Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo / The New York Times

‘A apresentadora de TV e empresária americana Martha Stewart, 63, começou ontem a cumprir sua pena de cinco meses de cadeia nos EUA.

A famosa apresentadora que transformou uma empresa de bufês em um império da mídia nos EUA foi condenada em julho por mentir para investigadores federais sobre uma venda de ações suspeita.

Stewart terá que trabalhar na prisão da mesma forma que outras condenadas e não terá privilégios. O serviço pode ser varrer o chão, trabalhar na cozinha ou como encanadora. Ela ganhará de US$ 0,12 a US$ 0,40 por hora trabalhada.

Uma vez fora da cadeia, Stewart receberá um salário de US$ 900 mil ao ano, segundo contrato assinado com sua própria companhia, a Martha Stewart Living Omnimedia.’



JORNALISMO NA FRANÇA
Mario Sergio Conti

‘Derrapagens e gafes’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 10/10/04

‘Faz alguns anos que não acontece nada de substancial na França. O país funciona direitinho. A não ser quando não funciona, quando há o que nativos chamam de derrapagens. Algumas são vazias de significado. Outras, nem tanto. Umas têm conseqüência e outras são apenas assunto de jornais.

Desde que estou aqui, há pouco mais de dois anos, só houve uma derrapagem séria. A canícula do verão de 2003. Morreram mais de dez mil velhinhos em menos de um mês. Morreram não só porque fez um calor do cão. E sim porque estava todo mundo de férias: seus filhos, os enfermeiros e médicos que deveriam atendê-los, as autoridades sanitárias, o ministro da Saúde, o governo inteiro.

A canícula teve um significado. Ela mostrou o lugar dos velhos na sociedade francesa. Um lugar à margem. E mostrou como o corte de verbas, o desmonte do Estado, pode ter conseqüências dramáticas. Fez tanto calor na França quanto na Itália e na Espanha, mas só aqui houve tantas mortes.

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Outra derrapagem foi o caso Outreaux, nome de uma cidadezinha no norte, quase na fronteira com a Bélgica. Ali, houve um processo por pedofilia que envolveu dezenas de pessoas. Na aparência, uma rede de pedófilos seviciou uma porção de crianças. Os testemunhos das crianças eram impressionantes. O processo se arrastou por três anos até o julgamento. No centro do caso, havia uma senhora, mortificada, que reconheceu ter agredido os filhos e outras crianças. Seus filhos corroboraram o seu depoimento, que incriminava meia cidade: um motorista de táxi, um padeiro, um padre, uma balconista. Psiquiatras e psicólogos forenses confirmaram o testemunho das crianças. O procurador pediu e obteve a prisão preventiva de mais de uma dezena de membros da rede de pedófilos.

No julgamento, surgiu uma história bem diferente. A tal senhora era maluca. Seus filhos confirmaram as acusações dela porque dela dependiam. Psiquiatras e psicólogos sacralizaram o testemunho das crianças. E doze pessoas ficaram presas mais de três anos, perderam seus empregos e bens, foram vistos como monstros. E todos eram inocentes.

Houve uma enxurrada de artigos e comentários. Psicólogos analisaram o comportamento de seus colegas envolvidos no caso. Juristas contestaram o comportamento do procurador. O juiz foi questionado por seus pares. A própria imprensa criticou o seu desempenho no episódio – que foi o de buscar e magnificar o escândalo, sem nenhuma dúvida, sem perceber o óbvio: que crianças são manipuláveis e também mentem.

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Pouco depois, começaram a surgir pichações nazistas em cemitérios judeus (sobretudo) e muçulmanos (em menor número). Tremendo mal-estar. Ministros iam aos cemitérios para denunciar o racismo. O presidente Jacques Chirac disse duas vezes que os ataques seriam punidos com todo o rigor. Especulou-se sobre a autoria e as causas das depredações: o conflito na Palestina? a política da França em relação ao Iraque? a imigração?

Comparou-se o número de depredações dos anos anteriores com as de 2004 e concluiu-se que havia uma ‘onda’ anti-semita.

A onda se transformou num maremoto quando uma moça deu queixa numa delegacia. Num trem de subúrbio parisienses, contou, ela foi chutada e esfaqueada por um bando de adolescentes, negros e de origem árabe. Os meliantes derrubaram o seu bebê, que estava num carrinho. A ferocidade dos agressores aumentou quando constataram, ao ver um documento, que a moça, chamada Marie, morava num bairro com muitos judeus. Na verdade, ela morava no bairro mas não era judia. O mais impressionante foi o fato de dezenas de passageiros terem presenciado o ataque, e nenhum deles ter se mexido para ajudar a jovem.

