Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

CONTEÚDO NA REDE
Luciana Coelho

UE vê saída para impasse entre sites e jornais

‘A incipiente negociação da Microsoft com a News Corp. é o primeiro passo para acabar com o dilema que opõe os jornais e outros produtores de conteúdo noticioso aos sites de busca e agregação de notícias (leia-se Google News), afirma a comissária da União Europeia para Sociedade de Informação e Mídia, Viviane Reding.

Para a responsável pela política de mídia do bloco, esta pode ser a resposta da pergunta mágica: como remunerar publishers e jornais sem restringir o acesso ao noticiário.

‘Uma das questões mais complexas da sociedade da informação pelo mundo é como garantir modelos de negócios bem-sucedidos para a mídia em uma época de mudanças tremendas na tecnologia e no comportamento dos consumidores’, declarou Reding em entrevista por e-mail à Folha.

Jornalista convertida em política, a luxemburguesa de 58 anos se debruçou sobre o tema nos últimos cinco anos, desde que assumiu a cadeira de mídia do órgão executivo da UE. Prestes a deixar o cargo no próximo mês, quando passará à pasta da Justiça, ela coloca como desafio à frente fechar um acordo sobre o que significa ‘busca’ e o que é ‘publicação’.

São essas as palavras usadas pelos lados envolvidos para definir os pequenos extratos de texto que aparecem nos sites agregadores.

Conforme a definição aplicada, pode-se argumentar que existe ou não violação de direitos autorais.

‘Os publishers merecem uma fatia maior do processo, na minha opinião, mas também precisam reconhecer que o público acha que o serviço de buscas é útil -é uma nova forma de agregação sob demanda’, afirma.

‘A melhor forma de avançar é negociar e chegar a um acordo que enriqueça ambos os lados, ao mesmo tempo em que se assegure que uma gama útil de serviços esteja disponível ao público’, diz ela.

Indenização

Veio à tona, semana passada, que a Microsoft de Bill Gates propôs pagar para indexar o conteúdo do conglomerado de mídia da News Corp. de Rupert Murdoch -’Wall Street Journal’ e ‘The Times’ inclusive- em seus sites de busca e agregação, dando força a seu novo motor de busca, o Bing.

O modelo, cujas especificações ainda não ficaram claras, seria uma forma de atender ao que Reding e outros especialistas em direitos autorais veem como as duas pernas sobre as quais se erguerá a futura legislação digital: a remuneração dos produtores de conteúdo (que têm tido pouco ou nenhum lucro com a reprodução contínua e não autorizada de seu material) e o acesso.

‘Isso marca uma nova fase no desenvolvimento das estratégias dos publishers, além das críticas aos mecanismos de busca’, afirmou. ‘Uma combinação exclusiva com um buscador, que envolva pagamento, é algo que vale explorar.’

Reding enumera uma série de paradoxos criada pelo modelo atual, defasado e amparado em uma legislação de copyright que precede o avanço voraz da tecnologia nos últimos anos. ‘É inegável que os mecanismos de busca, particularmente o Google News, trazem tráfego à versão on-line dos jornais. Alguns evocam um volume em torno de 12% da audiência total vindo de mecanismos de busca. Mas outros dados mostram que 80% dos usuários de internet estão satisfeitos com o sumário de duas linhas de cada notícia que aparece na página do buscador.’

Reproduções sem licença

Pesquisa lançada nesta semana nos EUA a pedido de um grupo de 1.500 empresas jornalísticas (o Fair Syndication Consortium, consórcio por uma distribuição justa) mostra que, em um mês, 112 mil cópias exatas (e 163 mil parciais) de textos de jornais foram reproduzidas sem licença na internet, uma média de 4,4 vezes para cada reportagem (que vai a 15 para grandes jornais).

‘Por ora’, diz Reding, ‘parece que empresas puramente on-line, como os mecanismos de busca, que usam conteúdo produzido por jornais e protegido por direitos autorais, têm colhido a maior parte das receitas de anúncios’.’

