Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Governo libera empréstimo 
para a Televisão Digital


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 27 de abril de 2007


TV DIGITAL
Elvira Lobato


BNDES libera 1ª empréstimo em programa para TV digital


‘O primeiro financiamento aprovado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para implantação do sistema de TV digital no Brasil foi, curiosamente, para a substituição e compra de antenas de transmissão analógicas do SBT, do grupo Sílvio Santos.


O banco divulgou a liberação de R$ 9,2 milhões para que o SBT compre 194 transmissores analógicos e troque três torres de transmissão no interior de SP (Ribeirão Preto, Barretos e Sorocaba).


O BNDES financiará 86% do custo total do projeto, de R$ 10,7 milhões. Os equipamentos serão fabricados pelas empresas nacionais Telavo Telecomunicações e Linear Equipamentos.


O chefe do Departamento de Telecomunicações do BNDES, Alan Fischler, explicou que o programa de financiamento da TV digital, aprovado em fevereiro, permite que parte dos recursos seja usada para modernizar a rede existente, porque as emissoras continuarão transmitindo também em sinal digital até o fim de 2016.


O crédito inicial disponível é R$ 1 bilhão. O programa inclui financiamento a fabricantes para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos; financiamento às emissoras de TV para implantação e modernização de infra-estrutura; e financiamento da produção de conteúdos. Segundo Fischler, o banco tem recebido várias consultas de interessadas.’


LEITURAS DO PODER
José Sarney


Ver, ler e reler


‘NÃO POR FALTA de livros. Minha coluna de leitura da vez, que tenho por hábito construir ao lado de minha mesa de cabeceira, está alta, mas, por desejo cujas origens identifico como encabulado saudosismo, deu-me vontade de reler anais parlamentares, velhos discursos. Uma certa crise de nostalgia.


Cheguei ao Parlamento, no Rio, em 1955. Fiquei fascinado com o palácio Tiradentes, vendo ali, em carne e osso, os ídolos das nossas lutas políticas da UDN: Afonso Arinos -que veio a transformar-se num grande e glorioso amigo-, Otávio Mangabeira, Adauto Lúcio Cardoso, Prado Kelly, Milton Campos, Bilac Pinto, Aliomar Baleeiro, Oscar Dias Correa, o velho Raul Pilla, do Partido Libertador, os consagrados governistas, Gustavo Capanema, Lúcio Bittencourt, Fernando Ferrari, Vieira de Mello, Tancredo Neves, José Maria Alkmin e -o mais discutido de todos, estrela de primeira grandeza, brilho e fogo- Carlos Lacerda, o próprio ícone da Casa.


O plenário era uma festa de inteligência. Os debates eram os mais fascinantes. Apartes e contra-apartes. Era o Parlamento do século 19, do discurso, onde se esgotava a arte legislativa. Assisti nestes 50 anos às mudanças de estilo, às mudanças do tempo, e sobretudo, à morte dos homens.


Hoje, tenho o sentimento de que o discurso parlamentar vive do instante, da circunstância, das paixões que ele suscita e mata. É o aparte, muitas vezes mais forte que o discurso, é uma discussão jurídica, é um duelo cultural. As páginas tinham perdido a vida, existindo apenas na minha lembrança.


Como exemplo, a memória do discurso de Carlos Lacerda, defendendo-se de ter violado o decoro parlamentar, acusado de traição por ter revelado um telegrama secreto do Itamaraty. Esse discurso, célebre nos anais da Câmara, tinha título -naquela época era norma dar nome aos discursos: ‘A corrida dos touros embolados’. Foi um dia de explosão solar. Todos agradecidos da ventura de assisti-lo. Fui relê-lo, na esperança de matar saudades. Fechei o livro nas primeiras páginas. As luzes do tempo estavam apagadas.


Abri os ‘Discursos Parlamentares’, de Nabuco. Aí, o brilho que estava na minha cabeça, da luta da Abolição, também estava sem vida. Como é diferente o Parlamento de hoje, com computador, com blog, portal, site de busca. Os discursos vivem na obstinação do Mão-Santa.


