Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

LIBERDADE DE IMPRENSA
Equador, Venezuela e Cuba tentam calar jornalistas, diz SIP

O presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Alejandro Aguirre, disse que governos como os do Equador, Venezuela e Cuba agem autoritariamente para calar jornalistas e enfraquecer a liberdade de expressão.

As declarações de Aguirre foram feitas no primeiro dia da 66ª Assembleia Geral da entidade, que ocorre até terça-feira em Mérida, no Estado mexicano de Yucatán.

O encontro conta com a participação de editores e executivos de jornais da região, que discutem como proteger jornalistas mexicanos frente à violência gerada pelo narcotráfico no país.

O diretor jurídico do Grupo Folha, Orlando Molina, e a advogada do jornal, Taís Gasparian, também participam do encontro.

Aguirre disse ainda que o México se converteu em um dos países onde ser jornalista é uma das atividades mais perigosas, devido à luta contra o narcotráfico, o crime organizado e a corrupção.

O presidente mexicano, Felipe Calderón, defenderá hoje no encontro o projeto de passar à esfera nacional investigações de crimes contra jornalistas. Participarão ainda os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e de Honduras, Porfírio Lobo.

 

INTERNET
O atual projeto de lei sobre crimes de informática deve ser aprovado pela Câmara?

Ronaldo Lemos

Não – Projeto gera criminalização de massa

O projeto de lei sobre crimes eletrônicos, conhecido como ‘Lei Azeredo’ (PL 84/99) por causa de seu principal defensor, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), foi rejeitado de forma veemente pela sociedade brasileira.

Apenas uma petição obteve 158 mil assinaturas contrárias, número que continua a crescer. O projeto foi taxado por grupos da sociedade civil de ‘AI-5 Digital’, acusado de promover o vigilantismo e a criminalização de massa.

Apesar do tom forte dessas críticas, a sociedade civil brasileira tem razão em apontá-las.

Por conta da reação pública, muitos julgavam o projeto morto. Estavam errados. No dia 5 de outubro, logo após o primeiro turno das eleições, quando a atenção pública estava concentrada no pleito, o projeto voltou a tramitar.

Recebeu parecer favorável a sua aprovação por parte de deputado que não foi reeleito, Régis de Oliveira (PSC-SP). Ele aproveitou para apresentar novo texto, que piorou a redação original, tornando a preocupação ainda mais atual.

Da forma como se encontra, o PL 84/99 apresenta redação excessivamente ampla e criminaliza condutas cotidianas. Por exemplo, um consumidor que possui um celular bloqueado e efetua seu desbloqueio ficaria sujeito a pena de três anos de reclusão. Quem transfere músicas legalmente adquiridas de um iPod para o seu próprio computador estaria sujeito à mesma pena.

Vale notar que todas essas condutas são legais em outros países, incluindo os Estados Unidos. Dois estudos técnicos do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV apresentam em detalhes esses pontos e propõem redações alternativas que evitam os problemas. Os estudos estão disponíveis no link: bit.ly/d39SKi.

Além disso, é importante notar que a redação do substitutivo do PL 84/99 de fato abre espaço para o vigilantismo. Por exemplo, obriga a guarda de dados dos usuários, tais como registros de conexão e de acesso a sites da internet, por prazo excessivamente longo (três anos).

Mais grave, permite a entrega desses dados à autoridade policial sem a necessidade de ordem judicial prévia, o que é inconcebível em um Estado democrático de Direito.

Estabelece ainda que provedores devem ‘informar de maneira sigilosa à autoridade competente denúncia da qual tenham tomado conhecimento que contenha indícios da prática de crime’. Essa redação transforma os provedores em entidades policialescas, ficando ainda sujeitos a multa de até R$100 mil reais por cada requisição de informações não atendida.

Os defensores do projeto alegam que ele concretiza no Brasil as disposições da Convenção de Budapeste para combate aos crimes digitais.

O Brasil não é signatário dessa convenção e não participou de suas negociações. A Convenção de Budapeste possui baixíssima adesão na esfera internacional, contando com apenas 30 países signatários. Nenhum deles latino-americano.

