Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo



CRISE POLÍTICA
Folha de S.
Paulo


Nova conta de Duda tem US$ 2,2 mi, afirma revista


‘Nova conta do publicitário Duda Mendonça descoberta nos Estados Unidos seria
no Ocean Bank, de Miami, teria o número 770083533-05 e um saldo de
aproximadamente U$ 2,2 milhões, segundo reportagem da revista ‘Isto É’ desta
semana. As informações, segundo a revista, foram repassadas por ‘fontes da
Promotoria Distrital de Nova York’.


O advogado de Duda, Tales Castelo Branco, disse à Folha que não existe a
conta no Ocean Bank e que a revista está ‘mal informada’. Parte do dinheiro
depositado na conta, US$ 400 mil, teria sido enviada, diz a revista, em 2002
pela casa de câmbio paulista Disk Line, utilizada por doleiros como Dario Messer
e Helio Laniado, preso em 2005 na Eslováquia.


Em depoimento à CPI dos Correios, o doleiro Antonio Claramunt afirmou que
Messer era o responsável pelas operações financeiras do PT no exterior.


Duda já admitiu ter recebido o equivalente a R$ 10,5 milhões do PT na conta
de uma offshore (empresa cujos sócios não são identificados) com sede nas
Bahamas.


O Ministério da Justiça, a Polícia Federal e o Ministério Público receberam
em novembro documentos com a movimentação financeira do publicitário no
exterior. A Promotoria Distrital de Nova York não liberou o acesso da CPI a
esses dados porque temeria o vazamento de dados.


Reportagem da revista ‘Veja’ desta semana também aborda a relação de Duda com
o mundo político. Diz que ele costumava fechar contratos de gaveta com políticos
que contratavam seus serviços. Segundo a revista, a sócia do publicitário,
Zilmar Fernandes, enviou uma carta a um cliente, em 1998, sugerindo o custo
oficial da propaganda de campanha entre R$ 500 mil e R$ 700 mil.


Ainda segundo ‘Veja’, um contrato de gaveta havia sido assinado seis meses
antes e estabelecia o valor global do serviço em R$ 5 milhões. O contrato previa
que, em caso de vitória, Duda cuidaria das principais contas do governo.


O advogado de Duda refutou a existência dos contratos de gaveta. ‘É mais uma
suposição, uma afirmativa ofensiva e que não vai além de um ultraje
pessoal.’’




JUSCELINO NA GLOBO
Luís Nassif


JK e Lucas Lopes


‘Se não tivesse ocorrido o golpe de 1964, o destino de Rodrigo Lopes teria
sido outro. Preparado, experiência internacional, era filho de Lucas Lopes,
genro de Juscelino Kubitschek. Sem espaço político, herdou do pai a presidência
da Hanna Mining do Brasil, filial daquela que foi a grande influência política
no Partido Republicano americano nos anos 50, a maior ameaça ao crescimento da
Companhia Vale do Rio Doce nos anos 50 e 60, e terminou engolida pelos
tempos.


Nos próximos meses, Rodrigo lançará um livro com escritos do pai, o grande
planejador com quem JK contou para tocar as obras de seu governo, como
secretário-executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento, que centralizou os
trabalhos do Plano de Metas de JK.


Para Rodrigo, não dá para comparar os trabalhos da Comissão Mista Brasil-EUA
-que teve a participação de seu pai- com o Plano de Metas de JK. O primeiro era
um diagnóstico, um levantamento de necessidades. O segundo, as idéias colocadas
de pé.


Quando JK assumiu, o então BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico)
estava em três salinhas acanhadas na rua 7 de Setembro com a Quitanda. Só passou
a existir quando Assis Figueiredo, do grupo de Lucas Lopes, criou o Imposto
Único sobre Combustíveis, que serviu de ‘funding’ não apenas para o BNDE como
para a Petrobras.


A Petrobras de Vargas era inviável, argumenta ele. No âmbito do Conselho de
Desenvolvimento, houve longa discussão sobre o que fazer com ela. Não se podia
abrir o monopólio nem permitir que quebrasse. Foi o Imposto Único que garantiu
sua sobrevivência.


Criador da Cemig (Centrais Elétricas de Minas Gerais), Lucas Lopes
considerava a Eletrobrás um elefante branco. Criou-se um imposto sobre energia,
que Lucas Lopes pretendia que fosse administrado pelo próprio BNDE. Acabou
ficando com a Eletrobrás.


Rodrigo nega desavenças entre JK e Lucas Lopes. Afirma que as supostas
discussões eram intrigas alimentadas por Augusto Frederico Schmidt, poeta e
grande influência no governo JK. E nega também que JK fosse um governante
irresponsável. A maior prova é que jamais deu um cargo a Schmidt, sustenta ele.
E Sebastião Paes de Almeida, o Tião Medonho, que presidiu o Banco do Brasil e
assumiu duas vezes a pasta da Fazenda? Eram injunções políticas, porque Tião
Medonho não pertencia ao círculo próximo de JK, diz Rodrigo.


