Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

PROPAGANDA
Folha de S. Paulo

Órgãos estatais gastam R$ 300 mil com anúncio em revista dos EUA

‘Encarte publicado na última edição da revista americana ‘Foreign Affairs’ com elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) custou R$ 303 mil para dois órgãos. O BNDES investiu R$ 180 mil na edição e a Embratur, R$ 123 mil. O governo nega que tenha orientado os órgãos a patrocinarem o anúncio, que cita em um dos textos a candidatura de Dilma às eleições presidenciais de 2010.

A Petrobras também anunciou no encarte, mas a empresa se recusou a informar o valor pago. A propaganda da Petrobras ocupa uma página do anúncio, nos mesmos moldes da publicada pelo BNDES. As três empresas admitiram à Folha que decidiram anunciar na revista depois que foram procuradas pela publicação e não porque estavam em busca de veículos para divulgar suas marcas.

A revista informou que trabalha em parceria com a empresa Strategicmedia que elaborou o encarte e não divulgou o valor recebido. Disse apenas que o trabalho foi feito como nos demais países, quando se busca parceiros para bancar a publicação.

A CGU (Controladoria Geral da União) disse que não vê problemas no fato de a Embratur ter desembolsado R$ 123 mil para publicar um anúncio e uma entrevista da sua presidente, ilustrada com foto. ‘Parece natural, e até desejável, que a Embratur compre espaço publicitário em publicações estrangeiras para promover o Brasil no exterior’, informou.

A Embratur afirmou que foi procurada pela publicação e que considerou que o anúncio seria uma forma de atrair investimentos e turistas. O BNDES disse que foi um anúncio institucional e que decidiu pelo investimento por ser uma revista que ‘divulga o Brasil’.

A Petrobras disse que não divulga os valores dos seus contratos. O Planalto informou que não se trata de publicidade, o que é proibido pela Constituição, mas de reportagem sobre o Brasil.’

 

 

SEM-TERRA
Mauricio Puls

Jornalista da Folha lança hoje livro sobre MST

‘O jornalista Eduardo Scolese lança hoje às 16h, na Livraria Cultura de Brasília, o livro ‘Pioneiros do MST’, sobre a trajetória de 14 fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, cujo destino era ignorado até pela direção do grupo.

O livro começou a se delinear em 2003, quando Scolese se deparou com um exemplar do ‘Jornal Sem Terra’ de 1985 com os nomes da primeira Direção Nacional do movimento. Ele guardou a relação e começou a procurar os 20 ex-líderes do MST.

Após três anos de buscas, localizou 15 sobreviventes -dos quais só 1 não aceitou contar a sua história. Ao todo, Scolese percorreu 11 mil km ao lado do fotógrafo Sérgio Lima para entrevistá-los.

Os relatos mostram os custos humanos da militância (ameaças, doenças, conflitos familiares) e suas pequenas conquistas (um lote, um caminhão, um computador). O livro reserva muitas surpresas: quem sabia que um dos dirigentes do MST foi guarda noturno da casa de José Serra? E que outro ganhou na Loteria Esportiva?’

 

 

BALANÇO
Folha de S. Paulo

Newscorp perde US$ 6,4 bi no 4º tri

‘Grande parte do prejuízo da empresa de mídia de Rupert Murdoch se deve à baixa contábil (revisão do valor de ativo) de US$ 3 bilhões na unidade de jornais, que inclui o ‘Wall Street Journal’, adquirido há dois anos.’

 

 

COLUNA
Folha de S. Paulo

Economista Albert Fishlow estreia amanhã coluna na Folha

‘O economista Albert Fishlow, 73, professor emérito das universidades Columbia e Berkeley, estreia amanhã como colunista da Folha. Diretor do Centro de Estudos Brasileiros de Columbia, Fishlow acompanha a história econômica brasileira desde 1965, quando veio pela primeira vez ao país.

À época, afirma, encontrou um país com inflação alta, contas públicas desorganizadas e pouca diversificação na pauta de exportações. ‘O Brasil hoje em dia é outro país. Não exporta só café, tem um poder industrial. No lado institucional, houve continuidade do processo democrático’, disse.

Sobre a coluna, que será quinzenal, Fishlow disse que vai abordar debates acadêmicos sobre a atualidade brasileira, porém vistos de uma perspectiva externa. ‘Uma das vantagens de estar fora do Brasil é a possibilidade de ver as implicações indiretas das coisas aqui nos EUA, na União Europeia e no Japão. A gente vê o que está se passando de uma perspectiva diferente’, disse.

