Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Franklin Martins ganha
ação contra Mainardi


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Comunique-se


Quarta-feira, 18 de abril de 2007


MAINARDI vs. GOVERNO LULA
Comunique-se


Franklin vence batalha judicial contra Mainardi


‘Franklin Martins venceu em primeira instância o processo que move contra o articulista da Veja Diogo Mainardi. Em sua coluna de 19/04/06, Mainardi afirmou que Martins realizou tráfico de influência para conseguir cargos públicos para sua mulher e seu irmão e relacionou o jornalista à quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. O juiz Sergio Wajzenberg da, 2ª Vara Cível do Rio de Janeiro, entendeu que a intenção de caluniar e difamar ficou patente nos textos e determinou o pagamento de R$ 30 mil ao jornalista.


Franklin, que assumiu há pouco tempo a secretaria de Comunicação Social da Presidência, com status de ministério, entrou com o processo enquanto ainda era comentarista político da Rede Globo. A contenda entre os dois é longa; Mainardi já escreveu sobre o jornalista em cinco colunas num período de um ano e quatro meses. Por sua vez, além do processo, o ministro também já lançou para o colunista seu ‘Desafio a um difamador’, que não foi aceito.


Mainardi vai recorrer da decisão judicial e disse ao Comunique-se que só se pronunciará sobre o assunto em sua coluna da próxima edição de Veja.


Franklin Martins não foi encontrado até o fechamento desta matéria.’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 18 de abril de 2007


TV PÚBLICA
Celso Schröder


O direito às TVs estatal e pública


‘O GOVERNO federal pretende criar uma ‘nova’ rede ‘pública’ e ‘estatal’ de televisão, conforme vem sendo noticiado. Entidades ligadas à radiodifusão pública protestaram, identificando no anúncio -feito pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa,- um movimento para esvaziar o Fórum das TVs Públicas. Marcado para maio e organizado pelo Ministério da Cultura e a Radiobras, o Fórum representa um espaço democrático e qualificado.


O ministro defendeu-se sustentando o direito de o governo ter uma TV ‘pública’, talvez em parceria com o setor privado. Não disse como isso seria. O presidente Lula atribuiu ao novo titular da secretaria de Comunicação, Franklin Martins, a missão de implantar uma TV pública, talvez educativa, para defender os interesses do Estado. Martins declarou que a TV não será estatal, mas pública.


As intenções difusas e os conceitos imprecisos indicam que o debate sobre o tema é pertinente e urgente. A confusão explica-se. Por um lado, a legislação brasileira é falha, não só quanto aos conceitos de radiodifusão estatal e pública. Trata-se de um problema antigo, cujo enfrentamento os governos têm evitado. Pois a regulação das comunicações exige o equacionamento de interesses poderosos.


A falta de uma definição clara dos sistemas de radiodifusão pública e estatal, no caso, inviabiliza a consolidação e a qualificação dos mesmos, prejudicando o país. A ausência de propósitos cristalinos e de controles adequados à contemporaneidade beneficia dirigentes públicos inescrupulosos e fortalece os poderes hipertrofiados da radiodifusão privada.


Por outro lado, historicamente, a sociedade civil brasileira tende a perceber nas relações com o Estado apenas interesses contraditórios. Ora, o Estado não é a encarnação do público, mas regula e qualifica práticas sociais das quais a sociedade civil não pode prescindir. Tais práticas devem ser sempre questionadas e aperfeiçoadas.


Entretanto, não há, no cenário político-social, evidências de que o Estado deixará de expressar o interesse público em graus variados e, muitas vezes, de modo insubstituível. Pois ele nasceu para garantir o acesso público ao que é do público, para impedir sua apropriação pelo privado.


Desde sempre estabeleceu formas e meios de comunicação para disponibilizar ao público as informações que lhes dizem respeito. Fazê-lo, aliás, é da condição democrática e determinação constitucional. Frente às complexas redes sociais da modernidade, quem pretenderá restringir ao Estado o direito e o dever de comunicar-se?


Surgem duas opções. Uma, inverossímil: vetar a comunicação do Estado com o público. Outra, ingênua: renegar o caráter público do Estado, autorizando os governantes a agir em nome próprio e/ou partidário.


É desejável e imprescindível, portanto, criar estruturas estatais de comunicação. Serão estruturas públicas? Sim, pois todo aparato estatal deve ser público. Essa característica deve ser preservada mediante a participação da sociedade civil -ainda que o controle dessas estruturas seja predominantemente estatal.


Mas a existência de aparatos estatais de comunicação não exime o Estado de estimular, viabilizar e manter estruturas públicas de comunicação, controladas predominantemente pela sociedade civil. Pelo contrário: cabe-lhe executar políticas públicas de comunicação, implantadas democraticamente, com ampla participação popular. Há mais de dez anos o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) reivindica a formulação de tais políticas.