Por fim, cumpre notar que o interesse de combate aos cibercrimes é legítimo. Esse combate é fundamental, por exemplo, para coibir fraudes bancárias. É possível fazer isso de forma equilibrada, sem ferir direitos fundamentais nem criminalizar práticas cotidianas.

Além disso, é preciso estabelecer antes uma legislação civil para a internet brasileira. Isso está sendo feito pelo Ministério da Justiça, com o chamado Marco Civil da Internet, que criou um processo para receber contribuições públicas de todo o país. A partir delas, foi construído um anteprojeto de lei que deverá ser enviado em breve ao Congresso.

A internet é um insumo crucial para o desenvolvimento do país neste século. A lei deve ser capaz de promover inclusão e inovação. Partir para a criminalização, nos termos do PL 84/99, é um erro.

RONALDO LEMOS, 34, mestre em direito pela Universidade Harvard e doutor em direito pela USP, é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV e colunista da Folha .

 

Eduardo Azeredo

Sim – A internet e a lei

Neste ano, foi possível verificar um papel mais relevante da internet nas eleições brasileiras.

Em parte pela minirreforma eleitoral que aprovamos no Congresso, liberando o uso das ferramentas da rede para candidatos, mídia e eleitores, e muito pelo fato de que chegou a 62 milhões o número de usuários de computador no Brasil.

A campanha teve dois aspectos: o primeiro, benéfico, foi o uso das ferramentas digitais, em especial das redes sociais, como forma de mobilização da militância e de comunicação entre candidatos e eleitores. O segundo, bastante nocivo, foi a disseminação de informações contra os adversários, escondidas sob o manto do anonimato.

Em recente artigo, o cientista político Murilo Aragão citou Arthur Schopenhauer e, aqui, alio-me aos dois: ‘O anonimato serve para tirar a responsabilidade daquele que não pode defender o que afirma’.

E, ainda, o anonimato na internet tira a credibilidade da própria rede. Reduz o debate a meras acusações.

Uma situação lamentável, sobretudo porque o Brasil não dispõe de legislação capaz de coibir a prática de crimes digitais contra a honra.

Como não há legislação nesse sentido, os responsáveis pelos ataques não são devidamente punidos.

Ainda em outubro, tive a oportunidade de participar da ‘Cyber Conference on Cyber Security’, realizada na Inglaterra, e de, mais uma vez, debater a gravidade dos delitos digitais em todo o mundo.

Precisamos de um arcabouço legal que inclua os cibercrimes e que seja capaz de punir os criminosos que estão fazendo uso da internet porque o crime virtual é mais fácil, mais rentável e oferece menores riscos potenciais.

Os crimes contra a honra são apenas uma das faces perversas do mau uso da informática. Segundo relatório divulgado pela Microsoft, o Brasil é o quarto país do mundo mais infectado por vírus e programas capazes de furtar informações, alterar ou destruir dados.

O número de denúncias de fraudes na internet passou de 54.607 em 2007 para 218 mil apenas no primeiro trimestre de 2009, de acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Os prejuízos corporativos são enormes, assim como são enormes os prejuízos pessoais.

Sim, porque quando se é vítima de calúnia, difamação ou mesmo do furto de informações digitais, não há a quem reclamar.

É dever constitucional do Poder Legislativo suprir essa lacuna. O Senado aprovou em julho de 2008 a proposta que tipifica e determina punições para os crimes digitais.

O texto modifica cinco leis e tipifica 13 delitos, entre eles os de difusão de vírus, falsificação de cartões de crédito, clonagem de celulares, furto de informações sigilosas, calúnia, injúria e racismo quando cometidos pela internet. A proposta tramita há mais de uma década no Congresso Nacional e, de volta à Câmara, está em fase de revisão.

Entretanto, na incompreensão de que uma lei dessa natureza seja necessária ao país, falsas informações são sempre divulgadas. Fala-se em cerceamento da liberdade de expressão, censura, criminalização em massa de usuários.

