Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Folha de S. Paulo

CONCESSÕES

Felipe Bächtold e Sílvia Freire

61 políticos eleitos são proprietários de rádios ou TVs

Afiliadas da Globo, da Record, do SBT e da Band e uma série de pequenas rádios são de propriedade de 61 políticos eleitos no último dia 3. O patrimônio declarado em empresas de rádio e TV é de cerca de R$ 15 milhões.

Na campanha, esses meios de comunicação podem, em tese, ajudar a promover a imagem de seus sócios.

Levantamento da Folha com declarações de bens localizou 91 participações em rádio e TV. Entre elas, o senador José Agripino Maia (DEM-RN) e as famílias de Jader Barbalho (PMDB-PA), Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-MA).

A lei permite que ocupantes de cargos no Executivo ou Legislativo sejam sócios de empresas de rádio e TV e proíbe que estejam à frente da gestão das emissoras, o que é pouco fiscalizado.

O maior patrimônio declarado é de Júlio Campos (DEM-MT), eleito deputado federal: uma rede de TV de R$ 2,9 milhões. A seguir, vêm os irmãos Roseana (DEM) e Zequinha Sarney (PV).

Dos 61 eleitos, pelo menos dois deputados participam da Comissão de Comunicação da Câmara, que aprova as renovações de rádio e TV: Antônio Bulhões (PRB-SP) e Arolde Oliveira (DEM-RJ).

Também fazem parte Jader Barbalho e Beto Mansur (PP-SP), que ainda dependem da decisão da Justiça sobre a Lei da Ficha Limpa para ter novos mandatos.

No Maranhão, as quatro maiores TVs estão nas mãos de políticos.

A Globo local pertence à família Sarney. A família do senador Edson Lobão é ligada ao SBT. A Record é da família do deputado Roberto Rocha (PSDB), e a Band, ligada a Manuel Ribeiro (PTB), eleito deputado estadual.

O ex-presidente do Senado Garibaldi Alves (PMDB) tem participação na rádio Cabugi do Seridó, no Rio Grande do Norte, ligada à família dele. No site da emissora, antes da eleição, havia notícias elogiosas a ele, que se reelegeu.

Para Celso Schröder, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, o lado fiscalizador fica enfraquecido com a ligação com políticos.

OUTRO LADO

Arolde Oliveira, sócio da rádio Mundo Jovem, diz que a Justiça Eleitoral fiscaliza de forma eficiente o possível uso de emissoras de rádio e TV nas campanhas. ‘Não existe uso político’, disse.

Procurado pela Folha, Garibaldi Alves disse que apresenta programas de rádio, como ‘prestação de contas’ à população.

O deputado Antônio Bulhões disse que já se desfez dessas propriedades.

O deputado eleito Júlio Campos não foi encontrado para falar sobre o assunto. A assessoria de Roseana Sarney não comentou.

 

CONCURSO

Começa segunda edição do Folha Memória

A Folha inicia hoje a segunda edição de seu concurso de incentivo a pesquisas sobre a história do jornalismo brasileiro. Como em sua primeira edição, encerrada em abril deste ano, o Folha Memória selecionará três projetos de pesquisa e premiará seus autores com uma bolsa para cada um.

Nos seis meses em que receberão a bolsa, de R$ 2.400 mensais, os candidatos deverão conduzir sua pesquisa com rigor acadêmico e transformá-la em um texto de interesse geral e caráter jornalístico. O melhor dos três textos será publicado em livro editado pela Publifolha, e seu autor ganhará um laptop.

A seleção dos três bolsistas e a do melhor trabalho ficará a cargo de duas bancas distintas, cada uma composta por um jornalista da Folha, um especialista convidado e um representante da Pfizer, que patrocina o concurso.

Os projetos inscritos podem ter como tema a investigação de fenômenos de qualquer época do jornalismo do país e não precisam ficar restritos a um meio específico -podem ser estudados veículos impressos, on-line etc.

A inscrição deve ser feita na internet, até o dia 17 de dezembro. No site está disponível o regulamento do concurso.

PRIMEIRA EDIÇÃO

A primeira edição do Folha Memória, lançada em maio do ano passado, recebeu a inscrição de 461 projetos.

A vencedora foi a jornalista Flávia Péret, 31, com o trabalho, ‘Imprensa Gay no Brasil – Entre a Militância e o Consumo’.

 

INTERNET

Aquisição do Yahoo! pode não resolver problemas

Grupos de capital privado estudam a aquisição do Yahoo!, em parceria com ativos de uma empresa como a AOL ou a News Corp.

