Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

LIBERDADE DE IMPRENSA
‘É impossível não regular mídia’, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que é ‘impossível’ não haver regulação da mídia no que diz respeito aos meios de difusão, mas destacou que o controle do conteúdo é contrário ao espírito da democracia.

Para FHC, porém, a discussão sobre o tema é complexa e precisa demorar ‘muito tempo’. Não deve ser colocada ‘goela abaixo’ do Congresso e do país, diz ele.

‘No debate atual, existe uma certa confusão. Estamos misturando a necessidade eventual da organização dos meios de difusão, inclusive por causa das novas tecnologias e da convergência entre plataformas, que requerem alguma regulação, com aquilo que não requer regulação, que é o conteúdo’, afirmou.

‘Por outro lado, é impossível não haver regulação no que diz respeito aos meios de difusão’, acrescentou.

FHC participou ontem de manhã do segundo dia do seminário ‘Cultura de Liberdade de Imprensa’, promovido pela TV Cultura. Em sua palestra, criticou a atual situação das agências reguladoras, introduzidas no Brasil durante o seu governo.

Segundo o ex-presidente, as agências estão sendo ‘minadas em termos de confiabilidade’ por causa da ‘ingerência política’, com a indicação de ‘pessoas de partido’ para cargos relevantes.

Para FHC, o enfraquecimento das agências é ruim num debate que discute a regulação das concessões.

O ex-presidente também afirmou que a ostensiva propaganda do governo é uma forma de apertar as rédeas sobre a imprensa.

‘Acho que o monopólio estatal é tão ruim quanto o privado. O risco maior é o do monopólio estatal, porque o Estado tem mais poder hoje em dia do que qualquer parte da sociedade.’

À tarde, no mesmo seminário, o ministro Carlos Ayres Britto, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, analisou a legislação sobre liberdade de imprensa.

De acordo com o ministro, o país passa por uma fase de transição que deixa a própria imprensa e o Judiciário ‘aturdidos’ com tanta liberdade após recentes decisões do STF, como o ‘sepultamento’ da Lei de Imprensa.

‘O Poder Judiciário é hoje a maior ameaça à liberdade de imprensa, nos ensinando, tristemente, que é muito difícil enterrar ideias mortas.’

Segundo ele, ‘a grande lei sobre liberdade de imprensa no país é uma só: a Constituição’. Como consequência, diz ele, ‘nenhuma outra lei pode ter a pretensão de conformar o regime jurídico da liberdade de imprensa em nosso país’.

De acordo com o ministro, outras leis podem tratar de assuntos indiretamente relacionados com a liberdade de imprensa, como direito de resposta, indenização e propaganda, entre outros. Mas, em sua opinião, tais leis são desnecessárias.

IRMÃS SIAMESAS

Para ele, como ‘a imprensa desempenha papel único na sociedade contemporânea’ e atua como ‘causa e efeito do regime democrático’, é plenamente justificável que a Constituição Federal tenha radicalizado’ em sua proteção.

O ministro, cuja apresentação foi a mais aplaudida dos dois dias de seminário, afirmou que a imprensa é ‘irmã siamesa, mais que irmã gêmea, da democracia’.

Em seguida, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a senadora eleita Ana Amélia Lemos (PP-RS), o juiz Rodrigo Collaço e o advogado Luís Francisco de Carvalho Filho debateram o tema.

Para Carvalho Filho, advogado da Folha, ainda é motivo de preocupação o fato de a posição expressa por Ayres Britto, favorável à ampla liberdade de imprensa, não ser ‘unanimidade no STF’.

 

Emissora pública é ‘caixa-preta’, diz Eugênio Bucci

No seminário promovido pela TV Cultura, Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás (2003-2007), afirmou que as emissoras públicas não são transparentes nem têm independência, comprometendo a liberdade de imprensa.

‘A maioria das emissoras públicas são caixas-pretas (…) Não há a menor condição de haver um ambiente de liberdade de imprensa num lugar que abriga serviçais de chefes ocultos. A transparência é o primeiro passo.’

