Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

MARKETING POLÍTICO
Melquiades Filho

Beija Sapo

‘BRASÍLIA – O roteiro do programa é simples: pretendentes escondidos por uma máscara de sapo competem pelo direito de beijar uma menina (ou um rapaz). A escolha se dá por meio de perguntas e provas tolas. Tão tolas que parecem boladas para que o casal NÃO tenha idéia um do outro e, desse modo, tornem o mais gratuito possível o amasso que invariavelmente arremata a gincana televisiva.

Ok, o prefeito de São Paulo pode não despertar a volúpia dos adolescentes sarados e salivantes da MTV.

Mas há um quê de Beija Sapo no tititi em torno do nome dele. Gilberto Kassab conseguiu imprimir uma marca à sua gestão, com o elogiável projeto Cidade Limpa.

Meteu o trator em redutos dos rivais, sobretudo na periferia, com o apoio de coronéis municipais como o ‘neodemo’ Milton Leite.

Mostrou que é bom de tática pré-eleitoral ao escolher saúde (os ambulatórios AMAs) e educação (as superescolas CEUs) como prioridades de governo -respectivamente apontados como um ponto fraco e um ponto forte da administração de Marta Suplicy, sua antecessora e provável adversária em 2008.

E marcou presença onde a notícia estivesse, fosse ela boa ou ruim. Mas, se fecha o ano em alta, é também por causa de outra fortaleza detectada nas pesquisas: prefeito sem um único voto, ainda é desconhecido e por isso pouco rejeitado.

Dois estudos de psicologia de Harvard, incluídos pelo ‘New York Times’ na lista das principais inovações das ciências em 2007, ajudam a compreender o fenômeno.

Um, aplicado na medicina, conclui que somos mais felizes quando não temos expectativas. Outro, na economia, que tendemos a fazer uma avaliação mais positiva de um sujeito quando temos poucas (ou ambíguas) informações sobre ele.

Para o sapo Kassab, é bom que continue assim. Não estranhe se a campanha da reeleição, como no programa da Cicarelli, opte por não aprofundar muito as coisas.’

 

CIDADE MARAVILHOSA
Ruy Castro

Bom era antes

‘RIO DE JANEIRO – Outro dia, uma querida cantora interrompeu seu show de bossa nova para se referir ao Rio dos anos 70 como a cidade ‘ainda maravilhosa’, em que se podia andar ‘de olhos fechados’. Em seguida, retomou o repertório cantando ‘Carta do Tom’, em que Jobim dizia: ‘Rua Nascimento Silva, 107/ Eu saio correndo do pivete/ Tentando alcançar o elevador…’ Uma canção dos anos 70.

Nessa época, já se via a década anterior, a de 60, como a dos ‘anos dourados’, em que Ipanema, segundo Vinicius, ‘era só felicidade’. Para o exigente Paulo Francis, no entanto, a decadência do Rio começara, olha só, em 1960. Bom era antes, até 1959, quando ele flanava por Copacabana com Antonio Maria e Ivan Lessa. Ali, sim, dizia Francis, o Rio era a Cidade Maravilhosa.

Mas, ao pesquisar material de 1955, quando morreu Carmen Miranda, li várias entrevistas de amigos de Carmen lembrando-se de que a tinham conhecido em 1930, ‘quando o Rio ainda era a Cidade Maravilhosa’. Quer dizer que o Rio de 1955 não era mais a Cidade Maravilhosa, e sim o de 1930?

Ao recuar para 1930, vejo Di Cavalcanti, com 33 anos, queixando-se da ‘destruição do Rio’, principalmente de Copacabana, pelos edifícios que começavam a ser construídos -justamente os palácios art déco que, um dia, iriam empolgar Paulo Francis. Para Di Cavalcanti, o Rio paradisíaco era o de sua juventude, cerca de 1915, com uma Copacabana ainda toda areal, pré-Copacabana Palace.

Será? Pois, em 1915, Lima Barreto estava esbravejando contra a superurbanização da cidade, o desmonte dos morros e a inocência perdida em 1904 com o bota-abaixo do prefeito Pereira Passos. Bom era antes. E por aí vai. O carioca não se contenta nunca, e não é de hoje. Aliás, no tempo de Estácio de Sá, em 1565, o pessoal já reclamava à beça.’

 

MEIO AMBIENTE
Claudio Angelo

O ano em que ficamos ‘sustentáveis’

‘DOIS MIL E SETE já garantiu seu lugar na história como o ano em que nos tornamos sustentáveis. Ou melhor, ‘sustentáveis’. Assim mesmo, entre aspas.

Neste ano, vimos a verdade inconveniente da mudança climática se transformar em verdade inconteste pelas mãos do IPCC, sigla que já dispensa explicações. O aquecimento global saiu do gueto dos abraçadores de árvore para ganhar as manchetes dos jornais (três vezes só nesta Folha), virar tema de conversa de boteco, levar um Prêmio Nobel e -glória suprema- decidir a eleição em um país rico, a Austrália.

Nunca antes na história deste planeta se ouviu tanto a palavra ‘sustentável’, e de fontes tão insuspeitas: de propagandas de bancos a anúncios de governo a discursos de George W. Bush. Exatos 20 anos após ter sido cunhado, o conceito de sustentabilidade atinge o auge da fama- e da apropriação indébita.

