Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

VENEZUELA
Julio García Montoya

É correta a decisão do governo venezuelano de não renovar a concessão da RCTV?

SIM – Democratizar a comunicação na Venezuela

‘NESTES ÚLTIMOS dias de maio, boa parte da imprensa venezuelana e internacional concentrou seus esforços em tratar de expor ao mundo os sinais que indicam o caminho pelo qual transita a revolução bolivariana na atualidade. Alguns meios têm feito até um trabalho conjunto, um consórcio de interesses da mídia privada, para demonstrar a influência que a política externa venezuelana teve em certas decisões de países sul-americanos.

Esse desdobramento operativo da mídia indica, primeiro, o impacto que nosso processo de mudanças políticas estruturais tem na consciência dos donos desses meios e a preocupação que gera em seus financistas. Depois, o alcance que nossas decisões políticas tiveram no concerto de necessidades e propostas de mudança que se gera continentalmente.

A Venezuela não está fazendo nada que não deva ser feito para obter o que há muito merece e lhe foi negado sistematicamente: o controle real sobre seu destino soberano. E entendemos que isso preocupe os impérios.

As decisões e ações empreendidas pelo governo bolivariano para devolver ao povo os bens sociais que lhe pertencem por direito constitucional e reafirmar com isso sua condição de povo soberano são um avanço para o cumprimento de um clamor continental: a democratização da sociedade e o conseqüente resgate da condição de cidadania que foi seqüestrada do indivíduo latino-americano.

O povo venezuelano viveu afastado por anos de sua cidadania. A sociedade política elitista e a grande mídia nacional trabalharam para convertê-los em simples consumidores, injetando o vírus do consumismo e afastando os valores que reforçam a identidade nacional, a vida em comunidade e a necessária e saudável solidariedade humana. Isso -quem pode negá-lo?- é uma deformação insana.

Agora, quando o governo venezuelano decide corrigir esse mal para o bem da sociedade, se levantam algumas vozes de condenação, muitas delas impulsionadas pela ignorância, produto precisamente desses longos anos de distorção da mídia, e outras tantas motivadas pelo temor de que possam ficar em evidência suas práticas antiéticas, imorais e desumanas.

Esse tipo de situação se evidencia na manipulação que constantemente fazem os meios com seus conteúdos.

Aqui, por exemplo, pergunta-se se é correta a decisão venezuelana de não renovar a concessão da RCTV, premissa já negativa que imediatamente impõe uma carga de preconceito ao leitor. Pensem por si mesmos, evitando que o meio os leve pela mão como meninos, quão diferente seria se a pergunta fosse: é correta a decisão de democratizar a comunicação que tomou o governo venezuelano?

Acreditamos não ser difícil colocar a potência da mídia para informar corretamente que o que acontece na Venezuela é um processo de democratização das comunicações. O processo começa por resgatar um bem público como o espectro radioelétrico, que na Venezuela é virtualmente monopolizado pelas cadeias televisivas RCTV e Venevisión. Ambas ocupam 90% da banda de transmissão radioelétrica, com concessões estatais que se tornaram automáticas, que vencem a cada 20 anos e precisam ser revisadas e avaliadas para considerar sua provável renovação ou expiração.

O caso específico da não-renovação da concessão sobre o espectro radioelétrico ao canal RCTV não é a totalização desse processo e, além disso, trata-se apenas do exercício de um direito legítimo do Estado venezuelano sobre um bem público que administra e que tinha sido concedido a um canal privado por mais de 50 anos.

A liberação do sinal que ocupava a RCTV servirá para que milhares de produtores independentes, que nunca tiveram capacidade nas redes privadas de TV, assim como expressões das comunidades, possam apresentar suas produções televisivas de qualidade e focadas no resgate dos valores que enaltecem o povo venezuelano.

Entendemos a resistência da grande mídia transnacional ante esse processo venezuelano, pois nosso governo acaba de dar uma lição: basicamente, está colocando as coisas no justo lugar, demonstrando que política é terreno do Estado e que os meios de comunicação social se devem à sociedade que os demanda, e não a seus exclusivos interesses econômicos.