A primeira coluna tratará da crise financeira. Fishlow vê os principais países do mundo trabalhando para restabelecer a retomada da economia. ‘Os EUA têm de mostrar capacidade para tratar os problemas.’

O economista reconhece que o Brasil avançou muito nos últimos anos, mas afirma que tem como desafio a educação, especialmente o ensino médio. Para o economista, o investimento em educação é o que tem o maior potencial para alterar o atual quadro de distribuição de renda.

‘O Brasil ainda gasta muito dinheiro no nível universitário e muito pouco no ensino primário e secundário. A relação entre gasto é de um para dez. O investimento em educação [básica] é fundamental para melhorar a distribuição de renda.’

Segundo Fishlow, outro assunto que merece atenção é a reforma política. Ele defende uma revisão das regras que estimule a solidificação dos partidos e melhore a representatividade do poder público.’

 

 

LITERATURA
Raquel Cozer

Mistério no Alasca

‘A ideia pareceu boa ao presidente Franklin Roosevelt: povoar o Alasca, inóspito território que os EUA haviam comprado dos russos por uma pechincha 70 anos antes, e ao mesmo tempo abrigar judeus, numa época em que a Europa não era ambiente seguro. Estava longe de ser a Terra Prometida, mas quebrava um galho.

Essa passagem, com jeito de ficção e no entanto real, não passou de uma nota de rodapé na história. O projeto de colonizar o Alasca com judeus refugiados foi barrado em 1940 pelo representante do Estado no Congresso, Anthony Dimond.

É aí que a ficção se afasta dos fatos no romance ‘Associação Judaica de Polícia’ (2007), do norte-americano Michael Chabon, que sai agora pela Companhia das Letras, e cujos direitos para o cinema foram comprados pelos irmãos Coen.

Na realidade alternativa imaginada pelo escritor, um taxista passa no caminho (mais precisamente por cima) de Dimond, e a lei é aprovada. Os judeus, expulsos em 1948 do incipiente Estado de Israel, formam no Alasca a colônia de Sitka. E, em 2007, os EUA decidem reaver o território, deixando seus habitantes outra vez ao deus-dará.

É o retrato de uma ‘época estranha para ser judeu’, como repetem personagens do romance. ‘Na verdade, não consigo pensar em nenhum período da nossa história em que a frase não caiba. Mas também é, sempre foi, uma época estranha para ser um ser humano’, diz Chabon, 45, de ascendência judaica, à Folha, por e-mail.

Morte e xadrez

O rocambolesco misto de ficção histórica e trama noir (há ainda uma morte, um enigma de xadrez…) é digno de Chabon. Outro livro dele, ‘As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay’ (Record), best-seller sobre dois amigos que criam um herói para combater nazistas, surpreendeu ao levar, em 2001, o respeitável Pulitzer de ficção.

Em ‘Associação Judaica’, a nevada Sitka, ex-capital russa do Alasca, vira cenário de uma ideia antiga do autor: um lugar em que a única língua oficial fosse o iídiche, misto de alemão e hebraico da Europa central.

Chabon conta que conviveu, nos EUA, com avós que falavam iídiche, mas ‘só quando não queriam que eu entendesse’. Tempos depois, ficou surpreso ao achar uma edição de um livro dos anos 50, ‘Say It in Yiddish: A Phrasebook for Travelers’ (fale em iídiche: um livro de expressões para viajantes).

‘É um livro que dá toda a assistência a alguém que viaje a um país em que todos falem iídiche. A coisa mágica é que não existe tal país, fato para o qual o livro não alude. Fui compelido a visitar o assunto na ficção.’

Chabon não visita um iídiche ‘puro’. Ele o adapta ao que, imagina, resultaria de um idioma oficial convivendo por 60 anos com gírias americanas. Assim, ‘arma’, que nos EUA pode também ser chamada de ‘piece’ (pedaço), similar a ‘peace’ (paz), vira ‘sholem’ (de ‘shalom’, paz, em iídiche).

A opção pelo noir foi para mostrar tal universo ‘na totalidade’. ‘Queria apresentar cada camada daquele local. Daí pensei no investigador, que pode ir a todos os lugares, ver tudo, falar com todo mundo. Era a figura certa para guiar o leitor por esse inferno judaico’, diz.

Não chega a ser um inferno como o desenhado por Philip Roth em ‘Complô contra a América’ (Companhia das Letras, 2005), outro exercício de realidade alternativa -na qual o aviador Charles A. Lindbergh derrota Roosevelt nas eleições e se alia a Hitler para perseguir judeus. Em ‘Associação Judaica’, os americanos querem de volta o Alasca, mas os judeus protagonizam seus próprios conflitos. Acusado nos EUA de ‘ecoar’ Roth, Chabon disse que escrevia seu livro fazia um ano quando ‘Complô’ saiu.

