Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estadão comenta em editoral
‘guerra’ entre as teles e TVs


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 27 de novembro de 2006


TELECOMUNICAÇÕES
Editorial


A guerra entre Teles e Tvs


‘A evolução tecnológica tem levado à convergência de serviços de telecomunicações, informática, radiodifusão e de todas as formas de comunicação eletrônica, tais como a TV por assinatura e multimídia. O exemplo mais dramático dessa convergência é a internet, que, em apenas 15 anos, passou a interconectar mais de 1 bilhão de seres humanos, 25 milhões dos quais no Brasil.


Comecemos pelo fenômeno da mobilidade, com a telefonia celular, que permite, no mesmo aparelho, o acesso à internet em alta velocidade, fotos e vídeos digitais, localização por sistema de satélites (GPS), recepção de notícias e mensagens escritas, de programas de rádio e TV, entre dezenas de aplicações.


Diferentemente do passado, as infra-estruturas digitais de hoje se unificam e se fundem. Em breve, o Brasil e o mundo verão uma nova forma de televisão, a IPTV, que será levada a milhões de lares via internet de banda larga, por vários caminhos, seja por redes sem fio, sobre linhas telefônicas ou via satélite. Quem ousará impedi-la?


Com tantas mudanças, eram facilmente previsíveis os conflitos de interesses a que assistimos hoje, entre operadoras de telecomunicações e emissoras de TV aberta ou por assinatura, além de outros que virão.


O exemplo mais atual é o da compra pela Telefônica de participação no capital da TVA. Curiosamente, esse negócio produz muito mais ruído e controvérsias do que produziu a entrada do grupo mexicano Telmex – dono da Embratel e da Claro – no capital da NET, empresa de TV por assinatura com participação majoritária no mercado.


As duas aquisições de participações – a da Telefônica na TVA e a da Embratel na NET – são quase idênticas. No entanto, a Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), que aceitou em silêncio a primeira compra, condena a segunda, a da TVA pela Telefônica, tomando partido contra uma empresa associada em defesa de outra muito maior.


Outra reação ruidosa ocorre ante a decisão da Telefônica – de prestar serviços de TV via satélite do tipo DTH (direct-to-home) -, associada a uma pequena operadora, a Astralsat, em um negócio não apenas legal, mas benéfico aos usuários.


Como o Estado tem mostrado, um dos focos desses problemas é a legislação brasileira de Comunicações, verdadeira colcha de retalhos. A parte moderna inclui a Lei Geral de Telecomunicações, de 1997, e a Lei do Cabo, de 1995, enquanto a parte obsoleta é formada por um capítulo do velho Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, e decretos da ditadura na área de Radiodifusão.


Nesse quadro institucional, a cada conflito de interesses, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e um conselheiro da Anatel, Pedro Jaime Ziller, propõem remendos na legislação, para atender a interesses dominantes no mercado de comunicação eletrônica, ameaçando com mudanças casuísticas da legislação, num claro retrocesso institucional.


O pior nessa crise é que o governo não age em defesa do usuário, mas, sim, em função das pressões das emissoras de TV – de quem o ministro Hélio Costa se diz fiel representante.


Não é esta a posição que a Nação espera de seus governantes. Muito além de optar entre as Teles e as TVs, o presidente Lula e o ministro Hélio Costa têm que assumir posições de defesa da sociedade. Como? Criando condições para a maior oferta de serviços, com muito mais competição e, conseqüentemente, por menores preços.


Ora, se a tecnologia permite hoje que a mesma empresa preste, sobre uma única infra-estrutura, os mais diversos tipos de serviços – como telefonia, TV por assinatura, acesso de alta velocidade à internet, serviços de banda larga com fio ou sem fio e outros -, o verdadeiro caminho deveria ser o estímulo às parcerias, às associações e fusões entre empresas de comunicação eletrônica (rádio, TV aberta e TV por assinatura) e concessionárias de telecomunicações de modo a beneficiar o maior número de usuários.


É claro que regras de transição podem e devem ser fixadas, com a vigilância permanente do Cade e da Anatel para evitar possíveis desequilíbrios de mercado e práticas anticompetitivas.


O que não se pode é fincar pé na defesa de um modelo que, embora em vigor há 40 ou 50 anos, está hoje totalmente obsoleto e só pode ser mantido pela submissão do governo ao poder dos lobbies.’


