Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Folha de S. Paulo

EUA / ARQUIVOS SECRETOS
Sérgio Dávila

Culto ao sigilo vira problema para Bush

‘O governo de George W. Bush está numa queda-de-braço com a transparência. Desde os ataques do 11 de Setembro, o republicano e seu gabinete brigam para manter secretos diversos aspectos do poder Executivo que, pela lei norte-americana atual e por costume estabelecido em mandatos anteriores, deveriam ser tornados públicos ou pelo menos arquivados em segurança por seu valor histórico.

Quatro fatos recentes serviram para evidenciar esse culto ao sigilo exacerbado da Era Bush. Três continuavam sem solução até a conclusão desta edição. Na quarta-feira, o Comitê de Justiça do Senado, controlado pela oposição democrata, autorizou intimações para que a Casa Branca, o gabinete do vice-presidente e o Departamento de Justiça apresentassem documentos relacionados ao 11 de Setembro.

O objetivo é comprovar a legalidade de escutas telefônicas sem autorização judicial feitas pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) logo após os atentados. De acordo com interpretação do governo, as ações estavam legitimadas pelo pacote de poderes excepcionais que o Congresso, ainda com maioria republicana e no calor da onda de patriotismo que tomava os Estados Unidos, concedeu à Presidência.

Na sexta, foi a vez do conselheiro jurídico da Casa Branca, Fred F. Fielding, manifestar-se a respeito de demissões realizadas pelo Departamento de Justiça que estão sob a suspeita de terem sido feitas por motivos políticos, não profissionais. Liberar os documentos ou permitir que dois assessores testemunhassem, escreveu ele, seria ferir o ‘privilégio executivo’.

Segundo lei não-escrita, mas reconhecida pela Suprema Corte, presidentes podem proteger a confidencialidade de certos atos ou documentos que considerem fundamentais para o exercício do cargo. O termo ‘privilégio executivo’, criado por Dwight D. Eisenhower (1953-1961), ganhou fama no mandato de Richard Nixon (1969-1974), que tentou se escudar nele durante o escândalo de Watergate.

Cheney

‘Isso é mais um passo do governo Bush em direção ao ‘secretismo’ nixoniano e uma prova a mais do desdém deles pelo nosso sistema de freios e contrapesos’, disse o senador democrata Patrick Leahy, do Comitê de Justiça da Casa. ‘Cada vez mais, o presidente e seu vice acham que estão acima da lei.’ Ele se referiria a um caso que envolve Dick Cheney.

Nos últimos dias, o vice-presidente trava uma luta quase surreal para justificar sua recusa a passar a um escritório federal documentos secretos que, por lei, devem ser guardados por um período de tempo variável. Primeiro, Cheney tentou extinguir o órgão responsável pelo arquivamento.

Então, sua equipe declarou que a lei não se aplicava a ele, pois Cheney fazia parte na verdade do Poder Legislativo -nos EUA, o vice-presidente é também o presidente do Senado. Foi o suficiente para que o congressista democrata Rahm Emanuel introduzisse uma emenda que corta a verba destinada à Vice-Presidência, de US$ 4 milhões por ano, sob a justificativa de que o próprio titular se dizia um estranho ali.

Desde então, o gabinete voltou atrás, mas a emenda foi à votação, perdeu por pouco (217 votos contra e 209 a favor) e resume o clima entre as duas instituições. Dois dias antes, a divulgação de documentos até então secretos da CIA, de um período que vai da década de 50 até os anos imediatamente posteriores a Watergate, deram margem a novas comparações entre as gestões Nixon e Bush.

Ao divulgar parte de um arquivo que reúne ações ilegais ou questionáveis da agência de inteligência, a CIA respondia ao pedido mais antigo ainda não contemplado pela agência de espionagem, feito há 15 anos pela ONG National Security Archives.

‘Havia muito sigilo na administração Nixon por motivos que depois se tornariam evidentes, e há muito também na administração Bush, sempre sob a justificativa da guerra contra o terrorismo’, disse à Folha John Pradow, diretor dos arquivos.

Para o analista, em 30 anos os documentos de Bush serão tornados públicos. ‘A diferença é que esse governo está destruindo a maior parte.’’

