Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

CONCURSO

Folha de S. Paulo

Banca seleciona 3 projetos para Folha Memória

‘A banca de avaliação dos 30 projetos finalistas do concurso Folha Memória elegeu os três premiados.

Ewerthon Tobace, Flávia Helena Péret e Marcel de Souza Gomes, todos formados em jornalismo, receberão cada um a ajuda de custo de R$ 2.300 mensais, por seis meses, para desenvolver suas pesquisas sobre história do jornalismo brasileiro.

Formado pela USP, Marcel, 31, pesquisará a vida e a atuação profissional de Orlando Criscuolo, um dos repórteres que desenvolveram o jornalismo policial no Brasil.

As mudanças dos veículos voltados para o público gay no país é o tema do projeto de Flávia, 31, que estudou na PUC-MG.

Ewerthon, 33, que se formou na Universidade Mogi das Cruzes, estudará a evolução da mídia brasileira no Japão.

Patrocinado pela Pfizer, o concurso recebeu 461 projetos. Formaram a banca de avaliação Isabel Lustosa, historiadora, Renata Lo Prete, editora do Painel, e Silvia Prevideli, consultora em Comunicação Corporativa da Pfizer .

Segundo Isabel Lustosa, havia muitos projetos de qualidade, apontando ‘várias opções de tratamento do problema’.

Os pesquisadores serão orientados por Hélio Schwartsman, colunista da Folha. O melhor dos três trabalhos será publicado em livro editado pela Publifolha, e seu autor ganhará um laptop.

O regulamento do concurso está disponível no site http://folhamemoria.folha.com.br.’

 

EUA

Financial Times

Tática de Obama e opinião pública americana em risco

‘Após a eleição presidencial afegã na última quinta, funcionários americanos aguardavam ansiosamente os primeiros resultados em meio a sinais de que tanto o público americano como a elite política dos EUA têm cada vez menos paciência com a estratégia adotada pelo presidente Barack Obama.

Obama, que durante a semana que passou qualificou o conflito de ‘uma guerra necessária’, não uma opção, diz que o pleito é o evento mais importante do ano no Afeganistão -mais até mesmo que o aumento de soldados e da ajuda ao país que autorizou.

Anteontem, o presidente exaltou a eleição como ‘um importante passo’ diante as ameaças do Taleban e disse que os EUA atingirão seus objetivos, e ‘os nossos soldados poderão então voltar para casa’.

Mas diplomatas americanos dizem que a percepção disseminada de fraude eleitoral, a intimidação e a corrupção podem comprometer ainda mais o apoio doméstico a um conflito consideravelmente menos popular que há alguns meses.

Em pesquisas de opinião divulgadas neste mês pela emissora CNN e pelo jornal ‘Washington Post’, mais da metade das pessoas que responderam disseram opor-se à guerra ou achar que ela não vale a pena.

O governo Obama contribuiu para a controvérsia sobre o Afeganistão ao externar, durante os seus primeiros meses, a preocupação com as acusações de corrupção no governo do presidente Hamid Karzai.

Críticos esquerdistas como o senador Russ Feingold têm questionado a decisão de Obama de enviar mais 21 mil soldados -medida que teria ‘americanizado’ a guerra, já que levará os EUA a terem mais de 60 mil homens, ou dois terços de todas as forças estrangeiras.

Mas o significado real do aumento do compromisso dos EUA só agora está sendo percebido em casa, com os 44 soldados americanos que foram mortos no Afeganistão só no mês de julho, mais do que em qualquer outro mês anterior.

E a disputa política americana sobre a guerra provavelmente se tornará mais intensa, uma vez que se espera que o general Stanley McChrystal, comandante das forças no país, peça ainda mais 10 mil homens.

O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, já indicou haver complicadores para tal medida -apontando sua preocupação com que uma força mais numerosa possa parecer uma ocupação para afegãos comuns. Mas o senador John McCain, rival de Obama na corrida à Casa Branca, já defendeu o aumento de soldados.

As divergências sobre a guerra no Afeganistão são comparáveis ao consenso sobre a guerra no Iraque, em que defensores e críticos apoiaram o cronograma de retirada dos EUA, apesar dos violentos atentados em série da semana passada, que expuseram as dificuldades do país em promover a segurança.

