Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo/AP

‘O governo americano deu dinheiro a um importante jornalista para que ele promovesse a lei de educação de George W. Bush e desse espaço na mídia ao secretário da Educação, Rod Paige, segundo registros obtidos pela Associated Press.

Armstrong Williams, uma personalidade do rádio, da imprensa escrita e da TV dos EUA, recebeu US$ 240 mil do Departamento da Educação para promover o programa governamental No Child Left Behind (nenhuma criança deixada para trás).

O contrato exigia que a empresa de Williams, o Graham Williams Group, produzisse propagandas de rádio e de TV que promovessem a polêmica lei, contando com a presença de Paige.

Além disso, o acordo também previa que o secretário da Educação e outros funcionários do departamento aparecessem como convidados em programas apresentados por Williams.

Este, que é considerado um dos negros conservadores mais influentes dos EUA, também deveria, ainda de acordo com o contrato, tentar convencer outros jornalistas negros a dar oportunidade aos altos funcionários do governo para divulgar o programa No Child Left Behind.

A lei de educação, considerada um dos principais projetos da agenda doméstica do segundo mandato de Bush, tem como objetivo melhorar os resultados escolares de crianças que vivem em comunidades pobres ou minoritárias. Ele prevê a aplicação de sanções a escolas que não atingirem as metas estabelecidas.

Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, disse ontem que as decisões relacionadas ao caso foram tomadas pelo Departamento da Educação. Questionado sobre a possibilidade de a Casa Branca ter apoiado essas decisões, ele foi evasivo, afirmando que se tratava de uma questão da alçada do Departamento da Educação.

O departamento defendeu sua atitude e a classificou de ‘uso permitido de dinheiro dos contribuintes na forma de práticas legais de contratações feitas pelo governo’. O objetivo era ajudar os pais, particularmente em comunidades pobres e minoritárias, a entender os benefícios da lei, de acordo com o Departamento da Educação.

Três senadores democratas enviaram carta a Bush para exigir que o dinheiro pago a Williams fosse recuperado pelo governo. Segundo eles, ‘o ato de subornar jornalistas para que as notícias por eles veiculadas sejam favoráveis a políticas governamentais mina a integridade da democracia americana’.

O contrato cobria os anos de 2003 e de 2004. A informação foi veiculada em primeiro lugar pelo diário americano ‘USA Today’.

Williams reconheceu que as críticas às suas relações com o Departamento da Educação eram ‘legítimas’. ‘Trata-se de uma linha tênue. Embora eu não seja um repórter, mas um comentarista, creio que eu deva seguir os padrões de ética da imprensa. Meu julgamento não foi o melhor. Não faria isso novamente e aprendi a lição’, disse Williams à agência de notícias Associated Press.

Não foi a primeira vez em que o departamento foi alvo de críticas por conta de seus esforços de publicidade. O governo Bush já promovera o No Child Left Behind com um vídeo que parece ser uma notícia, mas não informa que ele foi pago com dinheiro público.’



60 MINUTES PUNIDO
O Estado de S. Paulo

‘CBS demite 4 por reportagem sobre Bush’, copyright O Estado de S. Paulo, 11/01/05

‘POLÊMICA: A rede CBS anunciou ontem a demissão de quatro funcionários envolvidos diretamente em uma reportagem na qual se questionava o serviço militar nos anos 70 do presidente americano, George W. Bush, com base em documentos que são falsos.

A CBS demitiu Mary Mapes, produtora da reportagem que foi exibida no programa 60 Minutes no dia 8 de setembro, Josh Howard, produtor-executivo do programa, a assistente dele, Mary Murphy, e uma vice-presidente do canal, Betsy West.

Dan Rather, famoso apresentador de TV que leu a matéria no ar, anunciou em novembro que deixará seu cargo em 9 de março, decisão que disse não ter relação com a polêmica reportagem.

A matéria sugeria que Bush não se submeteu aos exames médicos periódicos exigidos aos pilotos da Força Aérea enquanto cumpria seu serviço militar na Guarda Nacional Aérea do Texas, quando seu pai era senador.’



A FOX DE MURDOCH
O Globo

‘Murdoch compra o restante das ações da Fox’, copyright O Globo, 11/01/05

‘NOVA YORK. A News Corp., do magnata australiano da mídia Rupert Murdoch, comprará os 18% que ainda não detém de sua unidade Fox Entertainment Group, em uma troca de ações avaliada em cerca de US$ 5,86 bilhões. Para analistas, o negócio pode simplificar a estrutura do conglomerado gigante de comunicações.

