Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo


MÍDIA & RELIGIÃO
Leandro Beguoci e Elvira Lobato


Papa condena ‘ferida do divórcio’, reage às ‘seitas’ e enquadra CNBB


‘Durante encontro com bispos, reunidos na catedral da Sé, no centro de São
Paulo, o papa fez seu mais duro discurso na visita ao Brasil. Disse que em nome
dos direitos e da liberdade individual, atenta-se contra a dignidade do ser
humano, referindo-se ao aborto, e que alastra-se a ‘ferida do divórcio’ e das
uniões livres. Admitiu a perda de fiéis para as igrejas evangélicas
pentecostais, às quais se referiu como seitas.


Deixou claro que, para ele, a fé, os sacramentos e a liturgia devem preceder
qualquer compromisso social da igreja. ‘Essa é a finalidade, e não outra, a
finalidade da igreja, a salvação das almas, uma a uma’, disse.


Isso marca o enquadramento pela Santa Sé da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil), entidade tradicionalmente mais engajada na transformação
social e econômica do que nos assuntos propriamente morais e religiosos.


‘Onde não existe a fé em Cristo nem a sua presença nas celebrações
sacramentais, falta o essencial também para a solução dos urgentes problemas
sociais e políticos’, disse.


‘Nós, pastores, devemos ser fiéis servidores da palavra, sem visões redutivas
e confusões na missão que nos é confiada’, prosseguiu. ‘Não basta observar a
realidade a partir da fé, é preciso trabalhar com o Evangelho nas mãos (…) sem
interpretações movidas por ideologias racionalistas.’


Bento 16 voltou a pedir aos bispos que defendam valores morais caros à
igreja, como a castidade e o casamento e atacou a pressão sobre o Legislativo
para aprovação do aborto.


‘A vida social está atravessando momentos de confusão desnorteadora. Ataca-se
impunemente a santidade do matrimônio e da família, iniciando-se por fazer
concessões diante de pressões capazes de incidir negativamente sobre processos
legislativos, justificam-se alguns crimes contra a vida em nome dos direitos e
da liberdade individual, atenta-se contra a dignidade do ser humano, alastra-se
a ferida do divórcio e das uniões livres’, afirmou.


Evangélicos


O pontífice pediu empenho dos bispos contra a perda de fiéis, e pediu que
façam uma ‘evangelização metódica e capilar, (…) uma missão evangelizadora que
convoque todas as forças’ do rebanho.


‘Trata-se de efetivamente não poupar esforços na busca dos católicos
afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo’, afirmou
Bento 16.


‘As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas, que é
motivo de justa preocupação, e incapazes de resistir às investidas do
agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não
suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé
fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma
religiosidade inata.’


Os bispos do Brasil hoje são mais moderados dos que seus antecessores dos
anos 70 e 80, que lutaram contra a ditadura militar, mas ainda são influenciados
por alguns aspectos da Teologia da Libertação -corrente que acredita que o
catolicismo deve estar a serviço da transformação social. O papa Bento 16 pediu
aos bispos que confiem na igreja.


‘É verdade que os tempos de hoje são difíceis para a igreja e muitos dos seus
filhos estão atribulados’, afirmou Bento 16. ‘Mas tende confiança, a igreja é
santa e incorruptível.’


Em tese, o papa não precisaria lembrar a religiosos a importância da
evangelização e da fé, mas Bento 16 fez disso o mote central do encontro com os
religiosos brasileiros.


Essa foi a segunda vez que um papa se encontrou com a CNBB. Em 1980, João
Paulo 2º também se reuniu com os bispos do país. Naquele ano, seu discurso
original criticava a CNBB por delegar a fé a segundo plano.


Após pressão de cardeais como d. Aloisio Lorscheider (hoje arcebispo emérito
de Aparecida), o antecessor de Bento 16 fez mudanças no texto antes de lê-lo. O
argumento usado pela direção da entidade brasileira é que uma reprimenda pública
tiraria a legitimidade da igreja em um momento difícil, em que o Brasil vivia
uma ditadura militar e os católicos combatiam o regime.


Apesar dos recados, o papa não deixou de falar que o Brasil convive com ‘um
déficit histórico de desenvolvimento social’. Porém, disse que as soluções devem
levar em contra a doutrina social da igreja para transcender o ‘simples jogo dos
fatores econômicos’.’



Folha de S. Paulo


Papa sobe tom, ataca mídia e exige obediência e castidade


‘EM DOIS momentos, o papa Bento 16 fez ontem seus mais duros discursos
doutrinários desde que chegou ao país -um destinado aos fiéis e o segundo, à
cúpula da Igreja Católica. Na missa em que canonizou frei Galvão, o pontífice
afirmou que é preciso dizer ‘não’ aos ‘meios de comunicação que ridicularizam a
santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento’.


À tarde, reunido com o episcopado brasileiro na catedral da Sé, voltou a
atacar a ‘ferida do divórcio’ e conclamou todos à defesa da unidade da igreja.
Cobrou ainda empenho na resistência ao ‘proselitismo agressivo’ das ‘seitas’, em
alusão às igrejas neopentecostais. Deixou claro que, para ele, a fé e os
sacramentos devem preceder qualquer ação social da igreja


A missa no Campo de Marte atraiu 800 mil fiéis, segundo a Polícia Militar. Às
19h, foi recebido por mais de 30 mil pessoas em Aparecida, onde amanhã comanda
missa e faz o discurso inaugural do 5º Celam.’


