Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

PCC SEQÜESTRA JORNALISTA
Folha de S. Paulo

Seqüestrados repórter e técnico da Globo

‘Dois funcionários da Rede Globo foram seqüestrados ontem, por volta das 7h50, após saírem de uma padaria na avenida Luis Carlos Berrini, na zona sul de São Paulo. A Folha apurou que a principal linha de investigação da polícia é de que a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) seja a responsável pelo crime.

À noite, o auxiliar técnico Alexandre Calado, 27, foi libertado portando uma fita dos criminosos. Os seqüestradores exigiam que ela fosse transmitida pela Globo.

O repórter Guilherme de Azevedo Portanova, 30, e o auxiliar haviam passado no estabelecimento cerca de uma hora após chegar à emissora, que fica na mesma avenida.

Eles saíram da padaria e entraram na caminhonete da Globo quando, segundo testemunhas ouvidas pela Folha, foram abordados por dois homens armados que também estavam no estabelecimento. Um deles os fez entrar em um Vectra escuro; o outro entrou em um Gol vermelho.

Antes de fugir, um dos criminosos entrou no carro da Globo e mexeu nos equipamentos de televisão, mas nada levou.

As testemunhas relataram que outro homem em uma moto participou da ação.

O Vectra foi achado às 8h15 na avenida Portugal, também na zona sul. Ele havia sido roubado no último dia 10. Segundo testemunhas ouvidas pela polícia, os criminosos tiraram os seqüestrados do veículo e, com eles, entraram no Gol. Em seguida, o homem que acompanhava o grupo na moto ateou fogo ao Vectra e fugiu.

Investigação

O delegado Dejair Rodrigues, do 96º DP, que investiga o caso, diz que de quatro a cinco pessoas devem estar envolvidas na ação. ‘Estou há 31 anos na polícia, e é primeira vez que vejo isso, seqüestrar um repórter desse jeito.’ Rodrigues disse não descartar nenhuma hipótese na linha de investigação.

Indagado se o PCC poderia estar por trás do seqüestro, ele ficou em silêncio. Segundos depois, disse: ‘Não estou dizendo que é o PCC’. Outras autoridades disseram à Folha que a facção criminosa está envolvida.

Segundo o delegado, não foram feitos contatos pelos seqüestradores até o fechamento desta edição. A Polícia Federal auxilia nas investigações.

Foram feitos retratos falados de três dos seqüestradores.

O repórter Portanova cobre principalmente assuntos relacionados à segurança pública na TV Globo.

A emissora emitiu um comunicado em que relata o desaparecimento dos dois funcionários. Após ser informada do seqüestro, a Globo passou a escoltar com seguranças as suas equipes de reportagem.

Família

A Folha falou ontem, por telefone, com a mãe de Portanova, a advogada Maria Elisabeth Lacerda de Azevedo, que autorizou a divulgação do caso. ‘Vou me inteirar sobre tudo agora. Não tenho cabeça para falar nada, por enquanto’, disse ela, logo depois de desembarcar em São Paulo, vinda de Porto Alegre.’



ELEIÇÕES 2006
Luciana Constantino, Luiz Francisco E Rosa Ferro

Lula diz que não irá a debates na TV e critica Congresso

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o Congresso e disse que não participará de debates com os demais candidatos à Presidência da República.

Em evento com prefeitos na capital baiana, Lula acusou congressistas de usarem a imunidade para ‘achincalhar’ a sua imagem e encobrir ‘safadezas’. O petista reafirmou ainda duvidar que o Legislativo promova uma reforma política, já que deputados e senadores trabalhariam em causa própria.

‘A coisa é tão absurda que um deputado ou senador pode achincalhar o presidente da República, como vocês sabem que eu fui achincalhado, mas não pode abrir processo porque eles têm imunidade. Imunidade é para proteger a classe política do arbítrio, não da safadeza’, disse Lula. Participavam do evento, na platéia, 42 prefeitos de 15 partidos.

Em Maceió, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, reagiu às declarações: ‘Sou favorável à imunidade parlamentar porque, no exercício do mandato, o parlamentar precisa ter os instrumentos para poder exercer o seu papel. Na realidade, é um equívoco o presidente não levar a sério a questão ética’.

Mais tarde, em discurso para cerca de 3.500 pessoas na praça Castro Alves, Lula disse ter sido ‘massacrado’ na crise política. Sem citar nomes, ele criticou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que ameaçou dar-lhe uma ‘surra’ em 2005, durante as investigações do mensalão.

‘Fui ofendido no microfone do Congresso, vocês sabem por quem. Fui ofendido por um deputadozinho desse Estado e não respondi.’

E prosseguiu: ‘Não respondi porque um presidente da República tem de se portar diante de seu povo como um pai diante da família. Não pode ficar nervoso’.

Ao se referir à oposição, afirmou: ‘Se eles quiserem me derrotar, vão perceber que uma coisa é derrotar um presidente encastelado lá em Brasília. Outra coisa é derrotar um presidente no meio do povo brasileiro’. Tratando da crise política, completou: ‘Está certo que alguns companheiros [do PT] erraram. E quem errou tem que pagar, porque a Justiça tem que ser para todos. Mas eles [oposição] massacraram, apertaram o torniquete. E doía.’

Para o presidente, a população não pode ser usada como ‘massa de manobra’. ‘Ninguém mais ouse duvidar da consciência política do povo. Ninguém mais ouse usar o povo como massa de manobra.’

Debates

O primeiro debate a que Lula não irá será amanhã, na TV Bandeirantes. Ao justificar sua decisão, argumentou que precisa preservar ‘a instituição Presidência da República’.

Em 1998, Lula e o PT criticaram o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que concorria à reeleição, por sua decisão de não participar de debates.

Ao chegar na madrugada de ontem a Salvador, o presidente classificou de ‘muito bom’ o resultado da entrevista que concedeu na quinta-feira ao ‘Jornal Nacional’. ‘Bem ele não foi. Médio, regular’, avaliou o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho.’

Fernanda Krakovics

Heloísa tentará mostrar que é candidata viável

‘Em apenas um minuto e onze segundos, a candidata do PSOL, Heloísa Helena, se apresentará no horário eleitoral como uma oportunidade de mudança para o país. Ela quer mostrar que sua candidatura é viável e citará seu crescimento nas pesquisas para dizer que é possível ir ao segundo turno.

O programa é coordenado pelos cineastas Ronaldo Duque e Luiz Arnaldo Campos. Campos dirigiu, em 2004, a campanha na TV do ex-guerrilheiro Schafik Handal à Presidência de El Salvador.

A propaganda de Heloísa tentará empolgar com cenas da senadora nas ruas. Ela procura suavizar sua imagem de radical, controlando a agressividade sem deixar de ser contundente.

Na última quinta-feira, a senadora estava cronometrando o que conseguia falar em 40 segundos. ‘O horário eleitoral só traz injustiça’, disse ela, que aposta nos debates.’

Folha de S. Paulo

Jornal estréia seis colunistas e quadrinhos para a eleição

‘A Folha passa a contar a partir de amanhã com uma nova equipe de colunistas para acompanhar e debater diariamente assuntos relacionados à campanha eleitoral. De segunda a sábado, seis convidados estarão se revezando na função, com textos no caderno Brasil. A intenção é oferecer ao leitor mais opções de cobertura crítica, pluralista e apartidária do processo eleitoral.

Além dos colunistas, o jornal começa a publicar aos domingos quadrinhos dos cartunistas Laerte e Angeli, que, alternadamente, farão trabalhos motivados pelo período eleitoral.

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, inicia a sua colaboração como colunista amanhã. Ele escreverá às segundas-feiras, até o final das eleições. Depois dele, na terça, é a vez de Gustavo Ioschpe, 29, mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale.

Ioschpe diz que tentará ‘entender as razões da apatia tão grande diante do sistema político depois do ano e meio mais recheado de escândalos da história recente brasileira’. Apesar de tudo, diz, ‘os escândalos não geram protestos’.

O professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, 41, será o colunista convidado das quartas-feiras. Também pesquisador do Cebrap, Nobre é formado pela USP e pós-doutorado pela Universitat Frankfurt, na Alemanha. Publicou vários artigos e livros, entre os quais ‘Conversas com Filósofos Brasileiros’ (editora 34, 2000), organizado em parceria com José Márcio Rego.

Às quintas-feiras, o colunista será Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha. A editora do Painel, Renata Lo Prete, escreverá às sextas. E o colunista Marcelo Coelho será o convidado dos sábados.’