A maior revelação de seu livro, provavelmente, será a respeito de Brasília.
Quando o Plano de Metas foi anunciado, elevou a imagem de JK e do Brasil
internacionalmente. Pela primeira vez se tinha um plano com metas quantificadas,
com definição de fonte de recursos, cronograma. No livro de Roberto Campos, e
para os historiadores em geral, o grande fator de desequilíbrio orçamentário
teria sido a construção de Brasília, colocada intempestivamente por JK na
reunião em que o Plano de Metas foi lançado. No novo livro, fica-se sabendo que
o plano de construir Brasília era de 1948. Desde aquele tempo, já se tinham
todos os números fechados, levantados, orçados. Para Lucas Lopes, o grande rombo
orçamentário foi o café. Havia a necessidade de uma desvalorização do câmbio,
mas se temia uma queda no preço do café, em dólares, reduzindo o ingresso de
divisas. JK manteve a política de sustentação de preços de Oswaldo Aranha e,
segundo Rodrigo, é por aí que se devem investigar as razões do estouro do
Orçamento da República.


Mesmo assim, Rodrigo afirma que, se seu pai não tivesse sofrido um enfarte em
Caxambu – o que o alijou da vida pública-, teria conseguido manter a inflação
sob controle. O que é, no mínimo, duvidoso.


O fato é que, com inflação e tudo, JK conseguiu colocar em pé um conjunto de
projetos que havia anos estava flanando, à espera de um estadista. De certo
modo, é o quadro que se tem hoje. Há uma profusão de diagnósticos sobre as
questões relevantes do país, as necessidades na infra-estrutura, a mobilização
da poupança, a promoção da inovação, as tecnologias sociais.


Falta apenas um JK com informação, coragem, pique e, agora, com
responsabilidade fiscal.’




INCLUSÃO DIGITAL
Maeli Prado


Loja vende 14 mil PCs populares em 2 semanas


‘No país onde mais da metade da população nunca usou um computador, a rede
varejista Magazine Luiza vendeu 14 mil PCs apenas nas últimas duas semanas do
ano passado. Ela foi a primeira empresa a obter financiamento do BNDES para
vender computadores pessoais populares, e, ao baratear as parcelas de pagamento,
as vendas explodiram.


O PC popular também faz sucesso em outras redes, como Ponto Frio e Extra. O
Wal-Mart também já comprou o computador popular de fabricantes. No entanto, elas
ainda trabalham com crédito próprio e sem o selo do projeto ‘Computador Para
Todos’, do governo federal, que visa à inclusão digital através de financiamento
de PCs de até R$ 1.400.


Essas redes distribuem, algumas desde meados do ano passado, os computadores
fabricados dentro das especificações do projeto, mas ainda não completaram todos
os trâmites exigidos pelo governo, como obter financiamento do BNDES. Além
delas, a Americanas.com já manifestou interesse em entrar no projeto.


No final de 2005, quando o Extra realizou uma promoção de computadores
populares, as vendas de PCs dobraram na rede. Em valores, a alta foi de 30%, já
que o preço desse PC é menor.


Segundo Hélio Rotenberg, diretor-geral da fabricante de computadores
Positivo, a empresa está vendendo o computador popular para várias redes. ‘Quem
está vendendo os maiores volumes até agora são o Magazine Luiza e o Ponto Frio.
Para este último vendemos 7.000 máquinas. O Wal-Mart comprou 1.500 PCs.’


O BNDES reservou R$ 300 milhões para o projeto, mas, para obter o
financiamento, há uma série de exigências (até agora só o Magazine Luiza
conseguiu). Empresas de capital estrangeiro não podem participar, regra que o
governo estuda mudar.


Vendas em alta


Com ou sem financiamento do governo, as vendas do computador popular vêm
ajudando, de outubro de 2005 para cá, nas vendas de computadores em geral. A
participação de computadores com o sistema operacional Linux -exigência do
governo para os PCs incluídos no projeto- saltou de 3% das vendas da Positivo,
em outubro do ano passado, para quase 20% no final de dezembro.


As vendas de computadores do Magazine Luiza cresceram 400% no período em que
o PC popular ficou disponível para a venda, por uma entrada mais 24 parcelas de
R$ 69,90. O estoque acabou, e a rede já pediu novo financiamento para voltar a
vender o produto.


O item pode ser vendido por uma parcela barata e com prazo longo para
pagamento porque o varejista toma empréstimo do BNDES com ótimas condições:
baixa taxa de juros e prazo de pagamento em 30 meses (os seis primeiros são de
carência).


‘A demanda tem sido impressionante. Obtivemos financiamento a princípio para
15 mil computadores. Como acabou agora em janeiro, pedimos novo financiamento
para 30 mil máquinas’, diz Marcelo Rodrigues Neves, gerente de compras do
Magazine Luiza.


