Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

EGITO

André Lobato

Para dificultar atos, internet e celular são bloqueados

Num ato chamado de ‘sem precedentes’ por alguns especialistas, o governo egípcio cortou as redes de internet e telefones celulares do país, uma tentativa de evitar que fossem usadas na organização de protestos.

‘Praticamente todos os endereços de internet do Egito estão inacessíveis mundialmente’, disse James Cowie, da empresa Renesys, que monitora a transmissão de dados da rede.

‘Foi uma ação sem precedentes na história da internet. O governo parece ter dado ordem para os provedores apagarem suas conexões internacionais’, disse.

O bloqueio só se compara a ações do governo chinês, como a suspensão dos acessos à internet na região de Xinjiang após protestos em 2009. No Egito, no entanto, foi o país inteiro emudecido.

Os quatro principais servidores do país foram desligados pouco depois da meia-noite de ontem (20h de anteontem em Brasília), afetando 20 milhões de pessoas.

Segundo o jornal britânico ‘Guardian’, 88% da internet egípcia parou de funcionar. Apenas um provedor internacional continuou em rede.

As duas empresas de telefonia celular do país tiveram que suspender o serviço em diversas localidades desde o início da manhã de ontem.

As ações do governo foram baseadas na legislação local, segundo uma das empresas.

Celulares e redes sociais vinham sendo usados por ativistas para planejar e organizar manifestações desde a última terça-feira.

Da península do Sinai, era impossível ontem telefonar para o Cairo. Na capital, apenas algumas linhas fixas funcionavam ontem.

TRANSPORTE

Ontem, era possível chegar por terra do interior do Egito à capital, mas a maioria dos estrangeiros evitava a viagem por causa da confusão nas ruas.

A holandesa Sietske De Weers, 25, tinha passagem comprada para o Cairo na noite de ontem, mas foi instruída a adiar sua ida à capital.’Me disseram no hotel: não há Cairo hoje’, diz. Apesar do toque de recolher, os protestos continuavam.

‘As pessoas provavelmente vão dormir nas ruas hoje [ontem]. Todo mundo que conheço está nas ruas’, disse o dono de restaurante Mohamed Kosha.

‘A única maneira [de esvaziar as ruas] é o governo dizer que vai baixar os preços e aumentar os salários’, diz ele.

Mesmo com todos os protestos, o ditador Hosni Mubarak ainda mantém boa imagem entre alguns egípcios ouvidos pela Folha. A críticas recaem sobre seus assessores e ministros.

 

RÚSSIA

Jornalista brasileiro é detido em cidade russa

O jornalista free-lancer Solly Boussidan foi preso anteontem na cidade de Sochi (a cerca de 1.000 km de Moscou) por trabalhar sem autorização do governo. Boussidan viajava pelo país como turista, mas enviou reportagens para o Brasil sobre atentado a bomba em um aeroporto de Moscou. A Justiça local determinou que Boussidan seja extraditado para o Brasil em 10 dias. A embaixada brasileira em Moscou afirma estar tentando reduzir o prazo de detenção.

 

INTERNET

Jornais dos EUA lançam agregador de notícias

O site Ongo, no qual o ‘New York Times’, o ‘Washington Post’ e o Gannett (publica o ‘USA Today’) investiram US$ 12 milhões em 2010, iniciou na terça-feira suas atividades, sem publicidade, por meio de assinatura mensal de US$ 6,99. A página é acessível a partir de computadores, smartphones e tablets e permite ler os jornais na íntegra e compartilhar notícias. É possível acessar outros diários mediante pagamento adicional.

 

DIGITAL

Diogo Bercito

Indústria de quadrinhos reforça aposta no meio digital

Enquanto o mercado editorial discute o fim do livro em papel, a indústria de quadrinhos têm a mesma preocupação com os gibis.

Representantes de Hong Kong aproveitam o festival internacional de HQs de Angoulême, na França, para promover o aplicativo Hong Kong Comics, uma das promessas para o futuro do mercado de quadrinhos do país (estimado em 600 milhões de dólares de Hong Kong).

O produto, que permite a leitura de gibis em iPads, foi lançado no dia 11, e a versão em inglês está prevista para fevereiro.

O evento em Angoulême é o mais importante do mercado franco-belga e dedica um de seus pavilhões aos negócios de licenciamento.

Editoras de todo o mundo encontram aqui um cardápio vasto, no país que publicou 5.165 HQs em 2010.

APOSTA

Enquanto negócios são fechados para a publicação de títulos em papel durante a feira, lançamentos como o Hong Kong Comics mostram que a indústria começa a apostar nos meios digitais.

A americana Marvel já tinha apontado esse caminho em abril de 2010, quando lançou um aplicativo para a leitura das aventuras de personagens icônicos como o Homem-Aranha e os X-Men. A DC (Batman), também dos EUA, fez o mesmo em junho.

O mercado norte-americano movimentou US$ 680 milhões em 2009, com previsão de queda de 12% em 2010, segundo o iCv2, que monitora as vendas de gibis no país.

‘As vendas começaram a cair nos anos 90, conforme os meios digitais se tornaram o principal veículo de entretenimento’, diz Thomas Tang, diretor da HKCAF (federação de Hong Kong de HQs e desenhos animados) -instituição que propôs e desenvolveu o aplicativo.

O projeto teve incentivo do governo, que investiu 2 milhões de dólares de Hong Kong nele.

‘As gerações atuais estão mais acostumadas a apertar botões do que a virar páginas’, afirma Tang.

