Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha publica editorial sobre censura ao Estado


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 2 de novembro de 2009


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Editorial – Folha de S. Paulo


Censura nunca mais


‘ABOLIDA formalmente pela Constituição de 1988, a censura prévia persiste no Brasil. Ainda que isolados, os casos se multiplicam, exigindo considerável dispêndio de esforços e de tempo até que, chegando às instâncias superiores do Judiciário -quando chegam-, desmandos evidentes sejam revogados.


Completaram-se na semana passada 90 dias de censura ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’, impedido de publicar notícias referentes a uma operação da PF envolvendo o filho do presidente do Senado, José Sarney.


Segundo a ANJ (Associação Nacional dos Jornais), outros casos de violência contra o direito da sociedade à informação se registraram recentemente.


O jornal ‘O Povo’, do Ceará, foi proibido por decisão judicial de noticiar o andamento de um processo sobre o jogo do bicho naquele Estado. Na Bahia, o jornal ‘A Tarde’ conheceu a censura prévia para quaisquer notícias a respeito de um desembargador, acusado de suposta venda de votos. Em Florianópolis, decidiu-se pela apreensão de um jornal (e a retirada de seu site na internet) por trazer acusações contra o prefeito da cidade. Nesta Folha, o colunista José Simão teve silenciados seus comentários humorísticos a respeito de uma atriz de telenovela.


A defesa da plena liberdade de expressão e do direito à informação não exclui, por certo, que jornalistas e órgãos de comunicação venham a ser responsabilizados pelos deslizes e abusos que cometam. Nos planos penal e civil, a sociedade conta com mecanismos capazes de coibir violações da honra e da privacidade dos cidadãos.


Todavia, parece ainda mal compreendida -mesmo em alguns meios jurídicos- a diferença entre censurar um órgão de comunicação e puni-lo pelo que publicou. A censura prévia é um prejulgamento: incide sobre o comportamento futuro de quem a sofre. Qualquer que seja o teor do que viria a ser publicado, suspende-se de pronto, e arbitrariamente, o direito básico de exprimir-se e de informar.


Desde que o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional, em sua totalidade, a Lei de Imprensa promulgada pela ditadura militar, inaugurou-se um período de incerteza jurídica. A censura prévia, inadmissível pela Constituição, tende a reaparecer em decisões judiciais de primeira ou segunda instância, sem que o princípio constitucional que a abomina possa ser invocado de imediato.


Felizmente, uma iniciativa no sentido de corrigir essa tendência parece a caminho. Ainda a ser publicado, o acórdão do Supremo acerca do fim da Lei de Imprensa deverá incluir uma condenação explícita à censura prévia, em qualquer circunstância.


A elucidação, em tese, não deveria ser necessária, uma vez que a Constituição afirma o princípio com todas as letras. Todavia, dado o impressionante histórico recente de incompreensões e de arbitrariedades em torno do tema, a atitude do STF não poderia ser mais oportuna.’


 


 


TELEVISÃO


Rodrigo Russo


SBT dobra audiência com enlatados norte-americanos


‘Com a exibição de séries consagradas nos EUA em seu horário nobre, estratégia iniciada no meio de setembro, o SBT dobrou a audiência que tinha das 21 h 15 às 22 h. Entre os dias 21 de julho e 11 de setembro, quando o horário era ocupado pelo jornal ‘SBT Brasil’, a média registrada pelo Ibope foi de 3,8 pontos.


A partir do dia 14, quando as séries ‘Harper’s Island – O Mistério da Ilha’ e ‘Sobrenatural’ passaram para o horário, a média -calculada até o dia 29 de outubro- atingiu 8 pontos.


A direção do SBT comemora os resultados obtidos pela mudança. Segundo a emissora, o ‘SBT Brasil’, que agora é apresentado por Carlos Nascimento e Karyn Bravo no horário das 19 h 30 às 20 h 15, também registrou crescimento de quase 40% em sua audiência: dos 3,8 que tinha, chegou a 5,3. Com o bom resultado, a estratégia deve continuar sendo aplicada nos próximos meses -embora estabilidade na grade não seja a marca registrada da emissora de Silvio Santos.


Como a primeira temporada de ‘Sobrenatural’ registrou média ligeiramente maior que a série antecessora, chegando a índices de 11 pontos nos capítulos finais e ao segundo lugar no horário de exibição, a partir de hoje o SBT continua com a segunda temporada da série.