A TRAJETÓRIA DE OCTAVIO…
Frederico Vasconcelos

O empreendedor que apostou no pluralismo e criou a Folha moderna

‘‘A TRAJETÓRIA DE OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA’, livro do jornalista Engel Paschoal, traça um perfil biográfico do publisher da Folha e ajuda a entender por que ‘o velho sábio que habita o jornal’, no dizer do colunista Clóvis Rossi, costuma afirmar que já viveu o suficiente para ver tudo acontecer -e também seu contrário.

A obra expõe os êxitos e os reveses do empreendedor que completou 94 anos no dia 5 deste mês. O livro traz revelações inéditas sobre o período da ditadura militar, quando, por exemplo, ameaçado de morte por organizações de esquerda, o empresário, literalmente, teve que habitar o prédio do jornal, com a família, sob proteção da polícia.

Paschoal diz que não houve restrições para escrever o livro: ‘A família Frias abriu absolutamente todas as informações e não criou nenhum empecilho. Não mudaram uma vírgula’.

Visto como um ‘outsider’ nos negócios das comunicações nos anos 60, quando adquiriu a Folha, então um veículo sem maior expressão, Frias transformou-o no jornal mais influente e de maior circulação no país.

‘À semelhança de Roberto Marinho e Victor Civita, meu pai ajudou a trazer uma mentalidade de empresa ao ambiente senhorial, pré-capitalista, da imprensa da época’, diz Otavio Frias Filho.

Paschoal entrevistou o publisher da Folha, valeu-se de depoimentos anteriores e colheu opiniões de parentes, amigos e colaboradores do jornal. Editado pela Mega Brasil Comunicação, o livro teve apoio da Telefônica.

Primeiros passos

Frias nasceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, em 5 de agosto de 1912, oitavo filho de Luiz Torres de Oliveira e Elvira Frias de Oliveira. Sua família descende dos barões de Itaboraí e Itambi, mas ele teve uma infância marcada por grandes dificuldades. Seu pai era juiz de direito, licenciou-se da magistratura para trabalhar em São Paulo com Jorge Street, tio de Elvira, um pioneiro do setor têxtil. Aos domingos, a família Oliveira visitava a família Street, no bairro dos Campos Elíseos. ‘Aquilo me marcou muito. A gente via os três carros na garagem do tio Street e ia para casa de bonde’, diz Frias.

Antes de completar oito anos de idade, Frias perdeu a mãe. Em seguida, a família foi abalada com a quebra da indústria de Street. Frias estudou no Colégio São Luís, na avenida Paulista, freqüentado pela elite paulistana. Mas sofria com as dificuldades financeiras do pai, os pagamentos atrasados do colégio, o sapato furado, que usava com jornal para tapar o buraco.

Aos 14 anos, sem passar nos exames, resolveu trabalhar. Abandonou o sonho de ser advogado. Com os sapatos do irmão, foi pedir emprego a um tio na Companhia de Gás de São Paulo. Admitido como office-boy, passou a ajudar nas despesas da casa.

A rapidez na operação de uma máquina de calcular Elliot Fischer trouxe-lhe a promoção a mecanógrafo. O representante da Elliot Fischer convidou-o para uma demonstração na Recebedoria de Rendas, que adquiriu as máquinas em concorrência e contratou o operador.

Frias virou funcionário público, recebendo 600 mil réis por mês. Para aumentar a renda, vendia rádios à noite. Adotou uma estratégia de vendas que bem poderia ter sido usada décadas depois por um Akio Morita, da Sony: ‘Eu batia na casa e oferecia um rádio, deixava o aparelho lá de experiência e dias depois voltava’.

Banqueiro e pobre

Causaria nova surpresa, 15 anos depois, ao deixar o serviço público para criar o Banco Nacional Imobiliário (BNI) com Octavio Orozimbo Roxo Loureiro, ‘um homem extremamente controvertido e discutido, inteligente, com boa cultura, mas pobre’. ‘Entrei com a cara e a coragem’, diz Frias. Foi sua a idéia do condomínio a preço de custo. Foram construídos mais de dez prédios nesse sistema. O mais famoso é o Copan, de meados dos anos 50. Frias trouxe para São Paulo o arquiteto Oscar Niemeyer, que projetou o edifício.

O BNI inovou ao criar o ‘canguru-mirim’, campanha de estímulo à poupança infantil. Chegou a vender prédios para José Nabantino Ramos, então controlador da Folha. Nabantino pediu ajuda a Frias para capitalizar a empresa com a emissão de ações. Como Loureiro não se interessou, Frias abriu a Transaco – Transações Comerciais Ltda., uma das primeiras firmas a vender títulos.

O BNI enfrentou problemas. Houve negócios mal conduzidos pelo sócio. Frias decidiu sair. Mas, a pedido de Loureiro, não retirou o seu nome da diretoria para evitar uma corrida ao banco. O BNI ficou sem liquidez. Para evitar a intervenção, Frias tentou vender o banco a Amador Aguiar, mas Loureiro não concordou. ‘Fiquei com meus bens bloqueados’, diz. Anos depois, Aguiar admitiria que o único erro na vida foi não ter se unido a Frias.

No dia seguinte ao rompimento com Loureiro, Frias caiu do cavalo e quase teve uma fratura de espinha. Ficou seis meses engessado. Semanas depois, o automóvel que dirigia entrou na traseira de um caminhão parado, sem sinalização, na Dutra. Morreram Zuleika Lara de Oliveira, a primeira mulher, e um irmão dele, José.

Frias lembra-se de quando caminhava, com as mãos no bolso, pensando: ‘Estou sem dinheiro, sem mulher, sem nada, partindo da estaca zero’. Ninguém lhe ofereceu emprego. Foi trabalhar na Transaco, vender assinaturas da Folha. Em dois meses, já estava vendendo 6.000 assinaturas permanentes por mês, ganhando 30% de comissão. Na Transaco, Frias conheceu Dagmar de Arruda Camargo, a mãe de Maria Helena, que é médica, de Otavio, diretor de Redação, de Maria Cristina, que escreve sobre economia no jornal, e de Luís, presidente do Grupo Folha.

Os negócios da Transaco iam muito bem quando Frias recebeu convite de Gastão Vidigal, dono do Banco Mercantil de São Paulo, para assumir uma diretoria. Ele dizia que Frias precisava de status, para eliminar a mancha do banco quebrado. Ninguém dizia um ‘não’ a Vidigal, mas Frias recusou.

Seu filho Luís comenta, no livro, a determinação do pai: ‘Tem uma paciência notável, e isso até se mistura com essa determinação, essa obstinação, essa coisa de insistir, insistir. E sempre teve uma grande devoção ao trabalho’.

Compra do jornal

Frias e o sócio Carlos Caldeira deram o sinal numa sexta-feira, 13 de agosto de 1962. O resto foi pago em 24 prestações. ‘Esse cheque você só pode depositar na segunda-feira, porque não tem fundos hoje’, Frias disse a José Nabantino Ramos. ‘Na primeira semana, eu só queria saber para quem eu ia empurrar a Folha. Porque me arrependi, e como’. Havia um passivo grande.

‘Fiquei presidente porque eu era o homem encarregado de levantar o dinheiro e porque o Caldeira não queria aparecer’, diz Frias. ‘Todo santo dia eu estava lá pedindo ou reformando empréstimos com os bancos’. Os dois reinvestiam na empresa: ‘Nunca tiramos um tostão e por isso conseguimos fortalecer muito o jornal’. No livro, sua filha Maria Cristina diz que ‘o dinheiro para ele nunca representou luxo nem coisas supérfluas. Ele tem uma vida muito espartana’.

Frias e Caldeira entenderam que deviam ter outros jornais para baratear a distribuição. Compraram ‘Última Hora’, de São Paulo, e ‘Notícias Populares’. A idéia era ocupar nichos em que a Folha não atuava.

Em julho de 1967, a Folha deu início à revolução tecnológica e à modernização: ‘Cidade de Santos’ foi o primeiro jornal em off-set, um presente de Frias para Caldeira, que fazia aniversário naquele mês e era natural de Santos. A Folha começaria a ser rodada em off-set em 1968. Foi o primeiro jornal a usar o sistema eletrônico de fotocomposição. Frias acompanhava pessoalmente a compra do maquinário.