 

Defasagem na legislação agrava conflito sobre direitos autorais

‘Os questionamentos legais sobre a violação de direitos autorais por sites de busca e agregação de notícias têm duas raízes: a defasagem do tratado internacional sobre o tema e a desarmonia entre as legislações de copyright de cada país, sobretudo no quesito ‘exceções’.

‘Os Tratados de Internet da Wipo [Organização Mundial para Propriedade Intelectual], que são o padrão legal para direitos autorais no ambiente digital, são de 1998’, disse à Folha Victor Vázquez, conselheiro legal sênior da entidade. ‘Eles oferecem linhas gerais sobre as exceções. Decidir se um caso se encaixa em uma exceção cabe às leis nacionais.’

A União Europeia começa agora a reavaliar sua legislação -não há ainda sintonia entre os 27 países do bloco, afirma a comissária da União Europeia para o assunto, Viviane Reding. E o espelho, como foi com os livros, são os EUA.

Lá, diz Vázquez, a maioria dos casos em que as empresas levam o Google aos tribunais termina em acordo no qual a gigante da internet paga licença pelo uso de textos e imagens.

‘Para o Google, tais licenças são uma segurança’, diz, lembrando que o debate envolve a venda de espaço publicitário.

A indústria e as autoridades reguladoras pedem ação rápida. A Associação Mundial de Jornais, com o Conselho Europeu de Publishers, lançou em junho a ‘Declaração de Hamburgo’, para pedir leis que protejam o conteúdo dos textos jornalísticos. O documento foi endossado pela Folha e por outros jornais brasileiros.

Após a promessa de Rupert Murdoch de retirar o conteúdo de seus jornais do Google e cobrar por ele, o próprio Google anunciou um mecanismo que permitirá aos publishers cobrar pela leitura de seu material -depois de determinado número de cliques (o limite com que se trabalha é cinco).’

 

REDE SOCIAL
Mariana Barbosa

Vírus do Marketing

‘Depois do conceito da cauda longa, de Chris Anderson, que em 2004 disse que para lucrar na internet é preciso vender pequenos volumes para um grande número de clientes, hoje as empresas que mais atraem investidores incorporam outro princípio: o da viralidade.

Facebook, Twitter, Google, MySpace, eBay, PayPal são todas companhias virais que cresceram muito rapidamente graças ao ‘mouse a mouse’, versão on-line do boca a boca.

Todas oferecem aos usuários algum tipo de serviço de que eles gostam tanto que o divulgam entre os amigos -de graça. Não é preciso investir em força de vendas, marketing, nada disso. ‘Se tivesse 3 milhões, e não 300 milhões de usuários, o Facebook não valeria US$ 6,5 bilhões’, afirma o jornalista americano Adam Penenberg, autor de ‘Loop Viral: do Facebook ao Twitter, Como Crescem os Negócios Mais Bacanas da Internet’ (Hyperion, EUA).

Segundo Penenberg, ao incorporar o poder de propagação da internet ao próprio negócio -afinal, qual o sentido de ter um perfil no Facebook ou no Twitter se você não atrai amigos ou seguidores?- essas empresas garantem um crescimento exponencial. ‘O ‘loop viral’ é talvez o mais significativo acelerador de um negócio no Vale do Silício desde a invenção das ferramentas de busca.’

Muitas dessas companhias são vendidas antes mesmo de começar a dar retorno financeiro. Caso do YouTube, comprado pelo Google por US$ 1,65 bilhão. Ou do Skype, que custou US$ 2,6 bilhões ao eBay.

A grande questão hoje é como transformar audiência em receita. Nos EUA, banners publicitários não colam mais. Lá, só 1% dos internautas clicam nos banners, número que cai para 0,2% em redes sociais.

Há dois anos, o Facebook achou que estava revolucionando a publicidade com uma ferramenta que atualizava perfis automaticamente na medida em que a pessoa interagia com sites de parceiros. Foi processado por invasão de privacidade. ‘Há muita gente pesquisando formas de veicular publicidade em redes sociais’, diz Penenberg. ‘Há muito dinheiro em jogo.’