Segundo a associação, o Hong Kong Comics teve 15 mil downloads nos três primeiros dias, com acesso vindo de 48 países diferentes.

O sucesso é semelhante àquele dos aplicativos norte-americanos. O produto da Marvel para a leitura de HQs em iPads é hoje o 7º aplicativo mais baixado nos EUA, na categoria de livros.

O aplicativo de Hong Kong destina entre 28% e 42% dos lucros para as editoras e entre 28% e 42% para a HKCAF. Os 30% restantes são gastos com a distribuição do aplicativo via iTunes.

 

Venda de Kindle supera obras em papel

O site de vendas Amazon anunciou que as vendas de livros para o leitor digital Kindle já superam as das publicações tradicionais em papel.

Segundo um comunicado do site, desde o início de 2011, para cada cem livros em papel, são vendidos 115 Kindle. No mesmo período, a venda de Kindle foi três vezes maior que a de livros de capa dura.

 

TELEVISÃO

Clarice Cardoso

Estrela de ‘Raymond’ é boa surpresa em ‘The Middle’

No meio do nada, uma mãe de família de classe média luta para que seus parentes sejam algo mais do que medianos. A tarefa parece impossível: o marido (Neil Flynn, de ‘Scrubs’) não tem filtros e diz tudo que lhe vem à mente, e os filhos também têm problemas.

O mais velho, Axl (Charlie McDermott), é o típico adolescente que vive pela casa de cueca. A do meio, Sue (Eden Sher), é uma fracassada congênita. E o mais novo, Brick (Atticus Shaffer), sussurra para si mesmo e tem como únicos amigos os livros. É tentando arrastá-los para a normalidade que Frankie (Patricia Heaton) acaba em situações loucas como a do primeiro episódio, em que surge vestida de super-heroína no meio de uma estrada.

Situações absurdas assim estão em todo capítulo, e esse humor que beira o ‘nonsense’ rende bons momentos -como os testes fracassados de Sue-, mas também pode acabar em episódios mais irregulares.

VIDA NOVA

A temporada que chega aqui na semana que vem começa com uma reviravolta na vida fracassada de Sue:

ela entrou para o time de ‘cross-country’. (Se não quiser saber nada antes de ir ao ar, é melhor parar a leitura.) Quando a trama retorna, a vitória da filha parece ter inspirado Frankie, que resolve se tornar uma mãe modelo -não antes de, é claro, ter uma manhã caótica no primeiro dia de aula.

O que a leva à péssima decisão de ir à escola de Brick para já avisar à professora sobre as esquisitices do filho.

É aqui que aparece a principal surpresa do bom episódio. A nova tutora do caçula é vivida pela premiada Doris Roberts, com quem Heaton contracenou durante nove temporadas em ‘Everybody Loves Raymond’.

As duas logo recuperam a dinâmica antiga, de quando viviam sogra e nora, e Roberts faz o que sabe fazer de melhor: torturar a personagem de Heaton.

NA TV

The Middle

Estreia do segundo ano

QUANDO segunda, 7/2, às 21h30, no Warner Channel

CLASSIFICAÇÃO não informada

 

JORNALISMO

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Notícias Populares’ marcou época com sexo e bom humor

O diário ‘Notícias Populares’ foi um dos mais interessantes fenômenos do jornalismo brasileiro da segunda metade do século passado.

Concebido para combater, em nome dos conservadores, o governo de João Goulart, defendido pelo jornal ‘Última Hora’, o ‘NP’ se transformou num dos melhores exemplos locais da imprensa do modelo dos tabloides ingleses, um sensacionalismo benfeito, criativo, bem-humorado, com forte apelo para setores populares da sociedade e que explora inteligentemente fatos relativos a crime, sexo, esportes e celebridades.

A história do ‘NP’ foi muito bem relatada em 2001 por quatro então recém-formados em jornalismo e reaparece em edição revista.

Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima contam com linguagem agradável e fluida, sem pretensão acadêmica, muitas das histórias lendárias que marcaram as quatro décadas do jornal, muitíssimo bem-sucedido até uma combinação de fatores políticos, econômicos e sociais o inviabilizar como negócio e determinar o seu fim, em 2001.

‘Nada Mais que a Verdade’ pode incitar outros estudiosos a investigar um enigma do mercado brasileiro de comunicação atual.

No prefácio, o colunista da Folha Marcelo Coelho diz que uma das causas da morte do ‘NP’ foi o fato de a TV ter se apropriado do interesse pelo tipo de informação em que o jornal se especializara.

Como no Brasil não se chegou a criar tradição de leitura no operariado antes da sua relativa melhora de poder aquisitivo e da disseminação da TV, não se formou aqui uma audiência fiel ao jornalismo impresso sensacionalista, ao contrário, por exemplo, do Reino Unido.

Mas como explicar que na década passada tantos jornais diários com essas características tenham aparecido e se dado bem em dezenas de cidades brasileiras, mas nenhum em São Paulo?

‘Nada Mais que a Verdade’ não se propõe a examinar esse mistério. Mas pode servir de ponto de partida para estudos que lancem luz sobre ele. A leitura do livro é um prazer para quem gosta de jornalismo, mesmo para quem não aprecie a forma como os editores e repórteres do ‘NP’ o exercitaram.

NADA MAIS QUE A VERDADE

AUTOR Vários

EDITORA Summus Editorial

QUANTO R$ 63,90 (256 págs.)

AVALIAÇÃO bom

 

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