O engenheiro Pedro Pinciroli, que foi vice-presidente do grupo Folha, diz que, por recomendação de Frias, não se recorria a bancos nem na compra de papel-jornal. ‘Essa posição econômico-financeira sólida permitiu um jornalismo independente’, diz Pinciroli.

Da ditadura às ‘Diretas’

‘Como toda a imprensa, o grupo Folha apoiou o movimento militar no início’, registra Paschoal. O jornal foi alvo de atentados da guerrilha porque, em alguns casos, caminhões da Folha foram usados por equipes do DOI-Codi para operações de repressão à oposição armada.

‘Tenho a convicção de que isso foi feito à revelia do meu pai e até do Caldeira’, Otavio Frias Filho disse a Paschoal. Caldeira tinha amizade antiga com o coronel Erasmo Dias, à época secretário da Segurança Pública, pois ambos eram de Santos.

‘Queimaram três caminhões da Folha, ameaçaram de morte o meu pai. Minha família morou no prédio da Folha, da morte do Lamarca, em setembro de 1971, até fevereiro de 1972’, disse Frias Filho.

Só depois de dez anos da compra, quando a situação financeira do jornal estava consolidada, o publisher da Folha voltou-se para a Redação, com a preocupação de fazer um jornal independente e que alcançasse ‘O Estado de S. Paulo’.

Num jantar, em 1964, Júlio de Mesquita Filho, de ‘O Estado’, passou ao marechal Castello Branco um bilhete, num guardanapo, sugerindo investigar o crescimento da Folha. Um procurador federal foi nomeado para apurar a origem dos recursos do jornal. Concluiu que era legal.

O guardanapo foi mostrado a Frias pelo general Golbery do Couto e Silva. Dez anos depois, Golbery lhe expôs o plano de distensão lenta, gradual e segura do regime militar imaginado por Geisel. Interessava ao governo a existência de um outro jornal paulista de prestígio, além de ‘O Estado’. Golbery não ofereceu ajuda à Folha, como anúncios de empresas estatais ou linhas de crédito.

Em 1965, Frias contratou o jornalista Cláudio Abramo para chefiar a reportagem. Estava entusiasmado, porque ele havia sido diretor de Redação de ‘O Estado de S. Paulo’. Como houve resistência dos editores, Abramo trabalhou um período na Transaco, fazendo a crítica diária do jornal. Foi o primeiro ‘ombudsman’ da Folha.

Foi idéia de Frias a seção de artigos na página 3, com opiniões a favor e contra o regime militar. A página foi desenhada por Abramo, que congregou uma grande equipe de colaboradores. A seção começou em junho de 1975 e abrigou textos de intelectuais e políticos perseguidos pelo regime militar.

Em agosto de 1977, relatório do Serviço Nacional de Informações dizia que a Folha tinha ‘o esquema de infiltração mais bem montado da chamada grande imprensa’, para ‘isolar o governo da opinião pública’.

Em 1º de setembro, o colunista Lourenço Diaféria publicou o texto ‘Herói. Morto. Nós’, sobre bombeiro que salvara a vida de um garoto num poço de ariranhas no zoológico de Brasília e o comparava ao duque de Caxias. E falava da estátua de Caxias, em São Paulo: ‘O povo está cansado de estátuas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal’.

Segundo Frias, ‘o Diaféria escreveu essa crônica que não tinha mal nenhum e daí foi preso saindo da casa dele. Nós ficamos muito irritados e resolvemos manter a coluna em branco, enquanto o Diaféria não fosse solto’. O general Hugo Abreu, chefe da Casa Militar, telefonou para Frias. ‘Se amanhã sair a coluna em branco no jornal novamente, o seu jornal será fechado. E o senhor também será enquadrado na Lei de Segurança Nacional’.

‘Decidimos não publicar mais a coluna em branco. Nos reunimos e achamos que não adiantava bancar o herói, que era melhor que o Cláudio se afastasse da Direção de Redação do jornal’. O jornalista Boris Casoy foi convidado para substituir Abramo. Alberto Dines deixou de assinar a coluna do Rio. O nome de Frias como diretor-presidente foi retirado da primeira página. Ele e Caldeira se afastaram oficialmente da direção da empresa.

No livro, Fernando Henrique Cardoso afirma que ‘o afastamento do Cláudio era uma manobra tática do Frias’. Ele diz que Frias ‘recolheu algumas velas, mas não mudou o rumo’. No início dos anos 80, o jornal liderou a campanha das ‘Diretas-Já’ e consolidou sua presença no mercado.

Por orientação de Frias, o jornal introduziu novos sistemas de produção, o planejamento com metas determinadas, treinamento, controles de custos e avaliação do desempenho da Redação. Entusiasta da pesquisa de opinião, ele criou o Datafolha. O jornal inaugurou um moderno parque gráfico e manteve suas principais características: o pluralismo e o apartidarismo.

‘Frias acha que realizou todos os sonhos que tinha com relação ao Grupo Folha e está com a missão praticamente cumprida’, conclui Paschoal.

‘Não me arrependo de nenhuma decisão que eu tomei. Faria tudo igualzinho’, diz o publisher da Folha.

A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira

Autor: Engel Paschoal

Editora: Mega Brasil

Preço: R$ 44,00 (332 páginas)

LANÇAMENTO

Data: amanhã (14/8)

Hora: a partir das 18h30

Local: Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201, São Paulo)’



LUTANDO NA ESPANHA
Luís Augusto Fischer

Jornalismo de trincheira

‘Apenas 70 anos se passaram desde o estouro da Guerra Civil Espanhola, mas parecem 700. Mas entre 2006 e o remoto 1936 passou a Segunda Guerra Mundial e transcorreu toda a Guerra Fria, experiências distantes para a percepção média de quem vive sob a hegemonia absoluta do império norte-americano de hoje. Mesmo assim, prestando um pouco de atenção, se percebe que o choque entre a esquerda e a direita na Espanha de 1936 ainda ecoa: não faz muito, uma senhora espanhola que vive em São Paulo teve sua casa aberta pela polícia porque, pequeno horror paradoxal na sociedade do desperdício, ela acumulava doentiamente de tudo, desde objetos industriais até comida; perguntada, justificou-se dizendo que fora criada no tempo duro da Guerra Civil Espanhola, em que faltava de tudo. Sobrava era futuro, vistas as coisas de hoje para trás. E justamente esse futuro, os 70 anos transcorridos, são talvez a melhor razão para ler ‘Lutando na Espanha’, de George Orwell (com excelente apresentação de Ronald Polito, mas com alguns erros de numeração nas notas), escritor inglês mais famoso por suas sombrias narrativas alegóricas ‘1984’ e ‘Revolução dos Bichos’ -ambas ocupadas com o que ocorreu no Ocidente depois da derrota das posições que ele defendeu com a vida nas terras espanholas: o sonho socialista libertário, o internacionalismo humanista, o fim da opressão capitalista.

Experiências radicais

Orwell foi a Barcelona para lutar pela esquerda, num tempo em que, fora da União Soviética, ainda se postulavam as teses socialistas não-comunistas. Experiente em matéria militar, porque tinha servido à polícia do Império Britânico na Ásia, depois de haver nascido na Índia e estudado na Inglaterra, o escritor já havia vivido experiências radicais, como a de haver caído na pobreza voluntariamente, em Londres e Paris, entre 1927 e 1929, de que resultou seu primeiro livro publicado, ‘Na Pior em Paris e Londres’. Essa obra, em que usou pela primeira vez o pseudônimo que o tornaria famoso (de batismo, era Eric Arthur Blair), também recebe edição brasileira, com esclarecedor posfácio de Sérgio Augusto. Neste relato já se vê o estilo acertado do repórter-ensaísta, misto de depoimento cru com visada discretamente irônica (mas tem quem atribua aos EUA a invenção do ‘new journalism’). Por que foi para a Espanha? Para conhecer de perto aquela movimentação e sobre ela escrever artigos. Mas logo percebeu que valia mais a pena ajudar diretamente os que tinham posições como a sua.