As instituições financeiras nacionais gastam milhões em anúncios de TV, imprimem cheques em papel reciclado e criam linhas de financiamento para o consumidor ‘sustentável’ comprar sua picape a diesel e compensar suas emissões plantando arvorezinhas. Fariam muito mais pelo país e pela sustentabilidade (sem aspas) se parassem de financiar os pecuaristas e outros ‘heróis’ do agronegócio que desmatam ilegalmente a Amazônia e elevam as emissões de CO2 do Brasil.

O governo Lula, em sua esquizofrenia ambiental, comemora a queda no desmatamento e promove o álcool como solução ‘sustentável’ para o efeito estufa ao mesmo tempo em que leiloa termelétricas a carvão. Depois encontra petróleo na bacia de Santos e silencia sobre os efeitos climáticos do ‘Brasil na Opep’. Um membro do governo afasta temores de que isso vá transformar o país num grande emissor de gás carbônico: ‘O petróleo será exportado’, tranqüiliza. Por essa lógica, a Arábia Saudita é perfeitamente ‘sustentável’. Brasília faria mais pela sustentabilidade se aposentasse a obsessão stalinista do gabinete por térmicas e por grandes hidrelétricas na Amazônia e investisse em eficiência energética (até a China faz isso!), renováveis e, se não der para resistir, em energia nuclear.

Por fim, os diplomatas dariam uma grande contribuição se boicotassem a tal reunião das ‘Grandes Economias’ convocada por Bush para janeiro. O atual governo americano tentou e quase conseguiu transformar a conferência do clima num fracasso. Oferece como alternativa uma feira de negócios. Já é mais do que hora de passar a borracha sobre Bush e esperar os democratas assumirem.

Enquanto nada disso acontecer, aspas insustentáveis pairam sobre 2008.

CLAUDIO ANGELO é editor de Ciência’

 

SEQÜESTRO
Fabiano Maisonnave

Chávez inicia missão para buscar reféns

‘Vestido de militar e acompanhado de um grupo eclético que incluía o ex-mandatário argentino Néstor Kirchner e o diretor Oliver Stone, o presidente Hugo Chávez deu início ontem à tarde à missão de recuperação de três colombianos seqüestrados pelas Farc.

Com transmissão ao vivo por vários canais de TV venezuelanos, a operação começou com uma ‘inspeção’ das aeronaves feita por Chávez e pelos enviados especiais de seis países convidados pela Venezuela, entre os quais o brasileiro Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência.

A primeira fase da operação teve início no aeroporto de Santo Domingo, no Estado de Táchira (oeste), fronteiriço à Colômbia. Dois helicópteros venezuelanos identificados com o símbolo da Cruz Vermelha Internacional partiram por volta das 15h20 locais com destino à cidade colombiana de Villavicencio.

No destino, os tripulantes -incluindo delegados da Cruz Vermelha-foram recebidos pelo alto comissário colombiano para a Paz, Luis Carlos Restrepo. ‘A partir deste momento, começamos uma operação coordenada com muita discrição’, disse Restrepo.

Os helicópteros partirão para buscar os seqüestrados em local e horário determinados pelas Farc. Segundo Garcia, os observadores embarcarão hoje, até meio-dia, rumo a Villavicencio, mas não há data marcada para a entrega dos reféns.

Demonstrando bom humor, Chávez estendeu um grande mapa na pista do aeroporto de Santo Domingo para falar da operação. Ao se referir a Kirchner, disse a jornalistas que o acompanhavam, quase todos de meios estatais: ‘Quando entregar a Presidência, vou descansar uns três meses. Kirchner a entregou há algumas semanas e está aqui na batalha e já quer ir no helicóptero’.

Em resposta, o argentino cutucou Chávez e brincou: ‘E você, quando vai entregar a Presidência?’. O venezuelano respondeu em inglês: ‘I really don’t know, I really don’t know (realmente, não sei)’.

No início do mês, Chávez perdeu o referendo sobre uma reforma constitucional que incluía a reeleição sem limites, mas já disse que vai reapresentar a proposta antes do fim de seu mandato, em 2013.

Após a decolagem das aeronaves, Chávez disse que seguirá tentando liberar os reféns, apesar do seu papel de mediador ter sido suspenso pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe, no mês passado.

‘Vou continuar em contato com as Farc’, disse Chávez. ‘Apesar dos pratos quebrados pelo que ocorreu, se o presidente Uribe me autorizar, eu vou onde estiver [o líder máximo da guerrilha, Manuel] Marulanda. Sou capaz de esquecer tudo o que passou para retomar o caminho da liberação.’

A mediação de Chávez foi interrompida no final do mês passado por Uribe, sob a alegação de que o colega venezuelano havia descumprido um acordo para não se comunicar com militares colombianos.

No bate-boca que se seguiu, Chávez chamou Uribe de ‘triste peão do império’, enquanto o colombiano disse que o colega era um ‘legitimador do terrorismo’ e aliado das Farc.