Participaram da mesma mesa Tereza Cruvinel, presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Américo Martins, diretor de jornalismo da Rede TV!, e Fernando Vieira de Mello, da TV Cultura.

O seminário ainda teve um debate sobre riscos à liberdade de imprensa, com os jornalistas Renata Lo Prete (Folha), Merval Pereira (‘O Globo’) e Ricardo Gandour (‘Estadão’).

Para Lo Prete, existe uma confusão na discussão, porque ‘as palavras [como liberdade de imprensa] estão sendo usadas fora do lugar para atender a interesses’.

Gandour questionou a necessidade de novas leis para regular a mídia: ‘Devemos pensar em fortalecer as instituições e as leis que já existem’.

 

Felipe Bächtold

TV e rádio do Amapá ligadas a senador fazem ataques à Folha

Emissoras de TV e rádios do Amapá, parte delas ligadas à família do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), fizeram uma série de ataques à Folha nos últimos dias.

As redes acusam a reportagem do jornal de oferecer dinheiro por entrevistas com duas testemunhas de um caso envolvendo o político do Amapá. A Folha não paga por entrevistas.

Em 2005, as duas testemunhas haviam prestado depoimentos que acabaram resultando na cassação do mandato de dois adversários de Gilvam, o casal João e Janete Capiberibe (ambos do PSB), por compra de votos.

As entrevistas com as duas testemunhas, feitas pela repórter Kátia Brasil, enviada a Macapá, ocorreram no último fim de semana.

Nas reportagens exibidas pelas TVs, são mostradas imagens da entrevista, que foram gravadas com o telefone celular pelo marido de uma das testemunhas.

Na TV Tucuju, que retransmite a programação da Rede TV! no Amapá, o apresentador de um programa policial chegou a questionar quem bancou as despesas da Folha na cidade.

Reportagens do mesmo teor foram exibidas em outras emissoras do Amapá.

A repórter da Folha foi ao Amapá após a revelação, feita pelo jornal na semana passada, de que um ex-funcionário da família de Gilvam afirmou que o político comprou testemunhas no processo que culminou na cassação dos Capiberibe.

OUTRO LADO

Procurado, o irmão do senador, Geovani Borges, que integra a direção do grupo, disse que não há ação orquestrada contra a Folha.

Afirmou ainda que a versão de que houve oferta de dinheiro pela entrevista teve origem em um depoimento das testemunhas ao Ministério Público, que aconteceu no mesmo dia do encontro com a reportagem da Folha.

Para Geovani, se houve ‘excesso’ nas reportagens veiculadas, não foi por orientação da direção da empresa. O grupo é composto pela TV e quatro emissoras de rádio.

Ele disse também que pediu a suspensão de reportagens sobre a jornalista.

O senador Gilvam Borges não foi encontrado para falar sobre o assunto. A assessoria dele diz que ele não tem envolvimento com a TV e com as rádios.

 

RIO DE JANEIRO
Fernando de Barros e Silva

Tropa da mídia

Há um triunfalismo exorbitante na cobertura jornalística dos acontecimentos gravíssimos no Rio de Janeiro. Na sua primeira página de ontem, o jornal ‘O Globo’ estampou, em letras garrafais: ‘O Dia D da guerra ao tráfico’.

A comparação, ou ‘semelhança simbólica’, entre a ocupação da Vila Cruzeiro, anteontem, e o desembarque das tropas aliadas na Normandia, impondo a derrota aos nazistas, é um despropósito, um disparate histórico, além de factual.

Vale lembrar: no dia 21 de abril de 2008, o Bope pendurou na parte mais alta da mesma Vila Cruzeiro a sua bandeira preta com a caveira no centro. A tropa de elite da polícia comemorava uma semana de ocupação na favela. Falava-se então na apreensão de ‘três mil sacolés de cocaína e 480 pedras de crack’. Já vimos, pois, esse filme antes.