Richard Haas, presidente do think tank Council on Foreign Relations, contestou a visão de Obama de que a guerra no Afeganistão é ‘necessária’. ‘Nós não precisamos, por exemplo, realizar operações de combate em terra’, disse. ‘Poderíamos simplesmente fazer no Afeganistão o que fazemos no Paquistão, com aviões-robô. Ou podemos fazer até menos.’

Mas, pelo contrário, a atual estratégia americana pretende promover a governança no Afeganistão, combater o narcotráfico e aumentar a segurança.’

 

NA REDE

Folha de S. Paulo

Jogo sobre epidemia de gripe vira hit na internet

‘Impulsado pela atual preocupação mundial com a gripe suína, um jogo de computador inspirado nas gripes está fazendo sucesso na internet.

Criado por médicos holandeses, o game The Great Flu (a grande gripe) exige dos jogadores que assumam o papel da OMS (Organização Mundial da Saúde) e controlem uma epidemia mundial da doença.

O jogo está disponível na página www.thegreatflu.com e pode ser utilizado gratuitamente. Está disponível apenas em inglês.

Antes de começar a partida, os internautas escolhem um dos cinco hipotéticos vírus da gripe, cada um com um nível diferente de agressividade.

Os jogadores então precisam tomar medidas como estocar antivirais e vacinas, comprar máscaras, investir em campanhas de esclarecimento da população e em pesquisas que buscam encontrar a vacina, distribuir cientistas pelo mundo e fechar escolas e aeroportos. As decisões variam conforme o continente escolhido.

Na luta contra a epidemia mundial de gripe, os jogadores contam com um orçamento limitado. O dinheiro disponível diminui na medida em que as decisões são postas em prática.

A quantidade de pessoas infectadas e mortas pela doença aparece em tempo real. A evolução desses números também depende dos movimentos feitos pelo jogador.

O game da gripe busca ser tão realista que páginas de jornais noticiando os esforços dos governos e os protestos da sociedade aparecem na tela a todo momento.

Cientista respeitado

O jogo The Great Flu foi lançado em março deste ano, um mês antes da divulgação dos primeiros casos de gripe suína no México.

‘É justamente o que está acontecendo agora no mundo real’, afirma o médico Albert Osterhaus, da Universidade Erasmus, de Roterdã, um dos criadores do jogo online.

Osterhaus é um dos virologistas mais respeitados do mundo. Foi ele quem desvendou os mecanismos de funcionamento do vírus da Sars (síndrome respiratória aguda grave), a doença que aterrorizou o planeta em 2003.

De acordo com o médico, o jogo ajuda as pessoas a entender o quão difícil é para as autoridades tomar decisões sobre a saúde pública em momentos de crise como o atual.

Segundo dados divulgados anteontem pela OMS, já foram registrados neste ano mais de 180 mil casos de gripe A em todo o mundo e 1.799 mortes.

No Brasil, de acordo com as últimas estatísticas do Ministério da Saúde, houve 368 mortes causadas pelo vírus H1N1 até o momento.’

 

Renato Essenfelder

Comunidades falsificadas

‘Com a emergência de gigantescas redes sociais virtuais, como o Facebook, a internet configura a sua utopia máxima: todos somos iguais. E, se somos todos iguais, não precisamos mais de eleições, pois não precisamos ser representados. Todos nos representamos no espaço democrático da internet.

O raciocínio é tentador, mas, para o filósofo espanhol Jesús Martín-Barbero, é mentiroso -e temerário. ‘Nunca fomos nem seremos iguais’, ele diz, e na vida cotidiana continuaremos dependendo de mediações para dar conta da complexidade do mundo, seja a mediação de partidos políticos ou a de associações de cidadãos.

Martín-Barbero vê a internet como um dos fatores de desestabilização do mundo hoje, que não pode ser pensado por disciplinas estanques.. Mundo, aliás, tomado pela incerteza e pelo medo, que nos faz sonhar com a relação não mediada das comunidades pré-modernas. O filósofo conversou com a Folha durante visita a São Paulo, na semana passada.

