Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Giancarlo Civita
assume a Abril


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 20 de março de 2007


EDITORA ABRIL
Marili Ribeiro


Giancarlo Civita é o novo presidente do Grupo Abril


‘Giancarlo Civita, um dos netos do fundador da Editora Abril, Victor Civita, assumiu a presidência-executiva do Grupo Abril. É a terceira geração da família, que hoje detém 70% do capital do negócio – os outros 30% são do grupo sul-africano Naspers -, a chegar ao comando da companhia. Seu pai, Roberto Civita, que deixa o posto assumido pelo filho, segue na presidência do Conselho de Administração e assume a recém-criada presidência da Editora Abril.


O objetivo da mudança, segundo nota distribuída pela empresa, é preparar o Grupo Abril para um crescimento futuro. ‘Gianca (apelido familiar) e eu concordamos que era hora de promover uma clara separação entre a Corporação e as Operações, algo que nunca tínhamos realmente feito antes e que agora reconhecemos ser essencial para um maior desenvolvimento do grupo’, diz Roberto Civita no comunicado. ‘Como resultado, Giancarlo concordou em se tornar CEO do grupo, enquanto eu irei concentrar toda a minha atenção na integração, no desenvolvimento e na administração da Operação Revistas, tanto no editorial como no comercial.’


Nascido em Milão e educado nos Estados Unidos, Roberto criou a revista semanal de informações Veja em 1968. A revista ainda hoje é o carro-chefe editorial da empresa, com mais de 1 milhão de exemplares a cada edição. Assumiu a presidência da Abril em 1990. Giancarlo, que ocupava a vice-presidência executiva desde 2006, por sua vez, ingressou na editora em 1982, aos 18 anos, como trainee na gráfica. Passou por várias áreas antes de ocupar posições de comando. Formado pela ESPM, tem pós-graduação pela Harvard Business School.


Fundada em 1950, a Abril faturou R$ 1,8 bilhão de janeiro a setembro de 2006. O balanço financeiro completo do ano ainda não foi fechado. Hoje, a empresa emprega 6.500 pessoas que trabalham na Editora Abril (revistas), Editoras Ática e Scipione (livros escolares), TVA (TV paga, internet banda larga e voz sobre IP – Voip) e MTV (TV segmentada).


O grupo endividou-se nos anos 90 ao estender suas atividades para o mercado de TV por assinatura. Com a desvalorização cambial, em 1999, passou a enfrentar dificuldades financeiras que resultaram em um processo de reestruturação. A Abril foi a primeira empresa nacional de comunicação a ter sócio estrangeiro. Até 2002, isso era proibido no País.


Roberto vai acompanhar a rotina da companhia, mas deixou claro no comunicado que Giancarlo responderá pelo andamento de todas as operações do grupo. No último ano, Giancarlo esteve envolvido no projeto de aproximação com a operadora de telecomunicações Telefônica, que virou parceria nas operações de TV por assinatura e de banda larga.’


TV CULTURA
Jotabê Medeiros


Fervilha sucessão da TV Cultura


‘O novo presidente da TV Cultura terá de ser alguém ‘bem jovem, que deverá levar a emissora para um perfil suprapartidário’. Segundo influentes conselheiros da Fundação Padre Anchieta (gestora da TV Cultura), essas são as características que o governador José Serra teria mencionado na sua busca para suceder Marcos Mendonça, atual presidente da emissora. ‘O jogo está feito’, disse um diretor da emissora, que quis permanecer incógnito. ‘O Mendonça não fica e já foi informado disso.’ Na semana passada, em entrevista ao Estado, Mendonça disse que não tinha conhecimento de movimentação de bastidores para tirá-lo da presidência, que ocupa há dois anos e meio.


Na bolsa de apostas, vários nomes já surgiram nos jornais, como os do ex-diretor da Fapesp, José Fernando Perez, e do atual presidente da Radiobrás, Eugenio Bucci. Fontes da emissora mencionam também o economista e jornalista Gustavo Iochpe, articulista da revista Veja. De todos, o nome mais forte é o de Bucci, que pediu demissão da Radiobrás (ainda não aceita) e teria aquele perfil suprapartidário que o governador perseguiria.


‘Eu nunca fui sondado para isso. Ouvi, sim, e li na imprensa, comentários nesse sentido, que aliás me surpreenderam. O fato é que jamais recebi sondagens ou convites’, disse Eugenio Bucci, que foi convidado a integrar o Conselho da Fundação, e diz que isso foi aceito ‘com muita honra e muito entusiasmo.’


Bucci também é vice-presidente da Abepec (Associação das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais). Segundo ele, a missão de uma emissora pública no País é oferecer à sociedade informação de interesse público e promover o aprimoramento educativo e cultural do telespectador. Ele vê as emissoras públicas no País em momento de rara sintonia. ‘Nosso desafio agora é nos separarmos do entretenimento barato, fácil, de modo que o telespectador perceba mais claramente e valorize na prática a existência da TV pública na nossa democracia. Parece simples, quando dito desse modo, mas é um desafio imenso.’