A indignação tomou conta de políticos e jornalistas. A maioria dos comentaristas usou o caso para pintar uma sociedade de indiferentes, de anti-semitas passivos, na qual a solidariedade elementar era um valor morto. Um cronista do ‘Le Monde’ iniciou seu texto dizendo que, naquele dia, ‘Marie foi uma judia’. Apesar dos apelos da polícia e da imprensa, nenhuma testemunha se apresentou para corroborar o depoimento da moça. A sociedade tem medo, diziam os editoriais.

A única pessoa que não se deixou levar pelo surto foi o senhor onde compro jornais, com quem comentei as machetes. ‘Não sei, não’, disse ele. ‘Essa pressa em promover uma culpabilização social tem algo de esquisito. Ela diluiu responsabilidades. E a responsabildiade é do poder público, é ele quem deveria policiar direito os trens de subúrbio. Não é papel dos passageiros enfrentar um bando de jovens armados com facas.’

O caso desmoronou em menos de dois dias. As testemunhas não se apresentaram porque não houve agressão. Câmeras de vigilância constataram que Marie nem estava no trem na hora da suposta agressão. Descobriu-se que a moça já havia dado queixa anteriormente em casos inexistentes, inclusive uma tentativa de estupro. A mãe contou que Marie tinha um histórico de grandes mentiras. O caso foi medicalizado: Marie padecia de ‘mitomania’. Queria chamar a atenção.

O ‘Monde’ publicou um editorial exemplar. Pediu desculpas aos leitores pela sua cobertura, por ter acreditado na moça e nas autoridades policiais, por não ter investigado. Pediu desculpas também aos jovens de periferia, de origem africana e árabe, por ter reforçado o preconceito contra eles.

Fiquei sabendo então que o fiasco da história de Marie não era uma ‘derrapagem’. Era uma ‘gafe’.

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Dois meses depois, botaram fogo num centro judaico parisiense. Horas depois, lá estavam eles, na porta do centro: rabinos, imans, políticos, presidentes de associações de luta contra o racismo. Na televisão, entrevistas de jovens, contando que não usam mais a estrela de Davi em público por temerem hostilidades. Chirac protestou. E tome editoriais.

Uma semana depois, um senhor se apresentou à delegacia e disse que era o incendiário. Era um judeu, a quem o centro ajudava a pagar o aluguel. Como a ajuda foi cortada, resolveu vingar-se. Psiquiatras atestaram que o senhor sofria de distúrbios mentais. Como a gafe foi muito próxima da anterior, o mea culpa não foi tão generalizado. O ‘Monde’ não fez editorial de contrição.

Em contrapartida, houve uma chuva de análises: as gafes dizem algo sobre a sociedade francesa? Qual a verdadeira dimensão do anti-semitismo? Claro está que não se chegou a conclusão alguma. E logo se mudou de assunto. Agora se discute incessantemente nos jornais se a França deve referendar o projeto de Constituição européia e se a Turquia deve ser admitida na União. Note-se que o referendo da Constituição será feito no final de 2005. E o sobre a entrada da Turquia, em 2015. Em 2015!

Há duas conclusões, mais modestas, a tirar das derrapagens e gafes. Primeiro, não é por acaso que os jornais franceses perdem leitores. Segundo, o desinteresse popular pela política é obra dos próprios políticos.’



MÍDIA ARGENTINA
Pay-TV News

‘Na Argentina, governo age contra concentração de canais’, copyright Pay-Tv News, 7/10/04

‘A comissão nacional de defesa da concorrência da Argentina, ligada ao Ministério da Economia daquele país, determinou no dia 29 de setembro que os grupos Liberty Media e o grupo Hicks, Muse, Tate & Furst, que são sócios simultaneamente na produtora Torneos Y Competencias (TyC) e no Fox Sports, retirem-se, cada, um, de uma dessas empresas. A Liberty deverá se afastar da Fox Sports e o Hicks deverá deixar a TyC. A decisão impõem ainda a exigência de que o TyC e o Fox Sports suspendam acordos de não competição. Além disso, a TyC não poderá negociar o canal Fox Sports.

Brasil

No Brasil, os atos de concentração e processos adminsitrativos envolvendo canais esportivos estão parados na Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça. Há dois casos mais relevantes: a fusão entre Globosat e ESPN Brasil e o pedido de quebra de exclusividade do canal SporTV feito pela NeoTV. Ambos os casos estão praticamente concluídos. A SDE havia prometido enviá-los ao Cade no primeiro semestre, o que não aconteceu. Ainda não há explicações sobre o atraso.’