Nada disso é verdade! A proposta fala da punição de criminosos, do direito penal aplicado às tecnologias. O projeto não trata de pirataria -matéria já tratada em lei específica. E não atinge aqueles que baixam músicas ou dados que não estejam sob restrição de acesso.

É hora de parar com essas acusações, até infantis. O Brasil, como demonstrado durante a campanha eleitoral, precisa de uma legislação séria e que definitivamente combata os delitos digitais. Respeito os que pensam o contrário, mas creio que estão sob o risco de serem coniventes com a anarquia digital.

EDUARDO AZEREDO, 62, engenheiro com especialização em informática, é senador pelo PSDB-MG e deputado federal eleito. Foi prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais.

 

REINO UNIDO
Vaguinaldo Marinheiro

Greve faz BBC pôr executivo no lugar de apresentador

Os britânicos tiveram ontem a rotina alterada não por mais uma greve do metrô (já foram três neste ano em Londres), mas pela paralisação dos jornalistas da BBC, principal rede de canais de televisão e de rádio do país.

O programa de rádio de maior audiência na manhã, ‘Today’, não foi ao ar. Assim como o ‘Breakfast’, da TV.

Ao longo do dia, reprises, suspensão de programas e menos atualizações no canal de notícias 24 horas.

A greve foi engrossada por apresentadores famosos da TV. É como se Sandra Annenberg ou o casal William Bonner e Fátima Bernardes aderissem a uma greve na Globo e não apresentassem seus telejornais.

O sindicato dos jornalistas, que representa cerca de 4.000 profissionais na BBC, programou a greve por 48 horas em protesto contra as reformas no plano de aposentadorias. Considerado muito melhor do que os oferecidos na iniciativa privada, o sistema está com deficit de 1,7 bilhão (pouco mais de R$ 7 bilhões).

MUDANÇAS

Para reduzi-lo, a corporação propôs algumas mudanças: o funcionário não se aposentaria mais com o último salário integral, mas com uma média das últimas remunerações; os reajustes anuais ficariam limitados a 1%, num país com previsão de 3% de inflação neste ano.

Os sindicatos que representam cerca de 80% dos funcionários da BBC aceitaram. O dos jornalistas, não.

Apesar da adesão de muitos, alguns não esconderam a irritação. No final do programa de quinta-feira à noite, o apresentador Jeremy Paxman disse: ‘E amanhã… Não tenho a mínima ideia do que vai acontecer amanhã’.

Para que alguns programas fossem ao ar, até executivos da emissora foram para os microfones ou para a frente das câmeras.

CORTES

Além da questão das aposentadorias, a BBC terá que anunciar cortes de programas e de funcionários para fechar seu orçamento.

A corporação, que inclui TV, rádio e internet, é sustentada com uma taxa anual paga por todas as pessoas no Reino Unido que possuem TV em casa.

O governo decidiu que essa taxa ficará fixada em 145,50 (cerca de R$ 390) por seis anos, sem correção nem pela inflação.

Além disso, caberá à BBC arcar com os custos do Serviço Mundial -notícias divulgadas por rádio, TV e internet em 32 línguas para vários países, como o Brasil.

O Serviço Mundial custa 272 milhões por ano (R$ 730 milhões). Esse dinheiro sai hoje do Ministério do Exterior.

O serviço foi criado nos anos 30 do século passado, quando o Reino Unido ainda era um império e queria manter sua influência em todo o mundo.

A greve também atingiu o Serviço Mundial. Segundo dados do sindicato, cerca de 80% não trabalharam. A BBC Brasil não foi afetada.

Uma nova greve dos jornalistas está marcada para os dias 15 e 16 deste mês.

CRÍTICAS

Este tem sido um ano difícil para a BBC. Muitos jornais e membros do governo criticam os altos salários pagos a alguns executivos e apresentadores.

O diretor-geral da empresa, Mark Thonpson, recebeu, em 2009, 788 mil, incluindo fundo de pensão (cerca de R$ 2 milhões).

