Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

DILMA
Folha de S. Paulo

Autenticidade de ficha de Dilma não é provada

‘A Folha cometeu dois erros na edição do dia 5 de abril, ao publicar a reprodução de uma ficha criminal relatando a participação da hoje ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no planejamento ou na execução de ações armadas contra a ditadura militar (1964-85).

O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha era o ‘arquivo [do] Dops’. Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada -bem como não pode ser descartada.

A ficha datilografada em papel em tom amarelo foi publicada na íntegra na página A10 e em parte na Primeira Página, acompanhada de texto intitulado ‘Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto’.

Internamente, foi editada junto com entrevista da ministra sobre sua militância na juventude. Sob a imagem, uma legenda ressaltou a incorreção dos crimes relacionados: ‘Ficha de Dilma após ser presa com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu’.

O foco da reportagem não era a ficha, mas o plano de sequestro em 1969 do então ministro Delfim Netto (Fazenda) pela organização guerrilheira à qual a ministra pertencia, a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Ela afirma que desconhecia o plano.

Em carta enviada ao ombudsman da Folha anteontem, Dilma escreve: ‘Apesar da minha negativa durante a entrevista telefônica de 30 de março (…) a matéria publicada tinha como título de capa ‘Grupo de Dilma planejou sequestro do Delfim’. O título, que não levou em consideração a minha veemente negativa, tem características de ‘factóide’, uma vez que o fato, que teria se dado há 40 anos, simplesmente não ocorreu. Tal procedimento não parece ser o padrão da Folha.’

A reportagem da Folha se baseou em entrevista gravada de Antonio Roberto Espinosa, ex-dirigente da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e da VAR-Palmares, que assumiu ter coordenado o plano do sequestro do ex-ministro e dito que a direção da organização tinha conhecimento dele.

Três dias depois da publicação da reportagem, Dilma telefonou à Folha pedindo detalhes da ficha. Dizia desconfiar de que os arquivos oficiais da ditadura poderiam estar sendo manipulados ou falsificados.

O jornal imediatamente destacou repórteres para esclarecer o caso. A reportagem voltou ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, que guarda os documentos do Dops. O acervo, porém, foi fechado para consulta porque a Casa Civil havia encomendado uma varredura nas pastas. A Folha só teve acesso de novo aos papéis cinco dias depois.

No dia 17, a ministra afirmou à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, que a ficha é uma ‘manipulação recente’.

Na carta que enviou ao ombudsman, Dilma escreveu: ‘Solicitei formalmente os documentos sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo que dizem respeito a minha pessoa e, em especial, cópia da referida ficha. Na pesquisa, não foi encontrada qualquer ficha com o rol de ações como a publicada na edição de 5.abr.2009. Cabe destacar que os assaltos e ações armadas que constam da ficha veiculada pela Folha de S. Paulo foram de responsabilidade de organizações revolucionárias nas quais não militei. Além disso, elas ocorreram em São Paulo em datas em que eu morava em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro. Ressalte-se que todas essas ações foram objeto de processos judiciais nos quais não fui indiciada e, portanto, não sofri qualquer condenação. Repito, sequer fui interrogada, sob tortura ou não, sobre aqueles fatos.’

A ministra escreveu ainda: ‘O mais grave é que o jornal Folha de S.Paulo estampou na página A10, acompanhando o texto da reportagem, uma ficha policial falsa sobre mim. Essa falsificação circula pelo menos desde 30 de novembro do ano passado na internet, postada no site www.ternuma.com.br (‘terrorismo nunca mais’), atribuindo-me diversas ações que não cometi e pelas quais nunca respondi, nem nos constantes interrogatórios, nem nas sessões de tortura a que fui submetida quando fui presa pela ditadura. Registre-se também que nunca fui denunciada ou processada pelos atos mencionados na ficha falsa.’

Fontes

Dilma integrou organizações de oposição aos governos militares, entre as quais a VAR-Palmares, um dos principais grupos da luta armada. A ministra não participou, no entanto, das ações descritas na ficha. ‘Nunca fiz uma ação armada’, disse na entrevista à Folha de 5 de abril. Devido à militância, foi presa e torturada.

Na apuração da reportagem do dia 5, o jornal obteve centenas de documentos com fontes diversas: Superior Tribunal Militar, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Arquivo Público Mineiro, ex-militantes da luta armada e ex-funcionários de órgãos de segurança que combateram a guerrilha.

Ao classificar a origem de cada documento, o jornal cometeu um erro técnico: incluiu a reprodução digital da ficha em papel amarelo em uma pasta de nome ‘Arquivo de SP’, quando era originária de e-mail enviado à repórter por uma fonte.

No arquivo paulista está o acervo do antigo Dops, sigla que teve vários significados, dos quais o mais marcante foi Departamento de Ordem Política e Social. Na ditadura, era a polícia política estadual.

Entre as imagens reproduzidas pelo arquivo, a pedido da Folha, não estava a ficha. ‘Essa ficha não existe no acervo’, diz o coordenador do arquivo, Carlos de Almeida Prado Bacellar. ‘Nem essa ficha nem nenhuma outra ficha de outra pessoa com esse modelo. Esse modelo de ficha a gente não conhece.’