Isso marcaria nova mudança para uma companhia que ajudou a definir a internet duas décadas atrás, mas não conseguiu acompanhar seu ritmo.

No cenário que fontes dizem ter sido discutido pelos grupos de capital privado interessados na compra, a transação dependeria de o Yahoo! vender seus preciosos ativos asiáticos de alto crescimento, entre os quais sua participação de 40% no grupo chinês Alibaba e seus 35% no Yahoo! Japan.

Analistas estimam que esses investimentos sozinhos respondam por cerca de metade do valor de mercado do Yahoo! e pela maioria de seu crescimento, e uma venda deixaria a empresa, que já passou do pico, com foco nos EUA e perspectivas incertas.

Mas, então, ‘o que o Yahoo! deseja ser?’. Essa foi a pergunta de um executivo próximo às discussões e é a mesma questão que os investidores vêm propondo desde que o Google superou a empresa pioneira.

Nos últimos 12 meses, o Yahoo! considerou aquisições ousadas, a fim de manter sua posição de liderança quanto a novas tendências.

Estudou a compra do Foursquare, de serviços de localização, e do Groupon, que organiza compras em grupo, segundo o blog de tecnologia AllThingsDigital.

 

TELEVISÃO

Ricardo Mioto

Físicos aprovam ‘séries nerds’ de TV

‘Todo mundo na faculdade de física adora ‘The Big Bang Theory’, a gente fala ‘bazinga!’ toda hora, pra tudo’, diz Luiza Maurutto, 19, aluna de física na USP.

‘Bazinga!’ é a marca registrada de Sheldon Cooper, físico nerd que é protagonista dessa série de televisão.

Ele usa a expressão sempre que quer deixar claro que está sendo irônico -físico estereotipado, entre as suas limitações sociais está o fato de ele não compreender o sarcasmo, e por isso achar que ninguém mais consegue.

Impressiona, então, que, em vez de irritar os físicos, a nerdice e a incapacidade de Sheldon de se relacionar com outros seres humanos normalmente tenham feito que ele ganhasse uma vasta legião de fãs nos departamentos de física.

Paulo Nussenzveig, professor de física da USP, conta, por exemplo, que é fã da série e já ter até levou cenas para a sala de aula.

A admiração pelo personagem e pelo programa de TV, que já vai para a sua quarta temporada nos EUA, tem ao menos dois grandes motivos.

PIADA, MAS COM RIGOR

O primeiro é que os físicos consideram -e eles se importam tremendamente com isso- que a série é cientificamente precisa. Os personagens, dizem, não cometem uma única impropriedade, e mesmo as piadas não perdem o rigor científico.

O grande responsável por isso é David Saltzberg, físico da Universidade da Califórnia em Los Angeles e consultor da série. Ele decide quais equações estarão nas lousas, quais livros-texto os personagens vão carregar e quais comentários científicos farão.

‘The Big Bang Theory’ é a série mais popular, mas outras com temática científica têm consultores semelhantes -e também conquistaram os pesquisadores. Uma delas é ‘Numb3rs’, em que um gênio da matemática usa o seu conhecimento para resolver crimes, mas há várias.

‘Aprecio ‘The Mentalist’, ‘House’, ‘CSI’ e outras dessa leva de séries no estilo ‘smart is the new sexy’ [algo como ‘sexy agora é ser inteligente’]’, diz o professor de física da USP Osame Kinouchi.

‘É um refresco, depois de décadas de séries como ‘Buffy, a Caça-Vampiros’.’

ABRAÇO DE CIENTISTA

No caso de ‘The Big Bang Theory’, o segundo motivo pelo qual os físicos gostam da série é que, afinal, eles têm mesmo muitos colegas que lembram o Sheldon.

‘Tenho vários amigos assim, a série é muito verdade. Bem nerds, que só falam de física. Amigos que, quando todos estão almoçando, ficam fazendo conta num papelzinho, que tem dificuldade para se relacionar, para abraçar, até para falar com mulher’, diz Maurutto.

Saltzberg, o consultor da série, comentou para a Folha esse fenômeno da onipresença de sheldons nas turmas de físicos pelo mundo.

‘Todo mundo diz conhecer um Sheldon, mas ninguém diz ser um. A matemática não bate’, brinca. ‘Mas talvez surpreenda que aqui na minha universidade, a UCLA, eu tenho visto muitas jovens mulheres totalmente apaixonadas pelo Sheldon.’