Sem o fôlego do crédito do governo, as parcelas dos computadores vendidos por
algumas outras redes saem mais altas.


Financiamento direto


Pelo programa, o consumidor também pode ser financiado de forma direta pelo
governo. Para isso, entretanto, precisa ter crédito aprovado no Banco do Brasil
e na Caixa Econômica Federal, o que acaba sendo um obstáculo.


Até agora, segundo informações do Serpro (Serviço Federal de Processamento de
Dados), foram vendidos apenas 1.600 PCs populares via financiamento direto do BB
e da CEF.


Para participar do programa ‘Computador para todos’, o fabricante do
computador precisa se credenciar no Ministério da Ciência e Tecnologia. Até
agora são 23 credenciados.


Como o lançamento do PC popular com o selo do governo é recente, ainda não é
possível dimensionar seu efeito sobre o mercado. Mas a isenção de PIS e Cofins,
aprovada em meados do ano passado, aliada à desvalorização do dólar, já mudou o
cenário da venda de computadores no Brasil.


No primeiro trimestre de 2004, os computadores clonados, ou seja, montados de
forma ilegal, representavam 70,2% do mercado brasileiro. O percentual caiu para
63% no terceiro trimestre de 2005, segundo dados da consultoria IDC Brasil. Ao
mesmo tempo, o preço médio do computador pessoal caiu de R$ 1.704 para R$ 1.475,
na mesma comparação.


‘A isenção foi um avanço. Fabricantes como a Itautec e a HP, que haviam
abandonado o varejo por causa da pirataria, estão voltando a vender para o
usuário doméstico’, diz Dênis Gaia, da IDC.’




POLÊMICA CULTURAL
Ferreira Gullar


Repto ao ministro da Cultura


‘O leitor deve ter acompanhado pela imprensa a polêmica que ocupou os
jornais, desencadeada involuntariamente por declaração minha durante uma
sabatina promovida por este jornal. O assunto MinC não foi trazido à discussão
por mim, mas por alguém da platéia. Comecei minha resposta esclarecendo que não
acompanho de perto o trabalho daquele ministério, mas ouço reclamações e
críticas a certa tendência centralizadora na sua condução.


Foi o bastante para que, no dia seguinte, um pau-mandado do ministro enviasse
ao jornal uma carta acusando-me de stalinista. Como tenho preguiça de brigar,
respondi, numa linha, que a tal carta parecia escrita pelo antigo SNI. Sim,
porque é uma coisa velha, careta, acusar alguém de stalinista a esta altura;
quem age assim é a direita, o anticomunismo hipócrita. A intelectualidade reagiu
indignada, e o ministro, em lugar de se desculpar, subiu ao palco e nos ofereceu
a própria cabeça. Não é o caso: o que queremos é que ele dê expediente integral
no ministério, faça jus ao cachê que lhe pagamos.


Afora o MinC, todo mundo sabe que, quando o Partido Comunista do Brasil se
cindiu, os stalinistas ficaram no PC do B e os não-stalinistas, no PCB. Pois foi
para o PCB que eu entrei muitos anos depois e por razões especiais, já que não
queria entrar para partido nenhum, comunista ou não. A partir de 1962, fui atuar
no CPC da UNE, de que me tornei presidente. Brigávamos pela reforma agrária,
pela reforma universitária, pela reforma urbana. Era isso stalinismo? Na noite
do golpe militar, em 1º de abril de 1964, entrei para o PCB. Queria lutar contra
a ditadura que nascia e não poderia fazê-lo isolado. O PCB nada tinha de
stalinista, nele tudo se discutia abertamente.


Não dou estas explicações ao MinC, mas a você, leitor, que merece minha
consideração e meu respeito. Embora não goste de falar bem de mim mesmo, devo
dizer que sou das pessoas menos autoritárias que conheço, jamais gostei de
mandar; gosto, sim, de discutir, porque estou sempre questionando minhas idéias
e as dos outros e, por isso mesmo, nunca me considero dono da verdade, fonte de
intolerância e autoritarismo. Ou os donos do MinC não sabem quem sou ou quiseram
me desqualificar porque não toleram críticas. Eles, sim, como disse Caetano
Veloso, estão a um passo do totalitarismo.


E, por falar em MinC, vou lhes contar uma história. Quando, no final de 1992,
fui nomeado presidente do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (Ibac), cujo
nome mudei para Funarte, a primeira coisa que fiz foi reunir todos os diretores
em meu gabinete e perguntar-lhes quais eram os projetos que tinham para a
instituição. Disse-lhes que eles eram a instituição enquanto eu estava ali de
passagem. A partir daquele dia, tudo na Funarte era decidido nessas reuniões,
inclusive a distribuição da verba orçamentária. Não podia haver caixa dois.
Todos sabiam de tudo. Será isso o que o MinC chama de stalinismo?