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Analistas reclamam do que faltou ser revelado

‘Ao tornar disponíveis na última terça-feira mais de 700 páginas do arquivo chamado ‘jóias da família’, com ações da CIA ilegais ou que poderiam embaraçar a agência, e 11 mil páginas de análises da ex-União Soviética e da China nos anos 50 a 70, a intenção do general Michael Hayden era ser o mais transparente possível em uma agência que vive de informações sigilosas, afirmou.

‘A CIA entende completamente que tem a obrigação de proteger os segredos do país’, disse então. ‘Tenho falado seguidamente sobre nosso contrato social com o povo americano, e a publicação de documentos históricos é uma parte importante desse esforço.’

A ação foi elogiada por historiadores e analistas ouvidos pela Folha, embora alguns destacassem que parte do ato não foi totalmente voluntário, mas originado por um pedido baseado numa lei de liberdade de informação que levou 15 anos para ser atendido e era o mais antigo relacionado à CIA desde que tal lei foi aprovada.

Ainda assim, reclamou-se da ausência de documentos importantes. ‘Não tenho uma lista dos dez mais que eu queria publicados’, disse Steven Aftergood, do Projeto sobre Secretismo Governamental da Federação Americana de Cientistas. ‘Mas queria que quase tudo viesse a público.’

Já John Pradow, autor do livro ‘Safe for Democracy – The Secret Wars of CIA’ (Salvo pela Democracia – As Guerra Secretas da CIA, Ivan R. Dee), sentiu falta principalmente das operações da agência no exterior. ‘Sim, há uma menção ao assassinato de Patrice Lumumba e os detalhes de uma das tentativas de assassinato de Fidel Castro, mas a CIA fez muito mais.’

O autor, que é analista do arquivo que fez o pedido à CIA, acredita que a estratégia da agência na divulgação surtiu efeito contrário. ‘Eles esperavam que as 11 mil páginas sobre a União Soviética e a China roubassem a cena’, especula Pradow. ‘Não esperavam que as ‘jóias da família’ tivessem a atenção que mereceram.’

O problema dos papéis chamados CAESAR-POLO-ESAU -147 documentos de análises sobre as relações entre as duas potências comunistas entre 1953 e 1973 e como os dois países disputariam a influência sobre as esquerdas do resto do mundo, inclusive a brasileira- é a falta de revelações.

Tudo o que está escrito ali, disse o ‘Washington Post’, era de conhecimento de quem lesse as publicações e ouvisse as emissoras de rádio da época. Com algumas bolas-fora: um texto de 1962 prevê a queda de Mao Tse-Tung para breve (o líder chinês morreria no poder, em 1976); outro, de dois anos antes, aponta os prováveis sucessores de Nikita Kruschev -Leonid Brejnev não está entre eles.’

UM DIÁRIO RUSSO
Fábio Chiossi

Jornalista vê Putin como violador da democracia

‘Em um discurso em Bratislava (Eslováquia), no dia 23 de fevereiro de 2005, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fala de uma ‘democracia tradicional’ russa e a explica: ‘Os princípios fundamentais da democracia, as instituições da democracia devem ser adaptadas à realidade na Rússia de hoje, às nossas tradições e à nossa história. E faremos isso sozinhos’.

‘Um Diário Russo’ (Rocco, R$ 43), da jornalista Anna Politkovskaya, que foi assassinada no prédio onde morava, em Moscou, em outubro do ano passado, pode ser lido como um retrato dessa ‘democracia’.

Essa redefinição do conceito por Putin, que em princípio o torna bastante maleável, reflete a visão que ela tem do governo russo. Um governo que, a seu ver, ergue-se sobre a destruição da democracia. Assim, a ‘democracia tradicional’ de Putin, ver-se-á, é, para Politkovskaya, a não-democracia.

As anotações da jornalista, que foi feroz crítica do Kremlin em matérias publicadas no jornal ‘Novaia Gazeta’, onde trabalhava, começam na campanha que em 2004 reelegeria Putin à Presidência da Rússia e se encerram em agosto de 2005, pintando o presidente como o artífice da destruição das entidades e relações que constituem o que se poderia considerar uma verdadeira democracia.

