Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ethevaldo Siqueira

‘‘O jogo nem começou e já está um a zero pro capeta.’ Com essa frase minha avó Balbina costumava se referir a qualquer coisa que começasse errada ou que parecesse não dar certo, logo de início. No caso do novo ministro das Comunicações, Hélio Costa, tudo indica que o coisa-ruim vai ganhar de goleada, pois o político mineiro prefere jogar para a torcida.

Minha avó Balbina era uma espécie de ‘velhinha de Taubaté’, muito amorosa, mas franca, verdadeira e crítica. Em minha lembrança, ela tem sido até hoje, 30 anos depois de sua morte, uma conselheira permanente, uma espécie de consciência crítica de tudo que escrevo. Diante de um começo de gestão tão desastrado do novo ministro, ela teria muita coisa a lhe dizer. Em primeiro lugar, ela teria ficado estarrecida ao ler a entrevista que o ministro concedeu à revista IstoÉ Dinheiro na semana passada. Eu também. Temo até que seu programa de ação nas Comunicações não passe de um varejão de questões paroquiais.

Os dois antecessores de Hélio Costa no Ministério – Miro Teixeira e Eunício Oliveira – pouco fizeram. Confesso que, em poucas semanas, já perdi a esperança nas possibilidades do novo ministro. Mesmo que continue até o fim do governo Lula, duvido que cumpra a agenda mínima que dele esperava.

Minha avó Balbina é mais pessimista ainda: ‘Aposto que ele não vai aplicar um único centavo dos R$ 4 bilhões do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust). Que não tomará qualquer decisão sobre os padrões da TV digital. Que não fortalecerá a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). E, pior ainda, não avançará um milímetro na construção do novo modelo institucional, com a Lei Geral das Comunicações’.

POPULISMO TARIFÁRIO

O ponto mais preocupante da entrevista do ministro à revista paulista refere-se à assinatura básica. Ao terminar de ler o texto, ouvi a voz de Balbina, lá do assento etéreo onde subiu, a me dizer: ‘Olhe aqui, meu neto, esse cavalheiro de vasta cabeleira e vozeirão de locutor do Fantástico deveria lembrar-se que nenhum outro país no mundo cobra tanto imposto sobre telefonia. São esses impostos criados pelo próprio governo que encarecem a assinatura, elevando seu valor de US$ 9 para US$ 15. Sim, exatamente os US$ 9 que o ministro propõe como valor razoável. Assim, culpar as operadoras, a Anatel ou os contratos pelos valores elevados da assinatura é, no mínimo, hipocrisia’.

Se quisessem, o Congresso e o Poder Executivo poderiam baixar os preços, revendo as alíquotas escandalosas dos impostos que incidem sobre telecomunicações, hoje nos mesmos patamares de artigos de luxo, de bebidas, de perfumes ou de iates. E pior: que encarecem também outros serviços essenciais.

O ministro ameaça ‘enquadrar’ as operadoras, embora saiba que os preços e tarifas não são fixados por elas, ao seu bel-prazer, mas resultam de um contrato de concessão e de negociações complementares anuais com o governo. Seria melhor que o governo cumprisse sua missão essencial, que é formular políticas públicas e, por intermédio da Anatel, fiscalizar com rigor as operadoras, delas exigindo o cumprimento dos contratos, quanto à qualidade e ao bom atendimento.

CAMINHOS CERTOS

O ministro sabe que os contratos de concessão estão em fase de revisão e que, em conjunto com a Anatel e as Teles, poderia renegociar os critérios e valores da assinatura básica. Tudo de forma séria, em defesa do interesse do País, do consumidor e das telecomunicações. Esses novos contratos entrarão em vigor no início do ano que vem, ou seja, daqui a poucos meses.

Mas a tentação populista é mais forte e ele prefere fazer barulho para aparecer na mídia como ‘defensor do pobre usuário, contra a ganância das megaoperadoras’.