Pelo Twitter, Daniele Beyruti, diretora geral da emissora, anunciou a seus seguidores que tenta a liberação de ‘The Vampire Diaries’, série sobre vampiros que estreou nos EUA em setembro, para o início de 2010.


FORÇOU


Tudo bem que Zina, do ‘Pânico na TV’, tenha ficado conhecido nos últimos tempos. Mas o ‘Fala que Eu te Escuto’, programa religioso veiculado na Record durante a madrugada de quinta para sexta-feira, que debateu a fama, colocou imagens de Zina seguidas por vídeos de Michael Jackson e Marylin Monroe.


CLIMA QUENTE


Durante conferência em Copenhague, na Dinamarca, para discussão de um novo acordo climático, de 7 a 18 de dezembro, a Globo News terá programação especial, com cobertura do evento em todos os telejornais. O clima também será pauta para reportagens especiais, que começam no dia 6.


TROCA DE IDEIAS


O autor de ‘Ribeirão do Tempo’, Marcílio Moraes, embarca para Atenas nesta semana.Lá, participará de conferência mundial de roteiristas de cinema e TV, que debaterá o tema dos direitos autorais e a predominância de diretores e produtores na autoria da sobras.


PARECE A VIZINHA


O canal adulto Sexy Hot, do grupo Playboy, adquiriu recentemente 140 produções pornográficas nacionais. Pesquisa feita pelo canal indica que o telespectador brasileiro quer ver na tela mulheres mais parecidas com suas vizinhas ou amigas para ‘potencializar suas fantasias sexuais’.’


 


 


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Programa sobre zonas de guerra filma em SP


‘Não é estranho que um programa com nome de ‘Zonas de Guerra’, que já gravou em locais ‘tranquilos’ como Irã, Iraque, Paquistão e Coreia do Norte, grave episódios na cidade de São Paulo?


‘Mudamos a proposta. Acho que já esgotamos os lugares mais perigosos do mundo. Então, para a terceira temporada, estamos mostrando dez grandes cidades de países em desenvolvimento’, conta Diego Buñuel, jornalista que apresenta o programa, cujas duas primeiras temporadas serão reapresentadas a partir de hoje pelo canal pago National Geographic.


‘Não gosto do rótulo ‘apresentador de TV’. Soa como algo muito falso para mim, que sempre fui jornalista’, diz Buñuel, neto do famoso cineasta Luis Buñuel. Por oito anos, ele foi correspondente de guerra para uma TV francesa, mas cansou do trabalho: ‘Basicamente, contava histórias da violência.


Acho que, além de excluir a graça que há nas vidas locais, isso reduz o mundo a estereótipos’. Outro problema que aponta é a banalização da violência: ‘Para quem está no primeiro mundo, confortável em sua casa, é excitante assistir a cenas de morte e destruição, mas acabamos igualando uma morte no Iraque à metereologia’.


Em São Paulo, Buñuel e seu câmera procuram histórias sobre pichadores, venda de carros blindados, tráfego aéreo e igrejas evangélicas. Ele diz que está fugindo dos clichês: ‘Quando pensamos em Brasil na Europa, logo vêm à cabeça três estereótipos: música, mulheres gostosas e o Rio de Janeiro. Quero evitar esse caminho’, conta.


E a vida de viajante internacional? ‘No começo, era muito difícil voltar para casa [em Paris], porque a conversa de meus amigos parecia tão entediante, superficial… mas depois entendi que a minha vida é que não é de verdade’, resume.


ZONAS DE GUERRA


Quando: segundas, às 20h, no National Geographic


Classificação indicativa: livre’


 


 


OBAMA


Luiz Felipe Pondé


A bolha


‘PROMETI PARA mim mesmo que não ia falar sobre o ridículo prêmio Nobel dado ao Obama, mas como não tenho palavra mesmo e como nunca cumpro promessas (principalmente feitas a mim mesmo, alguém que, afinal de contas, não merece todo esse deferimento moral), estou eu aqui capitulando e falando desse populista chamado Obama.


Quando foi eleito, escrevi nesta coluna que ele era uma bolha que provavelmente não ia dar em nada. Posso estar enganado, como quase sempre estou (sou um péssimo profeta), mas, até agora, responda-me, caro leitor, a que veio ele? Deveria sim se candidatar a secretário-geral da Unicef e ficar visitando crianças famintas na África. Seus dias estarão contados quando os americanos descobrirem que seu verdadeiro sonho é ser o primeiro presidente negro da Noruega.