***


Bento 16 alerta bispos sobre ‘desvios’ sexuais


‘Em seu discurso aos bispos brasileiros ontem, o papa Bento 16 afirmou que a
Igreja Católica precisa evitar desvios sexuais: ‘Um bom e assíduo acompanhamento
espiritual é indispensável para favorecer o amadurecimento humano e evita o
risco de desvios no campo da sexualidade’, disse.


O pontífice chamou a atenção do episcopado brasileiro para a ‘enorme
responsabilidade’ que eles assumem ‘como formadores do povo’: ‘Mormente dos
vossos sacerdotes e religiosos. São eles vossos fiéis colaboradores’. O papa
disse que conhecia o empenho com que eles procuravam ‘formar as novas vocações
sacerdotais’, mas observa que a formação teológica exige contínua atualização,
sempre segundo ‘o magistério autêntico da igreja’.


Ele também fez o elogio do celibato dos sacerdotes, afirmando que este é um
‘dom que a igreja recebeu e quer guardar, convencida de que ele é um bem para
ela e para o mundo’.


E deu ênfase à necessidade de boa formação dos fiéis e do clero católicos.
‘Faço apelo ao vosso zelo sacerdotal e ao sentido de discernimento das vocações,
também para saber completar a dimensão espiritual, psico-afetiva, intelectual e
pastoral em jovens maduros e disponíveis ao serviço da igreja.’


Bento 16 ainda usou o discurso para reiterar sua já manifesta opinião de que
há uma ‘única igreja de Cristo’, a Igreja Católica, ‘governada pelo sucessor de
Pedro e pelos bispos em comunhão com ele’. A declaração significa que, para ele,
os católicos participam em um patamar diferente e superior no diálogo com outras
religiões.


Segundo o papa, com a multiplicação ‘novas denominações cristãs e, sobretudo
diante de certas formas de proselitismo, freqüentemente agressivo, o empenho
ecumênico torna-se uma tarefa complexa’. Por isso ‘o grande campo comum de
colaboração [entre as religiões] deveria ser a defesa dos valores morais,
transmitidos pela tradição bíblica, contra a sua destruição numa cultura
relativística e consumista’, disse.


O diálogo abordado aqui por Bento 16, no entanto, se restringe às religiões
cristãs. Em seguida ao apelo pela defesa dos valores morais, ele deixa claro
onde, na sua opinião, eles se expressam de maneira mais forte: ‘Mais ainda, a fé
em Deus criador e em Jesus Cristo, seu filho encarnado’.


Para os bispos, o pontífice lembrou ainda a centralidade de Roma -e de sua
autoridade- na Igreja Católica, pedindo que eles se apóiem sempre na ‘fidelidade
à Sé de Pedro’.’


Paulo Daniel Farah


Em discurso contundente, papa condensa sua agenda doutrinária


‘Em seu discurso mais contundente desde que iniciou a visita ao Brasil, o
papa Bento 16 reconheceu o problema da evasão de fiéis católicos e criticou ‘os
desvios no campo da sexualidade’, além de condenar os ataques à ‘santidade do
matrimônio e da família’.


O líder da Igreja Católica repreendeu de modo veemente o ‘proselitismo
agressivo das seitas, motivo de justa preocupação’, em uma referência às igrejas
neopentecostais e movimentos religiosos contemporâneos e sua expansão no
país.


Dessa forma, revelou que o discurso da primazia da qualidade sobre a
quantidade entre os católicos não exime o Vaticano de inquietação com a perda de
fiéis, dos ‘católicos que abandonam a vida eclesial’, mostrada em recentes
pesquisas e admitida pelo Vaticano.


Os mais vulneráveis à atuação dos outros grupos cristãos seriam ‘os batizados
não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma
fé fragilizada’, em uma indicação de que seria necessário reforçar a fé e
reafirmar a identidade católica.


Reafirmou a supremacia e suposta superioridade da Igreja Católica como o
único caminho da salvação -objeto do documento ‘Dominus Iesus’ sobre o papel de
mãe, e não irmã, do catolicismo entre as igrejas cristãs- e a autoridade do
pontífice e da hierarquia eclesiástica ‘na feliz certeza de que a única Igreja
de Cristo… subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e
pelos bispos em comunhão com ele’.


Ecumenismo


Depois de abordar o tema do ecumenismo, acrescentou que, ‘com a
multiplicação, porém, de sempre novas denominações cristãs e, sobretudo diante
de certas formas de proselitismo, freqüentemente agressivo, o empenho ecumênico
torna-se uma tarefa complexa’. A mensagem é que o proselitismo que desvia o
rebanho é um empecilho para a conciliação e deve cessar antes de avanços no
diálogo. Trata-se da mesma acusação feita, entre outros, pela Igreja Ortodoxa na
Rússia, e no caso dirigida ao Vaticano.