O mundo inteiro, salvo raras exceções, adota o modelo de duas parcelas: uma fixa, chamada geralmente de assinatura mensal básica, cobrindo a disponibilidade do serviço e uma cota de chamadas locais; e outra parcela variável, para os serviços excedentes, locais, de longa distância e de valor agregado. O que se discute não é esse modelo, mas os seus valores, que devem ser rigorosamente justos e adequados, tanto para os usuários quanto para as concessionárias.

Quanto ao modelo de negócio, entretanto, não dá para se comparar o setor elétrico com o de telecomunicações. É puro desconhecimento do problema. Na análise da questão, é preciso levar em conta também a diversidade de serviços, como os de táxi, que precisam de uma bandeirada. Ou a TV por assinatura que cobra mediante uma parcela única, não importa se os utilizemos ou não.

Outra grande alavanca da redução de preços é a competição. No Brasil, a concorrência entre mais de 20 operadoras de longa distância já determinou a queda de preços de mais de 80%.

Balbina tem um recado final a dar a Hélio Costa: ‘Meu ministro: Cerque-se de especialistas, sérios, profissionais. Troque o varejão por um grande projeto de reestruturação das Comunicações, como um todo. Não incentive o conflito entre as emissoras de rádio e TV e as telecomunicações. Pense na legislação caduca de radiodifusão. Reconheça a realidade da convergência digital. Estude seriamente as questões de seu ministério. Do contrário, o capeta vai ganhar o jogo de goleada’.’



IMPRENSA DO SENADO
Carlos Chaparro

‘Senado não existe para fazer jornal’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/08/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Quantos jornalistas trabalham no Senado? Pois não se consegue obter essa informação. É uma espécie de tabu, uma informação diluída em dúvidas. O cálculo corrente é aquele mesmo que dei: cerca de 300, dos quais 129 são concursados. De qualquer forma, mesmo que fossem só os tais 129, é no mínimo estranho que no Senado da República haja bem mais jornalistas do que senadores. Alguma coisa está errada. E uma das coisas erradas é esse Jornal do Senado. Senado não existe para fazer jornal.

Vamos lá, então, ao debate sobre a questão do Jornal do Senado, inclusive para atender às expectativas existentes entre os leitores da coluna.

Quero, entretanto, dizer que não trabalho com o conceito de polêmica em que o empenho prioritário se dirija à destruição dos argumentos opostos. Penso, ao contrário, que os argumentos de cada lado devem ser preservados, para que aos leitores seja atribuída a tarefa de os avaliar, para formar ajuizamentos sobre as questões debatidas.

Assim, no texto que escrevi – não uma reportagem, mas um artigo com meus pontos de vista, a partir de convicções pessoais e apoiado em informações recebidas de gente em quem confio – coloquei o que me pareceu adequado. Na resposta, o sr. Armando Rollemberg escreveu também o que quis, da forma que achou conveniente. Provavelmente, ele manterá o que escreveu, assim como eu mantenho todo o meu texto, bem como as convicções que o orientaram e a crença na veracidade das informações com que trabalhei. A isso podemos chamar de santo exercício da liberdade de expressão – da qual participam, aqui no Comunique-se, os internautas interessados. E muitos o fizeram.

Não farei, pois, qualquer esforço para responder ao sr. Armando Rollemberg. Quanto ao meu texto, e aos reparos a ele feitos pelo sr. Rollemberg, posso até admitir que os bons profissionais de jornalismo que devem existir na área de comunicação do Senado se tenham ofendido com algumas considerações feitas em torno das relações entre empreguismo e corrupção endêmica.

Se alguém se sentiu ofendido, peço desculpas. Mas penso que, da parte do Senado, alguém também deveria pedir desculpas ao povo brasileiro pela gastança feita em salários, com o empreguismo que por lá campeia, em várias modalidades de compadrio, nepotismo e protecionismo. E em atividades que, em alguns casos, nada geram em benefício da sociedade. Alguém duvida disso?

