Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha explica “doação”
ao deputado Paulo Renato


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 24 de janeiro de 2007


JORNALISMO & HISTÓRIA
Mário Magalhães


Zózimo, Kissinger e o embaixador


‘RIO DE JANEIRO – No dia 28 de junho de 1974, o secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger telegrafou de Moscou para a embaixada americana em Bonn. Preocupava-se em conseguir um lugar na partida que Brasil e Holanda disputariam pela Copa cinco dias depois, na cidade alemã de Dortmund.


Com o presidente Richard Nixon nas últimas, Kissinger não queria perder a semifinal. Pediu informação sobre o tempo a percorrer entre o aeroporto e o estádio.


A mensagem integra o pacote de correspondência secreta da diplomacia norte-americana recém-liberado ao público. Como revelou o repórter Rubens Valente, um telex do embaixador John Crimmins recomenda que seu país não retalie o Brasil pela tortura a opositores.


Foi o mesmo Crimmins que, com base em dados do consulado no Rio, alertou Kissinger sobre a reação local ao que teria sido sua vibração pelos holandeses vitoriosos (2 a 0).


Contou que o colunista Zózimo Barroso do Amaral, do ‘Jornal do Brasil’, escreveu sobre os ‘maus modos’ do secretário, torcendo ‘ostensivamente’ ao lado do brasileiro João Havelange. Quando o novo capo da Fifa lhe deu uma camisa da seleção, Kissinger, ‘com ar de profundo desdém’, indagou: ‘O que acha que vou fazer com isso?’.


De Brasília, o embaixador avisou que diria a Zózimo que o chefe não torcera pela Laranja Mecânica. Não devia saber se isso era verdade.


Louco por futebol, Kissinger apoiara em 1973 o golpe que fizera do principal estádio do Chile um campo de concentração e sangue.


Ainda hoje, para conhecer a história do Brasil, é preciso recorrer a documentos dos Estados Unidos. Neles se descobre de tudo -até manifestações tão humanas como a de um dos três homens mais poderosos do planeta a cavar um convitezinho para o jogo.’


ELEIÇÕES 2006
Folha de S. Paulo


Folha pede ao TRE correção da prestação de conta de deputado


‘A Folha dará entrada hoje no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo a um pedido de retificação da prestação de contas da última campanha do deputado federal eleito Paulo Renato Souza (PSDB-SP).


Por equívoco, a campanha do deputado eleito registrou na relação de ‘doações’ entregue ao TRE um valor de R$ 42.354,30 em nome da Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha. O valor, contudo, corresponde à restituição de uma diferença de anúncios de publicidade paga a mais pela campanha do candidato.


Os anúncios foram veiculados nos dias 3, 17, 24 e 29 de setembro último. Custaram R$ 38.052,00, mas, por engano, foram cobrados R$ 80.406,30. O jornal havia usado no cálculo da cobrança dos anúncios uma tabela que não era a reservada à publicidade eleitoral.


Assim que o problema foi detectado, o dinheiro foi devolvido. A restituição está documentada em recibo assinado pelo coordenador financeiro da campanha, Sérgio Duarte Benatti.


A campanha do candidato declarou à Folha que inscreveu o estorno como ‘doação’ porque foi orientada a fazê-lo pelo tribunal.’


MÍDIA & RELIGIÃO
Vinícius Queiroz Galvão


Casal da Renascer tem futuro decidido hoje


‘O casal Estevam e Sonia Hernandes, fundadores e líderes da Igreja Renascer em Cristo, têm a primeira audiência com a Justiça federal americana hoje sem saber se o júri popular acatou ou não o pedido de indiciamento pelas acusações de contrabando de dinheiro e depoimento falso à polícia. No Brasil, o procedimento seria equivalente ao juiz aceitar ou não denúncia do Ministério Público.


Ontem, 25 jurados se reuniram para decidir, entre outros casos, abertura de processo criminal contra os Hernandes. Nos EUA, a Justiça Federal corre em sigilo, e a sessão do júri foi fechada. A juíza do caso, Andrea Simonton, fez a seguinte pergunta à bancada popular, após ouvir a versão do agente de imigração Edwin Santiago sobre a apreensão de US$ 56.467 não declarados à alfândega: ‘Há elementos que possibilitam a existência do crime?’


Previsto na Constituição dos EUA, o júri popular (‘grand jury’) é um mecanismo para tentar evitar abuso de poder da polícia e não processar cidadãos sem que haja provas materiais. Pesam contra os líderes da Renascer o formulário da Receita em que ambos declararam portar menos de US$ 10 mil e o dinheiro apreendido.


Mesmo que sejam inocentados na sessão preliminar do júri popular, o que é raro, segundo advogados e especialistas ouvidos pela Folha em Miami, os Hernandes têm de comparecer hoje à primeira audiência com a Justiça, prevista para as 10h (13h em Brasília).


Em encontro que deve durar de 5 a 10 minutos, a juíza Simonton deve ler a decisão do júri e definir um calendário do possível processo criminal.


Foto


A polícia do condado de Palm Beach, nas cercanias de Miami, divulgou em seu site na internet uma foto da bispa tirada no dia 16, quando ela foi transferida do Centro de Detenção Federal para um presídio feminino de West Palm Beach.


A publicação do ‘mugshot’, como são conhecidas as imagens dos registros dos detentos nos EUA, é procedimento padrão, segundo informou a direção da penitenciária. Sonia aparece sem maquiagem, aparentemente mais magra e em uniforme de presidiária.


A Folha teve acesso aos autos do processo contra os Hernandes. Nele, há um recibo do sinal de 5% da fiança de US$ 100 mil estipulada pela Justiça para liberação do casal. O valor foi pago por David Moraes, irmão de Sonia. Ele diz morar na cidade de Monroe, no Estado americano de Connecticut.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O fim de uma era?


‘Colunista do ‘Clarín’, Oscar Raúl Cardoso avaliou, desde a Argentina de Néstor Kirchner, que o pacote de Lula ‘tem pouca relação com a visão que imperou no primeiro mandato’. E até questionou, no título, se não é ‘o fim da era Palocci’:


– O projeto de investimento em infra-estrutura é uma espécie de choque neo-keynesiano que guarda distância assombrosa do esquema Palocci.


O também argentino ‘La Nación’ foi pela mesma linha, bem como o espanhol ‘El País’. O correspondente Eric Nepomuceno escreveu que, ‘em vez de impor duríssimo ajuste e assegurar taxas elevadas de superávit, como queria o demitido Palocci, a nova etapa pretende o contrário’.


Segundo texto de Cláudia Trevisan na Folha, que ecoou na blogosfera, ‘depois de sucessivos planos nos anos 80 e 90 e do processo de abertura, o PAC indica o investimento público e o Estado novamente como articuladores do crescimento’ e remete a programas de JK e do regime militar.


Daí a sombra de Delfim Netto, que ganhou apoio de Renan Calheiros e José Sarney para o BNDES, segundo o blog de Lauro Jardim. O ex-ministro escreveu ontem no ‘Valor’ que, para elevar ‘o crescimento a 5%, com nosso nível de renda e carga tributária, é preciso taxa de investimento superior a 25% do PIB’. Daí também um texto de Carlos Brickmann em seu site, ‘É o gordo de volta’:


– O principal do PAC é um fato que poucos notaram: marca o retorno triunfal de Delfim ao governo. O PAC é Delfim de ponta a ponta.


BRICS JÁ


Sob o título ‘As economias Brics têm que ajudar a formular a política mundial’, o criador do acrônimo e pesquisador-chefe na Goldman Sachs, Jim O