rei do jiu-jítsu e virou evangélica.

Mas em 1978 as coisas eram bem diferentes. Para começar, a revista não publicava pêlos. Não é que as moças precisassem entrar na gilete. É que a Playboy dos anos 70 escondia a região pubiana de todas as formas. O ensaio de Betty Faria, que tinha 37 anos, começa com a atriz escorada num piano de cauda, fazendo strip-tease. Na série de fotos, ela está sempre usando calcinha branca por baixo do vestido branco cheio de rendas que teima em esvoaçar. Na dupla final, está numa banheira de espuma.

Em uma foto mais ousada, a menor do ensaio, Betty está sentada de frente, num sofá, apenas de sapatos de salto alto, mas com as pernas bem fechadinhas. Nas fotos restantes, aparece de calcinha. Assim, as oito páginas do ensaio que inaugurou a era das celebridades na Playboy mostram apenas os seios de Betty Faria. ‘Se fiquei orgulhosa? Ah, mas puxa, claro que sim. Tenho os peitos tão pequenos que seriam fora de moda agora. Tanto silicone, né? Como é que gostam disso?’, pergunta Betty hoje, aos 64.

Em 30 anos de Playboy, muita coisa já mudou na revista. Em seus primeiros dois anos, aliás, nem Playboy se chamava. O nome original era Homem e a mudança para a alcunha americana ocorreu em julho de 1978. E, se nos anos 70 a calcinha ou a espuma eram itens obrigatórios, na década de 80 as mulheres já podiam exibir livremente as partes de baixo, ainda que com alguma parcimônia. Nos 90, as poses foram se tornando cada vez mais ousadas, sem falar no uso indiscriminado do photoshop, um programa de computador que maquia as fotos, coisa inexistente nos loucos anos 70. Mas tem uma coisa que nunca muda na Playboy: a poesia que acompanha as fotos. Aqui, o melhor momento do ensaio de Betty:

‘Agora que você já está bem informado até mesmo sobre a técnica de Betty se ensaboar, ela revela, em primeira mão, que logo aparecerá em outro banho revelador. Mas esse será um lago do Alto Xingu, infestado de ferozes piranhas. O diretor do filme é Cacá Diegues, que ainda não decidiu quem vai ser o galã de Betty. Atenção: ele também não escolheu ainda os figurantes que farão os papéis de piranhas’.

O filme em questão, que seria rodado e lançado no ano seguinte, se chamaria Bye Bye, Brasil, no qual Betty faria a inesquecível Salomé da caravana Rolidei. O papel de galã acabaria com José Wilker, mas as piranhas não foram vistas até hoje; tratava-se provavelmente de devaneio poético do redator.

Em outubro de 1984, com 43 anos, Betty posou pela segunda vez para a revista. Se na primeira tinha ganhado praticamente o mesmo que seu salário mensal na Rede Globo, nos anos 80 ela recebeu o equivalente a um carro médio. ‘Quando a pessoa topa, não é por dinheiro. Foram momentos que registrei da minha vida. Nunca tive preconceito, e fiz sempre coisas bonitas, acho que foi uma produção bem chique, bem-cuidada.’ O segundo ensaio foi feito em Paraty e o terceiro quase aconteceu em 1989, quando Betty estava com tudo em cima no papel de Tieta. ‘Um dia cheguei da gravação e meu filho João estava falando com uma pessoa da Playboy. Eles tinham ligado para uma sondagem, uma primeira sondagem, para saber se eu queria fazer de novo. E o João, que tinha 14 anos, disse assim: ‘Não, cara. É o seguinte, agora meus amigos compram a revista. Ela não vai fazer, não. Só se ela me pagar estudo fora do Brasil’. E aí eu não fiz, claro. Só não fiz por causa do meu filho. E também porque já tinha passado esse momento, de muita vaidade, muito egocentrada.’

Betty está mesmo em outra: ‘Eu acho a vida maravilhosa. Todas as etapas têm encantos. E eu tenho vivido intensamente todas as minhas etapas. Estou vivendo uma etapa diferente, com outros interesses. A mulher tem de amadurecer com dignidade. Primeiro, não diminuir a idade em dois ou quatro anos. Minhas colegas estão todas mais novas do que eu agora. E as mais velhas, estão todas da minha idade! Se toca, né?’.

E esse papo de ser avó está fazendo Betty ter cada vez mais idéias sobre o assunto. Mas, também, os netos não param de chegar: na sexta da semana passada nasceu o quarto, Antonio Daniel. ‘Como atriz, estou querendo fazer papéis de avó. Não fiz ainda porque as pessoas me olham como coroa gostosona, entende? Eu quero fazer papel de avó de cabelo branco, sem maquiagem. Isso não quer dizer que eu não queira ser uma velhinha gostosinha. Vou querer sempre ser uma velhinha gostosinha. Bem bonitinha.’’