JULIO GARCÍA MONTOYA, general, é embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil.’

Andrés Cañizález

NÃO – Consolidação da hegemonia

‘O CANCELAMENTO da concessão de transmissões da RCTV é sem dúvida uma decisão correta, mas do ponto de vista da lógica do governo venezuelano, pois simboliza melhor que qualquer outra o fim de uma época nos meios de comunicação da Venezuela. Ela é correta para as finalidades do processo bolivariano: a consolidação da hegemonia da mídia oficialista.

A RCTV é a emissora mais antiga do país e a que vinha tendo a maior audiência nos últimos anos. Seu desaparecimento do sinal aberto implicará uma mudança substantiva na maneira como os venezuelanos, especialmente os mais pobres, vêem TV. A partir de 28/5 não haverá nenhum programa de TV de alcance nacional que seja abertamente crítico ou questionador da gestão governamental.

Como foi largamente divulgado, graças ao relatório da União Européia referente à cobertura eleitoral de 2006, os outros dois canais privados de alcance nacional, o Televén e, especialmente, o Venevisión, descreveram uma mudança de 180 graus em suas linhas editoriais e hoje se mostram abertamente favoráveis ao governo. O Globovisión, um canal de notícias e opinião com orientação crítica, tem alcance limitado pelo fato de não ter cobertura nacional. Aliás, as gestões que já fez nesse sentido nunca obtiveram resposta positiva das autoridades. Será por mero acaso?

Dentro da lógica da consolidação da hegemonia estatal da mídia exposta em janeiro passado pelo presidente da Telesur, Andrés Izarra, não surpreendeu que a freqüência do canal 2, utilizada há mais de meio século pela RCTV, fosse entregue a uma fundação de caráter governamental, com a qual, a partir de 28/5, será reforçado o aparato do governo em matéria de meios de comunicação.

Em menos de seis meses, entre dezembro de 2006 e maio de 2007, a TV aberta venezuelana perdeu duas emissoras privadas: a CMT e a RCTV.

A primeira, com cobertura limitada, foi comprada para ser do sinal local da Telesur, e o sinal do canal 2, que até 27/5 fica com a RCTV, será substituído pela fundação governamental Teves. O resultado, para o público, termina sendo o mesmo: menos espaços privados e independentes e mais propostas que provêem do Estado.

Para enxergar claramente a magnitude da mudança dessa operação de estatização de freqüências antes usadas por empresas privadas -uma operação que, por si só, já é indicativa dos tempos que vivemos-, devemos acrescentar a reorientação informativa pela qual estão passando a Venevisión e a Televén, a falta de cobertura nacional da Globovisión e o surgimento, nos últimos três anos, de novos meios de comunicação abertamente parciais, como Vive, Ávila TV e TV Asamblea Nacional. Não cabem dúvidas: esse viés ‘vermelho’ imposto pelas altas esferas do governo a diversas instituições do país também sufocou a televisão venezuelana.

Alguns jornalistas que no passado se distinguiram por seu papel crítico e hoje exercem funções de governo dizem que essa hegemonia na mídia não atenta contra a liberdade de expressão e que, na realidade, esse direito está sendo devolvido ao público.

Seria bom que assim fosse, mas um exemplo apenas basta para evidenciar a inconsistência desse argumento. Acontecem na Venezuela três protestos públicos por dia, dos quais a grande maioria é encabeçada pelos pobres desse país, reivindicando acesso aos direitos básicos, que continuam tão insatisfeitos quanto eram há dez anos. Nenhuma dessas manifestações ganha cobertura nas telas dos canais estatais, especialmente nos da Venezolana de Televisión, que tem cobertura nacional.

É previsível que políticas informativas desse tipo sejam reforçadas com o cancelamento do sinal aberto da RCTV, a partir de 28/5. E essas práticas são genuínas violações do direito de livre expressão e informação de todos os venezuelanos, mas especialmente dos mais pobres. A tendência a consolidar a hegemonia midiática anunciada não admite vozes críticas ou independentes.