Renato Cruz


Telefônica desafia ministério e amplia alcance de sua TV paga


‘A Telefônica começou a oferecer seu serviço de TV paga via satélite, em parceria com a DTHi (também chamada Astralsat), em todo o Estado de São Paulo. Na quinta-feira, a empresa anunciou que ele estava disponível em Ribeirão Preto. A central de atendimento da companhia, no entanto, informou que ele pode ser contratado em outras cidades de São Paulo. Na sexta-feira, um atendente da Telefônica disse ao Estado que a instalação na capital poderia ser agendada num prazo de sete dias.


A empresa trava uma queda de braço com o governo e com o setor de TV paga. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o conselheiro Pedro Jaime Ziller, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), afirmaram, semana passada, que a Telefônica precisaria de anuência prévia da agência para começar a vender o serviço. Na visão da operadora, como se trata de uma parceria comercial, não haveria necessidade de aprovação anterior. A análise seria feita depois do início das operações.


A Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) enviou à Anatel um documento em que argumenta ser ilegal a entrada da companhia espanhola na TV paga. A entidade argumentou que a Lei do Cabo impede concessionárias de telefonia local de oferecerem televisão a cabo em sua área de atuação, e que esta proibição se estende a outras tecnologias, como o satélite e o MMDS (TV paga por microondas).


A ABTA também apontou que a parceria com a DTHi implica em assunção de controle, apesar de ter sido chamado de acordo comercial, o que a Telefônica nega.


‘Se puser no ar, vai tirar do ar’, afirmou o ministro das Comunicações sobre a TV paga da Telefônica na quinta-feira. Mesmo assim, houve o lançamento. No mesmo dia, a Telefônica anunciou que seu presidente no Brasil, Fernando Xavier Ferreira, vai deixar o cargo a partir de janeiro. Antes do anúncio, Xavier se encontrou com Hélio Costa em São Paulo.


A Telefônica atribuiu a uma ‘coincidência’ todas essas coisas terem acontecido no mesmo dia, e nessa ordem: o ministro dizer que não poderiam oferecer TV paga, Xavier conversar com ele, a empresa anunciar o lançamento do serviço e, por fim, que o executivo deixará o cargo.


O serviço em parceria com a DTHi foi batizado de Você TV. O pacote mais barato, de R$ 39,90, inclui 18 canais fechados, três canais abertos (SBT, Bandeirantes e MTV) e, numa promoção de um ano, os 10 canais de filmes da HBO. O pacote completo, com 56 canais pagos e três abertos, custa R$ 79,90. A instalação é gratuita e o equipamento é emprestado pela empresa.


Os principais opositores à entrada da Telefônica em TV paga são a Net, maior empresa do setor no Brasil, e a Sky/DirecTV, com 95% dos assinantes de TV por satélite.


Ambas têm as Organizações Globo como acionista. A Net também é controlada pelo grupo mexicano Telmex/América Móvil, por meio da subsidiária Embratel. A Telmex disputa com a Telefônica o mercado latino-americano de telecomunicações.’


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TV digital brasileira deve chegar sem a interatividade prometida


‘A TV digital não deve ser interativa nem brasileira em sua estréia, prevista para 3 de dezembro de 2007. Na quinta-feira, durante o lançamento do Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), em São Paulo, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, informou que os primeiros conversores, equipamentos que permitem receber o sinal digital em televisores analógicos, devem vir sem o middleware, software que garante a interatividade. O middleware é uma das principais inovações propostas pelos consórcios brasileiros que participaram da pesquisa contratada pelo governo.


‘O middleware é obrigatório, mas ainda não teremos a ferramenta para o ano que vem’, disse Costa. ‘Lá na frente ele será incorporado. O primeiro conversor será muito simples, e vai garantir a qualidade da imagem.’ Costa garantiu que este conversor mais simples custará até R$ 100. ‘A Samsung garantiu que pode colocá-lo no mercado por US$ 43.’ O ministro estima que o mercado de conversores, também chamado set-top boxes, irá movimentar R$ 9 bilhões em três anos.