O Sindicato dos Radialistas questionou, na sexta-feira, o teor da entrevista de Mendonça ao Estado. O sindicato lamentou que o jornal não tenha abordado ‘pendência trabalhista que se arrasta há quase 4 anos, submetendo os salários de todos os funcionários a um achatamento terrível e ilegal’. De acordo com o sindicato, a emissora até hoje não pagou os reajustes salariais determinados pelas Convenções Coletivas dos Radialistas dos anos de 2003 e 2004 (assim como a da categoria dos jornalistas, de 2003), ‘apesar das sucessivas decisões judiciais a favor dos trabalhadores, além de milhares de horas extras realizadas e outros direitos trabalhistas que estão sendo cobrados na Justiça’.


O sindicato também criticou as contratações de funcionários como pessoas jurídicas, que considera ilegais e inevitavelmente, em sua avaliação, vão provocar reclamações trabalhistas futuras. Mendonça abordou o tema e defende o que considera méritos de sua gestão, como ‘não arrochar os salários’. Em suas contas, houve no período cerca de cem demissões na emissora, e a maioria era de músicos ligados à Orquestra da Rádio Cultura, cuja ação ‘não correspondia à atividade-fim da TV; muito pelo contrário, apresentava-se no Sesc’.


‘Quando entrei aqui, a TV Cultura estava numa questão de ordem legal, uma questão de responsabilidade fiscal: não havia dado o dissídio de 2003. É um questionamento que ainda existe hoje, está em juízo, e que o sindicato reclama permanentemente, mas é algo que não tenho poder de agir, está no Judiciário e é uma posição de governo, da procuradoria do Estado.’


O presidente da fundação argumentou que, em 2004, o dissídio foi concedido com base no índice autorizado pelo governo, que era o da Fipe. ‘Nós demos a antecipação salarial desse índice. Não atingiu o total do dissídio porque tivemos a limitação da Fipe.’


Mendonça confirmou que pretende fazer mudanças profundas no setor de jornalismo. Argumenta que as alterações são rotineiras. ‘Num determinado momento, a TV Cultura fez uma opção de colocar um jornal às 7 e outro ao meio-dia. Como faz sempre, todo ano. E depois examina, reavalia. Vamos inclusive reforçar o Jornal das 10, aumentando os comentaristas.’


Fontes da TV Cultura, no entanto, dizem que as mudanças são uma forma de Mendonça tentar garantir sobrevida. O governador Serra teria ficado terrivelmente contrariado ao ver seu nome associado à Máfia dos Sanguessugas pelos telejornais locais, à época da campanha, e reclamado muito.


Avaliação do setor de Jornalismo, à qual a reportagem teve acesso exclusivo, prevê que as mudanças que o presidente fará no setor pode acarretar a demissão de 60 dos 140 profissionais do departamento. O que tem gerado descontentamento e um princípio de sublevação no quadro de jornalistas da instituição.’


SEGUNDO MANDATO
Arnaldo Jabor


O olhar crítico sobre o Brasil


‘Domingo passado, participei de um seminário organizado pelo Jornal da Globo, sobre nossa vida de jornalistas, este ‘quarto poder’ tão importante num país onde a crise cresce como um maremoto. No domingo, tentei abrir a alma e dizer o que penso da função crítica dos jornais e mídia eletrônica. Falei para jovens jornalistas e perguntei a eles:


Sabemos que empresas querem lucro, profissionais querem viver, comer, aparecer, sim, mas, afinal, o que nos move? Que grão de esperança ou romantismo treme em nossos textos? Amor à pátria, esperança de harmonia, combate ao crime e à mentira? O quê?


A imprensa democrática cumpre um papel imenso, nesse vazio reflexivo em que nos meteram há quatro séculos. Temos uma população mergulhada na ignorância e no acriticismo. A grande maioria é fácil de enganar; vejam as multidões de vítimas de evangélicos corruptos e os milhões de votos do neocabresto moderno: os ‘bolsistas da família’.


Nunca me esqueci da formulação de Brecht, o ‘efeito de estranhamento’, ou seja, ‘ver por trás do familiar o que existe de estranho, desumano’. Que fatos sinistros há embaixo dos fatos que nos parecem normais? Que doença se disfarça de saúde? Isso sempre me moveu, desde o Cinema Novo até hoje. Disse a eles, portanto, que a imprensa deve ser ‘crítica’ em primeiro lugar. E ‘crítica’ não quer dizer ‘ataque’ ou ‘denúncia’ apenas, mas, avaliação, busca de entendimento, que pode ir da mais amarela bile de ódio até propostas de positividade. Disse também a eles: tentemos a difícil tarefa de pensar sem ideologia. Isso. Entender os fatos sem um preconceito. O pensamento ideológico distorce a realidade para fazê-la caber num ‘a priori’, numa certeza anterior ao fato. Dificílimo isso, pois somos todos seres ‘ideológicos’. Se alguma forma de ideologia quer ter (para além de esquerda ou direita, essa velha dualidade) é procurar a presença do que é humanizante ou civilizatório, o que pode aumentar a qualidade da vida pessoal e do interesse público. Como dizia Marco Aurélio (não o Garcia nem o de Mello, claro, mas o imperador): ‘O que é bom para a abelha tem de ser bom para a colméia.’ Disse a eles que a denúncia pura no Brasil é muito fácil, porque há um excesso inacreditável de absurdos no dia-a-dia. Vivemos em um momento histórico em que tudo parece desabar, o que pode nos levar ao que os psiquiatras chamam de ‘delírio de ruína’. Disse-lhes do meu medo de que a denúncia mecânica, o trágico espetacular, o horror como rotina pode ser até mais lucrativo para quem denuncia do que para quem o sofre.


