Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Eleno Mendonça

‘O velho ditado vale mais do que nunca no Brasil. Ainda que os supostos envolvidos na crise não tenham nenhum comprometimento de fato, terão de fazer mais do que declarações. Até porque, a partir de agora, até os tempos de coroinha do ministro Antonio Palocci serão revistados pela imprensa. Quando se entra numa CPI não se sabe como é o final da história e, como já escrevi aqui antes, como já se descobriu muito mais do que esperava todo o País, até o final desse governo a história não será diferente. Vamos viver aos solavancos, com escândalos pipocando a cada semana.

Sinceramente não sei se o governo e Palocci resistirão. Já vimos todos essas histórias e o que acontece em 90% dos casos é uma pressão enorme, uma investigação de proporções tão grandes que a pessoa investigada, ou em nome próprio ou em nome da estabilidade econômica, acaba saindo ou se vendo forçada a isso para evitar um prejuízo maior.

O simples arrolar de Palocci nessa confusão toda já causou prejuízos que não dá para medir. Imaginem o investidor lá fora como recebe essas informações? A gente aqui, mesmo a contragosto, até acredita em certas declarações, ainda que desconfiados, mas no Exterior tudo isso chega de forma cabal e definitiva. Isso afeta o fluxo de recursos, o chamado risco Brasil, as intenções de investimento. Tudo isso afeta em muito a economia e, de novo, insisto num ponto que muitos discordam. Não existe blindagem possível.

Mas toda essa crise tem revelado uma economia bem mais forte do que todos imaginavam, que caminha porque, como muitos dizem, não dá para ficar esperando o governo. O que não consigo entender é como ainda estão de pé os bancos envolvidos na crise. A imprensa está devendo uma boa radiografia deles. A carteira de clientes não murcha diante de tanta denúncia? Como o BC monitora isso? Eu achava que haveria quebra quase que imediata. Taí uma boa pauta, mostrar de forma prática os efeitos dessa crise nas empresas e pessoas envolvidas e tentar avaliar os prejuízos do País.

Mesmo partindo do princípio de que a economia possa estar blindada e, repito, não está, é óbvio que, ainda que o Brasil cresça, sempre ficará no ar uma questão: quanto poderia ter crescido se não fosse tudo isso?’



Painel, FSP

‘Termômetro 1’, copyright Folha de S. Paulo, 22/08/05

‘Encerrada sua entrevista, Antonio Palocci conversou por telefone com Geraldo Alckmin. O ministro da Fazenda perguntou ao governador paulista se havia sido suficientemente claro e abrangente em suas explicações.

Termômetro 2

Além de trocarem impressões sobre a crise e a entrevista em si, o petista e o tucano discutiram a necessidade de dar prosseguimento às investigações da polícia e do Ministério Público ‘dentro da legalidade’. Ao menos no telefone, manifestaram concordância nesse aspecto.

Platéia VIP

Na ante-sala do gabinete de Palocci, acompanharam a entrevista pela TV o número dois da Fazenda, Murilo Portugal, o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e a assessora presidencial Clara Ant.

Planetas distintos

A equipe de comunicação do Palácio do Planalto teve participação zero na entrevista coletiva de Palocci, considerada bem-sucedida até por personagens que defendem a saída do ministro.’



Folha de S. Paulo

‘Ao contrário de Lula, ministro não fez restrições’, copyright Folha de S. Paulo, 22/08/05

‘Sem aparentar nenhum sinal de nervosismo ou irritação, Antonio Palocci Filho se submeteu a duas horas de entrevista sem restrições à quantidade de perguntas por jornalista ou à possibilidade de réplicas -o que nenhuma autoridade do governo envolvida nas denúncias de corrupção havia feito até então.

O único vestígio do impacto das acusações eram os olhos vermelhos, possível resultado de uma noite mal dormida. O ministro chegou a fazer brincadeiras durante as respostas e, no final, desculpou-se por não ter feito mais, em razão, disse, da gravidade do momento.

Marcada para o meio-dia, a entrevista começou apenas oito minutos depois, destoando do hábito do ministro, conhecido por seus atrasos de até uma hora.