O FNDC atribui à comunicação um caráter estratégico, reconhecendo as determinações que ela impõe sobre a política, a economia e a cultura nacionais. Defende o seu controle público, a capacitação dos cidadãos para debatê-la, a reestruturação dos seus sistemas e mercados.


Junto com outras entidades e movimentos sociais, o FNDC está propondo a realização de uma Conferência Nacional das Comunicações para formular as políticas referidas, que devem considerar a digitalização e a convergência tecnológica. A Conferência permitirá fixar de vez, nas comunicações, as responsabilidades do Estado e do setor privado, bem como expandir e consolidar a apropriação pública do aparato estatal.


CELSO SCHRÖDER, 54, é jornalista, professor do curso de jornalismo da PUC-RS e coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Paul, Kate, o que fazer?


‘O cenário de caos na web, que prenunciavam, deu as caras no ‘day after’ do massacre da Virginia Tech. Era possível achar o que se quisesse, do site do ‘Chicago Tribune’ com o nome do assassino (leia à pág. A11) aos ‘newsbloggers’ da AOL com a íntegra das peças que escreveu. E os relatos dos sobreviventes, em sites de blogueiros tipo Icantread -que postou o primeiro, de Paul, amigo de Kate, que ligou da sala de operação.


E já sobram análises, do ‘Washington Post’ ao blog BuzzMachine, a maioria sob choque do vídeo da CNN. Mas é de Robin Hamman, do Cybersoc, a de mais eco, linkada até na home do ‘Financial Times’. Citando as reações da mídia ao post de Paul e Kate, pergunta o que devem fazer os jornalistas com tais informações, ‘confirmar [e noticiar] ou linkar?’. Linkar, diz ele.


‘GUERRILHA’


Na manchete do ‘WSJ’, ‘Ameaça para a grande mídia: sites guerrilheiros de vídeo’. Na foto, com bandeira de pirata ao fundo, os dois responsáveis por um serviço de Albuquerque, no Novo México, que já postou 17 episódios de ‘Heroes’ (NBC) e 49 de ‘Desperate Housewives’ (ABC). Seus computadores são antiquados, as instalações, mínimas, mas eles e outros se tornaram ‘uma grande ameaça’, até maior que YouTube. É que suas atrações, estocadas em sites de países como França e China, estão fora do alcance das leis americanas.


Não por coincidência, o site do ‘WSJ’ destacou depois que a Time Warner estuda reduzir sua presença em cabo e ampliar em internet, que ‘emerge como viável para TV’.


A MORTE


O ‘Financial Times’ vai além, no artigo ‘Video online e a morte de Hollywood’, no caso, a Hollywood das séries de TV. Lista movimentações de Microsoft, Google e AT&T para estrear em TV pela web até o fim do ano, talvez antes.


FLICKR


O fotógrafo Tony de Marco, cujas imagens da São Paulo ‘sem publicidade’ chegaram ao blog BoingBoing e ao site Digg, segue avançando por sites do Japão à Alemanha. E tudo começou com 17 fotos postadas por ele no Flickr.


METÁFORA


Na manchete da Agência Brasil, ‘Chávez diz que não é contra biocombustíveis’. Na submanchete de sua Agência Bolivariana, ‘Presidente Chávez: Biocombustíveis são estratégia a considerar’. Porém, antes que Lula o fizesse, segundo texto da Reuters, Chávez falou de Copa América:


– Não pense que a Venezuela é a seleção Cinderela de sempre. Lula, temos uma surpresa para você. Cuidado.’


VENEZUELA
Folha de S. Paulo


Rede de TV entra na Justiça para ficar no ar


‘O canal de TV venezuelano RCTV, o mais antigo do país, entrou ontem no Tribunal Supremo da Venezuela com um recurso para evitar sua saída do ar a partir do próximo dia 28 de maio. Nessa data encerra-se a concessão de operação que o governo deu à RCTV, válida por 20 anos.


Em 29 de março último, quando comunicou que não renovaria a concessão da rede, o governo venezuelano declarou que no país ‘não existe a figura da renovação automática’. A RCTV argumenta, em seu recurso, que a renovação tem de ser feita, a não ser que a companhia tenha cometido infrações graves contra a Lei de Telecomunicações.


Segundo o presidente da rede de TV, Marcel Granier, o critério de Chávez para a decisão de tirar a RCTV do ar é baseado na política editorial da emissora, que desagradaria ao presidente da Venezuela.’


PRÊMIO PULITZER
Folha de S. Paulo


Cormac McCarthy ganha o Pulitzer


‘Os vencedores do Pulitzer Prize 2007 foram anunciados anteontem pela Universidade Columbia (de Nova York), que aponta anualmente, desde 1917, os destaques da literatura, do jornalismo e das artes. O romance ‘The Road’ (A Estrada), de Cormac McCarthy, levou o prêmio de melhor ficção. O livro acompanha a jornada de pai e filho por uma América pós-apocalíptica, coberta de cadáveres e cinzas.