O acordo dá à News Corp. total propriedade de seus ativos americanos de entretenimento, como os estúdios cinematográficos 20th Century Fox, a Fox Network, o Fox News Channel e a participação na empresa de TV por assinatura DirecTV, o que pode tornar mais fácil para Murdoch fazer novas aquisições.

— Ele possui uma moeda agora, tornou a vida mais fácil — avalia o gestor de fundos Mario Gabelli, da Gabelli Asset Management.

Prêmio por cada ação será de cerca de 7,4%

Os detentores de ações da Fox receberão 1,9 ação da News Corp., o que representa prêmio de cerca de 7,4% sobre o preço de fechamento dos papéis no pregão da última sexta-feira.

Ontem, na Bolsa de Nova York, as ações da Fox fecharam com valorização de 9,8%, a US$ 34,28, enquanto as da News Corp. perderam 2,08%, recuando para US$ 17,85.

A News Corp. tem atualmente cerca de 82% do capital total da Fox e 97% das ações com direito a voto da empresa.

A News Corp. ganhou maior expressividade no mercado americano depois que Murdoch mudou-se de Sidney para Nova York e listou as ações da companhia no índice Standard & Poor’s 500.’



ACESSO À INFORMAÇÃO
Filipe Rufino

‘Abertura de Arquivos Oficiais Britânicos Abre Perspectivas Aos ‘Media’’, copyright Público, 10/01/05

‘O multimilionário empresário dos ‘media’ Rupert Murdoch terá influenciado a votação de uma lei britânica de Julho de 2003 que lhe facilitará uma possível aquisição do Channel Five. A notícia, avançada na passada segunda-feira pelo diário ‘The Guardian’, é a primeira grande revelação possibilitada pela nova Lei de Liberdade de Informação, que entrou em vigor no primeiro dia do ano e facilita o acesso à informação pública.

Murdoch, dono de uma extenso império no sector ‘media’ internacional, possui, no Reino Unido, quatro jornais e os canais televisivos por satélite do grupo Sky. E sempre desmentiu estar interessado na aquisição do canal privado de sinal aberto, apesar das especulações em sentido contrário.

Documentos parcialmente divulgados pelo jornal britânico incluem minutas de reuniões entre ministros e ‘lobbistas’ a soldo do milionário e mostram como uma lei foi concebida em 2003 de modo a permitir que o empresário possa, ‘em teoria’, comprar o canal. O pacote legislativo que esteve na origem da revelação é composto pela Lei da Liberdade de Informação (FOI – Freedom of Information Act), aprovada em 2000, as Regulamentações sobre Informação Ambiental (EIR – Environmental Information Regulations), aprovadas em 2004 em resposta a uma directiva da Comissão Europeia, e as versões destes diplomas para a Escócia. O pacote inclui ainda emendas à Lei de Protecção de Dados de 1998, reservada exclusivamente aos cidadãos britânicos, que reforça o direito de acesso aos dados sobre o próprio que estejam no poder de organismos públicos.

‘A Lei da FOI não foi feita para dar acesso a notícias de última hora’, disse Maurice Frankel, director da campanha para a Liberdade de Informação, uma organização não governamental britânica independente do poder político. Referindo-se às mudanças que a legislação vem provocar na actividade jornalística, Frankel sublinha que a lei foi talhada de modo a facilitar o jornalismo de investigação.

O que está na posse de entidade pública… é público

Pela primeira vez, parte-se do princípio de que a informação na posse de uma entidade pública deve ser igualmente pública por definição. Assim, qualquer pessoa de qualquer nacionalidade residindo em qualquer país pode solicitar por escrito (carta, fax ou correio electrónico) informações que entenda estarem no poder desse órgão, não sendo necessário apresentar uma justificação para o pedido.

Se a socilitação for vaga, os funcionários estão obrigados por lei ‘a ajudar o requerente a formular o seu pedido com exactidão, em vez de simplesmente o rejeitarem’. No caso de o requerente estar a dirigir-se ao departamento errado, os funcionários estão obrigados a encaminhá-lo para o certo. A informação deve ser enviada ao requerente num prazo de vinte dias úteis e a um preço simbólico (custo das fotocópias e selos).

As autoridades só podem negar-se a divulgar toda ou parte da informação pedida ‘se o custo para a sua localização ultrapassar os 900 euros ou três dias e meio de trabalho’, ou se esta se incluir numa das 23 excepções previstas na lei. As áreas da diplomacia, segurança, defesa e determinados assuntos judiciais são ‘excepções absolutas’ em que continua a estar barrado o acesso aos documentos secretos por 30 anos ou mais. É o que acontece com os ‘dossiers’ sobre alegadas armas de destruição maciça no Iraque. Duas figuras jurídicas, o Comissário para a FOI e o Tribunal de FOI, foram criadas ao abrigo da lei, ambos com poderes para obrigar os órgãos públicos a colaborar, estando previstas sanções como multas ou mesmo pena de prisão. Em ‘casos esporádicos’, um ministro poderá vetar o acesso à informação, contra o parecer do Comissário para a FOI. É igualmente um crime a destruição de documentos que tenham sido solicitados pelo público.