O tempo real encarregou-se de matar as palavras e as notícias. Tudo parece que não acontece, está para acontecer.


JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Sem campanha


‘Foi sem o entusiasmo de semanas atrás que Fátima Bernardes e William Bonner anunciaram, na escalada de manchetes do ‘Jornal Nacional’, que ‘a Comissão de Constituição e Justiça do Senado se divide e aprova por 12 votos a 10 a redução da maioridade penal’. Nem foi a primeira manchete e, depois, se perdeu em meio às ações da PF. E nada de explorar o ‘menino’.


‘RED APRIL’


O título da ‘Economist’ sobre o Abril Vermelho -enviado com orgulho pelo ‘mailing’ sem-terra- foi ‘Esta terra é terra anticapitalista’. Para a revista, ‘a luta de outrora para acabar com o feudalismo rural está virando campanha política contra agronegócio’.


O afago de Lula a Kirchner, ontem na capa do ‘Nación’ e outros


LULA E A ARGENTINA


A viagem do presidente brasileiro era destacada ontem pelos jornais argentinos ‘Clarín’, com o enunciado ‘Lula, a favor da reeleição de Kirchner’, e ‘La Nación’, com ‘Kirchner fez uma gestão muito boa’, entre aspas. Também pelo esquerdista ‘Página 12’, que preferiu sublinhar ‘Esta integração é fantástica’, também entre aspas.


Em títulos internos, coisas como ‘Ronaldinho é mais completo do que Messi’, declaração de Lula sobre futebol, e ‘Da desconfiança à solidez’, análise otimista da relação bilateral.


KIRCHNER E O MÉXICO


Apesar de tanto agrado eleitoral, que ecoa aquele dedicado antes a Hugo Chávez, Lula ainda nem havia desembarcado em Buenos Aires e Néstor Kirchner já fazia, em chamada na home page do ‘La Nación’, um ‘forte gesto para o México’. O presidente argentino saiu dizendo que, se desejar entrar de vez para o Mercosul, o país será recebido ‘de braços abertos’.


AO FUNDO, CHÁVEZ


Não foi diferente a cobertura dos principais jornais do Chile, ontem, para a mesma entrevista de Lula, de que todos participaram. O conservador ‘El Mercurio’ destacou a declaração, entre aspas, ‘Na América Latina, não precisamos de um líder, mas de uma relação muito forte entre as nações’. O diário ‘La Tercera’, mais à esquerda, preferiu a declaração, entre aspas, ‘Hugo Chávez tem sido um aliado excepcional, um sócio’.


Foi, por sinal, o que ecoou na estatal Agência Bolivariana de Notícias, da Venezuela, sob o enunciado ‘Chávez é um aliado excepcional para o Brasil’.


MAIS REVOLUÇÃO


Depois da ‘Forbes’, ontem foi a vez da ‘Economist’ de anunciar que vem aí ‘a revolução sem fio’ (wireless), ‘quando tudo’ vai enfim se conectar (capa à dir.). A tese, que contrasta com o realismo costumeiro da revista, é que ‘a revolução da computação foi da informação, digitando documentos, fotos e arquivos para serem manipulados’, e a das ‘comunicações sem fio’ vai tornar ‘a informação digital disponível em qualquer lugar, quase sem custo’. E vai ligar todo tipo de máquina uma à outra. Curiosamente, no entender da ‘Economist’, para tanto o ‘governo vai representar um papel crucial’.


O VELHO E O NOVO


A ‘Economist’ também saúda uma pequena revolução nos ares do Brasil, com a compra da Varig pela Gol. ‘Sai o velho, entra o novo’, celebra, com elogios abertos à duas empresas dominantes e de ‘baixo custo’, Gol e TAM.


Mas encerra dizendo que ‘não é claro se a infra-estrutura da aviação brasileira vai conseguir acompanhar’ a modernização das empresas.