O antídoto para os males da modernidade no discurso aparece como o fervor
religioso, dentro da igreja ‘santa e incorruptível’, e a salvaguarda dos valores
morais contra ‘a ferida do divórcio e das uniões livres’.


‘Um bom e assíduo acompanhamento espiritual é indispensável para favorecer o
amadurecimento humano e evita o risco de desvios no campo da sexualidade’,
disse, em uma condenação indireta do homossexualismo e da pedofilia.


Uma onda de escândalos sexuais envolvendo padres sobretudo norte-americanos,
mas também europeus e brasileiros, abalou a reputação da Igreja Católica e a
obrigou, constrangida, a condenar publicamente a pedofilia em 2002 e descrevê-la
como ‘terrível pecado aos olhos de Deus’.


Em 2003, a arquidiocese de Boston concordou em pagar US$ 85 milhões a cerca
de 560 pessoas que dizem ter sido abusadas sexualmente por padres. Pelo menos
325 padres dos mais de 40 mil existentes nos EUA deixaram suas funções nos
últimos anos devido a acusações de abuso sexual.


O escândalo atingiu países como Canadá, Alemanha, França, México, Polônia e
Brasil e foi um dos maiores problemas enfrentados pelo papa João Paulo 2º no
final de seu pontificado.


Apesar de divulgados por um dos principais jornais católicos
norte-americanos, o ‘National Catholic Reporter’, os primeiros casos registrados
nos EUA (no início da década de 80) foram praticamente ignorados pelo Vaticano.
A princípio, os escândalos foram encarados como um tema administrativo com o
qual deveriam lidar em um nível local -os bispos deveriam resolver os problemas
em suas dioceses.


Celibato


Apesar da inquietação com os ‘desvios de sexualidade’, o pontífice reiterou a
obrigatoriedade do celibato sacerdotal, um dom ‘que a Igreja recebeu e quer
guardar, convencida de que ele é um bem para ela e para o mundo’. O celibato se
tornou obrigatório na Idade Média. Os que se opõem à imposição alegam que o
apóstolo Pedro, considerado o primeiro papa, era casado (Jesus Cristo curou a
sogra dele) e que havia outros apóstolos casados, de acordo com a Bíblia.


Para alguns teólogos, porém, Cristo convida à castidade perpétua os que
querem se consagrar exclusivamente a Deus – ‘…E há eunucos que se fizeram
eunucos por causa do Reino dos Céus…’(Mateus, capítulo 19, versículo
12).’


Mario Cesar Carvalho Leandro Beguoci


Papa pede ‘não’ à mídia contra virgindade


‘O papa Bento 16 fez um ataque direto à mídia na missa de canonização de frei
Galvão, assistida por 800 mil pessoas no Campo de Marte, em São Paulo, segundo
estimativa da Polícia Militar. ‘É preciso dizer não àqueles meios de comunicação
social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do
casamento.’


O americano John Allen Jr., um dos principais estudiosos do Vaticano do
mundo, disse à Folha que esse ‘foi um dos discursos mais fortes dele como papa
contra a mídia’.


Logo antes, Bento 16 havia dito que ‘o mundo precisa de vidas limpas, de
almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas
objeto de prazer’.


Na véspera da canonização do primeiro santo brasileiro, num encontro com
jovens no estádio do Pacaembu, o papa havia deixado claro que sua viagem
prioriza questões morais: defendeu a castidade antes do casamento e atacou a
infidelidade no matrimônio. Condenou também o aborto e a eutanásia. Bento 16 tem
80 anos.


Ontem, ele usou o exemplo de frei Galvão (1739-1822), canonizado como Santo
Antônio de Sant’Anna Galvão, para exaltar a simplicidade e condenar o hedonismo.
‘Que belo exemplo a seguir deixou-nos frei Galvão! Como soam atuais para nós,
que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na
cédula de consagração da sua castidade: ‘tirai-me antes a vida que ofender o
vosso bendito Filho, meu Senhor’. São palavras fortes, de uma alma apaixonada,
que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão.’


Os ataques à mídia e ao hedonismo e a defesa da simplicidade constituem um
dos esteios do pensamento de Bento 16. Como teólogo, Joseph Ratzinger condenava
os que defendiam teorias de difícil entendimento para o cristão comum.


Pregava que não se pode complicar a fé porque ela não faz parte da esfera do
conhecimento; é uma revelação. Para a igreja, a vida de frei Galvão é exemplo de
simplicidade: era franciscano, pedreiro e considerava-se ‘filho e perpétuo
escravo’ de Maria.


O ataque do papa aos meios de comunicação parece ser uma tentativa de anular
eventuais controvérsias. Não ouçam a mídia, sigam o que a Igreja Católica diz
-esse parece ser o subtexto de sua crítica.


A revolução de Deus


O papa chegou ao Campo de Marte, na zona norte da capital, às 9h05, e passeou
de papamóvel entre a multidão. Iniciou a missa às 9h36. Antes, o apresentador
fez uma referência breve a religiosos que sofreram violência no Brasil. Citou,
entre outros, padre Josimo Moraes (1953-1986) e irmã Dorothy Stang (1931-2005),
assassinados por causa de conflitos de terra na Amazônia.