FÍSICO NÃO É COITADO

Os físicos apontam, ainda, mais fatores que agradam nessas séries.

‘Os nerds em ‘The Big Bang Theory’, por exemplo, são arrogantes o suficiente para estarem por cima. É diferente de Friends, em que o cientista, o paleontólogo Ross, era um coitado… embora ele tenha ficado com a Jennifer Aniston’, diz Kinouchi.

‘E acho que os físicos gostam também porque (quase) todos estamos procurando nossa Penny, não?’, brinca, em referência à atraente garçonete loira que é personagem da série e acaba se envolvendo com o físico que mora com Sheldon.

Alguns cientistas, porém, até gostam da série, mas fazem algumas ressalvas sobre a criação de estereótipos.

Um deles é o colunista da Folha e professor do Dartmouth College (EUA) Marcelo Gleiser, que acha que levar à televisão a imagem do cientista como um ser com dificuldades para se ajustar socialmente pode acabar ridicularizando a carreira.

A maioria dos cientistas ouvidos pela Folha, porém, discorda. ‘Estereótipo é parte da comédia. É ele que provê todo o pilar da piada. Eu não levo seu uso tão a ferro e fogo assim’, diz Daniel Doro Ferrante, físico brasileiro da Syracuse University (EUA).

Saltzberg segue essa linha. ‘Os físicos de ‘The Big Bang Theory’ mostram uma profunda paixão pelo que eles fazem, a mesma paixão que os melhores cientistas têm.’

 

Professor põe ciência na versão final de roteiro

Quando Leonard, físico da série ‘The Big Bang Theory’, começa a se relacionar com uma outra cientista, eles romanticamente definiram um beijo como uma ‘exploração biossocial com alguma sobreposição neuroquímica’.

O responsável por esse tipo de piada, engraçada tanto para os cientistas que reconhecem o jargão quanto para o leigo que acha divertido o jeito estranho de encarar a coisa, é David Saltzberg.

O físico da UCLA recebe os roteiros com algumas lacunas. São diálogos como ‘eu ouvi sobre o seu último [colocar aqui alguma ciência] -20 mil tentativas e nenhum resultado significativo!’.

Ele, então, propõe algo científico que faça sentido -e aproveita para corrigir que físicos não gostam muito da palavra ‘tentativas’.

‘Ouvi sobre o seu último experimento de desintegração de antiprótons -20 mil tomadas de dados e nenhum resultado significativo’ é o que acaba indo para as telas.

Mas ele lembra que os roteiristas da série também amam ciência. Quando Sheldon diz que ‘essa é uma circunstância que gente pouco familiar com a lei dos grandes números chamaria de coincidência’, então, talvez o texto não seja dele.

Eles são, diz, fãs de todo o folclore nerd, ‘de quadrinhos até Star Trek’. A parceria funciona: mesmo ‘Lost’ teve menos audiência nos EUA do que a série.

Salzberg tem um blog sobre a ciência por trás de cada episódio da série. O endereço é thebigblogtheory.wordpress.com. Há uma versão em português em thebigblogtheorybrpt.wordpress.com.

 

Keila Jimenez

GNT mostra famosos pelos olhos do público

Sarah tentou emplacar projeto no ‘Fantástico’

Ela quase, quase mesmo, foi repórter da mais nova edição de ‘A Fazenda’, da Record. Sem contrato na TV, Sarah Oliveira preferiu abrir mão de um gordo salário e do reality do momento para tentar emplacar seu projeto na TV paga.

No dia 5, ela estreia no GNT no comando do ‘Conexão Direta’, atração que promete revelar um pouco da intimidade das celebridades a partir das impressões que anônimos têm delas.

Funciona assim: a produção do programa sai às ruas colhendo depoimentos do público sobre determinados famosos.

É justamente com os vídeos com esses pitacos das pessoas que Sarah vai ao encontro do ilustre entrevistado, que se diverte com o que acham dele, e abre o jogo sobre o que é verdade e o que não é.

‘Eu formatei o programa para apresentar como quadro do ‘Fantástico’, mas a direção da Globo achou que era a cara do GNT. Fui então atrás deles e deu certo’, diz Sarah à Folha.

‘O importante é que estou fazendo algo que é a minha cara, mostrar o lado B dos famosos de forma descontraída, sem invadir’, completa.

Com direção de Brenno Castro e Vera Egito, ‘Conexão Direta’ traz como sua primeira entrevistada a atriz Bárbara Paz.