FOLHA – Desde 1987, quando o sr. lançou sua obra de maior repercussão [‘Dos Meios às Mediações’, ed. UFRJ], até hoje, o que mudou na comunicação e nas ciências sociais?

JESÚS MARTÍN-BARBERO – Estamos em um momento de pensar o conceito de conhecimento como certeza e incerteza. A incerteza intelectual dos modernos se vê hoje atravessada por outra sensação: o medo. A sociedade vive uma espécie de volta ao medo dos pré-modernos, que era o medo da natureza, da insegurança, de uma tormenta, um terremoto. Agora vivemos em uma espécie de mundo que nos atemoriza e desconcerta.

O medo vem, por exemplo, da ecologia: o que vai acontecer com o planeta, o nível do mar vai subir? A natureza voltou a ser um problema hoje, como aos pré-modernos. Depois vem o tema da violência urbana, a insegurança urbana. Por toda cidade que passo, de 20 mil a 20 milhões de habitantes, há esse medo.

Como terceira insegurança, que nos afeta cada vez mais, aparece a vida laboral. Do mundo do trabalho, que foi a grande instituição moderna que deu segurança às pessoas, vamos para um mundo em que o sistema necessita cada vez menos de mão de obra. O mundo do trabalho se desconfigurou como mundo de produção do sentido da vida.

FOLHA – Nesse mundo de incertezas, como se comporta a noção de comunidade? Como ela aparece em redes virtuais como o Facebook?

MARTÍN-BARBERO – Acho que ainda não temos palavras para nomear esse fenômeno. Falamos em rede social, mas o que significa social aí? Apenas uma rede de muita gente. Não necessariamente em sociedade. Há diferenças entre o que foi a comunidade pré-moderna e o que foi o conceito de sociedade moderna.

A comunidade era orgânica, havia muitas ligações entre os seus membros, religiosas, laborais. Renato Ortiz [sociólogo e professor na Universidade Estadual de Campinas] faz uma crítica muito bem feita a um livro famoso de [Benedict] Anderson, que diz que a nação é como uma comunidade imaginada [‘Comunidades Imaginadas’, ed. Companhia das Letras], principalmente por jornais e a literatura nacional.

É verdade, são fundamentais para a criação da ideia de nação. Mas Renato Ortiz diz que há muito de verdade e muito de mentira nisso. O que acontece é que, quando a sociedade moderna se viu realmente configurada pelo Estado, pela burocracia do Estado, começou a sonhar novamente com a comunidade. Era uma comunidade imaginada no sentido de querer ter algo de comunidade, e não só de sociedade anônima.

Falar de comunidade para falar da nação moderna é complicado, porque se romperam todos os laços da comunidade pré-moderna. Eu diria que há aí um ponto importante, considerando que no conceito de comunidade há sempre a tentação de devolver-nos a uma certa relação não mediada, presencial. Essa é um pouco a utopia da internet.

FOLHA – Qual utopia?

MARTÍN-BARBERO – A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. Nunca fomos nem somos nem seremos iguais. E portanto a democracia de todos é mentira. Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida. Precisamos de partidos políticos ou de uma associação de pais em um colégio, por exemplo.

FOLHA – As comunidades virtuais da atualidade têm pouco das comunidades originais, então?

MARTÍN-BARBERO – Quando começamos a falar de comunidades de leitores, de espectadores de novela, estamos falando de algo que é certo. Uma comunidade formada por gente que gosta do mesmo em um mesmo momento. Se a energia elétrica acaba, toda essa gente cai.

É uma comunidade invisível, mas é real, tão real que é sondável, podemos pesquisá-la e ver como é heterogênea. Comunidade não é homogeneidade. Nesse sentido é muito difícil proibir o uso da expressão ‘comunidade’ para o Facebook. Mas o que me ocorre ao usarmos o termo ‘comunidade’ para esses sites é que nunca a sociedade moderna foi tão distinta da comunidade originária.

O sentido do que entendemos por sociedade mudou. Veja os vizinhos, que eram uma forma de sobrevivência da velha comunidade na sociedade moderna. Hoje, nos apartamentos, ninguém sabe nada do outro. Outra chave: o parentesco. A família extensa sumiu. Hoje, uma família é um casal. O que temos chamado de sociedade está mudando. Estamos numa situação em que o velho morreu e o novo não tem figura ainda, que é a ideia de crise de [Antonio] Gramsci.