Os consórcios do SBTVD-T também recomendaram a adoção da tecnologia MPEG-4 para compressão de vídeo. Os sistemas internacionais, inclusive o japonês ISDB, escolhido pelo governo, usam uma versão anterior, chamada MPEG-2. Mas, na estréia, os conversores não devem ter MPEG-4. ‘Existe um problema de fabricação’, explicou Costa. ‘Os componentes com MPEG-4 só estarão disponíveis na Europa em meados de 2007.’ Mas ele garantiu que o MPEG-4 será adotado posteriormente e que não haverá problema de compatibilidade.


Sem middleware e sem MPEG-4, o sistema nipo-brasileiro será praticamente igual ao japonês. Diferentemente de Costa, o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa Filho, garantiu que os conversores terão middleware. ‘O decreto 5820 diz que as inovações brasileiras são obrigatórias’, disse, referindo-se ao documento assinado pelo presidente Lula em 29 de junho.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Faustão produz circo


‘Mal acabou de desmontar a pista de sua Dança no Gelo e o Domingão do Faustão já produz sua próxima competição envolvendo celebridades: o Circo dos Famosos. O quadro, que deve estrear com as novas atrações, em março, já está em fase de busca de locações.


Nele, famosos terão de mostrar suas habilidades como trapezistas, malabaristas, mágicos e palhaços. A cada semana os famosos vão encarar um desafio diferente. O casting ainda não está montado, mas a produção já sabe que vai encontrar problemas pela frente. Na Dança dos Famosos foi grande o número de artistas lesionados durante a prova, o que acabava atrapalhando algumas produções da casa e a própria competição. Levando em conta que subir em um trapézio não é tão simples assim, vai ser difícil encontrar celebridades dispostas a encarar o desafio.


O quadro é muito parecido com um formato da Endemol, que já foi ao ar em países como Portugal. Uma das diferenças é que durante o tempo de preparação no picadeiro os artistas lusitanos ficavam confinados em um casa , como no Big Brother. No de Faustão, os participantes terão somente aulas de circo.


Hora do recreio


Estão animados os intervalos das gravações da série A Pedra do Reino, em Taperoá (PB). Na última semana, Cacá Carvalho, que viverá o juiz corregedor da obra de Ariano Suassuna, encenou O Homem com a Flor na Boca, de Pirandello, para seus colegas.


Record Monta elenco de nova trama


A Record começou a montar o elenco de Segredos de Família, novela que marca a estréia de de Ana Maria Moretzsohn na emissora. O folhetim, escolhido para substituir Bicho do Mato, deve começar a ser gravado em janeiro e tem estréia prevista para março. A atriz Juliana Silveira, ex-Band, é a mais nova aquisição da trama. Paloma Duarte, Lucélia Santos, Kito Junqueira, Leonardo Brício e Patrícia França já são nomes confirmados no elenco. Moretzsohn tenta agora contratar Luana Piovani para uma participação especial na novela.


entre- linhas


O animador Daniel Messias fará uma nova série para o Cartoon Network com cartunistas brasileiros. Os episódios trarão histórias de Los 3 Amigos, de Angeli, Glauco, Laerte e Adão. As histórias estarão em 2007 no bloco Adult Swim, que já exibe curtas dos cartunistas.


O autor Walcyr Carrasco lança hoje seu livro A Senhora das Velas, da Arx Jovem, na Livraria da Travessa, no Rio, às 20 horas.


O ator e humorista Marcelo Médice apresenta programa inédito hoje em Na Hora do Intervalo, no Multishow. Às 21h45.’


INTERNET & TECNOLOGIA
Pedro Doria


Perda de capricho


‘Não faz muito, pedi à namorada que sentasse perante o iTunes e fizesse uma seleção musical para nossa festa. Ela se divertiu pescando faixas de álbuns vários. Cheguei em casa, chequei a lista, achei tudo muito bacana, aí cliquei no botão que faz a ordem de tocar as músicas aleatória.


Pra quê?


‘Você tem idéia de quanto trabalho me deu?’, ela perguntou. ‘Fazer com que música com aplauso terminasse seguida de música com aplauso no início? Que o estilo de uma não se chocasse com o estilo da seguinte?’ Naturalmente ela, como é costume das mulheres, tinha toda razão.