Mesmo sem gerar tanta receita para os donos das redes sociais, as marcas do mundo real já as invadiram. Seja inventando aplicativos ou criando perfis falsos, as empresas monitoram as redes sociais 24 horas por dia. ‘Se você quer falar com um jovem de 12 a 18 anos, não tem como não estar presente nas redes sociais’, diz Fernando Taralli, presidente da Energy, agência digital da Young & Rubicam.

Enquanto a maioria dos usuários ‘trabalha’ de graça passando adiante o vídeo de uma campanha divertida ou um aplicativo patrocinado, alguns até ganham com isso.

Quanto mais ativo o usuário -condição que pode ser medida pelo número de amigos ou seguidores-, mais ele se torna atraente para as empresas.

Esses usuários ativos, na maioria blogueiros, têm o poder de disseminar qualquer coisa em tempo recorde. Para isso, alguns ganham em receita publicitária. Outros recebem pequenos mimos. ‘Não há nada de errado nisso. O blogueiro precisa ser remunerado. Mas isso tem de ficar claro no post.’

Nos EUA, perfil falso e falta de transparência entre empresas e blogueiros dá cadeia. ‘Aqui no Brasil não há lei sobre isso, mas na agência seguimos a lei americana’, diz Taralli.

E nem sempre a investida dá certo. ‘Dependendo do blogueiro, se ele sentir que está sendo comprado para falar bem de alguma coisa que não gosta, ele vai e fala mal’, diz o presidente da agência digital Repense, Otávio Dias.

Em março, Marcelo Tas provocou polêmica ao firmar um contrato com a Telefônica no qual ele tinha o compromisso de postar no Twitter 20 vezes por mês uma referência ao novo serviço de banda ultra larga da operadora.’

 

‘Regra é crescer o máximo e o mais rapidamente possível’, afirma autor

‘Recém lançado nos EUA, ‘Viral Loop’, de Adam Penenberg, deve chegar ao Brasil em março (ed. Elsevier). O autor é professor de jornalismo da University de Nova York e ex-editor sênior da revista ‘Forbes’. Ele concedeu a seguinte entrevista à Folha, por e-mail.

FOLHA – O que é um ‘loop de expansão viral’?

ADAM PENENBERG – É um circulo virtuoso que ocorre quando um grande número de pessoas passa adiante links, ideias, anúncios etc. e o negócio se propaga indefinidamente. Alguns dos negócios mais famosos da nossa era -Facebook, eBay, Google e Twitter- são virais. Todos criaram algo que os consumidores gostam tanto que divulgam entre os amigos. É possível criar um negócio do nada e alcançar uma valorização cósmica em tempo recorde. A regra é crescer o máximo e o mais rapidamente possível.

FOLHA – Dá para prever se algo vai ‘pegar’?

PENENBERG – É difícil, mas não impossível. Algumas coisas funcionam. Por exemplo, incluir celebridades em uma campanha. A audiência é quem decide o que é bom, mas, com alguma frequência, você sabe exatamente o que ela quer.

FOLHA – Muitas das grandes companhias virais ainda lutam para transformar uma grande ideia em receita. É uma questão de tempo?

PENENBERG – Absolutamente. O Twitter já assinou alguns acordos com Google e Microsoft e deverá receber por isso. Se tivesse 3 milhões de usuários, e não 300 milhões, o Facebook não estaria avaliado em US$ 6,5 bilhões. Tenho certeza de que quando chegar a meio bilhão de usuários [o Facebook] estará faturando bastante.

FOLHA – A exploração excessiva do marketing nas redes sociais não pode matar o negócio?

PENENBERG – Se as pessoas não gostam, não passam adiante. Nada que é ruim se transforma em viral. De certa forma, a viralidade é o ápice da democracia.

FOLHA – Se o Facebook começar a pagar para os usuários mais ativos, que ditam tendências, não há risco de perda de credibilidade?

PENENBERG – Como saber que eles estão sendo pagos? Isso existe há séculos. Em 1700, quando a Companhia Holandesa das Índias Orientais era a empresa mais poderosa do mundo, ela oferecia de graça roupas com tecidos sofisticados para as elites. Semanas depois, as vendas aumentavam. Confiamos nas opiniões das pessoas do nosso meio social, mais do que em comerciais.