ANDRÉS CAÑIZÁLEZ, licenciado em comunicação social, é pesquisador da Universidade Católica Andrés Bello (Caracas). Estuda comunicação política e liberdade de expressão há mais de dez anos.’

Fabiano Maisonnave

Justiça manda confiscar bens da RCTV

‘O Supremo Tribunal de Justiça, órgão máximo do Judiciário venezuelano, determinou ontem à noite o confisco de instalações da RCTV para uso do novo canal governista, Tves, que substituirá a emissora oposicionista a partir de segunda-feira. A sentença também ordena o Ministério da Defesa a ‘custodiar, controlar e vigiar’ os equipamentos. A decisão ocorre em meio à crescente tensão no país à medida que se aproxima o prazo final para o fim das transmissões da RCTV, às 23h59 de amanhã.

‘A Sala Constitucional do Tribunal Supremo de Justiça admitiu duas demandas por interesses difusos e coletivos, interpostas por diversos grupos de usuários que solicitaram medidas técnicas imprescindíveis para fazer efetiva a continuidade na prestação do serviço público de televisão aberta em freqüência VHF designado no canal 2’, diz a decisão.

Com isso, ficarão a serviço do novo canal estatal ‘microondas, teleportos, transmissores, equipamentos auxiliares de televisão, equipamentos auxiliares de energia e clima, torres, antenas, cassetes de transmissão, cassetes industriais, cerca perimetral e rede elétrica’ pertencentes à RCTV em 41 localidades por todo o país.

A decisão, segundo a sentença, ocorre ‘sem que isso implique a redução dos direitos de propriedade que possam corresponder à Rádio Caracas de Televisão sobre a infra-estrutura ou os equipamentos, com exceção daqueles que legal ou convencionalmente sejam propriedade da República’.

‘Como a RCTV não aceitou comprar a proposta de vender os equipamentos, eles estão usando a via legal para se apropriar deles . É uma atrocidade’, disse à Folha Gregório Salazar, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa da Venezuela. ‘O STJ mostra de novo que é um apêndice do governo.’

Rotina

Mais cedo, Chávez disse que o fim da concessão da RCTV é um ‘simples fato rotineiro’. Para o líder venezuelano, ‘dificilmente’ há um país com ‘tanta liberdade de expressão’.

O discurso, realizado durante evento militar na cidade de Barcelona (310 km a leste de Caracas), foi transmitido em cadeia nacional de rádio e TV. Mais tarde, usou o mesmo recurso para mostrar a inauguração de um estádio de futebol da Copa América, Táchira.

Ontem, Chávez colocou centenas de militares para patrulhar as ruas da capital. Mesmo assim, não evitaram um ataque de supostos supostos militantes chavistas contra a sede do canal de notícias Globovisión, crítico do governo. Segundo a emissora, funcionários foram agredidos e a sede foi pichada.

Também ontem, militantes chavistas invadiram três faculdades da Universidade Central da Venezuela, em resposta a um protesto de estudantes contra o fechamento da RCTV.

Nas imediações da sede da RCTV, na região de Caracas, chavistas construíram um palco para comemorar o fim das atividades do canal, na madrugada de amanhã para domingo.’

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Mercosul nega apoio a fim da concessão

‘DA REUTERS – Os países-membros do Mercosul negaram o pedido, feita pela chancelaria da Venezuela, de apoio à decisão de Hugo Chávez de não renovar a concessão da RCTV.

O pedido foi feito, formalmente, na última reunião de chanceleres do bloco -que, além da Venezuela, inclui Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A reunião realizou-se na terça-feira passada, em Assunção, capital paraguaia.

Opuseram-se à solicitação da Venezuela o Uruguai e o Paraguai, sendo que Brasil e Argentina não se pronunciaram sobre o pedido de Caracas.

