Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Entidades de imprensa reagem a fala do presidente


Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 23 de outubro de 2009


 


LULA


Folha de S. Paulo


Menos que o possível


‘GERÊNCIA técnica, tática de alianças, governabilidade. A política como ‘arte do possível’. Conceitos e lemas desse tipo fixaram-se, ao longo do tempo, como ingredientes típicos da retórica e da prática tucanas. De Fernando Henrique Cardoso a Aécio Neves, passando por Geraldo Alckmin e José Serra, peessedebistas de estilo bastante diverso parecem convergir nessa visão, afinal bastante desencantada e pragmática, da vida pública.


Não chega a constituir surpresa o fato de que a entrevista com o presidente Lula, publicada ontem nesta Folha, tenha basicamente reproduzido muito desses mesmos hábitos de raciocínio. Do ‘tucanês’ fernandohenriquista ao ‘lulês’ de hoje, ganhou-se algo, sem dúvida, em termos de imaginação para as metáforas insólitas, mas preserva-se o essencial.


No governo FHC, o tema da ‘modernização’ do Estado brasileiro nunca representou empecilho para que se fizessem alianças com o que sempre existiu de mais arcaico e oligárquico na política brasileira. Muda o presidente, muda o partido, mas não se altera a tolerância com o patrimonialismo e com o atraso.


‘Qualquer um que ganhar as eleições’, disse Lula, ‘pode ser o maior xiita ou o maior direitista, ele não conseguirá montar o governo fora da realidade política.’


Sim, sem dúvida. Ninguém diria o contrário. Exceto, naturalmente, os que estão fora do poder -foi o caso do PT durante muitos anos, e é agora o caso, com algumas ironias específicas, da oposição de PSDB e DEM.


Qualquer cidadão que tenha lembrança das antigas promessas lulistas de mudar o estilo de fazer política no Brasil haverá de considerar, todavia, que o pragmatismo do presidente vai longe demais quando refuta as acusações que pesam contra o presidente do Senado, José Sarney: trata-se de ‘um grande republicano’, afirmou o petista.


Mas não se trata apenas de comparar o que se dizia no passado e o que se diz no presente. A maior diferença, e que se esquece com rapidez, é a que existe entre o realismo e a acomodação, o pragmatismo e a conivência.


A realidade política é o que é, repete o presidente Lula. Mas há uma diferença entre tentar mudá-la e contribuir para que continue como está. A política não é apenas ‘a arte do possível’, como dizia Fernando Henrique Cardoso -mas a arte de ampliar esses limites.


Não haveria razão -exceto a do puro oportunismo- para considerar automaticamente utópica a atitude de uma liderança política que procurasse colocar na sua agenda a reforma eleitoral, o fortalecimento dos mecanismos de controle da sociedade sobre os gastos públicos, com maior transparência do Estado e efetiva participação dos cidadãos.


Numa tirada que se presta a todo tipo de desconstruções, Lula afirmou que mesmo Jesus Cristo teria de fazer aliança com Judas, se este contasse com os votos do eleitor.


No vale-tudo das metáforas presidenciais, seria mais adequado dizer que, diante do arcaísmo da política brasileira, Lula assume a atitude de Pôncio Pilatos: lava, simplesmente, as mãos. Coisa que adianta pouco, aliás, no atual estado das instituições republicanas.’


 


 


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Entidades rebatem fala de Lula sobre imprensa


‘Entidades de imprensa rechaçaram ontem a declaração do presidente Lula, que afirmou que o papel do jornalismo é informar, não fiscalizar. ‘Pobre o país que não tem investigação de imprensa’, disse o diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira. Para o diretor de cultura e lazer da ABI, Jesus Chediak, Lula foi ‘muito infeliz’ em seu posicionamento. O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, também considerou um ‘equívoco’ a declaração do presidente Lula.’


 


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Roberto Muylaert


A censura está de volta


‘NOS 20 anos em que durou o regime militar, não era necessário ser de extrema esquerda para se defrontar com a censura a cada passo -como empresário editorial, profissional de imprensa ou mesmo como leitor.