Segundo a visão de Politkovskaya, Putin garantiu a reinstalação, na Rússia, de um regime praticamente de partido único, como o da URSS -embora não ideologizado-, e repressivo, como o da URSS de Stálin.

Para tanto, o ex-diretor de assuntos externos da KGB que foi escolhido por Boris Ieltsin (1991-99) para o substituir na chefia do governo russo galgou-se não só em diversos tipos de fraude eleitoral e em compra de votos, viabilizadas pela atuação de antigos funcionários da máquina do Estado comunista que se aninhavam nas agências do governo, mas por uma oposição cujo discurso não chegou ao povo mais pobre, seduzido pelo nacionalismo do presidente e do seu partido, o PRU.

Ora conduzindo, ora se aproveitando desse processo, sempre a figura do presidente Vladimir Putin, com vistas a se manter na Presidência e que para tanto não hesita em usar sua mão de ferro, em negar violações aos direitos humanos cometidas sob seu governo nem em cooptar potenciais adversários políticos ou fazer vistas grossas à sua tortura. Isso sem mencionar a manipulação do Poder Judiciário, presente em episódios relatados quase que no livro todo.

Apatia

Esse Putin autoritário retratado pela jornalista desperta no leitor uma dúvida fundamental: uma vez afastada a hipótese, simplista e ingênua, de que ela fala de um homem que age por pura perversidade, o que motiva Putin?

Há esboços de uma resposta que se pode pescar em seu diário. Uma delas é um nacionalismo no qual Putin acredita. Esse nacionalismo que está nas palavras de Bratislava e que, alimentando políticas de governo, teriam-no transformado no tirano a que se refere Politkovskaya. Putin seria então um tirano não só porque quer satisfazer interesses pessoais mas também por achar que o que faz é melhor para o povo, é melhor para a Rússia.

A jornalista não esconde também sua frustração com o que considera uma não-participação do povo russo no processo político do país. Apatia essa que acaba, por exemplo, permitindo a Putin a construção da maioria na Duma que o ajudará a governar -ou, como diz a autora, que o servirá-, bem como a construção de uma candidatura sem adversários: ‘Nossos cidadãos […] querem muito ter uma vida melhor, mas não querem ter de lutar por ela. Eles esperam que tudo lhes venha de cima’ -é uma das reflexões anotadas no dia 31 de dezembro de 2003.

E a essa acomodação acrescenta-se uma campanha das ‘autoridades’, que ‘todos os dias tentam convencer o povo russo de que a sociedade civil e a oposição são financiadas pela CIA, pelos ingleses, por Israel e pelos serviços de inteligência marcianos, além, é claro, da teia mundial da Al Qaeda’.

O apelo a um nacionalismo que cala fundo no povo, conduzindo-o em direção a um imobilismo, ajuda muito na manutenção do atual estado de coisas na Rússia, é o que se conclui.

E há sempre o medo da repressão dos agentes de segurança do Estado, que, dá a jornalista a entender, agem a seu bel-prazer na repressão às poucas contestações ao regime.’

MÍDIA & LITERATURA
Eduardo Simões, Marcos Strecker, Sylvia Colombo

Flip consagra o escritor-celebridade

‘Não é à toa que o encontro literário de Paraty, que começa na próxima quarta-feira na cidade fluminense, tem nome e status de festa. A Flip chega à sua quinta edição seguindo uma transformação internacional no modo como a literatura é consumida no planeta.

Em sua natureza tido como atividade solitária, o ofício de escritor cada vez menos tem a ver com a idéia de um sujeito entretido em seu mundo particular, sentado numa escrivaninha ou à sombra de uma árvore, estudando ou refletindo em busca de inspiração. Tampouco os leitores têm tido no hábito de ler, como antigamente, uma experiência íntima e reflexiva.

A literatura virou show. Cada vez mais as editoras pedem aos escritores que façam parte de um jogo em que têm de vender seus livros em eventos internacionais, com palestras, entrevistas e atividades interativas com o público. Os leitores, por sua vez, já aceitaram a idéia de serem fãs de escritores-celebridade, reconhecidos não só por sua literatura, mas por sua capacidade de subir num palco e entreter uma platéia.

