Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Felipe Pena

‘O jornalista é um fingidor. Mas, diferente do poema de Fernando Pessoa, ele finge não sentir a dor de seu próprio fingimento. Uma dor aguda, visceral, belisária, de quem acredita no compromisso com o real imediato, embora saiba que o máximo que pode oferecer é um efeito sobre a realidade. Uma encenação em forma de discurso, que funcione como analgésico para a angústia das incertezas e indeterminações desse admirável mundo contemporâneo. Muito mais do que informação, o fundamento do jornalismo é a narração.

Não é surpresa, portanto, que muitos jornalistas tenham enveredado com sucesso pela literatura, embora façam questão de separar os dois ofícios. Em entrevista a Cristiane Costa, autora do recém-lançado Pena de aluguel, o redator-chefe da revista Veja Mário Sabino é enfático: ‘Jornalistas e escritores guardam as mesmas diferenças e semelhanças que existem entre pintores de paredes e pintores artistas’. Sabino, no entanto, parece dedicar-se a afrescos. A arte está na parede narrativa dos contos reunidos no livro O antinarciso.

Logo na apresentação, o leitor é informado de que a solidão é o fio condutor das histórias. Uma solidão provocada pelo narcisismo, que ‘fere os amores, as conquistas, as derrotas, as lembranças, a vida, a morte. E impede que enxerguemos o outro e a nós próprios’. Mas o que se lê nas páginas seguintes é a purgação do impulso narcisista, materializada nos encontros e desencontros de um paulista e uma carioca, no diálogo onírico e revelador entre o Anjo Caído e seu Senhor, nas cores aberrantes do erotismo e em outras situações do cotidiano despressurizado da vida como ela não é, mas como ela se apresenta, o que é muito pior. O pintor de paredes usa as tintas com precisão, manejando a linguagem com pincéis semânticos de apurada técnica literária, como fazem os melhores jornalistas.

O título da obra de Sabino também inspira considerações sobre o caminho inverso, o de escritores que viram jornalistas, como é o caso de Deonísio da Silva, atual diretor da maior faculdade de Comunicação do país e articulista do Observatório da Imprensa e do JB. Na semana passada, ele transformou seu artigo nesta página em uma resenha sobre um livro que publiquei recentemente, Teoria do jornalismo. Deonísio afirmou que a única crítica que tem à obra é a comparação que faço entre Euclides da Cunha, Graciliano Ramos e um certo jornalista contemporâneo. Na verdade, em boa parte do texto suas palavras foram encomiásticas e me deixaram envaidecido, principalmente por se tratar de um escritor traduzido em vários idiomas e vencedor de um dos mais importantes prêmios literários do mundo, o Casa de Las Américas, além de ser um homem de irretocável caráter e inteligência. Entretanto, não poderia deixar de contextualizar sua crítica.

Deonísio da Silva é o próprio antinarciso. Com mais de 30 romances publicados, é um autor quase desconhecido do grande público, embora algumas de suas obras tenham vendido mais de 40 mil exemplares, o que é um recorde em padrões brasileiros. E isso acontece porque, apesar do sucesso editorial, ele freqüenta muito pouco as páginas dos principais veículos de imprensa do país, com exceção daqueles em que escreve.

Deonísio não se interessa pela promoção literária. Não gosta nem se esforça para divulgar suas obras. O que me parece errado, pois, na realidade editorial brasileira, o escritor precisa lutar pelas próprias páginas. Entretanto, essa característica explica as críticas de seu artigo da semana passada. Silva não só omitiu que o jornalista elogiado por mim era Domingos Meirelles, como ‘esqueceu’ de mencionar a comparação que fiz entre ele, Deonísio e um certo escritor russo.

A literatura precisa do narcisismo para sobreviver. E de todos os espelhos que encontrar pelo jornalismo.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Aqui se paga?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 11/08/05

‘Do UOL Últimas Notícias:

10/08/2005 – 13h48

Mulher morre esmagada por um crucifixo de ferro na Itália

Roma, 10 ago (EFE).- Uma mulher de 41 anos morreu esmagada por um crucifixo de ferro nesta quarta-feira, quando assistia a uma missa em uma igreja da localidade de Oristano, norte da Itália, segundo informações da imprensa local.

Paoletta Urru participava da missa pelo dia de San Lorenzo, em uma igreja abarrotada, quando um pesado crucifixo de cerca de um metro de altura, colocado na entrada do templo, se soltou e caiu em cima dela.

A italiana, que estava junto com seu marido, morreu quase imediatamente, devido a um traumatismo craniano causado pela cruz.

A cruz estava presa a seis metros de altura e também bateu em um homem de 38 anos, que sofreu apenas ferimentos leves.