Já Lawrence Wright foi lembrado na categoria não-ficção por ‘The Looming Tower: Al-Qaeda and the Road to 9/11’ (A Torre Distorcida: Al-Qaeda e o Caminho para o 11/9), em que o autor retraça a trajetória de cinco personagens ligados aos atentados terroristas de seis anos atrás, entre eles Osama Bin Laden e o então chefe da unidade contraterrorista do FBI em Nova York, John P. O’Neill. O autor virá ao Brasil neste ano para participar da 5ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).


No campo da dramaturgia, David Lindsay-Abaire foi reconhecido pela peça ‘Rabbit Hole’ (Toca de Coelho), perfil de uma família de classe média alta enlutada pela morte do filho de quatro anos. O júri também agraciou Debby Applegate por ‘The Most Famous Man in America: The Biography of Henry Ward Beecher’ (O Homem Mais Famoso da América: A Biografia de Henry Ward Beecher), sobre o pastor abolicionista do século 19.


No gênero poesia, Natasha Trethewey venceu por ‘Native Guard’ (Guarda Nativo), em que mescla referências ao seu Mississippi natal e à vida de sua mãe. Já ‘The Race Beat: The Press, the Civil Rights Struggle, and the Awakening of a Nation’ (O Pulsar da Raça: A Imprensa, a Luta pelos Direitos Civis e o Despertar de uma Nação), dos jornalistas Gene Roberts e Hank Klibanoff, recebeu o prêmio na categoria ‘história’.


Na seção voltada ao jornalismo, ‘The Wall Street Journal’ foi a única publicação a levar dois prêmios. O raio-x do avanço do capitalismo na China deu ao jornal a menção na categoria ‘reportagem internacional’; a história sobre a concessão de opções de ações a executivos norte-americanos (cuja publicação resultou na demissão de cerca de 70 deles) valeu ao jornal o reconhecimento na área de ‘serviço público’.


Outros periódicos lembrados foram ‘The Birmingham News’ (jornalismo investigativo), ‘The Oregonian’ (notícia) e ‘The New York Times’ (texto), entre outros.


Também destacou-se a contribuição do autor de ficção científica Ray Bradbury e do jazzista John Coltrane a seus respectivos gêneros.’


CRISE NA CULTURA PAULISTA
Folha de S. Paulo


Sayad nega a intenção de demitir maestro


‘O secretário de Estado da Cultura de SP, João Sayad, negou ontem que o governo Serra tenha restrições a John Neschling, maestro da Osesp, ou que irá demití-lo.


‘A escolha é do conselho da Osesp, que é independente. A negociação com o governo é de orçamento e política. Não está definido se haverá restrição ou expansão orçamentária para a Osesp’, disse Sayad.


O secretário afirmou que o orçamento anual da orquestra, de R$ 43 milhões, é ‘bom’. Segundo ele, representa de 20% a 25% do orçamento da secretaria. ‘É um valor alto, mas a Osesp tem produzido bons resultados.’


Quanto ao polêmico salário de Neschling (o contrato até 2005 foi de R$ 1,2 milhão/ano), Sayad disse que não é uma decisão do governo, mas do conselho. ‘Ele é que tem que se pronunciar sobre isso.’


Sayad afirmou que a secretaria da Cultura tem uma ‘avaliação positiva’ do trabalho do maestro.


A Osesp, assim como outros órgãos da pasta, é administrada por OSs (organizações sociais), criadas há pouco mais de um ano. Por meio delas, por exemplo, funcionários podem ser contratados sem concurso público.


TV Cultura


Sayad defendeu ontem que a TV Cultura, mantida majoritariamente por verbas da secretaria estadual, seja pioneira na adoção de uma programação feita principalmente por produtores independentes.


‘Incentiva a criatividade e o produtor de filmes e programas nacionais.’


Ele elogiou o jornalista Paulo Markun, apresentador do ‘Roda Viva’ e candidato apoiado pelo governo para substituir o atual presidente da Fundação Padre Anchieta (que administra a TV Cultura) e ex-secretário da Cultura, Marcos Mendonça. ‘Markun é considerado ‘a cara’ da TV Cultura, é um excelente nome.’’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record corta intervalos para crescer no Ibope


‘Amparada pela Igreja Universal, seu maior anunciante, a Record reduziu o número de intervalos comerciais para aumentar sua audiência.


Um levantamento inédito, de todos os comerciais exibidos em todas as redes das 8h à 0h, entre os dias 31 de março e 13 de abril, revela que a Record é a rede que tem menos breaks (intervalos) e a que exibe menos tempo de publicidade.


De segunda a sexta, a Record exibe uma média de 25 breaks, contra 39 da Globo e 42 do SBT. Em outras palavras, enquanto a Globo faz dez intervalos, a Record realiza só seis e meio.


Nos finais de semana, essa diferença é ainda maior. Aos domingos, são só 16 intervalos, metade da Globo (32,5).


Na semana de 2 a 6 de abril, a Record exibiu 70 minutos de comerciais para cada 100 da Globo e 114 do SBT.