Sérgio Rodrigues

‘Em defesa da Grazi’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 9/08/05

‘Não se deve levar muito a sério a onda de decepção que parece estar se formando com o desempenho da Grazi – apelido de Grazielli Massafera, estrela do último ‘Big Brother Brasil’ – no ensaio fotográfico que sustenta a robusta (280 páginas) edição comemorativa dos 30 anos da ‘Playboy’. Ontem, no site Blue Bus, um ejaculador precoce que nem esperou pela edição de papel – viu tudo num site pirata – deu seu veredito, e ele não era lisonjeiro: a revista, sustentou, simplesmente não deve ser comprada. Grazi estaria ‘muito comportada, quase uma freira’. O tiro de misericórdia foi o seguinte: ‘A moça é bonita mas o ensaio é porcaria.’

Não é bem assim. Grazi é uma mulher tão merecedora de adjetivos gulosos que poderia ter sido fotografada com uma Kodak descartável, contra a luz, com filme vencido e em enquadramentos cambetas, que mesmo assim continuaria justificando o desembolso do valor de uma ‘Playboy’. No caso, reconheça-se que o longo ensaio fotográfico, assinado pela competente Nana Moraes, não é exatamente uma explosão de sensualidade. O clima predominante é de propaganda de leite desnatado: luz suave, roupas e adereços de cor clara, flores, sorrisos radiantes e até, num excesso de singeleza que beira a comicidade, um coelhinho branco que Grazi, amiga dos animais fofos, abraça e cheira. É nesse bichinho, supõe-se, que o leitor deve se projetar em busca de aproximação com a loura.

Acabou de amanhecer no ensaio da Grazi, uma manhã sem ressaca e sem culpa. Atenção, convém não confundir as coisas: ela está nuinha, inteira lá, com a única exceção do enquadramento ginecológico que tem se tornado obrigatório quando a fotografada é, digamos, menos ‘família’. Aí chegamos ao xis da questão: a loura, anunciada pelo editor como ‘a mulher perfeita’, vende-se ao leitor como namorada-noivinha-esposa mesmo – é pegar ou largar. Não podíamos estar mais distantes daquele gênero bandida-fatal-puta que, por exemplo, Diana Bouth representava na edição do mês passado, para revolta do colega Pedro Doria.

Fazer o quê? A julgar pelas marchas e contramarchas que envolveram sua negociação com a revista, Grazi parece ser assim mesmo. Se algum pecado o pessoal da ‘Playboy’ cometeu no ensaio, não importa se por conta própria ou forçado por cláusulas restritivas do contrato, terá sido apenas o de traduzir isso visualmente. Pode-se até lamentar tal clima, só não se deve esquecer que foi exatamente ele, aliado à beleza fulgurante da loura, que fez a banda masculina do país relevar aqueles erres de José Dirceu e prostrar-se aos pés dela – bonitos pés, diga-se – enquanto durou o BBB.

O problema da ‘decepção com a Grazi’ que começa a circular por aí parece ser outro, mais sério: é que o BBB virou passado remoto. Quando desejávamos essa mulher em uníssono, não havia mensalão, mal prestávamos atenção em Roberto Jefferson, Marcos Valério era ninguém. Ou seja, vivíamos num Brasil diferente. Talvez Grazi tenha tardado demais a tirar a roupa, numa demora típica de namoradinhas e noivas – mas essas têm beijos longos, suspiros e olhares profundos, armas com que vão enrolando o candidato enquanto não se entregam por completo. Não é, convenhamos, o caso de Grazielli, que apenas sumiu de circulação. Somos todos menos apaixonados por ela hoje do que éramos então, o que é uma pena.

Mas que vale uma boa olhada, vale.’



Jose Paulo Lanyi

‘O charme da mentira’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/08/05

‘Está nas bancas a coletânea ‘As 30 Melhores Entrevistas de Playboy’, que compreende o período de agosto de 75 a agosto deste ano. É um belíssimo material, até quem comprava a revista ‘só para ver as ilustrações’ deve concordar comigo. Nesta auto-intitulada edição de colecionador, as personagens são agrupadas por área de afinidade. Daí termos os ‘franco-atiradores’ como Mohammed Ali ou Tim Maia, os ‘obsessivos’ Marlon Brando e Robert de Niro, ou, ainda, os ‘candidatos’ Lula, FHC e Fernando Collor. É sobre este que quero falar aqui.