Quanto aos temas e sub-temas aflorados no debate, há dois, centrais, em torno dos quais vale a pena cansar um pouco mais a paciência dos leitores.

O primeiro deles é essa falácia de que ‘ouvir o outro lado’ é o mandamento básico do bom jornalismo.

O ‘ouvir o outro lado’ faz parte do jornalismo de manual e se transformou numa espécie de rito, em que ao ‘outro lado’ são concedidas pequenas porções de espaço (na Folha de S. Paulo, o Manuel determina, até, como devem ser calculadas as proporções), para declarações previsíveis, que em nada contribuem para a elucidação jornalística dos fatos. Em boa parte dos casos, nem a essa migalha o ‘outro lado’ tem direito, porque (como também determinam os manuais) a eles se concedem apenas registros do tipo ‘procurado, não foi encontrado’ ou ‘telefonamos, deixamos recado e não houve retorno’.

Como se vê, o ouvir o outro lado não está relacionado com a qualidade das revelações jornalísticas. Sob o ponto de vista da elucidação jornalística, de que adianta ‘ouvir o outro lado’, em casos de corrupção e imoralidades políticas, como essas que estão sendo investigadas?

Ouvir o outro lado tem a ver, isso sim, com o sagrado direito de resposta, tão mal tratado pelos que burocraticamente seguem o jornalismo de manual. E do direito de resposta o sr. Armando Rollemberg usufruiu plenamente, e não só em quantidade de caracteres. Está de parabéns o Comunique-se por mais esta demonstração de respeito a valores de cidadania – porque disso se trata, afinal. O que é básico para a qualidade da informação e da análise jornalística é a qualidade das fontes. Não há boa notícia sem boa fonte. E fonte, o jornalista escolhe.

Foi o que fiz. Se excluí o sr. Armando Rollemberg das fontes consultadas, foi porque não o considerei fonte confiável. E a sua resposta confirma isso, ao limitar aos 129 concursados o número de jornalistas que trabalham no Senado. Ele nem sequer nos falou dos vários jornalistas terceirizados que a Secretaria de Comunicação Social mantém contratados, para tarefas que deveriam estar sendo cumpridas pelos concursados – na Rádio Senado, por exemplo. Será porque alguns dos concursados talvez estejam fora da função, cedidos a gabinetes? E os não concursados da velha guarda, que continuam a receber seus salários, em atividades fora do espaço e das atribuições da Secretaria de Comunicação? E os aposentados que por lá continuam, em outras tarefas?

Enfim, quantos jornalistas trabalham no Senado? Fiz essa pergunta a vários bons observadores da atividade jornalística em Brasília. Pedi até a ajuda de amigos, dentro do próprio Senado. Pois não se consegue obter essa informação. É uma espécie de tabu, um dado diluído em dúvidas. O cálculo corrente é aquele mesmo que dei: cerca de 300, dos quais 129 são concursados. E tenho boas razões para continuar a confiar em minhas fontes.

De qualquer forma, mesmo que fossem só os tais 129, é no mínimo estranho que no Senado da República haja bem mais jornalistas do que senadores. Alguma coisa está errada.

Uma das coisas erradas é esse Jornal do Senado. Senado não existe para fazer jornal. O que o Senado deve ter é bons mecanismos de disponibilização de informações honestas, para que a imprensa possa bem informar a sociedade.

Ou seja, uma boa assessoria de imprensa, coisa que, aliás, está nas boas tradições do Senado. Lembro-me que, na década de 70 do século passado, quando o regime militar criou a ditadura do press-release oficial, a assessoria de imprensa do Senado era apontada, pelas redações e pelos repórteres que faziam a cobertura da Casa, como um serviço exemplar.

Jornal do Senado, para quê? Para nos dizer que as Comissões funcionam maravilhosamente? E que no plenário só acontecem coisas notáveis?

E as Comissões que não funcionam bem? E as ações políticas da omissão parlamentar? O os projetos que adormecem em gavetas?