Foi a única alusão à Teologia da Libertação, movimento de cunho social e de
inspiração marxista que João Paulo 2º e Bento 16 reduziram a escombros na
América Latina.


A revolução é diferente, frisou ele na missa. Repetiu uma homilia que
apresentou em 2005 na Jornada Mundial da Juventude em Marielfeld, na Alemanha,
quando classificou ‘os santos de nossa época como verdadeiros reformadores’: ‘só
dos santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do
mundo’.


Público menor


Se a previsão de público da PM estiver certa, de 800 mil pessoas, a missa
frustrou a igreja -que esperava 1,5 milhão.


Ainda segundo esse critério, os 800 mil significam um encolhimento da Igreja
Católica se comparados com o público de 1,5 milhão que assistiu à missa de João
Paulo 2º no mesmo Campo de Marte, em 1980.


É óbvio que as condições da visita de João Paulo 2º eram diferentes -era a
primeira vez que um papa visitava o Brasil e foi decretado feriado na
cidade.


É certo também que à época 89% dos brasileiros declaravam-se católicos,
segundo o IBGE. No último censo, em 2000, essa fatia havia caído para
74%.’


Rafael Targino, Silas Martí e Willian Vieira


Crítica mira TV grosseira, dizem pesquisadores


‘Três pesquisadores e um religioso têm ao menos um ponto de vista comum sobre
o ataque do papa à mídia: acreditam que ele tem como alvo programas de TV que
ridicularizam o casamento ou exploram o sexo na adolescência. Leia a opinião
deles sobre a frase dita na canonização de frei Galvão (‘É preciso dizer não
àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio
e a virgindade antes do casamento’):


Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo, pesquisador em ciências da religião na
PUC-MG e assessor das CEBs (Comunidades Eclesiásticas de Base): ‘A reação não
tem relação com a cobertura da visita e sim aos meios de comunicação,
especialmente a TV, que explora o lado mórbido dos problemas sociais, às vezes
até com baixaria’.


Luiz Felipe Pondé, filósofo e professor de ciência da religião da PUC-SP:
‘Levando-se em conta o que ele escreve, não acho que ele esteja simplesmente
culpando a mídia, porque a mídia é uma espécie de eco do mundo. O que ele pode
ter em mente é que existe um discurso sexualizador da vida’.


D. Moacir Grechi, arcebispo de Porto Velho: ‘É uma recomendação para que a
mídia evite ridicularizar valores sérios para a consciência cristã. Não
considero a frase uma ofensa à mídia’.


Otávio Velho, antropólogo, professor da UFRJ: ‘Eu não acho que as exposições
do papa devam ser lidas apenas do ponto de vista retrógrado. Podemos
reinterpretar [suas declarações] a favor de uma certa diversidade. Por exemplo,
não dizer para os jovens que existe um modelo único de ser jovem’.’


TV PÚBLICA
Eduardo Scolese


Lula afirma que já avisou o papa de que TV pública será laica


‘Ao participar ontem do encerramento do primeiro Fórum Nacional de TVs
Públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que já ‘pegou no breu’ o
projeto da rede pública nacional de rádio e TV e que ela será criada sem
‘trololó’.


‘A coisa pegou no breu. Ou seja, quando eu convidei o Franklin [Martins] pra
ser ministro [da Comunicação Social], uma das coisas que eu disse pro Franklin é
o seguinte: ‘Nós vamos fazer a TV pública, vamos fazer sem trololó’. Vamos fazer
porque é preciso fazer’, disse o presidente durante evento num hotel de
Brasília.


A expressão ‘pegar no breu’ nasceu de grupos de baloeiros. O breu, uma
substância inflamável, fica no centro da tocha do balão, embrulhado em estopa.
Quando o breu pega fogo, o balão está pronto pra subir.


Na fala improvisada, diante de uma claque que o aplaudia, Lula voltou a dizer
que a rede pública não será criada para defender partidos, ideologias e
religiões. ‘Eu já disse pro papa [Bento 16] ontem [anteontem] que o Brasil é um
país laico. E a nossa televisão será laica. Ela respeitará tudo e todos’,
disse.


‘O país está maduro, a imprensa está madura para compreender a necessidade
disso, acho que os artistas brasileiros estão maduros para compreender a
necessidade disso. Não queremos e eu não acredito em coisa chapa-branca. A coisa
chapa-branca, o mal dela, é que ela se desmoraliza por ela mesma’, completou
Lula, ao lado dos ministros Gilberto Gil (Cultura) e Franklin Martins.


Em duas semanas, o governo deve apresentar os modelos de gestão e
financiamento da rede pública de rádio e TV. A estréia da televisão está
prevista para 2 de dezembro, data em que terá início a transmissão do sinal da
TV digital aberta no país.


TV paga


Ontem, ao tratar da necessidade da TV pública, fez críticas e elogios às
redes por assinatura. ‘É duro achar um filme bom. Mas quem perde o sono tem que
ver’, afirmou o petista. ‘Gosto [de TV a cabo] porque posso ver o futebol
europeu.’