Dias depois de assumir o cargo, perguntaram-me, num programa de televisão,
como encontrara a instituição. Respondi: ‘Encontrei tudo funcionando bem’. No
mesmo dia, o meu antecessor telefonou-me agradecido. Aquela atitude minha era
inusitada, pois o que se costuma fazer é afirmar que se recebeu uma ‘herança
maldita’ para depois culpar o antecessor pelas merdas que venha a praticar.


E assim, entre acertos e erros, cumprimos nossas tarefas, reabrimos o Salão
Nacional de Arte, criamos o Prêmio Nacional de Arte, o Prêmio Nacional de
Música, retomamos o projeto Pixinguinha, terminamos as obras do Museu do
Folclore, criamos a revista ‘Piracema’ e o Espaço Oscar Niemeyer. A certa
altura, meu amigo José Aparecido de Oliveira, que me havia indicado para o
cargo, telefonou-me para dizer-me que o presidente Itamar Franco decidira me
nomear ministro da Cultura. Respondi que me sentia honrado com a escolha, mas
não queria ser ministro. O assunto chegou aos ouvidos de um jornalista, que me
perguntou por que não aceitara o ministério. ‘Porque não sirvo para ministro,
respondi. Se aos 64 anos de idade, não soubesse para que sirvo, seria um
idiota’. Mas a vaidade às vezes cega as pessoas.


Continuei à frente da Funarte até que, eleito um novo presidente da República
e nomeado um novo ministro, fui substituído. Ao saberem disso, os diretores e
muitos funcionários foram para meu gabinete, mostrando-se consternados. Alguns
dos diretores afirmaram que iam se demitir imediatamente. Pedi-lhes que não o
fizessem, pois o mais importante era dar continuidade aos projetos da
instituição. Se o novo presidente decidisse mantê-los, deveriam continuar.
‘Todos nós estamos aqui para servir à sociedade e não simplesmente a este ou
àquele governo’, disse eu.


Sempre tive horror ao stalinismo. Na tal sabatina, afirmei que a luta pelo
socialismo mudara o capitalismo, obrigando-o a fazer concessões aos
trabalhadores. Só a direita burra e os safados dizem que marxismo e stalinismo
são a mesma coisa. Fui caluniado. Por isso, desafio o ministro Gil e seu javali
de gabinete a citarem uma só frase minha, escrita em qualquer época, em defesa
do stalinismo. Se não o fizerem, estarão admitindo tacitamente que são
caluniadores e irresponsáveis. Ficarei à espera.’




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Folha de S. Paulo


Sábado, 14 de janeiro de 2006


MERCADO EDITORIAL
Julián Fuks


Nova Fronteira, 40, lança coleção


‘Pronuncie-se o nome de Carlos Lacerda e imediatamente alguém pensará na
figura política, no ácido crítico de Getúlio Vargas, no sujeito que se esquivou
de atentado na rua Toneleros. Poucos imaginarão um homem de óculos na ponta do
nariz que se sente calmamente para analisar o longo manuscrito de algum
escritor.


Pois sim, o multifacetado jornalista foi esse homem por mais de uma década
-antes de morrer em 1977- e o resultado dessa atividade aniversariou no final do
ano passado. Foram os 40 anos de existência da editora Nova Fronteira, criada
por Lacerda, comemorados não com festa, mas com uma interessante seleção de
obras a serem republicadas.


‘40 Anos, 40 Livros’ é a coleção que, em cotas, tem chegado, de dezembro a
março, às livrarias. Entre os autores reeditados, quase nenhum espaço para nomes
menores: de estrangeiros, Balzac, Genet, Baudelaire, entre outros; de
brasileiros, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Nelson Rodrigues, João Cabral e
por aí vai.


‘Uma seleção do que de melhor foi produzido ao longo desses anos, com
apresentações inéditas e preços um pouco mais acessíveis’, no esclarecimento de
Carlos Augusto Lacerda, neto daquele e hoje editor da Nova Fronteira. Abrindo a
coleção, uma concessão não só ao próprio avô como a outras gerações da família,
com a reedição da obra de Carlos Lacerda ‘A Casa do Meu Avô’ (R$ 24,90, 192
págs.), que também atesta a versatilidade da figura.


Semelhante a seu criador, também a editora se caracteriza pelo ecletismo.
Nesses 40 anos, a Nova Fronteira nunca se especializou em prosa ou poesia, ou
mesmo em ficção ou não-ficção. O que a norteia está dito no slogan,
oportunamente modificado do original ‘sempre um best-seller’ para ‘sempre um bom
livro’. Ainda quanto a transformações recentes, a compra de 50% da empresa por
parte da Ediouro, que, ao menos em aparência e discurso, não resultou em
mudanças editoriais.’


MEMÓRIA
Carlos Heitor Cony


Ênio Silveira


‘São dez anos da morte de Ênio Silveira, o editor que deu ao livro o formato
que hoje conhecemos, com os naturais acréscimos de um mercado ao mesmo tempo
exigente e complicado.