Acho que o catastrofismo beneficia o atraso e os reacionários, aqueles que vivem do erro nacional, dos buracos das instituições, da fraqueza de nossa formação. Falei que somos todos parte do ‘grande erro’ e que devemos nos incluir no que criticamos. Há certos articulistas que se salvam do abismo, que falam como se não fizessem parte do País.


Vivemos um momento perigosíssimo, com as velhas doenças brasileiras se agravando em ritmo veloz, diante da impotência dos poderes públicos. Os fatos estão cada vez mais além das interpretações, os crimes ocorrem numa velocidade de jatos e as formas de combatê-los se arrastam. Os criminosos da violência ou da corrupção já perceberam essa lentidão impotente e estão curtindo a anomia progressiva com o descaro de se saberem impunes. Esta espantosa crise institucional pode ameaçar a democracia, tão mal-entendida no País, como falou Sérgio Buarque. Há o perigo de contaminação pela estupidez populista dos países liderados pelo fascista Chávez, já que nada se resolve. Também falei que ficar na dualidade antiga e burra de esquerda x direita não esgota a análise dos fatos. O que nos paralisa não é a malignidade de grupos, mas velhos vícios endógenos, velhos vícios ibéricos que nos incluem e que nos impedem de progredir.


Lembrei-lhes que nossas doenças são a corrupção endêmica, o burocratismo paralisante, o clientelismo cordial, o personalismo ridículo, o salvacionismo messiânico, o arcaísmo das leis, a ausência de noção de ‘república’. O jornalismo tem de ser uma espécie de psicanálise de nossos vícios e não a mera procura de culpados.


Também disse que, no seio do romantismo revolucionário dos anos 60, havia uma ‘finalidade’ a se atingir, uma utopia que substituía o presente e o ‘possível’ pelo imaginário. Esse pensamento mágico destrói a administração da vida real em nome de um futuro que não chega nunca. Hoje, temos de aceitar a impossibilidade de uma harmonia final. Nunca teremos um país perfeito, resolvido; nunca chegaremos ‘lá’.


Um dos ‘bons’ (sic) legados da ditadura é que ela mostrou que o Brasil era muito mais complexo do que se pensava. O fracasso da esquerda em 64 e depois no suicídio da guerra urbana de 69 em diante mostraram o absurdo do voluntarismo burro da velha esquerda. Houve um real espasmo de democracia nos anos seguintes a 85, mesmo com as tragédias que começaram com a morte de Tancredo até a hiperinflação dos anos 80 até 94. Agora, estamos em uma fase em que o perigo é o eterno pêndulo entre liberalismo e Estado centralizador. Temos uma atávica fixação no Estado salvador.


A complexidade lenta da democracia está a nos trazer saudades do simplismo velho de guerra. Na primeira fase da era-Lula, o petismo ‘corrupto-bolchevista’ tentou tomar o Estado, mas, espantosamente, fomos salvos pelo Jefferson, com sua legitimidade de corrupto confesso.


Agora, corremos o perigo do deslumbramento messiânico do Lula, achando que é um santo milagreiro.


O perigo atual é o regressismo à burrice de quatro séculos. Aos poucos, o rabo do lagarto do atraso se recompõe. Com um leve sabor de sacrilégio, disse-lhes que só um ‘choque de capitalismo’ poderá destruir o estamento patrimonialista que nos anestesia. Não adianta anunciar catástrofes; é preciso ensinar a população a se defender do Estado vampírico, do ‘Leviatã anêmico’, como bem definiu Eduardo Gianetti da Fonseca. O resto – disse-lhes – é papo morto.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Garotinho usa blog para atacar Cabral


‘Sem mandato, o ex-governador do Rio e presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, inaugurou um blog no domingo para divulgar suas idéias e atacar adversários. Em menos de 48 horas, ele disparou críticas contra o governador fluminense, Sérgio Cabral (PMDB); o presidente da CBF, Ricardo Teixeira; as Organizações Globo; o sistema financeiro e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT). Acesse o blog.’


LIBERDADE DE IMPRENSA
O Estado de S. Paulo


Liberdade de imprensa teve notável piora em 6 meses


‘Efe, Cartagena – A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) afirmou ontem que, desde outubro, houve uma ‘notável deterioração’ nas Américas em termos de liberdade de imprensa, sendo o assassinato de oito jornalistas – sete no México e um no Haiti – os casos mais graves. Há ainda há dois jornalistas mexicanos desaparecidos e cerca de 20 denúncias de ameaças de morte no Brasil, na Colômbia, no Equador, na Guatemala, em Honduras, no Paraguai, no Peru, na República Dominicana e na Venezuela.


Os números estão no documento elaborado pela Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação a partir de relatórios nacionais, apresentado como conclusão da reunião semestral da SIP que, começou na sexta-feira e foi encerrado ontem. O documento foi aprovado após um amplo debate durante o qual foram feitas correções e modificações, acrescentadas à proposta original.


A SIP destaca o fato de que os jornalistas assassinados foram vítimas de guerras de facções e do narcotráfico, e não de conflitos políticos, como era habitual. No entanto, as ameaças mais típicas para a liberdade de expressão continuam partindo dos governos e neste aspecto ‘os casos mais destacados foram os de Cuba e Venezuela’.