FOLHA – O sr. bolou aplicativos no Facebook para viralizar e divulgar o seu livro. Deu certo?

PENENBERG – O aplicativo (http://apps.facebook.com/viralloop) é uma estratégia de marketing e também uma prova para a minha tese. Ele diz o quanto você vale, em dólar, para o Facebook. Quanto mais ativo você é na rede, maior o seu valor. Milhares de pessoas já baixaram o aplicativo. Foi incrivelmente viral, mas não absurdamente. Ainda. Estamos em negociação com empresas e ONGs para permitir que as pessoas convertam dólares virais em coisas reais. Quando acontecer, vai pegar.’

 

TELEVISÃO
Laura Mattos

Quero morrer sua amiga

‘Autor de ‘Tieta’, ‘Senhora do Destino’ e outros sucessos, Aguinaldo Silva vai destilar seu ‘suave veneno’ (outra de suas novelas) em ‘Cinquentinha’, minissérie de oito capítulos que estreia na Globo na terça.

Em um jogo de humor irônico e inovador, ele usou traços das personalidades das atrizes principais -justamente os prediletos das revistas de fofoca- para criar suas personagens. Marília Gabriela, 61, todo mundo sabe, na vida real é jornalista e namora homens bem mais jovens do que ela. Em ‘Cinquentinha’, ela será uma fotógrafa famosa e terá um caso com um amigo do neto.

Já Suzana Vieira, 67, interpreta uma diva da TV de temperamento difícil e vida amorosa conturbada. Haverá semelhança com seus chiliques públicos e o casamento com o policial que morreu de overdose de cocaína ao lado da amante? A Folha entrevistou pessoas que convivem ou conviveram com Aguinaldo Silva para perguntar que personagem ele seria, baseado em sua personalidade. O resultado segue abaixo.

Para a autora Ana Maria Moretzsohn, 62, parceira de Aguinaldo em uma minissérie e três novelas, entre elas ‘Tieta’ (1989/90), na ‘ficção’ o autor se chamaria José dos Santos, ‘um famoso escritor, autor e blogueiro’. ‘No trato, é adorável, mas saiam de perto se ele se enfezar. Dono de um vocabulário eficientíssimo e criador de neologismo espaventosos, vai chamar você de fifi [algo como fútil] e mequetrefe, entre outros nomes do gênero’, diz.

Aguinaldo, ops, José dos Santos, ‘adora artes e patrocina artistas duros, principalmente se forem bailarinos, profissão que, na próxima encarnação, certamente exercerá’. ‘Em um restaurante chique ou no supermercado, está sempre alinhadíssimo, com os cabelos brancos mais bem tratados do mundo.’ Para interpretá-lo, ‘escalaria Walmor Chagas ou Anthony Hopkins’.

Ricardo Linhares, 47, que escreveu seis novelas com Aguinaldo, como ‘A Indomada’ (1997) e ‘Porto dos Milagres’ (2001), constrói o personagem como alguém ‘inteligente, cínico, culto, de gostos refinados, bem-humorado, sempre com uma tirada espirituosa, muitas vezes mordaz, na ponta da língua’. ‘Por dentro, bate um generoso coração’, completa. Atriz-jornalista, Marília Gabriela lembra a passagem de Aguinaldo pelo jornalismo, no início da carreira, para ‘se vingar’ no jogo de ficção e realidade. ‘O personagem de Aguinaldo seria um jornalista fantástico e, por isso mesmo, maldito.

Ele já fez esse papel na imprensa. Hoje seria um jornalista muito seguro do que faz e, com isso, seria também um pouco arrogante. Um pouco de arrogância não faz mal a ninguém.’ Suzana Vieira, ‘diva’ de Aguinaldo, também ‘dá o troco’: ‘Seria um anarquista, livre, um autor que não está nem aí para as gravações, alguém que a gente ama ou odeia’.

Ataques

Passagem importante da biografia de Aguinaldo é lembrada pelo escritor João Silvério Trevisan, 65, com quem editou na década de 70 ‘O Lampião’, jornal de militância homossexual.