FOLHA – A proposta de sites como o Facebook não é exatamente de fazer essa reaproximação?

MARTÍN-BARBERO – Creio que há pessoas no Facebook que, pela primeira vez em suas vidas, se sentem em sociedade. É uma questão importante, mas não podemos esquecer da maneira como nos relacionamos com o Facebook.

Um inglês que passa boa parte de sua vida só, em um pub, com sua grande cerveja, desfruta muito desse modo de vida. Nós, latinos, desfrutamos mais estando juntos.

Evidentemente a relação com o Facebook é distinta. O site é real, mas a maneira como nos relacionamos, como o usamos, é muito distinta. O Facebook não nos iguala. Nos põe em contato, mas nada mais.

FOLHA – De que maneira essas questões devem transformar os meios de comunicação?

MARTÍN-BARBERO – Não sei para onde vamos, mas em muito poucos anos a televisão não terá nada a ver com o que temos hoje. A televisão por programação horária é herdeira do rádio, que foi o primeiro meio que começou a nos organizar a vida cotidiana. Na Idade Média, o campanário era que dizia qual era a hora de levantar, de comer, de trabalhar, de dormir. A rádio foi isso.

A rádio nos foi pautando a vida cotidiana. O noticiário, a radionovela, os espaços de publicidade… Essa relação que os meios tiveram com a vida cotidiana, organizada em função do tempo, a manhã, a tarde, a noite, o fim de semana, as férias, isso vai acabar. Teremos uma oferta de conteúdos. A internet vai reconfigurar a TV imitadora da rádio, a rádio imitadora da imprensa escrita… Creio que vamos para uma mudança muito profunda, porque o que entra em crise é o papel de organização da temporalidade.

FOLHA – A ascensão da internet e da oferta de informação por conteúdos suscita outra questão, ligada à formação do cidadão. Não corremos o risco de que um fã de séries de TV, por exemplo, só busque notícias sobre o tema, alienando-se do que acontece em seu país?

MARTÍN-BARBERO – Antigamente, todos líamos, escutávamos e víamos o mesmo. Isso para mim era muito importante. De certa forma, obrigava que os ricos se informassem do que gostavam os pobres -sempre defendi isso como um aspecto de formação de nação.

Quando lançaram os primeiros aparelhos de gravação de vídeo, disseram-me que isso era uma libertação: as pessoas poderiam selecionar conteúdos.

Mas esse debate já não é possível hoje. Passamos para um entorno comunicativo, as mudanças não são pontuais como antes. A questão não é se eu abro ou não abro o correio. Não quero ser catastrofista, mas o tanto que a internet nos permite ver é proporcional ao tanto que sou visto. Em quanto mais páginas entro, mais gente me vê. É outra relação.

Temos acesso a tantas coisas e tantas línguas que já não sabemos o que queremos.. Hoje há tanta informação que é muito difícil saber o que é importante. Mas o problema para mim não é o que vão fazer os meios, mas o que fará o sistema educacional para formar pessoas com capacidade de serem interlocutoras desse entorno; não de um jornal, uma rádio, uma TV, mas desse entorno de informação em que tudo está mesclado. Há muitas coisas a repensar radicalmente.’

 

***

Quem é Jesús Martín-Barbero

‘Nascido na Espanha, mas radicado na Colômbia, Jesús Martín-Barbero é doutor em Filosofia e Letras pela Universidade de Louvain, na Bélgica, e coordenador de pesquisa da Faculdade de Comunicação e Linguagem da Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá.

Autor popular entre estudiosos da comunicação no Brasil, estuda o fenômeno sob enfoque cultural. Propôs em sua visita a São Paulo na última segunda que a área seja pensada como ‘nebulosa’ -uma região sem fronteiras nem centro.

Ele esteve na cidade para aula magna de lançamento do Fórum Permanente de Programas de Pós-Graduação em Comunicação do Estado de São Paulo.’