O caso envolvendo o canal Radio Caracas Televisión (RCTV), cuja licença o governo venezuelano ameaçou não renovar após 27 de maio, consta no documento da SIP, assim como a multa de 1,5 bilhão de bolívares (cerca de US$ 700 mil) imposta à empresa por um tribunal administrativo. A SIP atribui os problemas da RCTV à sua ‘linha editorial independente’, embora cite nas conclusões do encontro que o governo de Hugo Chávez manifestou que se baseia nas queixas recebidas pela forma como o canal cobre as notícias.


Em Cuba, se destaca que a ausência de Fidel Castro no poder e a subida temporária de seu irmão Raúl ao comando recrudesceram ‘a repressão contra jornalistas independentes e correspondentes estrangeiros’. Vinte e oito jornalistas estão presos na ilha, foram denunciados 47 atos de perseguição e três correspondentes estrangeiros foram expulsos.


No Brasil e na Colômbia houve ordens de censura prévia e nos Estados Unidos a garantia de sigilo das fontes continua preocupando.’


TELECOMUNICAÇÕES
Gerusa Marques


Anatel veta compra de TV a cabo pela Telemar


‘A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vetou ontem a compra da operadora mineira de televisão a cabo Way TV pela Telemar. A decisão seguiu um caminho inverso ao do processo em que a Telefônica obteve uma licença nacional para prestar serviço de TV por assinatura via satélite (DTH). A diferença de tecnologias entre o cabo e o satélite e a assimetria de regras para cada um desses setores foi a principal razão alegada pela agência para tomar decisões tão distintas.


O relator dos dois processos, conselheiro Pedro Jaime Ziller, disse ontem, ao anunciar o resultado da votação do conselho, que o processo de análise da compra da Way TV pela Telemar foi ‘complexo’ e exigiu uma apreciação ‘em detalhes’. A agência levou sete meses para dar uma resposta ao negócio, que foi fechado preliminarmente em julho de 2006, por R$ 132 milhões. Com o veto, a compra não poderá ser concretizada.


A Telemar informou ontem que vai recorrer da decisão por entender que a operação é legal e que o veto prejudica a competição. A empresa tem prazo de 10 dias, a partir do momento em que for notificada, para apresentar o recurso. A concessionária se diz ‘afetada pelo veto da Anatel, pois deixaria de competir em igualdade de condições, nesta fase, com as empresas que já têm autorização no Brasil para oferecer serviços integrados de voz, dados e vídeo, a exemplo do que ocorre em boa parte do mundo’.


O pedido de anuência para a compra foi feito em agosto. Com a demora da Anatel, a Telemar recorreu à Justiça e há duas semanas conseguiu uma liminar do Tribunal Regional Federal (TRF) para que a agência desse uma resposta dentro de 10 dias, prazo que venceu ontem. Ziller disse que o processo da Way TV considerou regras diferentes do da Telefônica. ‘Não existe nenhum empecilho legal para o DTH. Mas, no caso da TV a cabo, está explícito no contrato’, disse Ziller.


Ele citou a cláusula 14.1 do contrato de concessão da telefonia fixa, cujo novo texto foi assinado pelas concessionárias de telefonia local, inclusive a Telemar, em dezembro de 2005. Essa cláusula diz que as concessionárias não podem adquirir concessão ou autorização de serviço de TV a cabo na mesma área em que já operam serviço de telefonia fixa. A Telemar é concessionária de telefonia fixa local em 16 Estados, incluindo Minas Gerais, onde opera a Way TV.


Ele disse que a Telemar já tinha conhecimento do contrato de concessão. ‘O contrato é legal, foi a consulta pública, foi aceito pelas concessionárias em 2003 e foi assinado por elas em dezembro de 2005.’ Além do cabo, os serviços de TV por assinatura podem ser prestados também por DTH e por microondas terrestres (MMDS). A legislação só coloca restrições para o cabo. ‘A Anatel mostrou que permanece na defesa intransigente do marco regulatório’, disse Alexandre Annenberg, diretor-executivo da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA).


Tramita na Anatel outro processo de entrada das teles do mercado de TV por assinatura. A Telefônica aguarda a aprovação da agência para concretizar a compra da TVA, que tem operações de TV a cabo e MMDS.’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


SBT não se acerta


‘Os esforços do SBT para animar o domingo com Silvio Santos continuam sem resultados. Mais uma vez a Record bateu o SBT em audiência anteontem em quase todos os programas. Só perdeu durante a primeira parte da reprise do reality show Troca de Família, que deu 5 pontos de média ante 6 pontos do 1º Campeonato Brasileiro de Dança do SBT. São dados de São Paulo.


Já a segunda parte de Troca de Família ganhou do Rei Majestade por 8 pontos a 6. Já no horário do programa Tudo É Possível, de Eliana, o SBT não consegue vencer. Contra o Topa ou não Topa, Eliana teve mais que o dobro de audiência de seu mestre: 13 pontos de média ante 7 de Silvio Santos. O Tudo É Possível marcou 12 pontos ante 9 do Tentação. Nas semanas passadas, a loura já tinha vencido o SBT com seu programa de variedades.


Consolidada na vice-liderança em São Paulo, a Record quer chegar no padrão Globo em audiência e faturamento. O vice-presidente Comercial da Record, Walter Zagari, avisa que a Globo teve faturamento de R$ 5 bilhões em 2006 e, na Record, esse número foi de R$ 1 bilhão. Este ano, a Record pretende fechar o calendário com R$ 1,35 bilhão.’