As notícias proibidas pelos censores não podiam ser deixadas em branco no jornal, assim como não era permitido fazer menção no próprio veículo censurado às restrições impostas às Redações, onde um censor tinha sempre cadeira cativa.


Foi quando surgiram os famosos trechos de ‘Os Lusíadas’, de Camões, no ‘Estado de S. Paulo’ e as receitas culinárias no ‘Jornal da Tarde’ em substituição aos parágrafos eliminados pela censura.


Na televisão, os produtores precisavam assistir aos programas novos, ainda não exibidos, com um censor sempre ao lado, que poderia interromper a exibição a qualquer momento para esclarecimentos e exigência de mudanças.


No programa ‘Vox Populi’, criado por mim e Carlos Queiroz Telles na TV Cultura na década de 70, a entrevista sensação seria a de um metalúrgico carismático, líder sindical de São Bernardo do Campo (SP), em sua estreia na televisão.


Era o primeiro programa de entrevistas na TV permitido pelo regime militar, que partia do princípio de que, ao aprovar um programa como aquele, em emissora com audiência restrita, estaria mostrando certa liberalidade em relação ao controle que exercia sobre as mídias, ao mesmo tempo em que corria risco tolerável, não tão grande quanto se a transmissão fosse numa emissora comercial.


Aquele ‘Vox Populi’ era aguardado com expectativa pelas autoridades do governo, que desejavam descobrir o que passava na cabeça daquele líder que julgavam de extrema esquerda, chamado Lula, e que riscos estariam correndo quando ele expusesse seus pontos de vista e a sua oratória na TV.


No estúdio da TV Cultura, num domingo à noite, com a emissora quase deserta, enquanto se aguardava, por via das dúvidas, o início da transmissão do programa já gravado, irrompe um oficial do corpo de paraquedistas exigindo, enérgico, a fita do programa, que, segundo ele, não iria ao ar de forma alguma.


Depois de vários telefonemas para as autoridades que aguardavam a transmissão, mais a interferência do governador de São Paulo, o programa foi oficialmente liberado e exibido ao impaciente oficial, que precisou se conformar, bastante irritado, com a situação de fato, embora ele fosse um livre atirador, agindo por conta de um grupo que não concordava com esse tipo de abertura.


Outro fato testemunhado por inúmeros jornalistas foi o enterro de Vladimir Herzog, conduzido com muita rapidez para evitar incidentes e presenciado por alguns presos que estavam sendo torturados nos quartéis, simultaneamente a Herzog, e que foram conduzidos à cerimônia, por tempo reduzido, apenas para provar que estavam vivos.


No culto ecumênico de sétimo dia de Herzog, na catedral da Sé, ninguém estranhou quando um ‘acidente’ interrompeu o trânsito na av. Nove de Julho e limitou o grande afluxo de pessoas que se dirigiam à Sé.


Assim como foi considerado compatível com a situação política alguns andares de um edifício comercial contíguo à catedral estarem ocupados por uma dezena de fotógrafos oficiais, cuja missão era fazer o registro de todos os que chegavam à missa.


Todas essas peripécias precisavam ser encaradas, na época, por aqueles que deviam conviver com as restrições, por obrigação profissional, num regime de exceção.


Mas agora, num Estado democrático de Direito, torna-se quase impossível entender a censura imposta há três meses ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’, proibido de divulgar informações sobre Fernando Sarney – filho do senador José Sarney-, indiciado pela Polícia Federal por falsificação de documentos para favorecer empresas em contratos com estatais.


Uma clara violação do direito de livre expressão, garantido pela Constituição brasileira e por convenções internacionais subscritas pelo Brasil. O processo foi transferido para a Justiça Federal de primeira instância do Maranhão, capitania em que a família Sarney exerce reconhecida influência.


Fica assim conspurcado o direito da sociedade brasileira à livre informação sobre assuntos de interesse público, numa situação esdrúxula, em que a censura prévia dos tempos da ditadura parece ressurgir das cinzas, com renovado e descarado vigor, em pleno regime democrático.