 

TELEVISÃO

Daniel Castro

Doutora Alegria

‘A atriz Christine Fernandes, 41, frequentou muito hospital ultimamente. É que em ‘Viver a Vida’, próxima novela das oito, ela interpretará Ariane, uma oncologista que, após ficar viúva, vira uma médica paliativista, que atua para amenizar o sofrimento de pacientes terminais. ‘A morte não precisa ser, necessariamente, uma coisa triste’, diz. Chistine está fazendo laboratório no Instituto Nacional de Câncer, no Rio.

‘Caminho das Índias’ vai disparar alertas sobre câncer

Glória Perez, 60, escreve os últimos capítulos de ‘Caminho das Índias’, que acaba dia 11 de setembro. Antes disso, enfrentará a última sessão de quimioterapia. Em maio, após uma cirurgia de emergência, descobriu que tinha câncer de tireoide. O linfoma foi retirado, mas ela teve de se submeter a tratamento preventivo. Apesar da quimioterapia, não abriu mão de escrever, praticamente sozinha, o principal produto cultural brasileiro. Na entrevista que segue, Glória fala do tratamento e revela que irá fazer ‘alertas’ sobre a importância de exames precoces para detectar tumores.

FOLHA – Como foi escrever novela enquanto fazia quimioterapia? O que mudou na sua rotina?

GLÓRIA PEREZ – Fácil não foi. Em tempos de gripe suína, tive que me resguardar muito, por causa da baixa de imunidade, para evitar qualquer resfriado, qualquer alteração que pudesse comprometer a entrega regular dos capítulos.

FOLHA – Chegou a pensar que poderia ter de abrir mão da novela?

GLÓRIA – Num primeiro momento, sim. Fiquei surpresa quando o doutor Daniel Tabak [médico dela] disse que eu deveria continuar a trabalhar normalmente, que isso seria bom para o tratamento. Suportei bem a químio, não tive efeito colateral grave, intenso demais. E pude ver que não sou nenhuma exceção: tenho convivido, durante as sessões, com muitas pessoas que continuam a trabalhar normalmente.

FOLHA – Qual foi o momento mais difícil?

GLÓRIA – Esperar o resultado da biópsia. A realidade impõe limites. A imaginação não.

FOLHA – Em sua próxima novela, você pretende falar de câncer, da importância de fazer exames?

GLÓRIA – O doutor Tabak fala sempre que o linfoma é altamente curável, desde que diagnosticado precocemente. E se faz tão pouca divulgação disso que resolvemos dar um toque nas pessoas nesta novela mesmo! Não dá tempo de criar uma história mas de disparar alertas: se perceber um gânglio, vá ao médico, faça o exame!

HOMEM AZUL

Gugu Liberato viajou quinta-feira à noite para Nova York. Foi entrevistar os criadores do Blue Man Group, grupo performático em que os integrantes usam roupas pretas e máscaras azuis, atualmente nos intervalos comerciais das TVs -são garotos-propaganda de uma operadora de celulares. O Blue Man será a principal atração da estreia do ‘Programa do Gugu’, domingo que vem, na Record.

HERMANO, REPÓRTER

Hermano Henning vai deixar a bancada do ‘Jornal do SBT’ (edição manhã) por uns dias. Em setembro, o ex-correspondente e cidadão alemão viaja para a Alemanha, onde fará uma reportagem especial sobre os 20 anos da queda do muro de Berlim, para o ‘SBT Repórter’. Outra âncora do SBT, Cynthia Benini também vai à Alemanha em setembro, mas para reportagens de turismo.

DIA DO MICO

A senhora da foto aí ao lado é o ator Matheus Nachtergaele. Ele interpreta Corália, personagem de ‘Biriba das Coroas’, episódio de estreia, no dia 30, de ‘Domingo É Dia’, novo quadro do ‘Fantástico’. Com textos de autores como Cláudio Paiva e Luis Fernando Verissimo, ‘Domingo É Dia’ traz dramatizações curtas de situações que acontecem aos domingos, como jogar futebol e percorrer feirões de carros. Bruno Garcia, Deborah Secco e Lúcio Mauro Filho estão no elenco.

AGORA VAI 1

A Rede TV! está montando um núcleo de teledramaturgia. A emissora, que pretende produzir um seriado em 2010, está à procura de autores e diretores. A escolha será em função do projeto apresentado.