O presidente atacou também as emissoras abertas de TV. Disse que falta espaço
para temas importantes à sociedade. Ele citou aborto, energia nuclear, economia,
uso de célula tronco e biodiesel. ‘Eu não tenho do que me queixar porque eu sou
um político bem tratado pela imprensa. Eu não tenho do que reclamar’, disse.


Sobre a criação da rede pública, disse que não existe ‘democracia’ em países
nos quais o presidente governa por meio de decretos. Desde janeiro deste ano,
seu colega venezuelano, Hugo Chávez, tem legislado na base do decreto, sem
precisar do Congresso para a aprovação de leis. ‘Isso [a TV] tem quer ser votado
no Congresso Nacional. Graças a Deus nós conquistamos a democracia neste país, e
o presidente não pode criar por decreto. Tem que ser um projeto de lei ou uma
medida provisória que vamos ainda decidir qual a melhor medida pra gente
mandar’, afirmou.


FHC


No discurso, de quase 20 minutos, houve espaço ainda para citar nominalmente
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: ‘No primeiro mandato foi pra gente
fazer o que fizemos mesmo. Hoje a gente não tem que discutir mais estabilidade,
não tem que discutir mais inflação, eu não tenho que ficar mais utilizando o
Fernando Henrique Cardoso como comparação pra nada’.


O segundo mandato, de acordo com Lula, será usado para ‘criar coisas
novas’.’


Felipe Seligman


Governo defende criação de um ‘Ibope estatal’


‘Integrantes do governo Lula e representantes de televisões estatais,
educativas e comunitárias defendem a criação de um Ibope estatal com ‘novos
parâmetros de aferição de audiência e qualidade que contemplem os objetivos para
os quais a TV Pública foi criada’.


Eles também indicam que o Estado brasileiro terá a função de construir e
operar a infra-estrutura tecnológica da futura rede pública de TV, que estreará
em 2 de dezembro, data do início da transmissão do sinal da TV digital aberta no
país.


As idéias fazem parte da Carta de Brasília, lida ontem no encerramento do 1º
Fórum Nacional de TVs Públicas, no qual esses representantes discutiram o tema
desde terça-feira.


A carta praticamente repete o conceito de TV pública defendido pelo governo.
Afirma que o financiamento deve ter origem de orçamentos públicos, incentivos
fiscais, patrocínios e doações, com a utilização de fundos não-contingenciáveis.
Pede o aumento da produção independente e regional na programação das TV’s e a
criação de um conselho gestor, ‘representativo da sociedade, no qual o Estado ou
o Governo não devem ter maioria’.


O documento também sugere que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) auxilie ‘para encontrar mecanismos de financiamento, por
meio do fundo social do banco de fomento, da migração digital das TV’s
Públicas’.


Na abertura do fórum, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins,
disse que a futura TV pública deverá ter recursos fixos provenientes de pelo
menos três fundos. Um deles seria formado por uma parcela de fundos
constitucionais da área de comunicação já existentes para destinar recursos à
rede pública de TV. Ontem, Franklin voltou a falar que ‘nenhuma taxa será
cobrada’ da população para recursos para a nova TV, referindo-se à forma de
financiamento utilizada pela rede britânica BBC.’


CASO ROBERTO CARLOS
Walter Ceneviva


Roberto Carlos x Solrac Otrebor


‘NÃO TINHA INTENÇÃO de comentar a apreensão da biografia de Roberto Carlos.
Mudei a posição, depois de ler Paulo Coelho, nesta Folha, sobre o assunto. No
artigo, o autor se refere criticamente à editora por ter aceito a ofensa à
liberdade de manifestação no acordo feito em juízo. A questão antes era
constitucional, referente ao cerceamento do direito de expressão. Passou a ser
comercial, com o recuo assustado da empresa.


A matéria merece atenção quando se ache em jogo um dos direitos individuais
mais importantes, o da livre expressão, em especial se contraposto ao da
inviolabilidade da honra da pessoa e de sua imagem. Lendo, porém, além de Paulo
Coelho, o editorial da Folha sobre o mesmo assunto, recolhi dados novos.
Verifiquei que a biografia publicada não envolve informação desairosa sobre o
cantor, que nem se queixou disso. Enuncia fatos, compatíveis com a importância
histórica do artista, a contar dos anos 60 do século passado.


Percorrendo o fio da navalha que separa as duas liberdades, lembro a
distinção particular cabível no tema da pessoa pública. Assim se denomina o ser
humano que, por atuação política, artística, esportiva ou de outra espécie de
popularidade reconhecida, desperta interesse permanente na comunidade pelos
fatos de seu dia-a-dia. Não se confunde com o comum homem do povo, apenas
conhecido dos que lhe são próximos, para quem é pleno o direito de ser deixado
só.


Roberto Carlos está no mundo artístico, com merecido destaque, há mais de 40
anos. Onde for, terá apenas intimidade relativa. Seus atos interessam a grande
parte das pessoas, não havendo como limitar a difusão. Nesse caso, o direito da
privacidade entra em xeque, preponderante o da livre informação, quando não
viole a honra do atingido. Quanto mais expressivo o realce da pessoa pública,
também será reclamada a conveniência e a oportunidade da informação a
respeito.


