Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo


 


 


 


‘O presidente Lula adotou um discurso semelhante ao dos livros de auto-ajuda. Falando a rádios que atingem as camadas de baixa renda, Lula recorreu muito a Deus e à família. No final, defendeu longamente o otimismo. ‘Uma coisa que nós aprendemos a fazer é que a vida humana é tão bonita e tão curta que não há tempo para a gente ser pessimista.’


Disse que, ‘no dia em que o Brasil todo acordar pensando de forma positiva, a força que essa energia vai passar será tão grande que esse país poderá, definitivamente, se transformar em uma grande potência’.


Deu conselhos: ‘Não há razão para um casal brigar porque não tem nada pior na vida do que você sair para trabalhar brigado com a esposa, ou a esposa brigada com o marido. É um dia infernal’. E ouviu de tudo um pouco na entrevista.


De Paulo Barbosa escutou uma pergunta sobre o que pediria ‘a papai do céu’: pediu ‘saúde’ para ele e para o povo. Gil Gomes perguntou se, nas noites ruins, ele ‘sonha com Marcos Valério ou com Delúbio Soares’: ‘Eu não tenho pesadelo’. Ao final do programa, Lula ainda ganhou a gravata de Barbosa, após elogiá-la durante toda a entrevista.’



O Globo


‘‘Mensalão virou refrão de música de carnaval’’, copyright O Globo, 25/11/05


‘Na entrevista a quatro emissoras de rádio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a Ronaldinho Gaúcho. Disse que mexer em Palocci seria como tirar o craque do Barcelona. Disse ainda que o país vive um momento ‘de intranqüilidade política’ e repetiu que o mensalão não foi provado. Irônico, disse que mensalão virou ‘refrão de música de carnaval’.


Lula chamou de ‘acidente de percurso’ a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002, e afirmou estar certo se tratar de crime comum. Ao falar das eleições de 2006, disse que seus adversários é que precisam assumir agora se são candidatos. Sobre a pesquisa que apontou queda de sua popularidade, disse que ninguém resiste a um bombardeio.


Os principais pontos da entrevista dada às rádios Globo e Super Rádio Tupi, do Rio, Capital e Tupi de São Paulo:


PALOCCI:Por que eu iria mexer no Palocci? Mexer no Palocci é a mesma coisa que pedir para o Barcelona tirar o Ronaldinho. Deixa ele jogando, ele está bem. De vez em quando, o Ronaldinho perde um gol, de vez em quando o Palocci pode dizer alguma coisa que alguém não goste, mas isso faz parte da vida. No geral, as coisas estão indo muito bem. Palocci continua no governo, é uma figura extremamente importante neste momento político e econômico. E ele foi convidado por mim, continuará por mim e será o meu ministro da Fazenda. Isso não tem discussão, não tem especulação.


PALOCCI/DILMA:Veja, não é que a Dilma dá cacetada. Não posso cercear as pessoas de terem divergências. De vez em quando fico chateado (…) Gostaria que eles debatessem entre eles e só fosse para a imprensa o resultado final, que é isso que interessa ao povo. Você pode querer um pouco mais ou um pouco menos, mas há 20 anos a gente não tinha a tranqüilidade na economia que temos hoje.


MENSALÃO/CARNAVAL:Estamos vivendo um momento excepcional, eu diria, do ponto de vista da intranqüilidade na política brasileira. Porque se colocou na cabeça do povo brasileiro que tinha mensalão, que tinha mensalão, que tinha mensalão. Isso virou refrão de música de carnaval, está no inconsciente da sociedade brasileira. E agora a CPI terminou o trabalho sem provar se houve mensalão.


MENSALÃO/ELEIÇÕES:No Brasil, muitas das coisas que estão acontecendo é porque já começaram as eleições. Então, as pessoas, antes de provarem, fazem um carnaval (…), depois não provam nada (…) Quero prestar contas à sociedade brasileira de cada coisa que acontecer. A única coisa que não posso admitir é que mentiras prevaleçam sobre a verdade. Sou daqueles que querem apurar a verdade, doa a quem doer. Mas não posso enforcar para depois julgar.