Melhor seria que, em vez de um jornal chapa branca (no qual, portanto, o verdadeiro jornalismo está ausente), o Senado valorizasse a sua assessoria de imprensa, dando-lhe conceitos e padrões modernos, e melhorasse a qualidade do seu site – esses, sim, instrumentos valiosos, indispensáveis, para uma boa comunicação pública.

Mas, para fazer boa assessoria de imprensa e um bom site, não são necessários 129 jornalistas concursados. Bem que alguns deles poderiam ser cedidos a Ministérios com valiosos acervos de conteúdos jornalísticos, mal divulgados por falta de jornalistas nos quadros efetivos.

E viva o TV Senado! – instrumento fantástico de democratização da informação. Mas cujo funcionamento e função independe da ação jornalística. O que vale na TV Senado não são os programas frios a que pouca gente assiste, mas a transmissão quente da política ao vivo.

Estou em Vitória da Conquista, no Sudoeste da Bahia. E ontem à tarde, me emocionei ao passar por um bar-lanchonete, onde cerca de vinte pessoas acompanhavam criticamente a transmissão do depoimento de Roberto Jefferson, pela TV Senado. Mas ali estava um milagre de comunicação e democracia materializado pela tecnologia, não pelo jornalismo.’



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‘Êta, empreguinho público maneiro!’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 29/07/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Mais danosa e resistente do que a corrupção do mensalão, a corrupção endêmica persiste no espaço e no tempo da nossa própria história. Ela se manifesta em mil e uma artes de surrupiar dinheirinhos públicos, uma delas o empreguinho público maneiro, de pouco serviço e altos salários. E a propósito disso, aqui se fala do Jornal do Senado, um semanário de 16 páginas com 10 editores, sete repórteres, cinco diagramadores e quatro revisores.

1. Corrupção teorizada

Mesmo sem dominar teorias sobre o assunto, arrisco dividir a corrupção brasileira em duas grandes categorias. Numa delas, temos a corrupção endêmica. Nas rotinas do dia-a-dia, ela se manifesta em coisas do tipo empreguinho público maneiro, propinas discretas e outras pequenas artes toleradas (às vezes até admiradas) de surrupiar dinheirinhos públicos e privados – talvez em pequenas doses, mas sempre, continuadamente.

Por ser de natureza endêmica, essa corrupção tem existência constante. Persiste nas dimensões do tempo e do espaço. E, por ser maleita do mundo moral, dissemina-se em usos e costumes do povo, fincando raízes de perenidade no tecido cultural da Nação.

A corrupção do mensalão, que atualmente faz tremer o Brasil, e que ocupa quase integralmente os espaços do noticiário político, essa, enquadra-se no grupo epidêmico. Surge com enorme poder perturbador num determinado lugar, provavelmente como surto emergente do mal endêmico. Mas com vigor próprio, excepcional. E com tamanho poder destruidor que gera, inevitavelmente, reações de combate e controle, para que, do organismo corrompido, outro organismo surja.

Como ensinam os filósofos do ramo, o contrário da corrupção é a geração, o que implica admitir que a corrupção de um ser resulta na geração de outro ser.

Embora com riscos de corromper o saber filosófico, atrevo-me a dizer que esse é o milagre (geração de um outro ser) que todos esperamos venha a dar-se, por obra e graça do trabalho confiado aos aparatos investigatórios (CPIs, Ministério Público, Polícia Federal…), sobre os quais pesam hoje as pressões cívicas da sociedade brasileira e dos meios de comunicação do país. Algo terá que mudar!

Já quanto à corrupção endêmica (a tal do empreguinho público maneiro, propinas discretas e outras pequenas artes de surrupiar dinheirinhos públicos e privados), não vejo razões para esperança. A maleita está enraizada na história, virou um traço da nossa própria identidade. E não vislumbro vacinas – nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo.

É a pior e a mais danosa das corrupções.