No caso do lei da sobre protecção ambiental, o mecanismo é semelhante e abrange também empresas privadas quando contratadas por um órgão público, ou com ‘responsabilidades públicas em relação ao meio ambiente’. A nova legislação ‘deverá obrigar a maior honestidade na governação’, diz Maurice Frankel. ‘Será mais difícil para as autoridades dissimular prestações medíocres ou de disseminar desinformação sobre as suas actividades’, acrescenta.’



NYT & METRO BOSTON
Jacques Steinberg

‘New York Times entra na área de publicações gratuitas’, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 5/01/05

‘A New York Times Co. disse na segunda-feira à noite que havia concordado em comprar 49% do Metro Boston, um jornal diário gratuito destinado fundamentalmente a passageiros entre 20 e 30 anos. A Times Co. disse que pagaria US$ 16,1 milhões por sua parte no jornal, que é propriedade de uma unidade da Metro International. O Metro Boston é um dos cinco jornais diários gratuitos que a Metro International, que é sediada na Europa, publica na América do Norte.

Com o investimento, a Times Co. se torna a última empresa jornalística tradicional a se voltar para uma publicação gratuita para suplementar a circulação de suas ofertas pagas. O Washington Post Co. apresentou o Express, um jornal diário para passageiros, no verão de 2003. A Tribune Co. publica o RedEye, um jornal que é distribuído gratuitamente na maior parte de Chicago, e é o principal investidor em Nova York, com um jornal diário grátis que compete com a versão novaiorquina do Metro.

Em uma entrevista na segunda-feira, Janet L. Robinson, presidente e executiva-chefe do Times Co., aventou a possibilidade de usar o Metro Boston, que apresenta artigos pequenos em um tamanho tablóide, para atingir consumidores jovens que de outra forma não leriam um jornal. Ela também apontou a oportunidade de promover o jornal para anunciantes em pacotes que podem incluir outras holdings do Times Co. na área de Boston – o Boston Globe e o Worcester Telegram & Gazette.

Ao investir no Metro Boston – que alega ter uma média diária de circulação de 300 mil exemplares – a Times Co., como outras empresas de comunicação, está correndo o risco de afundar a circulação paga de de seus outros jornais. O Boston Globe tem uma média de circulação semanal de quase 452 mil exemplares.

Os executivos da Washington Post Co. disseram em maio que uma queda na circulação em seu principal jornal havia sido causada aparentemente, pelo menos em parte, pelos leitores roubados pelo Express, assim como pelo seu website. Robinson disse que não tinha preocupações com o Boston Globe. ‘Acho que há uma oportunidade para os dois coexistirem mutuamente e até se completarem’, disse.

Lisboa

A Metro International anunciou ontem o lançamento de um jornal para ser distribuído gratuitamente em Lisboa, incluindo o metrô da cidade. O objetivo da companhia é atingir ainda neste início de ano uma tiragem de 100 mil exemplares.’



TSUNAMI NA MÍDIA
Bruno Yutaka Saito

‘Catástrofes naturais reúnem fãs na TV’, copyright Folha de S. Paulo, 9/01/05

‘A televisão, os elefantes e a escola salvam. À medida que surgem mais sobreviventes do tsunami que atingiu o Sudeste Asiático há duas semanas, ‘milagre’ é um dos termos mais empregados para relatar histórias improváveis. Já são notórios, por exemplo, o caso das pessoas que foram alertadas por um elefante -que teria pressentido o maremoto-, ou então a garotinha que previu a catástrofe por ter aprendido na escola os sinais que antecedem um tsunami.

Menos divulgada, no entanto, é a história do turista que se salvou graças ao seu hábito de assistir a programas sobre catástrofes naturais no Discovery Channel. Segundo o jornal ‘Le Monde’, o turista fugiu assim que viu o recuo das ondas -em um documentário, ele aprendeu que o fenômeno precede um tsunami.

Se dependesse de canais como Discovery, National Geographic ou A&E Mundo, várias pessoas saberiam como reagir diante não apenas de um tsunami mas também de um furacão, um terremoto, deslizamentos e todos os tipos de desastres naturais possíveis.