CELSO DANIEL e MINISTÉRIO PÚBLICO:Tenho a convicção de que a morte do Celso Daniel foi um acidente de percurso. Foi um crime comum. Não acredito em crime político, em hipótese alguma. Acho que o assaltaram, seqüestraram, depois perceberam, como se diz na gíria policial, ‘o tamanho do peixe’ e resolveram matar de forma irresponsável e por medo. Lamentavelmente, uma parte do Ministério Público de São Paulo, toda vez que vai chegando a eleição, levanta esse caso. É preciso ter mais seriedade. Que investiguem o quanto quiserem. Se amanhã descobrir que não foi crime comum, todos nós vamos mudar a nossa versão, mas o que tenho agora é o resultado final do trabalho da Polícia Civil e da Polícia Federal. O resto é insinuação.


REELEIÇÃO:Cometi um erro aquele dia.Não tinha entendido que tinha falado que era candidato. Não tenho que decidir agora. Quem tem são os meus adversários, que estão dando trombada aí, xingando e ficando nervosos. No momento certo, vou dizer ‘sou ou não sou’. Isso não mexe com a minha cabeça, não durmo e acordo pensando nisso.


POPULARIDADE/IMPRENSA:Houve uma pesquisa que eu ainda não vi, e o presidente caiu um pouco mais. Mas que presidente resistiria ao bombardeio que estou sofrendo desde junho? Estou dizendo isso para mostrar que houve momentos, nestes últimos tempos, em que notícia boa não era publicada. Há predominância, eu não sei por que, de vender coisas negativas.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Números piores’, copyright Folha de S. Paulo, 25/11/05


‘O país acordou ontem para os ‘números piores’ com a manchete do ‘Valor’:


– Economia desaquece e PIB deve crescer menos de 3%.


Entre os piores, ‘o péssimo desempenho da indústria’. E as razões são as duas de sempre, mais uma terceira:


– Juros reais de 13%, câmbio valorizado e a crise política são apontados como responsáveis pela forte desaceleração.


O ‘Bom Dia Brasil’ foi atrás, ecoando que ‘economia dá sinal de desaquecimento e deverá crescer menos que o previsto’, mas só culpou juros.


O susto resultou em longos despachos das agências voltadas à economia, como AFX.


A Bloomberg, em seu texto, partiu do desaquecimento no emprego e nas importações para sintetizar, na voz de um analista do Deutsche Bank:


– Os números estão vindo piores do que se previa.


O banco foi um dos que, no ‘Valor’, cortaram a previsão de crescimento em 2005.


A Reuters partiu do ‘tombo’ de 62% no superávit em conta corrente, mas foi pouco mais otimista sobre o futuro.


A agência Dow Jones, do ‘Wall Street Journal’, destacou a desaceleração do crescimento -e observou que ‘o provável desaquecimento é má notícia para o presidente Lula’.


Lula, em entrevistas a rádios populares de São Paulo e do Rio, seguia ontem no discurso de sempre -de que deseja ‘que o Brasil tenha 10, 15, 20 anos de crescimento contínuo’. Mas, não, ele ‘não precisa ser de 10%, pode ser de 4%’.


Curiosamente, o presidente comparou o ministro Antonio Palocci a Ronaldinho, para dizer que ‘de vez em quando perde um gol’. Ou melhor, ‘no geral, as coisas estão indo muito bem -e podem melhorar’.


A crise política é dada agora como uma das ‘responsáveis’ pelo desaquecimento.


Mas não para FHC. Em turnê pela Europa, ele deu entrevista ao espanhol ‘El País’, ontem, intitulada ‘Cardoso assegura que crise política não prejudica a economia do Brasil’.