Esse valor equivale a 5,5 vezes o que ganha o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.

 

Ex-apresentadora acusa emissora de preconceito

Além da greve e dos cortes, a BBC está tendo de lidar com um processo judicial em que uma ex-apresentadora de um programa sobre vida no campo acusa a corporação de discriminação por sexo e por idade.

Miriam O’Reilly, 53, falou para a Justiça de Londres que ouviu de um diretor do programa que precisava se preocupar com suas rugas.

Numa outra vez, afirmou, falaram que devia pensar em colocar botox e em pintar os cabelos, que estavam ficando brancos. Logo depois, ela foi afastada do programa. Sua substituta tem 38 anos.

‘Não acredito que falassem para um homem sobre suas rugas nem que oferecessem tintura para cabelos. Está claro para mim que a BBC acha que as mulheres precisam parecer jovens na TV’, afirmou.

O’Reilly trabalhou na BBC por 25 anos. Quando a tiraram do programa rural, ofereceram-lhe apresentar um programa no rádio sobre aposentados. ‘Pensei que fosse uma piada’, disse.

A BBC nega que as mudanças tenham sido por discriminação.

 

Reino Unido quer investigar nova compra de Murdoch

O ministro do Comércio do Reino Unido, Vince Cable, decidiu pedir que a agência reguladora da mídia no Reino Unido investigue nova aquisição que o grupo de Rupert Murdoch pretende fazer no país.

A News Corporation, do australiano Murdoch, já é dona dos jornais ‘The Times’, ‘The Sunday Times’, ‘The Sun’ e ‘News of the World’. Possui também 31% da Sky, principal operadora de TV a cabo no Reino Unido.

Em julho, a empresa fez uma oferta de 12 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões) para a compra dos restantes 69% da Sky. Os acionistas esperam uma oferta melhor.

Redes como a BBC e os jornais ‘The Guardian’ e ‘Daily Telegraph’ enviaram carta a Cable pedindo a investigação.

Segundo a carta, a compra é prejudicial para o público porque deixaria concentrada a produção e a distribuição de conteúdo jornalístico no país.

A News Corporation controla 37% do mercado de jornais.

Cable pediu que a análise seja feita até o fim do ano. Depois, decidirá se passa o caso à Comissão de Concorrência, que poderá vetar o negócio.

A empresa de Murdoch diz estar tranquila com a investigação, que aguarda o sinal verde para a compra e que ela não representará risco à pluralidade da mídia no país.

 

RÚSSIA
Sarkozy ordena investigações contra jornalistas, diz jornal

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, chefia em pessoa uma equipe de agentes encarregada de espionar jornalistas que produzem matérias embaraçosas ao seu governo para descobrir as suas fontes, segundo o semanário local ‘Le Canard Enchainé’.

Nos últimos meses, ainda de acordo com o veículo, o mandatário francês regularmente ordenou à agência de segurança doméstica que fizesse investigações sobre a origem de dados do governo repassados aos repórteres.

Os pedidos seriam feitos diretamente ao chefe da Divisão Central de Inteligência (DCRI, na sigla em francês), Bernard Squarcini, um aliado próximo do presidente.

Segundo o semanário, os pedidos ocorreram sempre que histórias embaraçosas para Sarkozy e governo foram reveladas na imprensa.

Recentemente, ao menos três jornalistas que publicaram matérias críticas ao governo tiveram computadores ou seus pertences furtados.

O presidente francês é acusado de receber, por meio do seu atual ministro do Trabalho, Eric Woerth, doações ilegais da bilionária família Bettencourt, herdeira da companhia de cosméticos L’Oreal.

O governo negou as acusações do ‘Le Canard Enchainé’, qualificando-as de ‘ridículas e absurdas’, e a DCRI oficialmente negou ter recebido ordens nesse sentido.

O ministro do Interior, Birce Hortefeux, disse que ‘não há polícia política’ no país. Segundo ele, ‘o objetivo da DCRI não é perseguir jornalistas, mas deter terroristas’.