Cristina Padiglione


Band garante que supera RedeTV!


‘A Bandeirantes nos envia relatório do Ibope para contestar dados publicados neste espaço que atribuiriam à RedeTV! ligeira vantagem de audiência sobre a rede do Morumbi. Segundo a Band, o placar de março, das 7 h às 24 h, em São Paulo, soma 4,5% para a Band e 4% para a RedeTV!. Os números são do share – porcentual de aparelhos sintonizados na emissora dentro do universo de ligados. Nos cálculos da RedeTV!, a vantagem lhe caberia em 4,8 a 4,4%. São migalhas que têm seu peso na nova distribuição do ranking de TV aberta.


entre-linhas


A elite não admite assistir ao Big Brother, mas, após esta sétima edição bater recorde de público no canal pago Multishow, um novo número foi superado. O pay-per-view do BBB7 teve, até fevereiro, 140 mil assinaturas. O recorde anterior era do BBB5 (115 mil assinantes).


Hoje tem Alaíde Costa no programa de Rolando Boldrin. Às 22h40, na Cultura.


O SBT continua a busca em seu site por pessoas que tenham facilidade em decorar apostilas e conheçam assuntos como história e atualidades para mais um game show.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 20 de março de 2007


CONY vs. ABIN
Carlos Heitor Cony


Desculpando a Abin


‘Algum tempo atrás, em comentário feito na rádio CBN a respeito da Abin, citei como exemplo das falhas daquele serviço de informações oficiais do governo a certidão solicitada por uma aluna de curso de mestrado que fazia uma tese sobre minha obra de escritor.


Entre as sandices arroladas (uma conspiração para assassinar o marechal Castelo Branco no cemitério São João Batista, em novembro de 1966), o documento garantia que eu era proprietário de um hotel no Rio Grande do Sul.


Recebi agora um ofício da própria Abin fazendo referência ao meu comentário radiofônico, praticamente um pedido de desculpa, dizendo que a informação estava errada, que se tratava na certa de algum homônimo -argumento que não engoli de todo.


Acho difícil que haja um homônimo por aí que seja dono de hotel. Se se tratasse de um João de Souza ou de um José da Silva (nada tenho contra esses nomes, são exemplos de homônimos possíveis), eu poderia aceitar a explicação.


De qualquer forma, achei bacana o ofício que dava razão ao meu comentário. Também achei curioso que a Abin estivesse na escuta do programa que mantenho na CBN com o Heródoto Barbeiro e o Arthur Xexéo. E que tenha tomado providências e acertado o meu endereço, não enviando o ofício para um homônimo acaso existente.


Eu vinha adiando uma crônica sobre esse assunto, afinal, a aluna que fazia o mestrado, de posse do ofício da Abin, perguntou-me se eu pretendia assassinar o presidente. Não cheguei a tanto.


Em companhia de intelectuais e de amigos, demos uma vaia em Sua Excelência na porta do hotel Glória -ficamos presos duas semanas num quartel da PM. Foi a única intervenção física que fiz contra o regime militar. Minhas outras prisões foram por delito de opinião.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Caso sensacional’


‘Em longas reportagens no ‘Los Angeles Times’ de domingo e ‘New York Times’ de ontem, o casal Estevam e Sônia Hernandes, da Renascer, surgiu primeiro entre expressões como ‘organização criminosa’. Patrick McDonnell, do ‘LAT’, assistiu a culto em São Paulo e carregou nas ironias ao rock ‘neopentecostal’ e no contraste com as denúncias de ‘fraude maciça’, no ‘caso sensacional’. Já Larry Rohter, do ‘NYT’, que foi relatado pela BBC Brasil e virou o ‘+ lido’ da Folha Online, noticiou as acusações mas sublinhou o outro lado da filha do casal, que denunciou ‘uma nova Inquisição’. Segundo o correspondente no Rio, ‘a cobertura dos Hernandes e das acusações tem sido uniformemente negativa na mídia brasileira’, sem mencionar a Globo, e ‘um jornal regularmente põe ‘bispo’ entre aspas para se referir ao casal e líderes da igreja’.


PARA QUEM QUISER


Jay Rosen, blogueiro, acadêmico e uma das principais referências da web, está no ar com experimento novo de jornalismo aberto. Associado à ‘Wired’ de Chris Anderson e com eco em ‘NYT’ e demais, ele criou o site Assignment Zero, Pauta Zero, que ‘oferece a quem quiser a oportunidade de fazer o trabalho de um repórter ou editor’. O projeto mistura profissionais e amadores, por três meses, e explorar on-line a pauta ‘como a web torna possível à multidão ser a fonte de boas idéias’. A inspiração, diz o ‘NYT’, é a Web 2.0 de Wikipédia etc.


MUITO A FAZER


Surgiu ontem na primeira página do ‘Valor Econômico’, como se diz, ‘acima da dobra’, uma longa reportagem sobre a Web 2.0 e a ‘busca do lucro’. Cita Camiseteria.com e outros sites e avalia, no final, que ‘o movimento dos empresários mostra que em termos de negócios ainda há muito a fazer com a versão 2.0’ da web.


AINDA ATRAI


Ainda temerosos e lembrando a todo momento o ‘estouro da bolha’ na virada do século, o jornal e seus entrevistados do ‘capital de risco’ saúdam como ‘a Web 2.0 trouxe a atualização tecnológica que viabilizou os investimentos em banda larga’. Mas, não adianta, ‘infra-estrutura ainda é o que mais atrai’.


