Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eleno Mendonça

‘Na fila do supermercado, sábado, algumas senhoras conversavam e não pude deixar de prestar atenção. Falavam sobre inflação e diziam que o governo fala que os preços caíram, mas que elas não tinham constatado isso nas gôndolas. Isso sempre acontece quando os índices apontam para queda. Na verdade, o noticiário fala do assunto há tantos anos que ninguém mais se importa de voltar a explicar de vez em quando como são medidos os índices inflacionários.

Primeiro que cada índice pega um determinado grupo de renda, de produtos. Assim, a pesquisa é feita em cima de uma cesta de produtos, num universo grande de varejo em termos de pontos de venda. Por isso as pessoas não se sentem representadas pela queda da inflação na hora da compra. O que de fato acontece, portanto, é uma média e é óbvio que se deve acreditar nela, até porque os institutos que medem a evolução do custo de vida são pra lá de isentos.

Outro aspecto é a taxa de juro e a queda de renda. Com essa taxa de juro monstro, também é óbvio que não há inflação que resista. Associado a isso vem a queda na renda constante e, por conseqüência, no consumo. Mas esqueceram de dizer ao Banco Central que, mesmo sob o risco de uma queda ser interpretada neste momento como ação política positiva no sentido de melhorar a imagem do governo, já passou em muito o tempo de baixar os juros. Eles ficaram tanto tempo nas alturas que produziram uma redução geral no consumo, nos estoques e no custo de vida, quando o grande problema da inflação todo mundo identificou como sendo as tarifas públicas e sua forma de correção.

Por força de contratos, a forma de correção das tarifas joga a taxa lá para cima, tendo em vista o peso desse item na conta dos brasileiros. Agora, com todos o índices caindo, os reajustes de tarifa lá para a frente podem até ser menores, mas o governo de novo tem pressões sobre o índice, seja pela evolução mundial dos preços do petróleo, seja pelo aumento do consumo por causa justamente da queda de inflação. É o efeito do cachorro querendo morder o rabo. Caem os preços e torna-se inevitável que as pessoas passem a querer ‘aproveitar’ mais e consumir coisas que consideravam caras demais. Ou ainda que queiram usar um pouco a sobra no orçamento.

Quer saber, me alinho entre os que acham que um pouco de inflação compensa muito mais quando se consegue taxas de crescimento melhores. Ou seja, é preferível crescer mais ainda que com um custo de vida um pouco maior. Lógico que tudo deve estar dentro do controle e a taxa não pode voltar a descambar. Nesse aspecto, mesmo sob crise política cerrada, os agentes econômicos parecem, felizmente, sob o aspecto preço, não estarem embarcando na irracionalidade da correção preventiva.’



JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

‘Qual o formato?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 25/08/05

‘Olá, amigos. Hoje na Internet pode-se perceber que há dois formatos de texto que são utilizados por 99% dos sites esportivos: o de ‘hard news’, com notas curtas e objetivas, e o de crônicas, com textos mais longos e análises incluídas. Dificilmente se acha um site em que predomine a análise ao factual. Qual a razão disso?

Existe uma discussão muito grande sobre qual o melhor formato para os leitores de esportes na Internet. Um grupo defende a tese de que um texto enxuto e rápido de se ler é o que faz a diferença, já que a maioria das pessoas acessa a Internet do trabalho, e procura resultados de um evento específico, sem grandes análises, ou o noticiário do seu time em momentos de folga na rotina.

Esse grupo diz que o formato hard news é o ideal, pois não se aprofunda demais nos assuntos e permite que o leitor não perca tempo demais lendo uma só nota. Segundo os defensores desse formato, quem quiser ler mais, clica em outras notas e navega pelos sites.

O outro formato, de crônicas mais longas e análises, diz, paradoxalmente baseado na tese de que os leitores de esportes na Internet têm pouco tempo disponível, que eles gostam de acessar uma única nota e saber, ali, tudo que há para saber sobre o assunto desejado. Segundo eles, dar muitos cliques e ter, vez por outra, a Internet mais lenta, representa uma perda de tempo maior do que a de acessar notas curtas, uma vez que, com um único acesso, é possível ler-se tudo no ritmo do leitor, seja ele qual for.

Há pontos positivos e negativos em ambas as análises, mas tendo a acreditar que textos curtos e objetivos são o futuro dos textos internéticos, principalmente os de esportes. Análises aprofundadas sobre um assunto podem sempre ser ‘quebradas’ em sub- tópicos, o que agiliza a leitura e dá mais chance ao leitor de decidir se quer ou não se aprofundar mais e mais, enquanto um texto longo acaba forçando quem lê a ir até o fim para ter uma opinião totalmente formada sobre o assunto.