Adaptações para o cinema

O interesse dos irmãos Coen em filmar ‘Associação Judaica’ deixou Chabon ‘emocionado’. ‘Eles estão entre meus cineastas preferidos de todos os tempos. Sou capaz de ver ‘O Grande Lebowski’ uma vez por ano pelo resto da minha vida!’, diz.

A relação com o cinema é antiga. ‘Garotos Incríveis’ (Record) virou filme em 2000. ‘Kavalier & Clay’, adaptado pelo próprio escritor (trabalho que lhe tomou cinco anos), corre o risco de não sair do papel. Stephen Daldry iniciou a pré-produção, mas o projeto, caro, voltou à gaveta. O primeiro romance, ‘The Mysteries of Pittsburgh’, virou filme em 2008 com Sienna Miller no elenco, ainda sem distribuição.

Foi com esse livro que o autor caiu no gosto do público e da crítica. Após o lançamento, em 1988, a ‘Newsweek’ o citou como um ‘autor gay revelação’ -algo que Chabon, casado com a escritora Ayelet Waldman, levou na esportiva. ‘Aquilo me trouxe um novo público, e um público leal’, disse, na época.’

 

 

Gabriela Romeu

Pesquisa analisa toda a obra infantil de Lobato

‘O ponto final de ‘A Menina do Narizinho Arrebitado’, de 1920, foi só o início da constante reescritura da saga do criador do Sítio do Picapau Amarelo, Monteiro Lobato (1882-1948), que anunciava garimpar ‘palavras singelas’, num estilo cristalino como ‘água de pote’, para escrever em ‘língua desliteraturizada’ para crianças. É o que destaca ‘Monteiro Lobato Livro a Livro – Obra Infantil’, que reúne 28 estudos de pesquisadores de várias instituições brasileiras, que esmiuçam uma espécie de oficina do processo de criação do autor. Com a coorganização de Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini, os textos trazem à tona a análise de quase 2.000 documentos (cartas, fotos, contratos, edições) depositados pelos herdeiros na Unicamp -parte está em www.unicamp.br/iel/monteirolobato.

Professor de literatura brasileira da Unesp-Assis, Ceccantini conta que há muitos livros panorâmicos sobre a obra lobatiana. ‘Mas algumas publicações eram sempre citadas, enquanto outras, ignoradas.’ Entre as da boa safra sempre deixadas de lado no passado, estão ‘O Picapau Amarelo’ e ‘A Chave do Tamanho’. São analisados inclusive os livros marginais, como ‘O Garimpeiro do Rio das Garças’ (1924), sobre as aventuras de João Nariz. A imagem na obra lobatiana, a marca do caricaturista Belmonte e a vertente do Lobato editor também recebem atenção especial. ‘O livro mostra um Lobato irreverente, criativo e político, mas traz como tudo isso se reflete nas diferentes edições de uma mesma história’, diz Lajolo, professora de literatura brasileira da Unicamp e da Universidade Mackenzie. Ceccantini destaca a faceta ‘de um artífice da palavra, que reescreve seu texto o tempo todo e vê a literatura como algo nada mumificado’.

O texto emblemático dessa reescritura é ‘Reinações de Narizinho’, obra em transformação desde o seu surgimento, em 1920. Até 1931, principalmente, ganhou capítulos, recebeu outros títulos e perdeu trechos -na primeira versão, por exemplo, foram suprimidas passagens que remetiam as aventuras a um sonho, muleta clássica da ficção infantil.

Geração da TV

O hábito do escritor em trocar cartas com os leitores também perpassa os capítulos. Em alguns trechos, as crianças comentam as reinações, marcadas pelo sotaque da oralidade. ‘Isso documenta a recepção de Lobato na época’, diz Lajolo. Já a recepção infantil da obra lobatiana hoje é escassa em estudos. ‘Tenho feito pesquisas, com professores e crianças, propondo leituras dos livros’, diz Ceccantini. ‘E parece que as crianças não leem Lobato porque os seus mediadores pais e professores também não o leram, geralmente eles conhecem as histórias da TV.’

E existe algum jeito de a criança mergulhar no texto original desse ‘universo paralelo’ hoje? ‘Talvez seja o caso de dessacralizar a obra, assim como Lobato fazia, ler de outra forma, com mais liberdade, pulando trechos, deixando a criança fazer seu próprio caminho’, sugere.