O repórter e o cidadão

Vai nisso outro dilema que hoje parece fenecido, lamentavelmente: a consciência do repórter confrontando com a do cidadão, sobre matéria complexa e de abordagem relevante para a sociedade. Orwell deliberou então entrar para a guerra e -após passar por breve treinamento, estar no front, ser ferido gravemente por tiro e experimentar a derrota de seus sonhos libertários (derrota que foi primeiro para a ortodoxia comunista, que lá e noutras partes do mundo muitas vezes se aliou aos fascistas contra o resto da esquerda, e só depois para Franco)- contou tudo isso. E como contou. O livro que agora se publica tem grande interesse por ser um relato honesto de uma guerra civil importante para o destino do Ocidente (muitas figuras relevantes se ocuparam dela, indo lá lutar ou sobre ela escrevendo, sendo esse o caso de Erico Verissimo, em ‘Saga’) mas também por ser escrito por um talento superior. Logo no início aparecem as marcas do indivíduo formado na tradição letrada inglesa, como ao descrever um italiano pobre e analfabeto, também voluntário na guerra: ‘Havia tanto de candura quanto de ferocidade nele; havia, também, a reverência patética que os analfabetos têm para com seus supostos superiores’. Espalhado ao longo do relato, se evidencia também um senso de antropólogo, capaz de relativizar seus pontos de vista mesmo em matéria graves. Para gosto do leitor de hoje, há também uma crítica política feroz, que não livra a cara de ninguém, da direita feroz à esquerda anarquista, passando naturalmente pelos comunistas (feitos alguns ajustes, Orwell ajuda a ler a cena brasileira atual, na matéria do aparelhamento pragmático feito por partido com histórico de luta popular).

Bala no pescoço

Há pérolas de capacidade descritiva, como a passagem em que reconstitui a sensação de ser atingido por uma bala no próprio pescoço. Isso sem falar no velho e bom humor à inglesa: em certo momento, Orwell conta da guerra de trincheiras em que estava metido, uma posicionada frente à outra com algumas centenas de metros entre si, sem solução militar, quando alguém, do mesmo lado do escritor, resolve fazer guerra pelo megafone, às vezes gritando slogans contra os fascistas, mas noutras anunciando, para atormentar os inimigos, supostas vantagens bem mais humanas, como ‘Estamos sentados comendo torradas com manteiga’. Uma cena pode representar o gosto de conhecer o relato de Orwell: em certo momento, na trincheira, teve chance concreta de atirar em um inimigo visível, um indivíduo que corria segurando as calças com as duas mãos; e o escritor faz a reflexão: ‘Tinha vindo atirar em ‘fascistas’; mas um homem que está segurando as calças não é um ‘fascista’, é, visivelmente, um semelhante’. Observação preciosa da vida, em um texto que dá gosto de ler do começo ao fim.

LUÍS AUGUSTO FISCHER é professor de literatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de ‘Quatro Negros’ (L&PM).

LUTANDO NA ESPANHA – HOMENAGEM À CATALUNHA E OUTROS ESCRITOS SOBRE A GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Autor: George Orwell

Tradução: Ana Helena Souza

Editora: Globo (tel. 0/xx/11/2199-8888)

Quanto: R$ 45 (400 págs.)

NA PIOR EM PARIS E LONDRES

Autor: George Orwell

Tradução: Pedro Maia Soares

Editora: Companhia das Letras (tel. 0/ xx/11/3707-3500)

Quanto: R$ 39,50 (256 págs.)’



INTERNET
Patti Waldmeir

O gênio da internet

‘O FILÓSOFO e economista Friedrich Hayek nasceu no século 19. Teria ele previsto acidentalmente o gênio da internet?

Em 1973, Hayek escreveu: ‘Cada membro da sociedade pode ter apenas uma fração do conhecimento de posse de todos, e […] a civilização repousa sobre o fato de que todos nos beneficiamos do conhecimento que não possuímos’.

Isso certamente soa como um manifesto a favor dos blogs e wikis. Assim como a democracia, eles se baseiam na idéia maravilhosamente igualitária de que até os mais inferiores de nós têm uma contribuição a dar. Mas isso pode ser verdade?

O professor Cass Sunstein, um dos maiores pensadores da internet nos EUA, escreveu um novo livro intrigante, ‘Infotopia: How Many Minds Produce Knowledge [Infotopia: quantas mentes produzem conhecimento]’, em que ele afirma que as visões de Hayek sobre o gênio dos mercados são igualmente válidas para a internet.

Cada indivíduo tem um conhecimento incompleto das coisas que realmente importam, mas, se nos unirmos e compartilharmos o que sabemos, poderemos solucionar nossos problemas, quer isso signifique definir preços ou encontrar soluções baseadas em volumes maciços de informação distribuída.

O professor Sunstein afirma, por exemplo, que compartilhar informação científica on-line sanaria alguns dos piores problemas do sistema de patentes dos EUA e promoveria a inovação de maneira muito mais eficaz. Muitas empresas já estão usando wikis para fazer os funcionários pensarem juntos on-line, com melhoras na eficiência.

Nada é perfeito, é claro: os mercados podem ser distorcidos por falsidade ou manipulação, e a internet também pode. Como a maioria dos participantes de blogs e wikis não tem participação financeira na precisão da informação que transmite, os incentivos econômicos que impulsionam os mercados geralmente não se aplicam à internet.

O compartilhamento de informação parece ser movido por uma combinação de ego e espírito público: as pessoas genuinamente querem comunicar seu conhecimento.

O americano adulto médio conectado em banda larga depende dessa informação agregada para um conjunto surpreendente, senão assustador, de informações sobre a vida cotidiana. Nossa casa sofreu recentemente um surto de piolhos, e obtive muito mais conhecimento sobre o tema no Google do que do médico.

Nas eras pré-banda larga, eu poderia ter tentado aproveitar a sabedoria coletiva sobre essa praga perguntando a parentes ou vizinhos. Mas garimpei a sabedoria global usando o Google e descobri a melhor dica até agora: lavar o cabelo das crianças com Coca-Cola. Por que eu mesma não pensei nisso?

Bem, como diriam Hayek e Sunstein, essa é a condição humana: ninguém tem todas as respostas. Mas alguns de nós não estamos só mal-informados; estamos errados. A Wikipedia insistiu em sua seção sobre piolhos em que eu lavasse os cabelos de minhas filhas com xampu para cães. O médico disse que não era uma boa idéia.

O professor Sunstein reconhece todos os potenciais defeitos desses projetos colaborativos. ‘Para agregar informação, a internet oferece um grande risco, assim como uma promessa extraordinária’, ele escreve. No mundo digital, obter as opiniões, certas ou erradas, de milhões de pessoas é virtualmente fácil. ‘Todo dia, pessoas de mentalidade semelhante podem se encontrar em câmaras de eco criadas por elas mesmas, levando a erros grosseiros, confiança indevida e extremismo injustificado’, ele diz.

As Bolsas de previsão on-line, por exemplo, em que pessoas comuns apostam no resultado de eventos, foram mais precisas que os pesquisadores para prever o resultado da última eleição presidencial nos EUA. Mas, quando se tratou de prever a identidade do indicado de George W. Bush para a presidência da Suprema Corte, as massas estavam terrivelmente mal informadas.

Embora 75 milhões de americanos leiam blogs, segundo uma pesquisa do Pew Internet & American Life, poucos achariam que todos os blogs são acurados.

O pensamento em grupo pode ser perigoso. Mas, segundo o professor Sunstein, a sabedoria de muitos é uma grande coisa e compartilhar conhecimento on-line pode levar a avanços notáveis para as empresas, os governos e todos nós.

PATTI WALDMEIR é colunista do ‘Financial Times’, jornal em que este texto foi publicado originalmente.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES’

Elvira Lobato e Paula Leite

Teles disputam modelo de internet sem fio

‘Após a disputa pela definição do padrão da TV digital no país, empresas de telefonia fixa, a Embratel e TVs por assinatura travam uma nova batalha, agora pela implantação da internet sem fio, um negócio bilionário que deve mudar a forma de acesso à banda larga no Brasil.

Além disso, o governo estuda mudar o modelo de licitação das freqüências que podem ser usadas para essa tecnologia, já que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, defende que haja mais exigências para as empresas que ficarem com as autorizações e que haja uma reserva para a implantação de redes públicas (leia texto abaixo).

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) abriu licitação em julho para leiloar blocos de freqüência nas faixas de 3,5 GHz e 10,5 GHz, que podem, entre outras aplicações, ser usadas para redes de internet rápida sem fio do padrão WiMax. O leilão está marcado para 4 de setembro.

O edital, no entanto, não permite que as operadoras de telefonia fixa que são concessionárias (como a Telefônica em São Paulo) adquiram a freqüência na área em que atuam.

A preocupação das teles é que elas fiquem só com a tecnologia ultrapassada (internet rápida com fio), enquanto outras companhias oferecem o WiMax, sem fio e mais moderno.