Recém-chegado de Israel, local marcado pela necessidade de paz, lá tive a oportunidade de acompanhar um pouco o que a mídia local sente diante desse ridículo Nobel da Paz dado a alguém que nada fez além de blablablá até agora. Obama só conseguiu fazer discursos por aí, deixando todo mundo com gosto de coito interrompido na boca.


No Egito, ele falou de como a cultura muçulmana foi importante para o mundo. Será que os egípcios nunca estudaram a Espanha medieval? Iraque e Afeganistão estão piorando nos últimos meses. Sua incapacidade em resolver o problema do Irã se assemelha à incompetência de Jimmy Carter no caso da captura da embaixada americana em Teerã. E olha que o Carter fez Camp David (acordo de paz entre Israel e Egito)! Coreia do Norte vai mal, obrigado. O que mudou de Bush pra cá? Os aeroportos americanos estão mais dóceis com os turistas?


Na minha humilde opinião de não especialista em paz mundial (entendo um pouco melhor sobre a guerra, porque a julgo um estado mais natural da condição humana), arriscaria dizer que os líderes da oposição iraniana mereciam mais esse prêmio, ou mesmo nosso querido Lula nos seus esforços de evitar males maiores causados pelo bobo venezuelano El Chavez e seus anões bolivarianos.


Ou quem sabe Tony Blair e Bush, no sucesso em evitar mais ataques terroristas no Ocidente. Ou então declarassem que ninguém merecia o prêmio Nobel da Paz este ano e ‘acumulassem’ (assim como na Mega Sena) dois prêmios para o ano que vem. Quem sabe alguma tragédia inesperada os iluminaria na futura escolha.


O problema é que qualquer decisão tomada na Escandinávia sobre a dureza do mundo parece aconselhamento sexual dado por virgens que detestam sexo para prostitutas, essas nossas parceiras ancestrais. Que Deus as proteja. Quantas vidas solitárias elas já não salvaram?


O grande feito de Obama até agora foi criar uma imagem de si mesmo como a pessoa mais legal do mundo. Além de salvar o mundo em todo café da manhã, aposto que manda flores pra Michelle todo dia.


A impressão que tenho é que ele, antes de falar qualquer coisa, faz uma pesquisa sobre o que as pessoas que vivem de bolhas de esperança querem ouvir. Uma hora dessas vai declarar obrigatório a adoção de cachorros vira-latas pela comunidade internacional.


Sua realização até agora tem sido cultivar sua própria imagem. Algum assessor deveria avisá-lo que a campanha acabou e agora é a hora de acordar cedo e fazer a roda de rato girar, como todo desgraçado que trabalha e não só faz campanha.


Mas o fim da picada mesmo foi a perseguição à mídia e à Fox News. Coitadinho do Obama, a mídia está falando mal dele e tirando seu sono de Messias.


Veja, caro leitor, você se lembra (mesmo que não alimente qualquer simpatia pelo Bush) como a mídia detonou o Bush em seus últimos anos de Casa Branca? Até a Rádio Internacional da República da Banana fez um dossiê de como Bush foi o pior governante depois de Hitler.


Acho que mesmo sua mãe deve ter lamentado tê-lo dado de mamar. Alguém se lembra dele ter declarado a mídia ‘persona non grata’ e buscado soluções tipicamente populistas, como se apresentar como vitima de complôs? E mais: não é só a mídia, mas os empresários também estão atrapalhando sua missão de salvar o mundo.


Você percebe a semelhança com El Chavez na sua atitude para com a Fox News? Claro que ele não pode mandar fechar a emissora como Chavez faz, mas pode difamá-la, tática comum em autoritários fingidos. Sua sorte é que ele é negro (afro-americano para os mais sensíveis), porque, se não fosse, já teria dançado. Como toda bolha, está vivendo de crédito.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 2 de novembro de 2009


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Moacir Assunção


‘A liberdade de opinião foi ferida de morte’


‘O advogado Wadih Damous, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Rio de Janeiro, considera ‘muito preocupante’ que o Poder Judiciário – cuja função institucional é exatamente defender o Estado Democrático de Direito – patrocine a censura de um órgão de imprensa da importância do Estado. Para ele, que dirige uma das mais atuantes seções da OAB no País, a decretação da mordaça pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) atingiu em cheio a democracia brasileira. ‘Com a censura, a liberdade de opinião, um dos principais preceitos democráticos, foi ferida de morte.’