MONTEIRO LOBATO LIVRO A LIVRO – OBRA INFANTIL

Organizadores: Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini

Editora: Unesp

Quanto: R$ 62 (512 págs.)’

 

 

TELEVISÃO
Sylvia Colombo

‘Mad Men’ retorna e corre risco de virar novela comum

‘Nova York, 1962. Em cena da segunda temporada de ‘Mad Men’, que estreia hoje, um grupo de publicitários vê pela televisão o então presidente John F. Kennedy garantindo a James H. Meredith a matrícula como primeiro estudante negro da Universidade do Mississippi -episódio importante da luta por direitos civis contra a política racial segregacionista nos EUA. Pouco menos de cinco décadas depois, como já sabemos, o mesmo país elegeu seu primeiro presidente negro.

Entre as muitas qualidades deste seriado bicampeão do Globo de Ouro (2008-2009), o fato de oferecer subsídios para interpretar a história recente dos EUA é apenas um deles. A nova temporada desenvolve o mote original. Jovens ricos que trabalham num importante escritório de publicidade da NY dos anos 60 criam campanhas sensacionais para produtos da vida comum norte-americana de então, enquanto fumam, bebem e buscam sexo casual incansavelmente.

O ambiente em que a expressão ‘politicamente correto’ não faria sentido, com negros e mulheres em trabalhos subalternos, porém, começa a mudar. Peggy Olson, ex-secretária que cresce na empresa e começa a criar anúncios de sucesso, resume a transformação. Mas o que marca o novo momento, curiosamente, é algo que estava dado desde o começo. A apresentação do programa mostra o diretor de criação Don Draper caindo de um edifício cercado de fachadas com propagandas gigantescas.

A desconstrução da vida de Draper é o grande tema da segunda temporada. Sua saúde, seu casamento e o próprio emprego são postos em perigo. E é neste ponto que a série perde um pouco do vigor. Ao preferir centralizar a atenção nos dramas pessoais do galã vivido por Jon Hamm, perde dinâmica e chega a se assemelhar a uma novela televisiva comum.

MAD MEN

Onde: HBO

Quando: a partir de hoje, todo sábado, às 20h

Classificação: > não indicado a menores de 16 anos

Avaliação: regular’

 

 

INTERNET
Luiz Fernando Vianna e Bruna Bittencourt

Raridades de João Gilberto caem na rede

‘Depois de mais de 50 anos de circulação extremamente restrita, gravações caseiras feitas pelo cantor João Gilberto no momento da eclosão da bossa nova ganharam um público maior nesta semana.

Nelas, pode-se ouvir João Gilberto interpretando cerca de 30 músicas e conversando na casa de Chico Pereira, o fotógrafo das capas dos primeiros discos solo do artista. Os registros vazaram na internet no início desta semana e foram propagados por diversos blogs nos últimos dias (leia mais no texto abaixo).

As gravações são de 1958, ano em que João Gilberto lançou o 78 rotações com as faixas ‘Chega de Saudade’ e ‘Bim Bom’, marco zero da bossa nova, e começou a preparar o LP ‘Chega de Saudade’, que sairia no ano seguinte.

Dez das 12 músicas deste LP -e mais cinco dos dois discos seguintes que formam a trilogia clássica da bossa nova- foram cantadas na casa de Pereira, além de outras que se tornariam constantes na carreira do músico. Mas há outras que ele nunca gravou, como ‘Chão de Estrelas’ (Sílvio Caldas/Orestes Barbosa), ‘João Valentão’ (Dorival Caymmi), ‘Mágoa’ (Tom Jobim/Marino Pinto) e ‘Beija-me’ (Roberto Martins/ Mário Rossi). E há curiosidades como um cachorro latindo durante ‘Um Abraço no Bonfá’ e divertidos efeitos vocais no final de ‘O Pato’.

No livro ‘Chega de Saudade’, lançado em 1990, o escritor Ruy Castro apontou a existências dessas fitas de rolo, a que ele mesmo teve acesso, transformou em fita cassete e, depois, em CD. O autor diz não ser possível garantir que todas as faixas sejam de um mesmo dia.

De modo informal, esses registros chegaram a uma gravadora, mas as chances de eles serem lançados comercialmente um dia são desprezíveis. O perfeccionismo de João -que impede a veiculação de gravações de qualidade muito superior- não deixaria passar sons caseiros nos quais ele chega a falar com amigos e a mulher, Astrud, enquanto está cantando.’

 

 

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