O time de autores que desembarca na Flip na semana que vem não é diferente. Para grande parte deles, Paraty é apenas mais uma parada de um crescente circuito de festas, festivais e que tais literários.

O escritor angolano José Eduardo Agualusa, que, só neste ano já esteve na Itália e na França e estuda convites do Fórum das Letras de Ouro Preto e da Fliporto (Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas) diz que é difícil dizer ‘não’ quando é convidado a falar num lugar como Paraty, onde se pode, ao mesmo tempo, tirar ‘pequenas férias’.’

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‘Gosto de performance’

‘Para o britânico Will Self, outro freqüentador de festas literárias internacionais, existe mais pressão do mercado hoje para que o escritor assuma um papel de showman.

Mas ele defende a estratégia das editoras para expor seus produtos. ‘A cada 40 segundos, um livro está sendo publicado no mundo!’ Self se diz confortável com um microfone na mão. ‘Já estudei pra ser ator, fiz comédia ‘stand-up’ e toquei numa banda de rock. Gosto de performances.’

Arroz-de-festa assumido dos eventos literários nacionais, Marcelino Freire, que apresentará na Flip um show inspirado no livro ‘Cantos Negreiros’, acha que os festivais são uma chance de um autor conquistar mais leitores. ‘Hoje, para uma pessoa ler um livro seu, precisa abandonar mais de 120 canais de TV, o DVD e seus extras, os sites pornográficos etc. e tal. Eu vou atrás, sim, buscar esse leitor à unha.’

Neste ano, a Flip recebe a figurinha fácil da vez no circuito internacional, o novato Ishmael Beah, serra-leonês de 26 anos. Antes de chegar a Paraty, o autor terá ido lançar ‘Muito Longe de Casa – Memórias de um Menino Soldado’, em Berlim, Paris, Roma e Nova York.

Dos EUA, a agente de Beah disse que ele não estaria disponível para dar entrevistas antes de chegar aqui justamente por estar ‘viajando intensamente’.

Mas será que tantas viagens não atrapalham a produção dos autores? Será que eles não deveriam usar o tempo gasto em festivais para exercer seu ofício, ler e escrever?

‘Viajar só atrapalha se o escritor deixar. Se você está a trabalhar num livro novo e acha que não deve sair, não deve aceitar ir a um encontro. É importante dizer não às vezes’, diz Agualusa.

O angolano considera que, se o autor for descuidado, as viagens podem virar um tiro no pé. ‘Se o escritor não produz, deixa de ser convidado porque não tem produção que chame a atenção dos leitores.’

A espanhola Rosa Montero já havia apontado o problema na Flip de 2004. A escritora disse que tinha começado a escrever porque não conseguia falar. E que hoje, curiosamente, precisava falar para continuar escrevendo. Também comparou os escritores a ‘estrelas de rock, que viajam o tempo todo’.’

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Opinião sobre tudo

‘Um caso exemplar é o do escritor polonês Ryszard Kapuscinski (1932-2007). Ele passou a vida viajando para escrever e, no final dela, já não agüentava mais a idéia de estar constantemente ‘on tour’.

Em entrevista em dezembro do ano passado, disse: ‘Antigamente, um escritor podia deixar uma obra de cem volumes. Hoje, se ele fizer meia dúzia de livros está ótimo, pois o resto de seu tempo é tomado por viagens para promover suas próprias publicações. É constante a demanda da sociedade para que comentemos o noticiário, as guerras, o terror. Coisas sobre as quais às vezes não estamos muito por dentro’.

Como Kapuscinski, o português António Lobo Antunes não gosta da idéia de ser uma ‘figura institucional’, que opina sobre variados temas externos à sua obra.

Lobo Antunes já declarou que não tem tempo para a ‘parte mundana’ que acompanha a literatura. ‘Não faço promoção, viajo pouco, o menos que posso’, disse o escritor.

Para o crítico Silviano Santiago, que estará na Flip, a era do escritor-celebridade é um fato. ‘Mas trata-se de uma tendência já estabelecida na indústria cultural. Já acontece com o cinema, com a música. E só agora chega à literatura.’