A grande adversária das três gigantes de telefonia fixa local (Telemar, Brasil Telecom e Telefônica) é a Embratel. Além de ser acionista da Net (maior operadora de TV a cabo do país), a Embratel já adquiriu, em outro leilão, autorização para a freqüência de 3,5 GHz em todo o Brasil. Esse leilão foi realizado em 2002, quando o WiMax estava nos primórdios.

A Brasil Telecom também possui freqüências para transmissão sem fio em vários Estados, mas não em toda a sua área de concessão.

A Abrafix (Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado), que representa as concessionárias, diz que a restrição do edital não tem fundamentação legal. A entidade, assim como as operadoras CTBC, Brasil Telecom e Sercomtel, enviou à Anatel pedido de impugnação do edital de licitação.

A Anatel defende a exclusão das concessionárias, dizendo que essas empresas já têm uma estrutura de internet de banda larga. A agência, segundo sua assessoria de imprensa, quer estimular a competição.

TV por assinatura

Um grupo de executivos de TV por assinatura e de empresas de telecomunicações concorrentes das teles foi à Anatel na quarta-feira pedir que o leilão seja mantido. Constavam da comitiva representantes da Net, da TVA, da Nextel, da Impsat e da AT&T, adversárias das teles nessa disputa.

‘As telefônicas não têm problemas para cobrir todas as localidades com a internet. Com as freqüências, elas teriam uma segunda rede, e isso seria concorrência desleal’, diz Antônio João, vice-presidente de tecnologia da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura).

A queda-de-braço entre elas e as companhias telefônicas, em relação ao leilão da Anatel, ‘é uma pequena batalha dentro de um movimento maior pela convergência dos serviços’, explica um executivo do setor. As teles já começaram o avanço sobre o mercado de TV paga, e esse movimento é mundial.

No final do mês passado, a Telemar comprou a operadora de TV a cabo Way Brasil, de Minas Gerais. A Telefônica tem planos de oferecer TV por assinatura via satélite.

Por outro lado, as freqüências do WiMax atraem o interesse das empresas de TV por assinatura, que vêem um modo mais barato de expandir a oferta do chamado ‘triple play’ -vídeo, voz e dados. Essas companhias já oferecem esse serviço via cabo, mas é caro expandir essa infra-estrutura; com o WiMax, o custo cai.

Além disso, a mobilidade do WiMax faz com que a tecnologia seja promissora para a expansão do VoIP (voz sobre protocolo de internet), a telefonia via rede, competindo com os serviços das concessionárias.’



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Governo quer adiar leilão para incluir exigências a vencedoras e rede pública

‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, enviou carta ao presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Plínio de Aguiar Júnior, em que pede o adiamento do leilão de freqüências que podem ser usadas para o WiMax (internet rápida sem fio). Aguiar recebeu o documento na quinta-feira.

Costa reuniu-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na última quarta-feira e defendeu o adiamento do leilão por dois ou três meses, até que sua equipe conclua o projeto de política pública de inclusão digital.

O pedido de adiamento será examinado pelo conselho diretor da Anatel na próxima quarta-feira. A agência reguladora pôs à venda quatro blocos de freqüências correspondentes às áreas de concessão das companhias telefônicas e mais oito blocos de freqüências para áreas menores.

As telefônicas foram proibidas de comprar freqüências dentro de suas áreas de concessão, como forma de estimular a entrada de novos competidores, mas a restrição reacendeu a guerra entre elas, as TV por assinatura e a Embratel.

O ministro defende que o edital seja modificado para incorporar mais exigências de cobertura do serviço e que parte das freqüências à venda seja retirada do leilão e mantida como reserva para a hipótese de o governo decidir implantar uma rede pública de comunicação sem fio.

Mais rigor

No entendimento do Ministério das Comunicações, o governo foi pouco rigoroso na venda das licenças de telefonia celular, e centenas de pequenos municípios continuam sem cobertura do serviço porque as companhias priorizam os centros urbanos.

O ministro, que é mineiro, tem insistido em que metade dos municípios de seu Estado não tem serviço celular e que não quer que a implantação das redes sem fio fique ao sabor da decisão das empresas.

Estados e prefeituras

Paralelamente à discussão iniciada pelo Ministério das Comunicações, alguns Estados se movimentam para obter uma faixa de freqüência entre as leiloadas pela Anatel, para a construção de uma rede pública de internet sem fio para interligar escolas, delegacias, hospitais e órgãos da administração pública.

Essas redes podem reduzir custos para a administração pública, pois não seria mais necessário pagar pelo acesso à internet e a interligação dos computadores das diferentes repartições. Além disso, o uso da telefonia via internet poderia reduzir os gastos com centrais e ligações telefônicas.

O movimento começou por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, segundo Juarez Lopes, gerente de redes da empresa de processamento de dados do governo catarinense.

Segundo ele, algumas prefeituras também participam da discussão. Os Estados gostariam de ter as licenças para as freqüências gratuitamente, mas admitem formar um consórcio para disputar o leilão.

O movimento é visto como uma ameaça de reestatização pelas empresas de telecomunicações.

Elas lembram que, antes da criação da Telebrás, muitas companhias telefônicas eram municipais e as prefeituras não tinham dinheiro para acompanhar as inovações tecnológicas. Dizem que o mesmo pode ocorrer com as redes de internet sem fio.’



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São Paulo tem ‘nuvem’ de rede WiMax

‘Enquanto os ‘cachorros grandes brigam’ pelas freqüências que podem ser usadas para implantar redes WiMax, empresas menores já usam a tecnologia para operar em nichos de mercado.

O WiMax é semelhante ao Wi-Fi, tecnologia usada nos ‘hotspots’ que já existem no Brasil em hotéis, aeroportos e lanchonetes. Mas o WiMax pode ‘cobrir’ cidades ou regiões inteiras (ver quadro).

São Paulo e algumas cidades do interior paulista já têm uma ‘nuvem’ de WiMax, da empresa Neovia Directnet. Mas a internet ainda não é móvel; a companhia transmite o sinal à antena instalada no topo do prédio ou na casa do cliente. Por meio de cabos, o sinal chega ao computador do cliente.

A Neovia tem como um de seus investidores a Intel Capital, braço da Intel, uma das grandes proponentes do WiMax. A Intel fabrica equipamentos compatíveis com o padrão WiMax.

De acordo com Maurício Coutinho, presidente da Neovia, a empresa está testando uma antena portátil, que permite que o cliente se movimente com o laptop pela casa e pela cidade ‘pegando’ a internet.’

Chris Nuttall

Nos EUA, operadoras apostam em tecnologia

‘DO ‘FINANCIAL TIMES’ – As operadoras sem fio estão apostando muito dinheiro na ainda pouco conhecida tecnologia WiMax. A Sprint Nextel deverá gastar US$ 1 bilhão neste ano e entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões em 2008 para construir uma rede de banda larga móvel 4G (quarta geração) pelo território americano baseada em WiMax.

Em julho, a Clearwire bateu o recorde de investimento de capital de risco nos EUA ao receber US$ 900 milhões para o desenvolvimento do WiMax.

Maior fabricante de chips do mundo, a Intel forneceu US$ 600 milhões do investimento de US$ 900 milhões na Clearwire, o maior investimento de sua filial de capital de risco, a Intel Capital.

Ela pretende que o WiMax se torne o mesmo tipo de padrão mundial que o Wi-Fi -tecnologia sem fio que impulsionou o sucesso de seu chip Centrino em notebooks. ‘A Intel quer colocar chips WiMax em laptops, e só vale a pena se eles tiverem uma rede à qual se conectar. É aí que entra a Clearwire’, afirma Alan Menezes, diretor da Wavion, empresa cuja tecnologia ajuda a estender a cobertura Wi-Fi em áreas metropolitanas.

‘A Intel realmente quer dar um empurrão inicial nisso’, diz Frank Hanzlik, diretor-gerente do órgão setorial Wi-Fi Alliance. ‘O tamanho do investimento dá a noção de quanto capital é preciso. Toda uma rede e um ecossistema têm de ser implantados. A indústria de celular levou 20 anos para desenvolver essa infra-estrutura.’

Os desafios para a Intel têm uma escala diferente dos do Wi-Fi, que usou um espectro não-licenciado e não precisava de carregadores nem de construção de redes nacionais.