AGORA VAI 2

‘Não tem nenhuma definição [sobre formato e gênero]. O importante é que o roteiro seja atraente’, avisa Mônica Pimentel, superintendente artística da Rede TV!. As gravações serão na nova sede da TV, em Osasco (SP). Um dos estúdios será para teledramaturgia.’

 

Bia Abramo

A felicidade como arma de marketing

‘À GUISA de programa de reportagem, o SBT fez uma longa autopropaganda em comemoração dos 28 anos da emissora. Na última quarta, durante mais de uma hora, o SBT lançou seu slogan -a TV mais feliz do Brasil-, incensou a figura de seu demiurgo, proprietário, mentor e estrela principal Silvio Santos, exibiu uma entrevista, amplamente anunciada, com Maisa, mostrou vários funcionários na tarefa de elogiar o patrão e, pouco, muito pouco, contou sua história.

A não ser que, por história, o SBT entenda os fragmentos de cenas laudatórias e anedotas mais ou menos engraçadas, o que é bem possível. Mas o SBT não está lá muito interessado em história e sim, em ‘alegria, felicidade’, como reiteraram apresentadores, artistas, ‘animadores’ (como qualificar, por exemplo, Sérgio Mallandro?) e até jornalistas e repórteres. Portanto, apenas o marketing basta para firmar uma narrativa engrandecedora.

‘Fábrica de sonhos’, ‘a TV de todos os brasileiros e de todos os estilos’, ‘prolongamento de nossos lares, nossas casas’, onde ‘não tem tempo ruim’, o SBT reafirmou, nas linhas e nas entrelinhas, sua vocação popularesca, de entretenimento mínimo. Nos programas de auditório, basta ter barulho, agitação e, mais uma vez, alegria (após tantas repetições, a gente já nem sabe mais o que significa o substantivo).

No jornalismo, ‘notícias importantes e interessantes’, mas que, detalhe fundamental, ‘agradem aos telespectadores’. Algumas ausências, entretanto, são notáveis: por exemplo, o assunto ‘novelas’ tangenciou todo o programa, mas foi tratado ora no passado, na memória das novelas infantis e da fase ‘mexicana’ da teledramaturgia do SBT, ora no futuro, em um minidepoimento do recém-contratado Tiago Santiago.

Sobre a novela no ar, apenas uma menção ao trabalho de computação gráfica da abertura de ‘Vende-se um Véu de Noiva’. Ah, e também teve a entrevista da Maisa.

Tratada como símbolo do futuro do SBT, era necessário que a menina viesse a público desfazer o mal-estar causado pelo episódio do menino-monstro, aquele em que Silvio Santos fez a menina chorar em público por duas vezes e culminou no fim da participação dela no programa do patrão.

Obediente e ‘feliz’, também ela fez coro, classificando SS de grande homem e de herói, repetindo que ‘adora’ ser apresentadora e declarando que quer fazer isso para o resto da vida etc. É. De fato, quando passado, presente e futuro apontam na mesma direção, ninguém precisa de história, não é mesmo?’

 

JOÃO DO RIO

Ruy Castro

Flâneur das coxias

‘É difícil saber o que mais admirar em João do Rio, se o literato ou o jornalista -e, no caso deste último, se o repórter, o cronista ou o crítico (de teatro, de literatura, de costumes). Na verdade, o homem a ser admirado é um só porque, por trás de todas essas máscaras, está o mesmo João Paulo Alberto Coelho Barreto [1881-1921] -ou Paulo Barreto, José Antônio José, Joe, Claude, Máscara Negra e demais pseudônimos que ficaram à sombra do definitivo João do Rio.

E outro não é o homem que sabia conciliar seu lado ‘flâneur’ (pelas ruas do Rio de Janeiro, cuja ‘alma encantadora’ imortalizou em frase e livro) com as severas condições da erudição, a qual, para ser adquirida, exige muitas horas de poltrona à luz do abajur.

