Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Folha de S. Paulo


TV PÚBLICA
Elvira Lobato


TV estatal pode custar o dobro do previsto por Costa


‘A criação de uma rede estatal de televisão, com cobertura em todo o
território nacional, como anunciado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa,
pode custar no mínimo R$ 523,36 milhões, segundo cálculos de fabricantes e de
engenheiros ouvidos pela Folha.


Na segunda-feira passada, Costa apresentou ao presidente Lula a proposta de
criação da Rede Nacional de Televisão Pública, ligada ao Executivo, que
implicará, segundo ele, em investimentos de R$ 250 milhões em quatro anos.


Na ocasião, Costa disse que a intenção é fazer com que o sinal da nova TV
chegue a todos os municípios (5.564). Há no Brasil, segundo o IBGE, 4.458
municípios com população de até 30 mil, dos quais 1.370 têm menos de 5.000
habitantes.


Segundo informação dos fabricantes de equipamentos, o principal item de custo
de uma rede nacional de TV é levar o sinal aos pequenos municípios. O custo de
um posto de retransmissão mais simples, para localidades com até 10 mil
habitantes, foi calculado pelo presidente da Abirt (Associação Brasileira da
Indústria de Radiodifusão), Eduardo Santos de Araújo, em R$ 50 mil.


Ou seja, para cobrir os 2.581 municípios com essa população, seria necessário
um investimento de R$ 129 milhões.


Se o governo for instalar retransmissores em todos os municípios, gastará,
pelo menos, R$ 443,36 milhões, fora o investimento na implantação da emissora
que vai gerar a programação e colocá-la no satélite para ser retransmitida.


A projeção dos R$ 523,36 milhões foi feita com a máxima economia de custos.
Pressupôs, por exemplo, o compartilhamento de torres de retransmissão com outras
emissoras, e cessão de terrenos por prefeituras, prática que o ministro cogitou
adotar no projeto.


Costa não explicou como chegou à sua cifra, de R$ 250 milhões. Em entrevista
à Folha, na terça-feira, disse que se tratava de um número inicial, que precisa
ser ‘refinado’.


Há vários pontos obscuros em relação à estrutura da TV estatal pretendida
pelo ministro. O primeiro ponto refere-se à Radiobrás. Costa disse que não está
decidido se será aproveitada a estrutura da Radiobrás, que cobre 30% do
país.


Segundo especialistas, se o governo for implantar uma rede paralela à da
Radiobrás, terá de instalar uma emissora geradora, que será a cabeça da rede.
Uma geradora de médio porte, com capacidade de produzir 24 horas de programação,
custa, no mínimo, R$ 84 milhões.


Costa afirmou, por meio de sua assessoria, que a decisão final sobre o
projeto será dada pela Secom. Em relação ao custo apontado por fabricantes,
disse que, se o projeto for compartilhado com Estados e municípios, diminuirá o
dispêndio do governo, mas não comentou a diferença entre o valor apontado pelos
fabricantes e sua projeção de R$ 250 milhões.’




ECOS DA DITADURA
Felipe Seligman


Presidente da OAB faz crítica a demora para abrir arquivos


‘O presidente da OAB, Cezar Britto, criticou ontem a demora na abertura dos
arquivos da ditadura militar em discurso na cerimônia de posse da presidência do
STM (Superior Tribunal Militar). Britto pediu para que ‘a memória do período
autoritário venha integralmente à tona’.


Em um auditório repleto de oficiais das três Forças Armadas, ele qualificou
como ‘trágico’ uma sociedade que não pode conhecer seu passado para não repetir
os mesmos erros no futuro. ‘Precisamos conhecer em minúcias o que se passou no
tempo da ditadura’, disse. ‘Anistia não é amnésia.’


Britto também criticou a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
relação à abertura dos arquivos. ‘Hoje mesmo [ontem], o jornal ‘The New York
Times’ cobra do presidente Lula mais ousadia na investigação de crimes contra
direitos humanos no período autoritário, de 1964 a 1984.’


O presidente do STM, recém-empossado, o brigadeiro Henrique Marini,
considerou ‘brilhante’ a fala de Britto. Após a cerimônia, o ministro da Defesa,
Waldir Pires, também comentou as críticas feitas pelo presidente da OAB. ‘Todos
os fatos devem ser conhecidos.’


Não é a primeira vez que a OAB se posiciona a favor do tema. Em 2004, quando
fotos que supostamente mostravam corpo do jornalista Vladimir Herzog foram
divulgadas, o então presidente da Ordem, Roberto Busato, pediu abertura dos
arquivos.’