Em sua avaliação, a decisão do tribunal, por meio do desembargador Dácio Vieira, que proibiu em 31 de julho o Estado de publicar reportagens sobre o filho do presidente do Senado, José Sarney, o empresário Fernando Sarney – indiciado pela Polícia Federal por vários crimes – encerra vários enganos. ‘O ato foi completamente equivocado e deve ser criticado a qualquer tempo’, afirmou o presidente da OAB-RJ.


LEGISLAÇÃO


O especialista considera surpreendente o fato de o Judiciário ser, por meio do TJ-DF, o autor da mordaça. ‘A possibilidade, ainda que remota, de ser cometido algum abuso por meio da divulgação das informações não pode ser usada como argumento para impor a censura prévia’, ressaltou. Damous lembrou que a legislação prevê que o uso abusivo da liberdade de expressão por veículos de comunicação, quando verificada, pode levar ao pagamento de indenizações a eventuais ofendidos. A censura prévia de reportagens, entretanto, fere a Constituição, que defende a plena liberdade de expressão.


‘É uma rematada bobagem, além de tudo de cunho autoritário, dizer que decisão da Justiça não se discute, cumpre-se. Temos todo o direito de, se for o caso, criticar e questionar decisões judiciais como esta, do Estado, que não atentam para a Lei Maior’, disse Damous.


CLAREZA


Na opinião dele, o Judiciário merecerá tanto mais respeito da população quanto mais claras e justas forem suas decisões. ‘Quando se trata de uma questão polêmica como esta, é preciso que tudo fique muito claro, para que a população possa formar seu juízo sobre o tema’, afirmou.


O advogado considera que o Judiciário precisa se abrir mais para a sociedade. ‘É o mais hermético dos três Poderes. A população tem medo, quando deveria ter respeito pelo Judiciário’, lamentou.’


 


 


FUTURO


Der Spiegel


‘A News Corp. tem apetite por mudanças’


‘Aos 36 anos, James Murdoch é o comandante das operações da News Corp. – um dos maiores impérios da mídia mundial – na Europa e na Ásia. O grupo, fundado por seu pai, Rupert Murdoch, é tão poderoso quanto controverso, sendo constantemente acusado de monopolista. Para James, no entanto, isso pouco importa. ‘Para nós, importa apenas aquilo que nossos leitores e espectadores pensam a nosso respeito’, diz. James diz também que o grupo não teme a concorrência dos meios digitais, e refuta a acusação de que seu pai seja uma pessoa pouco habituada à internet:


Há quanto tempo o sr. teme o futuro?


Surpreende-me que seja esta a sua impressão. A News Corp. é uma empresa dotada de verdadeiro apetite por mudanças.


Em 2000, o sr. disse: ‘Se eu for obrigado a ler mais alguma coisa sobre a sobrevivência no futuro digital ou qualquer outra besteira angustiada desse tipo, darei cabo de minha própria vida’. Hoje o sr. faz discursos inflamados sobre a dificuldade crescente que as empresas comerciais enfrentam para desenvolver o jornalismo de maneira rentável na era da internet. Se isto não é temor…


O medo do futuro na internet nos assombra desde a década de 1990, com a repetição das mesmas conferências e dos mesmos artigos de jornal. Mas a transformação digital não está mais no futuro. Ela já chegou, e a News Corp. não tem nenhum medo dela. O discurso que fiz em Edimburgo há algumas semanas foi dirigido ao monopólio da BBC sobre o serviço público. Na internet, as barreiras estão ruindo: não há mais um mercado televisivo, nem um mercado impresso ou um online. Na verdade, existe apenas um único mercado dentro do qual todos operamos. A BBC concorre hoje com o Spiegel na rede, mas a primeira recebe dinheiro público.


Ainda assim, estamos acostumados a uma atitude mais confiante por parte da gigante News Corp.


O que me incomoda é a impossibilidade de se realizar um debate razoável sobre este assunto por ser o aparato do serviço público considerado praticamente sagrado. Neste debate, somos sempre alvo de uma acusação – a News Corp. estaria interessada só nos lucros. É verdade que não nos envergonhamos em pedir um preço justo por enviar jornalistas ao Afeganistão, nem por dar a eles a estrutura necessária à cobertura, e nem por investir em sua segurança. Mas quando a concorrência começa a esquentar por meio da ação de participantes subsidiados, fica difícil sustentar este modelo.


Por outro lado, a imagem da News Corp. até o momento é a de uma implacável monopolista da opinião. Vocês são donos de 200 jornais, entre eles o poderoso tabloide britânico Sun e o Wall Street Journal americano, além de canais de televisão como Fox e Sky. Onde quer que apareça o nome Murdoch, surgem o medo e a indignação. Essa imagem o incomoda?