O blog ProductDose.com trouxe a questão à tona esses dias. A música digital, quando as temos todas no micro, facilitou tanto a composição de listas para tocar que uma arte típica dos anos 80 que perdurou até meados dos 90 se perdeu: a do tape mix. Fazer uma fita para alguém.


Isto é do tempo da vitrola e do som double-deck. Dava um trabalho desgraçado. E, talvez por dar um trabalho desgraçado, trazíamos mais trabalho à coisa. Uma música levava a outra por um motivo. Dependia de para que namorada a fazíamos, ou para que futura (a esperança jamais morre) namorada – ou mesmo para uma festa na casa dum amigo.


Carecia pensar no tema geral da fita. Não raro, amor. Mas podia ser algo dançável. Qualquer coisa. Carecia não misturar estilos senão com muita cautela. Seguir Tom Jobim com Bruce Springsteen não faria qualquer sentido. (E, ao clicar no aleatório, as cento e poucas músicas produziram essa coisa maravilhosa que é Passarim seguido de Thunder Road.)


Revi por esses dias Alta fidelidade, que é um filme razoavelmente recente baseado num livro não tão antigo assim e que, no entanto, fala desse tempo que não existe mais. Não quer dizer que não possa voltar.


Quantidade e facilidade são os pontos chaves, aqui. É como a criança mimada que tem tantos brinquedos que, no fundo, nem liga tanto assim para eles. É tão fácil fazer um mix de músicas hoje. Basta arrastar as faixas para uma lista, apertar num botão e lá está um CD queimando.


O impulso da nossa cultura tecnológica quase que exige que o façamos gastando a menor quantidade de tempo possível.


No tempo do cassete, era diferente. Gravar uma música e depois gravar outra por cima prejudicava a qualidade da segunda gravação. Cronometrar o tempo entre faixas era algo calculado. Era exigido pela natureza do processo que pensássemos bem o que queríamos dizer antes de começar a gravação. Trabalho para tardes inteiras. E o resultado eram coisas bastante pessoais. Havia uma arte ali.


Não é só na composição de um tape mix, não. A pressa do computador está nos custando uma perda de capricho em todo o arredor.’


Rodrigo Martins


Ele quer botar tecnologia nas novelas


‘A mocinha enfim vai descobrir que foi traída pelo vilão. Pega o celular dele, fuça nas mensagens de texto e descobre que foi apunhalada pelas costas. Aquele com quem ela trocou juras de amor no altar, na verdade, estava só interessado na herança milionária de seu falecido pai. Diante da surpreendente descoberta, aos prantos, ela jura vingança, nem que seja a última coisa que faça em sua vida.


Parece novela? Mas é mesmo. Se depender do autor da Rede Globo Aguinaldo Silva, de sucessos como Tieta e Senhora do Destino, cada vez mais veremos elementos tecnológicos, como o celular, nas tramas. Com uma novela para estrear em outubro de 2007, ele promete encher a tela com computadores e telefones móveis. E com função dramática.


Para Silva, colocar traquitanas hi-tech ajuda a fazer com que os jovens se identifiquem com a novela. ‘Acho que a garotada de hoje deve achar que novela é uma coisa antiga. Nada do que para eles é usual, em matéria de tecnologia, aparece nela.’


Segundo o novelista, a tecnologia atualmente é mostrada apenas como inserções publicitárias na trama. ‘Toda a vez que aparece um PC em um capítulo é para fazer merchandising de internet banking, por exemplo.’


É justamente isso que ele pretende mudar. Em sua próxima novela, Silva diz que os elementos digitais terão papel importante, como o de revelar segredos. ‘Um dos recursos do folhetim é a famosa carta, que desvenda um mistério ou é uma grande ameaça a um personagem. E até hoje continua sendo uma carta e não um e-mail que está lá guardado no PC e que só pode ser aberto com uma senha secreta. Já o celular, por exemplo, se uma mulher escarafunchar o telefone do marido, ela descobre coisas do arco da velha. Numa novela, isso é fantástico.’


Durante a entrevista para o Link, Silva se mostra muito inteirado com os avanços digitais. Essa relação com a tecnologia, diz, não é de hoje. Ele afirma que foi um dos primeiros novelistas da Globo a utilizar o PC para escrever histórias, ainda na década de 80. ‘Todos os autores eram pessoas de certa idade, que vieram do rádio. Houve resistência’, conta. Também foi o primeiro a mandar os capítulos por e-mail. ‘Havia mensageiros que buscavam disquetes em casa. Numa reunião na Globo, perguntei: por que não mandamos por e-mail?’


