Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Esther Hamburger


‘Durante a Guerra Fria, os inimigos estrangeiros nas produções americanas eram em geral soviéticos. Hoje são terroristas orientais. Mas há uma inversão interessante. Para além da oposição entre o bem e o mal, a referência melô salienta resquícios universais de fidelidade.


‘24 Horas’ é mais um seriado de sucesso na TV aberta americana da atualidade. Já em sua quarta temporada, o policial explora a insegurança pós-11 de Setembro. Beira a propaganda oficial. Mas, para além dos confrontos contínuos que mobilizam guerrilheiros de ambos os lados do conflito, há um apelo a resquícios de bom senso.


Exibido no Brasil pela Fox no horário nobre da segunda-feira, o programa apresenta um ritmo frenético dado em larga medida pelos movimentos rápidos de uma câmera nervosa.


Imagens tremidas produzidas por cinegrafistas que filmam com a câmera na mão possuem um significado especial na história do cinema. Elas carregam a marca dos cinemas novos, que expressaram na tela grande a agitação cultural dos anos 60.


Estimulada pela invenção de máquinas cada vez mais leves, a instabilidade da imagem se tornou convencional. Em ‘24 Horas’, ela ajuda a transmitir o clima ininterrupto de perigo iminente que assola a vida de Jack e seus colegas da divisão antiterror.


A equipe trabalha em relação permanente com uma bem aparelhada base secreta e em freqüente contato direto com o presidente. A coordenação virtual de pequenas unidades mimetiza a tática minimalista do inimigo.


A edição acelerada de quadros irregulares acentua o tom agitado, aumentando ainda mais a impressão de ação.


De um lado e de outro, uma causa maior exige sacrifícios sobre-humanos. Ao técnico do serviço secreto se pede que trabalhe. É na referência extremada às relações mais viscerais que cada um dos lados encontra algum respiro. Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP’


A LUA ME DISSE


Daniel Castro


‘Globo vende até receita de doce em novela ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/04/05


‘O plano de merchandising de ‘A Lua me Disse’ que a Globo enviou a agências de publicidade sugere que o anunciante pode definir receitas de doces e salgados com alguma relevância na novela.


Diz um trecho do documento: ‘Entre as muitas iguarias que Dionísia (Chica Xavier) produz em sua cozinha, um doce faz especial sucesso. (…) Uma deliciosa oportunidade fica reservada para um dos ingredientes dessa receita (como leite condensado, creme de leite, chantilly, chocolate, gelatina, suco concentrado de frutas etc.)’. Ou seja, o doce será determinado pelo fabricante do produto que comprar merchandising, por cerca de R$ 400 mil a ação.


Outra faceta ‘Mais Você’ de ‘A Lua me Disse’ é a personagem Zelândia (Maria Zilda), dona de um bar: ‘Entre um espetacular mocotó e uma suculenta rabada com agrião, podemos encontrar uma geladíssima cerveja’. Zelândia guarda segredo de seus pratos. ‘Mais tarde, o segredo _marca de tempero (caldo de galinha ou de carne)_ poderá ser revelado’, dita o comercial.


O plano transforma o cenário em shopping center. A loja Frango com Tudo Dentro serve para todo tipo de anúncio, de sapatos a carros, incluindo ‘uma caixa gigante de sabão em pó’ ou ‘um grande frango defumado’.


A Globo diz oficialmente que o merchandising não interfere na trama, que é a trama que permite oportunidades de vendas.


OUTRO CANAL


Pacote Licenciadora do formato de ‘O Aprendiz’ (Record) e de ‘American Idol’ (SBT), a Freemantle está negociando com TVs do país versões de ‘Candid Camera’ (câmeras escondidas) e um ‘reality show’ já batizado de ‘Briga de Vizinhos’.


Poeira A novela ‘América’ deu uma sacudida na crise no capítulo de anteontem, que registrou 49 pontos no Ibope (contra 40 na semana passada). O frio que finalmente chegou a São Paulo ajudou: 77% dos televisores estavam ligados no horário.


Luz vermelha Já o programa de Hebe Camargo decepcionou. Deu apenas quatro pontos, a mesma audiência da Rede TV!, contra nove da Record e 36 da Globo (que exibia ‘Os Normais – O Filme’).


Chute A voz de Jack Bauer (Kiefer Sutherland) vai mudar na quarta temporada da série ‘24 Horas’ (Fox, Globo). É que o ator Tatá Guarnieri, que o dubla, será substituído. No Orkut, Guarnieri diz que foi punido por ter exigido direitos sobre a dublagem para DVDs, que é a mesma da TV. A Fox diz que a troca foi ‘estratégica’.


Protesto Os 40 anos da Globo também serão comemorados em forma de protesto, nesta sexta, no Masp, em São Paulo. A ‘festa’, organizada pelo coletivo Centro de Mídia Independente, será contra a ‘monopolização da mídia’. ‘Vem que essa festa é sua, afinal 40 anos de ditadura midiática é algo fantástico!’, diz o convite.’