Os dois romperam relações com o fim da publicação, e Trevisan não é o único a dizer à Folha que Aguinaldo é daqueles de quem é melhor morrer amigo. ‘Como brigamos, em uma novela [‘O Outro’/87], ele deu meu nome a um personagem cafajeste [João Silvério, interpretado por Miguel Falabella].’

O blog de Aguinaldo, 65, é famoso pelos ataques a qualquer um que o incomode, jornalista, internauta e até artista. Outro dia, escreveu: ‘Deborah Secco, que fará o papel de Bruna Surfistinha, tem uma explicação bastante peculiar para a moça ter escolhido a profissão de, digamos assim, puta: ‘Ela tem um vazio de amor. Foi abandonada pela família biológica e não teve amor dos pais adotivos. Por isso entrou nessa vida’. Ah, Deborah, fala sério! Se toda menina que passou por esse tipo de problemas virasse puta, esta seria a profissão mais usual na população feminina mundial’.

A Folha tentou contato com Aguinaldo por duas semanas, via e-mail, telefone e assessoria de imprensa, sem resposta. Há dois anos, em entrevista sobre a novela ‘Duas Caras’, deu a seguinte declaração: ‘A gente vive muito da questão da boa educação, de aparências, nunca fala o que pensa para não ofender os outros. Quando fiz 64, decidi ser exatamente como sou. Falo o que tenho que falar, as pessoas ficam ofendidas porque sou sincero, direto, e nunca escondo o que eu penso. As pessoas idosas são deliciosamente verdadeiras.’

Colaborou CAIO BARRETTO BRISO , da Sucursal do Rio’

 

Caio Barretto Briso

‘Somos gostosas, livres e ativas. Só isso’, diz atriz

‘Suzana Vieira não gosta, mas a comparação entre ela e Lara Romero, sua personagem em ‘Cinquentinha’, é inevitável. ‘Se a Lara fosse baseada na minha vida, eu cobraria meus direitos autorais. As três personagens principais são maus-caracteres, estão lutando para ficar com a herança do ex-marido, eu não sou assim’, disse Suzana à Folha, com pouca gentileza, antes do lançamento da minissérie, no dia 30, no Rio.

E completou, à la Romero: ‘O que temos em comum é que somos gostosas, livres e ativas. Só isso’. Marília Gabriela, ao contrário, aceita com mais leveza as semelhanças com a personagem Mariana Santoro. ‘Além de gostarmos de homens mais jovens, Mariana não tem pudores, é dona de seu nariz, um bocado egoísta -mais do que eu-, boa profissional e bipolar. Também sou um pouco bipolar’, afirmou.

A dois dias da estreia de ‘Cinquentinha’, não há como negar: Aguinaldo Silva, coautor da minissérie ao lado de Maria Elisa Berredo, deu vida às protagonistas inspirado em características das próprias atrizes. Ele confirmou isso à Folha, no dia 3/11: ‘Sim, a arte imita a vida, que resulta em arte. As atrizes eventualmente se reconheceram nas personagens, e eu não teria a minissérie se elas não encarassem essa ‘semelhança’ com ótimo humor e extrema boa vontade’.

O jogo de Aguinaldo criou uma saia justa para Reynaldo Gianecchini. Após o coautor reconhecer que, na minissérie, ‘a arte imita a vida’, Gianecchini declinou do papel de Carlo Berganti, vilão homossexual. Para a atriz Betty Lago -que forma o trio de protagonistas com Marília Gabriela e Suzana Vieira-, encontrar semelhanças entre ela e Rejane Batista, sua personagem, foi mais difícil. Lago não estava no elenco original. O papel foi criado para Renata Sorrah, que desistiu.

Em seguida, foi escalada Marília Pêra. Novo abandono. Sobrou para Lago, que assumiu o papel pouco antes do início das gravações. Ou seja: Rejane está mais para Renata Sorrah do que para Betty Lago. Mas não é apenas na personalidade das atrizes que a ‘arte imita a vida’ na minissérie. O título, além de lembrar os 50% da gorda herança de Daniel Lopes de Carvalho (José Wilker) -motivo da disputa entre as três protagonistas, todas ex-mulheres do morto-, é, também, uma brincadeira com as idades das intérpretes e de suas personagens. Suzana Vieira, Marília Gabriela e Betty Lago já passaram, há algum tempo, dos cinquentinha.

