Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

GUERRA NA TELINHA

Bia Abramo

Ligações perigosas

‘A GUERRA de audiência entre Record e Globo, que vivia uma espécie de trégua no período em que SBT e Record disputavam entre si algumas de suas principais estrelas, voltou a fazer barulho nesta última semana. Começou com reportagem de 11 minutos do ‘Jornal Nacional’ exibida na terça-feira sobre o indiciamento do bispo Edir Macedo e mais nove integrantes da Igreja Universal pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A emissora do bispo rebateu com artilharia pesada contra a Rede Globo no ‘Jornal da Record’ no dia seguinte e, pronto, recomeçava o tiroteio. Em seu favor, a Globo tem a notícia: é fato que a Promotoria investiga os negócios da Universal. A Record, por sua vez, acusa a Globo de dar destaque ‘desproporcional’ ao tema e atribui tudo ao incômodo que sua concorrência estaria causando.

As guerras midiáticas, em geral, fazem muita fumaça, confusão e ruído, mas apenas uma vítima: a informação. Quando empresas de comunicação utilizam todo seu arsenal para defender ou atacar algo ou alguém, a informação se dobra a interesses e vira arma e, com isso, perde todo seu poder.. Ou alguém acha que alguma dessas duas emissoras conseguem ter independência e isenção ao falar dos negócios e das ligações perigosas uma da outra? Enquanto isso, na programação, outra disputa surda se desenrola. O reality ‘A Fazenda’ (diário, às 21h30; 10 anos) da Record, não apenas pegou como vem dando trabalho para ‘No Limite’ (dom. às 23h10; qui. às 23h45; 14 anos), da Globo.

O confinamento rural das subcelebridades rendeu exatamente o que se poderia esperar: alguma baixaria, alguma nudez, algum romance e muita conversa besta. Mas, de alguma forma, é justamente ao que se presta a irresistível atividade de bisbilhotar a vida alheia.

‘No Limite’ tem a solenidade de uma competição de fato, com situações que chegam a desafiar a integridade física dos participantes. É como se esse tipo de reality fosse sério demais, pesado demais, para criar empatia. Além disso, traz a sensação de ‘déjà vu’, enquanto o outro, por precário que seja, tem novidade.

Como anotação para uma possível sociologia dos reality shows, a história até aqui desse tipo de programa sugere que, no Brasil, quanto menos ‘de verdade’ é o reality, mais potencialidade ele tem com o público. Ou seja, quanto mais ficção, consciente ou inconsciente, voluntária ou involuntária, mais adesão produz. Talvez, como Cazuza preferia seus amores, a gente goste mesmo é da vida inventada.’

 

VENEZUELA

Editorial

Pancadas chavistas

‘A REPRESSÃO violenta contra um grupo de jornalistas que protestava contra as novas leis educacionais do governo venezuelano é mais uma mostra de que o projeto ‘bolivariano’ de Hugo Chávez nem sempre é conduzido apenas a pancadas simbólicas.

Contra a Lei Orgânica de Educação (LOE), que era votada na Assembleia Nacional, 25 manifestantes, trabalhadores da cadeia que controla o jornal de maior circulação nacional, o ‘Últimas Notícias’, distribuíam panfletos quando foram atacados por militantes chavistas com socos e porretes em Caracas. Um repórter foi golpeado com um taco de beisebol e sofreu politraumatismo. Ao todo, 12 jornalistas ficaram feridos.

A agressividade da LOE não é menos expressiva. Um dos artigos da lei, aprovada na madrugada de sexta-feira, diz que dirigentes dos meios de comunicação ‘estão obrigados a dar sua cooperação na tarefa educativa e a ajustar a sua programação para o sucesso dos fins e objetivos consagrados na Constituição e na lei’. Também proíbe a publicação de informações que ‘produzam terror nas crianças’.

Para o ministro da Educação venezuelano, Héctor Navarro, o artigo apenas prevê uma ‘vacina’ aos estudantes contra a manipulação de informações nos meios de comunicação. A análise do noticiário fará parte do currículo, e as escolas serão fiscalizadas por organizações chavistas.

A nova lei ainda diminui a autonomia das universidades federais, redutos de oposição ao chavismo, e impõe um controle central das carreiras universitárias.

