Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

‘Causa estranheza que Eduardo Azeredo, senador e presidente do PSDB, não esteja entre os 18 parlamentares cuja cassação foi recomendada em relatório conjunto das CPIs do Mensalão e dos Correios, na última quinta-feira.

Segundo os relatores das duas comissões, um dos parâmetros para as indicações foi a presença de deputados e senadores na lista de beneficiários dos saques em contas do operador do ‘mensalão’ Marcos Valério Fernandes de Souza.

São muitos os indícios de que Azeredo se tenha beneficiado do chamado ‘valerioduto’ durante sua campanha à reeleição para o governo de Minas, em 1998. O próprio Valério declarou sua associação com o senador, em depoimento à CPI dos Correios, e, posteriormente, surgiram diversas evidências nesse sentido.

Poder-se-ia argumentar que os delitos cometidos pelo tucano ocorreram antes de seu mandato parlamentar. Nesse caso, no entanto, valeria para ele o parecer número 89, de 1995, da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, aproveitado pelos relatores das CPIs para legitimar a proposta de cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), acusado de ser um dos chefes do esquema de corrupção à época em que era Chefe da Casa Civil. Segundo o documento, ‘atos e fatos passados, sobretudo se recentes, a depender de sua natureza e circunstâncias, podem projetar-se no tempo e alcançar e perturbar o procedimento do parlamentar e atingir a instituição [no caso, o Senado]’.

Evidentemente não se trata de invocar Azeredo para defender Dirceu sob a alegação de que ele não foi o único a praticar ilícitos -o que não isentaria o ex-ministro de suas culpas. Apenas é de perguntar por que aplicar aqui dois pesos e duas medidas. Diante dos claros e enfáticos indícios, fica a dúvida sobre as razões que levaram a CPI a excluir Azeredo do seleto clube dos 18 ‘cassáveis’ -lista, a propósito, cuja extensão, ao que tudo indica, poderia e deveria ser bem maior.’



O Estado de S. Paulo

‘Humoristas do ‘Pânico’ cercam petistas em hotel de SP’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/09/05

‘Os humoristas do programa Pânico na TV fizeram cerco, ontem, aos integrantes do Campo Majoritário, principal grupo político do PT. Fantasiados como o presidente Lula e os deputados Enéas Carneiro (Prona-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) – este último com direito a olho roxo -, os três ‘repórteres’ do humorístico deixaram os petistas constrangidos.

A presença deles, que deram plantão em frente ao hotel onde a reunião era realizada, fez com que grande parte dos dirigentes entrasse pela garagem, o que irritou os jornalistas que cobriam o evento.

Entre os petistas que resolveram enfrentar os três humoristas do Pânico, exibido pela Rede TV!, estavam o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e o vereador Paulo Teixeira (SP), ex-secretário de Habitação de Marta Suplicy. ‘Vejam lá o que vocês vão me perguntar’, avisou Mercadante. ‘Olha que eu posso dar uma de Vitor Fasano’, prosseguiu, referindo-se ao ator que bateu em um dos humoristas.

Quando Teixeira foi perguntado por onde andava o ex-presidente do PT José Genoino, ele reclamou que os humoristas foram indelicados com o petista, quando deram plantão em frente à sua residência. ‘Vocês devem desculpas a ele’, prosseguiu, destacando que o ex-presidente do PT ‘estava sofrendo’ com a crise. ‘E nós não?’, reagiu um dos humoristas para, em seguida, em tom irônico, pedir desculpas.

Candidato a presidente do PT pelo Campo Majoritário, o deputado Ricardo Berzoini (SP) bem que tentou evitar entrar pela garagem. Mas, ao se aproximar dos humoristas, o carro em que estava saiu cantando pneu.’



Veja ‘Faxina na Fazenda’, copyright Veja, 6/09/2005

‘Desde que a atual crise política eclodiu, VEJA tem revelado a cada semana mais detalhes das entranhas do governo petista. Não tem sido raro, nem é de espantar, as capas da revista causarem polêmica. O tempo e as investigações, no entanto, têm se encarregado de comprovar cada uma das informações publicadas. Foi assim com as ameaças de Roberto Jefferson ao governo, com as ligações entre o PT e Marcos Valério e com o desgaste da imagem do presidente Lula. Na semana passada, a comprovação veio em dose dupla: com uma confissão e um pedido de afastamento. Juscelino Dourado, chefe-de-gabinete do ministro Antonio Palocci, deixou o governo. Em sua edição de 24 de agosto passado, VEJA publicou na capa a informação de que o lobista Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci e um dos mentores da máfia, agendava encontros de empresários com o ministro da Fazenda. Usava Dourado como intermediário. A revelação de VEJA provocou a ira dos provectos observadores da imprensa que entoaram seu lamento de analistas oficiais do regime. O ministro simplesmente cumpriu seu papel e, em uma entrevista coletiva, com o carisma e a inteligência verbal de sempre, refutou os pontos principais da reportagem, circunavegou ou simplesmente omitiu outros.

Na semana passada, em depoimento à CPI dos Bingos, Juscelino Dourado confirmou o que VEJA escrevera: a pedido de Buratti, marcou uma reunião do ministro com a diretoria do grupo português Somague em 2003. A revista apurou também que outros empresários usaram o mesmo caminho para ser recebidos. Até aqui o que se tem é a negação oficial, mas, a se manter a dinâmica própria da atual crise, não será surpresa se outras confirmações vierem à luz. Depois do desastre que provocou, Dourado pediu demissão. Foi o ponto culminante de uma semana terrível. Na segunda-feira, já havia sido apontado como o pivô de um esquema de caixa dois montado para obter dinheiro da empreiteira Leão&Leão – a mesma que é acusada de pagar mensalão à prefeitura de Ribeirão Preto quando o atual ministro era o prefeito da cidade. Palocci não soube ou não pôde livrar-se de auxiliares e amigos do passado que não entenderam a portentosa dimensão que sua figura adquiriu no cenário nacional. Sai chamuscado do episódio. Pelo imenso serviço prestado na manutenção e no aperfeiçoamento da ordem econômica que o governo do PT recebeu de Fernando Henrique Cardoso, o ministro poderia ter sido poupado de tanto transtorno.’