Nessa mesma reunião, a Venezuela solicitou apoio ao pedido de extradição de Luis Posada Carrilles, ex-agente da CIA acuado de cometer atentados em Cuba. O bloco porém se limitou a pedir que os EUA ‘processem devidamente’ Posada.’

VEJA vs. RENAN
Folha de S. Paulo

Renan agora é questionado por sua relação com lobista

‘O lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, fazia pagamentos de despesas pessoais para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O senador diz que o dinheiro era dele próprio.

O gasto de R$ 16,5 mil mensais, segundo reportagem da revista ‘Veja’, era uma ajuda financeira para uma filha do senador, de três anos, e o aluguel do apartamento onde a menina mora com a mãe. O pagamento teria sido feito de janeiro de 2004 até dezembro passado.

Renan reconheceu a paternidade de Maria Catharina Freitas Vasconcellos Calheiros, filha da jornalista Mônica Veloso, há alguns meses. Eles discutem na Justiça o valor da pensão em um processo que tramita em sigilo. Ontem pela manhã, Renan, Mônica e Gontijo ficaram cara-a-cara, por cerca de três horas, em audiência na 4ª Vara de Família de Brasília. O lobista foi arrolado como testemunha da jornalista.

O presidente do Senado entrou pela garagem privativa e não deu declarações. Em nota divulgada no final da tarde por sua assessoria, afirmou: ‘Nunca recebi qualquer recurso ilícito ou clandestino de qualquer empresa ou empresário’. Disse ainda: ‘Jamais tive qualquer despesa ou gasto pessoal ou de meus familiares custeados por terceiros. Meus compromissos sempre foram honrados com meus próprios recursos’.

Nos últimos três anos, segundo a revista, o lobista pagou R$ 12 mil de ajuda financeira a Mônica além de R$ 4.500 pelo aluguel do imóvel onde mora a jornalista. Ela receberia o dinheiro em um envelope, deixado no escritório da Mendes Júnior, com o nome de Gontijo. O salário bruto de Renan no Senado é R$ 12.720.

O lobista também seria o fiador do contrato de aluguel do apartamento de Mônica. Gontijo confirmou à revista que entregava o dinheiro, mas teria dito que os recursos não eram dele nem da empreiteira. Ele não foi localizado pela Folha.

A pedido de Renan, a audiência ontem foi transferida da sala de audiências da 4ª Vara de Família, no segundo andar do fórum de Brasília, para o 8º andar para despistar a imprensa. O corredor onde ocorria a audiência foi isolado. O senador saiu sem falar com a imprensa.

Mônica também não quis dar declarações. Seu advogado, Pedro Calmon, alegou segredo de Justiça. O mesmo argumento foi utilizado pela outra parte. ‘Tenho uma procuração para defendê-lo, não para falar por ele. O processo está em segredo de Justiça e é crime violá-lo’, disse Paulo Baeta, que é um dos advogados de Renan no caso.

A assessoria do senador, que é casado, trata o assunto como uma questão de sua vida privada. A Folha apurou que ele recebeu ontem um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em solidariedade.

Nesta semana, Renan foi questionado também sobre sua relação com outra empreiteira, a Gautama, acusada de fraudes em obras públicas e investigada pela Polícia Federal. O senador já disse que conhece Zuleido Veras, dono da Gautama, há 30 anos e admitiu que trabalhou para liberar recursos para obras da construtora. Mas ele afirma que não tinha conhecimento de irregularidades.’

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‘Não tenho nada a esconder ou dissimular’

‘Leia a íntegra da nota divulgada pelo senador Renan Calheiros:

Considerando as matérias jornalísticas veiculadas nas últimas horas conferindo maliciosamente outra dimensão às minhas relações pessoais, cumpre-me esclarecer:

1º Nunca recebi qualquer recurso ilícito ou clandestino de qualquer empresa ou empresário;

2º Jamais tive qualquer despesa ou gasto pessoal ou de meus familiares custeados por terceiros. Meus compromissos sempre foram honrados com meus próprios recursos;