‘Na Band, um dia seria trocado por uma corrida de minhocas’

Raul Gil perdeu seu emprego na Band oito meses antes de o seu contrato acabar. Chateado, procurou o amigo Jassa, cabeleireiro de Silvio Santos, para pedir uma força. Nem ele nem a Band, muito menos Jassa imaginavam que três meses depois Raul estaria entre as maiores audiências do SBT, vice-líder em ibope no horário e incomodando reis do sábado como Luciano Huck (Globo).

Folha – É verdade que você pediu emprego para o Jassa?

Raul Gil- Sim. Meu filho voltou da Band um dia dizendo que eu não precisava mais gravar. Até chorei. Aí me lembrei do Jassa. Pedi para ele falar com o Silvio (Santos) para que me contratasse.

O Jassa então é quem manda no SBT?

Não. Como o Silvio fica sentado mais de uma hora na cadeira ajeitando o cabelo, acaba ouvindo mais o Jassa.

Por que seu programa no SBT está dando o triplo de audiência do que dava na Band ?

Não sei explicar esse sucesso. Chego a dar 11 pontos de ibope. Estou assustado.

Brincam que há um sapo enterrado na Band, uma mandinga, por isso alguns não dão certo lá…

Nããão (risos). Acho que a Band estava mais voltada para o esporte, mas se arrependeu. Trocavam meu programa por vôlei, Indy. Um dia acabaria substituído por uma corrida de minhocas.

 

Lúcia Valentim Rodrigues

Legenda a jato

A passos apressados anda o mercado de séries. Os prazos entre a estreia nos EUA e em território brasileiro estão cada vez mais diminutos, com uma média atual de duas semanas de atraso.

Com isso, encurta também o tempo para os legendadores verterem os diálogos para o português -e com o menor número de erros possível, já que essa é uma fonte de irritação para os assinantes.

Os direitos autorais da legenda no cinema não valem para a televisão, então todo o trabalho tem de ser refeito quando os filmes entram em cartaz na TV paga.

Entre as séries, as empresas de legendagem têm uma preocupação adicional: ter a mesma equipe para fazer todos os episódios e, assim, padronizar a linguagem usada.

A Drei Marc, fundada há 20 anos, é uma das empresas mais antigas do setor. Começou a oferecer o serviço em 1996 e é responsável por programas como ‘The Good Wife’, ‘Glee’ e ‘24 Horas’.

Tem 50 pessoas habilitadas, dependendo da língua em que o capítulo for falado, para escolher o mais indicado a assumir o trabalho.

Além do manual da empresa, que contém pedidos específicos para cada canal, há um glossário para as produções. O de ‘Law & Order’, seriado com terminologia jurídica americana, tem seus cargos equivalentes certificados pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Outra forma de agilizar os procedimentos é começar a legendagem a partir do roteiro ou de uma cópia não finalizada do capítulo.

‘Os prazos diminuíram em 30%’, diz Marcelo Camargo, diretor da Drei Marc. ‘Tempo é fundamental. Mas temos de saber do que temos de abrir mão e manter a qualidade no tempo estipulado’, conta seu sócio, Marcelo Leite.

A Gemini, que cuida de ‘House’ e ‘Weeds’, entrou no mercado em 1998. Vê que hoje os clientes querem tudo pronto em 48 horas.

‘O conteúdo aumentou bastante. Por isso criamos uma linha de produção e dividimos o trabalho. Especialmente se a série é diária, não tem como uma pessoa dar conta do volume’, conta o diretor-geral Moacyr Lopes.

É o caso de ‘Undercover Boss’, exibida semanalmente nos EUA e que aqui o GNT transformou em diária.

TRADUÇÃO LIGHT

A Gemini classifica os tradutores entre sênior, pleno e júnior a partir de um ranking de qualidade e tempo de casa. ‘Mas acabamos tendo de criar uma nova categoria, a light, para empresas que querem pagar pouco. É um funcionário em formação.’

Ele diz que ‘os clientes têm a ilusão de que é sempre o mesmo tradutor’, mas isso depende da disponibilidade do profissional e do prazo.

A HBO também terceiriza a legendagem, mas mantém tradutores na empresa para casos especiais, como os de ‘True Blood’ e ‘Hung’, que tiveram os finais mais recentes exibidos simultaneamente nos EUA e aqui.

‘São exemplos esporádicos’, diz Gustavo Grossmann, vice-presidente e gerente-geral da HBO Latin America. ‘Acaba não sendo muito rentável financeiramente acelerar muito o processo de estreia.’