2. Mais gente do que trabalho

Três décadas atrás, precisei ir a Cubatão (SP), para uma entrevista com o prefeito biônico da época. Não me lembro mais quem era. Mas ficou inesquecível, para mim, a cena de dois ‘aspones’ que ocupavam a ante-sala do dito cujo. Rigorosamente, não tinham o que fazer. Às tantas, um deles não resistiu à indolência. Espreguiçou-se com espalhafato e gritou um inesperado protesto: ‘Êta, segunda-feira brava, que nem jornal pra ler temos!’

Empreguinho público maneiro é assim: nada de importante para fazer, salário garantido ao final do mês – com dinheirinho surrupiado ao povão, naturalmente.

Sei lá por quê, me lembrei da cena dos dois ‘aspones’ de Cubatão quando, hoje, me chegou às mãos mais uma edição semanal do Jornal do Senado. – 16 páginas de mediocridade e inutilidades. Para que diabos, e por quê, o Senado da República, de tão nobres fins, precisa de um jornal destes? A que público o Jornal do Senado se destina? Que papel cumpre, dentro dos objetivos e das atribuições constitucionais do Senado?

Li e reli o exemplar que me chegou. E só encontrei, como resposta plausível, que o jornal cumpre a mera função de justificar o emprego de alguns jornalistas que, sem o jornal, não teriam o que fazer. Só editores, o jornal tem dez – para editar 16 páginas por semana! Aliás, há mais editores que repórteres, que são cinco, tantos quanto os diagramadores. Mais dois jornalistas são necessários para pautar e escrever as cinco ou seis laudas da página chamada de ‘Especial Cidadania’. E, pasmem: para revisar as 16 páginas semanais, o Jornal do Senado garante emprego a quatro revisores.

Certamente, falta trabalho para tanta gente.

Aliás, mesmo com o jornal, a rádio, a TV e a agência, que compõem o aparato de informação do Senado, o que não deve faltar por lá é jornalista sem ter o que fazer. Pelo que me dizem, são pelo menos 300, os jornalistas contratados pelo Senado – e nessa quantidade não se incluem os assessores diretamente vinculados aos gabinetes dos 80 senadores.

De onde vem o sustento para tamanho exagero? Naturalmente, do dinheirinho público, discretamente surrupiado, sob o manto de leis que os próprio senadores criam e aprovam.

Que bela pauta para as editorias políticas, não vos parece?

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Em matéria de empreguinho maneiro, os números vindos recentemente a público, graças ao discernimento da ministra Dilma Rousseff, são altamente elucidativos: de uma penada só, por Medida Provisória, o governo reduziu de 21.197 para 6.939, o número de cargos da administração federal que podem ser ocupados por indicação de políticos e partidos.

Pergunta-se: quem sustentou o prejuízo dado à Nação pelos salários pagos até agora, durante dois anos e meio de governo, a esses 14 mil ‘nomeados’ da corrupção endêmica? Nós, naturalmente. Pagando impostos, garantimos o dinheirinho público surrupiável – e me desculpem o neologismo.’



Armando Sobral Rollemberg

‘Em defesa do jornalismo praticado no Senado’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 3/08/05

‘Em resposta ao artigo do colunista Carlos Chaparro, Êta, empreguinho público maneiro!, publicado no Comunique-se dia 29/07, Armando Sobral Rollemberg, Diretor da Secretaria Especial de Comunicação Social do Senado Federal, afirma que Chaparro ‘embora um professor, esqueceu-se de cumprir o mandamento básico do bom jornalismo, ao não ouvir os diversos lados envolvidos na notícia ou comentário’.

Rollemberg convida não só o colunista como todos os jornalistas e internautas que freqüentam o Comunique-se a visitarem as dependências do Jornal do Senado e dos demais veículos de comunicação do Senado.