Fontes anônimas da própria agência de inteligência, no entanto, confirmaram a ocorrência de pedidos de investigações pelo governo.

‘LE MONDE’

Em setembro, o jornal ‘Le Monde’ apresentou ação à Justiça em que acusa o presidente de ter violado a lei de liberdade de imprensa ao ordenar que a DCRI chegasse à fonte do caso Bettencourt.

O jornal diz ter sido vítima de ao menos cinco violações de sigilo de fontes por meio de escutas telefônicas. O governo admite ter feito investigações, mas todas elas mediante autorização judicial.

 

EUA
‘Washington Post’ tem alta de 3% em receita publicitária

O jornal ‘Washington Post’ teve um aumento de 3% em sua receita com publicidade na sua versão impressa no terceiro trimestre ante o mesmo período do ano passado.

No período de três meses, o faturamento publicitário do tradicional jornal chegou a US$ 72 milhões.

Já a divisão de jornais do grupo, que inclui outras publicações como ‘El Tiempo Latino’, registrou avanço de 5% na receita.

A Washington Post Company lucrou US$ 60,9 milhões de julho a setembro, aumento de 257% em relação aos mesmos meses do ano passado. A receita do grupo se expandiu em 7% nesse mesmo período, para US$ 1,19 bilhão.

 

TELEVISÃO
Juliana Vines

Criança que vê mais TV come mais besteira

Crianças que assistem mais à televisão consomem mais doces e guloseimas e têm maior risco de ficarem obesas, de acordo com a conclusão de um estudo feito pela nutricionista Renata Alves Monteiro, da UnB (Universidade de Brasília).

A pesquisadora, do grupo de estudo do comportamento do consumidor da universidade, seguiu hábitos alimentares de 330 crianças de 9 a 12 anos de escolas públicas e particulares do Distrito Federal, em dois estudos.

No primeiro, fez um questionário sobre as preferências alimentares e o tempo médio de televisão de cada criança. No segundo, dividiu as crianças em três grupos e as submeteu a programas de TV com ou sem comerciais. Depois, repetiu o questionário e cruzou os dados.

A conclusão é que duas horas de televisão são suficientes para interferir nas escolhas das crianças. ‘Aquelas que assistiam mais televisão tiveram uma preferência maior por guloseimas’, diz.

Monteiro é uma das autoras de outra pesquisa, feita em 11 países, que avaliou 12.618 comerciais. Desses, 67% eram de produtos com muita gordura, muito sal ou muito açúcar.

O estudo foi publicado no periódico ‘American Journal of Public Health’ e coordenado pelo Conselho de Câncer da Austrália.

‘No Brasil, 95% das propagandas para crianças são de alimentos não saudáveis. Isso tem uma relação direta com o aumento da obesidade’, diz Monteiro.

Para a psicóloga Patricia Spada, da Universidade Federal de São Paulo, as crianças até sabem diferenciar o que é saudável do que não é. Mas, na hora de escolher, elas são seduzidas pelas estratégias de marketing.

‘A comida vira um brinquedo. Se a bolacha dá risada e é divertida, isso encanta a criança’, afirma.

REGULAMENTAÇÃO

Segundo os autores do estudo, a conclusão chama a atenção para a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa de publicidade infantil em todo o mundo.

Em alguns países, já existem proibições. Por aqui, não há qualquer restrição para a publicidade voltada a menores de 12 anos.

O assunto já foi discutido na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e até chegou a ser incluído no texto inicial de uma resolução, mas depois foi retirado.

‘É um problema de saúde pública. Toda propaganda para crianças com menos de 12 anos é abusiva. A criança não tem capacidade de fazer uma leitura crítica e escolher outros alimentos’, diz Isabella Herinques, coordenadora do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana.

 

Para indústria, conter consumo é função dos pais

Comerciais não devem ser censurados ou proibidos. Cabe aos pais e educadores controlar as informações que chegam às crianças e ensiná-las sobre alimentação, conforme a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes).

‘Crianças devem ser educadas para ‘consumir’ a mídia’, diz Rafael Sampaio, vice-presidente da entidade.