Mais recentemente, Silva também virou um ‘autor itinerante.’ Na rotina estressante de um novelista, com cobranças de audiência e horas e horas na frente do computador, ele sempre arranja um tempinho para dar suas escapulidas. Com casas em Paris, Lisboa, Petrópolis e Rio de Janeiro, ele viaja freqüentemente.


Como fazer para trabalhar em locais tão distantes? A resposta, Silva encontrou em um notebook peso-leve, de apenas 1 kg. O computadorzinho é o companheiro de aventuras do novelista. Com uma conexão à internet, ele trabalha em qualquer lugar.


‘Para conversar com a equipe da novela, colaboradores de texto, diretores e atores, uso Skype e MSN’, diz. ‘Não é mais preciso contato físico para estarmos juntos. Economizamos tempo e posso fazer minhas viagens.’


Outro amigo inseparável de Silva é o telefone celular com câmera embutida. Com ele, sai fotografando, discretamente, tipos diferentes de pessoas que possam dar origem a personagens de novela.


Nessas ‘sessões de fotos’, Silva, que freqüenta o Barra Shopping, no Rio, clicava sempre um garoto que andava constantemente por ali. ‘Eu ficava fascinado com uma coisa meio elétrica que ele tinha. Criei então um personagem parecido, o Shaolin (vivido pelo ator Leonardo Miggiorin), dono de uma academia em Senhora do Destino. Me inspirei no tipo físico e no jeito de se comportar dele.’


‘Uma nova linguagem virá com a TV digital’


Qual o futuro da TV? Muita coisa ainda está por vir, prevê o novelista Aguinaldo Silva. Com a promessa da TV digital para os próximos anos, será possível assistir imagens em alta definição e ver programas até no celular. E isso, diz o escritor, vai mudar muito a forma de fazer e acompanhar telenovelas e outros programas.


‘Todas essas alterações irão forçar uma mudança na linguagem dos programas’, prevê. ‘Quando tiverem acesso à programação no celular, as pessoas poderão assisti-la em qualquer lugar em que estejam. No teatro, por exemplo, poderão dar uma saidinha para ir ao banheiro e, enquanto isso, olhar o resultado de um jogo de futebol ao vivo. Tudo instantâneo. Isso muda a relação do telespectador com o veículo.’


Quanto à alta definição, o novelista diz que muita coisa na produção dos programas precisará ser alterada. ‘Como a qualidade de imagem será melhor, o modo como se faz os cenários terá que ser repensado. Os efeitos de computação gráfica também, pois os ‘defeitos’ da trucagem serão mais visíveis, o que não ocorre hoje.’


Silva faz essas ‘previsões’ com o conhecimento de quem acompanha a evolução da televisão há quase 30 anos. Desde que tornou-se autor da Globo, em 1978, ele viu a disseminação da TV em cores, do controle remoto e da computação gráfica. Também acaba de lançar o livro 98 Tiros de Audiência, que usa a ficção para contar a história da TV.


Hoje, ele diz que tem muito mais possibilidades em seu trabalho. ‘Antes de a tecnologia invadir tanto a TV, nós, autores, só podíamos criar grandes acontecimentos – como tempestades e incêndios – uma vez por mês. Hoje, nos pedem para não criar mais de um por semana. Mas tem autores que burlam isso e mandam dois.’


Toda essa facilidade tem um nome: computação gráfica. Segundo Silva, hoje, para fazer um incêndio, não é necessário mais queimar nada. Tudo é feito pelo computador. ‘Na época de Tieta, em 1990, fizemos uma tempestade de areia. Levou um tempo monumental. Teve ventiladores gigantecos, uma maquete… Aquilo demandava tempo e paciência. Hoje, está tudo mais fácil.’