 

Ivan Finotti

Havaí volta às telas com quarteto sexy

Com uma das canções de abertura mais famosas de todos os tempos, o seriado ‘Hawaii Five-0’ estreia nova versão nesta quarta-feira, dia 20, no canal pago Liv, o antigo People+Arts. O seriado original, produzido pela CBS entre 1968 e 1980, fez enorme sucesso, inclusive no Brasil, nos anos 1970.

Para o lançamento da refilmagem, no mês passado, a CBS levou jornalistas de diversos países para Honolulu. Um telão foi montado e um tapete vermelho foi improvisado sobre as areias de Waikiki, a mais famosa praia das ilhas havaianas.

Nesta versão, a série policial estrelada por Jack Lord e James MacArthur (leia texto nesta página), ganha vida na pele de Alex O’Loughlin e Scott Caan. O’Loughlin conquistou uma legião (feminina) de fãs ao protagonizar a série vampiresca ‘Moonlight’, enquanto Caan, filho do ator James Caan, é conhecido por filmes como ‘60 Segundos’ e a série ‘Onze Homens e um Segredo’.

Em entrevista, O’Loughlin comentou que já estavam gravando o episódio seis e que nos últimos três meses estava trabalhando tanto que nem parecia estar há tanto tempo no Havaí. ‘É ótimo estar numa ilha no meio do nada’, falou, com seu complicado sotaque australiano.

Mas é Caan quem rouba a cena, com comentários espirituosos como ‘sei que estou aqui só por causa do meu cabelo’ ou ‘o Havaí não tem a comida mexicana de Los Angeles, mas serve…’.

Os dois fazem Steve McGarrett e Danny Danno Williams, detetives que começam se odiando e acabam se dando bem. O’Loughlin é o homem sério do time, cujo pai foi assassinado por um terrorista em Honolulu. Por isso, chega à ilha em busca de vingança. Caan é um detetive americano que se transferiu para o Havaí depois que sua ex-mulher se mudou para lá com a filha do casal.

Ambos fizeram a cabeça das havaianas, que gritaram feito loucas na estreia praiana, mas não foram os únicos. A CBS escolheu coadjuvantes de peso.

LÍDER

Um deles é o coreano Daniel Dae Kim, que faz um detetive local que caiu em desgraça, acusado de aceitar subornos. Kim mora no Havaí -tem uma lanchonete nas ilhas- desde que participou de ‘Lost’. Mas ele tem outras credenciais: no auge de seu papel em ‘Lost’, foi eleito pela revista ‘People’ o homem mais sexy do mundo.

Outra atração é a óbvia garota bonita que vai aparecer de biquíni em todos, ou em quase todos, os episódios. O papel coube a Grace Park, de ‘Battlestar Galactica’.

Para os produtores da série, responsáveis por toda a recriação, o desafio é saber o que mudar e o que manter.

‘Fazer remake igual é um problema; mudar tudo é um problema. Temos que eleger alguns elementos’, disse Peter Lenkov, autor de ‘CSY New York’ e produtor-executivo de ‘Hawaii Five-0’.

A julgar pela estreia -líder de audiência nos EUA-, Lenkov escolheu certo.

O jornalista IVAN FINOTTI viajou a convite do canal Liv

NA TV

Hawaii Five-0

Remake da série de 1968

QUANDO quartas, às 22h, no Liv

CLASSIFICAÇÃO não informada

 

Marcelo Bortoloti

‘As Cariocas’ busca alma feminina do Rio

A série ‘As Cariocas’, baseada em livro homônimo de Sérgio Porto e que estreia terça na Globo, tem como ponto de partida um argumento perspicaz do escritor: a ideia de que cada bairro do Rio tem um tipo de mulher com características específicas.

Quando publicou o livro, em 1967, Porto descrevia as garotas de Copacabana como grã-finas e sofisticadas e as do Grajaú, na zona norte, como desinibidas.

O escritor e jornalista carioca Sérgio Porto (1923-1968) foi um dos maiores ‘mulherólogos’ do país, como se definia. Seu heterônimo, Stanislaw Ponte Preta, é um mito para a geração dos anos 1960, com humor inteligente e frases inesquecíveis.

Nos últimos três anos, sempre que o diretor Daniel Filho falava em transpor a ideia para as telas era estimulado por amigos. No final do ano passado, comprou os direitos do livro para fazer um filme. Mas, depois, acertou com a Globo uma série feita pela sua produtora. Delegou a Euclydes Marinho o roteiro.