CINQUENTINHA

Quando: a partir de 8/12; de terça a sexta, após o programa que segue ‘Viver a Vida’

Onde: TV Globo

Classificação: não informada’

 

Ana Paula Sousa

Kiko Goifman filma tribos urbanas

‘Kiko Goifman, o diretor que filmou a busca pela mãe de sangue no documentário ‘33’ e colocou fóbicos para enfrentar os próprios medos em ‘FilmeFobia’, acaba de aprender uma nova lição de cinema. ‘Hoje, é impossível mostrar o mundo dos jovens sem usar imagens feitas por eles próprios’, diz o cineasta, que, desde setembro, anda com a câmera colada a jovens de tribos incógnitas.

Ele seguiu gays evangélicos, investidores financeiros, jovens detetives, adeptos da era vitoriana, skatistas, stickers (que colam adesivos pelas ruas), palestinos e bolivianos. O resultado dessa busca por gostos, manias, etnias e hábitos que deslizam anônimos pelas ruas de São Paulo poderá ser visto a partir da sexta-feira.

‘São programas de TV, mas fiz como se fosse cinema’, define. ‘Também não acredito que um programa jovem tenha que ter ritmo de videoclipe. Depende do tema. Alguns são lentos.’

O que independe do tema é o jeito amistoso da câmera de Goifman, capaz de entrar em lugares e intimidades reveladores de uma geração que busca sua própria identidade das maneiras mais improváveis, mas sempre com a internet por perto. ‘Esses grupos são alimentados por duas coisas: pelas redes criadas na internet e pelo registro de tudo o que fazem.’ Graças a essa mania pelo registro, os programas trazem cenas únicas. Há desde a cerimônia do casamento gay, filmado em estilo familiar, até as manobras mais radicais de skatistas e uma tempestade no deserto, filmada por um jovem palestino refugiado no Brasil. ‘Conhecer a cidade pelo olhar de um skatista é andar pela rua de um jeito transgressor. Pra eles, um corrimão não é um simples corrimão, é um obstáculo a ser superado’, diz o diretor.

Outra característica que tende a unir os personagens da série é a radicalização da aparência. Há as transformações evidentes, a da body art ou a dos jovens que se fantasiam com roupas de personagens de histórias em quadrinhos e mangás. Mas não só. Radicalismo à parte, o figurino é item importante no reconhecimento do grupos ‘hiperreais’. ‘Para entrar na Gaviões da Fiel, por exemplo, você não pode vestir verde nem usar brinco’, conta o diretor. Já os steen-punks, que não tem nada de punks, mas adoram tecnologias a vapor (‘steen’, em inglês) e coisas do século 19, se vestem com um estilo vitoriano.

Goifman, que nunca havia trabalhado para a TV, está, a um só tempo, entusiasmado e assustado com a velocidade. ‘Tento não ser superficial, mas também tenho medo de dizer que fiz documentários’, diz. Seja lá o que for, ‘Hiperreal’ mostra um real que, andando pelas ruas, nossos olhos distraídos custam a ver.

HIPERREAL

Quando: a partir desta sexta, às 21h

Onde: Sesc TV

Classificação: não informada’

 

Sílvia Corrêa

A mutante da Record

‘Mudou tudo na vida de Bianca Rinaldi. Aos 34 anos, ela agora é mãe (de gêmeas), trocou São Paulo pelo Rio e não viverá -pela primeira vez- a moça boazinha da novela.

Bianca é a protagonista da nova trama da Record, ‘Ribeirão do Tempo’, que estreia em fevereiro. Será sua quinta novela na emissora e a quinta protagonista. Ela dá uma receita para lá de básica para tamanho prestígio interno: ‘humildade, amor e respeito pela profissão’.

Em ‘Ribeirão’, Bianca viverá Arminda, uma executiva internacional, fria e objetiva, que vai lutar contra sua paixão por Joca (Caio Junqueira), um guia turístico que fez um curso de detetive por correspondência. O papel passa longe das moças meigas que ela sempre compôs.