LLOSA vs. MÁRQUEZ
Paul Vallely


Uma briga literária completa 30 anos


‘DO ‘INDEPENDENT’ – Por que Mario Vargas Llosa socou Gabriel García Márquez,
seu rival pelo título de mais importante romancista latino-americano do século
20, em um cinema mexicano, em 1976, dando início a uma das mais longas brigas na
história das letras contemporâneas?


Os dois gigantes do romance moderno, que um dia foram grandes amigos, não se
falam desde o dia em que o escritor peruano aplicou um gancho de direita contra
o olho esquerdo do escritor colombiano, há três décadas. Nenhum dos dois revelou
os motivos para a desavença, se bem que ambos tenham deixado escapar que se
tratava de ‘algo pessoal’.


Ao longo dos anos, não faltaram especulações sobre a causa do desentendimento
original. ‘Uma suspeita que circula amplamente é a de que a briga tenha sido
causada por diferenças de opinião política’, postulava recentemente um blog
latino-americano.


É verdade que García Márquez foi e continua a ser esquerdista. Vargas Llosa,
no entanto, abandonou o amor juvenil por Fidel Castro e disputou sem sucesso a
Presidência do Peru, como candidato de direita. Embora suas opiniões políticas
tenham divergido amplamente, não se acredita que tenha sido essa a causa da
briga.


Outros observadores especularam que ciúmes profissionais eram a causa do
murro que deflagrou a discórdia. Embora seja considerado criador, ao lado de
García Márquez, do realismo mágico, os trabalhos de Vargas Llosa não têm
estatura comparável aos do rival. ‘Cem Anos de Solidão’ é considerado um dos
clássicos definitivos da literatura do século 20.


De acordo com uma nova biografia de García Márquez, ‘The Journey to the Seed’
[a jornada para a semente], de Dasso Saldivar, os dois brigaram por causa de uma
mulher. E embora García Márquez já tenha 80 anos, e Vargas Llosa tenha chegado
aos 70, a rivalidade entre eles não diminuiu.


No mês passado, o jornal inglês ‘The Guardian’ informou que Vargas Llosa
havia escrito um prefácio para uma edição comemorativa de ‘Cem Anos de Solidão’
que será lançada para celebrar o 80º aniversário do autor, o 40º aniversário da
publicação do livro e o 25º aniversário de sua premiação com o Nobel de
literatura.


A agente literária de García Márquez, Carmen Barcells, começou imediatamente
a negar a história. A edição especial incluirá o excerto de um ensaio elogioso
de Vargas Llosa sobre o romance, escrito antes que os dois se
desentendessem.


Isso ainda assim revela que o tempo serviu para abrandar a disputa, ao menos
parcialmente. Desde que o ensaio foi publicado, em 1971 (em edição que se
esgotou rapidamente), Vargas Llosa se recusou a permitir que fosse reimpresso, a
despeito da grande demanda e da existência de pelo menos uma edição pirata. No
ano passado, decidiu voltar atrás, e permitiu que o texto fosse incluído nas
suas obras completas, publicadas em 2006, mas o que o motivou, aparentemente,
foi o desejo de preservar a íntegra de seu legado literário pessoal.


Sinais ambíguos


Existem sinais ambíguos também da parte de García Márquez. Seu mais recente
romance, ‘Memória de Minhas Putas Tristes’ [Record], foi publicado em 2004.
Desde então, ele vem dizendo a amigos que seu gás acabou. Vargas Llosa, em
contraste, no ano passado publicou ‘Travessuras da Menina Má’. García Márquez
aparentemente voltou a escrever, nos últimos meses.


Em 2002, sob pressão de um câncer que superou, o escritor colombiano publicou
‘Viver para Contar’, o primeiro volume de uma autobiografia que supostamente
terá três partes. García Márquez leva sua história apenas até 1955, e surgiram
informações de que ele não queria começar a trabalhar na segunda parte porque
teria de tratar, nela, do incidente que deu início à briga.


‘Compreendi que, se eu escrever um segundo volume, terei de contar coisas que
não quero sobre certas relações pessoais que não são tão boas’, disse ao
‘Vanguardia’ no ano passado. Desde então, porém, entrou em contato com amigos
para verificar datas e lugares e para refrescar sua memória quanto aos
acontecimentos. (Um amigo lhe aconselhou: ‘Gabo, seja fiel às suas lembranças,
não à sua biografia’.)