Isto é Aguinaldo Silva


SÉRIE | LAMPIÃO E MARIA BONITA


ANO | 1982


DETALHES | Escrita em conjunto com Doc Comparato, foi, segundo Aguinaldo Silva, a primeira minissérie produzida pela TV Globo. Com Nelson Xavier e Tânia Alves nos papéis principais, conta os últimos dias da vida dos cangaceiros Lampião e Maria Bonita


NOVELA | ROQUE SANTEIRO


ANO | 1985


DETALHES | Parceria com Dias Gomes, retrata a movimentação na pequena cidade de Asa Branca quando Roque, um homem considerado santo e falecido – mas que estava vivo -, volta à cidade. Com Lima Duarte, Regina Duarte (foto), José Wilker, entre outros, no elenco


NOVELA | TIETA


ANO | 1990


DETALHES | Baseado no livro de Jorge Amado, foi escrita em conjunto com Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares e conta a história de Antonieta Esteves, a Tieta, que é expulsa da cidade pelo pai e volta 25 anos depois. Com Betty Faria (foto) no papel-título’


Ricardo Anderáos


Carros chipados


‘Um carro se aproxima de um pedágio em alta velocidade. O motorista reduz a velocidade e dá a impressão de que vai parar. Pouco antes de chegar ao pedágio, entretanto, acelera vigorosamente. Parece que vai se espatifar na cancela. Mas uma antena especial identifica um chip no veículo e levanta a cancela rapidamente. O motorista passa, olha o pedágio pelo espelho e dá um leve sorriso.


Vi um comercial com essa cena nos EUA há uns 12 anos. Fazia parte de uma campanha da AT&T, com o objetivo de mostrar a modernidade da empresa. Seu lema era ‘you will’, e, sob esse mote de ‘você vai’, apresentava várias situações de como seria nosso cotidiano no futuro, graças a tecnologias inovadoras que estavam sendo desenvolvidas pela AT&T.


Demorou pouco para essa visão futurista de 1994 virar carne-de-vaca. Como moro em Ilhabela, trabalho em São Paulo e pego a estrada toda semana, tenho um daqueles chips ‘sem parar’ instalados no pára-brisa de meu carro há uns quatro anos. Mais recentemente, shoppings paulistanos começaram a aceitar esse sistema. Nem lembro mais da última vez em que peguei uma fila para validar o maldito tíquete de estacionamento.


Por tudo isso acho muito boa a nova resolução do Conselho Nacional de Trânsito, obrigando todos os veículos em circulação a instalar um chip semelhante até 2011. Aqui em São Paulo a coisa deve acontecer antes, até 2008.


O prefeito Gilberto Kassab acha que um sistema desse tipo teria ajudado no combate a ataques do PCC, como os que aconteceram neste ano.


Acho isso uma bobagem. As declarações oficiais destacaram, como um dos objetivos principais da iniciativa, o combate ao furto e roubo de veículos. Mas a primeira coisa que um ladrão vai fazer, ao roubar um carro, é arrancar o aparelhinho do pára-brisa. Acho que ele não vai se importar de o carro levar multa de R$ 127,69, mais os 5 pontos na carteira do infeliz proprietário do veículo.


Esse sistema não poderá monitorar a bandidagem da maneira como as autoridades estão afirmando por uma série de razões. Para começar, há limitações jurídicas. A Ordem dos Advogados do Brasil já declarou que o monitoramento completo de todos os veículos fere a Constituição, tanto do ponto de vista do direito à privacidade quanto do direito de ir e vir. Uma simples resolução do Contran não muda isso. Sem falar das dificuldades técnicas e financeiras em monitorar todos os veículos, 24 horas por dia.


Haverá benefícios sim, mas creio que serão mais no planejamento, fiscalização e gestão do trânsito do que no combate à criminalidade. Uma coisa que me deixa revoltado no Brasil é a mania que o povo tem de avançar sobre um sinal que está fechando e fechar o cruzamento. Com chips desse tipo, seria possível multar esses mal educados automaticamente. Por essas e por outras acredito que a novidade vai melhorar e muito as nossas vidas.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 27 de novembro de 2006


MÍDIA vs. LULA
Fernando de Barros e Silva


Tentação autoritária


‘A idéia ventilada pelo petismo de que a reeleição de Lula representou a vitória das forças populares e progressistas contra os senhores do atraso e os guardiões do conservadorismo é de um simplismo ofensivo à inteligência.