A norma se segue a sucessivas interdições de emissoras de rádio, além do fechamento do canal opositor RCTV, em 2007.

Após violento ataque de chavistas à emissora de TV Globovisión, no início do mês, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos enviou ao governo uma carta manifestando ‘profunda preocupação’ com a liberdade de expressão no país.

Chávez respondeu que quem quer ‘liberdade ilimitada’ deve ‘ir para a selva, como Tarzã’. Ou como as Farc, a narcoguerrilha colombiana cuja atuação homicida e golpista é louvada pela propaganda chavista.’

 

TELEVISÃO

Daniel Castro

Papo gostoso

‘Fernanda Lima (foto), 32, tem lido e visto muito sobre sexo ultimamente. É que sábado ela grava o primeiro ‘Amor & Sexo’. O programa, que estreia dia 28, depois do ‘Globo Repórter’, falará, como indica o título, de sexualidade e relacionamentos. ‘Vamos ter uma plateia bem eclética e música no palco. Vai ter um certo glamour’, afirma Fernanda, mãe de gêmeos de um ano e três meses. O programa terá uma sexóloga, mas a apresentadora se diz pronta para responder perguntas. ‘Vai ser meio ‘Se Vira nos 30’. Vou falar o que sei’, adianta.

‘Caras & Bocas’ imita seriado e recupera audiência das 19h

Foi com uma fórmula que lembra a dos seriados americanos e uma linguagem não realista que a atual novela das sete da Globo, ‘Caras & Bocas’, reconquistou o público do horário, em debandada desde 2006.

Com um macaco entre os protagonistas, ‘Caras’ teve um início tímido no Ibope, em abril, mas foi se recuperando aos poucos. Nas últimas semanas, tem batido nos 35 pontos na Grande SP. Em algumas capitais, como Florianópolis (43 pontos), tem tido um desempenho digno de novela das oito.

Para o autor, Walcyr Carrasco, um dos segredos é a agilidade. As histórias paralelas duram no máximo uma semana e meia, como se fossem episódios. Nesta semana, por exemplo, se desvendará o enigma do sumiço das joias de Dafne (Flavia Alessandra). Na seguinte, será o casamento da cega Anita (Danieli Haloten). Numa novela ‘normal’, isso só ocorreria no último capítulo. E ‘Caras’, esticada, vai até janeiro.

Para Carrasco, o mundo vive um ‘movimento de histórias rápidas’. ‘Acho que existem movimentos de vaivém constantes. Hoje a trama rápida funciona, amanhã pode ser diferente’, diz. Tem tudo a ver com a internet, acredita.

A novela tem uma trama central simples e não faria sucesso se não fosse a linguagem, avalia o autor. ‘Optei por uma linguagem que mistura humor com romance. Não é uma linguagem realista, o tom não é realista. Ninguém tem um macaco dentro de casa’, afirma.

Nessa era de escândalos, ‘Caras’ tem outro ingrediente de peso: ‘É uma novela em que as pessoas têm valores firmes. Defende postura ética, revive valores. As pessoas gostam disso’.

PAI, COMA BRÓCOLIS

Rafael Miguel, 13, já fez minissérie e novela, mas foi graças ao comercial em que pede brócolis à mãe que ficou famoso. ‘Eu nem tinha oito anos quando gravei o comercial, e até hoje as pessoas me reconhecem’, diz. Rafael é um pouco diferente na vida real. ‘Ele é um ótimo filho, só não come muito legume’, reclama a mãe, Mirian Miguel, 40. O ator é uma das promessas de ‘Cama de Gato’, próxima novela das seis da Globo. ‘Meu personagem se chama Juca, tem nove anos e é filho da Heloísa Perissé com o Marcelo Novaes. É bem criança, mas, às vezes, parece mais maduro que o pai. Vai dar bronca nele’, adianta.

SBT TERÁ ‘TRANS-ATRIZ’

Fabianna Brazil é a primeira ‘trans-atriz’ a participar de uma novela do SBT. Gravou participação em ‘Vende-se um Véu de Noiva’, em que interpreta uma ‘trans’ contratada para desmoralizar o personagem de Marcos Winter. ‘Trans’ é um novo termo para designar a pessoa que tem corpo de mulher, mas que mantém pênis e testículos e não gosta de ser chamado de travesti, associado à prostituição. ‘O SBT está rompendo uma barreira’, afirma Fabianna (Amaro Fabiano Guimarães Jr. na certidão de nascimento). Suas cenas só irão ao ar em meados de outubro.