E O CAOS


A Bloomberg foi além e postou a longa reportagem ‘Caos aéreo do Brasil, nos aeroportos, torna nebuloso o ‘boom’ das empresas aéreas’. Relatando as dificuldades enfrentadas em Congonhas e Brasília, sublinha que em 2006 o crescimento nas viagens aéreas já foi de 49% -e que os programas de expansão dos aeroportos não vão acompanhar, pelo jeito, a demanda.’


VENEZUELA
Fabiano Maisonnave


Venezuelanos são contra fim de canal de TV


‘A decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de não renovar a concessão da emissora de TV RCTV é a mais impopular em seus oito anos de governo, revela uma pesquisa de opinião do instituto Datanálisis divulgada ontem.


De acordo com o levantamento, o fim da emissora, marcado para 28 de maio, tem o apoio de apenas 16% da população, enquanto 69% dos entrevistados se disseram contrários. Os demais se declararam indecisos ou não responderam à enquete.


‘Chávez nunca havia tomado uma decisão com tanta rejeição’, disse o diretor do Datanálisis, Luis Vicente León, durante encontro com jornalistas estrangeiros. ‘Não se sai ileso de uma decisão como esta.’


De acordo com Vicente León, a rejeição ‘não tem nada que ver com a liberdade de expressão, mas com a liberdade de escolha’. Ele disse que o público venezuelano discorda de que o governo lhe tire a possibilidade de assistir às novelas da RCTV -consideradas as melhores do país- e outras atrações tradicionais da emissora.


O programa de perguntas Quem Quer ser Milionário? tem a maior audiência do país, enquanto o humorístico Radio Rochela, há quatro décadas no ar, é o mais antigo.


A decisão de Chávez de não renovar a concessão da emissora mais antiga da Venezuela provocou duras críticas dentro e fora do país. Anteontem, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) iniciou um processo contra o governo venezuelano por suposta violação da liberdade de expressão.


Chávez tem dito que o governo não recuará. Ele afirma que a decisão é constitucional e lembra que a RCTV apoiou abertamente o frustrado golpe de Estado, em abril de 2002.


O levantamento, realizado na semana passada com 2.000 pessoas, é parte de uma série de pesquisas realizadas regularmente pelo Datanálisis para um grupo de 300 clientes, entre os quais a RCTV e instituições públicas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo.


Atentado


Uma bomba de fabricação caseira explodiu na madrugada de ontem diante da Embaixada da Bolívia em Caracas. O ataque não deixou feridos nem danos materiais. De acordo com o que um alto funcionário da embaixada disse à Folha, o ataque ocorreu às 4h30, quando o artefato foi lançado de um carro em movimento. O objetivo teria sido que a bomba ultrapassasse o muro da representação, mas ela caiu na calçada e explodiu. Pedaços da bomba foram encontrados num raio de até 60 metros, segundo o funcionário boliviano, que pediu anonimato. Um suspeito foi preso em seguida.


À tarde, o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou um advogado venezuelano ligado ‘a uma organização da oposição venezuelana’ de ser o autor material. Neste fim semana, Evo Morales estará no país para participar da cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), formada por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record negocia para tirar rodeio da Globo


‘A disputa entre a Globo e a Record por direitos de grandes eventos, como torneios de futebol, chegou agora à maior festa de peão de boiadeiro do país, a de Barretos (São Paulo).


A Record está negociando para tirar os direitos de transmissão do rodeio da Globo, que, por sua vez, luta para renovar o último contrato, que já não vale para a próxima festa, em agosto. A edição deste ano homenageará Oscar Niemeyer, autor do projeto do estádio e da arena de Barretos. O ministro Gilberto Gil (Cultura) deve participar.


A Record tem a seu favor o fato de a entidade que organiza o rodeio, Os Independentes, estar insatisfeita com o espaço que a Globo lhe dá (basicamente, apenas reportagens em programas jornalísticos e de variedades). A Record estuda ir além, transmitindo resumos de competições e shows.