Em agosto de 2009, a ABA e a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) assinaram carta se comprometendo a colocar limitações às campanhas destinadas ao público infantil.

As duas instituições acreditam que a autorregulação é o melhor caminho e que a Anvisa não pode proibir ou restringir campanhas publicitárias de comida.

De acordo com a Anvisa, a resolução 24, que prevê alertas nas embalagens de produtos com alto teor de gordura, sal ou açúcar -e que ainda está em transição-, também servirá para as crianças.

‘Mesmo se a criança não entender o que diz a mensagem, ela vai construir uma memória do que não é saudável’, acredita Maria José Delgado, gerente geral de monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa.

 

Lúcia Valentim Rodrigues

Fabiula Nascimento engrena carreira no cinema e na TV

A atriz Fabiula Nascimento revelou seu talento e longos cachos na TV no ano passado, com ‘Força-Tarefa’. Antes, ela tinha sido o amor de um ex-presidiário em ‘Estômago’ (2008), premiado longa de Marcos Jorge, visto por 90 mil pessoas.

A série da Globo, com Ibope por volta de 20 pontos, deu a ela a chance de entrar em 1,2 milhão de casas por semana (na Grande SP).

Na primeira temporada, a personagem Jaqueline só queria casar. Ela corria atrás do tenente Wilson (Murilo Benício) enquanto ele, com a barriga proeminente, perseguia policiais corruptos.

‘Mesmo gordinho, o Murilo é sensual. E real. Se você olhar um carro de polícia no Rio, não tem dois caras atléticos de arma em punho. Ele quebra essa fantasia erótica do policial malhado’, afirma a atriz, de 32 anos.

No segundo ano, que acaba de sair em DVD (R$ 34,90; 16 anos), a presença de Jaque aumentou com uma gravidez e confrontos com bandidos. ‘Ela traz o Wilson para um cotidiano que ele acha fora de cogitação, por conta do trabalho. Sem ela, ele fica sem chão.’

Para a terceira temporada, ainda em roteiro, os autores Marçal Aquino e Fernando Bonassi prometem uma participação ‘ampla e crucial dela, por conta de uma reviravolta’. Enquanto esperam a novela ‘Ti Ti Ti’ terminar para voltar a gravar o seriado, deu tempo de fazer os esquetes de ‘Junto e Misturado’.

‘É uma loucura, com cinco ou seis personagens por dia. Ficamos de segunda a sexta internados no Projac’, diz.

No cinema, ela está em cartaz em ‘Reflexões de um Liquidificador’, de André Klotzel, e tem outros quatro filmes para estrear em 2011.

O longa ‘Amor?’, de João Jardim, compete no Festival de Brasília neste mês. No filme, ‘atrizes recriam depoimentos sobre o amor com posse, que mata, machuca, destrói, vira doença. Daí vir com o ponto de interrogação’, afirma ela.

Ainda virão ‘Não se Pode Viver sem Amor’, de Jorge Durán, ‘Bruna Surfistinha, de Marcus Baldini, e ‘Cilada.com’, de Bruno Mazzeo. Ela será dançarina de boate, prostituta e uma ‘doida que Mazzeo encontra na rua e leva para casa’. Há muitos usos para seus cachos.

NA TV

Junto e Misturado

QUANDO sex., às 23h05, na Globo

CLASSIFICAÇÃO 10 anos

 

Com ‘falta de jeito natural’, Gregorio Duvivier faz humor

Com o final das gravações alucinadas de ‘Junto e Misturado’, Gregorio Duvivier, 24, encontrou tempo para escrever dois episódios da minissérie ‘As Cariocas’, estrelar um programa na TV paga e fazer um monte de participações especiais no cinema. ‘Sou o Wally da telona. Quem procurar quase sempre vai me encontrar num filme’, diz, por telefone, antes de entrar em nova maratona. Ele gravaria das 22h às 10h, durante toda a semana, para o seriado ‘Vendemos Cadeiras’, criado para o Multishow por Matheus Souza, que dirigiu Duvivier no longa ‘Apenas o Fim’ (2008).