3º Todas as minhas atividades relacionadas ao exercício dos mandatos que me foram honrosamente conferidos pautaram-se pela mais absoluta transparência. Não tenho nada a esconder ou dissimular. As doações efetuadas para minhas campanhas eleitorais foram efetivadas em absoluta conformidade com a lei e constaram das respectivas prestações de contas;

4º É intolerável que de uma turbulência circunscrita à minha mais íntima privacidade se queira extrair ilações desarrazoadas e conclusões perversas;

5º Sempre defendi a liberdade de imprensa. É pedra angular do regime democrático. Mas seu exercício pressupõe seriedade e responsabilidade, sob pena de transformar-se em instrumentos mesquinhos e inconfessáveis.’

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Empreiteira nega participar de pagamentos e defende contratos

‘A Mendes Júnior negou por meio de nota participação nos pagamentos supostamente feitos por seu funcionário Cláudio Gontijo a Mônica Veloso. Ele trabalha na empresa desde 93.

A companhia defendeu as obras que faz para a Petrobras e a Infraero e informou que não mantém outros contratos com órgãos do ministério de Minas e Energia. ‘Sobre as insinuações a respeito de contratos da Mendes Júnior com a Petrobras, Infraero e outros declaramos que são instituições de visibilidade pública com as quais mantemos contratos objetivos, resultantes de concorrências e que estão disponíveis de maneira ampla a qualquer inquirição concreta’, diz a nota.

Gontijo trabalha como ‘assessor para desenvolvimento de mercados’ -cargo voltado para o garimpo de contatos e possibilidades de negócio para a Mendes Júnior em Brasília.

A Folha não conseguiu localizá-lo. No escritório da empresa em Brasília, um funcionário disse que só Gontijo poderia dar entrevistas. Em seu flat, o seu filho, indagado sobre a reportagem da ‘Veja’, disse que tudo se trata de ‘especulação’.’

SERRA vs. ESTUDANTES
Editorial

Serra e o nó da USP

‘A INTERVENÇÃO do secretário estadual da Justiça, Luiz Antonio Marrey, na negociação com os universitários que ocupam a reitoria da USP indica a disposição do governo José Serra, mesmo que tardia, para desfazer um impasse que ajudou a criar. Mas isso não é o bastante. Governador, reitoria e estudantes precisam dar mais alguns passos para solucionar a situação, que já passou do razoável.

Da reitora Suely Vilela não se pode esperar muito mais do que seu desempenho até aqui sugere -algo próximo da omissão. Recomenda-se parar de estipular prazos para a desocupação seguidamente ignorados. Dos estudantes seria auspicioso ver enfim um gesto político mais consistente. Por exemplo, o reconhecimento de quanto já obtiveram de atenção para sua extensa pauta de reivindicações, bem como de concessões do governo. Numa negociação, algo que já se provaram capazes de impor, é crucial saber ceder.

Por outro lado, espera-se do governador uma atitude mais transparente. Serra falou, ontem, mas pouco acrescentou. Queixou-se de ‘exploração política’, o que parece óbvio. Pronunciou-se, também, sobre a questão da autonomia universitária, estopim da revolta: ‘Não há nada, do ponto de vista de decretos, de leis etc. que fira, que seja contraditório com essa autonomia’, disse o governador.

Não é tão simples assim. O decreto nº 51.636, de 9 de março, ainda reserva à Secretaria da Fazenda a atribuição de decidir sobre pedidos de transposição de quotas orçamentárias (artigo 10º, inciso I, alínea d) e, no artigo 15, estipula que as normas do diploma se aplicam, sim, às universidades. Para os manifestantes, tal determinação implica restrição à autonomia universitária consagrada na Constituição.

Tanto o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, quanto os reitores das três universidades estaduais já se pronunciaram a favor da interpretação de Serra. O que não se entende, então, é o motivo de não ter sido ainda alterado o texto. Foi o que fez o governo, sob pressão, com o artigo 42 do decreto nº 51.461, que transferia para José Aristodemo Pinotti, da recém-criada Secretaria de Ensino Superior, a presidência do conselho de reitores.