O que aconteceu desde então? As coisas agora são diferentes? Parece que sim. A começar pelo emprego de armamentos de guerra e de efetivos das Forças Armadas no cerco ao tráfico. Os bandidos também mudaram de patamar: passaram a patrocinar ações típicas da guerrilha e do terrorismo pela cidade.

Até prova em contrário, esses parecem ser sintomas do agravamento de um problema, e não da sua solução. Curiosamente, o secretário de Segurança do Rio mostra ter mais noção disso do que a mídia.

Por toda parte -TVs, jornais, internet-, há uma tendência compulsiva para transformar a realidade em enredo de ‘Tropa de Elite 3’, o filme do acerto de contas final. A dramatização meio oficialista e meio ficcional do conflito parece se beneficiar de uma fúria coletiva e sem ressalvas dirigida aos morros, como quem diz: sobe, invade, explode, arregaça, extermina!

É quase possível ouvir no ar o lamento pela ausência de traficantes metralhados diante das câmeras. Até o momento em que escrevo, foram incendiados 99 veículos e mortas 44 pessoas. Quantas eram marginais? Quantas eram só pobres-diabos? E que diferença isso faz?

 

WIKILEAKS
Cristina Fibe

EUA alertam aliados para possível novo vazamento de dados

O Departamento de Estado dos EUA está preparando os aliados do país para o possível vazamento de milhares de documentos diplomáticos sigilosos pelo site WikiLeaks nos próximos dias.

Segundo o WikiLeaks, a próxima leva de documentos será sete vezes maior do que o lote sobre o Iraque divulgado no mês passado, com 400 mil relatórios secretos.

O site não especificou a data da publicação, mas o Pentágono espera que isso aconteça até o início da semana que vem.

Entre os países que foram avisados pelos EUA sobre o conteúdo sensível dos documentos estão Reino Unido, Itália, Israel, Noruega, Turquia e Rússia.

O embaixador dos EUA em Bagdá, James Jeffrey, disse a jornalistas que o ‘WikiLeaks é um obstáculo absolutamente terrível para o meu trabalho, que é poder ter discussões confidenciais com as pessoas. Eu não entendo a motivação para a divulgação desses documentos’.

O porta-voz do Departamento de Estado, P.J. Crowley, disse à agência France-Presse, na quarta-feira, que os EUA estão se preparando para o ‘pior cenário’, e que ‘as revelações gerarão tensões nas relações entre os nossos diplomatas e nossos amigos pelo mundo’.

Segundo a CNN, os americanos estão revisando os documentos diplomáticos emitidos entre 2006 e 2009.

O Reino Unido pediu à imprensa que seja avisado sobre a publicação de notícias que ameacem a segurança nacional.

 

ASSINATURA
TV a cabo tem perda recorde nos Estados Unidos

A TV a cabo nos Estados Unidos nunca perdeu tantos clientes como nos últimos meses, resultado da economia enfraquecida (com alto nível de desemprego) e da concorrência da internet.

No terceiro trimestre deste ano, 741 mil consumidores (em um universo que hoje gira em torno de 60 milhões) cancelaram o serviço de TV a cabo nos EUA, recorde desde pelo menos 1980, quando a consultoria SNL Kagan iniciou o levantamento.

Para piorar o cenário do setor, o recorde anterior era dos três meses anteriores, quando 711 mil clientes deixaram o assinar o serviço.

As perdas recordes fizeram a SNL Kagan mudar a sua visão sobre os motivos dos cancelamentos. Na pesquisa sobre os resultados do segundo trimestre, a consultoria praticamente descartava impacto da internet. Isso agora mudou.

‘Está se tornando cada vez mais difícil reduzir o impacto da substituição ‘over the top’ [referência a conteúdo produzido por outros meios, principalmente a internet] no desempenho da assinaturas, especialmente depois que tivemos quedas em um período do ano que costuma produzir os maiores ganhos de assinantes’, escreveu o analista Ian Olgeirson.

Parte da concorrência para a TV a cabo vem de sites como Hulu (criado por grandes redes de TV, como NBC e Fox), que oferece gratuitamente o conteúdo produzido pelas emissoras, inclusive as de canais por assinatura.