No último dia 18, a guerrilha colombiana anunciou a disposição de libertar três reféns em ‘desagravo’ ao trabalho de Chávez. Serão liberados Clara Rojas -assessora da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, ambas seqüestradas em 2002-, a ex-deputada Consuelo Gonzalez -raptada em 2001- e Emmanuel, de apenas três anos, nascido em cativeiro e filho de Rojas e de um membro das Farc. Anteontem, Chávez rebatizou a missão com o nome do menino.’

 

Folha de S. Paulo

Cineasta Oliver Stone filmará a operação

‘Fã declarado de Chávez, o cineasta americano Oliver Stone deverá filmar a entrega dos três reféns colombianos pelas Farc. O diretor de ‘Nascido em 4 de Julho’ disse ontem, em rápida entrevista ao lado de Chávez, que o líder venezuelano é ‘um grande homem’ e confirmou que participará da ‘missão humanitária’ para recuperar os três seqüestrados. Disse que está na Venezuela realizando um documentário ‘sobre a América Latina e sobre os EUA’. Questionado diretamente se filmaria a entrega dos reféns, foi interrompido pelo presidente do canal de TV Telesur, Andrés Izarra, que encerrou a entrevista: ‘Não podemos dar esse detalhe’.’

 

LIVROS
Sylvia Colombo

‘Ida aos documentos evitará cisões’

‘O historiador carioca João Fragoso, 49, causou uma tremenda confusão na academia quando, no ano passado, em uma entrevista à Ilustrada, chamou alguns colegas da USP, marxistas mais extremos, de ‘xiitas’, por viverem num último reduto de discussão das ‘teorias da dependência’.

‘Hoje percebo que não deveria ter usado aquele termo.

Muitos pesquisadores, inclusive amigos, se sentiram ofendidos. Eu me referia só a alguns historiadores mais radicais. Ainda assim, foi um equívoco.’

Fragoso acaba de lançar ‘Conquistadores e Negociantes – Histórias das Elites no Antigo Regime nos Trópicos/América Lusa, séculos 16 a 18’, coletânea de artigos dele e de colegas do grupo de estudos voltado a este tema na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde leciona.

Apesar de reconhecer o exagero da expressão com que designou os paulistas, Fragoso segue firme nas críticas à tendência da ‘turma de São Paulo’ de ver a história do Brasil a partir do binarismo metrópole x colônia, ou senhor x escravos.

Assim como seus colegas da ‘turma do Rio’, Fragoso é adepto da idéia de que houve menos um rompimento e mais uma continuidade no processo de independência do Brasil.

A dinâmica interna do enriquecimento de comerciantes brasileiros que operavam o tráfico de escravos, para este grupo, teria sido o motor da cisão. No artigo ‘Fidalgos e Parentes de Pretos’, Fragoso acompanha trajetórias de personagens atuantes da elite carioca nos séculos 17 e 18. Distingue, principalmente, dois grupos: o da nobreza principal da terra, que descendia dos primeiros conquistadores, e o dos comerciantes que começariam a chegar em grande número depois.

Apesar da relação explosiva e do ‘clima de teimosia’ que imperava entre ambos os grupos, reforça o historiador, nenhum deles almejava, naquele momento da história, pelo menos, romper com a metrópole.

A disputa, pelo contrário, era mais para que pudessem passar a fazer parte da aristocracia e, com isso, ter a atenção do rei português e o acesso às chamadas ‘mercês’, ou seja, terras, cargos administrativos e outros benefícios.

Desse modo, Fragoso delineia um conceito de Antigo Regime nos trópicos, que teria surgido de uma fissura do modelo que se configurava na metrópole, mas que funcionava com os mesmos velhos instrumentos. ‘Exigir direito por ter chegado antes, por pertencer a determinada família, por prestar serviços à coroa e, com isso, se considerar merecedor de mercês são códigos do Antigo Regime europeu, reproduzidos por esses grupos aqui.’

A diferença seria que, numa sociedade que enriquecia rapidamente, como o Rio de Janeiro do século 18, as chances de ‘plebeus’ acumularem divisas era muito grande. Ao mesmo tempo, crescia a dependência de nobres pobres pelos novos comerciantes ricos.

‘Entender a mobilidade social dos indivíduos entre esses grupos é fundamental para perceber a complexidade da composição da elite da época.’ Para isso, porém, ele considera necessário deixar um pouco de lado o conceito de ‘classe’.

‘Faço críticas ao marxismo, com respeito, até porque também me formei dentro dele.

Mas é preciso admitir que ele fez um imenso estrago ao dizer que tudo se resolvia na luta de classes e o mau seria sempre o senhor de terras. Aí então não precisa nem ir olhar os documentos. Você já sai com a conclusão fechada. É óbvio que isso impede uma compreensão do que era aquela sociedade tão heterogênea e peculiar’, diz.

Senhores e escravos

Fragoso costuma ser duramente criticado quando sugere que havia uma espécie de acordo entre senhores e escravos e que este teria permitido que a escravidão durasse tanto tempo no Brasil. Ele defende que existia uma troca de favores entre ambos, e que o escravo era cúmplice da própria situação que determinava seu cativeiro.