Nas faixas em que ainda perde para o SBT no Ibope (manhã e tarde), a Record fica mais de uma hora sem intervalo. No dia 8, o ‘Tudo É Possível’, que concorre com Silvio Santos, durou 4 horas e 4 minutos, mas teve só dois breaks no meio.


A Record afirma que tem menos intervalos porque exibe mais merchandising que a Globo. Lembra que boa parte dos anúncios do SBT são de empresas de Silvio Santos e enfatiza que seus anunciantes hoje são mais qualificados. ‘Estamos investindo em breaks de qualidade’, diz Ricardo Frota, gerente nacional de comunicação.


PESO-PESADO O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) convidou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo-poderoso da Globo, para comandar a rede de TV pública de Lula. Boni, segundo pessoas próximas, não gostou da idéia.


NEM ASSIM O SBT vem enfrentando resistência no mercado publicitário mesmo depois que Silvio Santos ordenou a venda anúncios com garantia de audiência. O problema é que quem ganha o crédito se o programa não atingir a audiência prometida é a agência, e não o anunciante.


DONO DA BOLA O programa ‘Debate Bola’, de Milton Neves, vem dando boa audiência (7 pontos anteontem) apesar de a Record não transmitir mais futebol.


PAREDÃO 1 O canal Multishow bateu todos os recordes de audiência da TV paga no último dia 3, quando, após a final de ‘Big Brother Brasil 7’, exibiu um especial sobre Diego Gasques, o Alemão, vencedor do programa.


PAREDÃO 2 O especial foi visto por 1,6 milhão de telespectadores. De todos os televisores ligados em canais pagos, 59 estavam no Multishow. O recorde anterior era do próprio canal: 1,1 milhão com ‘BBB 7’ em 27/2.


TELEFILME Deu 23 pontos a exibição anteontem, pela Globo, do filme ‘Olga’, audiência baixa para a ‘Tela Quente’. O longa ficou seis minutos atrás da Record, cujo ‘Repórter Record’, sobre maus-tratos a animais, bateu seu recorde, 16 pontos.’


Amarílis Lage


Programa acompanha mazelas humanas


‘Se em alguns ‘reality shows’ o público se candidata para reformar a casa ou ganhar um novo guarda-roupa, em ‘Intervenção’ a busca é por ajuda para superar um vício ou compulsão. Em ‘Annie and Amy’, 22º episódio da série, os alvos são a anorexia e as drogas.


A bailarina Annie tem um distúrbio alimentar há 12 anos e seu noivo recorreu ao programa por medo de que a doença a mate. A mãe de Amy indicou a filha para salvá-la das drogas: ela usa metanfetamina, substância pior que a cocaína.


As câmeras que seguem as jovens não buscam subterfúgios e as cenas são duras: Annie aparece vomitando em um banheiro e Amy é filmada consumindo drogas -em determinado momento, a equipe do programa precisa intervir: Amy cortou-se profundamente com uma faca e precisa ser levada ao hospital.


A cada episódio, os participantes são surpreendidos por uma intervenção: ao lado de um especialista, parentes e amigos pedem que eles se internem para tratamento.


No início do programa, é feito um alerta: as cenas podem chocar alguns telespectadores.


Mas vale a pena enfrentar esse choque. Ele ajuda a lembrar que dramas como esses não são ficção. E que nem tudo acaba no fim do show: depois que as câmeras saem, existem as recaídas e os recomeços.


INTERVENÇÃO


Quando: hoje, às 20h


Onde: A&E’


Daniel Castro


Morre, aos 75, a comediante Nair Bello


‘Morreu ontem, em São Paulo, às 13h06, de falência múltipla dos órgãos, a atriz Nair Bello Souza Francisco, que completaria 76 anos no próximo dia 28. Ela estava internada no Hospital Sírio-Libanês desde 11 de novembro, quando sofreu uma parada cardiorrespiratória em um salão de cabeleireiros. Inicialmente em coma, a atriz apresentou melhora a partir de janeiro, mas, no último dia 30, teve nova arritmia cardíaca (irregularidade nos batimentos do coração) e insuficiência respiratória.


O corpo de Nair será velado até as 11h de hoje na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Às 10h30, será rezada uma missa pelo padre Antonio Maria. O enterro está previsto para as 12h, no Cemitério do Araçá, no Pacaembu.


A TV Globo, onde a atriz de marcante sotaque ítalo-paulistano estreou em 1980, na novela ‘Olhai os Lírios do Campo’, fará uma homenagem a ela neste sábado, no ‘Zorra Total’. O programa apresentará um quadro inédito da principal personagem de sua carreira, a dona Santinha. Último trabalho de Nair, o esquete é uma sátira ao quadro ‘Dança dos Famosos’, do ‘Domingão do Faustão’.


‘Além disso, vamos mostrar um clipe dela sempre rindo’, adiantou Maurício Sherman, diretor-geral do ‘Zorra Total’.