‘Nosso evento é complicado para todas as redes, mas precisa haver mais interesse e maior retorno para ambas as partes. Queremos transformar o rodeio em um produto mais comercial na TV’, afirma Marcelo Murta, coordenador de comunicação de Os Independentes.


No mundo dos peões, há também frustração com o fato de a Globo ter exibido no ano passado, no ‘Fantástico’, uma entrevista em que a cantora Rita Lee fazia pesadas acusações contra os rodeios (maus-tratos aos animais, banditismo). A cantora está sendo processada por Os Independentes.


MENOS 1 O ‘SBT Brasil’ não anda com a bola tão cheia quanto se tem divulgado nos últimos dias. A audiência subiu, é verdade, mas apenas às quartas e quintas o programa dá oito ou nove pontos no Ibope na Grande São Paulo. Nesses dois dias, o telejornal é inflado por ‘Ídolos’, que o antecede. Nos demais dias, não passa dos seis pontos.


REFUGO Pelo menos dois candidatos do ‘Ídolos’ de anteontem já foram calouros de Raul Gil.


CASA NOVA Foi constrangedora a edição do ‘Mais Você’ de ontem, em que Ana Maria Braga circulou pelo novo prédio da Globo em São Paulo. Funcionários corriam para não ser enquadrados pelas câmeras. O edifício foi oficialmente inaugurado ontem.


MENOS 2 A JB TV (ex-CNT) tem feito muito barulho, mas sua audiência em São Paulo é ignorada pelas demais TVs, que sequer assinam relatórios do Ibope com seus números. O problema é que seu sinal aberto (canal 26) é muito fraco.


FALTOU QUALIDADE A Globo, que tem uma Central de Controle de Qualidade, escorregou feio no episódio da semana passada de ‘A Diarista’, que gerou protestos da comunidade árabe. No programa, uma pintura reproduzia o profeta Maomé, fundador do islamismo, seminu, cercado de mulheres. O quadro tinha um buraco bem na região da pélvis. E um personagem judeu, sem perceber, enfiava o dedo indicador no furo, o que dava o ‘efeito’ de um pênis. Além de ofensivo, foi de mau gosto.’


INTERNET
Thiago Ney


O Google e o pop


‘A NOTÍCIA veio no começo da semana: o Google tornou-se a marca mais valiosa do mundo. Em pesquisa encomendada pela consultoria britânica Millward Brown Optimor, o valor estimado da empresa é de US$ 66,43 bilhões.


Esta coluna não é sobre negócios, mas dá, talvez, para fazer uma relação entre o Google e a música pop.


O Google foi criado em 1998, por dois estudantes universitários que tinham como sonho, além de criar um sistema de buscas confiável, baixar em seus computadores pessoais ‘todo o conteúdo da internet’.


Após desenvolver o programa de busca numa sala na Universidade Stanford, compraram peças usadas de computadores, alugaram uma garagem e montaram algumas máquinas toscas que serviram para fazer o software funcionar. À medida que mais gente utilizava o serviço, mais peças usadas eles compravam e mais máquinas toscas montavam.


Hoje, apenas nove anos depois, o Google tornou-se a marca mais valiosa do planeta. As letrinhas coloridas numa tela de fundo branco -ou melhor, o que elas representam- valem mais do que companhias gigantescas e decanas, como Coca-Cola, Wal-Mart… Enfim, todo o resto.


Para o mundo do mercado financeiro, o Google é o que chamam de hype no mundo da música pop. Será que suas ações não estão supervalorizadas na Bolsa? O Google vale muito hoje, mas será que vai durar tanto tempo quanto uma Coca-Cola ou o uma Wal-Mart? E se aparecer outro sistema de buscas melhor do que o Google? E se aparecer um sistema de publicidade on-line mais efetivo do que o usado pelo Google?


Será esquecido rapidinho, não? Esse tipo de questão aparece bastante no pop, com um monte de bandas e DJs nascendo a cada dia.


E, conforme eles vão aparecendo, surgem as comparações com o modelo anterior de negócios a que estávamos acostumados.