‘Não havia aqui campos de concentração ou de extermínio. Os escravos recebiam algo em troca e barganhavam com os senhores. É claro que essa negociação se dava dentro de um ambiente extremamente hierárquico. Mas é desinformação achar que os negros chegavam ao Brasil e a escravidão surgia na vida deles como se fosse uma novidade.’

Fragoso lembra que a desigualdade e a servidão eram constantes nos países africanos de onde vinham. ‘Eles conheciam a escravidão melhor até que os próprios portugueses! Agora, os marxistas gostam de achar que os negros desembarcavam aqui tendo consciência da exploração, como se tivessem lido o E.P. Thompson [historiador marxista britânico, 1924-1993]. É ridículo.’

A documentação sobre batismos de negros, diz Fragoso, tem ainda muito a dizer sobre as relações de compadrio entre senhores e escravos de certas fazendas com os de outras.

‘Havia ainda hierarquia entre os negros nas senzalas. Era um sistema complexo que funcionava na base de favores e regalias. Pode-se dizer que o escravo era um cúmplice na manutenção daquela desigualdade’

Menos blablablá

Temas polêmicos assim não podem deixar de causar cisões entre os estudiosos. Fragoso sabe bem quem são seus opositores, mas é otimista quanto ao rumo dos debates.

‘A democratização do país, o amadurecimento da nossa cultura política por si só vai derrubar essas igrejas, esses ícones locais, essa coisa de ‘eu sigo fulano e não beltrano’. Isso é coisa do tempo dos coronéis.’ Fragoso diz que tem sido chamado de ‘empirista’ por pedir mais a atenção dos colegas para as fontes primárias.

‘Quando deixarmos um pouco de lado as discussões teóricas e nos voltarmos com mais afinco às fontes primárias, aí sim creio que vamos superar as diferenças ideológicas e aprofundar o conhecimento sobre o Brasil.’

CONQUISTADORES E NEGOCIANTES

Organizadores: João Fragoso, Carla Maria Carvalho de Almeida e Antonio Carlos Jucá de Sampaio

Lançamento: Civilização Brasileira

Quanto: R$ 55 (462 págs.)’

 

Manuel da Costa Pinto

O apocalipse moral de Tolstói

‘CATILINÁRIA CONTRA o amor e o casamento; prédica pela extinção da arte e da humanidade. É esse o conteúdo de uma das novelas mais perturbadoras de Tolstói: ‘A Sonata a Kreutzer’, recém-traduzida por Boris Schnaiderman.

Sob vários aspectos, é um livro tão repulsivo quanto a imagem do sexo que Tolstói insiste em pintar com tosco moralismo. Ao mesmo tempo, é prova de que a escrita romanesca vive das próprias contradições.

‘A Sonata a Kreutzer’ tem intenções catequéticas. Ao final da vida, o autor de ‘Ana Karênina’ entrara em crise religiosa, renunciando aos privilégios de nobre latifundiário e renegando toda arte distanciada do povo. Esse retorno à simplicidade da igreja primitiva e da vida camponesa -tema da novela ‘Padre Sérgio’ e do ensaio ‘O Que É a Arte?’ -mostram aqui seu caráter inquisitorial.

Na trama, o narrador viaja de trem em companhia de um grupo que representa a moderna sociedade russa. Quando a conversa deriva para a questão do divórcio, um dos personagens se apresenta como Pózdnichev -protagonista de um famoso crime passional.

Tem início uma arenga na qual este conta como o casamento, que deveria tê-lo curado da devassidão, tornou-se um inferno cotidiano, culminando na desconfiança de que a mulher o traía com um violinista (ao lado de quem executara a sonata de Beethoven que dá título à novela).

Adultério e ciúmes são decorrência lógica do diagnóstico que Pózdnichev faz da vida conjugal como ‘ligação suína’ marcada pela ‘excitação sistemática da luxúria’: conforme o desejo arrefece, diz ele, os cônjuges caem num rancor que nada mais é do que o ‘protesto da natureza humana contra o animal que a esmagava’.

Tolstói define as esposas como ‘prostitutas a prazo longo’, contesta a liberdade de escolha dos parceiros e considera os métodos contraceptivos um instrumento bestializante. A argüição, entretanto, é igualmente chocante para mentes iluministas e religiosos fundamentalistas.

Pózdnichev não prega em nome dos valores familiares ou de uma igreja conservadora. Seu cristianismo primitivo é revolucionário na medida que tudo nega: em ‘A Sonata a Kreutzer’, música e adultério são emblemas da concupiscência, de um amor pela criatura à qual se contrapõe a lei do Criador.

Ocorre que, sendo a paixão um obstáculo à lei, só resta a abstinência absoluta, com a conseqüente extinção da raça: ‘Para que deve continuar a espécie humana? (…) De acordo com todos os ensinamentos religiosos, o fim do mundo há de chegar um dia, e o mesmo ocorrerá também, inexoravelmente, segundo todos os ensinamentos científicos.

O que há para se estranhar, portanto, se o mesmo resulta da doutrina moral?’, pergunta Pózdnichev. Poucos ateus teriam uma imaginação mais niilista do que o evangélico Tolstói.

