Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO
Laura Mattos

Campanha antibaixaria na televisão perde ibope

‘A apresentadora Sônia Abrão, da Rede TV!, que entrevistou ao vivo o sequestrador da estudante Eloá Pimentel, ficou, em 2008, em quinto lugar no ranking da baixaria na TV, da Câmara dos Deputados. E daí? Alguém ficou sabendo?

Lançada em 2002, a campanha ‘Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania’ já fez muito barulho ao divulgar listas de programas considerados de baixo nível e pressionar seus anunciantes. Hoje tem pouca visibilidade e não causa mais a mesma preocupação às TVs.

Acabou também a ONG TVer, fundada em 1997 por Marta Suplicy e outros profissionais de psicologia, comunicação e educação, que ganhou holofotes ao bradar contra a baixa qualidade televisiva. Será que a TV brasileira passou a ser inatacável ou as pessoas simplesmente não estão mais interessadas em discuti-la?

Nenhuma das hipóteses, para o sociólogo Laurindo Lalo Leal, professor da USP e um dos fundadores da TVer. Ele apresenta na TV Brasil e TV Câmara o programa ‘Ver TV’, que acaba de completar três anos e trata de temas como ‘sexo na TV’, ‘o negro é maltratado na TV?’ e ‘o uso que os grupos fazem das concessões’ .

‘De fato, houve um certo refluxo na publicidade dos movimentos pela qualidade e controle da TV, mas eles continuam. Nesses três anos do programa ‘Ver TV’, observei que a sociedade segue crítica em relação à televisão e gosta de falar sobre seu conteúdo’, afirma.

Em sua opinião, o movimento, antes concentrado no barulho que as ONGs faziam, foi, após essa pressão inicial, absorvido pelo governo, Congresso e o Ministério Público (MP). ‘Com isso, passamos a resultados práticos, como a nova classificação indicativa, que obriga as TVs a colocar um selo com a idade recomendada para os programas, o projeto de lei que restringe propaganda infantis e ações do MP, como as que tiraram do ar Gugu e João Kléber.’

Ele também acredita que a programação da TV sofreu uma ‘melhora sutil’ em relação à baixaria. ‘Mas ela é concentrada na programação nacional. Nos Estados, especialmente os do Nordeste, a TV é uma barbárie. E já existem movimentos regionais importantes contra essa baixaria’, afirma Leal.

A antropóloga Esther Hamburger, chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP, afirma que ‘a TV perdeu espaço no debate público, com a queda de audiência e o crescimento do acesso à internet, especialmente pelo público jovem’. ‘A TV não traz novidades e perdeu a capacidade de provocação. Isso não significa que a programação melhorou, mas que não tem tanta repercussão’, declara.

Para ela, ‘o cinema da retomada hoje tem mais visibilidade’. ‘Filmes como ‘Tropa de Elite’ e ‘Ônibus 174’ trouxeram à tona o tema da violência, e a TV veio a reboque. Nos anos 80, era a televisão quem puxava as discussões no país. Hoje ela continua a ser muito consumida, mas não está mais ocupando esse espaço’, avalia.

Em sua opinião, ‘a mobilização da sociedade contra a baixaria, alguns anos atrás, surtiu efeito, e as TVs hoje têm mais cuidado com o que exibem’. ‘Mas elas não precisam ficar mornas por isso. Podem ser provocativas sem baixaria.’

Diante da queda ‘sutil’ da baixaria, a campanha antibaixaria da Câmara discute como recuperar a visibilidade, conta Ricardo Moretzsohn, representante do Conselho Federal de Psicologia no movimento.

‘O ranking da baixaria continua a ser o DNA da campanha, mas ela hoje se insere em outros debates, por exemplo o da publicidade para crianças, a de bebidas alcoólicas e a Conferência Nacional de Comunicação, anunciada por Lula para este ano, que discutirá a legislação da radiodifusão.’ São assuntos, diz Moretzsohn, com ‘menos apelo direto’. ‘Baixaria todo mundo quer discutir’.’

 

 

Daniel Castro

Série da Globo vai mostrar a polícia que investiga a polícia

‘O seriado policial que a Globo exibirá a partir de abril mostrará o universo dos agentes que trabalham numa corregedoria, a polícia que investiga a polícia. Será mais investigação e menos tiroteio.