O tema é bem polêmico e gera discussões quase intermináveis, inclusive com teses sobre o comportamento das pessoas à frente da telinha do computador. Como o número de pessoas ligadas à Internet, seja no trabalho ou em casa, aumenta exponencialmente dia após dia, a tendência é que haja público para as duas vertentes majoritárias de sites esportivos.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Maravilha Negra’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 25/08/05

‘No intervalo do jogo entre Cruzeiro e Flamengo (0 a 0), nesta quarta, um internauta perguntou ao pessoal da Globo quem seria o melhor jogador do Brasil, agora que Robinho vai pro Real Madrid. Fred? Ricardinho? O considerado Sérgio Noronha respondeu que é difícil esse negócio de melhor disso, melhor daquilo. Fazer comparações sempre constititui problema. E lembrou que seu pai lhe dissera certa vez: ‘Ah!, meu filho, você não viu Fausto jogar…’

Noronha não era nascido, não viu as artes de Fausto, porém o narrador Luís Roberto tinha, na ponta da língua, informações acerca daquele a quem chamavam de Maravilha Negra, grande craque da Copa de 1930, apesar do fiasco de nossa seleção: ‘Fausto… esse foi grande nos anos 10, 20… No primeiro campeonato que o Brasil ganhou, no campo do Fluminense, foram necessárias quatro prorrogações e ele, Fausto, fez o gol da vitória. Esse Fausto aí que o Noronha falou…’

Janistraquis, que também não estava nas Laranjeiras, naquele inesquecível dia 29 de maio de 1919, escutou e consertou: ‘Considerado, quem fez o gol da vitória foi Arthur Friedenreich, o Fried, que ganhou o apelido de El Tigre dado pelos adversários, os uruguaios.’

Tá certo. Luís trocou El Tigre de 1919 pela Maravilha Negra de 1930, mas isso foi apenas dito, não foi escrito, não tem gravidade. Mas como é bela a história do futebol brasileiro, hein?!

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É de doer…

Um verso antigo e imortal de Drummond nos avisa que Minas não há mais. Então, avaliem só o que fazem no que resta de Minas, segundo matéria publicada pela Folha de S. Paulo:

HISTÓRIA PERDIDA

Promotoria vai processar a Igreja Universal do Reino de Deus, que demoliu as casas em processo de tombamento

Casarões históricos são destruídos em Minas

Quatro casarões da década de 40, construídos com mármore italiano, em ótimo estado de conservação e prestes a serem considerados patrimônio histórico, foram demolidos em Belo Horizonte, no início da manhã de um feriado, pela Igreja Universal do Reino de Deus.

Janistraquis, que traz no peito alguns cenários e lições de coisas do poeta, revoltou-se:

‘Considerado, a destruição do patrimônio histórico não dói tanto, pois o que foge do tempo nem sempre escapa à intempérie; o que nos deixa indignados é saber que no lugar dos velhos casarões vão surgir aqueles templos horrendos, nos quais espojam-se a esperteza, a burrice e a ignorância, numa estúrdia de falsas virtudes capaz de envergonhar até o mineiro Marcos Valério.’

É mesmo. E isso, sem contar aqueles milhões descobertos no aeroporto da Pampulha e as safadezas do Bispo Rodrigues. Leia a íntegra da matéria no Blogstraquis.

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Comemorar?!

O dardejante Carlos Heitor Cony escreveu em sua coluna:

A lei de Murphy

RIO DE JANEIRO – No ano passado, comemorou-se o cinqüentenário do suicídio de Getúlio Vargas, o ainda maior drama da nossa vida pública (…)

Janistraquis lamentou, não a morte do presidente, porque esse foi sentimento ainda da infância paraibana; lamentou o texto do cronista:

‘Os leitores desta coluna são testemunhas de nossa luta contra o uso do verbo comemorar no registro de tragédias. Comemorar, embora travestido de sinônimo, é vocábulo amasiado com as festividades da vida, não combina com a morte de pessoas de bem. Poderemos até comemorar o ‘defundeamento’ de Elias Maluco, por exemplo; mas, o de Vargas?!?! Por que o cronista não utilizou outros verbos mais apropriados, como celebrar, recordar, memorar?’

É verdade. Cony, ex-seminarista, quase padre, sabe que se comemora o Natal, porém celebra-se a Sexta-feira da Paixão.

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Vai pra pomba!

Lido aqui mesmo no Comunique-se:

Projeto de Severino Cavalcanti proíbe cenas de nudismo na TV.

Janistraquis, que na noite anterior regalara-se com algumas cenas de suruba explícita num canal infelizmente já desassomado de sua memória, comentou, ao roer um marroque no café da manhã:

‘Considerado, o que deve ser proibido, em qualquer canal e horário, é a presença do próprio Severino, figura das mais abjetas de velho rato-de-sacristia com aparência libidinosa, invejoso, rancoroso e brocha.’