A SONATA A KREUTZER

Autor: Lev Tolstói

Tradução: Boris Schnaiderman

Editora: 34

Quanto: R$ 29 (120 págs.)

Avaliação: ótimo’

 

Mario Gioia

‘Matisse foi o pintor paradigmático’

‘‘O pintor moderno paradigmático.’ Assim o crítico de arte, curador e ex-professor do Royal College of Art, o alemão Robert Kudielka, resume à Folha a importância de Henri Matisse (1869-1954) nas artes plásticas. Um dos grandes especialistas em vanguardas do começo do século 20, Kudielka celebra o lançamento no Brasil de ‘Matisse – Escritos e Reflexões sobre Arte’, grande volume de 400 páginas que a Cosac Naify acabou de colocar nas livrarias.

O próprio Kudielka terá ensaio publicado em outra edição sobre Matisse que a editora lançará até abril. A crítica de arte, curadora e professora da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) Sonia Salzstein é a organizadora do livro, que também contará com textos do britânico T.J. Clark e do carioca Ronaldo Brito, entre outros.

‘Ele [Matisse] se destaca entre os grandes artistas do século 20 por ter sido o pintor moderno paradigmático: atravessou todas as crises de um artista não amparado em nenhuma tradição e mostrou, nas suas várias transformações, que a redescoberta e o aprendizado integral da pintura a partir dos seus próprios fundamentos podem ser a tarefa de uma vida criativa’, afirma Kudielka.

No livro, o organizador Dominique Fourcade divide em capítulos algumas das questões fundamentais da pintura de Matisse, como o conflito entre o desenho e a cor, e suas diversas fases, como a do início de sua trajetória, ligada ao fauvismo, a dos trabalhos da Fundação Barnes, iniciados em 1931, nos EUA, e a série ‘Jazz’, publicada em livro em 1947.

Há também vários textos e depoimentos de Matisse, incluindo o essencial ‘Notas de um Pintor’, de 1908, onde ele comenta sua busca por uma depuração plástica. ‘Há duas maneiras de exprimir as coisas: uma é mostrá-las brutalmente, a outra é evocá-las com arte. Ao nos afastarmos da representação literal do movimento, chegamos a uma maior beleza e uma maior grandeza’, escreve.

‘A liberdade que Matisse reivindicou e concretizou em sua arte não é a da expressão subjetiva imediata. Ele percebeu que os sentimentos só podem ser expressos na pintura se eles atingirem uma forma comunicável. É o cerne da sua concepção de arte’, diz Kudielka.

‘A partir dessa contradição criativa compreendemos porque a sua pintura nunca é agitada ou exaltada, mas mais suave e resignada.’

Tradução de PETER NAUMANN

MATISSE – ESCRITOS E REFLEXÕES SOBRE ARTE

Organizador: Dominique Fourcade

Tradução: Denise Bottmann

Editora: Cosac Naify

Quanto: R$ 120 (400 págs.)’

 

Marcelo Pen

Cuidados com o estilo definem produção de jovens da ‘Granta’

‘A revista ‘Granta’ firmou-se como descobridora de novos talentos na seara da literatura britânica e norte-americana. Sua escolha dos melhores jovens ficcionistas dos dois lados do Atlântico (a última seleção, americana, acaba de sair pela Alfaguara) sempre recebe a atenção da crítica. O mesmo ocorre com quase qualquer obra que ela lança.

É o caso de ‘The New Granta Book of the American Short Story’ (o novo livro da Granta de contos americanos), cuja primeira edição, de 1992, reuniu autores como John Cheever e Raymond Carver.

No volume recém-publicado, o editor Richard Ford juntou ao velho time estreantes como Nell Freidenberg, Z.Z. Packer e Nathan Englander.

O conto deste último – ‘Os Acrobatas’ – está contido em ‘Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis’, que o autor lançou com apenas 28 anos.

Temática judaica

O livro de Englander versa sobre o universo singular dos judeus ortodoxos, em histórias que se desenrolam em diversos lugares e épocas.

No geral, o conjunto incorre em mais êxito do que desdouro (uma exceção é a história que dá nome ao volume, a qual, a despeito do bom título e do ponto de partida, mostra-se frouxa e moralista).

‘Os Acrobatas’ trata da sorte inusitada de alguns judeus poloneses, durante a Segunda Guerra Mundial. Uma controvérsia divide o gueto da pequena cidade de Chelm. Diz respeito ao édito que os obriga a carregar consigo, em uma viagem, apenas ‘artigos essenciais’.

No que consistiriam esses itens? Uma facção rabínica, mais liberal, diz que essencial refere-se a tudo de que alguém precisaria para ‘estocar uma casa de veraneio’.

O partido mais rígido -e menos popular- dita que indispensável mesmo seria apenas a roupa de baixo. Nada afora isso seria permitido, nem mesmo os atavios religiosos.

Trajando incongruentes ceroulas de pernas e mangas longas, eles embarcam no trem. É seu trunfo, pois, confundidos com acrobatas de um circo, têm a chance de se salvar. O parágrafo final dessa fábula bem narrada, que não descuida do humor mesmo em face do horror, é exemplar.