Provavelmente os Strokes nunca mais farão algo tão representativo de uma época quanto ‘Is This It’; pode ser que o Arctic Monkeys desapareça em 2012; talvez, daqui a cinco anos, os discos de Gui Boratto e The Field estejam esquecidos.


Mas são artistas que incorporam em suas músicas e ações esse momento em que vivemos. Um mundo em que, com dois ou três cliques de mouse, você ouve canções de um disco que só sairá ‘oficialmente’ daqui a dois ou três meses -ou seja, o disco ‘novo’ já é velho conhecido.


Ou um mundo em que alguém como o DJ e produtor brasileiro Fabio Stein, que não é contratado por gravadora de porte, que nem tem disco lançado, consegue ter uma música sua tocada em horário nobre na Radio One britânica e, por conseqüência, ser escalado para o enorme festival holandês Dance Valley.


Uma das músicas mais legais do ano, ‘All My Friends’, do LCD Soundsystem, ganhou cover feito pelo Franz Ferdinand. Ouça no www.myspace.com/lcdsoundsystem. E John Cale também foi escalado para dar sua versão da canção… ‘


CRÔNICA
Carlos Heitor Cony


A justiça será feita


‘Mas o que apareceu, senhor juiz, foi a vítima! A vítima está viva, não foi assassinada…


REPÓRTER – MERITÍSSIMO, é verdade que apareceram novas provas sobre o processo? Provas irrefutáveis, de arrasar quarteirão?


Juiz – O processo está encerrado. O réu e seus doutos advogados tiveram todos os prazos legais para juntar aos autos. O prazo extinguiu-se ao meio-dia de hoje. Nada mais poderá ser juntado.


Repórter – Mas não se trata de juntar, Excelência. Segundo os advogados de defesa, apareceu…


Juiz – Depois de encerrado o prazo, nada mais pode aparecer. A defesa teve tempo de sobra… Tempo legal…


Repórter – Mas o que apareceu, senhor juiz, foi a vítima! A vítima está viva, logo não morreu, não foi assassinada…


Juiz – É você que está dizendo. Nos autos, a vítima foi assassinada, temos os laudos do Instituto Médico Legal, os legistas são idôneos, tudo correu dentro dos prazos estabelecidos pela lei…


Repórter – Mas a vítima está viva, chegou ontem de Itaperuna, está hospedada na casa de um cunhado, em Del Castilho, vai aparecer hoje à noite no ‘Programa do Ratinho’…


Juiz – A Justiça, em sua soberania, não pode tomar conhecimento do que ocorre fora dos autos. Nas folhas 69 e verso temos o cristalino atestado de óbito da vítima, com a assinatura dos legistas e o reconhecimento, em tabelião público, das respectivas firmas. Além dessa prova insofismável, temos o laudo da perícia realizada pelas autoridades da 45ª Delegacia de Polícia, que vistoriou e periciou o local do crime. Temos ainda três depoimentos de pessoas legalmente qualificadas que assistiram ao crime e depuseram em cartório. Para complementar tantos indícios, para robustecer tamanhas provas, temos a própria confissão do réu, que às folhas 87 e seguintes confessou não apenas o crime mas suas motivações e a sua mecânica. Finalmente, temos o parecer do promotor da comarca que não padeceu de nenhuma dúvida para pronunciar o réu.


Repórter – Está bem, concordo com o meritíssimo, tudo está contra o suspeito…


Juiz – Suspeito não! Réu! Já foi pronunciado como incurso no Código Penal.


Repórter – Continuo de acordo com o meritíssimo. Mas a verdade é que a vítima desse assassinato apareceu, está viva, gozando de boa saúde, ganhou até uns trocados numa raspadinha na semana passada. Veio para o Rio, está hospedada em Del Castilho, ali perto do shopping…


Juiz – Estamos perdendo tempo. Não me nego a colaborar com a imprensa. Atendo a todos os jornalistas com o maior dos apreços, mas não posso orientar minha faculdade de julgar pelo que a imprensa publica. Para mim, como para qualquer outro juiz consciente de seus deveres, somente os autos contém a ‘res judicanti’, os advogados de defesa esgotaram todos os prazos processuais, apresentaram todas as testemunhas, ouviram o Curador de Resíduos, pediram precatórias, deram entrada em ‘habeas corpus’, usaram de todos os recursos que a lei faculta. Agora, o próximo passo da Justiça é o julgamento, que está marcado para a próxima semana.