Janistraquis ficou impressionadíssimo:

‘Considerado, deve ter sido mesmo horroroso o pecado cometido pela pobre mulher para que o Filho a defunteasse assim, como direi, pessoalmente’, perorou, como um personagem dos dramalhões d’antanho.

Eu, que ainda guardo no peito catedrais imensas, templos de priscas e longínquas datas, derramo os óleos do mais petista otimismo; em minha humilíssima opinião, dona Paoletta foi, isto sim, chamada urgentemente pelos céus. O método é que se mostrou, digamos, um pouco heterodoxo.

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Monoglota

Ex-engraxate pode ser o primeiro prefeito latino de Nova York. É a ousada previsão do NYT, lê-se na seção Jornais e Revistas do UOL.

Provoquei Janistraquis:

‘Tá vendo? Depois falam que um ex-torneiro mecânico não pode ser presidente do Brasil…’

Meu secretário, para quem é preciso pertencer à CNBB para dar ouvidos a Lula, retrucou, com acento perverso no sotaque nordestino:

‘É…, mas não se pode esquecer que o tal latino que pode ser prefeito de Nova York sabe pelo menos falar inglês!’

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Fogão!!!!!!!!!!

Revigorado pela derrota de 4 a 1 para o Cruzeiro, pois é no infortúnio que se conhece o verdadeiro torcedor botafoguense, nosso considerado Roberto Porto lança nesta sexta-feira, 12/8, o livro Botafogo: 101 Anos de Histórias, Mitos e Superstições (Editora Revan), em noite de autógrafos na Dantes Livraria, em seu novo endereço, no segundo andar do Cine Odeon BR, à Praça Floriano, 7 (Cinelândia), Centro do Rio de Janeiro.

Robertão, amigo e companheiro do JB dos anos 60, hoje colunista do Jornal dos Sports e integrante do mais inteligente programa esportivo da TV, o Loucos Por Futebol, do canal ESPN Brasil, sempre foi um verdadeiro arquivo itinerante e seu livro é indispensável não apenas para os botafoguenses, todavia para os que gostam de bem escritas histórias do futebol. Mais informações no Blogstraquis.

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Viagra Para Todos

Deu no UOL, em chamada de capa para a revista Trip:

Vereador potiguar quer viagra gratuito para impotentes

Entusiasmado, Janistraquis correu ao site da revista para se inteirar e fazer imediata inscrição, porém a decepção foi maior do que ver, pálido e frio, aquilo que outrora fora rijo e roxo:

‘Sacanagem, considerado! A colher de chá é somente para os impotentes de Caicó, no interior do Rio Grande do Norte. Porém, o projeto do vereador Leleu Fontes tem tudo para conhecer a derrota em plenário, assim como fracassam na cama os conterrâneos dele; afinal, a cidade tem 53.505 habitantes, segundo o último censo. Digamos que, desses, uns 15 mil sejam adultos do sexo masculino, sem contar os gays. Ora, se for distribuir Viagra de graça para esse povo todo, a Prefeitura vai se deitar com a falência…’

É deveras assustador, mas não creio que haja tantos impotentes na terra do grande poeta e escritor Nei Leandro de Castro. E o colunista convida o considerado leitor a conferir no Blogstraquis a íntegra da matéria da Trip.

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Hélio Fernandes

O considerado Ruy Alberto Paneiro, jornalista dos tempos em que os jornalistas gostavam de ouvir (e publicar) os dois lados de qualquer questão, envia coluna de Hélio Fernandes, publicada na Tribuna da Imprensa de 10/8, na qual o veterano polemista faz cândida sugestão à CPMI:

(…) Enquanto em relação ao presidente Lula pelo menos existem todas as dúvidas se ele SABIA ou não SABIA das contribuições a qualquer título, para qualquer coisa, em relação a FHC não só não EXISTE a menor dúvida de que ele SABIA tudo sobre a compra de votos para a R-E-E-E-L-E-I-Ç-Ã-O, como as CERTEZAS são totais e rigorosamente I-R-R-E-F-U-T-Á-V-E-I-S.

(Leia a íntegra no Blogstraquis)

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Nota preta

Deu na Folha Online:

Maior calcinha do mundo ajuda a divulgar feira de lingerie no RJ

A Fevest (Feira de Lingerie de Nova Friburgo e Região) decidiu chamar a atenção dos consumidores com uma lingerie nada discreta: uma calcinha gigante de 12 metros de largura por 9,5 metros de altura. Ela foi pendurada na praça Dermeval Barbosa Moreira, no centro de Nova Friburgo, para divulgar o trabalho do pólo de moda íntima da região.

Janistraquis boquiabriu-se, pasmado:

‘Considerado, se a cueca daquele cabra transportava 100 mil dólares, uma calcinha desse tamanho carregaria os 156 milhões de reais que aquela quadrilha roubou do Banco Central do Ceará!’