‘Ela tinha uma característica única, um generoso amadorismo de participar não só como profissional mas também como platéia. Nair ria das piadas e tinha uma naturalidade que às vezes me confundia. Eu consultava o texto para ver se ela não estava improvisando. E não estava. Ela transgredia a representação, não tinha truque’, lembra Sherman.


Início da carreira


Nair Bello iniciou sua carreira em 1949, aos 18 anos, como locutora da rádio Excelsior. Em 1951, estreava no cinema, em ‘Liana, a Pecadora’, ao lado de sua amiga Hebe Camargo.


Foi garota-propaganda de televisão até incorporar dona Santinha, a dona de pensão que usava seu tamanco para se defender de trapaceiros. ‘Ela ficou no ar com dona Santinha durante três anos, a partir de 1959/60, na Record. Depois, foi para a TV Rio. Em 1996, eu e Ricardo Corte Real tratamos o texto original e levamos para o [Maurício] Sherman, que adorou’, conta José Bello, um dos três filhos de Nair (ela teve um quarto, que morreu em 1975, em acidente).


A carreira de Nair Bello foi marcada por Santas. Além da Santinha, ela fez ‘Dona Santa’, série que a Bandeirantes exibiu entre 1981 e 1982, com grande sucesso, em que interpretava uma taxista que sustentava a família. Atualmente, ela está no ar na Globo na reprise de ‘Era uma Vez’ (1997), em que viveu uma outra dona Santa.


Nair era atriz-fetiche de Carlos Lombardi, autor de ‘Pé na Jaca’. Nessa novela, criou mais uma personagem para ela, Gioconda. Mas Nair adoeceu e Arlete Salles a substituiu. ‘Éramos muito próximos’, diz Lombardi, responsável pelo retorno de Nair à Globo, em 92, em ‘Perigosas Peruas’.’


INTERNET
Juliano Barreto


‘Tudo vai para a internet’, diz veterano


‘Na tradução do inglês para o português, muitas vezes a palavra ‘free’ é confundida.


É normal trocar grátis por livre e vice-versa. Em um encontro de ativistas que defendem o software livre, porém, é difícil não entender o significado certo do termo na informática.


A liberdade para acessar, copiar, editar e distribuir tecnologias é vista como a chave para resolver todo tipo de problema, dentro ou fora do computador.


Quem melhor descreveu essa teoria foi o diretor-presidente da ONG Linux International (www.li.org), John ‘Mad Dog’ Hall, que trabalha com computadores há mais de 38 anos.


O guru destacou a importância da internet no futuro das comunicações em uma palestra sobre o uso de padrões livres nos sistemas de transmissão de voz pelo protocolo da internet, o VoIP.


‘Não falaremos mais de telefonia sobre IP ou de IP sobre telefonia. Tudo estará na internet’, disse Hall batizando a tendência de ‘All IP’. Para o veterano, será possível usar sistemas livres na rede para difundir o acesso a transmissões de vídeo e ligações telefônicas.


Como exemplo, Hall citou o Access Grid (www.accessgrid.org), um sistema de videoconferência para múltiplos usuários. Com o programa, é possível usar câmeras e monitores convencionais para transmitir imagens para vários computadores.


Hall deu como exemplo a utilização da tecnologia em uma turma de alunos que fazia aulas de dança em diferentes locais, seguindo o mesmo professor.


Outra tecnologia de comunicação que mereceu destaque na apresentação de ‘Mad Dog’ foi o PABX aberto, que reduz os custos dos tradicionais centros de distribuição telefônica por ramais usados nas empresas.


O Asterisk (www.asterisk.org), que permite o uso de funções como secretária eletrônica e filtro avançado de chamadas, foi um dos exemplos citados.


Corpo e alma


Libertar o software já não é o suficiente. As peças que compõem os micros precisam passar por uma revisão para oferecer liberdade de escolha e segurança aos consumidores.


Essa é a proposta de projetos como o LinuxBios e uma das metas da Free Software Foundation da América Latina.


Pode parecer radicalismo, mas a Intel, maior fabricante de chips do mundo, também tem projetos nessa área, e a iniciativa conta com o apoio da Electronic Frontier Foundation (www.eff.org), ONG de defesa dos direitos dos internautas.


Um dos motivos de preocupação dos ciberativistas são os mecanismos TPM (Trusted Platform Module), travas que limitam a compatibilidade de mídias e de arquivos em computadores e em tocadores multimídia.


De acordo com as queixas, a indústria usa esses microcontroladores para evitar a pirataria e, de quebra, fazer com que os aparelhos entreguem informações pessoais do consumidor.


‘Quem defende essas tecnologias precisa provar que os mecanismos têm alguma utilidade além de restringir a concorrência’, disse Seth Schoen, da EFF.


Outra preocupação dos ativistas é o excesso de controle que as empresas têm sobre o conteúdo.