O zelo com o estilo e o tom de moralidade também se percebem na primeira história do livro, ‘O Vigésimo Sétimo Homem’, que narra a história de um grupo de escritores judeus soviéticos condenados ao cadafalso por Stalin. Como nas narrativas de Kafka, não se sabe bem do que os acusam e, salvo pelo fato de todos escreverem em iídiche, há pouca semelhança entre eles.

A impotência do homem diante do destino inescrutável e opressor é a tônica não só desse conto, mas da coletânea como um todo.

Dores do dia-a-dia

Opressão de outra monta corrói o cotidiano dos personagens de ‘Azul Alentejo’, de Monica Ali, jovem romancista britânica que figurou na seleção da Granta de 2003.

Monica desloca o foco dos bangladeshianos de ‘Um Lugar Chamado Brick Lane’ para um punhado de personagens de uma aldeia fictícia do Alentejo.

Em comum ao dia-a-dia de camponeses e comerciantes portugueses e de expatriados e turistas ingleses, que percorrem o cenário alentejano, a um tempo bucólico e desolado, está o peso de algo sinistro e inominável que lhes cola à alma.

Cada um lida com sua dor a seu modo, embora Monica nunca mostre ao leitor o que verdadeiramente assombra esses personagens.

Cada história é narrada sob o ponto de vista de um deles e todas se cruzam de modo sutil, apesar de não haver um elo romanesco mais rigoroso a uni-las. Exceto o Alentejo, é claro -e o sentimento de desolação.

Como Englander, a autora revela cuidado com a escrita.

Pena que não evite certos lugares-comuns. Ainda que bela, sua visão do Alentejo e de seus moradores soa artificial.

Ela se sai melhor quando contempla seus compatriotas britânicos. Sua descrição de um grupo deles tentando arrastar o cadáver de uma vaca é simples, terrível e eficiente.

De prosa assim também se faz o melhor da nova geração.

PARA ALÍVIO DOS IMPULSOS INSUPORTÁVEIS

Autor: Nathan Englander

Tradução: Lia Wyler

Editora: Rocco

Quanto: R$ 36 (224 págs.)

Avaliação: ótimo

AZUL ALENTEJO

Autor: Monica Ali

Tradução: Léa Viveiros de Castro

Editora: Rocco

Quanto: R$ 37,50 (264 págs.)

Avaliação: regular’

 

 

MÍDIA & POLÍTICA
Deborah Solomon

‘Fenômeno Berlusconi’ pode se repetir, diz Eco

‘‘NEW YORK TIMES MAGAZINE’ – O filósofo italiano Umberto Eco, autor do recém-lançado ‘A História da Feiúra’ (ed. Record, R$ 127), explica por que os políticos podem um dia governar por meio da mídia, o que a Itália ensinou ao mundo e como ele inventou o autor de best-sellers Dan Brown.

PERGUNTA – Embora o sr. seja mais conhecido como o autor de ‘O Nome da Rosa’, também é comentarista político cujos ensaios foram reunidos no livro ‘Turning Back the Clock’, em que lança um aviso sobre os perigos do ‘populismo midiático’. Como definiria esse termo?

UMBERTO ECO – Populismo midiático significa apelar às pessoas diretamente por meio da mídia. Um político capaz de dominar a mídia pode influir sobre assuntos políticos fora do Parlamento e até eliminar a intermediação do Parlamento.

PERGUNTA – Boa parte do livro é um ataque a Silvio Berlusconi, o ex-premiê da Itália que usou seu império de mídia para promover seus objetivos políticos próprios.

ECO – Entre 1994 e 1995, e de 2001 a 2006, Berlusconi foi o homem mais rico da Itália, o primeiro-ministro, dono de três canais de televisão e controlador dos três canais pertencentes ao Estado. Ele é um fenômeno que poderia acontecer em outros países, e talvez esteja acontecendo. E o mecanismo será o mesmo.

PERGUNTA – Nos EUA, há a FCC [sigla em inglês para Comissão Federal de Comunicações] e outros órgãos federais para impedir o surgimento do tipo de monopólio que permitiria a um político controlar jornais e emissoras.

ECO – Nos Estados Unidos ainda existe uma grande separação entre a mídia e o poder político, pelo menos em princípio.

PERGUNTA – Então por que qualquer outro país além da Itália correria o risco de sofrer o domínio da mídia que o sr. descreve?

ECO – Uma das razões pelas quais os estrangeiros se interessam tanto pelo caso italiano é que, no século passado, a Itália foi um laboratório. Isso começou com os futuristas. Seu manifesto saiu em 1909. Depois foi o fascismo -foi testado no laboratório italiano e depois migrou para a Espanha, os Bálcãs e a Alemanha.

PERGUNTA – O sr. está dizendo que a Alemanha tirou a idéia do fascismo da Itália?

ECO – Com certeza. De acordo com o que dizem os historiadores, foi isso o que aconteceu.

PERGUNTA – Talvez apenas os historiadores italianos digam isso.

ECO – Se você não gosta da história, não a relate. Para mim, não faz diferença.

PERGUNTA – O sr. quer dizer que a Itália criou tendências na moda (ou arte) e no fascismo?

ECO – Sim, OK. Por que não?