‘DIGNO’


Ainda ecoa a conversa de Hugo Chávez com Barbara Walters, na ABC. Blogs não aceitam os elogios da jornalista e comparam a Fidel e ‘NYT’


POBRES OU POBRES


O ‘Guardian’ de ontem noticiou que o Reino Unido, ‘entre outros países europeus’ não-relacionados, vai fazer um último esforço para bloquear o projeto que EUA e Brasil bancam através do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento, para ‘perdoar dívidas’ de Bolívia, Haiti e Nicarágua, entre outros. Um dos membros do gabinete britânico declara que o ‘alívio’ seria realizado às custas de outros programas de diminuição da pobreza.


DOIS GOVERNADORES


Enquanto os governadores Sergio Cabral e Aécio Neves se preparam para aprender a combater a violência com a Colômbia, Richard Lapper, do ‘Financial Times’, avisa que ‘o escândalo envolvendo apoiadores do presidente Álvaro Uribe tende a crescer’, avançando para regiões como Antioquia, ‘onde ele apoiou firmemente os grupos de vigilância Convivir, quando era governador’. O Human Rights Watch relacionou o Convivir a assassinatos.


AÇAÍ LÁ


O ‘Wall Street Journal’ tratou dos ‘perigos de ser o primeiro’ empresário, no caso, a lançar o ‘brasileiro açaí’’


TELECOMUNICAÇÕES
Humberto Medina


Anatel nega TV por assinatura à Telemar


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) decidiu que a Telemar não poderá comprar a operadora de TV a cabo Way Brasil. Segundo a agência, o contrato de concessão das prestadoras de telefonia fixa local impede que elas controlem empresas de TV a cabo na mesma área de concessão.


Em julho do ano passado, a Telemar comprou a Way Brasil por R$ 132 milhões. A empresa oferece TV por assinatura a 60 mil clientes em Poços de Caldas (MG), Barbacena (MG), Uberlândia (MG) e Belo Horizonte (MG). Minas Gerais faz parte da área de concessão da operadora de telefonia fixa local Telemar, ao lado de Rio, Espírito Santo, Amazonas, Pará, Roraima, Amapá e a região Nordeste.


De acordo com a agência reguladora, a conclusão do negócio estava condicionada à anuência prévia, e o dinheiro, depositado em uma conta especialmente criada para isso. Como a anuência foi negada, na prática é como se a operação não tivesse acontecido.


Há 11 dias, a Anatel deu autorização para que a Telefônica operasse TV por assinatura via satélite (tecnologia DTH). A Embratel também está no mercado de TV por assinatura, associada à Net (Globo).


Ontem, a agência explicou por que a Telemar não teve direito de entrar no mercado via Way Brasil. Segundo o relator do caso, Pedro Jaime Ziller, a cláusula 14.1 do contrato de concessão impede que a Telemar opere TV por cabo. Se fosse via satélite (DTH) ou microondas (MMDS), não haveria restrição.


No caso da Telefônica, a tecnologia era o DTH, por isso houve liberação. A Embratel, por sua vez, não é concessionária de telefonia fixa local e, por isso, não há a mesma restrição que existe para a Telemar.


Segundo a agência, essa restrição existe para as concessionárias locais porque elas já detêm os fios de acesso às residências e, se operarem TV por assinatura via cabo, tornam muito difícil a existência de competição nesse mercado.


No final de outubro, o ministro Hélio Costa (Comunicações) chegou a dizer que a área técnica da Anatel não havia encontrado obstáculos à compra da Way Brasil pela Telemar e que a operação seria aprovada.


De fato, a Superintendência de Comunicação de Massa da agência não vetou a operação. Nas agências reguladoras, as superintendências fazem relatórios técnicos, que são analisados pelo conselho diretor, e quem decide é o conselho. ‘A abordagem que eu fiz não foi feita pelos demais [área técnica da agência]’, disse Ziller.


A Superintendência de Comunicação de Massa analisou a questão do ponto de vista da Lei do Cabo (8.977/95) e avaliou que não haveria problema.


Associação de TVs


O presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), Alexandre Annenberg, comemorou a decisão. ‘É um sinal importante para os mercados interno e externo, com potenciais investidores, de que é possível confiar no marco regulatório brasileiro’, disse.


A entidade vinha se pronunciando contra a operação desde que ela foi anunciada.


Segundo a ABTA, a compra da operadora de TV a cabo iria contra a Lei do Cabo, a Lei Geral de Telecomunicações e o contrato de concessão das operadoras de telefonia fixa local. Colaborou a Reportagem Local’


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Tele afirma que vai recorrer da decisão


‘A Telemar informou que recorrerá da decisão da Anatel. Em nota, a empresa considera que a operação é legal e que, sem ela, ‘a competição do setor ficaria prejudicada, assim como os consumidores, que deixariam de ter benefícios com a expansão da cobertura de TV a cabo e de banda larga na área de atuação da Way TV [Way Brasil]’.


‘Além de ter entendimento da total legalidade da aquisição da Way TV [Way Brasil], a Oi [Telemar] avalia que a competição do setor ficaria prejudicada, assim como os consumidores, que deixariam de ter benefícios com a expansão da cobertura de TV a cabo e de banda larga na área de atuação da Way TV [Way Brasil].’