Propositalmente ou não, a atitude de Palocci ao longo da entrevista destoou da adotada pela maioria de seus colegas de governo e do PT. Não criticou a oposição -que tem tido a preocupação de preservá-lo- nem atribuiu as denúncias à disputa pelo poder e negou ter sido traído. ‘Vamos responder a absolutamente tudo. Tudo’, prometeu, embora tenha se esquivado de algumas perguntas. A entrevista foi encerrada às 14h21.’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘Seguro, calmo, tranqüilo, sensato, muito elegante’, copyright Folha de S. Paulo, 22/08/05

‘Na abertura do ‘Fantástico’, com Pedro Bial:

_ Boa noite. O ministro Palocci chama os jornalistas e, com veemência, refuta acusações.

Nas manchetes da Globo News, sem medo de adjetivar:

_ Seguro e muito calmo, nega denúncias com veemência.

Na barra de informações do canal, ‘firme e tranqüilo’. Um título da Folha Online, na mesma linha, ‘Com tranqüilidade, Antônio Palocci nega acusações’.

Foi assim por quase todo lado, na cobertura eletrônica.

‘Os mercados’ também foram na mesma direção. A Globo, para começar, foi ouvir o empresário Antônio Ermírio de Moraes:

_ Para mim, passou calma, aquele jeito dele, tranqüilo. Claro que um país como o Brasil tem problemas e terá sempre, mas afinal de contas o governo até agora soube resolver com tranqüilidade as coisas que estão sendo apresentadas. Achei um depoimento sensato, tranqüilizador.

Daí para o economista-chefe da federação dos bancos, para quem ‘o ponto mais importante [foi mostrar] que a política é do governo, não do Palocci’.

Para ele, ‘a fala deu otimismo aos mercados’, o que ecoou em outros economistas, na CBN, e no presidente da confederação da indústria, no Globo Online:

_ O ministro foi sereno, convincente e também muito elegante. Palocci foi palocciano.

Ele só não foi muito ‘palocciano’ ao questionar o Ministério Público de São Paulo:

_ Acho que existiu indiscrição de autoridades. Autoridades que saem no meio e contam parte de depoimento estão sendo indiscretas, legalmente indiscretas.

Na tradução da Globo News, ‘o ministro disse que procuradores não respeitaram a lei’.

Curiosamente, além de petistas como Tarso Genro e Ricardo Berzoini, tucanos como Arthur Virgílio e pefelistas como Jorge Bornhausen fizeram reparos.

O primeiro, segundo o Globo Online, ‘também afirmou ter achado ‘muito estranho’ o fato de um procurador ter dado entrevista sobre as acusações’. E o segundo, no ‘Fantástico’:

– A investigação tem que continuar sem abuso de poder.

A Globo deu no fim do programa a defesa do procurador-geral paulista, para quem ‘a regra é que a investigação deve ser feita com acompanhamento da imprensa’. Ele não encerrou bem:

– Existe vasta prova documental em relação aos partícipes. Em relação ao ministro, não existe nenhuma prova documental.

Para a pá de cal, Pedro Bial deu então a opinião do procuradorgeral da República:

– Antônio Fernando Souza esclareceu que o Ministério Público deve tratar suas investigações com discrição e responsabilidade, tendo como base as garantias constitucionais dos cidadãos.

Mas o ministro fez mais, nesse tema. Ainda o ‘Fantástico’:

– Ele disse que vai escrever uma carta ao governador Geraldo Alckmin pedindo que observe com serenidade os atos do Ministério Público do Estado.

Alckmin se lançou a presidente na semana, ao mesmo tempo em que a polícia e os procuradores de São Paulo tomavam a cena _com doleiro, prisão de Buratti, a volta a Santo André.

Antes da entrevista, Alckmin chamou as denúncias de ‘graves’ mas sem relação com ‘política’. Segundo a Jovem Pan, o governador se mostrou ‘visivelmente incomodado com perguntas sobre a crise e sua candidatura’.

De José Carlos Aleluia na Folha Online a Eduardo Azeredo no Globo Online, a oposição se derreteu em elogios, cobrando, se tanto, o mesmo de Lula.

Com exceções. O Blog do Cesar Maia, para quem Palocci só fez mostrar que está envolvido, saiu anunciando que ele ‘mentiu’.

O blog tucano E-Agora, próximo de FHC, foi atrás do pefelista e aproveitou para instruir:

– Esse papo de ‘oposição responsável’ joga todo mundo no mesmo saco de farinha.’