Outro foco de disputa são os aplicativos de sites como Netflix e Amazon.com que possibilitam a compra de conteúdo na internet para ver na televisão.

O Google TV, lançado recentemente nos EUA, também pode ser mais um rival para tirar assinantes.

ECONOMIA FRACA

Porém, o analista reitera que os fatores que mais influenciam são a economia fraca e o alto desemprego.

A economia americana esteve em recessão entre dezembro de 2007 e junho do ano passado, mas o fim do ciclo negativo não significa que o cenário melhorou significativamente.

O PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA vem crescendo desde o terceiro trimestre do ano passado, porém o avanço não é forte o suficiente para diminuir sensivelmente o desemprego.

A taxa de desemprego ficou em 9,6% no mês passado, mais que o dobro do patamar de antes de a recessão ter começado -ainda no governo George W. Bush. No auge, o desemprego chegou a 10,1% em outubro do ano passado, índice que não era visto desde 1983.

De janeiro de 2008 para cá, 7,5 milhões de postos de trabalho foram eliminados na maior economia mundial.

 

TELEVISÃO
Alexandre Agabiti Fernandez

Telefilmes retomam ‘Alice’ com linguagem de cinema

Série de sucesso da HBO em 2008, com 13 episódios, ‘Alice’ está de volta.

‘Um Especial em Duas Partes’ compreende dois longas de 80 minutos cada um, produzidos para que os fãs não percam contato com a série enquanto esperam a segunda temporada, cuja realização está indefinida.

Com direção-geral de Karim Aïnouz e Sergio Machado, a série original contava a história de Alice (Andreia Horta), que vem de Palmas a São Paulo para o enterro do pai e acaba ficando.

Decidida a traçar seus próprios caminhos, deixa em Tocantins o noivo com quem tinha casamento marcado e mergulha com tudo na megalópole e na noite.

No especial, Alice está em São Paulo há dois anos. O período mais difícil ficou para trás: integrou-se, vive no centro e goza de alguma estabilidade econômica. Faz planos, como o de se casar com Nicholas (Vinicius Zinn) e de comprar um apartamento.

Apesar de feito para a tela pequena, o especial está mais próximo da linguagem do cinema, com fotografia bem cuidada, enquadramentos estudados que realçam o lado mais urbano da cidade, câmera fluida e planos mais longos.

O primeiro filme, dirigido por Aïnouz (‘O Primeiro Dia do Resto de Minha Vida’), mostra Alice buscando apartamento com o namorado e se relacionando com outros personagens da série, invariavelmente às voltas com encontros e desencontros amorosos.

Enquanto isso, ela cuida da produção de um musical infantil, no qual investiu metade de suas economias. Na segunda parte, dirigida por Sergio Machado, as ‘certezas’ de Alice desmoronam.

Na noite de estreia do musical, ela vê Nicholas assediar uma das atrizes da peça e acaba saindo sozinha pela cidade, tarde da noite.

Ela conhece e se aproxima de um suicida -algo coerente, pois seu pai se matou pulando de um prédio- e essa experiência a faz questionar o projeto de casamento.

Os dois filmes -que podem ser vistos independentemente- têm estéticas diferentes, relacionadas às histórias que contam. O primeiro acontece à luz do dia, tem ritmo pausado, a paisagem paulistana e se integra aos espaços em que a narrativa se desenrola.

A noite dá o tom do segundo filme, que tem suspense e pulsação acelerada. A ausência de claridade prefigura o fim das ‘certezas’ da personagem e a sensação de vertigem, que está na trajetória de Alice, é reforçada pela velocidade acelerada dos carros nos planos que mostram a cidade com seus prédios e viadutos. Opressiva, a cidade vira personagem.