O argumento defendido pela Telemar é que a Lei do Cabo permite que concessionárias de telefonia fixa operem TV a cabo na sua área de concessão, desde que não haja interesse de outros competidores. A empresa informou que foi a ‘única companhia a fazer a oferta [R$ 132 milhões] de compra pela operadora de TV a cabo e banda larga em leilão’.


A Telemar disse que sua rede alcança 1,3 milhão de domicílios em Belo Horizonte, dos quais ‘800 mil não têm cobertura de TV a cabo e poderiam ser beneficiados’ após a compra da Way Brasil.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Roberto Justus negocia ‘talk show’ na Record


‘O publicitário Roberto Justus negocia com a Record a apresentação de um programa de entrevistas. A atração poderá entrar no ar já no próximo mês de agosto. Será semanal e exibida por volta de meia-noite.


O formato do programa já está em desenvolvimento na Record, apesar de o contrato ainda não ter sido assinado.


A iniciativa de apresentar um ‘talk show’ partiu do próprio Justus, que se revelou apresentador de TV há pouco mais de dois anos, no final de 2004, com a primeira edição do ‘reality show’ ‘O Aprendiz’.


Atualmente, Justus grava a quarta edição do programa, cujo vencedor será seu sócio em um empreendimento. Os 16 participantes de ‘O Aprendiz 4 – O Sócio’ estão desde domingo confinados no hotel Hilton da zona sul de São Paulo. O vencedor receberá R$ 500 mil para investir na sociedade com Justus e outros R$ 500 mil de prêmio, para usar como quiser.


O programa só estreará na primeira semana de maio e deverá ser o último da série ‘O Aprendiz’ com Roberto Justus. Nesta edição, os dois primeiros episódios mostrarão o processo de seleção dos 16 participantes. De 26 mil inscritos, foram convocados 90. Cada um desses 90 pretendentes teve de apresentar ao próprio Justus uma idéia de negócio.


Justus também fará, hoje, sua estréia em telenovelas. Ele gravou na sexta participação em ‘Bicho do Mato’.


MUY HERMANO 1O argentino Pablo Gerardo Espósito entra hoje no ‘Big Brother Brasil’. Na quinta-feira, o programa da Globo deverá fazer um link com o ‘Gran Hermano’, o ‘Big Brother’ da Argentina, de onde Pablo saiu.


MUY HERMANO 2A participação de um argentino no ‘BBB 7’ teve lances tensos. Na sexta, os argentinos desfizeram o acordo com a Globo. A emissora brasileira teve então que negociar com uma apresentadora de TV, ex-’Gran Hermano’. Já estava tudo certo quando a Telefe voltou atrás e resolveu fazer uma votação, na sexta mesmo, que elegeu Pablo.


MUY HERMANO 3 O programa argentino, porém, não irá mais receber um brasileiro do ‘BBB’. Motivo: temor de rejeição do público.


TERREMOTO 1Silvio Santos anunciou em fevereiro que seu retorno às tardes de domingo no SBT faria a ‘concorrência tremer’. Três semanas depois, os números do Ibope mostram o contrário.


TERREMOTO 2Os programas de Silvio Santos não só perderam para a Record nos três domingos como fizeram o de sua ex-pupila Eliana, o ‘Tudo É Possível’, crescer no Ibope. Anteontem, o placar foi de 10 a 7 para a Record.


SEM PARCERIAA TV Gazeta rejeitou a proposta de uma parceria com a JB TV, de Nelson Tanure. ‘Não há interesse em fechar parceria. Estamos trabalhando para criar uma TV paulista alternativa’, diz Sérgio Felipe dos Santos, superintendente-geral da Fundação Cásper Líbero.’


HQ
Eduardo Simões


Gibi para maiores


‘Desde que ‘Maus’, de Art Spiegelman, recebeu o importante Prêmio Pulitzer em 1992, as ‘graphic novels’, histórias em quadrinhos para jovens e adultos, com estatuto de romances, não experimentam tanto prestígio e boas receitas como nos últimos anos.


No fim de fevereiro, durante a Comic Con de Nova York, uma das mais importantes feiras internacionais da indústria dos quadrinhos, foi anunciado um aumento de 12% nas vendas de ‘graphic novels’ em 2006, nos Estados Unidos. Um faturamento de US$ 330 milhões (cerca de R$ 700 milhões) em vendas somente daquele formato no país.


E, de modo semelhante a ‘Maus’, ‘American Born Chinese’, de Gene Luen Yang, entrou para a história como o primeiro livro de quadrinhos a concorrer, no ano passado, ainda que na categoria de literatura juvenil, ao National Book Award, o mais prestigioso prêmio literário americano, já concedido a medalhões como Philip Roth, Susan Sontag e William Faulkner. Em breve, o título ganhará traduções em francês, espanhol, chinês e português, no Brasil.


‘O livro foi feito para um público mais jovem, mas, como ele toca, entre outras coisas, na questão da exclusão do imigrante, acabou tendo um apelo maior para leitores adultos e se tornou um grande best-seller nos Estados Unidos’, conta o editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, que publicará a ‘graphic novel’ no primeiro semestre de 2008, no país.


Citando dois títulos fortes de ‘graphic novels’ do seu catálogo, Schwarcz aponta um maior interesse do público e das editoras pelo nicho ilustrado.