Curiosamente, FHC ressaltou que, ‘pela primeira vez, existe um consenso quanto à política econômica’. E, como destacou o jornal, ‘o ex-presidente evitou criticar o seu sucessor’.


Mas o tucano não conseguiu evitar ao menos a ironia:


– Quem poderia imaginar que Lula fosse seguir, em geral, as linhas macroeconômicas do meu governo?


NÃO ATIRE A denúncia de que a Casa Branca queriam atacar a sede da Al Jazira levou a equipe do canal a protestar -e abrir um blog. O nome é Don’t Bomb Us, ou não nos bombardeie


A BANCADA


O site Congresso em Foco postou, com repercussão nos blogs, ‘a bancada dos donos de rádio e televisão’ -com os 49 deputados que, segundo pesquisa de um professor do núcleo de mídia e política UnB, seriam ‘concessionários diretos’ de radiodifusão. É uma lista ‘até agora inédita’. Segundo o site, o Ministério Público Federal ‘analisa representação’ contra todos.


O costume


Desde Ricardo Izar e Arthur Virgílio no ‘Jornal Nacional’ até José Thomaz Nonô e Jefferson Perez na rádio Jovem Pan, foi dia de ataques generalizados ao Supremo, ontem no Congresso -e nas manchetes dos canais de notícias, sites, telejornais.


Alexandre Garcia, no ‘Bom Dia Brasil’, apoiou:


– Dirceu está até quebrando o costume do Supremo de não se meter nas questões internas do Poder Legislativo.


O processo


Já Franklin Martins não avalia assim e citou uma parlamentar de oposição, na CBN:


– Denise Frossard, ex-juíza, estava impressionada com os discursos inflamados. Ela dizia, ‘o que o Supremo está dizendo é que a decisão é política, mas o processo é jurídico’. Ou seja, tem que respeitar os direitos constitucionais de defesa.


Inclusive de José Dirceu.


Opinião pública


Acrescentou Martins, para concluir o argumento:


– É importante lembrar que ficou comum bater às portas do Supremo. A oposição conquistou vitórias importantes no Supremo, por exemplo, que tinha que instalar a CPI dos Bingos. O Senado foi obrigado.


No entender dele, o problema é que ‘nem sempre a Câmara fez as coisas bem-feitas’ e ‘passou por cima de direitos para atender à opinião pública’.


Brinde


Como contraponto, o blog de Josias de Souza postou a nota ‘Dirceu brinda ao STF’.


Foi na noite de quarta, ‘enquanto a Câmara engasgava com o Supremo’, que Dirceu ‘festejou o empate que lhe rendeu uma sobrevida que pode se estender a vários meses’.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, FSP


‘Bahia’, copyright Folha de S. Paulo, 25/11/05


‘‘A Folha, provavelmente por equívoco ou talvez induzida por um falso colaborador, publicou, em título de seis colunas, a seguinte reportagem: ‘Aliados de ACM impedem apuração em estatal. CASO BAHIATURSA – Presidente da Assembléia engaveta CPI para investigar movimentação de R$ 101 milhões em conta não registrada’ (Brasil, 24/11). Como é possível depreender da própria reportagem, nada há que pudesse envolver o meu nome e justificar o referido título. O título não é verdadeiro, porque o presidente da Assembléia Legislativa é, de fato, do meu partido, porém não é ligado a mim. E o fato a que se refere a reportagem não ocorreu em meu governo, é matéria ligada ao ano de 2003, no governo do honrado doutor Paulo Souto. Quanto ao fato em si, procurei averiguá-lo, pois a denúncia é grave e, se confirmada, configuraria falta gravíssima. Solicitei informações ao Governo do Estado da Bahia. O governo me informou que os pagamentos feitos pela Bahiatursa são legais e registrados na contabilidade geral do Estado; os recursos recebidos e as despesas realizadas estão rigorosamente registrados em balanços e contabilidade; os contratos firmados, objeto da denúncia, são decorrentes de concorrência pública, e os aditamentos de prazos foram efetuados conforme reza a lei 8.666. E, ao contrário do que se afirma, não aconteceram os alegados depósitos. Fui informado, inclusive, de que, em 6 de setembro, explicações formais sobre o assunto forem enviadas ao Tribunal de Contas da Bahia. Ao tribunal e também à revista ‘Carta Capital’, que, não obstante, as vêm ignorando. Por essa razão, inclusive, fui informado de que o governo estadual moveu, em 4 de novembro, queixa crime contra os autores das reportagens naquela revista. Mesmo não envolvendo nenhuma gestão minha à frente do governo da Bahia, levei à tribuna do Senado Federal todos os esclarecimentos que recebi e que mostram que a notícia é falsa. O que há, de verdade, é a presença de um conselheiro do Tribunal de Contas que sempre se coloca contra o atual governo, por motivos que toda a Bahia, principalmente o Tribunal, não ignora.’ Antonio Carlos Magalhães, senador -PFL-BA (Brasília, DF)