‘Uma música que está sob domínio público, mas não tem a marca digital de uma loja virtual, pode ser tomada como pirataria por esses aparelhos’, disse a ativista da Free Software Foundation Fernanda Weiden.


A intenção do projeto LinuxBios (linuxbios.org) é agir no íntimo dos micros, melhorando a interação entre sistema e placa-mãe. De acordo com seus produtores, o soft é capaz de acelerar a inicialização das máquinas e adicionar uma camada de segurança ao carregamento do sistema.


O projeto da Extensible Firm-ware Interface, liderado pela Intel, vai na mesma direção: pretende aprimorar as funções do Bios e aumentar a compatibilidade entre peças e programas.’


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Liberdade é o coração da produção colaborativa


‘Meio hippie, meio punk. Talvez seja essa a combinação da produção cultural que floresce na internet e desafia a indústria do entretenimento com novos formatos de distribuição.


Músicas e vídeos feitos com ferramentas gratuitas e divulgados sem nenhum tipo de cobrança espalham-se pela rede e permitem que qualquer usuário possa fazer o que bem entender com as obras de terceiros.


Esse é o espírito dos artistas e dos usuários que participam de comunidades como as dos sites Overmundo (www.overmundo.com.br), Ourmedia.org e Estúdio Livre (estudiolivre.org). Eles seguem ao pé da letra os lemas do software livre, mas criam e distribuem vídeos, músicas e trabalhos gráficos.


Para tanto, os internautas recorrem a um arsenal de tecnologias ‘libertárias’, como a licença Creative Commons, os sites wiki e os programas de código livre.


As tags, espécie de etiquetas digitais de classificação que facilitam buscas via internet, são outro recurso popular nesses sites.


Entre os softs preferidos, está o Cinelerra (cinelerra.org), um editor multimídia para Linux capaz de capturar vídeo de filmadoras, editar o conteúdo e aplicar efeitos. Durante o FISL, uma equipe usou apenas programas livres para transmir as palestras ao vivo pela internet por meio do site tv.softwarelivre.org.


Quem usa Windows também pode editar vídeos com programas livres. Para os iniciantes, o soft mais indicado é o VirtualDub (www.virtualdub.org), que é bastante leve, aplica filtros nas imagens e pode realizar tarefas elementares, como cortes.


Outra opção é o Lives (lives.sourceforge.net), que é bem completo, mas ainda usa linhas de comando, como o antigo DOS, para realizar algumas tarefas.


O editor multimídia tem versões para distribuições Linux populares, como a Mandriva e a Ubuntu, para Mac OS X e pode ser usado em máquinas com Windows e no videogame Xbox.


Nestes dois últimos casos, é preciso gravar um CD especial que carrega o programa como se ele fosse um sistema operacional independente.’


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Distribuição aberta incentiva artistas


‘A cultura do ‘nada se cria, tudo se copia’ casou tão bem com a internet, que a indústria cultural encontrou em seus próprios consumidores sérios concorrentes .


As ondas de processos para quem baixa músicas e filmes continuam até hoje, mas já existem opções para encontrar conteúdo legal e até personalizar as obras encontradas na internet.


Uma dessas opções é o conteúdo licenciado pela licença Creative Commons (www.creative commons.org.br), que permite ao artista usar várias camadas de proteção para os direitos autorais de sua obra.


Parece complicado, mas basta acessar o álbum de fotos virtual Flickr.com ou o buscador de blogs Technorati.com para ver como qualquer pessoa pode se beneficiar com a CC.


No caso das fotos, o autor pode liberar sem custo o seu conteúdo, permitindo que outras pessoas façam uso comercial das imagens ou mesmo editem e recriem novas obras com base no material original.


O fotógrafo, amador ou profissional, também pode optar pela cobrança do uso comercial da imagem ou apenas autorizar a distribuição sem alteração.


O mesmo vale para músicas, filmes, material didático e para qualquer tipo de conteúdo com propriedade intelectual.


A publicação do conteúdo sob Creative Commons nos sites hospedeiros pode ser feita por meio da própria página da licença.


Na semana passada, músicos e videomakers que adotaram a CC mostraram seus trabalhos no FISL. Mais de 40 obras com licença aberta foram exibidas.


O grupo Mombojó e o DJ Dolores, que publicam suas músicas de graça na internet, fizeram show gratuito para os participantes do fórum.’


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Licença livre esbarra no preconceito


‘À frente das atividades da Creative Commons no Brasil desde a adaptação da licença ao país em 2004, Ronaldo Lemos falou à Folha sobre as dificuldades e sobre os avanços do formato com ‘alguns direitos reservados’. Leia a entrevista completa em www.folha.com.br/circuitointegrado.


FOLHA – Onde a Creative Commons avançou ?


RONALDO LEMOS – Quando lançamos a licença aqui, éramos o terceiro país. Hoje, são mais de 40 . Atualmente existe uma comunidade articulada com influência no debate sobre a propriedade intelectual. Uma mudança importante chegou junto da web 2.0. Antes, o principal usuário da licença era o artista.