Para o pessoal do ramo editorial e cultural, seria ocioso recordar o que ele
fez. Preso pelos militares, teve destruído o prédio de sua editora e cassados
seus direitos políticos.


Quero lembrar a sua atuação nos dias de 64 em diante, quando jogou tudo o que
tinha na luta contra o arbítrio. Ele ainda não havia entrado para o Partidão,
mas na sua editora se costurava a primeira ação concreta (não armada) contra o
regime. A turma que, no ‘Correio da Manhã’, abrira o primeiro combate contra a
ditadura, desabou por gravidade na Civilização Brasileira, da qual alguns já
eram editados, como Antônio Callado e eu próprio, vindo depois Paulo
Francis.


Foi no gabinete de Ênio (mais tarde na casa de uma prima dele) que Renato
Archer costurou a Frente Ampla. Era ligado à editora Paz e Terra, que funcionava
como um dos selos da Civilização. Ênio já entrara para o PCB e os dois atraíram
outro editor, Carlos Lacerda, que seria, com Renato Archer, operador da Frente.
Pretendia-se criar um poderoso bloco contra o regime. (Neste ano, a editora de
Lacerda, a Nova Fronteira, está fazendo 40 anos).


A Frente Ampla seria o espectro da sociedade civil. Esquematicamente, Lacerda
seria a direita, Jango a esquerda e Juscelino o centro. Para que os comunistas
não atrapalhassem (o PCB atrapalhou o que podia), Ênio foi designado pelo
Partidão para as reuniões preparatórias com Renato Archer. Os dois adversários,
Ênio e Lacerda, chegaram a se tornar amigos. Vi um chorando no ombro do
outro.


A Frente foi fechada, mas assustou de tal forma os militares que, quando
houve um pretexto mais ou menos banal, o discurso do Marcito na Câmara, o regime
assumiu a truculência com o AI-5.


Daí em diante, a resistência só poderia ser a luta armada.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo fará duas séries regionais por ano


‘A Globo começa a produzir em 2006 duas séries regionais por ano. Serão
adaptações de autores brasileiros contemporâneos, rodadas com atores ‘locais’. A
idéia é realizar uma produção em cada Estado. O projeto leva o nome de
‘Quadrante’ e será comandado por Luiz Fernando Carvalho, o festejado autor e
diretor da microssérie ‘Hoje É Dia de Maria’.


Apesar da produção de duas séries, a Globo, por enquanto, só prevê a exibição
de uma por ano. A primeira será a adaptação de ‘A Pedra do Reino’, de Ariano
Suassuna. O formato será variado. Alguns títulos poderão ter um único episódio;
outros, até oito.


Além de Suassuna, Carvalho estuda a adaptação para a televisão de obras do
carioca João Paulo Cuenca, do cearense Ronaldo Correia de Brito, do amazonense
Milton Hatoum e do mineiro Luiz Rufatto, todos da nova geração da literatura
nacional.


Cuenca pode ser chamado de ‘novíssimo’. ‘Corpo Presente’, seu primeiro livro
solo (e único até agora), foi publicado em 2003, quando ele tinha 25 anos.
Elogiado pela crítica, Cuenca é ‘blogueiro’. Em www.carmencarmen.blogger.com.br,
relatou o processo de criação do livro.


O médico Brito nasceu em 1950 e publicou seu primeiro livro (‘As Noites e os
Dias’) em 1996, mas só em 2003 passou a ser badalado no eixo Rio-São Paulo, com
‘Faca’, editado pela Cosacnaify, que em 2005 lançou ‘Livro dos Homens’.


OUTRO CANAL


Fora O contrato de Netinho de Paula com a Record vence em maio e não será
renovado. Seu ‘Domingo da Gente’ até dá boa audiência, mas a Record avalia que
sua imagem de pagodeiro e suas recentes reações violentas (agrediu em novembro
Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo do ‘Pânico na TV’) não pegam bem para a
emissora, que tenta emplacar como ‘moderna’.


Sofredora Suspeita de ter matado o próprio marido na Grécia, Vitória, a
personagem de Cláudia Abreu em ‘Belíssima’, será presa nos próximos capítulos.
No presídio, ela será esfaqueada por uma detenta após uma tentativa frustrada de
fuga.


Partido ‘Belíssima’ indiretamente fez nesta semana um belo merchandising
gratuito para o tucano José Serra. Mostrou à exaustão carros da Guarda Civil
Metropolitana (GCM). A guarda atuou num caso de seqüestro de criança _o que, na
vida real, é atribuição das polícias civil e militar de Geraldo Alckmin.


Bolão Exibido pelo SporTV, o ‘Jogo das Estrelas’, que reuniu, no Rio,
Maradona e Zico, foi o programa mais visto da TV paga em dezembro. Atingiu cerca
de 800 mil telespectadores em todo o país.


Top Mesmo fora do ar, Bruno Gagliasso se manteve no ranking dos cinco atores
da Globo que mais receberam cartas de fãs em dezembro.’