SEM DADO

A Record tirou do ar na última quinta-feira um vídeo em que Dado Dolabella tomava banho em ‘A Fazenda’. O ‘diferencial’ desse vídeo era que o pênis do ator aparecia rapidamente. A imagem, capturada dia 5 pelo site oficial do programa, virou hit no YouTube. Na quinta, a pedido da Record, o YouTube apagou o vídeo.’

 

Fernanda Ezabella

‘True Blood’ investe no mundo real

‘Que os vampiros se apaixonam por humanos, a gente já sabia. Que eles se enrolam em triângulos amorosos, bem, a gente também já sabia. Sendo assim, não estraga dizer que tudo é possível em ‘True Blood’ e que a garçonete Sookie Stackhouse não permanecerá eternamente fiel ao vampiro Bill.

‘Eternamente’ porque ela não vira vampira, segundo o criador da série, Alan Ball. E ‘fiel’ porque outro sanguessuga ganhará mais espaço na série da HBO: o milenar Eric.

‘Seria entediante, nenhum seriado mantém seu casal principal junto o tempo todo. Tem que ter algum conflito’, revela Anna Paquin, que interpreta Sookie, numa entrevista recente com jornalistas estrangeiros, da qual a Folha participou. Alexander Skarsgard, que faz Eric, explica: ‘Se Bill diz que está com Sookie, Eric respeita.

Pelo menos no começo’. A série é o maior sucesso do canal desde ‘Família Soprano’ e já tem terceira temporada garantida. A segunda, exibida atualmente no Brasil e nos EUA, tem marcado picos de audiência na TV americana -cerca de 4 milhões de telespectadores por episódio.

A sede de sangue resultará numa nova série do gênero nos EUA, em setembro. ‘The Vampire Diaries’, que estreia no Brasil em novembro, no canal Warner, fala sobre uma colegial dividida entre dois vampiros.

O aumento de público da saga gótica de Sookie é proporcional ao aumento das intrigas do seriado, que finalmente sairá da cidadezinha sulista de Bon Temps. Segundo Ball, a segunda temporada ‘vai para o mundo real’, como já foi possível ver no último episódio exibido no Brasil, no qual Sookie vai a Dallas com uma missão.

‘Vamos ver como os vampiros das grandes cidades vivem’, contou Ball, vencedor do Oscar pelo roteiro de ‘Beleza Americana’ e criador da série ‘A Sete Palmos’. ‘E também vamos voltar ao tempo e mostrar o passado de alguns de nossos personagens que têm centenas ou milhares de anos.’

TRUE BLOOD

Quando: domingos, às 22h; reprises na terça, às 21h, na HBO

Classificação: 18 anos’

 

Thiago Ney

‘Mad Men’ estreia em telão na Times Square

‘Uma série como ‘Mad Men’ só poderia ser ambientada na Nova York dos anos 1960. Onde mais, e quando mais, encontraríamos gente entornando copos de uísque no escritório antes da hora do almoço e fumando uns dois cigarros por minuto? Na São Paulo de 2009?

‘Mad Men’ incorpora tão bem o ‘New York way of life’ que a metrópole americana adotou com carinho o seriado.

Criada por Matthew Weiner (ex-roteirista de ‘Família Soprano’), a série inicia hoje nos Estados Unidos sua terceira temporada -no Brasil, sem data prevista.

O episódio será exibido ao vivo em um telão na Times Square. Bares da cidade celebram a data criando drinques inspirados nos personagens. Festas temáticas pipocam em clubes e hotéis. A grife Banana Republic decorou vitrines com manequins alusivos à série.

Esse fascínio é alimentado pela precisão com que o seriado é feito: dos figurinos elegantes aos cenários realistas e os diálogos espertos, cada detalhe parece ter sido cuidadosamente estudado e checado. É filmado em 35 mm, o que fornece um tom ainda mais nostálgico ao programa.

