Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

DO GOLPE AO PLANALTO
Folha de S. Paulo

Kotscho lembra 40 anos de Brasil em memórias

‘‘Uma declaração de amor à profissão, ao jornalismo e, principalmente, à reportagem.’ Assim o premiado jornalista Ricardo Kotscho, 58, define a mensagem que pretende passar com a publicação de seu novo livro, ‘Do Golpe ao Planalto – Uma Vida de Repórter’, pela Companhia das Letras.

O livro será lançado nesta segunda-feira, em São Paulo. Em pouco mais de 350 páginas, são percorridos 40 anos da carreira de Kotscho. Desde o tempo de ‘foca’ no ‘Estado de S.Paulo’ e onde era chamado de Ricardinho pelo então chefe, Clóvis Rossi (hoje colunista da Folha), até sua despedida, no Palácio do Planalto, do cargo de secretário de imprensa da Presidência, no final de 2004.

Em entrevista à Folha, Kotscho diz acreditar, ‘sinceramente’, que o jornalismo seja a ‘melhor profissão do mundo’.

Principalmente se o trabalho de repórter tiver conseqüências. Do início dos anos 80, Kotscho relembra o caso de dezenas de pessoas que apareceram para ajudar um casal no ABC paulista depois que uma de suas reportagens, publicada na Folha, mostrou a agonia causada pelo desemprego.

Três dias atrás, na quarta-feira, Kotscho recebeu a notícia de que outra reportagem sua, recém-publicada em São Paulo e no Rio, desencadeou uma ação que levou à prisão de 22 pessoas suspeitas de envolvimento com tráfico de drogas e assassinatos em Minas.

Tendo o pano de fundo dos últimos 40 anos da história do Brasil, o livro é um emaranhado de memórias, viagens, amigos e empregos do jornalista.

‘Escrever livro de memórias é fogo. Você passa a vida inteira juntando histórias. Quando chega a hora de escrever, a memória já não ajuda. E, quando você é jovem e tem a memória boa, não tem histórias para contar’, diz Kotscho.

Embora já tenha outros 15 livros publicados, o jornalista afirma que ‘Do Golpe ao Planalto’ é o primeiro escrito ‘profissionalmente’. ‘No final, aprendi que escrever um livro é basicamente reescrever e cortar palavras.’

Posfácio e mensalão

Kotscho levou um ano para terminar o livro, de dezembro de 2004 a dezembro do ano passado. Depois de pronto, se viu obrigado a escrever um posfácio para comentar a crise política causada pelas denúncias de corrupção que abalaram o governo de seu amigo de mais de 30 anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Kotscho e Lula se conheceram quando o petista era sindicalista no ABC paulista. Na campanha eleitoral de 2002, Kotscho voltou a trabalhar na área de imprensa com o então candidato. Após a vitória, sua ida para a Secretaria de Imprensa do Planalto aconteceu quase que por ‘osmose’.

Sobre a crise do mensalão, que eclodiu pouco meses depois de deixar o Planalto, Kotscho hoje afirma: ‘Convivi dois anos dentro do governo e nunca ouvi falar de mensalão. Fiquei chocado quando isso começou a sair no noticiário. Eu não conseguia nem entender’.

Pessoalmente, acredita que houve o mensalão? ‘Acho que houve essa coisa de dinheiro de partido, que tem a ver com a campanha de 2004. Mas não acredito que saíram distribuindo dinheiro, um monte de gente recebendo, com sacolas circulando. Não estou dizendo que não houve, mas não consigo entender.’

Para o jornalista, ‘é difícil avaliar’ a responsabilidade do presidente Lula na crise. ‘Ainda vai levar um bom tempo para uma avaliação fria. A minha nunca será fria, pois participei do governo e sou amigo e muito próximo de Lula. É uma amizade de mais de 30 anos’, diz.’

Carlos Eduardo Lins da Silva

Um trabalho honesto, interessante e útil

‘Em 1999, quando Bill Clinton começava o segundo mandato como presidente dos EUA, seu ex-secretário de imprensa George Stephanopoulos lançou o livro ‘All Too Human’ (tudo humano demais) sobre sua experiência na Casa Branca.

Tratava-se de um espécime típico do gênero literário conhecido nos EUA como ‘kiss and tell’ (beije e conte), em que o autor revela ao público informação confidencial ou privada sobre celebridades a que teve acesso ao longo de um período de convivência mais ou menos íntima.