***


Cultura fará seriado sobre Malba Tahan


‘A grande aposta da TV Cultura em 2006 será uma série de 26 episódios baseada
no clássico ‘O Homem que Calculava’ (recomendado nas escolas por incentivar o
aprendizado de matemática) e na biografia de seu autor, Malba Tahan, pseudônimo
de Júlio César de Mello e Souza (1895-1974).


Cada capítulo custará cerca de R$ 80 mil e contará uma história do começo ao
fim. A série está sendo escrita pelo dramaturgo Atílio Bari, que já fez uma
adaptação de ‘O Homem que Calculava’ para o teatro. Segundo Marcos Mendonça,
presidente da Cultura, só faltam acertos burocráticos com os descendentes do
escritor para dar início à produção.


Mello e Souza se passava por Malba Tahan porque suas histórias, com seu
verdadeiro nome, eram recusadas. Ele criou um personagem (acreditava-se que
Tahan era árabe e que morrera lutando por uma tribo africana). Manteve o segredo
por 30 anos.


‘O Homem que Calculava’ conta a saga de Beremiz Samir, um pastor persa que
desenvolve uma incrível habilidade matemática, resolvendo os mais intricados
problemas. ‘Era um alter ego de Mello e Souza’, diz Bari.


A série da TV será ambientada no Rio dos anos 50. Mello e Souza será
professor de um colégio. Os personagens da escola serão transpostos para
narrativas num mundo árabe, tiradas de ‘O Homem que Calculava’ e de outros
livros de Malba Tahan.


OUTRO CANAL


Mais real 1 Silvio de Abreu, autor de ‘Belíssima’, mudou de idéia: não vai
mais criar um programa de TV para as ex-vedetes Mary Montilla (Carmen Verônica)
e Guida Guevara (Íris Bruzzi). Dará a elas ‘um grande show de teatro’. ‘Achei
que programa de TV, na TV, não rende muito. Já fiz em ‘As Filhas da Mãe’. Seria
repetir’, diz.


Mais real 2 O show das hilárias personagens de ‘Belíssima’ será comandado por
Carlos Manga, grande diretor de chanchadas nos anos 50. Manga, que já foi citado
na novela como ex-’affair’ de ambas as vedetes, aceitou participar da trama,
como ele mesmo.


Intervalo Silvio Santos não gostou nada da audiência do último ‘Domingo
Legal’. Ao vivo, o programa deu apenas nove pontos, quase metade do ‘Domingão do
Faustão’ (gravado). Pediu providências urgentemente. Para hoje.


Vaca parada Já faz quase dois meses que todas as vaquinhas da ‘Cow Parade’
desapareceram das ruas de São Paulo. Mas o açougue do bairro de Campos Elísios
cenográfico de ‘Belíssima’, que fica no Projac (Rio), ainda tem uma. É a ‘cow
parada’.


Fiscal parado Paralisado também está o figurante de ‘Belíssima’ que se passa
por marronzinho (fiscal de trânsito). Só ele não multa motoristas que estacionam
sobre calçadas _infração cometida por Bia Falcão (Fernanda Montenegro) na semana
passada.’


Laura Mattos


Record exibe série produzida com dinheiro público


‘A série ‘Avassaladoras’, que a Record estréia no dia 27, custou R$ 3,2
milhões e foi produzida com recursos públicos. Inédita, a operação deverá se
tornar uma tendência dentre as redes de TV.


A Record, uma concessão pública, não poderia se utilizar diretamente desse
tipo de financiamento. O negócio só se tornou viável -e legal- porque a rede se
associou a uma produtora independente nacional, a Total Entertainment (do Rio),
e a um canal estrangeiro, a Fox, da TV paga.


Foram dois os mecanismos: R$ 3 milhões pela Ancine (Agência Nacional de
Cinema) -que dá benefícios fiscais a distribuidores de cinema e canais
estrangeiros que investem em audiovisual nacional- e R$ 200 mil pela Lei Rouanet
-por meio da qual empresas deduzem do Imposto de Renda o investimento em
cultura.


Entrevistados pela Folha defendem a abertura da Record à produção
independente e o uso de verba pública na série. Mas questionam o fato de uma TV
aberta comercial, que já é uma concessão pública, ser indiretamente beneficiada
sem oferecer ‘contrapartidas’. Deveria ter a obrigação de reservar parte da
programação a independentes, além de pagar taxas para financiar o mercado
audiovisual, na opinião de Assunção Hernandez, representante brasileira da
Federação Ibero-Americana de Produtores de Cinema e Audiovisual. Para ela, o
lobby das TVs faz com que tenham muitos direitos, mas poucos deveres.


Com ela concorda o sociólogo Laurindo Lalo Leal Filho, professor da USP e
especialista em TV. ‘É positivo que o Estado canalize recursos para produções
independentes e que a TV aberta dê espaço a elas. Mas, nesse tipo de operação, o
canal comercial, que é uma concessão pública, acaba trabalhando sem risco algum
e sem oferecer contrapartidas’, diz.