Repórter – E se a vítima aparecer no tribunal, trazida pela defesa, e provar que está viva, que não foi assassinada, ganhou até na raspadinha?


Juiz – Só poderão apresentar-se ao tribunal as testemunhas arroladas pela promotoria ou pela defesa. É preciso que estejam qualificadas, caso contrário não poderão depor.


Repórter – Digamos que a testemunha, que na realidade é a vítima e a causa de todos os processos e a razão do julgamento, embora nada falando, seja apenas mostrada pela Defesa, como são mostradas, às vezes, a arma do crime, os lençóis ensangüentados, as cordas do enforcamento…


Juiz – O tribunal só se aterá às provas dos autos. Neles não constam nenhum lençol ensangüentado, nenhuma corda de enforcado. Aliás, para sua informação, esclareço que a vítima foi afogada num tanque, houve testemunhas e o laudo de necropsia é definitivo. Como já disse, houve até mesmo a confissão do réu, obtida sem nenhuma coação ou violência por parte da autoridade policial responsável pelo inquérito.


Repórter – Quer dizer, meritíssimo, que nada poderá ser feito?


Juiz – A justiça, meu filho, a justiça será feita!’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 27 de abril de 2007


TV DIGITAL
Alessandra Saraiva


SBT recebe recursos para TV digital


‘O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou o primeiro financiamento do programa de incentivo à TV digital. O Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), do grupo Silvio Santos, receberá R$ 9,2 milhões para o projeto de modernização dos transmissores analógicos da emissora, que tem orçamento de R$ 10,7 milhões. Ou seja, o financiamento do banco representa 86% do total a ser investido no empreendimento.


O Programa de Apoio à Implementação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (Protvd) foi criado em fevereiro pelo governo federal, com orçamento de R$ 1 bilhão até 2013. Com o financiamento, o SBT pretende adquirir 194 transmissores para as oito emissoras e uma afiliada da empresa; e substituir três torres de transmissão – em Ribeirão Preto (SP), Barretos (SP) e Sorocaba (SP).


Para o chefe do departamento de Telecomunicações do banco, Alan Fischler, a concessão de crédito pode abrir novas perspectivas de captação de recursos para as empresas de mídia brasileira. Ele considerou que o sistema bancário no Brasil normalmente não é muito aberto à concessão de financiamentos para esse setor. ‘Creio que uma nova alternativa se abre para essas empresas.’


Segundo Fischler, o processo de estudo, análise e aprovação de financiamento ao SBT durou cerca de três meses. O executivo não quis dizer quantas propostas de financiamento estão em análise dentro desse novo programa. Também preferiu não comentar o montante total de recursos originados dos projetos que agora estão sob análise do banco.’


TELEVISÃO
Beatriz Coelho Silva


Som Brasil promete reviver na pequena tela a boa


‘A Rede Globo quer reeditar musicais de prestígio e estréia hoje, após o Programa do Jô, a série Som Brasil. A primeira edição, que tem Patrícia Pillar como mestre-de-cerimônias, será sobre Vinícius de Moraes e o elenco evidencia a variedade pretendida nas outras nove previstas até o fim do ano: Gal Costa canta A Felicidade, Se Todos Fossem Iguais a Você, Insensatez e Amor em Paz. O Bossa Cuca Nova interpreta Água de Beber e Tarde em Itapuã. Ed Motta ataca de Garota de Ipanema. E o novato Chico Pinheiro vem com Lamento e Chega de Saudade. O filho de Baden Powell, Marcel, também violonista, interpreta os afro-sambas do pai e do poetinha, com os rappers paulistas do Crioulo Doido.