ROBERTO MUYLAERT , 74, jornalista, é editor, escritor e presidente da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas). Foi presidente da TV Cultura de São Paulo (1986 a 1995) e ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social (1995, governo FHC).’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Os controles voltaram


‘No alto da home do ‘Financial Times’, ‘Crise tirou estigma dos controles de capital’. Abrindo o texto, ‘o mundo foi inundado de liquidez pelos bancos centrais das economias desenvolvidas e agora ela brota por toda parte’, da Indonésia ao Peru. ‘Eventualmente, podem quebrar’, avisa a coluna Lex. ‘Daí a nova taxa sobre entrada de capital no Brasil, que outros países podem seguir.’ Antes ‘desespero’, hoje os controles são ‘medidas anticíclicas e prudentes’. Na fila puxada pelo Brasil, lista África do Sul, Turquia, Chile e Colômbia.


A ‘Economist’ é mais contida. Diz em editorial que ‘o declinismo sobre o dólar é exagerado’, que ‘um colapso é improvável’, mas se assegura registrando que ‘não quer dizer que os temores sejam infundados’. Em reportagem, destaca que ‘a queda do dólar está complicando a vida para os países com câmbio flutuante’. Lista Brasil, que partiu para a reação ‘direta’, Canadá, Austrália e a União Europeia.


NÃO SOBE NEM DESCE


Nas manchetes de Folha Online, UOL e outros, o dólar fechou ‘estável’. Na explicação do Valor Online, também manchete, ‘não houve força suficiente para sustentar nem alta nem baixa’.


E NADA MAIS


Na manchete do iG, ‘Mantega descarta novas medidas contra alta do real’. Em entrevista, disse estar satisfeito com os resultados da taxação e que o câmbio flutuante será mantido.


CASAL ESTRANHO


A nova ‘Economist’ dedica capa e o primeiro editorial, ‘The Odd Couple’ ou o estranho casal, para as relações entre EUA e China, sugerindo que Obama ‘deve ser mais confiante em suas tratativas com o rival mais próximo’. Por exemplo, recebendo o Dalai Lama e até, na viagem a Pequim marcada para novembro, ‘alguns dissidentes’


RESPEITO DESCONFIADO


A revista encarta o especial ‘Um respeito desconfiado’, com dez reportagens. Em suma, ‘EUA e China precisam um do outro, mas estão distantes de acreditar um no outro’. Destaca, entre outros, o crescimento militar da China, mas avisa que Obama não deve ‘superestimar o poder chinês’, ainda pequeno diante dos EUA


INTERVENÇÃO NO BOLSO


Nas manchetes americanas, do ‘New York Times’ ao ‘Wall Street Journal’, os EUA anunciaram ontem normas para limitar os vencimentos de banqueiros.


O primeiro sublinha que é para ‘desencorajar práticas de risco na busca descontrolada de lucro rápido’. O segundo destaca que as regras da Fazenda (Tesouro) e do Banco Central (Fed) ‘marcam um divisor de águas para a intervenção no setor privado’.


‘TALK RADIO’


Na NBC, Obama disse ‘não perder o sono’ com a guerra da Casa Branca com a Fox News, mas deu o canal por ‘talk radio’ como são chamados os radialistas republicanos de grande audiência


PARTIDO & MÍDIA


O site Politico deu manchete para o temor eleitoral dos líderes republicanos, com a crescente associação do partido a ‘personalidades de mídia de retórica exibicionista e raivosa’ como o radialista Rush Limbaugh e o âncora Glenn Beck, da Fox News.


PAREDE ON-LINE


O ‘Newsday’, tabloide que circula em Nova York, anunciou que na próxima quarta a maior parte de seu site ‘será acessível apenas para assinantes’, ao custo de US$ 5 por semana ou US$ 260 por ano. O ‘NYT’ noticiou como ‘sinal do que vem por aí’.