Por maiores que sejam os méritos ou a fortuna de Roberto Carlos, melhores os
valores de suas letras e composições -algumas das quais com fortes emoções
religiosas-, é evidente que ele não tem direito de impedir a exposição pública
que foi o norte para o qual voltou sua existência. Em se tratando de biografias,
Roberto Carlos parece não querer que uma só delas frutifique. Tem esse direito?
Não. Não tem.


No passado, houve tentativas escandalosas, ao que parece, de cuidar da vida
do cantor. Fez bem em repeli-las. No caso recente, porém, a editora se
acovardou, segundo entendi do texto de Paulo Coelho. Aceitou a censura,
abandonando o direito de biografar o compositor -direito relevante para a
memória histórica de um intérprete aplaudido da música nacional. A relação
contratual assumida pela editora, no último caso, está resolvida.


Reaberto o cenário constitucional, havendo quem queira levar a disputa à
frente no futuro, a recusa do cantor a qualquer análise biográfica dará ensejo
ao reverso da moeda. O Roberto popular confrontará o Roberto recluso.
Alterar-se-ão as posições, na busca do justo equilíbrio. O direito é a
coordenação das relações interpessoais. Coordenação que não se confunde com o
mero capricho de censura, sob desculpa de intimidade.’


MEMÓRIA / OCTAVIO FRIAS
Painel do Leitor


Octavio Frias de Oliveira


‘‘Recebam meus sentimentos de pesar pela grande perda que todos tivemos pelo
falecimento do senhor Frias, com quem tive a oportunidade de conviver nos
almoços da Folha e na visita que ele fez à Perdigão, em Videira (SC).


Muito mais que um grande homem público, um lutador, um empreendedor, um
grande nome da comunicação, ele foi um exemplo para todos aqueles que o
conheceram. E sempre fez da sua vida algo muito significante.’


FLAVIO BRANDALISE (Videira, SC)


‘Recebam minhas condolências pelo falecimento do grande jornalista Octavio
Frias de Oliveira. A devoção ao trabalho, que fez da ‘Folha de S.Paulo’ um dos
mais influentes jornais do Brasil, e o comprometimento com o país,
principalmente em sua luta pela redemocratização, são legados deixados por ele
para todos aqueles que atuam por uma sociedade mais justa e humana.’


GABRIEL JARAMILLO, presidente do Santander Banespa (São Paulo, SP)


‘Escrevo para deixar um abraço pela partida de Octavio Frias de Oliveira, a
quem muito admirei e respeitei.’ ARMINIO FRAGA, ex-presidente do Banco Central
(Rio de Janeiro, RJ)


‘Gostaria de, mais uma vez, externar minha solidariedade pelo falecimento do
grande Octavio Frias de Oliveira. O jornalismo brasileiro perde um grande
empreendedor, um homem preocupado com a notícia e com a história do Brasil e
que, sobretudo, imprimiu a democracia nas páginas da Folha de forma imparcial e
moderna. O seu falecimento significa a perda de uma grande referência para a
imprensa brasileira.’


GERMANO RIGOTTO, ex-governador do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS)


‘Difícil missão é destacar uma entre as muitas qualidades de um homem com a
trajetória de Octavio Frias de Oliveira. Mas, certamente, jamais deve ser
esquecido o legado que deixou ao transformar a ‘Folha de S.Paulo’ em exemplo de
como a imprensa deve atuar, com independência em relação a governos e grupos
econômicos, pluralismo de visões e empreendedorismo.’


JOSÉ AURICCHIO JÚNIOR, prefeito de São Caetano do Sul (São Caetano do Sul,
SP)


‘Em nome da diretoria da Associação do Sanatório Sírio-Hospital do Coração,
externamos nosso pesar pelo falecimento do senhor Octavio Frias de Oliveira.
Ficará em nossa memória a imagem de pioneirismo, de ética e de liderança que
marcaram sua vida.’


ANTONIO CARLOS KFOURI, superintendente do HCor -Hospital do Coração (São
Paulo, SP)


‘Levei a Octavio Frias de Oliveira o meu último adeus e constatei,
emocionado, as comovidas manifestações e a admiração que tantas e tão destacadas
personalidades lhe tributaram.


Junto-me, nesse preito, às expressões de saudade e de reconhecimento a esse
grande brasileiro, em nome do Memorial da América Latina e no meu próprio nome.’


FERNANDO LEÇA, presidente da Fundação Memorial da América Latina (São Paulo,
SP)


‘A morte de Octavio Frias de Oliveira representa uma grande perda para o
jornalismo brasileiro. Ressalto, em especial, a atuação da Folha na defesa das
crianças e adolescentes. Seu apoio foi fundamental na denúncia de temas voltados
à infância, como a exploração do trabalho infantil e a violência contra
crianças, entre outros.


Nos últimos anos, este veículo teve papel de destaque na divulgação do
Estatuto da Criança e do Adolescente para toda a sociedade, contribuindo de modo
decisivo para a formação da opinião pública.’