Se o recuo já ocorreu, falta reconhecê-lo. Como falta também, da parte de Serra, explicitar o que pretendia com a saraivada de decretos que afetam as universidades. Entre outros pontos, poderia esclarecer o que entende por ampliar as atividades de pesquisa, ‘principalmente as operacionais, objetivando os problemas da realidade nacional’.

Muitos nas universidades públicas paulistas vêem aí menção cifrada a um programa de submissão das instituições a necessidades de empresas, do que discordam. É uma boa discussão, pois não raro a comunidade universitária emprega mais preconceitos que argumentos contra essa aproximação. Sem deixar claro se tem de fato um programa, e qual ele é, o governador só aumenta a confusão.’

MERCADO DE MÍDIA
Folha de S. Paulo

RCS MediaGroup avalia aquisições na América Latina

‘DA BLOOMBERG – A RCS MediaGroup, que comprou a espanhola Recoletos Grupo de Comunicación em abril, está procurando oportunidades de aquisições na América Latina e na Europa, disse seu principal executivo, Antonello Perricone.

‘O trampolim constituído pela compra da empresa espanhola é ideal para a expansão na América Latina’, disse ele. Na América do Sul, a RCS ‘estuda todos os negócios que possam apresentar sinergias com nossa carteira de produtos: livros, diários, periódicos.’ Perricone descartou este ano como período de aquisições.

A RCS, proprietária do ‘Corriere della Sera’, maior diário da Itália, controla também a editora francesa Flammarion e o Unedisa, responsável pelo jornal ‘El Mundo’. Com a compra, a RCS incorporou o diário esportivo Marca e o financeiro Expansión.’

MEMÓRIA / OCTAVIO FRIAS
Walter Ceneviva

Octavio

‘O TÍTULO DESTA coluna tem uma explicação: nos 40 anos em que convivi com Octavio Frias de Oliveira, desde o primeiro dia, sempre só o chamei de Octavio.

Trabalhar com ele correspondeu a alternativas e soluções próprias da advocacia e do jornalismo, trocando idéias com toda franqueza, ora aceitas, ora recusadas ou recompostas na busca da melhor resposta de cada problema. Transcenderam muitas vezes os temas de direito ao envolver os fatos da vida, matéria na qual recebi dele lições preciosas. Talvez por tudo isso a naturalidade do uso.

Aproximamo-nos mais quando Octavio e seu sócio Carlos Caldeira Filho assumiram, em 1968, a presidência e a vice-presidência da Fundação Cásper Líbero, então com muitas dificuldades econômico-financeiras. Octavio não desistia da crítica enquanto insatisfeito com a resposta para qualquer solução, mas a acolhendo quando delineada em clareza. Posso dizer que nossa relação foi fraterna, construtiva e, sobretudo, marcada por sua lealdade exemplar, que me esforcei para responder com a mesma força. Jamais precisamos de papéis assinados para firmar decisões e para as cumprir.

Octavio também teve pela frente, particularmente nos primeiros meses de 1969, a situação política nacional em plena fase dos atos institucionais, complicada e policialesca, contraposta aos esforços para manter a Folha na ascensão que a levou a se tornar o diário independente e pluralista de maior circulação no Brasil. Aquilo que parecia simultaneamente impossível, recuperar a Fundação Cásper Líbero e manter a caminhada da Empresa Folha da Manhã S/A, foi alcançado por Octavio com a paciência e o empenho das grandes empreitadas, após ele ter assumido o controle exclusivo da Folha.

Ações foram movidas pelo governo federal contra o jornal. A empresa tinha excelentes advogados, mas participei em algumas delas. Além da defesa judicial, havia necessidade de esclarecer o público leitor a respeito de execuções absurdas. Octavio me surpreendeu muitas vezes na busca de explicação mais clara e transparente para o fim visado. A discordância vigorosa estimulou a busca do equilíbrio, sem criar uma só situação em que o desencontro de posições originasse estremecimento. Ele freqüentemente contribuiu para achar a fórmula precisa do direito.