‘Arminda é exigente, autoritária, antipática’, descreve Bianca. ‘Mudei mais uma vez o visual porque isso me ajuda. Terninhos e maquiagem também. Mas o principal eu busco dentro de mim. A gente tem tudo lá dentro -o bom e o mau.’

Minissérie reconstrói Rio antigo com computador

No Rio de Dalva de Oliveira as ruas eram de paralelepípedo, não havia ar-condicionado nem antena de TV paga. É essa a cidade que a Globo está refazendo por computador para a minissérie ‘Dalva e Herivelto’.

A história se passa entre 1936 e 1972. ‘Muita gente que vai assistir à minissérie viveu nessa época. Temos um comprometimento histórico só comparável a ‘Maysa’ e ‘JK’, diz Paula Souto, 32, produtora de efeitos visuais. Paula e mais 13 pessoas são responsáveis por sumir com as interferências modernas da paisagem. Edifícios perdem andares, asfalto vira pedra, luminosos são apagados.

‘Cada segundo de cena tem 24 imagens para retocar. Trabalhamos muito, mas, no fundo, não queremos ser notados.’

A passagem do tempo também será sinalizada por cenas feitas em computação gráfica. Elas mostram a construção de cinco marcos da cidade -a av. Presidente Vargas, o Maracanã, o aterro do Flamengo, a segunda pista da av. Atlântica e a ponte Rio-Niterói-, que surgiram no período da minissérie.

REI COM CALCINHA

Fechada a lista de convidados de Roberto Carlos no show da Globo. Além de Daniel e Ana Carolina, ele cantará com o Calcinha Preta (do hit ‘você não vale nada, mas eu gosto de você…’) e com Dira Paes, que fez a personagem-tema da música em ‘Caminho das Índias’.

QUASE LÁ

Depois de ‘House’ chegar ao Brasil apenas 17 dias depois da exibição nos EUA, ‘Lost’ vai reduzir ainda mais a diferença. A última temporada começará nos EUA em 2 de fevereiro e, no Brasil, no dia 9, no AXN.

MULTIMÍDIA

Para quem não quiser baixar a série, o Terra TV (www.terratv.com.br) vai exibir de graça o episódio uma hora depois de ele ter terminado no canal pago brasileiro. Ficará uma semana disponível no site.

ELE É O CARA

Zina, o ex-guardador de carros contratado pelo ‘Pânico’, lidera a enquete dos internautas do UOL sobre a personalidade do ano. Tem quase a metade dos votos, batendo Michael Jackson e Barack Obama.

CULTURA MINEIRA

A Rede Minas voltará a exibir 17 programas da Cultura, que terá à disposição os mineiros ‘Mais Ação’ e ‘Dango Balango’. A parceria havia sido interrompida em junho, quando a rede se associou à TV Brasil.

40 ANOS DE GAZETA

O ‘Jornal da Gazeta’ inicia amanhã uma série de reportagens pelos 40 anos da emissora, em janeiro. No mês que vem, especiais contarão a história do canal, que foi o primeiro a mostrar um banheiro numa novela e transmitir a F-1 em cores.’

 

Bia Abramo

Imagens impressionantes

‘ARECORD prepara-se para exibir ‘Tropa de Elite’ na quinta-feira que vem. O filme foi um sucesso de público e despertou reações de todos os lados, boa parte por conta da maneira, digamos, crua de mostrar as ações de policiais de elite contra traficantes.

É mais um capítulo da guerra de audiência entre a Record e a Globo: na terça-feira, a emissora carioca terá estreado ‘Cinquentinha’, minissérie de Aguinaldo Silva, com atrizes chama-público, como Suzana Vieira e Marília Gabriela. A manobra é bem calculada: a série terá quatro capítulos e a exibição do longa de José Padilha coincide com o penúltimo.

Mas a exibição de um filme como ‘Tropa de Elite’ num meio como a televisão suscita algumas questões em torno da quantidade razoável de exibição de violência na TV. Ao contrário do cinema, onde o espectador escolhe o que vai ver e fica submetido à natureza das imagens por vontade própria, na TV não é bem isso que acontece. Ela está lá, no centro da casa, e as imagens podem, por assim, dizer, atingir o espectador desavisado.