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Exemplo nocivo

Sob o título Herói assim, não, muito obrigado, escreveu Sérgio Augusto, mestre das palavras e principal ensaísta brasileiro:

Humildemente reconheço: precisamos de heróis. Chegamos a um ponto tal que qualquer sujeito honesto merece os louros do heroísmo. Brecht que se dane: não é triste o país que necessita de heróis; triste é o país em que um sujeito como o deputado Roberto Jefferson passa por herói.

Confira no Blogstraquis a íntegra do indispensável artigo publicado no caderno Aliás, do Estadão.

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Coice de mula

Janistraquis lavava a égua (literalmente) sob o surpreendentemente cálido sol de inverno, quando lhe gritei da varanda:

‘O Globo acabou com o caderno Prosa & Verso e demitiu Afonso Romano de Sant’Anna e Wilson Martins!!!!!!!!!!’

Ele respondeu de lá, entre uma e outra escovadela no lombo da égua que se chama Capitu:

‘É isso mesmo, considerado!!! Mais dia, menos dia, O Globo iria fazer a opção pelos pobres… de espírito!!!!!!’

A propósito desse verdadeiro coice de mula no que resta de cultura neste país de m…, leia no Observatório da Imprensa o excelente artigo de Alberto Dines e entrevistas com os demitidos.

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Estranho cardápio

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de onde foi possível flagrar o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) e o publicitário Marcos Valério saindo de mãos dadas da garagem do Congresso, pois Roldão resolveu alimentar-se de cultura nas páginas do Correio Braziliense; foi enorme o seu fastio, como se lê nestes comentários:

Escreveram na seção D+: ‘Para comer com os …’

Ingredientes de alguns pratos do restaurante argentino Te Mataré Ramirez:

1 — Queijo brie envolto numa massa areada, com folhas verdes e vinagrete de frutos.

(Não seria, por acaso, uma massa aerada?)

2 — Batatinha frita de abóbora.

(Afinal, é batata ou é abóbora?!)

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Nota dez

O considerado Fernando de Barros e Silva escreveu na Folha de S. Paulo (8/8) um artigo mais contundente do que cotovelada do Júnior Baiano. Foi eleito o melhor texto da semana. Dêem uma olhada no intróito e leiam a íntegra no Blogstraquis:

LULA E OS PICARETAS DO PT

Não é só na boca do caixa que o PT se degrada. Sob nova direção, o partido aprovou em reunião neste fim de semana um documento camarada nas autocríticas, mas enfático quando aponta ‘estratégias oportunistas da direita’ para ‘abreviar o mandato popular, legal e legítimo, do presidente Lula’.

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Errei, sim!

‘ÚLTIMA REFEIÇÃO — Para não ficar atrás do Estadão, seu arqui-concorrente, a Folha de S. Paulo também capturou o seu inseto. Nova vacina contra malária tem sabor de vingança, anunciava o título, e Janistraquis logo imaginou tenebrosas doses orais, com gosto de sangue e pólvora. Não se tratava, porém, de semelhante tortura; é que lá nos EUA inventaram a tal vacina que não imuniza contra a doença, mas contra o inseto que a transmite, o mosquito Anopheles.

‘A pessoa picada sabe que seu sangue será a última refeição do inseto. Junto com o sangue, o mosquito ingere anticorpos específicos contra suas células, que vão matá-lo’, explicava o texto. Daí o ‘sabor de vingança’. Janistraquis considerou o título poético, porém fraco. ‘Melhor seria O fim da picada’, ousou sugerir.’ (outubro de 1990)’



MÍDIA / ARGENTINA
O Estado de S. Paulo

‘Clarín fica com 25% da argentina Cablevisión’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/08/05

‘O grupo de mídia argentino Clarín comprou do fundo de investimentos Fintech uma participação de 25% na operadora de TV a cabo Cablevisión, por valor não revelado. Com a operação, o Clarín torna-se sócio do próprio Fintech, que mantém uma participação de 25%, e do fundo americano Hicks Muse – conhecido no Brasil por uma malsucedida parceria com os times de futebol Corinthians e Cruzeiro -, dono de 50%.

Com cerca de 1,3 milhão de assinantes, a Cablevisión lidera o mercado de televisão por assinatura na Argentina, com uma fatia de 35,6% do mercado. A segunda colocada nessa lista é a operadora Multicanal, que pertence ao próprio grupo Clarín, com cerca de 860 mil assinantes. A Cablevisión registrou no primeiro semestre um prejuízo líquido de US$ 5,2 milhões – resultado melhor que as perdas de US$ 53,7 milhões do mesmo período do ano passado.

Além da operadora Multicanal, o grupo Clarín também é dono do Canal 13, da televisão aberta, de emissoras de rádio, da empresa de serviços por internet Ciudad e do periódico Clarín, o principal jornal da Argentina, entre outras empresas.’