RUBENS NAVES, conselheiro e ex-presidente voluntário da Fundação Abrinq pelos
Direitos da Criança e do Adolescente (São Paulo, SP)


Estado laico


‘Muito oportuno o editorial ‘Acordo sigiloso’ (Opinião, 10/5, pág. A2):
devemos ser intransigentes na defesa do Estado laico. Trata-se de preceito
constitucional que protege a democracia e preserva o país da intolerância
religiosa, causa de tantos conflitos sociais do passado e do presente.’


ENNIO CANDOTTI, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência -SBPC (São Paulo, SP)


Foto


‘No dia 4 de maio, a Folha publicou em sua Primeira Página uma foto da
Associated Press que mostrava a morte de um policial no Rio de Janeiro. A
legenda e o texto que acompanharam a foto alegaram que o policial foi atingido
enquanto tentava proteger a fotógrafa após ela ignorar as suas ordens para
deixar o local. Até onde sabemos, não houve nenhuma acusação pública de que isso
tenha ocorrido, e a Associated Press concluiu que a alegação não é verdadeira.


A fotógrafa da AP Silvia Izquierdo não ouviu, e certamente não ignorou,
nenhum aviso para deixar o local. Paulo Nogueira, editor regional do SBT, disse
que a sua equipe de TV que estava no local também não ouviu o policial alertar
Silvia Izquierdo.


A AP costumeiramente cobre a violência no mundo todo como parte de sua missão
como organização global de notícias. Os seus jornalistas são treinados para que
não interfiram em operações policiais e sempre procuram agir de acordo com as
leis e o bom senso. Não há nada indicando que tenha havido uma exceção neste
caso.


A Associated Press expressa as mais profundas condolências à família do
policial morto, Wilson Santana. Não há fatos substanciando a sua sugestão de que
Izquierdo tenha tido algo a ver com esta morte trágica. Os dois apenas estavam
fazendo o seu trabalho.’


NIKO PRICE, editor para a América Latina -The Associated Press (São Paulo,
SP)


Papa na TV


‘Em referência à reportagem ‘Na guerra santa da TV, papa complica o trânsito
na Record e vira festa na Globo’ (Brasil, 10/5), gostaria de dizer que,
independentemente do credo dos acionistas e dos profissionais da TV Globo, a
emissora está fazendo uma cobertura eminentemente jornalística da visita do
papa, proporcional à sua importância no cenário internacional.


No tom e no tamanho, tudo muito semelhante ao que a Folha está fazendo. Se
deseja criticar o mau uso do noticiário de outra emissora por acreditar que ela
tenha motivações religiosas, é injusto o jornal se valer da Globo para isso.’


CARLOS HENRIQUE SCHRODER, diretor da Central Globo de Jornalismo (Rio de
Janeiro, RJ)


Bebidas na mídia


‘Até que enfim surgiu uma autoridade responsável neste país (‘Ministro quer
vetar artistas em propaganda de cerveja’, Cotidiano, 10/ 5). É um absurdo a
quantidade de propaganda de bebidas alcoólicas, notadamente a cerveja,
diuturnamente nos meios de comunicação. Parece-me que a mídia quer, para
amealhar alguns milhões a mais, transformar o pobre Brasil num país de
alcoólatras.


É um absurdo proibir a propaganda de cigarro -que dá tão-só um cancerzinho ao
fumante- e permitir a propaganda de bebidas.


Será que esses irresponsáveis não sabem que o álcool causa mais prejuízos à
sociedade do que o cigarro?


É o desemprego, é a desagregação familiar, é o alcoolismo. Parabéns, ministro
Temporão!’


NELI APARECIDA DE FARIA (São Paulo, SP)’


MEMÓRIA / MURILO FELISBERTO
Folha de S. Paulo


Morre aos 67 anos o jornalista Murilo Felisberto


‘O jornalista Murilo Felisberto morreu ontem aos 67 anos em São Paulo, em
razão de complicações hepáticas. Ele estava internado no Hospital Santa
Catarina. Seu corpo será cremado hoje, às 9h, no Crematório Municipal.
Felisberto trabalhou na Folha, no ‘Jornal do Brasil’, participou da criação do
‘Jornal da Tarde’ e foi diretor de criação da agência de publicidade
DPZ.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Só a Globo ganha audiência com o papa


‘A Globo foi até ontem a única emissora favorecida pela visita do papa a São
Paulo. Só ela teve ganho substancioso de audiência com a cobertura dos eventos
de Bento 16 na cidade.


Com seus telejornais, o ‘Mais Você’ e a missa de canonização de frei Galvão,
a Globo teve ontem de manhã um aumento de 64% em sua audiência. Registrou 12,6
pontos das 7h às 12h, segundo dados preliminares do Ibope. No mesmo período da
sexta-feira anterior, foram 7,7 pontos na Grande São Paulo. A missa rezada pelo
papa marcou 15 pontos, uma ótima audiência para o horário.


A Globo praticamente monopolizou todos os televisores adicionais que foram
ligados ontem de manhã. Na sexta, 4, 27% das TVs estavam ligadas das 7h às 12h.
Ontem, eram 32%. O aumento de cinco pontos percentuais é quase integralmente o
acréscimo de público que a Globo teve ontem.