Além disso, há um estranho paradoxo nas imagens impressionantes quando circulam na TV. Se a ambiência doméstica, a tela pequena, a pior definição da imagem amenizam o impacto, a proximidade dela na vida cotidiana do espectador naturaliza aquela experiência. Ou ainda, o fato de passar na TV, a janela para o mundo, banaliza, domestica, aquela imagem. Na sala de cinema, estamos fora do mundo e, portanto, num distanciamento que propõe algum tipo de reflexão; na experiência da TV, é o mundo que entra dentro de nós, o que dificulta esse distanciamento necessário.

Outra surra, outro pico de audiência em ‘Viver a Vida’. É batata: um tapinha teledramatúrgico pode até não doer na face do espectador, mas o mantém grudado diante da TV.

Na novela, entretanto, além da banalização da violência, há um outro elemento, um tantinho mais perverso. Como uma obra ‘aberta’, que responde à reação do público, a coisa vai num crescendo maluco: vocês gostaram do tapa (merecido) de Helena em Luciana?

Então, aqui vai mais uma: a negra Helena de joelhos recebe um tapa (merecido) da senhora branca Tereza. Não foi suficiente? Que tal a mãe, a mesma Tereza, dando cintadas (merecidas) na filha Isabel sem roupa, coberta apenas por uma toalha? O que vem a seguir?’

 

Tony Goes

Lombardi foi prisioneiro do mito

‘Certa vez alguns executivos do SBT tiveram uma ideia engraçada: propor à revista ‘Caras’ uma matéria com o Lombardi, mostrando em detalhes a casa e a família do locutor mais famoso do Brasil.

Só uma coisa ficaria de fora: o rosto do locutor. Boa-praça como sempre, Lombardi topou na hora. Mas o projeto não foi adiante, porque esbarrou no veto de Silvio Santos. O apresentador fazia questão absoluta de manter a aura de mistério em torno do dono da voz que se confundia com a própria identidade de sua emissora.

Nos últimos anos essa proibição foi se abrandando. Apesar de jamais aparecer no vídeo, a cara de Lombardi não era mais tabu. Bastava uma ‘googlada’ ou uma fuçada no YouTube e lá estava ele: um senhor de aparência comum, quase sempre de óculos escuros.

O locutor chegou a dar uma entrevista para um repórter da megarrival Globo na concentração da escola de samba Tradição, que em 2001 desfilou com um enredo em homenagem a Silvio Santos. Mesmo assim, o segredo continuava -ainda que em tom de brincadeira, com direito a comunidades no Orkut do tipo ‘Quem é o Lombardi?’.

Quase uma estrela

Ele era realmente único. Voz e nome conhecidíssimos do Oiapoque ao Chuí, imitadíssimo por profissionais e amadores, a escada perfeita para a exuberância de Sílvio. Desde a era de ouro do rádio, nunca ninguém ficou tão célebre sem ter um rosto conhecido pelo público. Qualquer canal de TV tem seus locutores oficiais, que dão voz a chamadas e aberturas de programas. Mas são todos sempre anônimos, e nenhum pode se considerar uma estrela.

Lombardi era quase uma estrela. Instantaneamente reconhecível como um símbolo do SBT, ele não recebia da emissora um tratamento à altura. Seu salário era uma fração do que recebem os grandes nomes da casa. O homem virou vítima do personagem: seu campo de trabalho era limitado, porque estava por demais associado a um canal de TV. Pela mesma razão, não recebia propostas para mudar de emprego. Foi ficando, ficando, ganhando pouco e sem maiores perspectivas, prisioneiro de um mito construído ao longo de 35 anos.

Dificilmente haverá outro Lombardi. Seu estilo empostado está fora de moda, e os próprios programas de auditório parecem caminhar para a extinção. Mas vai deixar saudade, porque faz parte da memória afetiva de várias gerações de brasileiros. Afinal, quantos locutores podem se gabar de estarem sempre associados a momentos de alegria?’

 

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