‘Maus’ vende sempre muito, ‘Persépolis’ vem pegando cada vez mais, com vendas acima da média. É um momento em que há menos experimentalismo nas narrativas e a linguagem gráfica vem se firmando como um espaço para novas experiências’, completa Schwarcz, que também tentou, sem sucesso, trazer para o país ‘Jimmy Corrigan: The Smartest Kid on Earth’, best-seller citado pela revista ‘New Yorker’ como a ‘primeira obra-prima do formato’. O motivo: o autor Chris Ware não aceitou dividir o alentado título em volumes, o que o tornaria mais viável comercialmente.


Apostas em 2007


O sucesso das ‘graphic novels’, afirmam as principais editoras do formato no Brasil, não se limita aos Estados Unidos, e no país o gênero também vem crescendo a cada ano, em número de títulos e tiragens mais ambiciosas. A Conrad, uma das editoras especializadas no país, tem várias apostas para 2007, entre elas o elogiadíssimo ‘Epiléptico’ (‘L’Ascension du Haut Mal’, no título original), uma autobiografia em quadrinhos do francês David B. (ou Pierre-François Beauchard), e ‘Kickback’, o novo quadrinho de David Lloyd, criador de ‘V de Vingança’ com Alan Moore.


‘E temos também ‘Black Hole’, que é a obra maior de Charles Burns, que, ao lado de Art Spiegelman, foi o maior nome que surgiu da geração que criou a revista ‘Raw’, conta o editor Rogério Campos, da Conrad. Ele destaca ainda em 2007, no Brasil, o que chama de ‘a estréia no Ocidente’ de ‘Jornada para o Oeste’, de Wu Cheng’en, um clássico das histórias em quadrinhos chinesas, a respeito da chegada do budismo no Extremo Oriente.


‘Este título vendeu dezenas de milhões de exemplares na China, e mesmo para os padrões chineses, é um megassucesso. Agora, à parte de tudo isso, tem algo muito especial que é o lançamento de ‘Paradise Kiss’, de Ai Yazawa, a maior criadora de mangás femininos na atualidade. A trilha sonora do desenho animado da série tem Franz Ferdinand. Dá uma idéia do que se trata.’


Pioneiras


Criada em 1997, a Via Lettera foi uma das primeiras editoras a investirem no formato no mercado brasileiro, tendo lançado em 1999 ‘Cidade de Vidro’, uma versão ‘graphic novel’ do livro de Paul Auster, assinada por Spiegelman, Paul Karasik, Bob Callahan e David Mazzucchelli. Para Mônica Seincman, editora da Via Lettera, o interesse ‘está crescendo do ponto de vista de leitores e das editoras. Está ficando sério, negócio de gente grande’.


Douglas Reis, um dos diretores da Devir, que só trabalha com ‘graphic novels’ há cerca de dez anos, faz coro com Mônica. E comemora o fato de vir mantendo a editora bem-sucedida, lançando sucessos como ‘Sin City’ (Frank Miller) e ‘O Nome do Jogo’ (Will Eisner).


‘A Devir vende em média, todo ano, 85% dos livros que imprime. Temos ousado nas tiragens. Por exemplo, ‘300 de Esparta’ [Frank Miller] saiu com 8.000 cópias. E em abril vamos colocar cerca de 5.000 dos três volumes de ‘Lost Girls’, de Alan Moore, no mercado. É um bom número, visto que a média aqui na Devir é de no máximo 2.500’, conta Reis.’


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Indicação de ‘graphic novel’ gerou polêmica


‘A premiação de ‘Maus’ de Art Spiegelman, em 1992, com um Pulitzer, parece não ter ajudado tanto as ambições literárias dos quadrinhos. Ainda hoje existe polêmica quando uma ‘graphic novel’ como ‘American Born Chinese’ é vista como bem mais do que quadrinhos.


Tony Long, editor da versão online da revista ‘Wired’, criticou a decisão de indicar o título para o National Book Awards, argumentando que histórias ilustradas não deveriam ser comparados com livros só com palavras. Sobretudo em um prêmio igual, em prestígio, ao Booker Prize inglês e ao Goncourt francês.


‘Isto não quer dizer que histórias ilustradas não constituem uma forma de arte ou que você não pode conseguir uma grande satisfação delas. Quer dizer simplesmente que, como literatura, o quadrinho não merece estatuto igual a romances de verdade, ou contos. É como comparar maçãs com laranjas’, escreveu Long.


A crítica rendeu comentário do quadrinista Neil Gaiman, o premiado autor da série ‘Sandman’, em seu blog: ‘Suponho que, se ele construísse uma máquina do tempo, poderia fazer algo a respeito do Pulitzer de ‘Maus’ em 1992, ou do World Fantasy Award por Melhor História Curta de ‘Sandman’ em 1991, ou ainda o prêmio Guardian First Book Award de 2001 para o ‘Jimmy Corrigan’ de Chris Ware. Ou mesmo a aparição de ‘Watchmen’ na lista da ‘Time’ dos cem melhores romances do século 20. Sem uma máquina do tempo, me parece uma opinião boba e antiquada, como ouvir alguém reclamar do voto feminino’.


Gaiman termina seu ‘post’ ironizando o fato de Long nem ter lido o livro: ‘é sempre melhor se ofender por coisas que você não leu. Assim você deixa sua mente livre das coisas que poderiam mudá-la’.’


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