Detalhes da história


Assim, o que o volume dois revelará? De acordo com Saldivar, biógrafo de
García Márquez, a história é a seguinte:


Ambos admiravam o trabalho um do outro, e logo que se conheceram
pessoalmente, em 1967, em Caracas, se tornaram amigos inseparáveis. Haviam
vivido na pobreza em Paris, como escritores iniciantes, antes de conquistarem o
sucesso na literatura, o que levou os dois a se mudarem por algum tempo para
Barcelona. Dos sete anos em que viveu na capital catalã, Vargas Llosa dedicou
dois ao estudo da obra-prima de seu amigo García Márquez, ‘Cem Anos de Solidão’,
e escreveu um longo e elogioso ensaio sobre o romance.


Mario vivia de olho nas mulheres. Para começar, quando tinha apenas 19 anos,
se casou com sua cunhada, Julia, 13 anos mais velha. O casamento não foi feliz,
mas deu ao jovem escritor o tema para ‘Tia Júlia e o Escrevinhador’. Um ano
depois do divórcio, Mario se casou com sua prima Patricia, com quem teve três
filhos.


Mas ele nunca foi fiel. Apaixonou-se por uma bela comissária de bordo sueca,
que conheceu durante uma viagem. Deixou a mulher e se mudou para Estocolmo.


Deprimida, sua mulher Patricia procurou o melhor amigo do marido, García
Márquez. Depois de discutir o caso com sua mulher, Mercedes, ele aconselhou
Patricia a pedir o divórcio, e depois disso Gabriel a consolou. Ninguém sabe
exatamente que espécie de consolo ele ofereceu. De acordo com fontes próximas ao
escritor colombiano, ele disse a Patricia que ‘ela deveria abandonar o marido,
se ele voltasse’.


Outras fontes, próximas a Vargas Llosa, afirmam que, na mesma noite, García
Márquez cometeu a pior (ou melhor) espécie de traição contra seu amigo Mario.
Mas Vargas Llosa terminou voltando para a mulher, que o informou do conselho
recebido de Gabriel, e do consolo que ele oferecera.


Briga no cinema


A história pára por aí. Algum tempo depois, os dois escritores se
reencontraram. Foi numa sala de cinema na Cidade do México, onde a nata dos
intelectuais latino-americanos estava reunida para a estréia de ‘La Odisea de
los Andes’ [a odisséia dos Andes], um mau filme de René Cardona sobre a
interessante história de um desastre de avião que forçou os sobreviventes,
esportistas uruguaios, a se alimentarem dos restos mortais de seus colegas.


Quando as luzes se acenderam, García Márquez viu Vargas Llosa sentado algumas
fileiras para trás. Caminhou para abraçar o velho amigo. Ao se aproximar,
recebeu um tremendo soco no olho esquerdo.


‘Como você se atreve a me abraçar depois do que fez com Patricia em
Barcelona?’, indagou o peruano, lívido.


O rosto de García Márquez estava sangrando. Um fotógrafo registrou a imagem,
ainda que ela não tenha sido publicada até o último dia 6 de março, com 30 anos
de atraso, pelo jornal mexicano ‘La Jornada’. Em um toque de realismo mágico, um
amigo aplicou um bife obtido de um açougueiro próximo ao olho roxo do
escritor.


Os acontecimentos dos 30 anos seguintes não ajudaram. Além de tentar
encorajar a paz na Colômbia, García Márquez continuou a apoiar o líder comunista
Fidel Castro, com quem desenvolveu estreita associação. De sua parte, Vargas
Llosa sempre criticou ferozmente a ligação entre seu ex-amigo e Castro, e o
definiu como ‘o cortesão’. Enquanto García Márquez se acomodava a Castro, Vargas
Llosa percorria a trajetória política inversa.


Dessa maneira a briga continua. Trata-se, como comentou um observador, de uma
disputa ‘pessoal, prolongada, pública, mesquinha e tão carregada de raiva antiga
que apenas os participantes (ou talvez nem eles) devem saber como começou’. Se a
briga já tinha animosidade, rancor e má vontade recíproca, além de literatura,
política e violência física, agora ela também tem sexo.’




CRÔNICA
Ruy Castro


Leitura de avião


‘Caos aéreo também é cultura. Hoje, quando vou tomar um avião, já zarpo para
o aeroporto equipado com uma minibiblioteca portátil, sabendo que terei tempo de
sobra para ler.


Ano passado, no auge dos apagões, aproveitei idas a Brasília, Belo Horizonte
e Salvador para devorar os quatro volumes de ‘As Obras-Primas que Poucos Leram’,
uma série de ensaios publicados em ‘Manchete’ nos anos 70 e reunidos em livro
pela editora Record. Com Carpeaux escrevendo sobre Flaubert, Cony sobre
Guimarães Rosa e Paulo Mendes Campos sobre T. S. Eliot, os aviões podiam se
atrasar à vontade -porque eu tinha grande material para ler.