Esses detalhes foram mantidos em sigilo até a semana passada. Mas os nomes provisórios, ‘P2’ e ‘Serviço Reservado’ (gírias para corregedoria), já davam indícios do que se tratava. O seriado se chamará, definitivamente, ‘Força-Tarefa’. Esse título, inicialmente, seria o de um programa sobre os bastidores de ações da polícia, engavetado pela Globo.

Com direção-geral de José Alvarenga e textos de Fernando Bonassi e Marçal Aquino, ‘Força-Tarefa’ será centrado em sete policiais de uma corregedoria. A emissora tentará ‘universalizar’ para todo o país e para todas as polícias, mas a ação ocorre numa corregedoria de PM e no Rio de Janeiro.

A equipe será chefiada por Milton Gonçalves. Murilo Benício fará o protagonista, tenente Wilson, um policial que acredita na lei e na polícia, mas que vive o tempo todo tentado a migrar para a ‘banda podre’.

Sessenta por cento das cenas serão externas. Haverá locações em favelas, hospitais e aeroportos. Em estúdio, o principal cenário será um cubículo onde os policiais trabalham.

O primeiro episódio tratará do desaparecimento de um lote de dinheiro rasgado que seria incinerado pelo Banco Central. Contrabando e roubo de cargas também serão temas.

PRAZER, CAROLINE

Melhor atriz no Festival de Cinema no Rio em 2008, pelo inédito ‘Se Nada Mais Der Certo’, Caroline Abras (foto), 21, vai estrear na TV. Está gravando ‘Paraíso’, próxima novela das seis da Globo, na qual interpretará Jacira, uma moça casadoira de cidade interiorana, sempre rodeada de amigas fofoqueiras. Para incorporar a personagem, Caroline clareou e alongou os cabelos e adotou um visual country. Além de ‘Se Nada Mais Der Certo’, a atriz, também já premiada duas vezes em Gramado (RS), por curtas, aparecerá nos cinemas, ainda neste ano, em ‘Augustas’ e ‘Bellini e o Demônio’.

CARA NOVA

A linda Fiorella Mattheis, que interpretou a prostituta que seduziu Dodi (Murilo Benício) no casamento de Flora (Patrícia Pillar), em ‘A Favorita’, será a novidade na bancada do novo ‘Vídeo Show’, que será ao vivo a partir de abril. Luigi Barrichelli também será apresentador, assim como Ana Furtado e André Marques. Eles formarão duplas e se revezarão na apresentação do programa.

NOVA ‘MALHAÇÃO’ 1

Já está em ‘fase de desenvolvimento’ na Globo o projeto ‘WWW’, uma mistura de ficção com realidade que vai virar programa diário, de 15 minutos, a ser exibido antes de ‘Malhação’.

NOVA ‘MALHAÇÃO’ 2

‘WWW’ reunirá cinco adolescentes (irmãos e primos) que tocam numa banda e adoram surfar. Eles contracenarão com atores, que farão seus amigos. Seus quartos vão virar cenários.

MICÃO

Operadoras de turismo estão vendendo, em dez parcelas de R$ 49,55, um cruzeiro entre Santos e Búzios em que a grande atração será Roberto Justus e as gravações de ‘O Aprendiz’.

PACOTE

‘Os Incríveis’, ‘Todo Mundo Em Pânico 4’, ‘As Crônicas de Nárnia – O Leão, o Feiticeiro e o Guarda-Roupa’ e ‘Operação Babá’ são os filmes inéditos da Disney que a Globo exibirá em 2009.’

 

 

POLÍTICA
Fábio Grellet

De olho em 2010, prefeito fluminense vira radialista de programa nordestino

‘Dezenove dias depois de iniciar o segundo mandato como prefeito de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), o petista Lindberg Farias, 39, começou a investir em um novo projeto: viabilizar sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro em 2010.

De olho nos 3 milhões de nordestinos que moram no Estado, ele se tornou um dos apresentadores do programa ‘Nação Nordeste’, veiculado pelas rádios Metropolitana AM e Bandeirantes AM.

‘O objetivo é criar um canal de comunicação com os nordestinos e entre eles, além de divulgar a cultura do Nordeste’, afirma Lindberg. Ele admite que pode ‘render dividendos eleitorais’, mas diz que ‘não é a prioridade’. Anthony Garotinho, governador entre 1999 a 2002, também foi beneficiado pela exposição que teve como radialista.