Isso mudou. Com sites como o Flickr, o CC transformou-se em ferramenta para resolver a questão da propriedade intelectual dos internautas comuns.


FOLHA – E como vocês aproveitarão esse casamento com a web 2.0?


LEMOS – No segundo semestre, vamos lançar uma ferramenta on-line para que o artista possa registrar comercialmente as suas obras. O plano é que isso se integre a licença do CC para atacar a burocracia que envolve o pagamento dos direitos aos diferentes autores de uma obra.


FOLHA – Por que artistas, como Gilberto Gil, apóiam a Creative Commons, mas não liberam todas as suas obras ?


LEMOS – A idéia original com o Gil era liberar todo o seu catálogo, mas a Warner internacional não autorizou o uso dos fonogramas originais. O Gil precisaria regravar e produzir tudo de novo.


FOLHA – Há preconceito com as licenças abertas?


LEMOS – Sempre olham para os países pobres com preconceito em relação à informalidade. Mas, com o Napster e o eMule, essa informalidade se globalizou. O problema é que quando você olha para o YouTube a primeira palavra que vem é inovação e a segunda é ilegalidade. No nosso caso, a primeira palavra que vem é ilegalidade.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 18 de abril de 2007


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Globo busca parceria


‘A Globo promete avançar seus propósitos de produzir novelas e/ou séries com parceiros internacionais, seja em língua inglesa ou espanhola. Diretor-geral da emissora, Octávio Florisbal cita também o potencial da emissora em Portugal, possível parceiro, que exibe as novelas da emissora pelo canal SIC.


A Globo chegou a produzir um título com parceiro internacional – Vale Tudo, de Gilberto Braga, teve versão em espanhol com o canal Telemundo, dos Estados Unidos, mas sua aceitação não foi muito bem-sucedida naquele nicho.


Outro plano de produção da Globo para médio prazo é a produção de telefilmes, ou filmes produzidos especialmente para a televisão. É um terreno promissor na TV americana e européia, mas no qual a emissora brasileira nunca se aventurou. É um gênero sem tradição nenhuma por essas bandas.


A produção de telefilmes começa com pretensões nacionais e depois poderá até avançar para outras fronteiras.


Nas contas de Florisbal, o mercado publicitário deverá crescer em torno de 7% este ano. E a Globo, no mínimo, acompanha essa escala em suas receitas.’


Etienne Jacintho


SescTV exibe produções da Arte France


‘A SescTV apresenta, a partir do dia 26, uma série de 47 documentários produzidos pelo canal franco-germânico Arte – sigla para France Association Relative à la Télévision Européenne. Os programas vão ao ar toda quinta-feira, às 22 horas, na faixa Visões d’Arte, e abordam temas como artes plásticas, gastronomia, música, literatura e meio ambiente em diferentes países. O documentário Versalhes: Jardins do Poder vai inaugurar a nova faixa. A SescTV está no canal 92 da Net (para SP e RJ), no canal 3 da Sky e no canal 211 da DirecTV.


entre-linhas


O desenho Pica-Pau rendeu à Record média de 11 pontos de audiência durante o mês de março, na faixa das 19h10 às 19h40.


A série Donas de Casa Desesperadas, parceria da Disney com a RedeTV! dirigida por Fábio Barreto, será registrada em HDTV e estará pronta para transmissão em TV digital.


A TV Cultura acaba de adquirir mais 18 títulos da Mostra Internacional de Cinema.


O biólogo Jeff Corwin está de volta ao Animal Planet a partir de hoje, às 20 horas.’


Luiz Carlos Merten


Atriz Nair Bello morre em São Paulo


‘Como Roberto Carlos, ela não usava marrom, de jeito nenhum. Nair Bello era supersticiosa, mas, acima de tudo, como gostava de se definir, era perua. Quando fez a Gema de Perigosas Peruas e, depois, a Cininha de A Viagem, duas novelas muito populares, ela emprestou vários pertences pessoais à produção, para criar as personagens. Nair adorava roupas coloridas, unhas pintadas de vermelho-sangue, batom (vermelhão), cílios postiços, brincos grandes.Tudo isso, e mais outros itens, compõem os dez mandamentos da perua, que ela afirmava seguir, religiosamente. Desde ontem, o mundo ficou um pouco menos colorido. Nair morreu, aos 75 anos.


No dia 11 de novembro, ela teve uma parada cardíaca no salão de cabeleireiro. Levada para o hospital, teve mais duas paradas cardíacas. Ficou cinco meses no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, recebendo dos fãs de todo o Brasil manifestações de carinho e mensagens de força. Chegou a sair da unidade de terapia intensiva (UTI), entrando em processo de reabilitação na Unidade de Cuidados Semi-Intensivos.