O escritor, ator e roqueiro Will Self acha que, mesmo que os eventos literários passem a ser comparáveis a espetáculos, falta muito para que a literatura possa se igualar ao showbiz. ‘Quem dera! Se fosse assim haveria mais grana! Acho que a literatura hoje parece mais com os primórdios do cristianismo, quando se lutava por fiéis contra as forças da Babilônia.’’

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‘Pai’ de festa cria franquias pelo mundo

‘O festival que inspirou a Flip, o britânico Hay-on-Wye, no País de Gales, vem espalhando ‘franquias’ pelo mundo. A idéia já foi vendida para as cidades de Segovia e Granada (Espanha), além de Cartagena e Bogotá (Colômbia).

Já em sua 20ª edição, o festival britânico, que acontece anualmente entre maio e junho, foi pioneiro no formato que busca aproximar o escritor do público-leitor.

Diferenciando-se das grandes feiras, como Frankfurt e Londres, de perfil mais comercial, Hay-on-Wye promove palestras, leituras e performances. O evento não se limita às letras e acolhe também cineastas, músicos, atores e até políticos.

O ex-candidato à Presidência dos EUA e ativista ambiental já passou por lá, assim como o ex-presidente Bill Clinton, que, em sua participação, criou uma descrição lapidar do evento: ‘Hay-on-Wye é o Woodstock da mente’.

No Brasil, a Flip já criou filhotes. Na onda do sucesso do formato de Paraty, surgiram outras festas. O Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop), que terá sua terceira edição neste ano, na cidade histórica mineira, e a Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas (Fliporto), em setembro. Em São Paulo e no Rio, a Flap se apresenta como evento alternativo à festa de Paraty, com entrada gratuita.’

TELEVISÃO
Bia Abramo

‘Entrelinhas’ fala de livros sem arrogância

‘‘ENTRELINHAS’, programa sobre livros e literatura da TV Cultura, enfrenta um desafio interessante: como falar de um assunto que é, na verdade, alheio e estranho a boa parte dos telespectadores, sem assumir um tom arrogante?

Os dados sobre os hábitos de leitura no Brasil são desanimadores -o índice de leitura é de 1,8 livro ao ano por habitante (contra, por exemplo, 2,4 por habitante na Colômbia), segundo dados do Retrato de Leitura no Brasil, realizado em 2000 pela Câmara Brasileira do Livro.

Mais recentemente, um perfil dos universitários da Grande São Paulo feito pelo Centro Integrado Escola-Empresa revelou que 18% dos estudantes declara não gostar de ler, enquanto 16% o faz apenas esporadicamente e 66% lê principalmente livros didáticos.

Como e por que fazer um programa de TV exclusivamente dedicado aos livros neste panorama? À primeira pergunta, o ‘Entrelinhas’ responde fazendo boa reportagem cultural. A preocupação em tratar o assunto de forma jornalística, ou seja, procurando a informação, a temperatura, os personagens em evidência, as coberturas de fôlego, confere ritmo e sensação de novidade. Não falta assunto. Apesar de continuar sendo um país de poucos leitores, o Brasil hoje tem uma movimentação intensa na área editorial: feiras, bienais, uma quantidade razoável de lançamentos.

Além disso, ao tratar o livro e a literatura como uma coisa do mundo real, pode aproximar o espectador desse universo mais ou menos desconhecido. Talvez não muitos, mas certamente alguns.

E talvez aí mesmo esteja o porquê desse projeto, à primeira vista quixotesco. O ‘Entrelinhas’ é o tipo de programa que só consegue existir em uma emissora pública, que é onde, por enquanto, pode se contemplar a diversidade de espectadores.

Embora tenha sido gestado e estreado no período em que a TV Cultura tentou ganhar audiência emulando (mal) a TV comercial e abandonando seus projetos mais experimentais e ousados, o programa ‘Entrelinhas’ é um produto típico daquela ‘velha’ TV Cultura, que investia em qualidade, ao mesmo tempo em que procurava o espectador e não subia no salto.

Ainda não dá para saber como será a gestão de Paulo Markun, empossado há pouco mais de duas semanas como presidente da Fundação Padre Anchieta, mas ele parece estar mais próximo desse modelo de TV pública do que daquele que vigorou nos últimos anos.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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