Em geral, esses livros têm grande sucesso de vendas por despertarem a curiosidade natural das pessoas comuns pelas ricas ou famosas. Mas raramente contribuem para alargar o conhecimento real que se tem ou delas ou da sociedade em que vivem.

Ricardo Kotscho, secretário de imprensa da Presidência da República do Brasil nos anos de 2003 e 2004, é um jornalista que ao longo de 40 anos de vida profissional sempre pautou seu comportamento por elevados princípios éticos. Não se espere dele que ‘beije e conte’.

Por isso, ‘Do Golpe ao Planalto – Uma Vida de Repórter’ não tem nada a ver com diversos volumes publicados por ex-assessores de Bill Clinton, Ronald Reagan, George W. Bush e outros poderosos daqui e de lá. Desta experiência, Luiz Inácio Lula da Silva se livrou.

Kotscho encontrou uma fórmula engenhosa para escrever uma autobiografia original. Ele vai entrelaçando com habilidade e indiscutível boa técnica jornalística memórias pessoais, resumos de suas principais reportagens e histórias políticas que testemunhou tanto a serviço de veículos de comunicação quanto de seu único ‘patrão’ partidário, Lula.

Com isso, se não chegou a produzir uma obra de referência fundamental sobre a história recente do país, construiu um relato relevante e representativo destas últimas quatro décadas sob a ótica de um ator que se colocou em circunstância privilegiada em diversos momentos decisivos. É um trabalho honesto, interessante e útil, em especial para os que se interessam por jornalismo e/ou política. Quem viu os fatos que Kotscho descreve de uma posição próxima à sua (como é o meu caso) poderá discordar muitas vezes de algumas avaliações e julgamentos do livro (como eu discordo).

Mas será certamente difícil acusá-lo de ter distorcido a realidade.

Bombas esparsas

Aqui e ali, com muito jeito e discrição, Kotscho deixa estourar uma ou outra bomba no colo de personagens com quem certamente ele teve desentendimentos (inclusive eu mesmo). Mas tudo de um modo se nem sempre afetuoso pelo menos muito pouco hostil que marca o seu comportamento básico (exceto em algumas raras situações, das quais seguramente quase sempre deve ter se arrependido pouco tempo depois).

Felizmente para ele, Kotscho não teve de passar pelo constrangimento de explicar aos colegas as posições do governo Lula durante os tormentosos meses do mensalão (como Stephanopoulos teve ao longo de boa parte do caso Mônica Lewinski).

Mas não deixa o assunto de lado: refere-se a ele no posfácio, que contém algumas das passagens mais tocantes e ‘confessionais’ do livro: ‘[o posfácio] É, apenas, uma tentativa de repartir com os leitores as angústias vividas por alguém que, desde muito cedo, acreditou num sonho coletivo, nele jogou todas as fichas, e agora, como tantos outros brasileiros da sua geração, luta para não deixar a esperança morrer’.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é diretor de relações institucionais da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas. É membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do conselho editorial da ‘Revista de Política Externa’. Foi diretor-adjunto de Redação da Folha e do ‘Valor Econômico’.

DO GOLPE AO PLANALTO – UMA VIDA DE REPÓRTER

Autor: Ricardo Kotscho

Editora: Companhia das Letras

Quanto: R$ 46 (368 págs.)

Lançamento: segunda, às 19h30, no Avenida Club (av. Pedroso de Morais, 1.036, Pinheiros, tel. 0/xx/ 11/ 3814-7383)’



TELEVISÃO
Folha de S. Paulo

Final de ‘Ídolos’ coloca SBT à frente da Globo no Ibope

‘Em seu último programa, anteontem à noite, que definiu o carioca Leandro Lopes como vencedor, ‘Ídolos’ alcançou a liderança no Ibope por 25 minutos, posicionando o SBT à frente da Rede Globo em audiência.

A atração teve média de 16 pontos e pico de 19. Superou o ‘Linha Direta’ e o ‘Jornal da Globo’, da concorrente, entre as 23h29 e as 23h56. A Record, terceira colocada, teve média de dez pontos.

Ainda anteontem, os apresentadores de ‘Ídolos’ anunciaram uma segunda edição do programa, mas sem previsão de estréia.