O ineditismo da operação ‘Avassaladoras’ deve gerar um debate a respeito dos
limites do financiamento público, na avaliação de Gabriel Priolli, especialista
em mídia e diretor de TV. ‘Felicito a Total e a Record pela associação. Mas é
uma contradição interessante que TVs abertas comerciais exibam programas feitos
com verba pública, enquanto as TVs públicas, como a Cultura, tenham sua
programação financiada por dinheiro do mercado. O modelo de financiamento das
TVs merece debate e ajustes.’


Alexandre Raposo, presidente da Record, ressalta o fato de a rede ter
ampliado o espaço à produção nacional de teledramaturgia. Para ele, a TV é uma
empresa ‘que gera empregos, paga suas contas, faz seus investimentos e deveria
ter incentivo do governo, como outros setores do mercado’.


Walkiria Barbosa, sócia da Total, diz não ver problemas em a Record ser
indiretamente beneficiada com o subsídio de ‘Avassaladoras’. ‘O custo dos
programas se torna mais acessível e há possibilidade maior da diversificação da
programação. Quanto mais conteúdo nacional e independente na TV aberta, melhor.
Só fortalece a cultura brasileira’, acredita.


A Band também já foi indiretamente beneficiada por verba pública via Ancine,
com os especiais de Chico Buarque produzidos pela operadora DirecTV. A diferença
é que a rede entrou depois no negócio, com exibição muito atrasada em relação à
TV fechada, e não houve um acordo prévio para a produção do programa.


De acordo com Marcelo Parada, vice-presidente da Rede Bandeirantes, ‘sozinha,
a emissora não teria fôlego para fazer o programa’. ‘É preciso usar toda forma
de parceria que possibilite a captação de recursos para não depender dos
intervalos comerciais. O custo da TV não comporta mais essa forma tradicional de
financiamento. A conta não fecha.’


O uso de verba pública, diz, ‘é legítimo’ e o ‘grande beneficiário é o
telespectador, que tem acesso a produtos de qualidade’. ‘O entretenimento é uma
indústria e, como tal, tem direito à credito para produzir. Se eu fosse do
governo, não teria dúvida em fomentar ao máximo a teledramaturgia, o que seria
bom para o mercado interno e para a exportação.’


Maior produtora de conteúdo da TV brasileira, a Globo se abre em ritmo lento
à produção independente e ainda não exibiu um programa feito com verba pública.
Teve de bancar, por exemplo, os custos de ‘Carandiru – Outras Histórias’
(produzido pela HB, de Hector Babenco, e dirigido pelo cineasta) e de ‘Cidade
dos Homens’ (da 02, direção de Paulo Morelli, sócio da produtora).


Não poderia ter usado leis de incentivo porque não havia um canal estrangeiro
associado ao projeto. Além disso, a Globo costuma ficar com os ‘direitos
patrimoniais’ das obras, ou seja, compra as séries das produtoras. Para que
houvesse captação, o produto não poderia ser propriedade da rede.


Sobre o fato de não ter captado verba pública para ‘Carandiru’ e ‘Cidade dos
Homens’, a Central Globo de Comunicação afirma que ‘por incrível que pareça, as
televisões abertas não podem usar esse recurso’. ‘Como se vê, essa parceria com
as produções independentes teria um estímulo ainda maior. A grande contradição é
que as produtoras multinacionais, no entanto, podem captar esse dinheiro
subsidiado.’’




***


‘As emissoras têm de oferecer contrapartidas’


‘A TV aberta, graças a seu lobby, não é obrigada a oferecer contrapartidas
quando se beneficia indiretamente de verbas públicas, como no caso de
‘Avassaladoras’. Essa é a opinião de Assunção Hernandez, produtora audiovisual
atuante em debates sobre a política da comunicação. Abaixo, leia trechos da
crítica que faz às TVs:


‘Toda concessão tem obrigação de oferecer contrapartida para a sociedade. No
caso da TV, deveria haver cota para produção independente e taxação para o
fomento do mercado audiovisual. No Brasil e em parte da América Latina, não
conseguimos isso.


Quando cobradas, as redes falam de dirigismo, de ditadura. Mas é exatamente
isso o que significa essa produção intramuros, sem regulação. A TV deveria dar
espaço para que os conteúdos independentes pudessem transitar. É como um
concessionário de estrada. Ele não pode apenas permitir que seus carros
trafeguem.


Não sou contra esse tipo de operação da Record/’Avassaladoras’, mas luto para
que as TVs tenham um compromisso mais completo com a sociedade. A contribuição
deve ser maior do que só abrir o espaço da programação, que é um bem
público.’’