Mesmo todo esse rigor estético seria inócuo não fosse o argumento afiado criado por Weiner, focado em uma agência de publicidade e que tangencia fatos ocorridos na época. Jon Hamm é Don Draper, diretor da agência, casado com uma mulher submissa (que lembra Grace Kelly) e dono de um passado misterioso.

Ele é escorado por Peggy Olson (Elisabeth Moss, uma secretária que se torna redatora) e Pete Campbell (Vincent Kartheiser, um ambicioso executivo da agência), entre outros.

Se já na segunda temporada ‘Mad Men’ abordou episódios como a crise dos mísseis de Cuba, no terceiro ano (e nos próximos) o seriado irá tocar em alguns dos principais acontecimentos da década de 1960, como a morte de Kennedy.

Não que ‘Mad Men’ tenha propósito histórico -seu roteiro segue a linha de filmes como ‘Forrest Gump’, mas com um protagonista esperto, sexy, que fuma um cigarro atrás do outro e conhece a diferença entre dry martini e piña colada.

Sucesso de crítica

‘O que eu sempre quis fazer foi pegar o arquétipo americano do final dos anos 1950 e ver como aquilo se desenvolve até 1970 ou 1972’, disse Matthew Weiner, 44, em entrevista ao ‘New York Times’. Entrega, assim, pistas de até onde ‘Mad Men’ deve se desenvolver.

Apesar do sucesso de crítica (ganhou três Globo de Ouro e seis Emmy), o seriado, exibido pela pequena rede AMC (no Brasil, pelo HBO), abocanha uma audiência tímida: a segunda temporada teve cerca de 1,5 milhão de espectadores -’American Idol’, por exemplo, o programa mais popular na TV norte-americana, tem média de 31 milhões.

Dá para encontrar (em inglês) guia de episódios e de drinques, fotos e games, entre outras coisas, no site oficial: www.amctv.com/originals/madmen.’

 

LITERATURA

Ernane Guimarães Neto

A Ascensão das oficinas literárias

‘O Brasil vive a emergência de um movimento literário: o dos escritores com diploma de autor. Centros culturais com lotação esgotada e professores particulares com fila de espera caracterizam a vicejante versão brasileira da disciplina ‘creative writing’ (escrita criativa) das universidades norte-americanas. Os resultados são semelhantes: escritores reconhecidos pela crítica e premiados nos concursos de literatura.

A Casa do Saber é uma das escolas que aderiram recentemente às oficinas de escrita criativa: as aulas começaram neste ano. Segundo o diretor Mario Vitor Santos, a escola abriu uma exceção à regra de não oferecer cursos práticos depois de discutir a proposta da professora Noemi Jaffe.

A Casa das Rosas, em São Paulo, tem suas aulas práticas lotadas. Para o poeta Frederico Barbosa, diretor dessa instituição mantida pelo Estado, a meia dúzia de oficinas acontecendo em agosto e setembro, com 30 vagas cada uma, não esgota a demanda.

Uma das atrações do período é Marcelino Freire, que mantém outra oficina em São Paulo (no espaço Barco) e recebe convites para encontros em todo o país. Marcelino foi aluno de Raimundo Carrero, pioneiro da prática em Pernambuco.

Carrero começou suas oficinas nos anos 80, trazendo para o Brasil sua experiência na Universidade de Iowa. ‘Até meus romances escrevo com meus alunos’, relata. Para profissionais como ele, a oficina ultrapassa o clichê de que o professor aprende com os alunos; todos aprendem praticando juntos.

No Brasil, imagens como um funcionário público Machado de Assis, um diplomata Guimarães Rosa ou um jornalista Nelson Rodrigues estimulam a pensar no escritor como uma figura excepcional surgida ou sustentada em outras classes profissionais. A vivência pessoal dispensou a programação técnica.

O artista temeria o cerceamento de sua criatividade, o choque entre tradição e vanguarda, a profissionalização. Nos EUA, o choque já aconteceu e discute-se quanto a literatura do pós-guerra é marcada pelos programas universitários (leia entrevista abaixo). A classe dos escritores com diploma já domina entre os laureados com o Pulitzer, por exemplo (leia quadro ao lado).