A Record, que não transmitiu a missa na íntegra, mas mostrou flashes, caiu de
5,7 pontos na manhã do dia 4 para 4,0 ontem. As variações de Band e Rede TV!,
que exibiram a missa, foram decimais _os números, por serem prévios, sujeitos a
alterações, não são conclusivos. E o SBT, ignorando o papa, subiu de 7,5 para
8,2 pontos.


Anteontem, o impacto do papa na audiência das TVs foi quase nulo. O número de
televisores ligados só cresceu um ponto percentual em relação à quinta anterior.


PT X PSDB 1 O ex-ministro José Dirceu (PT) fez duras críticas ao jornalismo
da TV Cultura, bancada pelo governo tucano de SP. Em seu blog, disse que Paulo
Markun, novo presidente da rede, ‘precisa despartidarizar a Cultura’.


PT X PSDB 2 ‘Ontem [segunda], assisti ao ‘Jornal Cultura’. Só pau no governo
federal’, escreveu o petista, citando reportagem que culparia o governo Lula
pela poluição na Grande São Paulo.


PT X PSDB 3 Diretor de jornalismo da Cultura, Alexandre Machado, diz que
Dirceu ‘foi injusto’: ‘Em relação à orientação da Fundação Padre Anchieta
[mantenedora da Cultura], não há qualquer determinação no sentido de criticar
sistematicamente o governo federal’.


MERCHANDISING O SBT está exibindo chamadas em seus intervalos em que
parabeniza os vencedores do Troféu Imprensa. As peças funcionam como propaganda
da Globo e da Record, vencedoras das principais categorias.


DESCLASSIFICAÇÃO Quem sintonizou a Globo quinta-feira, às 15h20, no meio da
cobertura da visita do papa ao Brasil, se deparou com um festival de gente
pelada. Eram cenas de uma festa do cabide na novela ‘Da Cor do Pecado’. As
partes íntimas dos atores eram cobertas apenas por pequenas flores de computação
gráfica.


CAMINHÃO A última temporada de ‘Carga Pesada’ estréia dia 6 de julho.
Tarcísio Filho, Paulo Cesar Pereio e Alexandra Richter fazem participações
especiais.’


Laura Mattos


Governo cede e adia a classificação da TV


‘O governo cedeu à pressão das TVs e decidiu adiar por 45 dias a vigência das
novas regras para a veiculação de programas. A portaria de classificação da
programação das emissoras foi publicada há 90 dias e entraria em vigor a partir
de amanhã.


O documento determina que os programas sejam classificados por faixas etárias
e horárias (ex: novela imprópria para menos de 14 anos não pode ir ao ar antes
das 21h). Também exige que a classificação seja informada pelas emissoras por
meio de símbolos padronizados.


As TVs já haviam obtido, em abril, liminar no Superior Tribunal de Justiça
que as libera de exibir programas nos horários determinados pelo governo. Na
segunda, a Abert (associação de TVs) encaminhou ao Ministério da Justiça (MJ),
responsável pela classificação, pedido de adiamento e rediscussão da portaria.
As TVs aproveitaram brecha gerada pela troca de ministros. Márcio Thomaz Bastos,
que assinou a portaria, foi substituído por Tarso Genro, que, em entrevista ao
‘Jornal Nacional’ de terça, disse que poderia reavaliar o tema.


Ontem, concordou em assinar portaria de adiamento, a ser publicada na segunda
no ‘Diário Oficial da União’.


Na semana passada, além da reportagem do ‘JN’, a Globo relacionou as novas
regras à censura no ‘Fantástico’ e ‘Programa do Jô’. A emissora só se manifesta
oficialmente sobre classificação por meio da Abert, que defende que os pais, e
não o governo, devem decidir o que os filhos podem ver. Ontem, a Abert não
atendeu a Folha.


A decisão do adiamento gerou descontentamento na equipe do MJ. José Elias
Romão, diretor do departamento de classificação, que atuou por dois anos nas
negociações para elaboração da portaria, foi voto vencido contra o
adiamento.


‘Esse gesto revela que o ministro está aberto ao diálogo e não em uma posição
de intransigência’, afirmou à Folha o secretário Nacional de Justiça, Antonio
Biscaia. Sua secretaria é responsável pela política de classificação da
televisão.


Ele admite que a decisão é ligada à troca de ministros. ‘Como houve mudança
no comando do ministério, o ministro pretende que nesse novo prazo a gente ouça
[as TVs].’


Biscaia diz acreditar que o governo vencerá a batalha judicial contra as TVs
e afirma discordar do argumento das redes de que os pais que devem decidir o que
os filhos podem ver na TV. ‘Sabemos que essa não é a realidade do Brasil, que os
pais têm de trabalhar e não podem controlar os filhos o dia todo.’


Entidades defensoras da criança e do adolescente preparam uma reação. ‘O
possível recuo do Ministério da Justiça, certamente pressionado pelas empresas,
denota a dificuldade dos radiodifusores de estabelecer um debate democrático. As
negociações se deram nos bastidores, e os direitos da criança não estiveram,
estranhamente, no centro da pauta’, afirma Guilherme Canela, coordenador de
Relações Acadêmicas da Agência de Notícias dos Direitos da Infância, a Andi, que
participou das negociações para elaboração da portaria.’


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