Em janeiro e fevereiro, minha leitura caiu a níveis alarmantes. Não porque os
vôos tivessem se normalizado, mas porque não tomei nenhum avião -nada me tira do
Rio no verão e no Carnaval. Com Baco finalmente para trás, fui a São Paulo nesta
semana. Na ida, tudo bem: nos 40 minutos de vôo, li o primeiro volume do
clássico ‘Memórias para Servir à História do Reino do Brasil’, de 1825, pelo
Padre Perereca. Mas, na hora do pouso, o avião teve de voar em círculo por
outros 40 minutos, com o que li o volume 2 do Perereca.


Dois dias na cidade e tomei o avião de volta. Ou tentei tomar. Em Congonhas,
o número do portão no cartão de embarque era um, o anunciado no painel era outro
e o chamado pelo alto-falante, outro. Isso me atrapalhou ler ‘Master of
Villainy’, uma biografia do escritor Sax Rohmer, criador do vilão Fu Manchu.


Embarcamos com uma hora de atraso, e o avião, com todo mundo dentro, ainda
levou mais uma para decolar. Por sorte, eu trazia comigo ‘Lucíola’, de Alencar,
que reli.


E, no vôo, folheei um livro ensinando o cidadão a ficar frio, mesmo que seus
compromissos estejam indo -literalmente- para o espaço.’




TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo diz que mantém ‘projeto olímpico’


‘Apesar de a Record ter comprado os direitos de transmissão da Olimpíada de
2012, em Londres, a Globo afirma que continua apostando no ‘Brasil olímpico’ e
fará campanha para que os Jogos de 2016 sejam disputados no Rio de Janeiro.


A compra dos direitos da Olimpíada de 2012 foi confirmada ontem pelo COI
(Comitê Olímpico Internacional), em nota oficial. A emissora pagará US$ 60
milhões para ter o evento em todas as mídias _o dobro do que todas as TVs da
América Latina desembolsaram pelos Jogos de Atenas.


‘A Globo mantém uma parceria de longo prazo com o COB (Comitê Olímpico
Brasileiro), com o propósito de fazer do Brasil um país olímpico, contribuindo
para a inserção social através do esporte’, disse Octavio Florisbal,
diretor-geral da rede. ‘Na disputa pelos direitos de 2012, perdemos para uma
proposta que não guarda nenhuma relação com a realidade do mercado publicitário
brasileiro. Entretanto, isso não mudará nossos projetos voltados para os
esportes olímpicos.’


Florisbal nega que a Globo vá boicotar os Jogos de 2008, conforme se especula
na emissora, supostamente para não divulgar evento que será da Record daqui a
cinco anos.


‘Faremos uma excelente cobertura do Pan e da Olimpíada de Pequim. E vamos
trabalhar para recuperar os direitos da Olimpíada de 2016, que poderá ser no
Brasil’, concluiu.


CHAPA-BRANCA Em inglês, a nota oficial do COI que confirma a compra dos
direitos da Olimpíada de 2012 pela Record dedica dois longos parágrafos para
apresentar a emissora brasileira. O texto, que omite que a rede pertence à
Igreja Universal, termina dizendo que a Record é ‘conhecida no Brasil como a TV
que está no caminho da liderança de seu segmento’.


CHAPA QUENTE A reunião do conselho curador da TV Cultura que elegeu novos
membros na última segunda terminou com um veto. O nome de Paulo Mendonça,
diretor do Canal Brasil, da Globosat, não foi aceito. O motivo, oficialmente,
foi o de que Mendonça trabalha para um ‘concorrente’. Como se sabe, o Canal
Brasil exibe os mesmos (velhos) filmes que a Cultura…


CAROL NÃO VAI O eliminado no próximo ‘paredão’ de ‘Big Brother Brasil’
ganhará um prêmio de consolação (ou um castigo, dependendo do ponto de vista).
Será ele o escolhido para participar durante uma semana do ‘Big Brother’
argentino. Em troca, o ‘BBB’ receberá um argentino.


DISQUE-BBB 1 ‘Big Brother Brasil’ virou líder do ‘ranking de decoração’ da
Globo, uma lista com os itens de cenários de programas que mais geram
telefonemas de telespectadores interessados em comprá-los.


DISQUE-BBB 2 O objeto de desejo é um quadro composto por esferas que
ornamenta a sala da casa de ‘BBB 7’. As espreguiçadeiras da piscina e os móveis
da cozinha vêm em seguida.’




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