Houve sacrifícios emocionais, superação de situações pessoais. Houve o combate das dificuldades tributárias e previdenciárias, de origem política, mas sempre olhadas de frente. As lembranças resumidas daqueles decênios compõem o leque de percursos, às vezes tomando horas diárias, às vezes em longos intervalos, em particular na variedade de tempos agitados, em que serviu de exemplo marcante a venda da antiga Estação Rodoviária. De tudo fica a sensação da tarefa cumprida, a compor linhas de amizade tão sólida, que só me permitiu escrever essas palavras após passadas semanas da morte de Octavio. Tempo para serenar o espírito e avaliar o significado de sua perda para a família, para o jornalismo e para mim. Foi Octavio quem, há dezenas de anos, me convenceu a escrever esta coluna. Os dias passados amadureceram a idéia de, na sua ausência, homenageá-lo com carinho.’

TELEVISÃO
Daniel Castro

Márcia volta ‘suave’; Band demite Claudete

‘Depois de um ano e meio fora do ar, a apresentadora Márcia Goldschmidt volta à programação da Band no próximo dia 11. Comandará o ‘Márcia’, programa diário de uma hora de duração, a partir das 17h15.

Apresentadora dos polêmicos ‘Hora da Verdade’ e ‘Jogo da Vida’, Márcia diz que agora fará um programa ‘suave’. ‘Será um ‘talk-show’ que discutirá comportamento e relações interpessoais, mas não só de casais. Vou entrevistar pessoas que estão vivendo problemas de relacionamento’, afirma.

A inspiração do ‘Márcia’ vem do ‘talk-show’ do americano Greg Behrendt, autor do best-seller ‘Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você’. ‘Meu programa será bem pra cima. Quero que as pessoas fiquem leves’, diz Márcia.

A Band rescindiu anteontem à tarde o contrato de Claudete Troiano, que iria até meados de 2008. A decisão não teve nada a ver com a prisão da filha da apresentadora, por porte de drogas. Foi tomada antes, há mais de dois meses.

O ‘Pra Valer’, programa de Claudete, dava baixa audiência (1,4 ponto). Além disso, Elisabetta Zenatti, diretora de programação, não gostava da apresentadora. Mas, oficialmente, o motivo da demissão foi ‘reformulação de grade’. A partir de segunda, o espaço de Claudete será ocupado por seriados e pelo ‘De Olho nas Estrelas’.

SUMÁRIO 1 Pegou mal na TV Cultura a notícia de que a emissora pública exibirá a partir de segunda o ‘Sumo TV’, um programa da Cellcast (produtora de caça-níqueis). O ‘Sumo TV’ exibirá vídeos de telespectadores e pretende faturar com participação com tráfego de telefonia.

SUMÁRIO 2 Presidente eleito da Cultura, Paulo Markun escorregou: ‘Até 14 de junho, a direção da Cultura é de Marcos Mendonça. Não me compete, portanto, concordar, discordar, analisar ou comentar qualquer decisão’.

SUMÁRIO 3 A Cultura reconfirmou ontem a estréia do ‘Sumo TV’. Mas disse que o contrato com a Cellcast é de um ano e que prevê apenas o ‘Sumo TV’, que terá ‘uma linguagem moderna’.

TUDO PRONTO O Ministério das Comunicações aprovou ontem as antenas, transmissores e demais equipamentos das estações de TV digital da Globo e do SBT.

CERTINHA Aos 87 anos, a ex-vedete Virginia Lane, que apareceu no final de ‘Belíssima’, fará participação em ‘Sete Pecados’, próxima novela das sete da Globo. Na história, Corina (Hilda Rebello), que também fora vedete, convida Virginia para acompanhá-la na inauguração da boate de Priscila Fantin. No evento, as duas disputarão qual delas está em melhor forma.

IRMANDADE O casal gay de ‘Paraíso Tropical’ (Carlos Casagrande e Sérgio Abreu) é tão assexuado que mais parece dois irmãos que dormem juntos.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

BBC Brasil.com

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