***


‘O beneficiário final deve ser o telespectador’


‘Se chegar o dia em que recursos públicos forem utilizados para uma novela da
Globo feita por produtora independente, ‘os paradigmas dessa políticas públicas
podem ser revistos’. A resposta à hipotética situação proposta pela Folha é de
Mário Borgnet, assessor especial do Ministério da Cultura. Leia sua avaliação da
operação Record/’Avassaladoras’:


‘A parceria entre TV aberta e produtora independente é um dos objetivos de
nossa política para o audiovisual. A questão não é o recurso favorecer a TV
aberta, mas sim um produtor independente nacional. O beneficiário último deve
ser o telespectador, o cidadão. Precisamos construir condições de mercado à
produção independente. Agregar a TV aberta é algo a ser comemorado, mesmo que
num primeiro momento o Estado seja avalista dessa relação. [O incentivo para uma
novela da Globo feita por produtor independente] Seria problema se não gerasse
discussão interna sobre o modelo de negócio, o fato de ela produzir tudo o que
exibe. Mas, quando e se isso ocorrer, os paradigmas das políticas públicas podem
ser revistos. Leis de incentivo são ferramentas e não dogmas eternos’.’




***


‘TVs precisam se abrir mais a independentes’


‘A operação Record/’Avassaladoras’ só foi possível graças à briga de
produtores independentes na época da criação da Ancine (Agência Nacional do
Cinema). À frente das discussão estava Marco Altberg, presidente da ABPI-TV
(Associação de Produtores Independentes de TV), que defende a abertura das redes
de televisão:


‘Adoraria que a Globo fizesse isso também [exibir programas de produção
independente feitos com captação]. A Record tem se demonstrado favorável à
abertura à produção independente. Essa operação de parceria com possibilidade de
uso de verba pública é salutar dentro desse mercado tão fechado que é a TV
aberta.


O fato de uma emissora comercial se beneficiar indiretamente de recurso
público é uma discussão que tem de ser muito aprofundada. O problema é que as
TVs resistem em serem reguladas. Elas sempre falam em censura, manipulam esse
trauma para evitar qualquer tentativa de regulação. Nos EUA, as redes são
obrigadas a transmitir produção independente em 70% da programação.


O Estado cumpriu seu papel há 50 anos, quando criou leis fortes para
viabilizar o mercado audiovisual.’’


Bia Abramo


Novas soluções das velhas idéias


‘A boa notícia é que há novela para além da Globo. A má é que a Record só
acertou a mão repetindo a receita da emissora carioca. Pelo menos foi assim no
ano passado e, ao que tudo indica, em 2006 muda muito pouco.


‘Prova de Amor’ teve a sorte de competir com a confusa e pretensiosa ‘Bang
Bang’, mas não só: a novela é direitinha, direitinha. E é isso.


Começou com tiros, correria e muita externa; reciclou o tema do bebê roubado,
capaz de fazer brotar emoção até de paralelepípedo, teve dinheiro para manter um
nível de produção razoável e contratar atores já conhecidos. Rezou pela cartilha
e se deu bem- a audiência tem se mantido tão boa que animou a emissora a esticar
por mais dois meses a trama. ‘Prova de Amor’ só acaba em junho, com 197
capítulos.


Nunca é demais repetir que qualquer coisa que abale a espécie de ‘pensamento
único’ que a Globo impôs na televisão é bem-vinda de antemão. O fato de a Record
estar se firmando como alternativa ser objeto de entusiasmo, portanto, parte
desse quase princípio. Só é pena que não haja nada de alternativo no sentido da
construção ficcional. Pelo contrário: a emissora do bispo Edir Macedo investe
naquilo que há de mais convencional.


Até agora, a Record vem, de forma mais ou menos hábil, reciclando aquilo que
a Globo testou nos últimos 30 anos. Fez uma novela ‘de época’, com o roteiro
baseado em romances de um escritor canônico da literatura brasileira, José de
Alencar. Agora, com ‘Prova de Amor’, experimentou seguir os passos do melodrama
urbano, a um tempo de estruturas dramáticas bastante tradicionais e ar
contemporâneo.


A pergunta que se faz é se não haveria uma maneira de escolher uma trilha
própria na área da ficção de TV. E é mais ainda pertinente quando se pensa que
na própria Globo a maneira velha de fazer novela anda sendo esquadrinhada.


Quando a extinta Manchete exibiu ‘Pantanal’, nos anos 90, encontrou uma
maneira, se não inovadora, ainda pouco explorada de fazer novela. Em ‘Pantanal’,
tudo andava a passo mais lento e a sombra de mistério que rondava os personagens
daquele Brasil ensimesmado conseguia se espreguiçar pelas exigências mais
rasteiras da trama. De certa forma, atualizava e deslocava geograficamente as
novelas do realismo mágico nordestino dos anos 70.


Por ora, a Record ainda não encontrou nenhum veio que possa trazer algum
frescor ao gênero. Não há de ser com ‘Prova de Amor’, sua vilã meio de araque e
a barbaridade de 197 capítulos para ter o que dizer. Quem sabe Lauro César
Muniz- autor de narrativas mais arriscadas, como a de ‘O Casarão’, que se
passava em três tempos distintos -ache uma maneira.’


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