NO MORRO


Acima da manchete on-line do espanhol ‘El País’, o relato do correspondente no Rio, que subiu o Morro dos Macacos em meio a ameaças de morte lançadas com ironia pelos muitos traficantes’


 


 


REINO UNIDO


Associated Press


Presença de líder da ultradireita britânica na BBC causa polêmica


‘A participação em um programa da rede BBC de um político de ultradireita dividiu o Reino Unido e provocou fortes reações ontem.


Centenas de manifestantes protestaram na entrada da emissora, em Londres, em oposição à presença na BBC de Nick Griffin, líder do Partido Nacional Britânico (BNP), que falou ao programa ‘Question Time’.


Griffin -que já foi condenado pela Justiça por racismo- e seu partido se opõem aos ‘estrangeiros que tomam empregos e moradias’ dos ‘nativos britânicos’.


Ele disse à BBC ontem que a ‘conduta homossexual’ é ‘realmente assustadora’, mas que ‘nunca foi nazista’.


A rede alegou que, como TV pública, tem a obrigação de mostrar todos os espectros da política nacional -o BNP conquistou 6% dos votos e duas vagas nas eleições ao Parlamento Europeu. Um deles é ocupado por Griffin.


Críticos dizem que a iniciativa pode legitimar ideias racistas. ‘Permitir que o BNP divulgue sua mensagem tóxica aumentará a islamofobia e dará respeitabilidade ao partido’, disse Muhammad Abdul Bari, líder do Conselho Muçulmano Britânico.


Já o premiê Gordon Brown disse que ‘é nosso dever expor o BNP por suas visões racistas e intolerantes’ e que ‘quem escutar o que eles realmente são verá que o que dizem é inaceitável’.


O BNP não tem assentos no Parlamento britânico, e, numa tentativa de suavizar sua imagem, Griffin proporá ao partido que permita a filiação de ‘não brancos’ a partir de novembro.’


 


 


LIVRO ELETRÔNICO


Folha de S. Paulo


Lucro da Amazon cresce 62% puxado pelo Kindle


‘A loja virtual Amazon divulgou ontem lucro de US$ 199 milhões (R$ 344,3 milhões) no terceiro trimestre, crescimento de 62% em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado foi influenciado pelas vendas do Kindle, leitor eletrônico que lidera a lista de mais vendidos da rede em unidades e em dólares. As vendas totais subiram 28%, para US$ 5,45 bilhões.’


 


 


TELEVISÃO


Rodrigo Russo


‘Fantástico’ aposta em novos quadros para manter ibope


‘Cinco novos quadros em sete programas, com pelo menos mais dois relançamentos para o próximo mês. É dessa forma que o ‘Fantástico’, exibido pela Globo desde 1973, reage à forte concorrência dos domingos à noite.


Dos novos quadros apresentados pelo programa, que tradicionalmente aposta em uma mescla de entretenimento e jornalismo, três são reality shows (a segunda edição de ‘Menina Fantástica’, ‘Cinco Meninas e um Vestido’ e ‘Reunião de Condomínio’) e dois são humorísticos (‘Exagerados’ e ‘Cassetástico’, que estreia neste domingo’).


A equipe de ‘Casseta & Planeta’ entra no programa para fazer comentários e reportagens irônicas a partir de pautas que o próprio ‘Fantástico’ fará.


Na estreia o quadro será sobre alimentação saudável, com a trupe nas ruas para oferecer coxinha de alface e cachorro quente de cenoura. Em novembro, para empatar a divisão entre realities e humor, Regina Casé volta ao programa para a segunda temporada de ‘Vem com Tudo’, que tem por objetivo caçar tendências no Brasil.


Outro grande nome do humor, Luiz Fernando Guimarães, retornará em breve ao quadro ‘Super Sincero’. A Globo diz que o ritmo de estreias não é incomum para o programa, por ser dinâmico e sempre apostar em novos formatos, e informa que as atrações já estavam previstas desde o lançamento da grade de 2009, em abril. A média do Ibope do programa desde abril é de 25 pontos, ainda na liderança de seu horário.