Leia o atigo na íntegra:

‘Brasília (DF), 2 de agosto de 2005

Em defesa do jornalismo praticado no Senado

Em artigo divulgado pelo Comunique-se, o sr. Carlos Chaparrro desqualificou, de forma leviana, os jornalistas que trabalham no Senado Federal, criticando acerbadamente o Jornal do Senado, não só questionando a sua utilidade, como considerando excessivo o número de profissionais que ali trabalham. Não satisfeito, o Sr. Chaparro generaliza seu ataque a todo o sistema de Comunicação do Senado.

Na condição de Diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado, como jornalista profissional e funcionário público concursado, cumpro o dever de responder cada uma das críticas assacadas pelo sr. Chaparro. Começo por assinalar que o autor, embora um professor, esqueceu-se de cumprir o mandamento básico do bom jornalismo, ao não ouvir os diversos lados envolvidos na notícia ou comentário.

Se tivesse tido o cuidado de checar suas informações, saberia que os jornalistas profissionais do Senado, todos concursados, somos 129, e não 300, trabalhando nos diversos veículos que integram a Comunicação do Senado, a saber: o Jornal do Senado, a Agência Senado de Notícias, a TV Senado, a Rádio Senado (FM e OC), além dos setores de Relações Públicas e Projetos Especiais. Também ficaria sabendo que o número de páginas da edição semanal do Jornal do Senado é variável, e não fixo em 16, conforme afirma no artigo. E que, além do semanário, temos uma edição diária, que varia de 8 a 12 páginas. Além do mais, seria informado de que são múltiplas as tarefas dos que constam do expediente, não se limitando cada qual apenas à função ali designada.

Esses são erros de informação, propriamente ditos, cometidos pelo colunista. Mais grave é a sua visão preconceituosa sobre o trabalho que exercemos, e o fazemos com muito orgulho, no âmbito da Comunicação do Senado. O sr. Chaparro considera o nosso trabalho uma forma de corrupção endêmica, comparando-o a manifestação das ‘mil e uma artes de surrupiar dinheirinhos públicos’, considerando-nos titulares de ‘empreguinho público maneiro, de pouco serviço e altos salários’.

Gostaríamos de convidar o sr. Chaparro a visitar as dependências do Jornal do Senado e dos nossos demais veículos de comunicação. Estendemos esse convite, inclusive, aos alunos do professor. Teríamos enorme satisfação em recebê-los, para que pudessem comprovar o nosso pique de trabalho diário. Também estamos com as portas abertas aos jornalistas e internautas que freqüentam o Comunique-se.

Mais adiante, no seu desarrazoado artigo, o Sr. Chaparro fulmina a edição do Jornal do Senado, taxando-a de ‘16 páginas de mediocridade e inutilidades’. E indaga: ‘para que diabos, e porquê, o Senado da República, de tão nobres fins, precisa de um jornal destes? A que público o Jornal se destina? Que papel cumpre, dentro dos objetivos e das atribuições constitucionais do Senado?’ Vamos às respostas, sem rodeios:

No regime democrático, todo cidadão pode exercer livremente seu direito à opinião. O sr. Chaparro, obviamente, portanto, como qualquer outro brasileiro, pode externar seu ponto de vista. E nós, os atingidos pelos seus impropérios, podemos julgá-lo irresponsável, preconceituoso, além de mal informado. Mesmo porque, de nossa parte, temos plena consciência de que a última edição do Jornal do Senado reflete bem o debate parlamentar acontecido no âmbito do Senado, em toda a sua diversidade, pluralidade e densidade próprias.

Na edição execrada pelo articulista, tratamos do debate que o país trava sobre os casos de corrupção, a campanha do desarmamento, crimes de informática, pendências para a votação da LDO, legislação do setor de aviação, emigração de compatriotas, os malefícios da burocracia, os reajustes dos proventos dos militares, as desigualdades provocadas pelos juros altos, quais são os 28 partidos políticos brasileiros – apenas para citar alguns dos principais temas das matérias, escolhidos num rápido folhear. Serão esses assuntos ‘medíocres’ ou ‘inúteis’, como assevera o Sr. Chaparro?