Sobre o horário, explica: ‘É que a loja onde se passa a trama fica do lado de uma estação de trem’.

Apesar dos dois programas serem humorísticos, as propostas são bem diferentes. Ele define ‘Junto e Misturado’ como ‘anárquico, maluco, cheio de agilidade’, enquanto ‘Vendemos Cadeiras’ tem outro ritmo. ‘A pausa é sempre maior, como se o tempo estivesse errado.’

Saído do grupo teatral Tablado, que frequentou desde os nove anos, formou com amigos o ‘Z.É., Zenas Emprovisadas’, sucesso no Rio. A partir da cena do improviso, acabou conhecendo os colegas de ‘Junto e Misturado’. ‘A gente se frequentava, por isso a química funciona.

Rimos das mesmas coisas.’ Ele diz que gosta de transitar em vários gêneros. ‘Mas minha falta de jeito natural me faz parecer cômico. Estou sempre caindo ou derrubando coisas.’

NA TV

Vendemos Cadeiras

QUANDO sáb., às 23h, no Multishow

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

 

REPORTAGEM
Morris Kachani

‘Ensaios’, de Capote, exala atmosfera do século 20

Dizer que ‘Ensaios’, do norte-americano Truman Capote (1924-1984), é uma obra menos fundamental do que seu clássico ‘A Sangue Frio’ não desmerece este lançamento. O livro reúne nada menos que 42 peças escritas entre 1946, quando o autor tinha 22 anos, até sua morte. São perfis, crônicas, notas autobiográficas e relatos de viagem, a maioria originalmente publicada em revistas como ‘The New Yorker’ e ‘Esquire’ e agora reunidos

pela primeira vez em livro. Como quase toda coletânea, há altos e baixos. Mas os altos compensam, e muito, para quem decide se aventurar pelas 600 páginas.

Capote é um autor de primeira grandeza. Sua obra compreende roteiros para cinema, peças, poesias, contos, novelas.

Mas é no gênero que viria a ser conhecido como jornalismo literário, no qual é considerado um dos pioneiros, que fez sua fama.

Poucos como ele souberam transformar as reportagens jornalísticas em verdadeiras obras-primas da narrativa não ficcional. Um belo e hilariante exemplo presente no livro é ‘Ouvindo as Musas’, relato da turnê de uma companhia negra de ópera americana pela ex-União Soviética.

Pequenos dramas humanos se desenrolam em uma sucessão de desencontros, como se fosse uma comédia do melhor gênero, tendo como pano de fundo a Guerra Fria. Nada escapa à verve e ao poder de observação do escritor.

Em algum momento, a dose de realidade é tão insólita que esquecemos tratar-se de uma não ficção.

‘Ensaios’ é uma ótima maneira de entrar em contato com a história da segunda metade do século 20 e inspirar a atmosfera das rodas sociais mais exclusivas da época, a que Capote tinha livre acesso -artistas, políticos e milionários de forma geral.

Personalidades como o ator Marlon Brando (1924-2004) e o dramaturgo Tennessee Williams (1911-1983) são retratados em memoráveis perfis. O fascínio pelo horror e pela violência, que permeia ‘A Sangue Frio’, ressurge em ‘Caixões Feitos a Mão’.

E há também o ‘Autorretrato’, em que Capote entrevista a si mesmo, desvendando seu modo singular e por vezes afetado de pensar o mundo. ‘Vamos colocar assim: eu preferiria ser meu amigo que meu inimigo’, confessa, às tantas.

É uma pena que a tradução, embora correta, não seja tão fluente. E que alguns dos textos aqui compilados mais pareçam anotações de um diário do que propriamente ensaios, como o título do livro sugere.

Ainda assim, para os fãs da boa escrita do jornalismo literário, ‘Ensaios’ é uma obra necessária.

ENSAIOS Truman Capote

TRADUÇÃO Debora Isidoro

EDITORA Leya

QUANTO R$ 49,90 (608 págs.)

AVALIAÇÃO bom

 

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