PERGUNTA – O que o sr. acha do sucessor de Berlusconi, Romano Prodi, que foi eleito em 2006 e deslocou o governo para a esquerda?

ECO – Ele é um amigo. Gosto dele, mas acho que foi dominado pelas disputas internas dentro de sua própria maioria, após a eleição. Berlusconi tem a vantagem de ser um grande ator. Prodi não é um ator, o que não é crime, mas é um ponto fraco.

PERGUNTA – Prodi é intelectual, em oposição ao homem de negócios?

ECO – Sim, ele foi professor de economia. No início dos anos 90, Prodi era professor em um de meus programas. De repente, partiu para a política.

PERGUNTA – O sr. se refere ao departamento de comunicações da Universidade de Bolonha, onde é professor de semiótica?

ECO – Eu me aposentei neste mês. Estou com 75 anos.

PERGUNTA – Alguma vez o sr. teve vontade de entrar para a política?

ECO – Não, porque acho que cada um tem que fazer seu próprio trabalho.

PERGUNTA – O sr. se vê principalmente como romancista?

ECO – Sinto que sou um acadêmico que escreve romances apenas com a mão esquerda.

PERGUNTA – Me pergunto se o sr. terá lido ‘O Código Da Vinci’, de Dan Brown, que alguns vêem como a versão pop de ‘O Nome da Rosa’.

ECO – Fui obrigado a ler o livro porque todo mundo estava me perguntando sobre ele. Minha resposta é que Dan Brown é um dos personagens de meu romance ‘O Pêndulo de Foucault’, que fala de pessoas que começam a acreditar em coisas ligadas ao ocultismo.

PERGUNTA – Mas o sr. mesmo parece interessar-se pela cabala, a alquimia e outras práticas ocultas tratadas no livro.

ECO – Não, em ‘O Pêndulo de Foucault’ escrevi a representação grotesca desse tipo de pessoa. Assim, Dan Brown é uma de minhas criaturas.

PERGUNTA – Faz diferença para o sr. se as pessoas estarão lendo seus romances daqui a cem anos, ou não?

ECO – Se alguém escreve um livro e não se preocupa com a sobrevivência desse livro, é um imbecil.

Tradução de CLARA ALLAIN’

 

DIA DE CIRCO
Mônica Bergamo

‘Vamos, gente! Cantem!’

‘A ex-BBB Grazi Massafera chega apressada e com os cabelos molhados à estréia do espetáculo ‘Alegría’, do Cirque du Soleil, na quinta, no Rio. São 21h30 e a apresentação, prevista para as 21h, já começou. ‘Me atrasei porque estava gravando numa cachoeira em Petrópolis até quase agora’. A atriz de ‘Desejo Proibido’, novela das seis da Globo, diz estar ‘a trabalho’ na platéia. Recebeu cachê? ‘Bom… a gente precisa, né?’.

Grazi é garota-propaganda de um patrocinador da turnê.

Ao contrário de 2006, quando pôde captar R$ 9,4 milhões de empresas privadas para ‘Saltimbanco’ via Lei Rouanet -que isenta os doadores de pagamento de impostos -, o Cirque du Soleil não conseguiu incentivo fiscal do governo em 2007. ‘Alegría’ até tentou, mas o Ministério da Cultura negou o pedido. ‘O MinC consertou o erro do passado’, diz Fernanda Montenegro, que vê o espetáculo da primeira fila com o marido, Fernando Torres. No intervalo do musical, a atriz conversou com a coluna:

FOLHA – O que acha de grandes espetáculos estrangeiros usarem os benefícios da Lei Rouanet?

FERNANDA MONTENEGRO – É uma deformação. A gente vê uma política de não-atendimento [para as produções independentes], enquanto os cofres públicos se abrem para essas grandes produções.

FOLHA – Por que isso ocorre?

FERNANDA – Falta espírito de justiça. Deve-se incentivar essas produções só se estiver sobrando dinheiro para atender a todos. E não está sobrando. Neste caso [em que o governo recusou o incentivo] houve um ajuste da lei e o governo pôde consertar um erro do passado.

FOLHA – Acompanhou o furto do Masp, em São Paulo?

FERNANDA – Esta não é a primeira nem a última vez que roubam nosso patrimônio histórico. E sabe por quê? Porque logo cai no esquecimento e daí, ó, é tchau.

A atriz é interrompida por um garçom que serve a ela e ao marido uma bandeja com petiscos e água fresca. Fernanda repousa o copo sobre o palco e tenta retomar o raciocínio, até ser avisada por um segurança: ‘É proibido apoiar objetos aqui’. Ela se desculpa, retira o copo e completa: ‘Se os talentos do Brasil tivessem patrocínio, chegaríamos ao nível de esplendor do Cirque du Soleil.’

Artistas que passam pelo evento, como Reynaldo Gianecchini e Marcelo Faria, afirmam ‘adorar circo’. A top Raica Oliveira tem restrições. ‘Não gosto muitos de uns circos que existem por aqui, com um monte de palhaço sem graça. E também não é a qualquer circo que a gente vai, né? Tem que ser especial, único, como o Cirque du Soleil, que é superconcorrido, todo mundo quer ir’.