TV MANCHETE


Cristina Padiglione


‘História da Manchete será contada em livro ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 27/04/05


‘A Bloch Som & Imagem, empresa da qual o SBT oficialmente comprou a novela Xica da Silva, foi criada em 1995, logo depois que a Rede Manchete voltou para as mãos da família Bloch – a empresa, que em 93 havia sido vendida para o grupo IBF, de Hamilton Lucas de Oliveira, foi então resgatada pelos Bloch por uma série de razões que levaram à anulação do negócio. Temendo que a IBF pudesse recuperar a TV Manchete na Justiça, os Blochs, para garantir parte de seu patrimônio, inauguraram esse novo nome jurídico, Bloch Som & Imagem. Todas as produções feitas a partir dali não pertencem à massa falida e podem, em tese, ser negociadas por Pedro Jack Kapeller, o Jaquito, sobrinho e herdeiro de Adolpho Bloch.


Essa história e muitas outras que fizeram da Manchete um território fértil para revelar talentos e idéias, será contada em livro por Elmo Francfort, que cresceu nos bastidores da emissora. A edição está prevista para sair no segundo semestre, pela Coleção Aplauso – Imprensa Oficial do Estado.


A idéia não é procurar culpados pela falência, mas sim contar a história da Manchete por meio de episódios e de depoimentos colhidos entre quase cem ex-funcionários de todas as etapas hierárquicas da emissora. Entre os ouvidos, estão Jayme Monjardim, Eliakim Araújo, Leila Cordeiro, Luiz Carlos Azenha, Fernando Barbosa Lima, Nelson Hoineff, Zevi Ghivelder e Maurício Shermann, entre outros.’



MTV


Patrícia Villalba


‘Para que o original, se a cópia é tão limpinha? ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 26/04/05


‘Convencido de que na TV nada mais se inventa e quase tudo se copia, o apresentador Marcos Mion volta à MTV para explorar descaradamente o vasto universo das bandas cover. Tudo no novo Covernation (terças-feiras, 22h) tem sabor de déjà vu – os trejeitos e bordões lançados pelo apresentador, os jurados que são sósias de celebridades, as provas e os participantes -, mas nem por isso o programa deixa de ser divertido. ‘Para que o original, se o cover é tão limpinho?’, questiona Mion à platéia, em tom de autodefesa.


O programa é a melhor coisa da nova programação da MTV, que tem ainda o inclassificável Beija Sapo de Daniela Cicarelli e o VJs em Ação, espécie de nonsense que se leva a sério. No palco duas bandas cover fazem duelos de guitarra, em provas bem parecidas com as que costumamos ver em programas de auditório.


Os concorrentes têm de, por exemplo, saber de cor tudo da vida de seus ídolos – os grupos ou cantores que se dedicam a imitar. A lista de tarefas a cumprir tem uma impagável paródia de um dos quadros do programa Qual É a Música?, de Silvio Santos: ‘Maestro Zezinho, duas notas’, pede Mion, para que a ‘Alanis Morissette cover’ prove que é capaz de reconhecer um de ‘seus’ sucessos ao primeiro acorde.


O jogo, no entanto, é o que menos importa – o que vale mesmo é a esculhambação. Tanto é que o vencedor leva para casa, além da fama recém-adquirida, o Troféu Emerson Nogueira, uma homenagem ao cantor que tem arrastado multidões cantando sucessos de todas as épocas.


E, apesar de se auto-sacanear o tempo todo, o programa tem produção caprichada e é feito por quem entende de televisão. Gente que, como Mion, cresceu dando risadas das caras e bocas do dublador Pablo, aquela figura loira e andrógina que aparecia no Qual É a Música?. O VJ, aliás, no personagem de camelô da televisão, volta a fazer as imitações que o tornaram famoso na época do Piores Clipes do Mundo e aparece como Pablo em um dos quadros, ponto alto do programa.


Numa conversa nos bastidores, pouco antes de entrar no ar, Mion parece muito contente por ter voltado à MTV, depois de uma temporada um tanto malsucedida na Bandeirantes. Sabe que ali tem liberdade para experimentar – seja copiando, criando ou subvertendo a cópia, para criar a partir dela.’



CANAL BRASIL


Marcelo Migliaccio


‘Pereio retoma o sucesso de ‘Sem Frescura’ ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 26/04/05


‘O mais insuspeitado entrevistador brasileiro volta ao ar hoje, às 22 h, no Canal Brasil. Na condução do Sem Frescura, o ator Paulo César Pereio, que dispensa aquela listinha básica de perguntas elaborada previamente, vai papear nesta noite com o língua solta Jorge Kajuru, agora contratado do SBT. É o primeiro dos programas da terceira leva, que chega ao ar embalada pela progressão dos índices de audiência dos primeiros 18. A filha de Pereio, Lara Velho, idealizadora da atração, continua responsável pela direção.


‘Eu não preparo as perguntas, nada, evito até conversar com o entrevistado antes da gravação para não queimar assunto’, diz Pereio, 65 anos, ator de mais de 80 filmes. ‘Gosto do improviso do jazz, aquele momento mágico de liberdade. Quando comecei, não sabia no que ia dar, agora estou mais seguro’, conta ele, para confessar logo em seguida que teme aqueles brancos em que o assunto morre diante do convidado. ‘Tenho medo, mas quem tem… tem medo’, brinca.