Tal receita de vida, rica e múltipla, salta de cada entrelinha de ‘João do Rio e o Palco’, coletânea de seus textos sobre a vida teatral da então capital da República, organizada por Níobe Abreu Peixoto. Os dois volumes, intitulados ‘Página Teatral’ e ‘Momentos Críticos’, compreendem material publicado em jornais e revistas, de 1899, ano de sua estreia, aos 18 anos, a 1921, quando morreu, aos 40. Mais um pouco, pelo estado quase desesperador dos originais, e o trabalho não teria sido possível.

Escrever sobre teatro, para João do Rio, não significava assistir à estreia de uma peça e levar os dias seguintes bordando um texto para o jornal. Ele frequentava os ensaios, infiltrava-se pelas coxias, invadia os camarins, passava o dedo nos móveis de cena e falava com todo mundo -das estrelas internacionais aos ‘pontos’ e contrarregras- nos teatros João Caetano, Carlos Gomes, Lírico, Recreio e outros do Rio, inclusive aquele cuja inauguração se deu há cem anos: o Municipal.

Não contente, João do Rio recebia em sua casa (durante anos, na Lapa; depois, em Ipanema) as atrizes que admirava (Cinira Polônio, Abigail Maia, Lucinda Simões e a filha desta, Lucilia) ou ia à casa delas, e as descrevia em perfis apaixonados. A pedidos, lia em primeira mão os originais de autores consagrados, como Arthur Azevedo e Raul Pederneiras, ou de jovens desconhecidos que o abordavam na rua. E escrevia atrevidas cartas abertas para os empresários teatrais e para o prefeito, dando palpite sobre a política dos teatros particulares e públicos.

Tarimba de espectador

Isso feito, João do Rio comparecia às estreias, mas não se limitava a dissecar o espetáculo à cata de defeitos e qualidades -embora, se quisesse, pudesse fazer isso, com sua tarimba de espectador em Lisboa, Paris e Londres.

Para ele, o teatro não era uma ciência exata, razão pela qual não se dizia um crítico, mas um comentarista, capaz de observar a atitude da plateia no ‘foyer’ entre dois atos e fazer dela a base para o seu julgamento.. O impressionante em João do Rio é que essa entrega ao mundo do teatro não o impedia de, como repórter, mergulhar com igual frenesi no ‘bas-fond’ das casas de ópio do Rio ou de devassar templos e tendas das diversas religiões para produzir textos que até hoje municiam os historiadores da cidade.

A vida profissional de João do Rio cobriu as duas primeiras décadas do século 20 -justamente a ‘belle époque’ carioca, iniciada com a reforma urbanística do prefeito Pereira Passos a partir de 1903. O Rio recebia as grandes companhias estrangeiras e não era incomum que, ao fim de um espetáculo, os acadêmicos de direito subissem ao palco e um deles fizesse uma saudação em francês à diva. A qual podia ser Sarah Bernhardt, Eleonora Duse, Gabrielle Réjane (inspiradora de todas as Rejanes brasileiras), Lyda Borelli ou Isadora Duncan.

Num Rio de 1 milhão de habitantes, respirava-se bastante teatro, o que não impedia João do Rio de viver resmungando que ‘não havia mais teatro nem arte’ -já então a nostalgia de uma ‘era de ouro’ que ficara no passado. Mas João do Rio escrevia tão bem que as suas palavras o traíam e revelavam a beleza daquela época, que, no fundo, o empolgava: ‘O verão é a época dos ‘music halls’, das cançonetas e dos teatros ligeiros. No verão, ou o cinematógrafo ou o café cantante, com pernas à mostra, decotes até a cintura, sorvetes, tangos, e muito champanhe gelado, e muito ‘bock frappé’.

[…] Na cegante apoteose das lâmpadas elétricas, a loucura e a doidice alegre crepitam entre cançonetas picantes e números vertiginosos’ [8/12/1907]. Ou: ‘Os domingos do Rio já são torrencialmente carnavalescos. […] Do alto das janelas ribombam os zé-pereiras anunciadores da pândega. É o Carnaval, o começo da loucura e eu, como toda a gente, estou mais ou menos maluco’ [2/2/ 1908].

JOÃO DO RIO E O PALCO

Organizadora: Níobe Abreu Peixoto

Editora: Edusp (tel. 0/xx/11/3091-4008)

Quanto: R$ 85 (2 vols., 592 págs.)’

 

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