O WiMax é o elo perdido do Wi-Fi. Apesar de cidades como San Francisco estarem construindo redes metropolitanas de Wi-Fi, a tecnologia ainda não tem a cobertura e a mobilidade da telefonia celular.

O WiMax promete um alcance de cerca de 50 quilômetros e taxas de transferência de dados de até 70 megabits por segundo, uma largura de banda muito maior do que a da 3G, em que as velocidades variam em torno de 1 megabit.

A Sprint Nextel tem licenças para utilizá-lo: domínios com espectro de 2,5 GHz, que cobrem 85% das casas nos cem maiores mercados americanos, mais que qualquer operadora sem fio em qualquer faixa de espectro.

No entanto sua corrida para a 4G não está sendo imitada por outras operadoras americanas, que querem recuperar o valor de sua cara infra-estrutura 3G.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES’

Adriana Ferreira Silva

Artistas passam a criar de olho no YouTube

‘Com milhões de vídeos, de piadas a registros históricas, o YouTube (www.youtube.com) está entre os grandes hits da internet atualmente. Segundo o site, em um só dia são 40 milhões de visitantes e 35 mil novos vídeos. De carona nessa onda, videomakers, músicos, atores e outros tantos entusiastas começam a criar vídeos especialmente para serem veiculados no site.

Além de divulgação, os artistas também estão utilizando o endereço para experimentar linguagens audiovisuais; já os amadores querem mesmo é tirar uma chinfra.

Há quem consiga atuar em todas essas frentes, como o DJ e produtor George M. Ele criou uma página no YouTube para difundir seu projeto de música eletrônica, o Las Bibas from Vizcaya, que se tornou um estrondoso sucesso na rede.

Mais de 100 mil pessoas já assistiram aos vídeos na página do Las Bibas, e dezenas de outras criaram histórias inspiradas nas de George.

O que ele fez de tão especial? Simples: capturou cenas de videoclipes e de novelas globais, como ‘Vale Tudo’ (1988) e ‘América’ (2005), tirou o som, inseriu dublagens absurdas e músicas do Las Bibas. Seu principal hit é a versão para um diálogo entre Heleninha (Renata Sorrah) e Odete Roitman (Beatriz Segall) com falas impublicáveis (veja no quadro à esquerda).

George, 34, vai direto ao ponto: ‘É publicidade para vender o CD. Meu trabalho é com música. Os vídeos são caseiros.’ O retorno, diz ele, surpreendeu. ‘As pessoas cobram vídeos novos. Vou fazer uma trilogia para acabar com essa história’, conta. Para os fãs, ele adianta que as cenas do próximo capítulo incluem uma interpretação ‘hilária’ para um colóquio com Joana Fomm e Sônia Braga em ‘Dancin’ Days’.

No Brasil, o YouTube se popularizou, principalmente, como um arquivo do lado B da televisão, com cenas de novelas como essas, resgatadas por ‘garimpeiros’ como George M.; e gafes cometidas ao vivo por famosos, como a que mostra o jornalista Fernando Vanucci apresentando seu programa com um jeitão meio chapado.

‘Coisas como o YouTube são muito benéficas, porque revertem a passividade do espectador’, defende a pesquisadora de linguagens audiovisuais Renata Gomez, 30. ‘A possibilidade da produção televisiva ser revista e comentada, como no caso do [Fernando] Vanucci, já interfere na criação.’

Além de funcionar como uma espécie de ‘TV comentada em escala global’, Gomez afirma que o YouTube está sendo descoberto pelos artistas brasileiros, apesar de existir uma certa resistência ao site.

‘Os cineastas têm preconceito com o digital, por conta da baixa definição’, diz ela. ‘Também há a paranóia de ter o trabalho usurpado, o que é um pouco ingênuo.’

Quem está aproveitando o YouTube como espaço de criação são artistas experimentais, que utilizam a rede para divulgar e distribuir as obras, ou jovens em início de carreira.

O jornalista Pedro Bayeux, por exemplo, transformou sua página no making of do documentário ‘Rec Beat e o Hipertexto’, com registros do festival de música pernambucano deste ano. ‘Coloquei para rolar uma interatividade com as pessoas’, conta Bayeux, 26.

Antes, ele realizou o filme ‘Gamer BR’, que também está na rede (www.pirex.com.br). Desta vez, adotou o YouTube por ser mais ‘democrático’ e ter ‘fácil acesso’, afirma.

O artista Leonardo Castro, 27, inseriu trabalhos de vídeo abstratos, feitos a partir de imagens da internet, arquivos etc., como parte de uma pesquisa sobre videoarte. ‘O YouTube é mais conhecido e é mais fácil de distribuir o vídeo’, diz.

Mais descompromissada, a DJ Polly se ‘especializou’ em curtas caseiros, realizados para o site. ‘Para mim, acabou blog. Não tenho mais saco para nada. Só para o YouTube.’’

Silvana Arantes

Vídeo com Gilberto Gil provoca barulho

‘São só 60 segundos e uma frase, mas o efeito é de um estrondo em torno de ‘Afinação da Interioridade’, vídeo estrelado pelo músico e ministro da Cultura Gilberto Gil.

O filmete virou tema de debate em listas de discussão de cineastas e levou o seu diretor, Roberto Berliner, a publicar uma texto de esclarecimento no site oficial do artista (www.gilbertogil.com.br).

Tudo porque ‘Afinação da Interioridade’ brinca com uma característica de Gil, a de pontuar sua fala por intervalos de silêncio ou balbucios, em busca da palavra mais exata para dar seqüência ao seu raciocínio.

Na prática, com truques de montagem Berliner faz com que Gil leve um minuto para dizer a frase ‘A música é a afinação da interioridade’.

‘Quando fiz esse filme [em 2001], era uma homenagem ao músico Gilberto Gil, uma brincadeira com ele, uma espécie de poesia’, afirma Berliner, que teve autorização de Gil para usar as imagens.

‘Ele foi superlegal, nem sei se gostava ou não do filme, acho que, de início, não gostava’, conta o diretor, para quem a reação ao vídeo ‘foi superpotencializada pelo fato de ele ter se tornado ministro’.

De fato, o vídeo é visto por alguns como uma chacota com o ministro e por outros como um tributo ao artista. Ou seja, é um filme-homenagem. Ou não.’



TELEVISÃO
Bia Abramo

‘Páginas’ fecha cerco moralizante

‘NANDA APANHOU da mãe. Sandra, do ex-amante e patrão. Nanda foi abandonada pelo namorado quando se recusou a fazer um aborto. Nanda foi atropelada e morreu, numa longa agonia que durou quase uma semana. Sandra vive às turras com a mãe, que também parte para cima dela vez por outra.

Anna tortura a filha, obrigando-a fazer balé e a emagrecer sempre. Anna humilha o marido na frente da filha. Marta também. Marta bateu na filha, Nanda, mesmo com o barrigão de sete meses de gravidez. Marta vai rejeitar a neta, Clara, porque tem síndrome de Down. Isabel, a fotógrafa solteira boa-praça, vai se envolver com um perfeito cafajeste.

Helena é uma santa. Irmã Natércia, idem. Irmã Lavínia, ibidem. Lalinha também era tão boa que morreu numa capela, sem nem mesmo emitir um gemido ou pender a cabeça.

Jovens sexualizadas apanham, merecem uma, duas, mil surras. Mulheres mais velhas tornam-se amargas e neuróticas: a maternidade é uma cruz, a ser carregada à base de muito sofrimento. As solteiras e independentes caem nas mãos dos cretinos. As casadas vivem de crise em crise ou imersas no tédio. Só as muito boas são felizes.

É isso, em resumo, o que acontece com as personagens femininas de ‘Páginas da Vida’. Manoel Carlos, detrás de sua mise-en-scène suave, está fazendo uma das novelas mais conservadoras dos últimos tempos.

Fala-se de sexo. Muito. Com detalhes vívidos. E tanto quem recebe para isso quanto quem dá de graça detalhes da intimidade nos depoimentos que encerram os capítulos.

Os populares desavisados (quem nunca apareceu na TV está sempre desavisado, não tem dimensão do que é se mostrar para milhões de pessoas) ao mesmo tempo em que avalizam as cabriolas liberalizantes da ficção conferem um ar de veracidade para o cerco moralizante.

Porque falatório sobre sexo e a exibição de calcinhas, peitos e bundas formam uma cortina de fumaça através da qual se entrevê o de sempre: machismo, um tanto de misoginia, corpos femininos brutalizados. Bossa nova é isso. Desde que as mulheres fiquem em seu lugar, está tudo bem. Se saem da linha, alguma mão pesada se encarrega de fazê-las voltar. Para o bem de todos, felicidade geral da nação e a paz do Leblon.