Collor foi entrevistado em outubro de 87. Àquela altura já dava as caras na mídia e reforçava, com a boa vontade geral, a sua egotrip político-sociológica. O ‘caçador de marajás’ seduzia os jornalistas. Veio a calhar uma ‘conversa franca’ nas páginas da Playboy. Collor era jovem e destemido, o arquétipo heróico, como descreve a abertura da entrevista realizada por Luiz Antonio Maciel, com fotos de Flavio Canalonga:

‘A cena poderia ser a de um filme do velho oeste, com um herói de porte atlético – a determinação e a vontade de fazer justiça estampadas nos olhos- e os inevitáveis vilões, de traços rudes e armas penduradas nos coldres, a marca de sua violência. Apenas o cenário, a paisagem e o roteiro seriam diferentes. Nada dos velhos saloons, de um OK Corral, e do movimento constante de caubóis e de carruagens por ruas poeirentas. Em vez disso, uma paisagem agreste, rude, pobre, com casas de alvenaria e carros na rua- algumas já asfaltadas. Na cena típica do faroeste, o herói poderia ser interpretado por Clint Eastwood, com seu 1,92 metro de altura e um resto de charuto na boca, no papel do justiceiro, do vingador forasteiro, ou do durão Dirty Harry (Harry, o sujo), como em qualquer um dos seus mais de 40 filmes. Na cena verídica, tudo se passa numa pequena cidade do sertão de Alagoas, Limoeiro de Anadia, e o mocinho da história é um político, assim como Clint Eastwood na vida real: o atual governador de Alagoas, Fernando Affonso Collor de Mello, 38 anos completados em 12 de agosto, 1,82 metro de altura e 78 quilos (…)

A história aconteceu durante a campanha para as eleições de 1986. Ameaçado por pistoleiros de ‘levar um tiro na boca’, caso fizesse um comício na cidade, Fernando Collor de Mello resolveu enfrentá-los. Subiu no parapeito de uma casa e desafiou os jagunços, postados junto a um muro, a 20 metros de distância, ostensivamente armados de revólveres e com uma espingarda calibre 12 (a arma preferida do chamado Sindicato do Crime de Alagoas) envolta em um saco.

– Canalhas, pústulas humanas- disse Fernando Collor-, no meu governo vocês vão para a cadeia, covardes… Vocês não disseram que iam atirar? Eu estou aqui. Quero ver se vocês têm coragem, canalhas. E eu vou descer daqui, andar no meio de vocês e não quero ver cara feia. (…) Ele desceu, caminhou pela rua e se aproximou dos pistoleiros, que se afastaram… Se houvesse confusão, certamente o futuro governador entraria na briga para valer. Como ex-campeão brasiliense e vice-campeão brasileiro de caratê, tem experiência de luta, não só no tatame, mas também na rua: certa vez, junto com outro colega de caratê, brigou com 12 policiais em Brasília’.

Assim nascia o mito que, alguns anos mais tarde, haveria de ser exaltado e, pouco depois, execrado pela mesma República, na trilha rápida que conduz o fascínio à perplexidade com a traição. A entrevista com Collor proporciona lições atuais.

A pergunta que se deve fazer é: por onde andavam os repórteres e editores de Política antes do estouro da boiada? Se Collor era um outro Collor, se, nesta era mensalesca, vários políticos tidos e havidos como sérios são outros políticos, o que poderá explicar essas amnésias recorrentes e sumamente danosas para o País?

Há algumas respostas:

a) Políticos e jornalistas estavam cumprindo agenda. A pauta das votações, a governabilidade, o intervalo entre as eleições – que deve ser preenchido necessariamente pelos fuxicos intra e interpartidários. As urnas, os novos e os antigos, a mesmice renovada;

b) Setoristas sabiam de tudo, mas se banhavam na água turva daquelas fontes. A quem poderia interessar a interdição das termas impróprias para a população, mas gostosas de chafurdar, se não no mergulho venal, ao menos no trampolim da omissão?;

c) Repórteres e editores bem que tentaram, mas a ‘linha editorial’ não deixou;

d) Eles não sabiam de nada.

Escolha a que melhor lhe afigura. Antes, leia um trecho do pingue-pongue com Fernando Collor. Admitindo que as palavras do ex-presidente correspondam ao ocorrido, temos uma pista a mais:

‘Essa segurança em enfrentar os pistoleiros vem do fato de o senhor ter sido duas vezes campeão brasileiro de caratê?

Aí o pessoal da imprensa exagerou, né? Eu fui campeão brasiliense e sempre fui bem colocado em disputas brasileiras. Cheguei a ser vice-campeão brasileiro, mas não campeão. Uma vez tentei corrigir um jornalista dizendo que a informação de que havia sido bicampeão brasileiro estava errada, mas ele reagiu: ‘Não, deixa assim, que dá mais charme’ [risos]’.’