RODRIGUEANO

Os problemas começaram a aparecer. ‘Quando reli o livro, tomei um choque. As histórias eram muito banais, quase ingênuas. Na época, todo mundo achava maravilhoso’, diz Marinho. Alertou o diretor, mas foi tranquilizado: ‘Não liga, a gente adapta. Coloca um pouco de Nelson Rodrigues aí’.

A série tornava-se, então, uma criação livre. Dos dez programas, só quatro são histórias do livro e poucos diálogos foram mantidos.

Também perdeu-se um pouco do argumento inicial pela dificuldade de encontrar nos dias de hoje tipos particulares entre as cariocas. Cada episódio tem histórias independentes e alguns bairros foram escolhidos mais pela projeção nacional, como Urca, Barra da Tijuca e Ipanema.

Para dar mais apelo, um narrador faz comentários engraçados no estilo de Stanislaw. Na prática, o roteiro pinça o que ‘As Cariocas’ tem de melhor, que são a ideia e o título, e reforça o molho com a genialidade da obra de Stanislaw. ‘O humor é o mesmo. Adaptação, a etimologia desta palavra já explica tudo’, diz o diretor.

O elenco vem do primeiro time global: Alessandra Negrini, Alinne Moraes, Deborah Secco, Fernanda Torres, Paola Oliveira, Grazi Massafera, Sônia Braga, Adriana Esteves, Cíntia Rosa e Angélica. Esta, o diretor queria nua em cena, para render propaganda espontânea para a série, mas a emissora vetou.

Como marketing adicional, incluiu não atores como Luciano Huck, Marcelo D2 e Preta Gil para participações menores. ‘Todos têm intimidade e não temem a câmera’, justifica. Vindo de sucessos no cinema como ‘Se Eu Fosse Você’ e ‘Chico Xavier’, Daniel Filho não dá passo em falso.

NA TV

As Cariocas

Nova série da Globo

QUANDO terças, após o ‘Casseta & Planeta’, na Globo

CLASSIFICAÇÃO não informada

 

Vanessa Barbara

No meu tempo

NO MEU tempo, a televisão era diferente. Para começar, havia a supremacia do dublado -todos os filmes, séries e programas estrangeiros recebiam uma buliçosa versão com sotaque carioca, provavelmente feita pelo mesmo sujeito, que ganhava uma miséria e imitava as vozes de todo o elenco: dos velhos, das moças, das crianças e dos galos.

No meu tempo, havia televisões em preto e branco de cinco polegadas com rádio AM/FM, que só sintonizavam à base de petelecos e mandinga brava. Havia a frequência UHF e um cheiro permanente de queimado saindo de trás do televisor.

Nos idos d’antanho, as antenas eram Plasmatic, tinham a forma triangular e um Bombril na ponta. A gente costumava revezar o membro da família encarregado de ficar de pé, ao lado do aparelho, segurando a antena num ângulo específico -o braço esquerdo levemente arqueado, os joelhos dobrados, o pescoço pra trás. Era como nós praticávamos a ioga naquela época.

As partidas de futebol eram mais proveitosas: todos os jogadores tinham a coloração esverdeada e cada atleta recebia a marcação cerrada de um habilidoso irmão gêmeo. Nunca dava pra ver a bola e, aparentemente, os 22 elementos em campo usavam a mesma cor de uniforme, rolando a pelota fraternalmente para o mesmo time. Era bonito o futebol no meu tempo.

À tarde, a gente assistia ao game-show ‘SuperMarket’ (Band), uma despropositada gincana dentro de um supermercado. Acertávamos a resposta das charadas que o Ricardo Corte Real fazia sobre produtos lácteos, extrato de tomate e desinfetante. Sabíamos de cor em que corredor ficava o pepino em conserva e a maionese gigante. Era durante o ‘SuperMarket’ que a luz de casa começava a falhar, anunciando a hora de ir tomar banho (antes que os vizinhos sugassem toda a energia local).

A televisão de outrora valorizava a rapidez de raciocínio (imagens oscilantes), a incerteza filosófica (‘O que foi que ele disse?’) e a imaginação do espectador, pois nunca dava pra distinguir com clareza o que estava acontecendo (‘Olha, mãe, eu acho que tem um óvni ali atrás do Cid Moreira.’).

Com o advento da transmissão em alta resolução, tela de cristal líquido Full HD e som estéreo 5.1, ficou mais chato assistir à televisão.

 

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