Seria preciso ignorar quem são os parceiros políticos de Lula; seria preciso ignorar no que se transformou o próprio PT (uma máquina burocrática a serviço do novo patrimonialismo sindical, um instrumento para conferir vantagens a seus membros); seria preciso ainda ignorar o que foi o primeiro governo Lula e sua infinita capacidade de acomodar interesses sem resolver conflitos, tudo resultando num jogo de soma zero, sem crescimento ou distribuição de renda.


Se não desobstruiu a economia, a reeleição de Lula voltou a destravar o pendor autoritário do petismo e de amplos setores do governo. Notória em várias passagens deste mandato, essa tentação se viu obrigada a hibernar depois do mensalão, por força dos fatos. Ela voltou, com grau inédito de excitação.


O próprio Lula dá sua contribuição ao clima despótico quando pede aos governadores eleitos que não lhe façam oposição até 2010. Ou quando lista a legislação ambiental, os órgãos encarregados de fiscalizar os atos do Executivo e a própria oposição como entraves ‘naturais da democracia’ para seu sonho tardio de crescer. Alguns dirão que o presidente não falava a sério -embora o assunto e o cargo exigissem.


Lula brinca, mas não seus áulicos. É famosa a frase do vice-presidente Pedro Aleixo, quando, na reunião que decretou o AI-5, discorria sozinho contra a medida e foi interrompido por Gama e Silva, então ministro da Justiça: ‘Dr. Pedro, o sr. desconfia das mãos honradas do presidente, aqui presente?’ E a resposta: ‘Não ministro, eu desconfio é do guarda da esquina’.


Guardemos estas palavras, ao lado do que disseram na semana passada -sobre e para jornalistas- o presidente da Petrobras e o presidente do PT. Serão eles comissários do povo ou guardas da esquina?’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Na Lapa


‘No ‘NYT’, ‘cena no Clube dos Democráticos’, salão de dança na Lapa, no Rio


Nos textos de viagem ao verão brasileiro que voltam em jornais como ‘Observer’ e ‘Financial Times’, destaque para Natal, Olinda, João Pessoa, Salvador -sob títulos culpados como ‘Onde a fome lança luz pungente sobre nossa indulgência’ de turistas ricos. Daí para o ‘New York Times’, que defende a Lapa da ‘tempestuosa drag queen negra bissexual Madame Satã’, que vive ‘renascimento’ e onde ‘o crime não é tão ruim’ -em oposição à zona sul ‘dos shoppings’.


E entrou à tarde, por Reuters e AP, que ‘ladrões com rifles e granadas roubaram ônibus cheio de turistas no incidente mais recente de uma onda’. Na zona sul.


‘FREE PILOTS’


O jornalista Joe Sharkey, do Legacy, segue na campanha pelos pilotos dos EUA, agora no ‘Times’ londrino. E o ‘NY Post’, também de Rupert Murdoch, abraçou a causa.


PARISIENSES


Da Sorbonne, o historiador Luiz Felipe de Alencastro abriu Seqüências Parisienses, blog ‘sobre o Brasil’, com posts comentando desde o escravismo até a anorexia.


O COMBATE


Deu no ‘Variety’, a bíblia da indústria cultural nos EUA, ‘o combate’ na TV paga daqui:


– De um lado, operadoras lideradas por Net e Sky. Do outro, as poderosas Telemar, Brasil Telecom e Telefônica.


Elas vão ‘se bater’ por um mercado que demanda ‘jogo triplo’, com serviços de TV, telefonia e web. No meio do ringue, o governo e as regras.


RAIO DE ESPERANÇA


O ‘combate’ maior é entre a espanhola Telefônica e a mexicana Telmex -que, diz o ‘Variety’, ‘comprou a Net’.


A Telmex, segundo texto do ‘Financial Times’, ontem, enfrenta problemas em casa, onde é virtual monopólio:


– Um raio de esperança brilhou forte quando o novo presidente, Felipe Calderón, nomeou seu ministro das telecomunicações, do PRI, e este disse que o país precisa injetar concorrência em sua economia para ter eficiência.


BOM TRÂNSITO


No ‘Valor’, ‘o presidente da Telefônica foi destituído [porque] a avaliação do alto escalão era de que ele perdeu poder de interlocução com o governo nos últimos anos’.


Ex-secretário-executivo das Comunicações sob FHC, ele dá lugar a outro executivo do governo FHC, mas que foi ‘escolhido por ter um bom trânsito em Brasília’.