Para nós, importa apenas aquilo que nossos leitores e espectadores pensam a nosso respeito. Na Itália, ganhamos 5 milhões de consumidores para o nosso canal pago de televisão, e na Grã-Bretanha esse mercado chega a 10 milhões. Dizemos apenas o seguinte: esta é nossa oferta, e o preço é justo. Compre se quiser. Caso contrário, teremos de continuar nos esforçando.


O conteúdo da News Corp. está disponível, em sua maior parte, de maneira gratuita na internet. Seu pai anunciou recentemente que a empresa logo exigirá dinheiro pelo acesso às páginas de seus jornais na rede. Por que vocês acham que serão capazes de reeducar os leitores depois de tantos anos de conteúdo gratuito?


Ninguém disse que será fácil. Mas temos uma boa chance de obter sucesso porque acreditamos que nosso conteúdo possui de fato uma qualidade diferenciada. Entretanto, o jornalismo digital é mais do que simplesmente manter uma página na internet: há lojas de aplicativos para iPhone e BlackBerry; temos dispositivos digitais de leitura, cujas telas melhoram a cada lançamento. Essas possibilidades são oportunidades únicas para transformar nosso modelo de negócios.


Entretanto, você mesmo disse não fazer distinção entre blogueiros e jornalistas. Neste caso, por que pedir às pessoas que paguem pelo jornalismo profissional?


Cada consumidor decide a respeito daquilo que prefere ler. Como executivo e investidor, tento obter o melhor conteúdo e produzir com ele um pacote – e isso, claro, custa dinheiro. No entanto, seria um grande desconforto se a profissão de jornalista fosse relegada a escritores amadores. Isto significaria que ela seria exercida apenas pelos ricos ou pelos desocupados. A democratização do jornalismo por meio da internet é uma coisa positiva, mas não deve conduzir a uma situação na qual as pessoas não sejam mais remuneradas pelas suas realizações criativas.


Até que ponto seu pai ainda compreende de fato a empresa da família? De acordo com o biógrafo Michael Wolff, Rupert Murdoch não gosta de ler e-mails e mal consegue usar o telefone celular e o computador pessoal.


Devo aconselhá-los a usar a palavra ‘biógrafo’ com mais critério. Este indivíduo está criando para si uma carreira ao escrever sobre uma empresa que nem conhece. A ideia de que o presidente da News Corp. seja um homem pouco habituado à internet é falsa e, principalmente, injusta. Afinal, foi meu pai quem teve a visão de como poderia ser a televisão digital – uma visão transformada em realidade com a Sky.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Humor loteado


‘O CQC dobrou o seu número de anunciantes de um ano para outro. Já o Pânico na TV!, que todo mundo reclama de estar saturado de merchandisings, esteve bem mais lotado no passado.


Segundo levantamento da Controle da Concorrência, empresa que monitora inserções comerciais para o mercado publicitário, de 21 de setembro a 20 de outubro de 2008, período que soma cinco edições, o CQC, da Band teve 23 inserções de merchandisings, uma média de 3 ações do gênero por programa. Este ano, a atração pulou para o saldo mensal de 50 inserções de merchandisings, média de 10 ações por programa.


No mesmo período, o número de propagandas nos intervalos comerciais da atração também cresceu, de 140 (2008) para 202 (2009).


Com o Pânico, da Rede TV!, apesar do ibope em alta, o freio de mão com o excesso de anunciantes foi puxado. De 45 inserções de merchandisings – de 21 de setembro a 20 de outubro de 2008 – a atração caiu para 38, no mesmo período em 2009. A soma de comerciais nos breaks também caiu, de 191 para 139. Segundo o balanço, Ambev, Unilever e Casas Bahia estão entre os maiores anunciantes das duas atrações.’


 


 


Lúcia Guimarães


Copo meio cheio


‘A última semana começou com um número que preocupou muitos jornalistas americanos. A rede CNN despencou para o quarto lugar de audiência do jornalismo na TV a cabo. E a Fox, comemorando sua condição de ‘perseguida’ pelo governo Obama, disparou para um folgado primeiro lugar.


A CNN inventou o jornalismo de 24 horas e o fundador da Fox, Roger Aisles, inventou o comício eletrônico travestido de jornalismo.


Desde que uma assessora de Barack Obama fez o calculado primeiro disparo, no dia 12 de outubro, afirmando que a Fox não passa de uma ala do Partido Republicano, comentaristas de variada coloração ideológica discutem a sensatez da tática.