Concordo plenamente. Entre um close-up de xiranha e a cara de Severino, prefiro aquela, se me permitem tal alarvaria.

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Aí tem!…

O muito apreciado colunista Ancelmo Gois revelou, em notinha intitulada É tempo de CPI:

A Câmara do Rio instalou uma CPI para apurar a atuação das ONGs que cuidam de crianças de rua. O relator, vereador Márcio Pacheco, descobriu que muitas fazem belo trabalho. Mas…

Levantou também que, em 2004, as ONGs receberam doações públicas e privadas de R$ 8,1 milhões. Daria uns R$ 32 mil para cada criança de rua.

Janistraquis, que jamais simpatizou com ONGs de qualquer espécie, vociferou:

‘Bem feito, considerado, bem feito. Quem manda confiar nessa gente? Daqui a pouco vão aparecer algumas ONGs que andaram a rechear fortunas ‘não- contabilizadas’ do PT.’

É sempre bom ficar de olho nesse pessoal que fez do tal ‘desarmamento’ uma cruzada falsamente cristã. A propósito, leiam no Blogstraquis a carta que o professor de Direito e defensor público Eduardo Quintanilha Telles enviou aos amigos. É para meditar.

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Barra pesada

Deu em O Globo Online:

Televangelista americano prega assassinato de Hugo Chávez

Agências Internacionais

WASHINGTON – Um dos mais famosos televangelistas dos Estados Unidos usou seu programa de TV para dizer que o governo americano deveria matar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O conservador Pat Robertson, ex-candidato à presidência, chamou Chávez de um ‘perigo inquestionável e terrível’.

Janistraquis exalou os suores frios do espanto:

‘Considerado, Lula é amigo e correligionário do Chávez…’

Lembrei a ele que nosso presidente também se diz amigo do Bush.

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Ascendência

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, cujo prédio é vizinho do botequim onde os petistas afogam as mágoas, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando seus vigilantes olhos tropeçaram neste perdido excerto de matéria:

A maior parte das cerca de 300 pessoas tinha descendência japonesa. Tatsumiro nasceu em Kangoshima, no Japão, e veio para o Brasil ainda jovem. Iria, filha de japoneses, nasceu em São Paulo. Os dois se casaram há 36 anos e, desde então, viviam na chácara na Vargem Bonita.

Com a expressão exausta de quem luta, há anos e em vão, contra as licenciosidades do Correio, o mestre anotou em seu diário íntimo:

A troca de termos descendência e ascendência é muito comum.

E mais não escreveu, pelo resto do dia.

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Consulte o Pasquale!

Depois de ver e ouvir a entrevista de Tarso Genro no Roda-Viva, Janistraquis bocejou impudentemente e desabafou, antes de ir pra cama:

‘Considerado, a saia estava tão justa que não sei como o entrevistado pôde cruzar as pernas… E, pra falar a verdade, a única coisa interessante e criativa que ele apresentou no programa foi aquela pronúncia do verbo adequar. Adeqúa, expeliu o presidente interino do PT, com a autoridade de intelectual de nomeada e ex-ministro da Educação.’

É mesmo. Já nos ensinaram outros intelectuais de nomeada e muitos ex-ministros da Educação que o verbo adequar não leva nada no qu, além de um trema, vez por outra. E a pronúncia de Tarso Genro pode até ser defendida por alguns, porém é feiíssima e de péssimo gosto. Quem duvida, consulte o considerado professor Pasquale.

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Deslealdade

Deu nos jornais que o PT procura novo marqueteiro para substituir Duda Mendonça, considerado ‘desleal’ por causa de suas declarações à CPI. Janistraquis, cidadão apartidário e ainda não inteiramente desmemoriado, sugere que o partido contrate Chico Santa Rita.

‘Considerado, explico-me: sabemos que Chico sempre foi muito ligado a Orestes Quércia, mas os petistas, intolerantes no passado, estão hoje convencidos de que nunca existiu nenhum arranca-rabo ideológico entre o presidente Lula e o ex-governador de São Paulo.’

É isso. Como dizia sabiamente aquelle outro líder nacional, o tempo é o senhor da razão.

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Nota dez

Quem ainda não leu, faça o favor de ler o artigo de Josias de Souza na Folha de 21/8, intitulado PT viveu como borboleta, mas morre como lagarta:

(…) A morte do PT mergulha o país numa perigosa fase de desencanto. É como se a idade da ética houvesse terminado. À medida que floresce o ‘Mula’ (Movimento Unificado dos Lulistas Arrependidos), o brasileiro se dá conta de que Deus está em toda parte, mas é o Tinhoso quem controla a política brasileira.’