PRESSÕES E CONFUSÃO


Não é apenas no âmbito das comunicações (ministério e agência) que ‘o combate’ é pesado. Também no cinema (ministério e agência).


Segundo o site Pay-TV, a sucessão na Agência Nacional do Cinema vive ‘pressões e confusão’ nos ‘bastidores’ -com o ‘setor industrial’, aspas no original, cobrando que não dêem ‘excessivo poder para o grupo ligado ao Ministério da Cultura’.


A novidade é que o ‘setor industrial’ estaria rachado.


ÀS CRIANÇAS POBRES


Ecoou no final de semana, por sites de tecnologia e de jornais, como o ‘Wall Street Journal’, o lançamento do programa de laptops de US$ 100 no Brasil, por Nicholas Negroponte, do Media Lab.


Na pergunta levantada pelo ‘International Herald Tribune’, ‘quem poderia questionar’ um projeto não-governamental voltado para ‘as crianças mais pobres do mundo’, da África à Ásia?


Porém há, sim, ‘críticos violentos’, principalmente da ‘indústria de tecnologia, questionando que um laptop possa ser feito por US$ 100’.


Não importa, os testes com os 50 primeiros começam ainda hoje, aqui mesmo, no Brasil. Sob olhares atentos:


– Empresas como Intel e Microsoft estão correndo com seus próprios projetos.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Governo cria mecanismo contra baixaria


‘O ministro Márcio Thomaz Bastos assina no próximo dia 11 portaria mudando as regras de classificação indicativa de TV.


Entre as novidades, estão a obrigatoriedade de classificação para os canais pagos (inexistente até hoje) e a adoção, por todas as TVs, de um manual que diz o que pode ser exibido em cada horário e de um conjunto de símbolos para informar ao telespectador as inadequações de cada programa.


A medida que terá maior impacto nas redes abertas, no entanto, será um novo mecanismo para coibir abusos, a classificação cautelar. Pela nova portaria, um programa será automaticamente reclassificado ao levar a segunda advertência do Ministério da Justiça. Hoje, a reclassificação só ocorre após toda a tramitação de um processo administrativo, o que leva no mínimo três meses.


Pelas novas regras, ‘Cobras & Lagartos’ não teria chegado ao fim no horário livre (até 20h). A novela foi advertida logo na primeira semana. Um mês depois, recebeu a segunda advertência. Em agosto, a Globo se comprometeu a não exibir mais cenas violentas ou eróticas e o processo foi encerrado. Se a nova portaria estivesse em vigor, já no final de maio ‘Cobras & Lagartos’ teria sido reclassificada para as 20h.


Segundo José Eduardo Elias Romão, diretor do departamento de classificação, as novas regras valerão 45 dias após a publicação da portaria.


PAC MAN 1


As vendas da Você TV, operadora de TV paga via satélite lançada sexta-feira pela Telefônica, superaram as expectativas. Foram vendidas 200 assinaturas nas primeiras horas de operação, ainda restritas a Ribeirão Preto. De cada dez pessoas que ligavam, uma comprava.


PAC MAN 2


O maior trunfo da Você TV é o preço. Tem o pacote com canal premium mais barato do mercado. Vende 18 canais básicos mais os canais HBO por R$ 40. Na TVA, o pacote mais barato com HBO custa R$ 76.


PAC MAN 3


Esse preço, no entanto, é promocional. Só vale para assinaturas feitas até o final de 2006 e sofrerá reajuste após um ano, quando os canais HBO passarão a ser cobrados à parte.


CASA NOVA 1


A Globo armou uma operação de guerra para digitalizar todos os estúdios do Projac (sua central de gravações no Rio) até dezembro de 2007, quando lançará seu sinal de TV digital na Grande São Paulo.


CASA NOVA 2


Como os estúdios não podem parar, eles serão conectados a unidades móveis (caminhões) enquanto suas ilhas de edição estiverem sendo modernizadas. Será algo parecido a reformar uma casa morando nela.


RANKING


Salvador surpreendeu a Record. Foi lá que sua nova novela, ‘Vidas Opostas’ (que estreou muito bem), teve o melhor desempenho no primeiro capítulo: 19 pontos. Com o sucesso, a atração deverá ter novas gravações em Portugal.’


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