‘Não aceitaram meu cheque, me empresta dinheiro aí’, pede a socialite Narcisa Tamborindeguy para um amigo, na saída do evento. Com R$ 100 na mão, ela tenta fazer compras na feirinha de produtos do circo. Acaba levando dois DVDs de ‘Alegría’, por R$ 45 cada. Narcisa esquece o troco com o vendedor e posa para fotos com crianças ‘carentes’ que levou ao espetáculo. Ela mesma puxa o coro: ‘Nar-ci-saaa! Cadê vocêêê? Eu vim aqui só pra te veeeer’. Após repetidas tentativas, sem sucesso, suplica: ‘Vamos, gente! Cantem!’.’

 

TELEVISÃO
Lucas Neves

Especial busca atualidade de Orfeu

‘‘Todo mito é uma narrativa que pretende fazer uma revelação, dizer alguma coisa que não cabe nas palavras.’ Assim é aberto o documentário ‘Orfeu Hoje’, que o Canal Futura exibe hoje. O filme parte de uma encenação da ópera de Monteverdi no Municipal do Rio para mostrar que a peleja do poeta pelo amor de Eurídice, ainda que originária da Grécia Antiga, não ficou datada. Aqui e ali, depoimentos de Adriana Calcanhotto, Antonio Cicero, Pedro Süssekind e outros sustentam a proposição.

Para Süssekind, Orfeu segue contemporâneo porque ‘simboliza a própria inspiração poética’. Já a artista plástica Beatriz Milhazes vê na ‘idéia do divino, do poder da natureza’ a força do mito helênico.

Por seu lado, a editora Heloisa Buarque de Hollanda diz identificar-se com o dono da lira pelo caráter visceral de suas paixões: ‘Encarei o inferno [onde Orfeu vai buscar Eurídice] em todo amor que tive’.

Por fim, Cacá Diegues rememora o ‘Orfeu da Conceição’ (1956) de Vinicius de Moraes e lembra o seu espanto ao assistir, em 1959, à adaptação do musical para o cinema (‘Orfeu Negro’, de Marcel Camus).

‘Não tinha nada a ver com a peça do Vinicius. Falei: um dia eu vou fazer esse filme.’ Quatro décadas depois, chegaria aos cinemas o seu ‘Orfeu’. (LUCAS NEVES)

ORFEU HOJE

Quando: hoje, às 21h

Onde: Canal Futura’

 

CINEMA
Silvana Arantes

Reserva para filme brasileiro não muda

‘A reserva de mercado para o filme brasileiro em 2008 será idêntica à de 2007. Decreto publicado no ‘Diário Oficial’ de ontem fixa para o ano que vem o mesmo número de dias de exibição obrigatória de filmes nacionais que os cinemas tiveram de cumprir neste ano.

A cota de tela -como é denominado o mecanismo- será de 28 dias para salas individuais. O número aumenta para salas localizadas em complexos.

Num multiplex de seis salas, cada uma deve exibir filmes brasileiros durante pelo menos 63 dias. A contagem deve incluir um mínimo de seis títulos diferentes. Os exibidores que descumprirem a cota de tela estão sujeitos a multa pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).

A manutenção da cota de tela no mesmo padrão de 2007 contraria reivindicação dos cineastas, pelo seu aumento, e dos exibidores, pela sua redução.

Em reunião com a Ancine, representantes dos diretores de cinema solicitaram aumento de 15% no índice, com o argumento de que a produção de filmes nacionais está aquecida.

Os exibidores, por sua vez, reivindicaram redução da cota, alegando que, embora o volume de produção de filmes brasileiros esteja aumentando, é restrito o número de títulos que atraem o público. Eles dizem que, para cumprir a obrigatoriedade, têm de manter filmes em cartaz com salas vazias.

Em 2007 foram lançados 82 longas brasileiros. Apenas ‘Tropa de Elite’, de José Padilha, figura no ranking dos dez filmes mais vistos no país -em sétimo lugar, com 2,4 milhões de espectadores, segundo dados do portal Filme B.

O presidente da Ancine, Manoel Rangel, disse que a agência ‘levou em conta o comportamento do mercado em relação aos filmes e a quantidade de filmes brasileiros lançados [em 2007]’, para decidir que a cota de tela de 2008 fosse mantida idêntica à de 2007.

Segundo Rangel, apesar do aumento do número de estréias brasileiras em 2007, ‘não houve relato, ao longo do ano, de dificuldades para que os títulos chegassem às salas’.

A eventual dificuldade para lançar comercialmente longas nacionais ‘poderia ser algo que apontasse a necessidade de aumentar a cota de tela’, de acordo com o presidente da Ancine.

Ícaro Martins, presidente da Associação Paulista de Cineastas, que reivindicou o aumento da cota de tela, disse que ‘sabia que a proposta era polêmica’ e espera que a Ancine atenda as outras demandas da categoria, ao regulamentar o decreto.

Além do aumento da cota de tela, os cineastas pediram que seja obrigatório exibir trailers de filmes brasileiros em todas as sessões e que haja um limite percentual à ocupação de salas dos multiplex por um único filme, nacional ou estrangeiro.’

 

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