A venerada Primeira Emenda da constituição americana, que garante a liberdade de expressão, imprensa e religião, é invocada frequentemente pelos que não acreditam nela.


No ciclo viral de notícias, a estupidez se propaga com a velocidade da luz. Exemplo: Barack Obama foi comparado a Richard Nixon, o garoto-pôster da perseguição à imprensa. Desde quando um presidente que se indispõe com a imprensa ou setores dela é uma anomalia? E qual é a semelhança entre Nixon, notoriamente paranoico e conspirador, que grampeava e ameaçava jornalistas, e o atual presidente americano?


Um excelente artigo editorial no Wall Street Journal assinado por Thomas Frank, cujo espaço é um oásis de sensatez entre as tropas de choque de Rupert Murdoch, lembrou que a perseguição nas mãos das ‘elites’ é um dos motes da rede Fox.


O levante conservador americano a partir da década de 90 alimentou-se desta falácia narrativa – entre Nova York e Los Angeles, a middle-America é explorada e desprezada pelas hordas de privilegiados que comem rúcula e dirigem carros híbridos.


Frank oxigenou o debate com dois argumentos: Obama está certo, a Fox News é um contínuo talk-show conservador. Ela foi criada pelo homem que salvou a carreira de Nixon na década de 60, reinventando o futuro presidente para a TV. Roger Ailes perde seu sono com a Primeira Emenda tanto quanto eu perco o meu com golfe.


Obama está errado na forma desajeitada como colocou a rede na berlinda. Frank diz que a Casa Branca ‘jogou gasolina numa fogueira’ ao alimentar as teorias conspiratórias da rede adversária quando podia ter apelado para o humor, a ironia e o sarcasmo.


Um bom cursinho preparatório para enfrentar jornalista crasso é assistir a gravações não editadas das coletivas de John Kennedy, que reagia com um humor relaxado de quem está diante de um Martini e não de um microfone.


E assim voltamos a uma fundação que tem aparecido com frequência na imprensa americana. O Pew Research Center for the People & the Press toma o pulso do público americano em sua reação à mídia. O centro se tornou uma fonte preciosa de informação neste momento de confluência de duas angústias coletivas: a crise econômica na mídia tradicional e a epidemia de jornalismo ideológico.


A última pesquisa do Pew Center confirma o que sabemos: o papel da ideologia no consumo de notícias é cada vez maior. E a Fox é vista como a mais ideológica das redes de cabo. Explica-se o quarto e último lugar da CNN, atrás até de sua parente, o canal HLN, um híbrido de notícias curtas e talk-shows. A rede, apesar de vista pela maioria como ‘liberal’ (à esquerda do espectro político americano) e de abrigar figuras como Lou Dobbs, o profeta do apocalipse causado por imigrantes, não se posiciona como pró ou contra Obama. A ópera-bufa da esquerda e da direita no cabo é protagonizada pela MSNBC e a Fox.


Enquanto o musculoso e peripatético Anderson Cooper enxuga as lágrimas com a queda de mais de 70% da audiência de seu programa em horário nobre na CNN, vale a pena notar um número mais interessante para quem acredita que o jornalismo tem um papel em qualquer democracia.


O site cnn.com de notícias está muito à frente das rivais. O publisher do New York Times, Arthur ‘Pinch’ Sulzberger, fez analogias com o Titanic, ao ser consultado, num evento público, sobre o futuro dos jornais mas não destacou outro dado: o seu notável site teve sólidos 21 milhões e 500 mil visitantes únicos em setembro.


Vou argumentar que o declínio do jornal impresso convive com o apetite por noticiário objetivo. Já a falta de apetite pelas aventuras de Anderson Cooper pode mostrar o que acontece quando o jornalismo fica com o ouvido no chão, tentando detectar o tropel dos cavalos.


A revista Time perguntou aos leitores, logo após a morte do lendário Walter Cronkite, em julho, qual o âncora em que os americanos mais confiam. Jon Stewart, o comediante com vasta audiência jovem e apresentador do falso telejornal The Daily Show, ganhou disparado, com 44% de votos. Um sinal de triunfo da ironia como embalagem da notícia?


Em 2008, metade dos espectadores da Fox tinha mais de 63 anos e a maioria dos espectadores dos programas mais agressivamente ideológicos da rede era formada por homens. Os números foram citados por Louis Menand, na New Yorker, que comparou a cólera da Fox a um Viagra político.


Estou enganada ou há uma luz demográfica no fim deste túnel?’


 


 


 


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