Uma perguntinha bem incômoda: se a mulher que confessou ter tido um orgasmo se masturbando fosse loura, linda, rica e jovem, a indignação teria sido do mesmo tamanho? ‘

Daniel Castro

Minissérie vai mobilizar metade da Globo

‘Cerca de 200 atores, ou a metade de todo o elenco da Globo, foram convocados para gravar ‘Amazônia, de Galvez a Chico Mendes’, minissérie que irá contar a história do Acre.

Tudo na minissérie, que começa a ser gravada no final deste mês, é superlativo. ‘Amazônia’ deverá ser a minissérie mais cara da história. Cada um de seus 48 capítulos custará no mínimo R$ 400 mil, o dobro de um episódio de novela.

Atualmente, cinco empreiteiras constroem três cidades cenográficas no Acre e no Amazonas _e uma quarta será erguida no Rio. Só numa dessas cidades, a maior delas, há 300 operários trabalhando.

Do Rio, nos próximos dias, partirão para Manaus e Rio Branco três caminhões com figurinos e cenografia. Ao todo, a Globo enviará 20 toneladas de equipamentos para a floresta.

Para atender aos 200 profissionais que trabalharão na Amazônia, entre técnicos e atores, a Globo comprou 720 frascos de repelentes de insetos e outros 720 de filtros solares, além de 200 capas de chuvas.

As primeiras equipes da Globo chegarão à região Norte no próximo domingo. As últimas só sairão de lá no final de novembro. A epopéia de Glória Perez, que estréia em janeiro, misturará história (como a integração do Acre ao território brasileiro e o esplendor do ciclo da borracha) com muita ficção, incorporando lendas indígenas às tramas folhetinescas.

MARKETING VIRAL 1Há duas semanas, começou a circular na internet um e-mail que diz que Alexandre Garcia foi demitido da Globo, anexado a um vídeo em que o jornalista critica a corrupção no país.

MARKETING VIRAL 2O boato foi de cara desmentido pela Globo, mas só agora Garcia decidiu comentá-lo: ‘Estou muito feliz na Globo e acredito que a Globo também esteja muito satisfeita com meu trabalho, pois meu contrato vem sendo renovado há 20 anos. Não tenho a menor idéia de como surgiu essa boataria, mas posso garantir que só serviu para eu receber o carinho das pessoas’.

CASA NOVA A atriz Lucinha Lins é a mais nova ex-Globo a ser contratada para fazer novela na Record.

VOA CINDERELAJuliana Silveira, protagonista de ‘Floribella’, novela infanto-juvenil da Band cujo último capítulo foi ao ar na sexta-feira, está negociando com a Record.

GRADE HORIZONTALA TV Cultura propôs à jornalista Silvia Poppovic, na última sexta-feira, a renovação de seu contrato por mais dois anos. E ofereceu a ela uma atração diária, ainda sem duração e horário determinados, vinculada ao jornalismo da casa.

NASCE UM CAMPEÃOAtual recordista de audiência da Globo, com ‘Senhora do Destino’, Aguinaldo Silva acha que Manoel Carlos irá destroná-lo. Avalia que ‘Páginas da Vida’ começou muito bem no Ibope e tem fôlego para bater a média de 50,5 pontos do primeiro ao último capítulo.’

Laura Mattos

Será que ele é?

‘O zunzunzum circula na internet, no movimento GLS e preocupa figurões da Aeronáutica: será que Edson Celulari, no papel de um militar em ‘Páginas da Vida’, vai ter um caso com outro homem na novela?

Está aí a mais nova ‘trama paralela’ de Manoel Carlos, o autor campeão em criar polêmicas, manter suas histórias na ‘boca do povo’ e, claro, levar com isso o ibope lá para cima. ‘Páginas da Vida’ mal completou um mês e já é sintonizada por 67% dos telespectadores que estão ligados no horário.

E olha que a maior parte do público ainda nem faz idéia da possibilidade de Celulari, 48, galã do primeiro time global, trocar ninguém menos que Ana Paula Arósio por um bofe. Na novela, ele é Sílvio, militar da Aeronáutica. Conservador e tímido, vive constrangido com o jeitão ‘caliente’ da mulher, Olívia (Arósio). Pensa em abandonar a carreira e se define como alguém com ‘dificuldades para fazer escolhas’. Na segunda fase da novela, daqui a uma semana, seu casamento, após cinco anos, estará em crise. Mas será que ele é?

Vamos aos fatos. Há dois anos, Manoel Carlos disse à Folha com todas as letras: pretendia pôr um bissexual em ‘Páginas’. Já havia feito isso em ‘Por Amor’ (97/98), mas com um personagem secundário. ‘Não sei por que não houve muita repercussão’, disse. Ele também criara um jovem casal de lésbicas em ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003), mas afirmou considerar ‘o bissexualismo mais atraente do que o homossexualismo como argumento’. ‘É grande o número de bissexuais que vivem com suas mulheres e filhos, ou de mulheres que vivem com seus maridos.’

Agora mudou o discurso. Diz que não decidiu se -e como- abordará o assunto em ‘Páginas da Vida’. Sobre a especulação de que poderia ser o personagem de Celulari, não confirma, mas também não nega. Maneco, como é chamado, é de dar inveja em bons marqueteiros…

Já Celulari negou à Folha que tenha recebido ‘indicação do autor nesse sentido’. Disse ter lido na sinopse que outros dois personagens estariam cotados para ser o bissexual (especula-se que sejam o de Marcos Caruso e o de Tato Gabus Mendes). Mas disse que seria ‘maravilhoso’ discutir esse tema e que interpretaria ‘com prazer’ um bissexual.

Odilon Wagner, intérprete do bissexual de ‘Por Amor’, contou à Folha que foi chamado antes de a novela começar por Manoel Carlos. ‘Ele me perguntou se eu topava e combinamos de manter isso em segredo’, disse o ator, que perdeu contratos publicitários à época.

O bafafá em torno de Celulari causou desconforto no alto escalão da Aeronáutica, que assessorou a novela para compor o personagem, liberou sua base no Rio para gravações e até emprestou um macacão para o ator usar em cena. Há quem defenda que a colaboração acabe se Sílvio ‘sair do armário’.

A versão oficial do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica é que a instituição ‘não censura novelas’ e que não há ordem para deixar de colaborar com a produção.

O debate também começou no site de relacionamentos Orkut. Foi criada uma comunidade para os que defendem que Sílvio seja o bissexual da trama. Regina Facchini, doutoranda em sexualidade pela Unicamp e coordenadora da Secretaria de Bissexualidade da Parada Gay de SP, conta que a pauta já está nas listas de discussões de militantes na internet. ‘É positivo que haja um bissexual na novela das oito, contanto que ele não reforce estereótipos, como o do marido que trai a mulher com outro homem e ainda a contamina com Aids.

Se fosse assim, seria terrível. Mas estamos abertos a discutir a abordagem com o autor.’ Se Celulari é ou não é, veremos. Mas outra coisa é fato: personagens gays viraram recurso infalível para criar polêmica em novelas -e estão até na TV do bispo Edir Macedo.

Colaborou DANIEL BERGAMASCO , da Reportagem Local’



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Ator topa beijo gay e diz que ‘faria bissexual com o maior prazer’

‘Leia a entrevista concedida por Edson Celulari à Folha sobre a possibilidade de seu personagem em ‘Páginas da Vida’ ser um bissexual.

FOLHA – O Sílvio é ou não é o bissexual de ‘Páginas da Vida’?

EDSON CELULARI – Fiquei assustado com a nota [publicada num jornal carioca], porque não sabia de nada. E me parece que o Manoel Carlos [autor] desmentiu [à Folha, ele não nega nem confirma]. Estava na sinopse, mas não era com o meu personagem, era com outros dois.

FOLHA – Quais outros dois?

CELULARI – É… Eu não me lembro. Era uma possibilidade.

FOLHA – Há indícios de que Sílvio pode ser: ele se incomoda com o jeito ‘caliente’ da mulher…

CELULARI – [interrompendo] Isso não aponta nada. É um comportamento normal. Em nenhum momento tive essa intenção e não recebi orientação nesse sentido. Se gostaria de fazer, é outra coisa. Discutir a bissexualidade é maravilhoso.