NA TV

Alice – Um Especial em Duas Partes

Estreias dos telefilmes

QUANDO hoje, às 19h30, e nos dias 6, à 0h50, e 29/12, às 21h (primeiro capítulo); hoje, às 21h, e nos dias 1º, às 19h30, 7, à 1h, e 30/12, às 21h (segundo), na HBO

CLASSIFICAÇÃO 14 anos

AVALIAÇÃO bom

 

Keila Jimenez e Samia Mazzucco

Programa ‘Casseta & Planeta’ sai do ar

Um dos humorísticos mais antigos da TV, o ‘Casseta & Planeta, Urgente!’ chamou o intervalo. De vez. Há quase 20 anos no ar, a atração vai deixar definitivamente a grade da Globo no próximo dia 21 de dezembro.

A decisão de sair do ar foi tomada pelo grupo há cerca de dois meses e comunicada à Globo em várias reuniões. Na tarde de ontem, o término do programa foi divulgado de forma oficial.

‘Sabe o que são 20 anos no ar, com um mês de férias aqui, outro ali? Eles estão precisando desse tempo para descansar, repensar o que querem fazer na TV. Será uma espécie de período sabático’, diz o empresário do grupo, Manfredo Barreto.

‘Serão aproximadamente seis meses fora do ar. No segundo semestre eles devem voltar com um novo programa. Mas não têm essa obrigatoriedade.’

Oficialmente, a Globo informou que ‘o grupo sentiu necessidade de pensar em um novo formato e pediu para esticar o período de férias e trabalhar nisso, pois o compromisso semanal no ar compromete essa tarefa’.

Apesar dos boatos, a produção do programa fora avisada somente dias atrás.

‘Foi uma decisão em conjunto, mas até eles precisam de um tempo para digerir a ideia’, falou Manfredo.

Livres das gravações, os humoristas devem trabalhar em seus projetos individuais, mas nada ligado à TV, garante o empresário.

‘O Hubert e Marcelo [Madureira] vão filmar em fevereiro o filme do Agamenon, mas isso já estava previsto’, disse Manfredo.

Hélio de La Peña não acha que o grupo ficará muito tempo longe da TV.

‘A gente não está vendo isso como um término, mas como uma parada para repensar o programa’, afirma.

AUDIÊNCIA

Ele também não atribui a decisão à má fase de audiência enfrentada pelo formato. A atração da Globo, que batia 30 pontos de ibope com a sátira de ‘Caminho das Índias’ (2009), amarga hoje médias modestas. Caiu de 37 pontos (2007) para 23,1 pontos (média de janeiro a setembro deste ano). Cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP.

Segundo o empresário do grupo, a atração sairá do ar sem grandes despedidas.

Procurada, a Globo diz não saber o que substituirá o ‘Casseta’ na grade. Na tarde de ontem, as apostas estavam na exibição da primeira temporada da série musical norte-americana ‘Glee’.

 

Thales de Menezes

Em queda, grupo se alinha ao humor antiquado da TV

‘Casseta & Planeta’ vivia uma inegável crise. A usina de piadas perdeu a graça. Não foi apenas desgaste da fórmula. O grupo foi atingido pela concorrência em um de seus pontos fortes: o contato direto com o público.

As entrevistas com pedestres incautos rendiam boa parte das risadas no programa. Com o passar dos anos, os integrantes da trupe e seu estilo de humor ficaram tão conhecidos que o público descobriu como reagir.

Nos últimos tempos, era comum ver o anônimo na calçada carioca respondendo a eles com outra piada. Constranger o entrevistado ficou mais difícil, e nesse quesito ‘Pânico na TV’ e ‘CQC’ deitam e rolam.

A morte de Bussunda foi um golpe duro. Era o Casseta mais reconhecível, o favorito das crianças, herdeiro da tradição de humoristas gordos desde Oliver Hardy. A falta que fez ao grupo foi proporcional ao tamanho da pança.

Embora a sátira da novela continuasse forte, outras frentes do humor da turma definharam. Marcas registradas, como os produtos Tabajara, perderam o fôlego.

As sacadas inteligentes deram lugar a personagens fixos, mais próximos do humor televisivo antiquado, como Seu Creysson, Carlos Maçaranduba e, mais recentes e menos engraçados, Acarajete Love e Osama Bin Laden.