‘Ônibus 174’


‘No seu debate com o prefeito Cesar Maia, o senhor João Moreira Salles fez referências ao filme ‘Ônibus 174’, que produzimos. Cometeu alguns erros que corrigimos abaixo. O senhor Salles escreveu: 1) ‘O prefeito não é um neófito; ele conhece documentários, já que foi produtor de um’. Os produtores de ‘Ônibus 174’ estão creditados no filme, e Cesar Maia não é um deles. É verdade que a Riofilme investiu no ‘Ônibus 174’, assim como investiu em vários filmes da VideoFilmes, empresa do senhor Salles. Todavia, até onde sabemos, o senhor Salles jamais se referiu aos prefeitos do Rio de Janeiro como produtores de seus filmes. No nosso caso, achou por bem fazê-lo. Aparentemente, para o senhor Salles, numa briga pública vale tudo, até mesmo deturpar o significado da palavra ‘produtor’ e induzir as pessoas a pensar que a equipe de ‘174’ trabalhou sob os desígnios do prefeito; 2) ‘Ônibus 174’ não teria sido realizado sem o firme apoio da Riofilme’. A nossa empresa nunca deixou de terminar um filme que começou. No caso de ‘174’, o apoio da Riofilme veio no meio da produção, e representou apenas 22% do orçamento. O filme teria sido realizado sem ele. Não sabemos porque o senhor Salles diz o contrário, uma vez que desconhece completamente a nossa produção. Vale lembrar, entretanto, que ele nos conhece pessoalmente e sabe muito bem que temos como terminar nossos filmes; 3) ‘Ônibus 174’ teve um público bem menor do que merecia. Não foi outra a razão: Cesar Maia exigiu que fosse lançado em outubro de 2002, durante o segundo turno das eleições’. Cesar Maia jamais exigiu que ‘Ônibus 174’ fosse lançado em outubro de 2002. O filme estava programado para ser lançado depois do festival do Rio, que ocorreu em setembro. Todavia, logo após o festival, a Secretaria de Cultura do Rio nos informou que não se sentia à vontade para lançar o filme porque ele continha uma longa entrevista com o professor Luis Eduardo Soares, desafeto político do prefeito. Na ocasião, informamos ao secretário de Cultura que não mudaríamos o filme. Para crédito da Riofilme, ele foi lançado assim mesmo -embora mal lançado, isso é verdade. E, para constar, ‘174’ não mostra uma única imagem do senhor Garotinho. Nos seus 150 minutos, o filme faz apenas quatro referências a ele, todas necessárias para contar a história de que trata. No afã de aparecer dando uma lição de moral ao prefeito, o senhor Salles mentiu e faltou com respeito a todos os cineastas que trabalharam em ‘Ônibus 174’.’ José Padilha e Marcos Prado, produtores de ‘Ônibus 174’ (Rio de Janeiro, RJ)’