Pois nós, também democraticamente, discordamos frontalmente do articulista. A opinião dele, além de leviana, revela sectarismo e trai um viés ideológico, suspeito de neoliberalismo, pois sugere sustentar-se na premissa de que tudo aquilo feito no âmbito do setor público é ruim, desnecessário ou impregnado de corrupção. Pois nós, jornalistas do Senado, que para chegarmos aqui passamos num concurso público aberto a todo o País, temos plena convicção que praticamos um jornalismo equilibrado, pluralista, republicano, independente de interesses privados ou subalternos. E que assim agindo estamos contribuindo para o fortalecimento da instituição parlamentar, fundamento insubstituível dos regimes democráticos.

Quando a TV Senado foi criada, nos idos de 1995, foi alvo de muitas críticas. Dizia-se que era um desperdício de dinheiro público, uma exorbitância sem sentido, uma tentativa de criar-se um instrumento para propagandear, indevidamente, os senhores e as senhoras senadoras. A mesma suspeição recaiu sobre o noticiário produzido pela Agência Senado, recebido com desconfiança por alguns coleguinhas da imprensa privada. O tempo e a prática se encarregaram de soterrar essas restrições, definitivamente.

Não há pauteiro neste país que não acesse rotineiramente o site da nossa Agência. Não há repórter de política que não esteja atento ao nosso noticiário. Não há colunista ou analista político capaz de desprezar o volume de informações que produzimos diariamente, retratando todas as atividades no âmbito do Senado. O material da nossa Agência tem sido muito – e de forma crescente – utilizado pela grande imprensa e pela imprensa regional, geralmente sem cortes e sem ressalvas, numa prova inconteste da credibilidade que conquistamos no próprio meio jornalístico.

A rádio Senado, transmitida em FM para o Distrito Federal, e em Ondas Curtas para parte do interior do país, tem sua programação aproveitada, em medidas diversas, por mais de 600 emissoras, através da Rádio Agência. A TV Senado, por sua vez, bate recordes de audiência, toda vez que o debate parlamentar esquenta, seja na cobertura das CPIs, em audiências públicas ou nas transmissões das sessões plenárias. Agora mesmo, o site Qualibest, em pesquisa com cerca de 1300 internautas, comprovou a TV Senado em quarto lugar, como espaço preferido para o acompanhamento da crise política atual, considerados os diversos canais televisivos.

Os telespectadores mais atentos poderão perceber, nestes dias de crise política, a freqüência com que a logomarca da TV Senado, localizado na parte superior da telinha, tem aparecido nas transmissões dos principais jornais das emissoras de televisão – da Globo, SBT, Bandeirantes, Record, Rede TV, apenas para citar as mais influentes. Ou seja, além dos leitores, ouvintes e telespectadores que usufruem diretamente do resultado do nosso trabalho, temos a satisfação de ver os conteúdos que produzimos sendo replicados em diversos outros importantes meios de comunicação.

Estamos emprestando transparência ao Senado Federal, para o bem do Brasil, pois servimos como instrumento de cidadania, colaborando, dessa forma, para a consolidação e o fortalecimento do regime democrático em nosso país.

Atenciosamente,

Armando S. Rollemberg

Diretor da Secretaria Especial de Comunicação do Senado Federal’’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘Fadiga’, copyright Folha de S. Paulo, 08/08/05

‘No dizer de Carlos Heitor Cony, dias atrás na Folha Online, é ‘fadiga’.

Ela bateu, depois de mais de dois meses e cinco comissões no Congresso, depois dos recordes de escaladas e capas do mesmo assunto etc.

Ontem, a manchete política do ‘Fantástico’ foi ‘uma informação negada durante décadas pelas autoridades’ -e confirmada por José Sarney, ao abrir a série de reportagens ‘Os Segredos dos Presidentes’:

– O Brasil queria fabricar a bomba atômica.

Do ex-presidente:

– Eles pretendiam fazer uma experiência.

Como diria FHC, ‘história’.