Nesta nova fase, Pereio saiu do estúdio. Foi ao ateliê do artista plástico pernambucano Tunga, por exemplo, e conversou também com o produtor cinematográfico Aníbal Massaini e com o deputado federal Fernando Gabeira. ‘Quero falar de arte, e o cinema reúne todas elas, mas também de política’, afirma. O critério afetivo, fundamental na escolha de seus entrevistados, deu certo em termos de audiência. Segundo dados do ibope, entre julho e dezembro de 2004, o Sem Frescura foi assistido por 920 mil telespectadores diferentes.


Protagonista da peça Galileu Galilei, em cartaz em São Paulo, Pereio aproveita a chance de falar do espetáculo para fazer valer suas prerrogativas de entrevistado e esculhambar geral. ‘É um texto que mostra a luta contra o determinismo religioso. A igreja quer ver o circo pegar fogo: é contra a camisinha. Será que ela quer a aids, a explosão demográfica? E tem os Estados Unidos, esse estado fundamentalista evangélico que quer destruir o mundo e que é contra as pesquisas com células-tronco… tem o Severino Cavalcanti, que não é cavalgado…’


Sobre o trabalho como locutor, o dono de uma voz privilegiada – ‘impressiona bem as mulheres, sim’ -, Pereio conta que tem recusado alguns convites. ‘Locução dá dinheiro, mas não é sempre que me satisfaz, por isso cobro bem caro. O problema é a possibilidade de o cliente rejeitar o comercial. Isso me desagrada muito, tenho baixa tolerância à rejeição.’ Depois de dublar até desenho animado, nos início dos anos 70, foi nos programas políticos de Leonel Brizola (1922-2004), que ele encontrou plena realização na arte da narração. ‘Nunca cobrei nada, fiz os programas dele por ideologia e por amizade. Brizola só fez bem ao Brasil.’


O engajamento a um político de esquerda pode ter-lhe tirado algumas oportunidades profissionais, mas Pereio não reclama. ‘A gente só costuma olhar para a porta que se fecha, e não para as que se abrem.’ Da fama de turrão e criador de casos, o ator fez uma limonada e teve a idéia do filme Pereio, Eu te Odeio, ainda em fase de produção, em que diversos amigos, como Hugo Carvana e Neville de Almeida, além de alguns desafetos, descem a lenha no personagem-título. ‘Eu também entro no filme para contar o meu lado da história, mas acho que o lançamento ainda vai demorar, talvez só depois da minha morte. A fama que você faz pode prejudicar circunstancialmente num momento ou em outro, mas no fim das contas, você forma uma personalidade pública e aquilo acaba te ajudando, te fortalecendo. Só me recuso a ser celebridade. Tenho horror disso.’


De volta ao Pereio entrevistador, depois de gravar com Arrigo Barnabé, Pinky Wainer e Glauco Matoso, ele já pensa nos próximos convidados. Num rompante em meio à entrevista ao Estado, arrebata o telefone e, de um hotel no Rio, liga para a filha-diretora Lara, em Porto Alegre: ‘Já chamamos o Clodovil? Por que? Chama, chama. Comigo é sem frescura e com ele é com frescura.’ A filha, presumivelmente agastada, encerra logo o telefonema. ‘É bom trabalhar em família, a gente briga e depois faz as pazes com beijos’, finaliza o inabalável Pereio.’



REALITY SHOWS


O Estado de S. Paulo


‘Atração imita ‘O Show de Truman’ ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 26/04/05


‘O formato reality show deve alcançar seu ápice este ano com o mais ambicioso exemplo do gênero: câmeras seguirão dez famílias que viverão em uma comunidade – construída para o programa – em Londres, por um ano inteiro. A Shed Productions, produtora que realizará o reality, planeja construir dez casas e acompanhar a rotina doméstica dos protagonistas em um projeto que lembra o filme The Truman Show (O Show de Truman), com Jim Carrey.


O programa tem o apelo de um Big Brother, porém os participantes não ficarão confinados. Eles vão trabalhar e estudar normalmente e, nesses lugares, não serão filmados. Mas, quando retornarem aos seus lares, todos os seus movimentos serão flagrados e editados em três programas de meia hora por semana.


A Shed Productions já está em busca de ‘famílias alegres para fazerem parte do maior e mais desafiador reality show de todos os tempos’. Pegando como partida as novelas, os produtores esperam que os telespectadores fiquem ligados aos personagens da vida real. O público poderá votar para que as famílias sejam despejadas, até ficar um vencedor. As gravações deverão começar este ano e seguirão até o fim de 2006.


Na Alemanha, a última edição do Big Brother, intitulado A Vila – qualquer semelhança com o filme de M. Night Shiamalan não é mera coincidência -, segue linha parecida. Os produtores construíram uma comunidade e, no programa, os participantes têm empregos específicos e diferentes status sociais. A Vila começou no mês passado e não tem data para terminar. Ficará no ar enquanto a audiência estiver bem.’