FOLHA – Houve dois diálogos do Sílvio que podem ser pistas. Em um, ele fala que sempre teve dúvidas…

CELULARI – [interrompendo] Eu sei o que fala, que tem dificuldade em tomar decisões. Mas isso não quer dizer nada.

FOLHA – Numa cena desta semana, o pai vira para Sílvio e diz: ‘Será um almoço de homens’. Ele olha fixamente para o pai por alguns segundos e só depois ri, concordando.

CELULARI – [risos] Aí você está indo longe demais. Sobre aquele olhar, o que pensei como ator foi que era de admiração pelo pai, ele olha com amor, não tem nada a ver. Eu te garanto que estou fazendo o que está escrito no roteiro. Ele está vivendo a lua-de-mel, está ótimo. Por enquanto, esse é o perfil.

FOLHA – E se ele for bissexual? Como ficará a mulherada que é sua fã?

CELULARI – Já fiz tantos papéis, meu pai do céu… ‘Calígula’ no teatro, o filme ‘Asa Branca’ [era jogador de futebol e rolava um ‘clima’ com o personagem de Walmor Chagas], tantos…

FOLHA – Agora é novela das oito.

CELULARI – Eu sei, mas a catarse acontece quando o ator faz bem o que tem que fazer. Nós somos o meio para passar a idéia do autor. Fiz o papel em ‘Decadência’ [pastor corrupto]. Era uma discussão saudável, e nem por isso o público… Isso é uma idéia meio romantizada. Se tiver que fazer [o bissexual], farei com o maior prazer, o importante é ter um bom material, conflito. Já pensou se minha vida fosse fazer só o que as pessoas esperam e não o que gosto? Estaria triste. Se o Maneco [Manoel Carlos, autor da novela] colocar esse tema, será com a profundidade de sempre.

FOLHA – Já interpretou bissexual?

CELULARI – No filme ‘Sexo Frágil’, fiz um ator que se travestia de mulher para participar do Dia das Mães na escola do filho, que não tinha mãe.

FOLHA – E beijo gay?

CELULARI – Sou virgem [risos]. Ah, fiz em teatro, o Calígula.

FOLHA – Se o Maneco escrever e a Globo desta vez bancar, você topa?

CELULARI – Eu não vejo isso como um desafio, vejo com naturalidade. Se vier, vou fazer porque esse é meu trabalho. E vou tentar fazer bem feito.

FOLHA – Você acha que eu estou vendo pêlo em ovo, sinceramente?

CELULARI – Não, acho que… Você pode ler a cena de vários modos. Da minha parte, digo: não fiz com nenhuma indicação sobre isso. Se ele vier a escrever isso, será um caminho novo.’

Lucas Neves

Com 3 programas no ar, Regina Casé quer voltar à ficção

‘Há seis anos à frente do ‘Um Pé de Quê?’, programa em que busca origens e curiosidades de todo tipo de árvore, Regina Casé, 52, anda saudosa da lavoura da dramaturgia. O último trabalho dela no terreno é da safra de 2001: ‘As Filhas da Mãe’, de Silvio de Abreu. Recentemente, vieram propostas de papéis cômicos em ‘A Lua me Disse’ e ‘Cobras e Lagartos’. Os compromissos com ‘Pé’, ‘Minha Periferia’ (quadro do ‘Fantástico’) e ‘Central da Periferia’ a levaram a recusá-las.

Agora, pelas mãos de Glória Perez, ela ensaia um retorno à ficção. ‘Fui convidada para fazer a minissérie sobre o Acre [cujo título provisório é ‘Amazônia – de Galvez a Chico Mendes’]. A personagem é uma parteira que vive na floresta e já fez mais de 400 partos. Se conseguir encaixar na agenda, vou fazer, porque morro de saudades e sou cobrada de voltar’, diz.

Antes de reengatar o flerte com sua porção atriz, ela foi à África fazer o raio-x de três espécies da flora moçambicana -baobá, pau preto e canho. O registro está na nova temporada do ‘Um Pé de Quê?’, que estréia nesta semana, no Futura. ‘Fiquei apaixonada pelas pessoas. Há uma empatia que está muito antes e muito depois da língua. O país tem 31 anos. É como um europeu se sente em relação ao Brasil; está tudo por fazer, e isso dá um gás’, observa.

Gás suficiente para fazê-la coletar material não só para o ‘Pé’. ‘Não almoçava porque queria gravar uma matéria para o ‘Minha Periferia’ e não jantava porque queria gravar outra para o ‘Central’, brinca. O desejo de estabelecer paralelos entre os cotidianos moçambicano e brasileiro a levou, por exemplo, a um bairro do subúrbio de Maputo onde as vans são o transporte preferencial e ecoa alto o coro de vozes anunciando o itinerário dos veículos. O cenário, segundo a apresentadora, é idêntico ao de Santa Cruz, na zona oeste carioca.

Casé terá várias oportunidades de comparar o que viu na África à realidade brasileira. Depois dos quatro programas iniciais, a Globo deu sinal verde para mais seis edições de ‘Central’. Brasília e Fortaleza estão na rota da caravana musical.

Às críticas de que a atração perde o espírito crítico e induz à adesão do espectador, Casé reage: ‘Não há pedagogia no sentido de fazer gostar de certa música ou projeto, mas não se pode ignorar que aquilo existe e o tamanho daquele fenômeno. É uma patologia social viver em cidades em que o que acontece em alguns bairros -que, muitas vezes, ocupam a maior parte da área- é obscurecido’.

O que ninguém ignora é a verve humorística da atriz. Será que ela voltará à carga? ‘Quando encontro com o Luiz Fernando Guimarães [parceiro no Asdrúbal Trouxe o Trombone], penso em voltar. O Alexandre Machado [criador de ‘Os Normais’] também já me mandou idéias. Ninguém sabe o que pode acontecer nos próximos cinco minutos’, despista.

Enquanto não reata com o humor, ela desenvolve com o documentarista e marido, Estevão Ciavatta, o roteiro de um filme ambientado na Saara, tradicional reduto comercial do Rio. Não há previsão para o início das filmagens.’

Bruno Segadilha

Seriados requentados elevam ibope da Record

‘Segundo a máxima, na TV nada se cria, tudo se copia. Ou pelo menos se recicla. Com essa premissa, a Record tem apostado em séries já bastante exibidas para elevar sua audiência.

Esse é o caso de ‘Xena, a Princesa Guerreira’, seriado requentado que tem garantido à emissora a vice-liderança no final da tarde, posição antes ocupada pelo SBT.

Criada em 1995, a atração foi exibida pelo Universal Channel até 2002, quando o canal resolveu promover mudanças em sua grade. Apesar da boa audiência (‘Xena’ chegou a ser líder no horário na TV paga), o programa acabou sendo excluído da grade, segundo o canal, por não se adequar mais ao perfil que o Universal buscava -mais séries de investigação e menos fantasia, caso de ‘Xena’.

Além dessa, a Record tem conseguido bons resultados com ‘Lei e Ordem: Criminal Intent’, lançado em 2001, e ‘C.S.I.’, de 2000, seriados que também conquistaram prestígio na TV paga.

Desde que estreou na Record, em janeiro deste ano, ‘C.S.I’ (exibida originalmente pelo canal Sony) vem elevando a audiência do horário de exibição: saiu dos seis pontos do mês de janeiro para os atuais oito pontos de média. Outra cria do Sony, ‘Lei e Ordem: Criminal Intent’ também mostra performance razoável com seis pontos de média.

Hélio Vargas, diretor artístico e de programação da Record, acredita que as mudanças de horário visando o público específico de cada faixa explicam o bom desempenho.

Confusão nos horários

Se por um lado as séries têm agradado ao público, elevando a audiência, por outro as alterações de horário são a maior fonte de irritação para os fãs, que reclamam da irregularidade dos horários.

‘Se você quer deixar gravando, fica difícil. Os episódios vão ao ar geralmente 15 minutos mais tarde’, reclama o professor Eduardo Ramalho, 33, fã de ‘Lei e Ordem’ e ‘C.S.I.’. O estudante Jeferson Tornisielo, 18, concorda. ‘Os fãs sofrem com isso, não conseguem acompanhar a história’, diz. ‘A grade é inconstante, os horários são confusos’, diz a arquiteta Juliana Gomes, 28.

Por conta da disputa pela audiência, a direção da Record admite que é preciso fazer ajustes nos horários.’



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O Estado de S. Paulo – 2

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