O ex-líder estudantil -famoso por liderar os caras-pintadas em protestos contra o presidente Fernando Collor, em 1992- acha que tem duas vantagens em relação a possíveis concorrentes em 2010: ‘Sou nordestino [de João Pessoa, na Paraíba] e prefeito de Nova Iguaçu’.

Segundo ele, os conterrâneos, ‘sejam ricos ou pobres’, reconhecem-no pelo sotaque e se identificam com ele. ‘Nordestino vota em nordestino.’ Outra vantagem é a parceria com o governo federal. Até o próximo ano, Nova Iguaçu deve receber mais de R$ 300 milhões para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) -a maior quantia proporcionalmente no Estado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dificilmente apoiará Lindberg caso o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) dispute a reeleição. Mas o governador sonha em ser candidato a vice de Dilma Rousseff, o que pode abrir portas para Lindberg.

O programa ‘Nação Nordeste’ foi criado há mais de dez anos pelo cantor e autor de cordel Marcus Lucenna, organizador da feira de São Cristóvão -o principal reduto de nordestinos do Rio. Nascido em Mossoró (RN), ele conheceu Lindberg em 1994, quando defenderam a feira, ameaçada de remoção.

Lucenna diz que com Lindberg a audiência do programa aumentou ‘porque o povo gosta de estar perto do poder’. No programa acompanhado pela Folha, em 18 de fevereiro, o prefeito declamou poesias do paraibano Augusto dos Anjos, divulgou resultados de campeonatos estaduais do Nordeste, recebeu elogios e anunciou uma descoberta: ‘Nova York foi fundada por nordestinos’. Referia-se a holandeses que, expulsos de Recife no século 17, foram para os EUA.’

 

 

PUBLICIDADE
Bia Abramo

De almas e negócios

‘UMA CRIANÇA , de cerca de oito anos, não sabe dizer o nome da fruta -uma manga- que tem na mão. A menina de menos de sete anos abre o armário e conta seus pares de sapatos: são mais de 30. O garoto descreve seu celular: ‘Tem foto, MP3, é bem básico’. E demonstra surpresa de a repórter perguntar se esse celular ‘bem básico’ é seu primeiro: ‘Não, é o terceiro…’.

Essas são cenas de ‘Criança, a Alma do Negócio’, documentário de Estella Renner que foi exibido na TV Cultura no dia 1º de janeiro deste ano, quando a emissora deixou de veicular propaganda dirigida às crianças no horário em que se concentra sua programação infantil (entre 8h e 19h20).

Embora seja possível ver o filme de Estela Renner na internet (www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40), é pena que não volte à programação justamente hoje, Dia Internacional da Criança no Rádio e na Televisão. A Cultura exibe uma programação especial, mas seria oportuno reexibir o documentário, como forma de retomar uma discussão importante sobre crianças e mídia.

Enquanto tramita no Congresso uma lei que, a exemplo do que ocorre em países desenvolvidos, pretende proibir publicidade dirigida diretamente às crianças, o mercado publicitário reage, ora deblaterando sobre ‘liberdade de expressão e censura’, ora se antecipando à possível aprovação da lei no Congresso e tirando do ar, via o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o Conar, propagandas que foram ‘longe demais’.

O problema é que, como se vê em ‘Criança, a Alma do Negócio’ ou observando uma criança diante da TV, toda publicidade vai longe demais, pois parte de um princípio perverso -vende-se um desejo para quem não tem os meios, nem a autonomia para realizá-lo. É antieducativa por excelência, a não ser que se considere, a sério, a possibilidade de o adestramento para o consumo substituir definitivamente a educação. E aí durma-se com um barulho desses.

Quanto à liberdade de expressão, vale citar artigo de duas juristas, Flávia Piovesan e Tamara Amoroso Gonçalves, publicado aqui mesmo na Folha, em 16/2, que põe um ponto final na tibieza dessa argumentação: ‘(…) Não há que confundir a publicidade e a liberdade de expressão. (…) Trata-se de um direito [a liberdade de expressão] assegurado às pessoas físicas, abrangendo a livre manifestação do pensamento político, filosófico, religioso ou artístico. O alcance de tal direito não compreende a publicidade -atividade que utiliza meios artísticos visando essencialmente a venda de produtos’.’

 

 

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