Tanto o SBT quanto a Free Mantle, empresa criadora do formato do programa, não divulgam o número de votantes. Leandro Lopes, 22, concorria com o paranaense Lucas Poletto, 20.

Exibido às quartas e quintas-feiras, ‘Ídolos’ esteve no ar por 18 semanas e havia recebido inscrições de mais de 12 mil candidatos.

O novo ídolo

Ao vencer ‘Ídolos’, Leandro Lopes, nascido em Santíssimo, no Rio de Janeiro, ganhou um contrato com a Sony BMG para a gravação de um álbum que deve ser lançado em setembro.

‘Ainda não sei o que vou cantar no disco. Vou ter uma reunião com a Sony’, afirmou Lopes, que gostaria de fazer parcerias com Fábio Jr. e Zé Ramalho. ‘Acredito que a Sony BMG vai divulgar legal, acho que vai ser mega.’

No programa de anteontem, Lopes chegou a fazer um dueto com Zé Ramalho. Os dois cantaram ‘Admirável Gado Novo’.

Sobre as críticas recebidas dos quatro jurados do programa, ele disse não ter ficado ‘assustado’. ‘Tudo o que eles falaram valeu a pena.’

Antes de participar de ‘Ídolos’, Leandro Lopes tocava bateria e dizia ser fã de pop e heavy metal. ‘Estou preparado para ser ‘ídolo’. Minha cabeça está no lugar e tem várias pessoas me apoiando.’’



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Série faz debate sobre ‘O Voto’ e ‘A Educação’

‘A série ‘Diálogos Impertinentes’ apresenta na segunda-feira, às 20h30, no Tuca Arena (r. Monte Alegre, 1.024, entrada pela rua Bartira, Perdizes, São Paulo, tel 0/xx/11/3670-8453), o debate ‘O Voto’ com a presença do historiador Boris Fausto e do economista João Machado. No mesmo dia, às 18h, haverá a gravação do programa que será exibido em 28 de agosto pelo STV, com o tema ‘A Educação’, com Jurema Ponce, doutora em educação e professora da PUC-SP, e Lisete Arelaro, professora da Faculdade de Educação da USP. Não é necessária retirada prévia de convites.’

Laura Mattos

Santoro em ‘Lost’ depende da Globo

‘Convidado a atuar na famosa série norte-americana ‘Lost’, Rodrigo Santoro negocia com a Globo a liberação para ‘se jogar’ na carreira hollywoodiana.

O ator tem contrato com a emissora até o final deste ano.

A negociação para a renovação deverá englobar a participação dele no seriado da rede ABC. Isso significa que a Globo pode, por exemplo, garantir que Santoro protagonize uma novela assim que voltar dos EUA -quando poderá já estar famoso internacionalmente.

No Brasil, os direitos da série pertencem à Globo (que exibiu a primeira temporada no início deste ano e transmitirá a segunda em fevereiro de 2007) e ao canal pago AXN (que já está transmitindo a segunda).

Santoro foi convidado a atuar na terceira, que estréia nos EUA em 4 de outubro. Após a exibição dos seis primeiros episódios semanais, haverá ‘férias’ de 13 semanas. Somente em fevereiro de 2007, ‘Lost’ volta com os últimos 17 capítulos. O ator brasileiro estaria escalado para esse bloco final.

A produção narra a saga de sobreviventes de um acidente aéreo numa misteriosa ilha. No elenco, já há duas atrizes brasileiras (Marjorie Mariano e Márcia Ardito) como figurantes. Pistas do final da segunda temporada apontam que poderá haver um grupo que fala português na próxima fase.

Santoro, 30, terá de se mudar para os EUA se assinar o contrato. Segundo sua assessoria de imprensa, ele está no Rio de Janeiro resolvendo questões contratuais (além da Globo, tem compromissos publicitários) e pessoais (ele é namorado da modelo Ellen Jabour, nova repórter do ‘Vídeo Show’).

Em 2003, o ator teve um papel pequeno -sem fala e sem camisa- no filme ‘As Panteras Detonando’. No mesmo ano, atuou no filme inglês ‘Simplesmente Amor’, desta vez com poucas falas e cena ‘caliente’. À revista norte-americana ‘TV Guide’, produtores de ‘Lost’ elogiaram Santoro, a quem chamaram de ‘grande ator’ e ‘Russell Crowe brasileiro’.’



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Folha de S. Paulo

O Estado de S. Paulo

O Globo

Carta Capital

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