Rasuras

Para o sociólogo Sergio Miceli, os cursos livres aparecem como um sistema paralelo, a partir da crescente quantidade de pessoas com títulos que não estão incluídas no sistema de produção cultural. Os intelectuais ‘tentam ensinar em cursos de grã-finos semiletrados, que procuram assuntos considerados nobres; o professor se sente valorizado porque ganha um dinheiro que demoraria muito para ganhar de outro jeito. A lógica disso é um pouco esquisita, pois é uma tentativa abreviada de transferir um sistema complicado de conhecimento’.

Mas exemplos como o do Prêmio São Paulo de Literatura, concedido no início do mês, apelam em favor da ‘tecnicização’. O prêmio principal ficou com o cearense Ronaldo Correia de Brito, médico -profissão de escritor ‘à moda antiga’.

O autor estreante premiado foi o gaúcho Altair Martins, mestre em letras com experiência em ministrar oficinas.

O escritor mais celebrado no ano passado, Cristovão Tezza, é linguista e autor do livro didático ‘Oficina de Texto’ -’que não é de criação estética’, adverte. Tezza não pratica as oficinas de escrita criativa, mas pode ser considerado beneficiado por um treinamento especializado nas letras. ‘Rejeito a ideia do escritor como ‘profissionalizável’. Mas, pensando friamente, de uns 20 anos para cá a literatura se aproximou bastante da universidade’.

Uma das críticas feitas a escritores associados à academia é a de que se distanciam da realidade. Frederico Barbosa questiona a afirmação, mas apresenta outro problema. ‘Tezza escreveu uma tese sobre Bakhtin, mas sua obra não é distante da realidade. Milton Hatoum é um estudioso, mas sua obra não é acadêmica no sentido de ‘chata’. O problema na academia é que há uma tendência a conflitos serem apaziguados: ‘Não vou falar mal do sujeito porque ele pode estar depois na minha banca.’

Diploma de autor

O escritor Evandro Affonso Ferreira teve em julho sua primeira experiência como professor de ficção, na Casa das Rosas. ‘Você não constrói um artista’, diz à reportagem, mantendo a aura dos escritores. ‘O curso é um exercício de leitura, dá caminhos’.

O ataque mais comum à oficina a reduz a nada mais do que um trabalho que todo intelectual já deveria fazer em casa: ler. Na pior das hipóteses, é vista como uma sessão de ajuda mútua pautada por elogios superficiais entre os alunos.

Charles Kiefer, que leciona escrita criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, diz que na academia a crítica ao texto alheio é rigorosa. ‘Não sou pago para ser hipócrita.’

A PUC-RS, que mantém oficinas há mais de 20 anos, abriu em 2006 o eixo de escrita criativa na graduação. As turmas tiveram de ser ampliadas para dar conta da demanda. O professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que comemora também a criação do mestrado no tema, integra com Kiefer o que pode ser visto como o atual centro nervoso das oficinas de escrita gaúchas, das quais saíram nomes como Cíntia Moscovich, Daniel Galera e Michel Laub.

Kiefer mantém uma das mais procuradas oficinas de escrita do Brasil. ‘Tenho mais de 1.200 pessoas na lista de espera’, diz. E conjectura: ‘A internet é que está gerando a demanda enorme no Brasil. Todo mundo tem blog, todo mundo escreve, mas uma hora se dá conta de que precisa estudar, avançar’.

‘A formação do escritor inclui ler muito, conhecer a crítica e, podendo, fazer um curso de escrita’, diz Assis Brasil. Para ele, editores consideram esse item na biografia do autor quando apreciam originais.

O músico, editor e autor premiado com o Jabuti de ficção Arthur Nestrovski estudou música e letras em Iowa e não participou das célebres oficinas de escrita daquela universidade, mas declara ter visto uma ‘convivência rica, produtiva’ entre as comunidades de teoria e prática. Ele diz duvidar de que tais diplomas tenham poder de convencimento sobre o mercado brasileiro de publicação.

Veterano das oficinas, o crítico Silviano Santiago afirma que a universidade brasileira não está preparada para diplomas de graduação em escrita. ‘Que concurso você poderá prestar com um diploma desses?’

No fim da história, todas as personagens se obrigam a concordar que escola não faz gênio, mas pode desenvolver pessoas interessadas. Cabe ao aluno escolher o professor.’

 

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