No fatigado ‘Jornal Nacional’, sábado, a escalada de manchetes começou no mar:

– Suspense no fundo do mar. Continua a corrida contra o tempo para salvar os marinheiros presos.

Foi de lá para o espaço:

– Suspense no espaço sideral. O ônibus espacial Discovery começa a viagem arriscada de volta à Terra.

Só então, com esforço, noticiou o ‘JN’:

– O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pede afastamento do partido.

Até o Blog do Cesar Maia saiu comentando que ‘uma visão geral de revistas, jornais e TV deste fim de semana’ mostrou ‘reportagens de digestão, rodando sobre o mesmo tema, à espera de novidades’.

Ontem na Globo News, o programa ‘Fatos & Versões’, sobre bastidores brasilienses, dizia e repisava que, após tantas semanas, nada apareceu contra Lula -e olha que muita gente procurou, segundo o apresentador Franklin Martins.

E ontem na Folha Online, o dia todo, a manchete dizia que ‘Crise gera pente-fino contra Lula’ -com a notícia de que a operação realizada pela Polícia Federal e pela Abin ‘não encontrou ligação entre o presidente e o escândalo’.

Enquanto não surge nada de novo, as bravatas de Lula ecoam pelo mundo.

O ‘Guardian’ publicou uma versão curiosa para o discurso vão-ter-que-me-engolir, com o título ‘I’ll be back’, ou seja, ‘eu vou voltar’.

‘I’ll be back’ é o mote famoso do ator-governador Arnold Schwarzenegger, na primeira das três fitas de ‘O Exterminador do Futuro’.

O ‘Financial Times’, com rara -e exclusiva- entrevista sobre política com a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, foi na mesma direção, dizendo que Lula não vai renunciar à postulação de novo mandato.

ÀS COMPRAS

Hugo Chávez vem aí. Agências diversas, da americana AP à alemã DPA, destacavam ontem que o venezuelano detalhou sua viagem dos próximos dias, avançando por Argentina, Uruguai e Brasil. Ele já ganha elogios -com ironia- do ‘Financial Times’:

– Chávez pode ser inimigo mortal do neoliberalismo dos anos 90, mas a forma como está alavancando seus lucros com petróleo faz lembrar as táticas mais agressivas de ‘hedge fund’ da época.

Na viagem, vai encomendar petroleiros argentinos e se associar à empresa aérea uruguaia. Do Brasil, disse ele à espanhola EFE, vai comprar dutos para petróleo, substituindo americanos. Chávez:

– Estamos usando o petróleo para o benefício do nosso povo, em primeiro lugar, e para priorizar a integração da América Latina e Caribe.

Em campanha 1

Uma ‘surpresa’ do fim de semana, no escândalo, surgiu na revista ‘Época’, da Globo. Mas nem o ‘JN’ embarcou de todo. Do telejornal:

– Dois cheques da SMPB podem ter sido usados para campanha de Tarso Genro.

‘Podem’, nada além. O presidente tampão do PT ganhou largo tempo para argumentar, no ‘JN’, que não passam de ‘alusões e ilações’, sem ‘denúncia concreta’.

Em campanha 2

Alusões ou ilações, não ajudam em sua campanha para a eleição interna.

Cresce nos sites próximos ao PT, enquanto isso, o nome de Plínio de Arruda Sampaio. Ele é a manchete do ‘Brasil de Fato’, do MST, e teria obtido apoio de Eduardo Suplicy.

Sobre ‘aquela Carta ao Povo Brasileiro’, da campanha lulista, diz Sampaio que ninguém é ‘obrigado cumprir documento feito sob coação’.

PRÉ-HISTÓRIA

Para alguns, foi o primeiro blog brasileiro, ou melhor, um ‘precursor’. Então nem existiam blogs, nem mesmo a expressão ‘web log’. Foi há dez anos que o Blue Bus caiu na ‘estrada’, junto com a própria internet. No Rio, hoje, lança livro comemorativo, saudado por blogueiros diversos, como Marcelo Tas, no UOL.’