‘O que aprendi vendo esses programas é: se a água da praia recuar, meu amigo… vaze!’, resume o advogado José Roberto Barbosa de Castro Filho, 34, que também é surfista. Ele é telespectador assíduo de programas do estilo no Discovery Channel, National Geographic e Animal Planet.

‘Qualquer pessoa deveria assistir a um desses programas no mínimo uma vez na vida, para sair do obscurantismo’, afirma o advogado-surfista. ‘Tenho certeza de que um número ainda maior de pessoas se salvaria se tivessem visto antes na TV. O programa sobre o tsunami, por exemplo, já foi reprisado umas mil vezes.’

Quem também crê no caráter educativo dessas atrações é a família Machado. Valdemiro Nogueira (pai) e João Guilherme (filho) costumam assistir juntos, diariamente, a documentários sobre catástrofes naturais. ‘Só faço uma pausa na hora da novela, porque já viu, né? Minha mulher quer ver a novela’, diz Valdemiro, 57, profissional autônomo na área de informática.

‘Quando vejo um programa sobre um tufão, por exemplo, aprendo que não estamos imunes à natureza’, explica. A TV acaba dando servindo de assunto para Valdomiro. ‘Às vezes, pego meu netinho de oito anos e fico explicando tudo para ele ou então converso sobre isso quando encontro amigos na rua.’

Há também aqueles que, além do caráter educativo, ficam fascinados pela ‘beleza’ das imagens impressionantes. ‘Confesso que é um pouco de sadismo’, afirma o professor de eletrônica Landisnei Salles, 30. ‘Não que eu goste de ver pessoas sofrendo, mas adoro ver um vulcão explodindo. Claro que é muito mais bonito ver na TV do que passar por isso.’

José Roberto, por exemplo, estava no México, em 1995, quando presenciou um terremoto. ‘Foi enquanto eu dormia. Mas foi tão leve que nem cheguei a acordar; pensei que eram amigos mexendo na minha cama.’

Fenômenos em um ‘zap’

O interesse por tais programas só aumentou depois do tsunami asiático. A Bandeirantes, que na última segunda-feira exibiu o jornalístico ‘Tsunami, a Onda da Morte’, teve picos de seis pontos segundo o Ibope, alta para o horário (23h30).

A mesma coisa aconteceu com a Record, que viu seu ‘Domingo Espetacular’ da semana passada, dedicado ao tema, atingir picos de 12 pontos.

A maior variedade de programas neste mês, no entanto, vai mesmo para o Discovery, com as séries ‘Clima Selvagem’, ‘Planeta Feroz’, ‘Terra de Extremos’ e ‘Zona de Perigo’.’



Eder Chiodetto

‘Onde está a imagem-símbolo da tragédia no oceano Índico?’, copyright Folha de S. Paulo, 9/01/05

‘O maremoto que assolou as costas do Índico não foi devidamente fotografado. Com isso a cobertura jornalística do cataclismo e o imaginário coletivo carecem de imagem-símbolo. No dia seguinte ao maremoto, essa carência de imagem se refletiu nas primeiras páginas dos jornais de todo o mundo. Apostaram em combinações de fotos que não traduziram a grandeza do fato.

O fator surpresa seguido do medo e do instinto de autopreservação privaram as pessoas que portavam câmeras de imagens de impacto no momento em que as ondas chegavam. Os repórteres fotográficos não conseguiram chegar a tempo de flagrar o episódio. Assim, só é possível ‘enxergar’ a real dimensão do tsunami pelo relato dos sobreviventes.

Imagens-síntese são aquelas que aliam informação clara e precisa a uma notória plasticidade. O exemplo máximo é a cena da explosão dos aviões nas torres do WTC. Os prisioneiros iraquianos nus em Abu Ghraib, os corpos ao lado do trem destroçado em Madri, o Concorde em chamas antes de cair sobre Paris.

Há fotos de impacto realizadas após a passagem do tsunami, entre as quais se destaca uma de Gurinder Osan, da Associated Press, na qual se vê o desespero dos pais diante do corpo do filho de 8 anos, na Índia. Mas essas fotos não se diferenciam muito das imagens de grandes enchentes que ocorrem com freqüência.

O mundo parece não se conformar em ver os jornais e a TV sem obter imagens que mostrem a causa, e não apenas os efeitos da tragédia. A angústia com essa ausência é tal que começaram a circular na internet imagens falsas do tsunami. As fotografias, ao que parece, são de uma ressaca do mar na China, em 2002.

Ao que consta, é mais fácil resignar-se com uma fatalidade do que com a ausência de uma imagem-síntese na memória.’