Pelo menos desde novembro a ficha está na internet, destacadamente em sites que se opõem à provável candidatura presidencial de Dilma.

O Grupo Inconfidência, de Minas Gerais, mantém no ar uma reprodução da ficha. A entidade reúne militares e civis que defendem o regime instaurado em 1964. Seu criador, o tenente-coronel reformado do Exército Carlos Claudio Miguez, afirma que a ficha ‘está circulando na internet há mais de ano’. Sobre a autenticidade, comentou: ‘Não posso garantir. Não fomos nós que a botamos na internet’.

Pesquisadores acadêmicos, opositores da ditadura e ex-agentes de segurança, se dividem. Há quem identifique indícios de fraude e quem aponte sinais de autenticidade da ficha. Apenas parte dos acervos dos velhos Dops está nos arquivos públicos. Muitos documentos foram desviados por funcionários e hoje constituem arquivos privados.’

 

ESTADOS UNIDOS
New York Times

Homem pega 6 anos por difundir TV do Hizbollah

‘Um paquistanês radicado em Nova York foi condenado anteontem a seis anos de prisão por supostamente prestar assistência a um grupo terrorista. Javed Iqbal, 45, é acusado de usar antenas de retransmissão no quintal de sua casa para propagar nos EUA as ondas da TV Al Manar, do grupo libanês Hizbollah -considerado terrorista pelos EUA. A defesa alegou que Iqbal não é um extremista, pois as antenas também retransmitiam TVs cristãs.’

 

SARNEY
Mônica Bergamo

Consumo interno

‘Sempre ponderado, José Sarney disparou a metralhadora contra o próprio legislativo numa entrevista à revista ‘Isto É’ que chega às bancas hoje.. Disse, entre outras coisas, que o nível do Congresso ‘caiu muito’ e que atingiu ‘um nível de desprestígio que jamais vi’, o que se reflete ‘também na qualidade dos recursos humanos e na qualidade dos próprios parlamentares’.’

 

TELEVISÃO
Sérgio Rizzo

Documentário expõe processo criativo de Eduardo Coutinho

‘O DVD duplo de ‘Edifício Master’ (2002), que traz comentários de Eduardo Coutinho e entrevistas de pré-seleção, já permitia que se vislumbrasse o processo de trabalho do cineasta, ainda mais exposto em ‘Coutinho.Doc – Apartamento 608’, de Beth Formaggini, que estreia hoje, às 21h, no programa ‘É Tudo Verdade’, do Canal Brasil.

O apartamento do título era o quartel-general da produção no Master, em Copacabana, com seus 12 andares de quitinetes e conjugados. Coutinho diz que buscava a ‘alma’ do edifício.

Trocava, assim, favelados -personagens de seus filmes anteriores, ‘Santo Forte’ e ‘Babilônia 2000’, ambos de 1999- pela classe média baixa. Trocava e, no início do trabalho, não gostava. Na favela, ‘você chega e é aquela coisa maravilhosa’ – os moradores falam sem subterfúgios. Em Copacabana, porém, ele cogitou, com base nas entrevistas preparatórias, a inviabilidade de fazer o documentário que queria.

‘Um troço brochante, sabe? Difícil. Não [se] pode fazer um filme medíocre sobre mediocridade’, explica para a equipe. ‘Queria que houvesse mais invenção, mais mentira.’ Seu desalento é tamanho que alguém da produção procura tranquilizá-lo: ‘Se você acha que não tem filme, para tudo’.

Houve filme, e ‘Apartamento 608’ ajuda a entender como, graças à presença de Formaggini em reuniões da equipe e, já iniciadas as filmagens, nas entrevistas com moradores que, agora, arrancavam de Coutinho expressões de satisfação.

‘Não sei se vai ter o filme que eu quero. Vai ter o filme que deu para fazer’, reavalia o cineasta à medida que ‘invenção’ e ‘mentira’ também começavam a aparecer. ‘Eu não gosto das pessoas em geral, não me interesso. Quero uma hora com elas, não a vida inteira.’

Atores

Conseguiu entre 25 e 30 dessas horas em torno do que é ‘crucial’ na vida dos moradores, e delas extraiu os 110 minutos de ‘Master’.. A certa altura, alguém da equipe propõe a ele que, da próxima vez, faça algo bem diferente. ‘Já pensou, você com atores?’, diz. ‘Eu adoraria’, responde Coutinho – que atenderia à sugestão em ‘Jogo de Cena’ (2007) e ‘Moscou’ (2009).

COUTINHO.DOC – APARTAMENTO 608

Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 14h

Onde: Canal Brasil

Classificação indicativa: não informada

Avaliação: bom’

 

Folha de S. Paulo

Almodóvar adapta ‘Mulheres à Beira…’

‘Segundo a revista ‘Hollywood Reporter’, o diretor espanhol Pedro Almodóvar está adaptando seu filme ‘Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos’ (1988), que teve Carmen Maura e Antonio Banderas no elenco, para uma série de televisão na Fox americana. A roteirista Mimi Schmir, de ‘Grey’s Anatomy’, escreve com ele o piloto, que ainda não tem data para ir ao ar.’

 

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