Não é fácil ser engraçado todas as semanas. A memória afetiva do público vai preservar os momentos geniais do ‘C&P’. E foram muitos.

 

LITERATURA
Ivan Finotti

Editores sugerem novo Jabuti em 2011

Com seu característico passo de tartaruga, o cágado jabuti se encaminha para mudanças em 2011. Todos reclamam das atuais regras, e o primeiro a admitir estranheza é o próprio curador do prêmio, mas só no ano que vem começam as discussões oficiais de possíveis transformações no regulamento.

Criado em 1958, o Jabuti ganhou mais relevância nas duas últimas décadas, quando José Luiz Goldfarb assumiu a curadoria e instaurou pagamentos para os jurados e premiações em dinheiro para os vencedores. Apesar de hoje não distribuir tanto dinheiro quanto outros eventos (R$ 30 mil para o Livro do Ano, contra R$ 100 mil do prêmio Portugal Telecom e R$ 200 mil do prêmio São Paulo), o Jabuti ainda é o mais conhecido e prestigiado prêmio literário do país.

É por isso que dois dos editores mais poderosos do país, Sergio Machado, presidente da grupo editorial Record, e Luiz Schwarcz, diretor da Companhia das Letras, vieram trocar farpas em público este mês para defender seus autores finalistas. Nenhum deles confirma que a venda dos premiados cresce nas livrarias, mas concordaram em sugerir mudanças para a próxima edição do Jabuti.

Schwarcz aponta três possibilidades mudanças:

1) Maior investimento no julgamento – Segundo o editor da Companhia, os jurados deveriam receber mais para poderem se dedicar melhor ao julgamento das obras. O aumento de inscrições no Jabuti (de 300 para 3.000 livros nos últimos 20 anos) exige uma dedicação enorme para leitura. Além disso, mais dinheiro significa melhores jurados disponíveis.

‘Prêmio literário é a qualidade do julgamento. Se não houver investimento em júri, que os livreiros e editores continuem escolhendo o Livro do Ano’, diz Schwarcz.

2) Menos categorias – Vinte e uma categorias é muito, segundo o editor. O curador do prêmio, José Luiz Goldfarb, no entanto, afirma que quem pressiona por mais categorias são os próprios editores. ‘Porque assim eles têm mais possibilidades de ganhar’, diz o curador.

3) Mudar para o modelo de ‘short list’ (lista curta) – Para Schwarcz, um prêmio literário não deveria ser encarado como uma competição tão acirrada. ‘Prêmio com primeiro, segundo e terceiro lugares só existe no Brasil. O National Book Awards, o Goncourt, o Booker Prize, não têm segundos lugares. Anunciam uma ‘short list’, com umas cinco obras, e depois o vencedor.’

FALTA DE LEITURA

Apesar de se colocar contrário a Schwarcz na atual discussão, o dono da Record, Sergio Machado, aponta sugestões parecidas às do colega. Duas são as mesmas:

1) Menos categorias -’Realmente é muita coisa. Ganhar uma delas acaba tendo pouca significação’, diz Machado.

2) Mudar para o modelo de ‘short list’

E sugere outras duas:

3) Um livro do ano, seja ficção ou não. ‘Acho que não deveria ser dividido. Um único livro, aquele que foi o mais importante, seria mais interessante’.

4) Os 500 associados deveriam ler o livros que julgam -’Quando você coloca 63 livros (3 de cada categoria) para ser escolhido como livro do ano, tenho certeza que os 500 associados não leram todos. Se esse número diminuir bastante, poderíamos exigir uma declaração dos votantes de que leram todos os concorrentes antes de votar’, sugere Machado.

José Luiz Goldfarb diz que as discussões da comissão começam em janeiro. ‘Em março ou abril, lançaremos as regras oficiais.’

Para ele, apesar de toda a polêmica, a premiação do Jabuti foi coerente. ‘Prova disso é que tanto Chico quanto Edney venceram outros prêmios neste ano. OK, podem estar todos errados. Mas por trás da subjetividade do júri, existe uma coerência.’

 

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