LEGENDÁRIOS?


O novo programa de Marcos Mion, com estreia na Record acertada para 2010, deve se chamar ‘Legendários’, conforme o apresentador postou em seu Twitter. No órgão do governo responsável por marcas ainda não consta nenhum pedido por ‘Legendários’.


MARATONA


Na campanha Teleton, promovida pelo SBT para auxiliar a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) com início hoje, Eliana será a apresentadora com mais tempo no ar, com quase três horas.


MUDOU DE IDEIA


Adriane Galisteu cancelou suas gravações para poder participar da abertura do Teleton.


NA FAZENDA


O programa apresentado por Lucilia Diniz aos sábados na RedeTV! ganhará novo cenário: a fazenda Maktub, propriedade de Lucilia. Agora, famílias escolhidas pela produção participarão de uma espécie de reality show no local.


BUTÃO NA MODA


Duas apresentadoras da Record recentemente foram ao Butão, país asiático próximo à China, para gravar reportagens. Ana Paula Padrão e Cristiana Arcangeli foram ao país para entender como funciona a FIB (Felicidade Interna Bruta), conceito de desenvolvimento social oposto ao PIB (Produto Interno Bruto).’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 23 de outubro de 2009


 


LULA


Roberto Almeida e Moacir Assunção


ANJ e Fenaj reagem contra críticas a papel da imprensa


‘Outra declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – de que o jornalismo não deve fiscalizar, mas só informar -, causou indignação de entidades brasileiras ligadas à imprensa, que a classificaram como ‘infelicidade’ e ‘equívoco’. A afirmação foi feita na mesma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.


A Associação Nacional de Jornais (ANJ), que congrega os veículos de comunicação impressos, reagiu à fala. ‘O presidente Lula está equivocado. Além de informar, que é uma de suas funções, a imprensa tem o clássico papel de investigar e presta excelentes serviços em todos os países em que exerce também esta função’, afirmou o diretor executivo da entidade, Ricardo Pedreira. ‘Pobre da nação em que não há investigações de jornais e jornalistas.’


‘Ele mesmo já se beneficiou como cidadão, político e sindicalista desse papel fiscalizador dos jornalistas’, sublinhou Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).


De acordo com Andrade, a situação brasileira, que envolve pobreza e corrupção, não permite que a imprensa se ocupe apenas de informar. Segundo ele, é preciso fiscalizar o Estado e até mesmo substituir autoridades policiais e judiciais na investigação. ‘Sempre tenho dito que, enquanto os representantes políticos reclamarem da imprensa, estamos fazendo nosso papel – e eles o deles. Mas, quando há muitos elogios, algum problema há’, ressaltou.


A visão de Andrade é corroborada pelo diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Jesus Chediak. Para ele, a liberdade de imprensa e o direito à informação estão essencialmente unidos por uma demanda da sociedade. ‘O jornalismo investigativo é fundamental e os grandes repórteres também. São pessoas importantíssimas dentro da sociedade’, afirmou o diretor da ABI.


A fiscalização e a investigação jornalística, segundo Chediak, são as maiores ‘armas da sociedade’. ‘O jornalista não é uma carta fora da sociedade. Ele deve atender o direito à informação em todos os níveis’, alertou. ‘É importante esclarecer que em uma reportagem investigativa o jornalista chega a correr riscos.’


Tanto Andrade como Chediak reconhecem, no entanto, a possibilidade de abusos na profissão. ‘De fato, às vezes acontece, mas são exceções que não justificariam abrir mão dessa função que nós exercemos com bastante competência’, alertou o presidente da Fenaj.’