Para o público, Nair Bello foi, acima de tudo, comediante, exercitando seus dotes na televisão mais do que no teatro e no cinema (que fez pouquíssimo). Começou no rádio, na Record, há 57 anos. Essa primeira fase durou pouco, pois Nair se casou e afastou-se por três anos, já que teve, em seqüência, três filhos. Não dava, num primeiro momento, para conciliar a maternidade com o trabalho. Em 1956, voltou à ativa, mas em vez da rádio, foi para a TV Record, onde, em 1959, Blota Jr., percebendo seu potencial cômico, convidou-a para fazer um humorístico. Nair criou uma italiana, a Santinha, ao lado de Renato Corte Real, que fazia Epitáfio, e o programa Show Ideal foi um sucesso.


Desde então, nunca mais parou de fazer rir. Paulista do Cambuci, Nair Bello Sousa Francisco nasceu no dia 28 de abril de 1931, signo de Touro. Cresceu em meio a uma grande concentração de italianos, que são maioria no bairro. Ela própria, era neta de italianos. Terminou rotulada. Numa entrevista, disse certa vez – ‘Se tem italiana na trama, eles não pensam duas vezes. Chamam a Nair.’ Antes de virar referência nas novelas de Carlos Lombardi, autor que sempre a admirou, ela fez muitas séries e minisséries. Em 1978, fez João Brasileiro, de Geraldo Vietri, na Tupi; em 1980, Dona Santa, na Bandeirantes. Sua motorista de táxi fez história na TV. Seguiu-se Casa de Irene, ainda na Band. Nair Bello foi, então, fazer novela na Globo. A primeira, em 1980, foi de Geraldo Vietri, uma adaptação do romance Olhai os Lírios do Campo, do escritor gaúcho Erico Verissimo. Fez, na seqüência, Perigosas Peruas, de Carlos Lombardi; e O Mapa da Mina, de Cassiano Gabus Mendes.


A partir daí, não parou mais, intercalando novelas, e programas humorísticos. Foi a Gioconda de Pé na Jaca! e a Dona Zorra (Leona Lake) de Bang Bang. Atualmente, era contratada da Globo, de volta à Santinha do começo de sua carreira em Zorra Total. Cabe lembrar que foi Carlos Manga, em 1962, que a levou para o Rio, onde estreou no quadro O Riso É o Limite, no programa de J. Silvestre. Em 1975, perdeu um filho. A família e os amigos a incentivaram a trabalhar. Fez uma peça – Alegro Desbum, de Oduvaldo Viana Filho. Embora sua figura estivesse sempre associada a humor, Nair achava difícil fazer comédia na TV. No começo da carreira, era fácil, mas quando ela foi para a Globo e os programas, incluindo as novelas, passaram a ser gravados com antecedência, ela passou a achar que estava perdendo a espontaneidade e a autencidade. O bom, no tempo dos programas ao vivo, era que não se podia errar e, se errava, tinha de consertar rapidinho, disse numa entrevista.


Adorava dois dedos de prosa com a ‘comadre’ Hebe Camargo, do SBT. Tinham o projeto de uma peça juntas, que nunca fizeram. As americanas Lucille Ball e Shirley MacLaine a impulsionaram a virar artista e a se tornar comediante, mas ela também tinha suas preferências nacionais – Dercy Gonçalves era hors concours, a mãe do riso, mas Nair Bello dizia que Consuelo Leandro, Marília Pêra e Fernanda Montenegro a faziam rir como ninguém. Entre os homens, admirava Renato Corte Real, Ronald Golias e Chico Anísio. Com sua morte, é toda uma fase do humor que chega ao fim na TV. Um humor mais tradicional que ainda sobrevive no Zorra, mas que foi sendo substituído por outro estilo – o de Casseta & Planeta, por exemplo.


Assim como a peça nunca concretizada com Hebe, Nair Bello tinha o projeto de um filme, que também nunca saiu, contando sua história. O cinema foi sempre esporádico em sua carreira, mas em 1951, dois anos depois da estréia no rádio, ela fez um papel em Liana, a Pecadora, melodrama de Paulo Tibiriçá interpretado por Márcia Real, no qual não apenas Nair, mas também Hebe Camargo fazia um pequeno papel. Entre outros filmes, participou de Simão, o Caolho, de Alberto Cavalcanti, em 1952, e Fogo e Paixão, de Isay Weinfeld e Márcio Kogan, em 88. E não se pode esquecer de seu papel em Das Tripas Coração, de Ana Carolina, de 1982, filme do meio da delirante trilogia da autora sobre a condição da mulher na sociedade brasileira (e no mundo). Mesmo quando se assumia como perua, Nair disparava – ‘Gosto de rir alto, de dizer palavrão. Sou alegre e extrovertida. Dizer que sou perua por causa disso é um preconceito da sociedade, que quer as mulheres muito comportadas e isso eu não sou.’ A mulher que seguia os mandamentos da peruagem, que abusava dos anéis grandes mas evitava os colares, nunca se sentiu uma árvore-de-natal. ‘Acho as coisas que uso muito femininas’, dizia.’


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