 


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Fausto Macedo


Após censura, confiança na Justiça cai 5%


‘A censura ao Estado é apontada como um dos motivos que fizeram cair em 5% o índice de confiança na Justiça no terceiro trimestre de 2009, em comparação ao segundo trimestre – revela pesquisa da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (Direito GV). Numa escala da 0 a 10, a nota da Justiça ficou em 5,6 pontos. ‘Escândalos de censura, como os que atingem o Estado há mais de 2 meses, e o aumento da divulgação das intervenções do Conselho Nacional de Justiça em tribunais têm impacto na população’, declarou a professora Luciana Gross Cunha, coordenadora da pesquisa.


Ela atribui o aumento da descrença da população na toga à maior exposição do Judiciário na mídia. Ela aponta o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso Antonio Palocci – a corte não abriu ação penal contra o ex-ministro da Fazenda, acusado de envolvimento na quebra do sigilo bancário de um caseiro -, as frequentes inspeções do CNJ que desvendam mazelas do Poder e os mutirões carcerários, que revelam abusos. ‘Tudo isso dá mais exposição ao Judiciário, uma exposição negativa, e possivelmente o impacto é maior entre quem ganha menos ou é menos instruído.’


A mordaça ao Estado foi imposta em 31 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal – a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Para Luciana, a censura também pode ser questão importante que interfere na avaliação. ‘Até porque envolve grupos específicos da política nacional. Há também um efeito negativo no que diz respeito ao tempo do processo, essa demora na solução do caso.’


O Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil) começou a ser mensurado este ano pela Direito GV. Foram entrevistadas 1.616 pessoas de sete regiões metropolitanas – São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Brasília e Porto Alegre. A pesquisa conclui que a população tem dúvidas acerca da imparcialidade e da capacidade da Justiça em dirimir conflitos – 70% declararam não ter segurança sobre a honestidade do sistema.


Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso’


 


 


REINO UNIDO


AP e Reuters


Debate com direitista na BBC causa protestos


‘Centenas de manifestantes se reuniram ontem na frente da sede da BBC, na região oeste de Londres, para protestar contra a participação do líder do Partido Nacional Britânico (BNP), Nick Griffin, no programa de debate Question Time, da emissora de TV. Cerca de 500 pessoas cercaram o prédio da BBC levando cartazes que diziam ‘Detenham o fascista BNP’, enquanto gritavam slogans contra o partido de extrema direita. O BNP só aceita integrantes brancos, é contra a imigração e a favor da saída da Grã-Bretanha da União Europeia


Pelo menos 25 manifestantes conseguiram romper o isolamento policial e entrar no prédio da emissora. Momentos após a invasão, eles foram arrastados para a rua.


O protesto, porém, não conseguiu impedir que Griffin chegasse ao local. De acordo com a BBC, o líder do partido entrou no prédio para participar do programa, que seria transmitido para todo o país no horário nobre .


Muitas entidades e políticos criticaram o convite feito a Griffin, afirmando que, ao dar voz para ele, o partido de extrema direita poderia conseguir legitimidade para suas propostas, consideradas ‘inaceitáveis’. Segundo os críticos, as declarações do líder do BNP podem até mesmo incentivar ataques racistas no país. A aparição do líder de extrema direita francês Jean-Marie Le Pen em um programa similar na França, nos anos 80, foi considerada um momento crucial em sua carreira política.


O diretor-geral da BBC, Mark Thompson, defendeu a decisão da emissora de convidar Griffin ao programa, afirmando que, como a rede é pública, tem o dever de ceder espaço a todos os partidos com representação nacional.


POLÍTICAS


O BNP recebeu mais de 940 mil votos na eleição legislativa europeia de junho, obtendo, pela primeira vez na história da legenda, duas cadeiras no Parlamento Europeu. O partido, no entanto, não tem representação no Parlamento britânico.


Griffin, que já foi criticado por negar o Holocausto, disse que já esperava uma recepção hostil, mas insistiu que as ideias que defende foram mal interpretadas.


‘Se essas pessoas ao menos deixassem a gente falar e debatessem nossas reais questões em vez de criarem monstros, todos teriam uma convivência melhor’, disse.’


 


 


BBC


‘FT’ cita real e ‘Garota de Ipanema’


‘Em editorial publicado ontem, o jornal britânico Financial Times apoia a decisão do governo brasileiro de taxar em 2% a entrada de capital estrangeiro no mercado financeiro, afirmando que o País está sendo ‘sábio’ ao tentar evitar uma bolha especulativa ‘antes que seja tarde demais’.


‘Diferentemente da Garota de Ipanema (música clássica da Bossa Nova composta por Vinicius de Moraes e Tom Jobim), o suingue e o balanço do real são bem menos bacanas e delicados’, diz o editorial.


O editorial observa que, ‘cada vez mais, o capital entra no Brasil por meio das carteiras de investimento em vez de investimento direto externo’.


No artigo ‘Atração fatal’, o jornal avalia que ‘a modesta taxa sobre entrada de capital do Brasil é uma política sábia’, argumentando que o fluxo excessivo de capital para o mercado pode trazer mais estragos que benefícios ao País. ‘A paixão dos investidores impulsionou a moeda em 54,5% – até o governo dizer ‘chega’ e impor uma taxa de 2% sobre a entrada de capital. Embora investidores ofendidos tenham deixado o preço das ações e do real cair, foi uma boa escolha’, diz o texto.


‘Enquanto a média de investimento externo direto (IED) em agosto, de US$ 1,6 bilhão, foi menos da metade de um ano antes, os fluxos para as carteiras de investimento mais que duplicaram, chegando a US$ 5,2 bilhões’, cita.


‘Estão colocados os ingredientes para uma clássica bolha de ativos de mercado emergente. O iminente status do Brasil como potência exportadora de petróleo aumenta a pressão.’


Na avaliação do FT, ‘o governo é sábio ao se preocupar antes que seja tarde demais’. ‘Nosso sistema monetário global, frágil e febril, deixa os países emergentes com menos opções para conter as bolhas, todas piores do que esta.’


Para o FT, ‘o Brasil tem elaborado suas políticas de maneira sensata’. ‘A taxa é modesta. Não se aplica ao investimento direto, menos propenso às bolhas de ativos. Mais importante, ela trata o investidor honestamente, taxando-os na ida em vez de no momento em que eles tentam reaver seu dinheiro, como fez a Malásia há uma década. Agora o governo deve tranquilizar investidores, certificando-se de que eles entendem o raciocínio.’


Entretanto, o jornal avalia que a posição do governo ao tentar justificar a taxa de 2%, alegando controle do câmbio, é ‘começar as coisas pelo lado errado’.


‘A valorização do real é sintoma da charada do Brasil; a causa subjacente são os fluxos de capitais que há anos aumentam de intensidade e foram interrompidos pela crise financeira.’


Concluindo o editorial, o FT avalia que ‘um Brasil bem-sucedido terá de viver com um real mais forte’. ‘A taxa não altera esse fato, mas ajuda a manter a tarifa sob controle.’’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Machado volta à TV


‘A Record vai retomar o projeto 200 Anos de Literatura, que adapta para a TV contos de grandes escritores. O formato voltará ao ar com Uns Braços, conto de Machado de Assis, que deve ir ao ar como especial de fim de ano, em dezembro.


Adaptado pela produtora Contém Conteúdo – que em 2008 fez a versão televisiva de Os Óculos de Pedro Antão, também de Machado -, a atração será gravada em novembro. Com base em incentivo fiscal, a produção deve ser a primeira de mais quatro obras que a emissora ainda pretende adaptar.


‘Estamos dando o último tratamento no roteiro e devemos ter umas três semanas de gravações’, conta Adolfo Rosenthal, roteirista e diretor do projeto.


Romance que envolve a paixão de um adolescente por uma mulher mais velha e casada, Uns Braços não trará estrelas da TV no elenco. A atriz de teatro Ana Peta viverá dona Severina, grande amor do jovem Inácio. A trama ainda terá um narrador oculto. ‘Acho um erro personificar o narrador, como foi feito em Capitu, da Globo. O cara que deveria contar a história se transforma em um foco independente da trama. Confunde o espectador.’’


 


 


 


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